Desenho e Projeto de Tubulação Industrial Nível II Módulo II Aula 04 1. Introdução A mecânica dos fluidos trata do estudo do movimento dos fluidos e das forças que atuam sobre eles. Como fluidos devemos entender os gases, líquidos e plasmas. A mecânica dos fluidos pode ser dividida em estática dos fluidos, que estuda os fluidos em repouso e a dinâmica dos fluidos que estuda os fluidos em movimento. Nesta apostila nós vamos estudar esta matéria somente em seus princípios fundamentais da mecânica dos líquidos, sendo a mecânica dos gases tratada em apostila separada. 2. Mecânica dos líquidos Vamos iniciar esta parte com o estudo dos vasos comunicantes. 2.1. Vasos comunicantes Como já estudamos, a coesão entra as moléculas dos líquidos é um pouco maior do que a sua força de repulsão e por isso os líquidos tendem a tomar a forma dos recipientes que os contém. Quando o volume de líquido for um pouco menor do que o volume do recipiente forma-se uma superfície livre que toma o nome de superfície de nível do líquido. Deve-se notar que esta superfície toma a forma esférica acompanhando a superfície da Terra como podemos observar na superfície do mar. Mas como lidamos geralmente com pequenas superfícies elas podem ser tomadas como horizontais planas. Vemos na Figura 2.1 dois recipientes de forma diferente ligados por um tubo. Este recipiente é enchido com um líquido e ambos têm um mesmo nível apesar de que suas orientações serem diferentes: um é vertical e o outro tem certa inclinação. Estes recipientes unidos tomam o nome de vasos comunicantes. Figura 2.1 1 Este efeito é aplicado na indústria para indicar o nível de líquido em um tanque como vemos na Figura 2.2. Temos um tubo que se comunica com um tanque cheio de líquido e o nível é indicado por meio de um tubo de vidro transparente. Figura 2.2 2.2. Transmissão da pressão nos líquidos Outro efeito das características dos líquidos que é usado na indústria é a transmissão da pressão nos líquidos. Vimos no estudo dos corpos sólidos que a pressão ou o choque sofrido por um corpo sólido se transmite em somente uma direção. Já nos líquidos este efeito quando exercido em um recipiente fechado é diferente. Quando uma massa líquida em um recipiente completamente fechado sofre uma pressão em um ponto, esta pressão é transmitida em todos os sentidos no líquido ou, dito de outra forma, em todas as seções transversais dos líquidos a pressão será igual à força aplicada em um ponto do líquido. Este efeito pode ser demonstrado por meio de uma experiência muito simples. Um recipiente esférico com diversos furos é unido a um cilindro. No cilindro colocase um pistão que pode ser movido para comprimir o líquido. Vemos este instrumento na Figura 2.3. 2 Figura 2.3 Este efeito tem um uso extenso na indústria sendo o mais comum nas prensas hidráulicas que vemos na Figura 2.4 Basicamente esta prensa se compõe de um cilindro C1 onde o líquido sofre compressão de alguma maneira, indicada pela força F1. Esta pressão se transmite pelo líquido para todos os lados como mostram as flechas. Ela também se transmite para o cilindro C2 onde está um pistão que recebe a força produzida. Figura 2.4 A pressão produzida é uniforme sobre toda a superfície de C2 e se sobre o êmbolo A se exerce uma pressão p por cm2 a mesma pressão será exercida sobre a superfície C2. Chamando P1 a pressão em C1 e S1 sua superfície e P2 a pressão em C2 e S2 sua superfície podemos escrever a equação: Vamos agora ver a vantagem deste tipo de máquina junto com a alavanca que foi uma máquina simples que estudamos. Vamos supor que devemos comprimir um corpo como vemos na Figura 2.5. Este aparelho toma o nome de prensa hidráulica. 3 Figura 2.5 Seja a área de S1=20 cm2 e a pressão exercida sobre ele de 50 kg e S2=2000 cm2. Qual será a pressão exercida sobre o corpo? Usando a fórmula acima temos: Agora vamos usar a alavanca que está mostrada no desenho. Esta é uma alavanca de segunda classe ou interresistente como nós estudamos na apostila de Mecânica. Vamos fazer L1=50 cm, L= 10 cm, a força necessária S1 igual a 50 kg como vimos acima, temos então: E: Vemos que podemos fazer a mesma pressão final de 5000 kg com um esforço de apenas 10 kg ou um ganho de 5000/10= 500 vezes. 2.3. Pressão sobre o fundo Vamos estudar agora um ponto fundamental na hidráulica: a pressão sobre o fundo dos tanques e reservatórios. Muitas pessoas pensam que quanto maior um tanque maior é a pressão do fundo de um reservatório, mas estão simplesmente confundindo o peso do reservatório com a pressão no fundo do mesmo. A pressão total que um líquido exerce sobre o fundo de um reservatório depende unicamente da altura do nível do líquido e da superfície do fundo do reservatório e é independente da forma do reservatório. Veja a Figura 2.6 onde 4 estão representados três tanques de formatos diferentes, mas todos eles tendo uma mesma dimensão do fundo. Figura 2.6 Nessa figura as alturas de líquido e as áreas das bases dos três tanques B, C e D são exatamente iguais e as pressões sobre o fundo deles também são iguais. Mas para o cálculo das estruturas de apoio o peso total do líquido e dos vasos deve ser considerado e não somente a pressão do fundo do vaso. A pressão sobre o fundo do vaso é dada pela fórmula: Sendo P a pressão total, r o peso específico do líquido, S a superfície do fundo e h a altura do líquido. Podemos exprimir as dimensões em cm. O fato de que ser a pressão dos líquidos no fundo dos vasos independente da forma do vaso e do peso do líquido toma o nome de paradoxo da hidrostática, pois ele foge à razão. 2.4. Pressão lateral e para cima Como já sabemos os líquidos transmitem a pressão de modo uniforme para qualquer ponto em que sua massa exerça pressão, não somente sobre as superfícies horizontais como vimos, mas também sobre qualquer posição vertical ou oblíqua. Para isto vamos analisar a Figura 2.7. Figura 2.7 5 Vemos nessa figura uma lâmina AB submersa no líquido e que assume duas posições distintas, uma na horizontal e outra levemente inclinada. A pressão que essa lâmina suporta é calculada usando a fórmula dada no capítulo anterior e fazemos o cálculo para a posição horizontal. Após inclinarmos a superfície ela assume a posição CD, mas conservamos seu eixo na posição X e na mesma posição h anterior. Note que agora temos pontos mais altos e mais baixos na superfície do plano, mas a elevação de um ponto, por exemplo, C é compensada pelo descenso de outro ponto como o ponto D oposto. Podemos então deduzir que a pressão total não se modificou com a rotação do corpo. A pressão do líquido se faz então em todos os sentidos inclusive na superfície vertical da lateral do vaso que toma o nome de pressão vertical. Esta pressão tende a movimentar a parede para fora no caso da figura, mas este efeito é anulado pela resistência mecânica da parede do vaso. Agora vamos considerar as pressões sobre um corpo submerso que agem em todos os sentidos inclusive de baixo para cima. Para isto consideremos a Figura 2.8. Figura 2.8 Nós colocamos um tubo aberto de ambos lados no vaso e mantemos um disco segurado no fundo por meio de um fio de forma que o líquido não entre no tubo ao entrarmos com ele no vaso. Uma vez o tubo e disco cuidadosamente colocados no vaso, você pode soltar o fio e verá que o disco não cairá para o fundo, pois o líquido vai segurar o disco devido à pressão de baixo para cima que o líquido proporciona sobre a superfície inferior do disco. Se você agora encher o tubo cuidadosamente com um liquido igual, você verá que após ele atingir a mesma altura da coluna de líquido do vaso o disco cairá para o fundo. 6 2.5. Reação dos líquidos Acabamos de ver que os líquidos exercem pressão sobre as paredes dos recipientes que os contém. Também vimos que esta pressão não pode mover as paredes desses vasos porque elas têm resistência bastante para suportar esses esforços. Entretanto se for aberto um buraco na parede do recipiente o líquido escoará por ele como vemos na Figura 2.9. Figura 2.9 A pressão do líquido que escoa por esse furo é igual e contrária à pressão que ele exercia sobre a parte da parede que foi retirada para formar o furo e este fenômeno recebe o nome de reação dos líquidos. Uma aplicação prática deste fenômeno é nas turbinas de reação. Na Figura 2.10 vemos um tubo que tem duas saídas em sentido contrário pelas quais sai um jato de água. Figura 2.10 A ação da saída da água sob pressão provoca uma reação contrária que produz a rotação do tubo. Este tubo poderá estar ligado a um gerador elétrico e produzirá energia elétrica. 2.6. Vasos comunicantes Se tivermos dois vasos que se comunicam como na Figura 2.11 e em cada um deles colocamos um líquido de propriedades diferentes que não se misturem podemos observar um fenômeno muito interessante. 7 Figura 2.11 Temos dois líquidos com pesos específicos diferentes e não miscíveis (que não se misturam), por exemplo: água (mais leve de peso específico 1) e mercúrio (mais pesado com peso específico 13,59) e colocamos nos vasos como indicado na figura. A linha AA pressupõe indicar que a pressão é a mesma em ambos os tubos como se fossem os braços de uma balança. Assim podemos escrever que a pressão em cada unidade de superfície em cada lado é: Esta equação pode ser usada para a determinação do peso específico de um líquido. 2.7. Força ascensional Falamos acima sobre a pressão para cima ou ascensional que os líquidos exercem. Vamos imaginar um prato de balança em que se submerge um cilindro maciço M e acima dele se coloca um cilindro oco C de volume igual ao anterior e se equilibra com pesos no prato da balança do outro lado, Figura 2.12. Se submergirmos o cilindro M em um líquido como mostra a figura notaremos que o prato onde estão os dois cilindros se eleva. 8 Figura 2.12 A submersão do corpo M em água e sua elevação faz parecer que ele está mais leve ou que perdeu peso. Podemos deduzir que o corpo sólido perdeu o peso referente ao peso da água deslocada pelo volume do corpo M. Agora se enchermos o corpo C com o mesmo líquido notaremos que o equilíbrio será restabelecido. Esta pressão para cima que o corpo sente toma o nome de empuxo e atua no sentido inverso da gravidade e podemos enunciar a seguinte lei: Todo corpo submerso em um líquido experimenta um empuxo de baixo para cima igual ao peso de líquido que ele desaloja. Este princípio foi descoberto por Arquimedes ao redor do ano 400 AC. Agora podemos ver que em um corpo submerso em um líquido agem duas forças: o peso do corpo aplicado em seu centro de gravidade e um empuxo de baixo para cima também aplicado em seu centro de gravidade que é igual ao peso de líquido desalojado. Se o peso específico do corpo for maior do que o do líquido, o corpo tenderá a afundar até encontrar um ponto de apoio, se o líquido tiver um peso específico maior o corpo tenderá a boiar no líquido, pois a força resultante será negativa. Assim nós aprendemos o princípio aplicado às bóias. 2.8. Saída dos líquidos Vamos estudar um vaso no qual fazemos um pequeno furo em sua parte inferior como vemos na Figura 2.13. 9 Figura 2.13 Na figura vemos que foi aberto um furo na parte inferior e localizamos uma parte de líquido de área abcd sobre o furo cuja altura é y. Sendo o peso específico do líquido r e G o peso dessa pequena parte temos e a’ a área do furo podemos escrever: Sobre esta pequena capa de líquido se apóia a coluna de altura h1 cuja pressão é: A massa da capa é dada por: Nessa equação g representa a aceleração da gravidade. Vimos no estudo da Dinâmica que a força é igual à massa vezes a aceleração ac e então a aceleração é dada por: Vimos no estudo da queda livre que: E temos finalmente: Esta fórmula diz que a velocidade de saída do líquido por um orifício no fundo do vaso é a mesma que teria o líquido se caísse livremente desde a altura h a que está a superfície livre sobre esse orifício. Este princípio é conhecido como Princípio de Torricelli. Como conhecemos agora a velocidade de saída do líquido que forma um cilindro imaginário de seção a’, que calculamos pela fórmula acima por segundo de 10 tempo do escoamento, a quantidade de líquido que saí é de a’v e em t segundos será de: Este gasto é na realidade do gasto ou volume teórico que sai por segundo pelo orifício, pois existe um atrito na saída do furo e que produz uma contração do veio de líquido que se chama de vena contracta que diminui o gasto real para 0,64 do gasto teórico. Exemplos e exercícios Exemplos 1. Temos uma prensa hidráulica que tem uma pressão no êmbolo S1 uma pressão de 250 kg e um diâmetro de 5 cm e o diâmetro do êmbolo maior é de 30 cm. Qual é a pressão desenvolvida no êmbolo maior? Resp. A área do êmbolo menor é de: A área do cilindro maior é de: A pressão sobre o cilindro maior é então de: 2. Qual é a pressão de uma coluna de água com 10 metros de altura e 1 cm2 de área? Resp. A pressão é dada por: Nessa equação S é a superfície de 1 cm2, h a altura do líquido de 10m= 1000 cm e r a densidade = 1g/cm3, então: 3. Em um tubo U se coloca água em um lado e no outro se coloca gasolina de forma que a altura da água sobre a linha horizontal seja de 15 cm e a altura da gasolina seja de 21,42. Qual é a densidade da gasolina? Resp. Usamos a equação: Sendo h2=10 cm, s2=1 e h1=21,42 cm temos: A densidade é de 0,7. 11 4. Qual é o peso que tem uma barra de metal cujo volume é de 15 dm 3 e cujo peso específico seja de 7,9 kg, se ele estiver ao ar e se ele estiver mergulhado em água? Resp. Temos a equação: P=Vs onde P é o peso do corpo e s seu peso específico. Então ao ar ele pesará: P=15*7,9=118,5 kg. Imerso na água devemos tirar o efeito do empuxo da água. Como a densidade da água é 1 ele perde 15*1=15 kg e o peso do corpo será: 118,5-15=103,5 kg. 5. Qual é o gasto de um orifício de 1 cm2 de superfície feito no fundo de um tanque que tem uma altura de coluna de água de 2 metros durante 1 minuto? Resp. A velocidade da água é dada pela equação: . Nessa equação h=2 metros e então v=6,26 m/s=626cm/s. Ora como temos 1 minuto = 60 segundos então o gasto será de Exercícios Faça os seguintes exercícios: 1. No exemplo 1 qual deverá ser o diâmetro do êmbolo maior se desejamos ter uma pressão de 15000 kg, com as mesmas condições? 2. Tenho um tanque de água com 3 metros de altura de água. Quero fazer um furo para ter um gasto de 20 litros por segundo. Qual será o diâmetro do furo em cm? 3. Uma barra metálica está submersa em um líquido de peso específico 7,8 kg. Qual é seu volume se ele pesa na água 15 kg? 4. Qual é a pressão sobre o fundo de um tanque que tem uma superfície de 2 m2 e a altura de líquido cuja densidade é 1,2 é de 4 metros? 5. Qual é a pressão em atmosferas no fundo de uma torre de água com 30 metros de altura? Respostas: 1. 38,72 cm3 2. 5,75 cm 3. 2,2 dm3 4. 19.200 kg 5. 3 atmosferas 12