30POLÍTICA
A GAZETA
DOMINGO, 11 DE OUTUBRO DE 2015
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Plano mestre de quem não quer que Dilma
Rousseff conclua seu mandato assenta-se
numa conta feita de trás para a frente
ELIO
GASPARI
Um calendário
hipotético
da crise
Aqui vai um exercício de futurologia, baseado num plano mestre de quem não quer que
Dilma Rousseff conclua seu mandato. Ele é
engenhoso, mas depende de muitos fatores,
sobretudo de imprevisíveis decisões e prazos
judiciais. Para que tenha eficácia, a crise deve
entrar pelo ano vindouro.
O eixo do plano está na investigação das
contas da campanha da doutora, pedida pelo
ministro Gilmar Mendes. Há outros processos,
um deles pronto, mas o lote pode ser agrupado.
Admita-se que a Corte venha a cassar os mandatos de Dilma e Michel Temer. Nesse caso,
assume o presidente da Câmara, obrigado pela
Constituição a convocar uma nova eleição, que
deverá ocorrer em até 90 dias. O vencedor
desse pleito terminaria o atual mandato, com
direito a disputar a reeleição em 2018.
O TSE também poderia acompanhar dois episódios estaduais, ocorridos no Maranhão e na
Paraíba, entregando a Presidência aos candidatos derrotados. Nesse caso, assumiriam Aécio
e Aloysio Nunes Ferreira na vice. É uma coisa
meio girafa, difícil de acontecer.
A cassação dos mandatos de Dilma e Temer e a convocação de uma nova eleição
armam um quebra-cabeça de calendário. Ca-
so a sentença saia em maio, por exemplo, a eleição deverá ocorrer em agosto. Se sair em julho,
poderá ser convocada de forma a coincidir com o
pleito municipal de outubro. Nesse caso, ocor-
reria uma tempestade eleitoral, com a escolha de um novo presidente, cinco mil
prefeitos e 60 mil vereadores.
Fulanizando, quem seriam os candidatos?
Afora azarões, pelo PSDB, estão na pista
Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Com o registro da Rede, ressurgiu Marina Silva. Ela
disputou a Presidência em 2010 e 2014,
quando conseguiu 22 milhões de votos. O
PMDB poderá ter um candidato socorrido
pelos deuses gregos. Realizada em outubro,
a eleição aconteceria seis semanas depois
do encerramento das Olimpíadas do Rio,
que dará ao prefeito Eduardo Paes uma inédita exposição. Se a festa lembrar Barcelona
(1992), ele tira um bilhete premiado. Se
lembrar Atenas (2004), está frito. Resta o
PT, e Lula terá dois caminhos: ou disputa,
podendo perder, ou fica de fora, sinalizando
que perderia.
O coração do plano assenta-se numa conta feita de trás para a frente, partindo-se do
interesse na coincidência das duas eleições.
Em circunstâncias diferentes, esse jogo de
calendário já aconteceu. Em 1992, havia
uma eleição municipal marcada para o dia 3
de outubro, e o governo do presidente Fernando Collor cambaleava. Numa reunião na
casa do presidente do Senado, Mauro Benevides, Ulysses Guimarães fez a conta: a
data mágica para que a Câmara votasse o
impedimento de Collor deveria ser 28 de
setembro, a mais próxima possível do pleito. O afastamento do presidente teve 441
votos a favor e 48 contra. Não interessava
aos deputados carregar o fardo de Collor.
A novela da Sete Brasil continua
Em agosto, chegou ao mercado a
informação de que a Petrobras e a
empresa Sete Brasil entenderam-se
num acordo pelo qual ela seria salva
por um contrato para a construção de
15 sondas de perfuração em estaleiros
Eduardo Cunha
De um sábio:
“O deputado Eduardo Cunha dificilmente comerá peru de Natal como presidente da Câmara, mas não
brincará o carnaval na cadeira”.
PSDB unido
Na quarta-feira, 30 deputados de
seis partidos (17 do PT) assinaram o
pedido de cassação do mandato de
Eduardo Cunha.
Nenhum tucano.
Impedimento
Com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de abrir o processo
que poderá encerrar o mandato de
Dilma Rousseff, a votação pela Câmara de um pedido de impedimento
da doutora poderá ser uma boa ideia
para o comissariado. Bastam 171 votos de deputados para barrá-lo.
Se o impeachment for barrado, o
processo do TSE perderá vigor. Ainda que sejam denúncias e foros diferentes, fica meio esquisito para um
nacionais e outras quatro no Japão.
Faltou dizer que o corpo técnico da
Petrobras preparou um documento,
viu-o aprovado pela diretoria e pelo
Conselho, mas a Sete tenta renegociar alguns aspectos essenciais, entre
tribunal composto por sete juízes
detonar uma presidente eleita por
55 milhões de votos, depois que a
Câmara recusou-se a fazê-lo.
Anéis e dedos
O PMDB prefere ver a crise acabando no impedimento da doutora
Dilma, pois nesse caso assume Michel Temer. Se prevalecer a lâmina
do TSE, afogam-se os dois.
Caso inédito em que se prefere
entregar os dedos para ficar com os
anéis.
Os Calheiros
O presidente do Senado, Renan
Calheiros, tem uma família de grandes qualidades. Seu filho governa
Alagoas e seu irmão caçula, o deputado estadual Olavo, poderá ser
nomeado para uma vaga no Tribunal de Contas do Estado.
D. Waldyr Calheiros, o inesquecível
bispo de Volta Redonda, morto em
2013 deixando uma biografia de defesa da moralidade e da democracia,
eles o das multas a serem pagas caso
ocorram atrasos. Só se poderia falar
em acordo se a Sete seguisse o documento aprovado pelos técnicos, diretores e conselheiros da Petrobras.
O contrato envolve um ervanário
deve estar lastimando o que seu primo
Renan vem fazendo com o sobrenome.
Os EUA e a CBF
Ricardo Teixeira, ex-presidente da
Confederação Brasileira de Futebol,
não pisará nos Estados Unidos. Antes
da prisão de José Maria Marin, em
maio, ele foi convidado para uma
conversa com funcionários do governo americano. Marcou-a e viu desembarcarem de dois carros personagens parecidos com os agentes do
FBI dos filmes.
Eles ofereceram-lhe um acordo de
colaboração com as investigações das
roubalheiras da Fifa. Se não quisesse, seria investigado pelo governo
americano. Teixeira tem familiares
vivendo em Miami, mas não aceitou.
O cartola está encrencado por várias acusações, mas a pior peça é a
gravação da conversa de um almoço
que teve com o empresário J. Hawila, no restaurante Smith & Wollensky de Miami. O parceiro fazia perguntas esquisitas, e havia garçons es-
que, por baixo, fica em US$ 40 bilhões, o equivalente a 40 refinarias
de Pasadena.
A Sete deve R$ 14 bilhões aos bancos que se meteram na ideia do genial Pedro Barusco.
tranhos. Mais tarde, caiu-lhe a ficha: colaborando com a investigação americana, Hawila era um
grampo ambulante.
O atual presidente da CBF, Marco
Polo Del Nero, também não se arrisca a pisar nos Estados Unidos.
Números loucos
A Viúva tem uma das maiores
carteiras de calotes do mundo. Os
espetos acumulados na dívida ativa
da União chegaram a R$ 1,3 trilhão. É muito dinheiro, mas o Brasil
tem 205 milhões de habitantes.
O problema está noutra ponta:
75% dessas dívidas foram produzidas por apenas 13 mil pessoas
físicas ou jurídicas.
Alto risco
Çábios do comissariado queriam
recorrer ao Supremo Tribunal para
derrubar a decisão do TCU que rejeitou as contas de Dilma.
Se desse certo, tudo bem. Se não
desse, como ficaria o governo?
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ELIO GASPARI