III SEMINÁRIO DE ESTUDOS CULTURAIS, IDENTIDADES E RELAÇÕES INTERÉTNICAS GT 2 - Comunidades tradicionais e produção de sentido na sociedade contemporânea UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE VISITANTES E VISITADOS NA ALDEIA XOKÓ-SE Gisélia de Souza Cardoso Rosana Eduardo da Silva Leal UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE VISITANTES E VISITADOS NA ALDEIA XOKÓ-SE Gisélia de Souza Cardoso Universidade Federal de Sergipe Graduanda do Curso de Turismo da Universidade Federal de Sergipe [email protected] Rosana Eduardo da Silva Leal Doutora – Docente do Curso de Turismo da Universidade Federal de Sergipe [email protected] INTRODUÇÃO O presente artigo busca apresentar parte da pesquisa realizada durante o trabalho de conclusão de curso, que teve como objeto de estudo a comunidade indígena Xokó. A pesquisa foi desenvolvida pelo Núcleo de Turismo da Universidade Federal de Sergipe, por meio do Grupo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Antropologia e Turismo ANTUR/UFS/CNPQ. Situados na Ilha de São Pedro, que está localizada no município de Porto da Folha, os índios Xokó são considerados como único grupo remanescente indígena do território sergipano na contemporaneidade. O território dos índios Xokó atualmente possui 4.317 hectares e faz limite com o rio São Francisco e com o município alagoano de Pão de Açúcar. (BARRETO, 2010, p. 19). A região que abriga a aldeia foi “historicamente a região que atraiu missões religiosas e foi palco de disputas entre portugueses e holandeses, sendo também apresentada quase sempre como área de disputa entre criadores de gado” (BARRETO, 2010, p.30). Tais disputas duraram um longo período, refletindo consequentemente na vida dos Xokó. Júnior (2005, p. 37) destaca que “a missão de São Pedro permaneceu sendo administrada pelos capuchinhos franceses até sua expulsão, em 1700. Após um conturbado e violento período, em 1709, os capuchinhos italianos assumiram a responsabilidade das missões franciscanas que outrora eram geridas pelos franceses”. A missão de São Pedro foi dirigida pela ordem até o início do século XIX e tinha como objetivo catequizar os índios tornando-os “aculturados”. Não diferente das demais missões existentes no território sergipano e brasileiro, a missão de São Pedro também tinha o mesmo viés de imposição da cultura europeia. Portanto, assim como demais povos indígenas brasileiros, o povo Xokó sofreu momentos turbulentos de imposições de hábitos, crenças e costumes eurocêntricos no decorrer de sua existência. Barreto (2010, p. 45) afirma que tal população “também teve embates com grupos negros, e ainda estiveram submetidos à situação clássica de redução de diferentes grupos indígenas em um mesmo aldeamento, sob a gestão temporal e espiritual de determinadas ordens religiosas”. A autora ratifica que os Xokó passaram por mudanças jurídicas e administrativas diversificadas. Durante mais de um século foram dados com extintos e suas terras ficaram nas mãos da administração provincial, que terminou por vendê-las a particulares, mas reassumiram sua identidade, reconhecida após os confrontos com os grupos dominantes. São vistos como descendentes e pertencem a um dos grupos básicos de formação da etnia brasileira (BARRETO, 2010, p. 45- 46). Diante do que foi exposto anteriormente, é visível que os Xokó sofreram um processo de expropriação violento, sendo dados inclusive como extintos no estado. Entretanto, no decorrer da trajetória histórica e política protagonizaram uma intensa disputa pelo território, obtendo somente o direito as extensões de terra a partir de 1979. Entretanto, a retomada total do território perdurou por um longo período de tempo, tendo finalmente o direito total a posse da terra em março de 2003. Ilustração 01: Território Xokó Fonte: http://ti.sociambiental.org/pt-br/al/pt-br/terras-indigenas/3631. Por serem índios remanescentes, carregam aspectos diferenciados da realidade de uma comunidade que está diretamente ligada ao mundo contemporâneo. Isso não quer dizer que a comunidade tenha abdicado de hábitos da sociedade moderna, porém manteve seus sinais diacríticos. Por isso, a comunidade remanescente dos Xokó tem grande representatividade para a historiografia do Estado de Sergipe e, devido a sua importância, têm sido centro de visitação, atraindo constantemente estudantes e pesquisadores interessados em conhecer os modos de vida da comunidade, as práticas culturais, bem como o cotidiano que compõe a vida da aldeia. Para compreender tal demanda, foi necessário uma pesquisa minuciosa, que buscou pontuar a relação entre cultura, turismo e educação em território indígena, tendo como campo empírico o povo Xokó. Com a pesquisa, ampliou-se o olhar científico e técnico sobre a comunidade, através do estudo de elementos ainda não abordados sobre o tema, como, por exemplo, o estudo sobre a relação entre visitantes e visitados, temática amplamente tratada no campo da Antropologia do Turismo. O estudo buscou também entender como tem ocorrido o recebimento destes grupos, por meio da pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo, observação direta, entrevistas e aplicação de questionários. A pesquisa bibliográfica foi baseada nas leituras dos trabalhos já publicados sobre o assunto, ocorrendo por meios de livros, dissertações e teses. Através da pesquisa de campo houve a possibilidade de visualizar a reação da comunidade Xokó em relação ao fluxo de visitas constantes. A pesquisa de campo foi empreendida por meio do método etnográfico, que possibilitou a coleta de dados sobre as práticas cotidianas entre os membros da comunidade Xokó e a sociedade mais ampla. Através da pesquisa de campo foi possível ter acesso ao universo simbólico dos povos Xokó, coletando informações sobre o grupo, sobre o seu território, suas produções culturais e econômicas, bem como seus membros. Também foi utilizado o registro fotográfico identificando os costumes, como também os elementos da cultura material e imaterial. Tais registros tiveram por finalidade compreender os múltiplos aspectos do modo de vida da tribo Xokó na atualidade. Por meio da observação direta foi possível ter conhecimento do perfil dos visitantes que costumam conhecer a aldeia, analisando e entendendo os desejos individuais de cada visitante, adquirindo assim um olhar diversificado sobre as práticas da comunidade visitada e os comportamentos e interesses dos visitantes. Com a realização das entrevistas e aplicação dos questionários se pode colher opiniões diversas sobre a relação entre visitantes e visitados na aldeia. Estudar os elementos que constituem o cotidiano da comunidade Xokó possibilitou entender o contexto do respectivo grupo, identificando práticas e particularidades que fazem parte da vida da comunidade, reconhecendo a representatividade da mesma para sociedade Sergipana, já que é a única aldeia indígena do Estado. A relação entre visitantes e visitados na comunidade Xokó Os Xokó têm recebido com freqüência um fluxo de visitantes na aldeia, que chega à comunidade buscando conhecer a história, a cultura e os modos de vida. Isso se deve ao fato de que os assuntos abordados teoricamente em sala de aula, muitas vezes não são suficientes, uma vez que não dão suporte completo para se conhecer a realidade de diferentes povos e lugares. Neste caso, faz-se necessário o conhecimento in loco, pois assim é possível perceber a vivência, o modo de vida, os valores, os costumes e práticas desenvolvidas pelos indivíduos no cotidiano. As práticas educativas em territórios indígenas permitem que os visitantes possam visualizar as especificidades locais atreladas à interação entre teoria-prática e ensinoaprendizagem em que se necessita ir a campo para vivenciar as realidades relatadas em sala de aula e textos científicos. Trata-se de um complemento educacional que proporciona aos estudantes, professores e pesquisadores maior aprofundamento da realidade cultural do local. No caso da aldeia Xokó, há a manutenção de particularidades que atraem a atenção de estudiosos e pesquisadores de diferentes níveis, ampliando o leque de informações daqueles que os buscam, proporcionando também maior valorização para comunidade visitada. Os alunos, pesquisadores e professores que costumam visitar os Xokó podem perceber como se deu todo o processo de construção da identidade cultural dos remanescentes indígenas de Sergipe, uma vez que a comunidade costuma recepcionar os visitantes de forma acolhedora, apresentando a história de lutas e conquistas adquiridas ao longo dos anos. Fator este determinante para ampliar o aprendizado dos alunos que visitam a aldeia, pois se pode ver in loco a realidade contada pela própria comunidade, unindo assim a teoria da sala de aula à realidade local. Ilustração 02: Encenação do processo de retomada do Território Xokó Fonte: Arquivo de Pesquisa, Abril de 2013. A atividade educativa na aldeia proporciona a interação do conhecimento-aprendizado aliado ao lazer, uma vez que promove a saída da sala de aula para um espaço diferenciado, permitindo sociabilidade e aproximação de algo diferente do cotidiano vivenciado. Demo (1996 apud SOUZA; MELO; PERINOTTO 2011, p. 56) “enfatiza que a ligação entre teoria e prática é necessária para que o educando seja capaz de tornar-se autônomo, um ser crítico, capaz de criar, recriar e manejar conhecimento”. A teoria e prática possibilita que o aluno possa interagir em diferentes contextos, adquirindo experiências únicas e particulares. Visando identificar como vem ocorrendo a relação e o diálogo entre visitantes e visitados Xokó se fez necessário a aplicação de questionários, que foram aplicados com lideranças da comunidade e demais índios, bem como os visitantes. O roteiro de perguntas foi estruturado dando aos interlocutores a oportunidade de fazer colocações pertinentes. Foram intrevistados lideranças e índios da comunidade Xokó para se obter informações que viessem a reforçar a compreensão das relações estabelecidade entre os visitantes e a comunidade Xokó. As informações coletadas por meio dos intervistados foram determinante para ter uma dimensão do ponto de vista da comunidade com relação ao fluxo de visitantes. Ilustração 03: Visitantes chegando a Aldeia Xokó Fonte: Pesquisa de campo, 2011. Aos serem inqueridos sobre as visitas externas para comunidade Xokó, os índios demonstraram que a comunidade fala a mesma linguagem. Os entrevistados destacaram que a visitação contribue para difundir cada vez mais a cultura, bem como para o reconhecimento e a valorização da história do grupo. Segundo os Xokó, as visitas servem para representar a busca de conhecimento da cultura étnica, por meio do artesanato e dos artigos produzidos pela comunidade, bem como a troca de conhecimento com a cultura externa. Para eles, os visitantes trazem novos conhecimentos e melhorias para comunidade através de projetos, visto que após vivenciar a cultura Xokó alguns estudiosos despertam para a pesquisa na comunidade e consequentimente elaboram projetos que venham beneficiar o grupo. Destacam também que é por meio da demanda externa que se tem uma outra maneira de divulgação da história e cultura do povo Xokó. Diante das colocações dos índios é possível perceber que os visitantes proporcionam o conhecimento, o intercâmbio cultural, a divulgação, dando também contribuições para aldeia por meios das iniciativas dos estudiosos. Ao serem indagados sobre os conflitos gerados pelos visitantes, os índios indicaram diferentes opiniões, pois alguns diziam não existir nenhum conflito, em contrapartida outros destacaram algumas insatisfações, dizendo que existem alguns visitantes que não compreendem e nem se integram a cultura do povo Xokó fazendo algumas críticas aos rituais a eles pertencentes. No dia 09 de setembro de 2012 na festa da retomada presenciei as críticas por meio de risadas descontroladas de três jovens meninas ao ver a apresentação da dança do Toré, chegando a serem repreendidas pelo cacique Bá de maneira discreta1. Comportamentos desrespeitosos normalmente ocasionam a apatia por parte dos visitados. Porém, esta ainda não foi uma realidade observada na comunidade Xokó durante a pesquisa de campo. Ainda questionados sobre os conflitos, fizeram comentários a respeito de alguns visitantes que não entendem a cultura e o modo de 1 Informações fornecidas por Maria Gedalva dos Santos no dia 06/08/2013 através de entrevista. Maria Gedalva trabalha nos serviços gerais da Escola Estadual Indígena Dom José Bradão de Castro, localizada na aldeia Xokó. vida da aldeia e por isso tecem comentários e opiniões preconceituosas, gerando assim alguns transtornos. Alguns visitantes costumam vir a comunidade buscar informações sobre a cultura Xokó e depois fazem publicações de modo distorcido. Aqueles que não gostam do espaço da aldeia, da cultura Xokó que voltem a suas casas sem interferir na vida da comunidade 2. Os comentários citados anteriormente dizem respeito ao modo de vida atual da comunidade, uma vez que os índios Xokó não têm mais traços característicos dos índios do tempo do descobrimento do Brasil, pois não moram em ocas e muito menos andam nús. Realidade de que promove o descontentamento por parte de alguns visitantes, que não compreendem que a identidade indígena envolve outros elementos que não sejam os aspectos tradicionalmente passados pela sociedade mais ampla. Os que não entendem as características da comunidade passam a fazer comentários preconceituosos sobre a imagem dos Xokó. Mas é preciso compreender que, as comunidades indígenas também passam por processo de ‘modernização’. A ideia é a de que a modernidade pode ser incorporada à tradição, num dueto que à primeira vista pode parecer confuso, mas que, quando observado a fundo, revela-se especialmente eficaz para entendermos a história de culturas diversas (MAGALHÃES, OLIVEIRA E FERREIRA, 2010, p. 03). Os índios como uns dos povos mais antigos do Brasil sofreram um intenso processo de aculturação desde a colonização em que mudanças e transformações foram impostas por meio da cultura eurocêntrica, forçando um contato direto do índio com o não-índio. Tal realidade permitiu que novos costumes culturais fossem incorporados a cultura indígena. Além disso, é preciso também salientar que a própria diversidade cultural existente no Brasil ocasionou uma mistura de costumes nos diferentes grupos da sociedade. Atualmente povos indígenas têm passado por um processo de reinvenção cultural para atender a demanda da sociedade moderna. As crescentes alterações sociais propiciam a reinvenção das tradições como forma de reafirmar-se no espaço que estão inseridos. Porém, é necessário refletir sobre determinadas invenções ou reinvenções uma vez que distintos grupos sociais se apropriam de determinadas mudanças, podendo dar-lhes novos valores e significados, o 2 Entrevista realizada com o Pajé Raimundo no dia 07/08/2013, o senhor Raimundo é um dos líderes mais velhos da comunidade Xokó. que pode causar uma perda das características de um grupo, podendo receber diferentes interpretações, como podemos observar no trecho que a seguir: [...] as produções de objetos tradicionais passam por mudanças em resposta a imposições comerciais e estéticas de consumidores de lugares às vezes bem distantes - o que é, nas aldeias pataxós, o caso de europeus que encomendam, por exemplo, brincos no atacado para serem vendidos no exterior, mas recomendam um formato para o brinco que venderia bem na Europa e não o habitual indígena (APPANDURAI, 1986 apud GRÜNEWALD, 2001, 137). Quando questionados sobre os benefícios adqueridos por meio do fluxo dos visitantes, os Xokó destacaram que, através das visitas, é possível ganhar visibilidade e respeito, visto que é a partir de um contato mais próximo com uma cultura alheia que se pode obter admiração pela mesma, adquerindo assim novos conhecimentos através da troca de experiência culturais. Os entrevistados falaram também dos benefícios por meio da ampla divulgação da história Xokó e a oportunidade de desenvolvimento de possíveis projetos para a comunidade e a comercialização de serviços prestados por alguns índios. Sahlins (1997) observa que, diferentemente do que se pensou, ou seja, que os povos indígenas seriam subjulgados pela hegemonia da globalização, muitos grupos tem se posicionado conscientemente diante dessa realidade, acionando a cultura não só como marcador de identidade, mas também como mecanismo de retomada do controle da própria autonomia indígena. Nessa realidade global coexistem realidades sincréticas, translocais e multiculturais que viabilizam tais culturas a partir de uma indigenização da modernidade, ou seja, de compreensão do cenário moderno sob o ponto de vista local, concebendo outras modernidades (LEAL, 2006, p. 243). A questão que ganhou destaque entre todos os entrevistados foi a oportunidade de comercialização do artesanato, pois, além de apresentar para os visitantes, o artesanato concomitantemente estimula a compra dos mesmos, o que consequentemente dinamiza a renda dos artesãos, mesmo que ainda em pequena escala. Ilustração 04: Artesanato comercializado na aldeia Fonte: Pesquisa de campo, 2013 Por fim, questionou-se sobre o ganho da comunidade por meio da visitação de pesquisadores, estudantes e professores. O que ressaltado pelos visitados foi a troca de conhecimento, destacando que a comunidade ganha com a sistematização e a formalização dos conhecimentos locais que são pesquisados, registrados e divulgados. Pontuaram a importânica de ter contato com os visitantes pela possibilidade de adquirir conhecimento do mundo externo e do mundo moderno. Os índios Xokó obtem informações por meio dos telejornais e, estar em contato com os visitantes, é mais uma forma de se manter conectados com o mundo constantemente. Outro fator que foi destacado diz respeito a maior transmissão da cultura para as salas de aula externas a aldeia, divulgando a história e estimulando novas visitas. É perceptível que os índios Xokó já têm em mente que a cada visita de estudiosos tem-se a possibilidade de aumentar o fluxo de novos alunos para conhecer a cultura local. A demanda constante deste tipo de público vem contribuir para o conhecimento da sociedade sergipana e da sociedade mais ampla sobre a importância do grupo étnico, valorizando consideravelmente o legado que a comunidade detém para a cultura do estado. Ilustração 05: Encenação do processo de retomada do Território Xokó Fonte: Arquivo de Pesquisa, Abril de 2013. Os comportamentos inadequados na maioria das vezes partem da ausênica de conhecimento sobre a importância da cultura indígena para a construção da identidade sergipana, partindo de indivíduos que buscam a comunidade apenas para vivenciar um dia de lazer, ocasionando o desconforto para a comunidade receptora, uma vez que estes apresentam comportamentos atípicos, não respeitando os limites definidos pela comunidade indígena. Sabemos também que alguns alunos vão à aldeia por exigência, devido à proposta de atividade estabelecida pelos professores e acabam não sendo sensibilizados suficientemente. Com relação aos visitantes se percebeu que os mesmos dão valor para comunidade visitada, uma vez que na visão dos mesmos a cultura Xokó constitui-se como um vínculo que retrata a memória da cultura indígena, que faz parte do patrimônio cultural e identitário de Sergipe Xokó. Segundo os visitantes, através de uma maior envolvimento e fluxo de agentes ligados a área de estudos, se pode dar um maior reconhecimento da cultura Xokó para sociedade mais ampla, em especial para os sergipanos. Ressaltaram ainda que o fluxo de visitação possibilitará um maior apoio à comunidade nativa, uma vez que se ganha reconhecimento, fortalecendo a tradição e os saberes Xokó. Os visitantes também destacaram a boa relação com a comunidade Xokó, uma vez que os anfitriões conseguem com simplicidade demonstrar acolhimento. Diante da pesquisa, pode-se dizer que a comunidade Xokó na grande maioria das visitas recebidas, tem uma relação harmoniosa com os visitantes, havendo a interação e o respeito aos costumes e hábitos cotidianos, o que permite o intercâmbio cultural e o conhecimento entre distintas formas de vida. A comunidade Xokó costuma atrair um público ligado à instituições de ensino médio e superior, possibilitando a consciência da necessidade de conhecer e entender os hábitos da cultura alheia. Ilustração 06: Interação de conhecimentos entre estudantes da UFS e índio Xokó. Fonte: Arquivo de pesquisa, Setembro de 2013. Os visitantes costumam escutar atentamente as informações passadas pelos índios da aldeia Xokó, questionando e interagindo com frequência, demonstrando não só a busca por conhecimento. mas também um respeito com a cultura da comunidade que os recepcionam. Muitos visitantes costumam considerar a hospitalidade um elemento primordial para o fluxo de visitantes. “Decididamente, a hospitalidade é o meio, acima de todos os outros, de criar ou consolidar relacionamentos com estranhos”. Selwyn (2004, p. 47). Na comunidade Xokó há uma constante preocupação dos anfitriões com o bem estar e a integração dos visitantes durante o período de permanência na aldeia. Tal hospitalidade não seria disponibilizada pelos índios Xokó se não existisse uma aceitação e um bom relacionamento entre as partes. Considerações Finais Diante da pesquisa pode-se observar que a comunidade indígena Xokó recebe com frequência grupo de visitantes. O que não quer dizer que haja uma constante relação hamônica, já que alguns relatos demonstraram situações de desaprovação diante dos comportamentos dos visitantes. Porém, boa parte dos integrantes da aldeia que fizeram parte da pesquisa descreveu a possibilidade de fortalecimento do relacionamento entre os visitantes e visitados, a ponto de criar fortes laços de amizade e visitas consecutivas. Diante do crescente fluxo de visitante é possível ver que a identidade étnica Xokó está ganhando evidência e valorização. Por isso, que conforme salientaram os entrevistados, é interessante manter o contato com os visitantes, uma vez que a partir do contato com a sociedade mais ampla os visitados estão conseguindo estabelecer intercâmbios sociais e culturais que os beneficiam a comunidade. Diante do estudo, identificou-se que a presença de visitantes no território Xokó constitui-se como uma forma de resgatar e expandir a cultura do grupo diante da sociedade mais ampla. Trata-se também de uma maneira da comunidade se reafirmar como protagonista de seus costumes e práticas cotidianas, possibilitando que a identidade Xokó torne-se fonte de intercâmbio e conhecimento histórico, ambiental, social e cultural. Referências Bibliográficas BARRETTO, Margarita. Relações entre visitantes e visitados: um retrospecto dos estudos socioantropológicos. Turismo em Análise, São Paulo, v. 15, n. 2, 2004. p, 133149. ____________________. Relações entre visitantes e visitados: nem anfitriões nem convidados. Anais da 25ª Reunião Brasileira da Associação Brasileira de Antropologia - RBA, 2006. BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. 2. ed. São Paulo: Ed. Senac, 1998. BORGES, André Luiz Mandarino. Ser da Terra: O ambiente na produção do imaginário Xokó. Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Sub-Programa da Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão-SE, 2003. CARDOSO, G. S. ;LEAL, R. E.S. Um Estudo sobre as Práticas Tradicionais da Comunidade Xokó em Sergipe e sua Importância Turístico-Educativa. In: Giovanni Seabra. (Org.). Comunidades, Natureza e Cultura no Turismo. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012, p. 211-217. DANTAS, Beatriz Góis. Xokó: Grupo Indígena em Sergipe. Aracaju-SE, 1997. DANTAS, Beatriz Góis; DALLARI, Dalmo de Abreu. Terra dos Índios Xocó: Estudos e Documentos.São Paulo: Parma Ltda, 1980. GRÜNEWALD, Rodrigo de Azevedo. Turismo e o “Resgate” da cultura Pataxó. In: Banducci Jr, Álvaro; Barreto, Margarita (Orgs). Turismo e Identidade Local. 5ª ed. Campinas- SP: Papirus, 2001, P. 127-148. Coleção de turismo. ________________. Turismo e Etnicidade: Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n. 20, p. 141-159, outubro de 2003. LEAL, Rosana Eduardo da Silva. O turismo desenvolvido em territórios indígenas sob o ponto de vista antropológico. In: Roberto Bartholo; David Gruber Sansolo; Ivan Bursztyn. (Org.). Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2009, p. 240-248. MAGALHÃES, B. J. ;OLIVEIRA, P.V.S. ;FERREIRA, V. C. Tradição e Modernidade no Território Indígena Xakriabá. Artigo apresentado no XIV maio de 2010). Disponível em: http://web.cedeplar.ufmg.br/cedeplar/site/seminarios/seminario_diamantina/2010/D10A 072.pdf. Acessado em 03/04/2012. RAYKIL, E. B; RAYKIL, C. Turismo pedagógico:uma interface diferencial no processo ensino aprendizagem. Revista Global Tourism. Disponível em:<http://www.periodicodeturismo.com.br/site/artigo/artigo.php?codigo=5&idioma=p ort>Acesso em: 24 de abril de2012. REIS, G. L. M. E.; MANFRINATO, M. H. V. Fazenda Descalvados: Espaço para Desenvolver o Turismo Educativo e a Educação Ambiental In: Congresso de Iniciação Científica, 4ª. (JC), 2011, Cáceres/MT. Anais... Cáceres/MT: Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - PRPPG, 2011. Vol. 7 (2011). SANTOS JUNIOR, Avelar Araujo. Terra Xokó: Um Espaço como Expressão de um Povo. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia, da Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão-SE, 2005. SELWYN, T. Uma antropologia da hospitalidade. In: LASHLEY, Conrad; MORRISON, Alison. Em busca da hospitalidade: perspectivas para um mundo globalizado. Barueri, SP: Manole, 2004, pp. 25-52. SOUZA, R. C. A. ; MELO. K. M. M. ; PERINOTTO, A. R.C. O turismo a serviço da educação: as aulas-passeio promovidas por escola particular em Parnaíba (PI). Revista Rosa dos Ventos, Vol. 3, No 1 (2011). Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/viewArticle/681.Acessad o em: 24/04/2012.