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ISSN 1984-428X
AGROBASE 090437
Publicação Quadrimestral Científica e Tecnológica - IFSULDEMINAS
v.3 – n.3 – Dezembro/2011
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Pouso Alegre – Minas Gerais
Dezembro – 2011
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Ministério da Educação
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais
Presidente da Replública
Dilma Roussef
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante
Secretário de Educação Profissional e Tecnológica
Marco Antônio de Oliveira
Reitor do IFSULDEMINAS
Sérgio Pedini
Pró-Reitor de Administração e Planejamento
José Jorge Guimarães Garcia
Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação
Marcelo Bregagnoli
Pró-Reitor de Ensino
Marcelo Simão da Rosa
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional
Mauro Alberti Filho
Pró-Reitor de Extensão
Renato Ferreira de Oliveira
Ficha Catalográfica
Agrogeoambiental / Instituto Federal do Sul de Minas Gerais. - Vol. 3, n.3
A224
(dez. 2011) - Pouso Alegre: IFSULDEMINAS, 2011.
Quadrimestral (set./dez.)
ISSN 1984-428X
1. Ciências Agrárias. 2. Ciências Biológicas 3. Ciências Exatas 4. Ciências da
Terra. I. IFSULDEMINAS.
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Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não expressam a opinião da equipe editorial da Revista Agrogeoambiental ou do
IFSULDEMINAS.
É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte.
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Expediente
Editores
Secretária
Camilo Oliveira Prado
Éder José da Costa Sacconi
Cássia Mara Ribeiro de Paiva
Comissão editorial
Pamela Hélia de Oliveira
Dennis Hanson Costa
Capa
Cristiani Fortes Gris
José Luiz de Andrade Rezende Pereira
Marcelo Bregagnoli
Wellington Marota Barbosa
Bibliotecária
Maria Aparecida Brito Santos
Conselho editorial
Alessandro Sales Carvalho - UFJF
Alexandre de Carvalho - IFSULDEMINAS
Aline Manke Nachtigall - IFSULDEMINAS
Ana Cristina Ferreira Moreira da Silva - IFSULDEMINAS
André Delly Veiga - IFSULDEMINAS
Angelita Duarte Corrêa - UFLA
Brígida Monteiro Vilas Boas - IFSULDEMINAS
Carlos Alberto Machado Carvalho - IFSULDEMINAS
Carlos Cesar da Silva - IFSULDEMINAS
Carlos Eduardo de Andrade - IFSULDEMINAS
Carlos Edwar C. Freitas - UFAM
Carlos Henrique Rodrigues Reinato - IFSULDEMINAS
Carlos Magno de Lima - IFSULDEMINAS
Claudino Ortigara - IFSULDEMINAS
Cléber Kouri de Souza - IFSULDEMINAS
Denis Miguel Roston - UNICAMP
Dulcimara Carvalho Nannetti - IFSULDEMINAS
Éder Clementino Dos Santos - IFSULDEMINAS
Edilson Lopes Serra - UFLA
Edu Max da Silva - IFSULDEMINAS
Erick Menezes de Azevedo - UNIFEI
Eugenio José Gonçalves - IFSULDEMINAS
Fabiano Ribeiro do Vale - UFLA
Fabrício Gomes Gonçalves - UFES
Felipe Campos Figueiredo - IFSULDEMINAS
Felipe Moreton Chohfi - UNICAMP/IFMG
Gerson de Freitas Silva Valente - IFSULDEMINAS
Geslaine Frimaio da Silva - UNIP
Isabel Ribeiro do Valle Teixeira - IFSULDEMINAS
Jamil de Morais Pereira - IFSULDEMINAS
João Olympio de Araújo Neto - IFSULDEMINAS
Joel Augusto Muniz - UFLA
José Euclides Stipp Paterniani - UNICAMP
José Mauro Costa Monteiro - IFSULDEMINAS
José Venícius de Souza - IFSULDEMINAS
Joyce Silvestre Sousa - IFSULDEMINAS
Julierme Wagner da Penha - IFSULDEMINAS
Kátia Regina C. Balieiro - IFSULDEMINAS
Leandro Carlos Paiva - IFSULDEMINAS
Leonardo Rubim Reis - IFSULDEMINAS
Lilian Vilela Andrade Pinto - IFSULDEMINAS
Lucia Ferreira - IFSULDEMINAS
Luciana Faria - IFSULDEMINAS
Luiz Carlos Dias Rocha - IFSULDEMINAS
Luiz Flávio Reis Fernandes - IFSULDEMINAS
Marcelo Carvalho Bottazzini - IFSULDEMINAS
Marcos Caldeira Ribeiro - IFSULDEMINAS
Maria de Fátima F. Bueno - IFSULDEMINAS
Maria José Brito Zakia - ESALQ
Marlei Rodrigues Franco - IFSULDEMINAS
Max Wilson Oliveira - IFSULDEMINAS
Miguel Angel I. T. Del Pino - IFSULDEMINAS
Paulo César Lima Segantine - USP
Priscila Pereira Botrel - IFSULDEMINAS
Renata Mara de Souza - IFSULDEMINAS
Rodrigo P. De Oliveira - IFSULDEMINAS
Roger Nabeyama Michels - UTFPR
Rosa Toyoko S. Frighetto - EMBRAPA
Silvana da Silva - IFSULDEMINAS
Silvio Henrique Dellesposte Andolfato - UTFPR
Verônica S. Paula Morais - IFSULDEMINAS
Victor Gonçalves Bahia - UFLA
Walter de Paula Lima - ESALQ
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Tiragem de 500 exemplares
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação
IFSULDEMINAS (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais)
Rua Ciomara Amaral de Paula, 167, Medicina - Pouso Alegre-MG - Cep 37550-000
(35) 3449 6150 - [email protected]
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EDITORIAL
A Revista Agrogeoambiental foi classificada na última avaliação da CAPES como Qualis B5,
motivo de orgulho para a comunidade científica do IFSULDEMINAS (Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais). Este indicador resulta do compromisso na busca da
excelência do trabalhado científico, sendo um reflexo das ações planejadas e executadas durante o
ano.
Este importante indicador contribui para solidificar o trabalho de fomento à pesquisa que o
Instituto tem realizado com a participação coletiva dos diversos segmentos e órgãos democráticos. A
atuação dos avaliadores, da CAPEPI (Câmara de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do
IFSULDEMINAS), o apoio institucional da reitoria e a atuação da equipe da Pró-Reitoria tem sido
determinantes na busca da excelência da qualidade da investigação publicada em nossa revista, assim
como no apoio à educação formativa, em detrimento da educação informativa tradicional.
Atualmente, o envio de artigos de diferentes instituições de ensino e de pesquisa tem
contribuído com a melhoria do nível da publicação.
Na busca da formação de cidadãos críticos, criativos, competentes e humanistas, o Instituto
tem buscado parcerias com instituições públicas e privadas que visem ao aprimoramento da
qualificação do corpo de servidores, criando uma conscientização da indissociabilidade da pesquisa
com o ensino e a extensão. O Programa Institucional de Qualificação (PIQ), elaborado pela Pró-Reitoria
de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação e aprovado pelo CONSUP no final de 2011, incorpora a
qualificação de seus quadros técnico-administrativos às preocupações do Instituto.
O IFSULDEMINAS, com seus 12.400 alunos distribuídos em 6 campi e 27 Polos de Rede, no ano de
2011 teve seu número de bolsas de fomento à pesquisa duplicado junto a FAPEMIG. O IFSULDEMINAS foi
inserido nos programas do CNPq (PIBIC, PIBITI, PIBIC-EM, Ciências Sem Fronteiras, Jovens Talentos para
a Ciência, etc) e a efetivação do programa interno de fomento a projetos e bolsas aos discentes vai ao
encontro de uma política interna de incentivo à formação intelectual ampla do indivíduo, através da
experimentação científica.
Neste volume, homenageamos Luiz Carlos Dias Rocha, professor do campus Inconfidentes do
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IFSULDEMINAS, um dos fundadores da Revista Agrogeoambiental e assíduo contribuidor desse
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periódico.
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Boa leitura!
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Sumário
ARTIGOS CIENTÍFICOS
Abordagem do processo de comunicação e a participação dos agentes envolvidos com a
produção integrada
Pág. 17
Gisele Lara de Almeida, Stella Regina Reis da Costa, André Luis de Sousa dos Santos
Avaliação alelopática de Tithonia diversifolia na germinação e no crescimento inicial de
Bidens pilosa e Brachiaria brizantha
Pág. 23
Paulo Vinicius Anderson de Oliveira, Suzelei de Castro França, Marcelo Bregagnoli, Paulo Sérgio Pereira
Avaliação da correção gravimétrica do terreno calculada a partir de Modelos Digitais de
Elevação e associados ao Sistema Geodésico Brasileiro e ao EGM2008
Pág. 31
Karoline Paes Jamur, Rogers A. D. Pereira, Silvio Rogério Correia de Freitas, Fabiani D. Abati Miranda
Avaliação do efeito borda na distribuição da avifauna em fragmentos florestais de
Cerrado
Pág. 37
Bruno Senna Corrêa, Marcelo Passamani, Aloysio Souza de Moura
Composição bromatológica de duas variedades de cana-de-açúcar submetidas a
diferentes doses de adubação mineral
Pág. 43
Franklin Meireles de Oliveira, Poliana Batista de Aguilar, Benara Carla Barros Frota, Kléria Maria Souza
Marques, Edivânia Souza Zeferino, Martolino Barbosa da Costa Júnior
Influência de fatores ambientais sobre o desempenho de um sistema de bombeamento
fotovoltaico: um estudo de caso
Pág. 51
José Airton Azevedo Santos, Roger Nabeyama Michels
Utilização de Biotech® para prevenção do entupimento de gotejadores
Pág. 57
Kaio Golçalves de Lima Dias, Thiago Henrique Pereira Reis, Francisco Dias Nogueira, Maria Juliana Lasmar,
Cesar Henrique Caputo de Oliveira, Paulo Tácito Gontijo Guimarães
REVISÕES TÉCNICAS
Avaliação mercadológica da borracha natural no Brasil
Pág. 67
Danubia Rejane Silva Brito, Waldeídes de Castro e Sousa, Joabel Raabe, Sidney Araujo Cordeiro
Compostagem de lodo de esgoto para uso agrícola
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Pág. 73
Mário Viana Paredes Filho
Homenagem ao Professor Luiz Carlos Dias Rocha
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Abordagem do processo de comunicação
e a participação dos agentes envolvidos
com a produção integrada
Gisele Lara de Almeida
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, [email protected]
Stella Regina Reis da Costa
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
André Luis de Sousa dos Santos
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
Resumo
A fruticultura é um dos segmentos mais dinâmicos e competitivos do setor agrícola brasileiro. No Brasil são produzidas
dezesseis espécies de frutas sob o sistema de produção integrada. A Produção Integrada-PI envolve 339 entidades públicas e
privadas, no entanto, ainda é incipiente o conhecimento em torno dos avanços conquistados pela PI. A comunicação e a
informação pertinente são fundamentais para promover a melhoria contínua da PI e têm assumido papéis importantes na
superação de barreiras técnicas. Assim, este trabalho teve por objetivo identificar os canais de comunicação entre os
principais agentes envolvidos com o planejamento da PI e suas participações no processo de comunicação, para levar
informações aos agentes regulamentadores e coordenadores do programa. Esta pesquisa foi feita a partir de uma entrevista
com o coordenador da Produção Integrada no Ministério da Agricultura, com base em formulários que abordavam o
planejamento e a implementação da produção integrada e a participação dos principais agentes envolvidos com o Programa.
Concluiu-se que há a necessidade de promover maior integração entre os agentes, criando canais de comunicação mais
eficazes e focados na coleta de dados e informações necessários ao planejamento da produção integrada no Brasil.
Palavras-chave: Comunicação interativa; PI Brasil; Planejamento.
Approach the process of communication and participation
of those involved with the integrated production
Abstract
The fruit is one of the most dynamic and competitive in the Brazilian agricultural sector. In Brazil there are sixteen species of
fruit produced under integrated production system. The Integrated Production-IP involves 339 public and private entities;
however, is still incipient knowledge about the advances made by the IP. The communication and relevant information are
essential to promote the continuous improvement of IP and have played important roles in overcoming technical barriers.
This work aimed to identify the channels of communication between the key players involved with the planning of IP and
their participation in the communication process, to take the information provided to regulators and coordinators of the
program. This research was made from an interview with the coordinator of Integrated Production in the Ministry of
Agriculture, based on forms that addressed the planning and implementation of integrated production and participation of
key stakeholders involved with the program. It was concluded that there is a need to promote greater integration among the
agents, creating channels of communication more effective and focused on gathering data and information necessary for
the planning of integrated production in Brazil.
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Key words: Interactive communication; IP Brazil; Planning.
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Abordagem do processo de comunicação e a participação
dos agentes envolvidos com a produção integrada
Introdução
O Brasil é terceiro maior produtor mundial de frutas
(Ferraz, 2009). Fazendo uma análise dos dados de
Exportação do Agronegócio Brasileiro, observa-se que a
partir do ano de 2005 (MAPA, 2011), o país vem agregando
mais valor às suas frutas frescas. O atual contexto do
mercado internacional de frutas sinaliza para um novo
cenário, no qual o sistema de produção da Produção
Integrada é um dos exemplos mais bem sucedidos e
reconhecidos universalmente (Protas et al., 2001, apud
Farias, 2002).
Anteriormente conhecido por Produção Integrada de
Frutas - PIF, a Produção Integrada Agropecuária - PI Brasil é
um sistema baseado na sustentabilidade ambiental,
segurança de alimentos, viabilidade econômica e
rastreabilidade de todas as etapas da cadeia produtiva de
alimentos. A PI Brasil foi instituída em 31 de agosto de 2010
pela Instrução Normativa n.º 27 do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, e prevê a
inserção de tecnologias que propiciam a certificação e o
aumento da competitividade dos seus produtos.
Atualmente a PI Brasil envolve 339 entidades públicas e
privadas, dentre as quais se destacam: a Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA, o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, o Inmetro, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas - SEBRAE, Associações de Produtores,
Cooperativas, Empresas Agropecuárias e Certificadoras
(Andrigueto et al., 2008). Este sistema de produção tem
despertado também o interesse e o reconhecimento pelos
produtores, os quais conduziram 35,5 mil ha em projetos
de produção integrada para a fruticultura brasileira em
2005.
A implantação do sistema de produção integrada no
Brasil tem apresentado resultados de destaque como:
a) aumento de emprego e renda na ordem de 3,0% (PIF
Maçã);
b) diminuição dos custos de produção da maçã (40,0% em
fertilizantes e 25,0% em inseticidas) e, no mamão, em torno
de 44,0% da totalidade – campo e pós-colheita;
c) indicadores de redução em pulverizações;
d) diminuição de resíduos químicos nas frutas;
e) melhoria da qualidade do produto consumido, da saúde
do trabalhador rural e do consumidor final (Andrigueto;
Kosoki, 2005).
No entanto, em entrevista realizada em 15 de junho de
2011 com o coordenador da Produção Integrada da Cadeia
Agrícola na Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e
Cooperativismo do Ministério da Agricultura, ficou
constatado que ainda é incipiente o conhecimento em
torno dos avanços conquistados pela PI Brasil. Até 2008 o
monitoramento do andamento do programa e do seu nível
tecnológico era feito com base nos projetos fomentados
pelo MAPA, por meio dos relatórios dos coordenadores de
cada projeto. Nos dois últimos anos, visando à ampliação
da produção integrada para todos os produtos do
agronegócio brasileiro, a PI Brasil trabalhou muito na
elaboração de normas, registros de avaliação da
conformidade, etc. A falta de registros efetivos e
confiáveis do andamento do programa compromete seu
planejamento futuro e o desenvolvimento de novas
perspectivas para a produção integrada de frutas.
As ações voltadas para o crescimento, estruturação e
melhoria da PI Brasil são estabelecidas no chamado Plano
Pluri Anual – PPA. O processo de elaboração do PPA tem
como uma de suas entradas o indicador de Participação
das exportações brasileiras de frutas na balança
comercial, porém, informações como mecanismo de
transferência de tecnologia adotado, manifestações da
sociedade, opinião do produtor rural, necessidades e
disponibilidade de recursos, divulgação e mercado
externo também deveriam compor o conjunto de dados
para a análise crítica durante o planejamento do
programa.
Ainda, a compreensão de fatores como o avanço nas
práticas de plantio, manejo e comercialização de frutas no
país, a contribuição que a produção integrada ofereceu às
exportações e à balança comercial brasileira, o grau de
efetividade das ferramentas de avaliação da
conformidade adotadas, entre outros, é urgente e
indispensável, uma vez que servirão como dados para o
acompanhamento, desenvolvimento e expansão do
sistema de produção integrada de frutas. Sem a
informação pertinente, na grandeza e qualidade
requeridas, é quase impraticável promover a melhoria
contínua da PI Brasil.
Neste contexto, processos de comunicação eficazes
são necessários para se estabelecer, implementar, manter
e melhorar continuamente o sistema de produção
integrada no país. A comunicação e a informação têm cada
vez mais assumido papéis importantes no comércio
internacional de alimentos, em especial na superação de
barreiras técnicas. Para Cardoso (2006), tanto a busca pela
excelência, quanto a preocupação com o consumidor e
com o futuro do planeta, têm produzido novas
concepções de negócios. São mudanças econômicas com
transformações significativas para os mercados. Nesse
contexto contemporâneo, a comunicação torna-se
fundamental na tomada de decisão e, pensar na
comunicação e na informação como elementos
estratégicos, é um desafio que precisa ser ultrapassado.
A comunicação eficaz e interativa permeia por todos
os membros da cadeia produtiva de frutas e permite a
disseminação das melhores práticas agrícolas e das
tecnologias emergentes aceitas no comércio
internacional de frutas in natura; a implementação dos
processos necessários à promoção da segurança de
alimentos; o entendimento e o atendimento aos
requisitos dos clientes e consumidores e ainda, permite a
retroalimentação do sistema, provendo dados para ações
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de melhoria em planejamentos futuros.
Assim, o objetivo principal deste trabalho foi identificar
os canais de comunicação entre os principais agentes
envolvidos com o planejamento da Produção Integrada
Agropecuária e suas participações no processo de
comunicação para levar informações aos agentes
regulamentadores e coordenadores do programa, MAPA
e Inmetro, promovendo a retroalimentação do programa.
Metodologia
Como a pesquisa está pautada num estudo sistêmico
voltado para a retroalimentação da Produção Integrada
Agropecuária, a estratégia de pesquisa adotada foi o
estudo de caso, no qual foi estudado o caso da produção
integrada de maçã, por ter sido a cultura pioneira na
Produção Integrada no Brasil.
Uma vez que este trabalho contempla investigar a
maneira como ocorre o processo de comunicação dentro
da estrutura da Produção Integrada, e a forma como os
agentes envolvidos com este processo estão articulados,
fez-se necessário ouvir a coordenação da Produção
Integrada Agropecuária a respeito da atual organização da
PI Brasil e dos trabalhos voltados para o desenvolvimento
da PI que vêm sendo desenvolvidos pelo MAPA e também
representantes da cadeia produtiva de maçã. Dessa
maneira, a coleta de dados foi feita a partir de uma
entrevista, realizada em 15 de junho de 2011 na Secretaria
de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo –
SDC do MAPA, com o coordenador de Produção Integrada
da Cadeia Agrícola do Ministério da Agricultura; com o
coordenador da Produção Integrada de Uva e com o
representante da Associação Gaúcha dos Produtores de
Maçã, ambas em agosto de 2011.
Foram utilizados como instrumental de pesquisa
formulários de entrevista elaborados pelos autores. Os
formulários abordavam temas relacionados ao
planejamento, à implementação da Produção Integrada
Agropecuária e à participação dos principais agentes
envolvidos com o Programa, inclusive nos processos de
comunicação. As questões foram desenvolvidas com base
nos trabalhos publicados por Andrigueto e Sanhueza , e
nos requisitos do Manual FAO de Boas Práticas Agrícolas,
da Instrução Normativa MAPA n.º 27 de 31/08/2010 da PI
Brasil, da Instrução Normativa MAPA n.º 5 de 22/09/2005 da
PI-Maçã, da Instrução Normativa MAPA n.º 12, de 29/11/2001
da PI-Uva, da Instrução Normativa MAPA n.º 11, de
18/09/2003 da PI-Uva e do Manual do Pequeno Agricultor
do GlobalGAP.
Resultados e discussão
A partir das opiniões dos agentes participantes da cadeia
produtora de maçã e do coordenador da Produção
Integrada Agropecuária no MAPA, foi possível identificar
os canais centrais de comunicação existentes entre os
principais agentes envolvidos com o programa. O fluxo de
informações segue conforme apresentado na Figura 1
abaixo.
Produtor Rural
EMBRAPA
Packinghouses
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Produtores de
pesticidas, agentes
de limpeza e
sanitização
CNPq
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Varejistas, clientes e consumidores
Figura 1: Atual fluxo do processo de comunicação no Programa Nacional de Produção Integrada Agropecuária
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Abordagem do processo de comunicação e a participação
dos agentes envolvidos com a produção integrada
De acordo com o observado na Figura 1 acima, atualmente,
os maiores canais de comunicação entre os principais
agentes envolvidos com o planejamento da produção
integrada consistem:
a) na comunicação do MAPA com entidades como
Embrapa, Inmetro, CNPq e SEBRAE;
b) na comunicação do MAPA com produtores de
pesticidas e de produtos de limpeza e sanitização;
c) na comunicação das Embrapa com o produtor rural, com
as packinghouses e com o CNPq;
d) na falta de comunicação dos agentes que promovem a
PI com a rede varejista e com clientes e consumidores;
e) na falta de feedback de todos os membros da cadeia
produtiva de alimentos para o MAPA, e;
f) na centralização do MAPA.
Com a aplicação dos formulários de entrevista e,
considerando a participação dos principais agentes
envolvidos com o planejamento e condução do Programa
Brasileiro de Produção Integrada, foi observado que:
a) apenas a Embrapa contribui efetivamente para
retroalimentar o programa e sua participação no
planejamento da PI não é dada de maneira formal e
sistêmica;
b) considerando a PI um programa de Avaliação da
Conformidade, ficou constatado que, no âmbito do
Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade – SBAC, a
condução dos processos de estudo dos impactos sociais e
econômicos propiciados pela Produção Integrada, de
acompanhamento do mercado, de promoção da
educação e informação do consumidor e de promoção da
PI nos acordos de reconhecimento internacionais não vem
ocorrendo de maneira sistêmica. Tais fatores constituem
pontos chave para o sucesso da PI enquanto atividade de
avaliação da conformidade.
c) a atual estrutura de comunicação não contempla um
mecanismo formal, sistêmico e eficaz de transferência de
tecnologia. De maneira estruturada, esse processo ocorre
apenas entre a Embrapa e as unidades piloto onde os
projetos de PI são geridos;
d) o MAPA vem centralizando ao longo dos anos todo o
processo de planejamento e condução da PI, sem que haja
uma rotina de análise crítica do programa e uma
ferramenta que proporcione a coleta de informações e de
dados, vindos de todas as partes interessadas na Produção
Integrada, que subsidiem essa análise.
Desta forma, muitas informações importantes para o
desempenho e desenvolvimento da produção integrada
no país estão sendo, provavelmente, perdidas, em função
da falta de canais formais e estruturados de comunicação,
em especial com os produtores, com a rede varejista e com
consumidores. Ficou constatado que é necessário revisar
o processo de comunicação entre os agentes da PI Brasil
para um melhor planejamento do programa. Dentre as
oportunidades de melhoria identificadas, as principais
foram:
a) O canal de ouvidoria do MAPA não possui uma
metodologia para receber, atender, tratar e registrar as
manifestações de produtores e empresas parceiras do
programa.
b) O grau de satisfação do produtor rural com o programa
não é medido.
c) O MAPA não realiza trabalhos de pesquisa de opinião
com clientes e consumidores nos mercados alvo da PI
Brasil.
d) A prospecção de demanda da PI Brasil se dá apenas pela
seleção dos projetos encaminhados pelos pesquisadores
das Embrapa.
e) Não estão inseridas no canal de comunicação entidades
chave para a transferência da tecnologia gerada com os
projetos de PI e para o desenvolvimento da agricultura no
país, como a Emater e as secretarias estaduais de
agricultura.
Para sanar as dificuldades encontradas nos processos
de comunicação da PI Brasil, o MAPA está desenvolvendo
ações estratégicas voltadas para a melhoria dos canais de
comunicação entre os agentes da Produção Integrada em
todo o país. Dentre outras ações, merece destaque a
implementação do Sistema e Gestão da Produção
Integrada – SIGPI, o qual, de acordo com a Secretaria de
Desenvolvimento Agrário e Cooperativismo do
Ministério, já está pronto e consiste na informatização de
todos os dados relativos ao andamento da PI no Brasil.
Esta ação é central na solução das falhas de comunicação
enfrentadas pelos agentes envolvidos com a PI, pois,
consiste na construção de um banco de dados que reunirá
informações sobre o número de agricultores aderidos à
PI, área, produção, cursos realizados, pessoas
capacitadas, infraestrutura de PI, parceiros públicos e
privados, ganhos de produtividade, redução de uso de
insumos (agroquímicos, água, adubos, etc.), e que será
uma importante ferramenta administrativa de coleta de
dados para a retroalimentação do programa,
contribuindo com informações substanciais para o seu
planejamento e para sua melhoria contínua.
Considerando o papel de cada agente no
desenvolvimento da produção integrada, são apresentas
a seguir algumas oportunidades de melhoria que o MAPA
e o Inmetro, gestores da PI Brasil, poderiam implementar
para promover a retroalimentação do programa.
a) Estabelecer, implementar e manter uma metodologia
para atender as manifestações do produtor rural, e que
permita extrair informações a respeito das dificuldades e
facilidades encontradas com o programa; das suas
necessidades comercias e técnicas; entre outras.
b) Estabelecer, implementar e manter um canal direto de
contato com o consumidor do mercado interno, de forma
a identificar suas necessidades e expectativas.
c) Estabelecer, implementar e manter uma metodologia
formal para divulgar a PI Brasil para os clientes do
mercado internacional, alvo do programa.
d) Estabelecer, implementar e manter uma metodologia
para identificar as necessidades da sociedade quanto ao
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
andamento da produção integrada no país.
e) Realizar a prospecção de demanda da PI Brasil com base
nos dados advindos dos anseios da sociedade e dos
mercados, utilizando ferramentas da qualidade
adequadas de priorização para cada novo projeto.
f) Estabelecer, implementar, manter e melhorar
continuamente novos indicadores relacionados à
qualidade da comunicação entre os principais agentes
envolvidos com a PI e as demais partes interessadas,
atribuindo autoridade e responsabilidade sobre tais
indicadores aos agentes envolvidos. Tais indicadores
poderiam ser somados aos já trabalhados pelo MAPA no
Plano Pluri Anual da PI Brasil.
Com relação à divulgação da PI Brasil para os clientes
do mercado internacional, a Secretaria de
Desenvolvimento Agrário e Cooperativismo em parceria
com a Secretaria de Relações Internacionais do
Agronegócio-SRI, ambas do MAPA, está trabalhando na
estruturação de um projeto que permitirá realizar missões
voltadas especificamente para a divulgação da PI Brasil em
feiras internacionais, baseada nas prospecções de
mercado feitas pela SRI. Atualmente, a divulgação da PI
Brasil nessas feiras tem sido realizada com a colaboração
de outros agentes do Ministério, os quais não estão
diretamente envolvidos com as atividades de produção
integrada.
Para implementar tais ações, seria necessário que o
MAPA, inicialmente, descentralizasse e organizasse a
estrutura que compõe a cadeia de Produção Integrada no
país. Para uma condução bem sucedida deste novo modo
de gerenciar a Produção Integrada, seria fundamental que
o MAPA:
a) criasse e estabelecesse novos canais diretos de
comunicação;
b) descrevesse metodologias de trabalho;
c) fizesse uso das ferramentas de administração da
qualidade para o estabelecimento e manutenção das
ações de melhoria do Programa;
d) estabelecesse registros para os organismos envolvidos
com a PI Brasil;
e) capacitasse os personagens envolvidos com o registro e
o fluxo das informações da Produção Integrada e;
f) divulgasse periodicamente e de maneira sistêmica tais
informações para todas as partes interessadas, incluindo a
sociedade.
Grande parte destas ações o MAPA já vem
promovendo por meio do desenvolvimento e da
consequente implementação do SIGPI. Acredita-se que
este programa se consolide em um novo canal de
comunicação do MAPA com os agentes da PI e entre todas
as partes envolvidas com o Programa e sirva de base para o
registro das principais atividades relacionadas com a
Produção Integrada e de fontes de informações confiáveis
e na de qualidade requerida, relativas aos programas de
produção integrada conduzidos em todo o país.
Dessa forma, o fluxo ideal de comunicação e
informação necessário ao bom andamento da PI Brasil
poderia ser de acordo com o apresentado na Figura 2 a
seguir:
Produtor Rural
EMBRAPA
SEBRAE
MAPA
INMETRO
CNPq
Figura 2. Exemplo do fluxo ideal do
processo de comunicação no Programa
Nacional de Produção Integrada
Agropecuária Fonte: Adaptação do
modelo de comunicação interativa na
cadeia produtiva de alimentos,
apresentado na ABNT NBR ISO 22000:2006
EMATER
Secretarias agropecuárias estaduais
Packing Houses
Produtores de pesticidas,
embalagens, agentes de limpeza
e sanitização
100
Varejistas
75
Clientes e consumidores
95
Satisfação
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5
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Abordagem do processo de comunicação e a participação
dos agentes envolvidos com a produção integrada
Observando a Figura 2 acima, observa-se que os autores
propõem:
a) uma atuação mais eficiente do MAPA e do Inmetro
como órgãos gestores da PI, estabelecendo os requisitos
necessários ao seu pleno desenvolvimento;
b) a comunicação direta do MAPA e do Inmetro com o
produtor rural e com clientes e consumidores para medir o
sucesso, a penetração, a adequação e a satisfação da
sociedade com a PI;
c) a comunicação direta do MAPA e do Inmetro com os
agentes envolvidos com PI no país, a fim de facilitar o
acompanhamento dos indicadores do Programa e
promover o desenvolvimento e a melhoria contínua da
atuação destes órgãos nas atividades de PI, no âmbito do
SBAC;
d) a participação de organismos que atuam
fundamentalmente na extensão rural;
e) uma maior inter-relação entre todos os agentes que
participam da PI, e;
f) a comunicação direta dos agentes envolvidos com a PI
com o produtor rural e com clientes e consumidores.
Conclusão
Os principais canais de comunicação e informação
identificados são aqueles que envolvem o MAPA, as
Embrapa, o Inmetro, poucas redes varejistas e o produtor
rural. Dentre estes canais participam com o fornecimento
de informações apenas o MAPA, o Inmetro, a Embrapa e o
próprio produtor rural. Assim, pode-se concluir que há
uma necessidade de promover maior integração entre os
personagens envolvidos com o planejamento e o
desenvolvimento da Produção Integrada, criando canais
de comunicação mais eficazes e focados na coleta de
dados e informações necessários à perfeita condução do
programa no Brasil. Cabe ao MAPA estruturar tal sistema,
buscando envolver de maneira metódica todos os agentes
que participam da produção integrada no Brasil.
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Avaliação alelopática de Tithonia diversifolia na
germinação e no crescimento inicial de
Bidens pilosa e Brachiaria brizantha
Paulo Vinicius Anderson de Oliveira
Suzelei de Castro França
Unidade de Biotecnologia, Universidade de Ribeirão Preto, [email protected]
Marcelo Bregagnoli
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, campus Muzambinho
Paulo Sérgio Pereira
Unidade de Biotecnologia, Universidade de Ribeirão Preto
Resumo
O objetivo deste projeto foi de avaliar o potencial alelopático do extrato e frações purificadas das espécies vegetais Tithonia
diversifolia na germinação de Brachiaria brizantha e Bidens pilosa. A germinação foi avaliada quanto aos aspectos:
percentual de germinação, velocidade de germinação, número de folhas, altura das plântulas, tamanho das raízes, peso e
sobrevivência das mesmas. Os resultados obtidos permitiram concluir que Tithonia diversifolia mostrou-se tóxico para as
plantas daninhas utilizadas. Adicionalmente, devido a inibição da germinação e o retardamento do desenvolvimento
radicular e aéreo ficou confirmado o efeito alelopatico do ácido clorogênico isolado desta espécie.
Palavras-chave: Tithonia diversifolia; Ácido clorogênico; Alelopatia.
Allelopathic effect of Tithonia diversifolia on germination and early
seedling growth of Bidens pilosa and Brachiaria brizantha
Abstract
The aim of this work was to evaluate the allelopathic potential of crude extracts and purified fractions of Tithonia diversifolia
in the germination process of Brachiaria brizantha and Bidens pilosa. Several germination parameters were investigated:
proportion of germination, growth rate, number of leaves, plant height, root elongation, plant weight and survival. Obtained
results lead to the conclusion that Tithonia diversifolia extract showed enhanced toxicity against tested weeds. Additionally
due to germination inhibition and retarding on the development of aerial parts and root system it was confirmed the
allelopathic effect of the chlorogenic acid isolated from that specie.
Keywords: Tithonia diversifolia; Allelopathy; Chlorogenic acid.
1. Introdução
A fim de reduzir infestações de plantas em cultivos agrícolas, estudos vêm utilizando recursos naturais a procura de
compostos químicos presentes nas plantas resultantes do metabolismo primário e secundário para o controle racional das
plantas invasoras. O primeiro grupo é composto de substâncias formadas a partir da fotossíntese, sendo divididas em:
carboidratos, proteínas, lipídeos e ácidos nucléicos. O segundo é representado por substâncias formadas a partir da energia
do metabolismo dos compostos primários (GAVILANES et. al., 1988).
Tithonia diversifolia (Hemsl.) A. Gray pertence à família Asteraceae, tribo Heliantheae, conhecida popularmente como
margaridão, compreende 13 espécies, das quais 7 foram investigadas quimicamente sendo isoladas destas, lactonas
sesquiterpênicas, com esqueleto carbociclico do tipo heliangolídeo e germacrolídeo e, ainda, diterpenos e flavonóides
(BARUAH et al., 1979; PEREZ et al., 1992; PEREIRA et al., 1997; KUO & CHEN, 1997). Margaridão é comum em certas regiões do
México, América Central (SCHUSTER et aI., 1992) e no Brasil é amplamente distribuída. Essa espécie pertence à mesma tribo
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Avaliação alelopática de Tithonia diversifolia na germinação e
no crescimento inicial de Bidens pilosa e Brachiaria brizantha
do girassol (Helianthus annuus), o qual apresenta elevada
atividade alelopática contra plantas daninhas de onde foi
isolado sequiterpenos não lactônicos derivado de
heliannanos (AZÂNIA et al, 2003; LEATHER, 1983). O
objetivo geral deste trabalho foi avaliar o potencial
alelopático do extrato bruto, e purificados da espécie
Tithonia diversifolia usando Bidens pilosa e Brachiaria
brizantha como planta invasora.
2. MATERIAIS E MÉTODO
2.1 Coleta e preparo do material vegetal
O material vegetal de Tithonia diversifolia foi coletado na
Coleção de Plantas Medicinais da Universidade de Ribeirão
Preto, utilizando partes aéreas (caule, folhas e flores) in
natura. As partes foram submetidas à seleção, processo de
secagem em estufa de circulação de ar quente à 40ºC,
moagem em moinho de facas.
2.2 Preparo do Extrato
A partir de 850g do material seco e triturado, foram
realizados macerações sucessivas por 8 horas com 3 litros
de água a 100 ºC obtendo-se 910 mL de extrato aquoso na
primeira extração, que posteriormente foi macerado
novamente por 12 horas com 3 litros de água a 100 ºC
obtendo 1920 mL. No final das macerações foram reunidos
os extratos das duas extrações e submetido a liofilização a
fim de se tornar um extrato sólido rendendo 133,33 g de
extrato seco.
2.3 Fracionamento dos extratos
O extrato aquoso seco de T. diversifolia foi submetido ao
fracionamento cromatográfico aquoso em Sephadex ® LH20 nas condições descritas a seguir: 2 g de extrato diluídos
em 6 ml de água destilada e submetidos a cromatografia
em coluna (75 x 2,5 cm), eluídas com água. Frações de 5 mL
foram coletadas, e posteriormente reunidas em 3 frações
(TIT01, TIT02 e TIT03) de acordo com visualizações dos
perfis por cromatografia em camada delgada comparativa
(CCDC) em placas de sílica gel (10 x 10 cm, J.T.Baker
Si250F®), eluídas em BAW (n-butanol:ácido acético:H2O,
4:1:5, fase superior); observadas em lampadas de UV 254 e
366 nm e reveladas com Ninhidrina e/ou Vanilina Sulfúrica.
O processo de purificação foi realizado 5 vezes, para
armazenamento de maior quantidade de fracionado a
serem utilizados nos re-fracionamentos seguintes, e
devidos a demanda para os bioensaios.
2.4 Purificação dos constituintes ativos
Uma parte de 0,400 g da fração TIT02, obtida do
fracionamento do extrato aquoso, foi dissolvido em 4 mL
de água, centrifugada e filtrada para purificação em HPLC
(Shimadzu®), nas condições: Coluna reversa (10 x 250
mm), fase móvel H2O (ácido acético 0,1 %), fluxo de 2,0
mL/min, detecção a 280 nm e coleta de 2 mL/tubo, sendo o
tempo total de análise de 130 min. Todas as frações foram
caracterizadas fitoquimicamente através de CCDC em
placas de sílica gel (10 x 10 cm, J.T.Baker Si250F®), eluídas
em BAW, observadas em UV 254 e 366 nm e reveladas com
Ninhidrina ou Vanilina sulfúrica onde foram reunidas
segundo perfil e concentradas em liofilizador, resultando
em 2 frações denominadas de TIT02.01a e TIT02.01d
(Fração desprezada).
O restante de 0,669 g da fração TIT02 obtida do
fracionamento do extrato aquoso foi também purificado
em HPLC (Shimadzu®), nas condições: Coluna reversa (10
x 250 mm), fase móvel MeOH:H2O: 0:100 à 10:90 gradiente
linear por 80 min; 10:90 à 80:20 gradiente linear por 30
min; 80:20 à 0:100 gradiente linear por 2 min; 0:100
isocrático por 8 min, sendo o tempo total de análise de 120
min. O fluxo foi 2,0 mL/min, a detecção a 280 nm e a coleta
de 2 mL/tubo. Todas as frações foram caracterizadas
fitoquimicamente através de CCDC nas mesmas condições
de análise anterior, reunidas segundo perfil e
concentradas em liofilizador, resultando em 2 frações
denominadas de TIT02.01b e TIT02.01d (Fração
desprezada).
Após comparações dos perfis cromatográficos foram
reunidas as duas frações TIT02.01a e TIT02.01b
denominada em TIT02.01ab. A fração reunida foi
dissolvida em água e submetida ao fracionamento em
HPLC (Shimadzu®), nas condições: Coluna reversa (10 x
250 mm), fase móvel MeOH:H2O: 0:100 isocrático por 50
min; 0:100 à 80:20 gradiente linear por 10 min; 80:20 à
0:100 gradiente linear por 10 min; 0:100 isocrático por 20
min, sendo o tempo total de análise de 90 min. O fluxo foi
1,0 mL/min, a detecção a 280 nm e a coleta de 1 mL/tubo.
Todas as frações foram caracterizadas fitoquimicamente
através de CCDC nas mesmas condições das análises
anteriores, reunidas segundo este perfil e concentradas
em liofilizador, resultando em 14 frações.
2.5 Identificação da substância purificada
Para identificação das substâncias semi-purificadas, 3 das
14 frações foram dissolvidas em DMSO-d6 e submetidas à
técnica de RMN de 1H e 13C, 300 e 75 MHz. As frações
purificadas também foram analisadas por HPLC analítico
nas condições: Coluna reversa (4,6 x 250 mm), fase móvel
MeOH:H2O (Ácido Acético, 0,1%, v/v): 0:100 à 15:85
gradiente linear por 25 min; 15:85 à 100:0 gradiente linear
por 5 min; 100: 0 à 0:100 gradiente linear por 2 min; 0:100
isocrático por 8 min, sendo o tempo total de análise de 40
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min. O fluxo foi 1,0 mL/min e a detecção a 280 nm. Nesta
análise comparativa foi utilizado o ácido clorogênico
(Aldrich), frações e o extrato bruto (50 mg/mL).
2.6 Execução e avaliação da germinação das plantas
daninhas com o extrato
As espécies Bidens pilosa e Brachiaria brizantha foram
selecionadas como alvos receptores dos aleloquímicos
pela sua relevância dentre as espécies de ervas daninhas
na agricultura.
Para os testes de germinação das espécies utilizadas
como invasoras nos extratos vegetais foi utilizado uma
câmara de germinação da marca Marconi, modelo MA
1403/UR, com condições controladas em 23 ºC, 80 % de
umidade relativa do ar e fotoperíodo de 13 h/Luz. Nas
avaliações foram utilizadas caixas acrílica Gerbox de
dimensões 7,0 x 7,0 x 7,0 cm, 2 g de espuma fenólica moída
como suporte, 25 mL de extrato vegetal em três dosagens
diferentes (1%, 2% e 4%) e 20 (vinte) sementes por Box,
sementes estas passada por assepsia com cercobin 1% (p/v)
por 1 hora em agitação e hipoclorito de sódio 0,5% (p/v) por
30 min, sob agitação. Para segurança das informações
foram feitos grupos de seis boxes para cada dose de
extrato, sendo 3 com sementes de B. brizantha e 3 com
sementes de B. pilosa mais 1 box com água destilada como
controle, finalizando em 24 boxes por experimento
submetidos a condições em câmara de germinação, com
vistorias diárias e coleta de dados no 7º, 14º e 21º dias após a
semeadura com 3 repetições por extrato a fim de garantir
a legitimidade dos dados coletados. Nas coletas de dados
foram anotadas as seguintes informações: percentual de
germinação, velocidade de germinação, número de folhas,
altura das plântulas, tamanho das raízes, peso e
sobrevivência das mesmas.
2.7 Avaliação da germinação das plantas daninhas com os
fracionados
A metodologia de avaliação da germinação com os
fracionados ficou definida utilizando as avaliações com os
extratos como base com pequenas alterações. Alterações
foram feitas quanto ao recipiente que foi utilizado
anteriormente, redefinido para cubetas de vidros (h = 8,5
cm e d = 2,2 cm) com tampas plásticas, 150 mg de espuma
fenólica moída, umedecida com 1,5 mL de solução aquosa
contendo os fracionados à 1 % para todas as frações e cinco
sementes passada por assepsia por cubeta. Câmara de
germinação com condições controladas em 23 ºC, 80 % de
umidade relativa do ar e fotoperíodo de 13 h/luz foi
utilizada nos testes. Para segurança das informações
foram feitos grupos de 10 cubetas para cada fração, sendo
5 com sementes de B. brizantha e 5 com sementes de B.
pilosa mais 1 cubeta com água destilada no lugar do extrato
para cada espécie usado como controle. Todo o
experimento foi realizado com materiais autoclavados e
executado em fluxo laminar para não haver
contaminações. Os materiais foram submetidos a
condições em câmara de germinação, vistorias diárias e
coleta de dados no 7º, 14º e 21º dias após a semeadura e 3
repetições por fracionado a fim de garantir a legitimidade
dos dados coletados. Os dados foram coletados as
mesmas informações que para a avaliação com o extrato.
2.8 Análises estatísticas
As análises foram realizadas em triplicata e o delineamento
adotado foi o inteiramente casualizado (DIC). Os
resultados foram submetidos a ANOVA através do
programa da Universidade Federal de Lavras - SISVAR V.4.3
(FERREIRA, 2003), sendo as médias dos tratamentos
comparados pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância
(SCOTT & KNOTT 1974).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Fracionamento do extrato
O fracionamento em coluna com o extrato aquoso de T.
diversifolia, resultaram em 3 (três) frações de acordo com
visualizações em CCDC, denominadas TIT01, TIT02 e TIT03,
que após processo de liofilização apresentaram peso de
3,5297, 3,2419 e 3,0323g, respectivamente.
Na cromatografia em coluna o extrato foi fracionado e
através de observações em CCDC foi agrupado em 3
frações. Após bioensaios com estas frações, observou-se
que a atividade que o extrato apresentava estava presente
na TIT02. Mediante ao fato da atividade estar na fração
TIT02 iniciou-se o isolamento das substâncias desta fração
através de HPLC com duas fases móveis diferentes
H2O:ácido acético (0,1%) e MeOH:H2O.
No fracionamento com fase móvel H2O:Acido acético a
amostra inicial (0,400 g) foi dividida em 16 (dezesseis)
frações, onde através de observações do cromatograma e
a CCDC, agrupou-se as frações 3, 4 e 5 em uma só amostra
denominada de TIT02.01a que apresentou peso igual a
0,059 g, as demais frações foram agrupadas em outra
amostra denominada de TIT02.01ad que foi desprezada.
No fracionamento com fase móvel MeOH:H2O a
amostra inicial (0,669 g) foi dividida em 13 frações, onde
através de observação do cromatograma e a CCDC,
agrupou-se as amostras 3, 4 e 5 em uma só amostra
denominada de TIT02.01b que apresentou peso igual a
0,075 g., as demais frações foram agrupadas em outra
amostra denominada de TIT02.01bd que foi desprezada.
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Avaliação alelopática de Tithonia diversifolia na germinação e
no crescimento inicial de Bidens pilosa e Brachiaria brizantha
As duas amostras TIT02.01a e TIT02.01b foram reunidas em uma só fração denominada TIT02.01ab após observações do
cromatograma e da CCDC, onde mostraram conter as mesmas substâncias. A amostra TIT02.01ab (0,134 g) foi submetida ao
fracionamento em HPLC com fase móvel MeOH:H2O dividida em 14 frações. Através de observações do cromatograma em
HPLC e da CCDC, destas quatorze frações, 3 (três) foram enviadas para análise em RMN 1H (300MHz) e RMN 13C (75MHz)
denominadas como TIT02.01.05ab, TIT02.01.07ab e TIT02.01.08ab.
Comparações entre cromatogramas de HPLC do extrato bruto (Fig. 1A), do purificado TIT02.01.07ab (Fig. 1B) e do padrão
(ácido clorogênico) (Fig. 1C), juntamente com as comparações de dados da literatura (IWAI et al., 2004; CORSE et al., 1962;
MORISHITA et al., 1984), nos permitiu a identificação da substância isolada como sendo o ácido clorogênico.
Os espectros de RMN de 1H e 13C da sub-fração TIT02.01.07ab, indica que a substância majoritária é um derivado do ácido
hidroxicinâmico (IWAI et al., 2004). Os dados de RMN de 1H mostra que os deslocamentos e a multiplicidade são
características do ácido clorogênico. E os deslocamentos nos espectros de RMN de 13C comprovam esta informação.
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Figura 1: Cromatogramas a 280 nm em HPLC e espectros de ultravioleta do extrato bruto de Tithonia diversifolia (A), fração
TIT02.01.07ab (B) e do ácido clorogênico (C).
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3.2 Bioensaios com extratos e fracionados
Na primeira fase do projeto foi analisado o extrato bruto da espécie medicinal proposta, sobre a germinação das duas
espécies invasoras. E na segunda fase foram realizados bioensaios com as frações purificadas do extrato bruto. As Tabelas 1
e 2 mostram os resultados alelopáticos obtidos nos bioensaios quanto aos aspectos: numero de sementes germinadas,
velocidade de germinação, número de folhas, altura das plântulas, tamanho das raízes, peso e sobrevivência das mesmas.
Concentrações
Avaliações
(%)
(dias)
Controle
1%
2% e 4%
Controle
1%
Controle
1%
Controle
1%
Controle
1%
7
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7
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21
7
14
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Invasoras
Bidens pilosa
Brachiaria brizantha
Número de sementes germinadas
33,33 ± 2,08
a
31,33 ± 2,08
38,33 ± 4,50
a
38,66 ± 4,50
46,00 ± 2,00
a
47,00 ± 2,00
33,66 ± 1,52
a
7,66 ± 1,52
48,00 ± 1,15
b
11,66 ± 1,15
50,66 ± 2,51
a
11,66 ± 2,51
ng
ng
ng
ng
ng
ng
Desenvolvimento das plântulas (mm),
10,33 ± 0,57
a
10,33 ± 0,57
16,66 ± 1,52
a
56,66 ± 2,51
51 ± 2,64
a
82,00 ± 2,00
17,66 ± 1,15
b
3,33 ± 0,57
42,33 ± 0,57
b
56,66 ± 3,05
71 ± 1,73
b
81,66 ± 2,08
Desenvolvimento radicular das plântulas (mm)
3,66 ± 0,57
a
3,66 ± 0,57
28,66 ± 2,51
a
27,66 ± 1,52
53,00 ± 3,46
a
61,66 ± 3,05
3,33 ± 0,57
a
3,00 ± 0,00
28,00 ± 2,64
a
22,66 ± 2,08
59,66 ± 1,15
b
61,66 ± 2,08
Peso das plântulas (mg)
8,66 ± 0,57
a
7,66 ± 0,57
11,33 ± 1,52
a
10,66 ± 0,57
15,33 ± 0,57
a
17,00 ± 2,00
15,00 ± 2,00
b
6,00 ± 0,00
20,66 ± 0,57
b
8,33 ± 0,57
23,66 ± 1,52
b
14,66 ± 1,52
Numero de folhas das plântulas
2 ± 0,00
a
2 ± 0,00
4 ± 0,00
a
4 ± 0,00
4 ± 0,00
a
4 ± 0,00
2 ± 0,00
a
2 ± 0,00
4 ± 0,00
a
4 ± 0,00
4 ± 0,00
a
4 ± 0,00
e
e
e
f
f
f
e
e
e
e
e
e
e
e
e
e
f
f
e
e
e
e
e
e
e
e
e
e
e
e
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Tabela 1: Número de sementes germinadas, desenvolvimento das plântulas (mm), desenvolvimento radicular das plântulas
(mm), peso das plântulas (mg) e número de folhas das plântulas em contato com o extrato bruto de Tithonia diversifolia. Médias
comparadas estatisticamente de acordo com o estágio de avaliações (dias), quando acompanhadas das mesmas letras não
diferem estatisticamente entre si pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade. ng – sementes não germinadas.
25
5
0
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Avaliação alelopática de Tithonia diversifolia na germinação e
no crescimento inicial de Bidens pilosa e Brachiaria brizantha
Amostras
Avaliações
(dias)
Invasoras
B. pilosa
B. brizantha
Número de sementes
germinadas
Controle
TIT01
TIT02
TIT03
7
14
21
7
14
21
7
14
21
7
14
21
32,00±2,08 a
39,00±8,08 a
45,33±2,08 a
28,00±1,52 b
32,66±1,15 b
41,00±2,51 a
11,33±0,57 c
20,00±1,00 c
25,00±0,00 c
35,33±0,57 d
42,66±2,08 d
52,66±2,08 d
Controle
TIT01
TIT02
TIT03
3,66±0,57 a
29,00±1,73 a
52,66±2,08 a
3,33±0,57 a
28,66±1,15 a
59,33±2,08 b
3,66±0,00 a
28,00±2,30 a
53,00±1,15 a
3,33±0,57 a
28,33±1,52 a
52,66±2,51 a
B. pilosa
Controle
TIT01
7
14
21
7
14
21
2±0,00 a
4±0,00 a
4±0,00 a
2±0,00 a
4±0,00 a
4±0,00 a
31,66±8,08 e
34,66±2,08 e
47,66±0,57 e
7,66±1,15 f
11,66±2,08 f
11,66±2,08 f
9,00±1,52 g
13,33±1,52 g
24,66±1,52 g
31,66±0,57 h
35,00±2,08 h
47,66±1,15 e
10,50±0,50 a
16,66±0,57 a
51,00±1,00 a
9,83±1,25 a
16,50±1,32 b
48,00±1,73 b
10,50±1,75 a
16,50±0,57 b
51,00±0,57 a
14,33±1,52 a
22,00±1,00 c
57,83±1,25 c
B. brizantha
B. pilosa
TIT02
TIT03
10,33±0,28 e
57,00±1,00 e
81,33±2,88 e
9,50±0,86 e
56,00±0,00 e
81,50±2,78 e
10,50±0,50 e
57,00±1,60 e
81,00±2,30 e
10,16±1,25 f
56,16±0,28 e
82,00±1,73 f
Peso das plântulas (mg)
4,00±0,00 e
8,66±0,57 a
27,33±0,57 e
11,33±1,52 a
63,33±1,15 e
15,33±0,57 a
3,33±0,57 e
8,66±1,52 b
25,33±0,57 f
11,33±0,57 b
62,00±2,00 f
15,66±2,08 b
2,00±0,00 e
7,00±0,00 c
16,33±1,52 e
8,33±0,57 c
43,66±2,00 e
10,66±1,52 c
3,00±0,00 e
12,33±0,57 d
27,00±3,00 g
16,66±0,57 d
62,66±3,21 g
19,66±1,15 d
Número de folhas das plântulas
2±0,00 e
4±0,00 e
4±0,00 e
2±0,00 e
4±0,00 e
4±0,00 e
B. brizantha
Desenvolvimento das plântulas
(mm)
Desenvolvimento radicular
das plântulas (mm)
7
14
21
7
14
21
7
14
21
7
14
21
B. pilosa
7
14
21
7
14
21
2±0,00 a
4±0,00 a
4±0,00 a
2±0,00 a
4±0,00 a
4±0,00 a
7,66±0,57 e
10,66±0,57 e
17,00±2,00 e
7,00±1,00 f
10,00±1,00 f
17,33±1,15 f
5,33±0,57 g
7,00±1,15 e
13,66±1,52 g
6,66±1,15 h
1,66±1,52 g
18,33±1,15 h
B. brizantha
2±0,00 e
4±0,00 e
4±0,00 e
2±0,00 e
4±0,00 e
4±0,00 e
100
95
75
Tabela 2: Número de sementes germinadas, desenvolvimento das plântulas (mm), desenvolvimento radicular das plântulas
(mm), peso das plântulas (mg) e número de folhas das plântulas em contato com as frações do extrato bruto de Tithonia
diversifolia. Médias comparadas estatisticamente de acordo com o estágio de avaliações (dias), quando acompanhadas das
mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade.
25
5
0
28
Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Os resultados mostram que B. pilosa em interação com o
extrato à 1% obteve maior índice germinativo comparado
com o controle, mostrando ter efeitoestimulatório quanto
à germinação, e inibitório nas demais concentrações. Já as
sementes da espécie B. brizantha em contato com o
extrato obtiveram menor índice de germinação no extrato
à 1 % e inibitório nas demais concentrações comparado
com o controle. Leather (1983) relatou que a resposta da
germinação depende da fonte do extrato, da
concentração e da espécie utilizada. Além disso,
demonstrou o efeito alelopático do extrato de Helianthus
annuus conhecido popularmente como girassol
pertencente à mesma tribo da espécie T. diversifólia,
relacionando com os resultados apresentados. Os
resultados da primeira avaliação mostram que a espécie B.
pilosa em interação com o extrato à 1 % apresentou
desenvolvimento superior comparado com o controle. Já
as sementes da espécie B. brizantha apresentou menor
desenvolvimento na primeira semana após semeio e
diferença insignificante nas demais avaliações comparado
com o controle com inibição total da germinação nas
concentrações de 2 e 4 %. Quanto ao desenvolvimento
radicular de B. pilosa e B. brizantha comparado com o
controle, os resultados das avaliações não mostram
alterações significativas quanto ao crescimento das raízes
para ambas as espécies em estudo. Porém quanto ao peso
das plântulas houve alteração significativa quanto ao peso
das plântulas da primeira espécie e pouca alteração de
peso na segunda espécie. Tongma et. al. (1998) relatam o
menor desenvolvimento e peso das plântulas testadas em
seu trabalho utilizando T. diversifolia como planta doadora
de aleloquimico (s). Os resultados das avaliações não
mostram alterações quanto ao número de folhas para
ambas espécies em estudo comparado com o controle.
Os efeitos alelopáticos podem variar quanto à sua
intensidade, visto que a ação dos aleloquímicos é
condicionada por diversos fatores, tais como
concentração, temperatura e outras condições
ambientais. Geralmente, os efeitos causados tendem a ser
dependentes da concentração dos aleloquímicos, ou seja,
tendem a ser mais acentuados em concentrações mais
altas, sendo essa tendência observada nos bioensaios de
crescimento. Entretanto, Reigosa et al. (1999) afirmam
que os efeitos alelopáticos podem escapar deste padrão,
já que os efeitos observados resultam do somatório de
uma série de alterações moleculares. Maraschin-Silva
(2005) mostrou que os efeitos de extratos vegetais sobre
as raízes de Lactuca sativa reforçam esta idéia, e mostra
que o número de folhas normalmente não é alterado com
o aumento da concentração dos aleloquímicos, mas sim o
tamanho das partea aérea.
Neste estudo a fração TIT02, rica em ácido clorogênico
e tido como aleloquímico (KEELER & TU, 1991; DUKE, 1992;
LYNDON & DUKE, 1989; RUSSELL, 1986), como tóxica para
B. pilosa e B. brizantha inibindo a germinação e
desenvolvimento. Dowd & Vega (1996) relataram o efeito
alelopático e inseticida do ácido clorogênico, apontando a
diminuição do desenvolvimento como o principal efeito
em plantas usadas como alvo. Concomitante ao trabalho
provou que a concentração do ácido é maior na partes
vegetais nos meses de verão, apontando a maior
competição por nutrientes e água para o desenvolvimento
como justificativa para a conclusão.
4. Conclusões
Os resultados obtidos permitem concluir que a
metodologia utilizada nos bioensaios mostrou-se
confiável com o uso da espuma fenólica como suporte,
passando confiabilidade aos dados coletados. A
metodologia de fracionamento do extrato bruto mostrouse eficiente para separação das substâncias presentes nos
extratos e no isolamento do ácido clorogênico. As
espécies utilizadas como invasoras apresentam resultados
o mais próximo para o estudo evoluir para um produto,
pois, são espécies com resistência a aleloquimícos e
agrotóxicos. A espécie Tithonia diversifolia mostrou-se
positiva quanto ao uso de seu extrato, frações e o ácido
clorogênico isolado desta como aleloquimicos, inibindo a
germinação, retardando o desenvolvimento radicular e
retardando o desenvolvimento minimizando a matéria
seca as plantas receptoras.
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25
5
0
29
Avaliação
Abordagem
alelopática
do processo
de Tithonia
de comunicação
diversifoliaena
a participação
germinação e
no crescimento
dos agentesinicial
envolvidos
de Bidens
compilosa
a produção
e Brachiaria
integrada
brizantha
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75
25
5
0
30
Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Avaliação da correção gravimétrica do terreno
calculada a partir de Modelos Digitais de Elevação
e associados ao Sistema Geodésico Brasileiro e ao EGM2008
Karoline Paes Jamur
Universidade Federal do Paraná, [email protected]
Rogers A. D. Pereira
Universidade Federal do Paraná, [email protected]
Silvio Rogério Correia de Freitas
Universidade Federal do Paraná, [email protected]
Fabiani D. Abati Miranda
Universidade Federal do Paraná, [email protected]
Resumo
A avaliação dos curtos comprimentos de onda do geopotencial normalmente está vinculada aos efeitos gravimétricos da
topografia do terreno. Em vista da ausência de informação altimétrica em resolução adequada, utilizam-se modelos digitais
de elevação, os quais têm como referência sistemas de altitudes globais, ao contrário de, por exemplo, o caso brasileiro,
onde as altitudes estão vinculadas a um sistema local. Neste trabalho busca-se avaliar o quão diferente pode ser este efeito,
levando em conta altitudes fornecidas pelo Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) e altitudes fornecidas pelo modelo digital de
elevação Digital Topographic Model 2006.0 (DTM2006.0), o qual é o Modelo Digital de Elevação (MDE) utilizado para calcular
o Earth Gravitational Model 2008 (EGM2008) que é um modelo de geopotencial global. Para isto, foi produzido um aplicativo
para efetuar o cálculo das correções do terreno a partir de dados do DTM2006.0 (vinculado ao EGM2008) e do SGB por
aproximação linear. Com estes resultados foi possível quantificar o efeito do emprego de correções do terreno, em
diferentes sistemas de referência, via o cálculo de anomalias de altitude.
Palavras-chave: Correção do Terreno; Modelo Digital de Elevação; Sistema Geodésico Brasileiro; EGM2008.
Evaluation of gravimetric terrain correction computed from Digital Elevation
Models and associated with the Brazilian Geodetic System and the EGM2008.
Abstract
The evaluation of the short wavelengths of the geopotential is usually linked to the gravimetric effect of topography of the
land. Because of the lack of information on proper resolution, altimetry was used through digital elevation models, which
have global height reference systems, unlike, for example, the Brazilian case, where the elevations are linked to a local
system. In this study, seek to assessed how different can be this effect, taking into account heights provided by the Brazilian
Geodetic System (BGS) and heights provided by the digital elevation model DTM2006.0 (used to compute the global
geopotential model EGM2008). For this, an application was built to carried out the calculation of terrain corrections from
data DTM2006.0 and BGS by linear approximation. With these results, it was possible to calculate the terrain effect
correction using different vertical reference systems through the height anomaly computation.
Keywords: Terrain Correction; Digital Elevation Model; Brazilian Geodetic System; EGM2008.
100
95
1.Introdução
75
Um passo imprescindível no cálculo do geóide a partir de dados gravimétricos com resolução decimétrica, por exemplo, tal
como exigido nas aplicações atuais, como a vinculação de dados GNSS (Global Navigation Satellite System), é o cálculo das
anomalias da gravidade com a consideração dos efeitos gravitacionais das massas topográficas. Na atualidade, o cálculo da
25
5
0
31
Avaliação da correção gravimétrica do terreno calculada a partir de Modelos Digitais
de Elevação e associados ao Sistema Geodésico Brasileiro e ao EGM2008
correção do terreno, de forma sistemática, tem sido
possível com a utilização de modelos digitais de elevação
(MDE) do terreno, locais ou globais.
A anomalia de Bouguer é obtida a partir da correção
Bouguer, que remove o efeito das massas entre a estação
e o geóide e também a correção ar-livre. Uma correção
simplificada é feita levando em consideração a hipótese de
que entre o ponto e o geóide existe uma placa infinita
plana e horizontal, com densidade r constante e espessura
equivalente a altitude do ponto. Já, a correção de Bouguer
completa, além de remover os efeitos da placa plana
infinita na redução da estação ao geóide, considera os
efeitos da topografia relativa à placa via a correção do
terreno, sempre positiva. Efetivamente, o cálculo da
anomalia de Bouguer é feito pela soma da correção de
Bouguer simples ou completa com a correção ar-livre
assumindo que o espaço entre o plano da estação e o
plano do geóide, seja preenchido uniformemente com
massa, no caso de uma estação situada acima do geóide e
uniformemente sem massa se estiver abaixo do geóide.
No caso da anomalia isostática considera-se também, a
correção topo-isostática, a qual envolve também a
consideração de heterogeneidades de massa abaixo do
geóide, entendidas como massas de compensação da
topografia acima do geóide. A eliminação dos efeitos das
massas topográficas e de compensação para a redução da
gravidade observada ao geóide é bastante complexa.
Com a aplicação da correção de terreno nas anomalias
gravimétricas, as massas externas ao Geóide são
verticalmente comprimidas sob o Geóide,
consequentemente, o potencial gravitacional da Terra é
alterado. A diferença entre o potencial gravitacional das
massas topográficas antes da correção e depois do
processo de redução é chamado de efeito indireto do
Potencial sendo a alteração correspondente ao geóide
denomina-se efeito indireto. Quando utiliza-se a anomalia
gravimétrica de Faye (anomalia gravimétrica com
correção ar-livre, correção atmosférica e correção de
terreno), a superfície equipotencial definida é chamada de
Co-Geóide. Com a adição do efeito indireto no Co-Geóide,
determina-se a superfície do Geóide.
Atualmente a correção do terreno pode ser obtida com
base em MDEs onde se tem maior facilidade de cálculo por
serem fornecidos em arquivos das elevações em grades de
diferentes tamanhos e oferecendo a oportunidade do uso
de outros métodos como, por exemplo, o de prismas
retangulares ou método de decomposição espectral da
topografia por FFT – Fast Fourrier Transform.
Nesta contribuição, o efeito do terreno é obtido por
aproximação linear para explorar as potencialidades do
uso de altitudes advindas do modelo digital de elevação
Digital Topographic Model 2006.0 (DTM2006.0)
compilado em uma resolução de 30” (Pavlis, 2007) para o
cálculo do geóide comparando com as vinculadas ao
Sistema Geodésico Brasileiro (SGB). Para isso foi criado um
aplicativo para realizar o cálculo da correção do terreno a
partir de dados do DTM2006.0 e do SGB por aproximação
linear e outro aplicativo para o cálculo das anomalias de
altura pela teoria de Molodenskii.
2. EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 Altitudes – SGB
O sistema de altitudes do SGB é materializado com a Rede
Altimétrica de Alta Precisão (RAAP). Esta rede é formada
pelas estações geodésicas altimétricas denominadas
Referências de Nível (RN´s). As estações altimétricas são
estabelecidas com Nivelamento Geométrico Composto
com o objetivo final de gerar altitudes com a precisão
necessária ao estabelecimento do controle fundamental
em vista da necessidade para: estudos e pesquisas da
forma da Terra e do movimento da crosta terrestre;
controle altimétrico das grandes obras de engenharia;
apoio para obtenção da altitude dos pontos necessários a
elaboração de cartas topográficas; apoio a serviços
topográficos e geodésicos em geral; construção de
barragens, redes distribuidoras de água, etc. (IBGE, 2010).
2.2 Digital Topographic Model 2006.0 (DTM2006.0)
O DTM2006.0 é um MDE global que incorpora os dados
Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) disponíveis. Foi
compilado com resoluções de 30", 2', 5', 30', e de 1°. O
EGM2008 (qual utiliza dados do DTM2006.0) combina
informações de anomalias da gravidade de grau baixo,
com informações de grau elevado dos efeitos advindos do
Residual Terrain Model (RTM), baseado no DTM2006.0,
com isso, matematicamente produziu-se valores de
anomalias da gravidade sobre as áreas onde seus dados
não estão disponíveis. Estes valores sintéticos de anomalia
de gravidade foram necessários no desenvolvimento de
soluções do modelo gravitacional com desenvolvimento
harmônico até o grau 2160, preservando as devidas
características espectrais (Pavlis et al. 2006).
2.3 Correção do Terreno
Nas reduções topográficas e isostáticas da gravidade, o
efeito indireto sobre o potencial gravitacional, decorrente
da aparente movimentação de massas, tem de ser
considerado para uma correta determinação do geóide.
Nos modernos conceitos da modelagem do campo da
gravidade local e regional, a abordagem “Residual Terrain
100
95
75
25
5
0
32
Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Model” (RTM) é frequentemente aplicado na técnica
Remover-Restaurar (RR) onde a massa, entre a superfície
da Terra e uma superfície limitante, tem de ser levada em
conta, tanto quando é removida, como quando é
restaurada. Segundo Heck e Seitz (2007), embora a base
de fórmulas analíticas para o cálculo dos efeitos de massa
sobre a gravidade e sobre o potencial gravitacional seja
relativamente simples, uma avaliação precisa consome
algum tempo devido à estrutura irregular das superfícies
limitantes das massas. O tempo de cálculo ainda é um
problema hoje em dia, quando MDEs de alta resolução
(com resolução vertical de até 9 m, como é o caso do SRTM
e de 2m para o novo conceito TanDEM-X e TerraSAR-X) são
utilizados. Potencialmente, tais modelos podem ser
aplicados em conexão com modelos digitais de densidade.
As operações de integração numérica têm de ser
resolvidas, em princípio, estendendo ao longo de todo o
globo com varreduras horizontais. Na Geodésia e
Geofísica, muitos procedimentos para um cálculo eficiente
(prismas, FFT, tesseóides, Heck e Seitz, 2007) dos efeitos
de massas topográficas foram propostos e adaptados a
ferramentas computacionais disponíveis atualmente
otimizando essas operações de cálculo.
2.4 O Cálculo do geóide
Para o cálculo da altura geoidal em um único ponto da
Terra é necessário o conhecimento de anomalias da
gravidade sobre toda a superfície do planeta. Esta
condição é traduzida claramente na equação de PizettiStokes:
é a função de Stokes. A primeira constatação devese ao problema clássico das anomalias da gravidade serem
calculadas sobre o Geóide em um processo no qual este é
justamente o elemento incógnito. Usualmente isto
conduz à sua referência a sistemas locais. A segunda, é que
a anomalia da gravidade utilizada tem que ser
representativa do elemento de área escolhido. Uma
terceira refere-se a como tratar as informações em uma
grade ou “template” (Hofmann-Wellenhof & Moritz,
2005), uma vez que a gravidade é observada de forma
esparsa e aleatória na SFT (Superfície física terrestre).
No sentido de contornar os problemas acima e outros
mais não apresentados aqui, técnicas alternativas de
avaliação da equação (1) foram desenvolvidas. Dentre as
mais famosas, é possível citar-se o RR, onde os
comprimentos do geopotencial são dividos em longos,
médios e curtos. Os longos estão vinculados a informações
que advém de modelos globais da gravidade; os médios, às
anomalias da gravidade regionais e, os curtos, às
informações da topografia do terreno. Cita-se aqui,
particularmente a forma como é calculada a correção do
terreno (Moritz, 1980), aplicada ao cálculo de anomalias
Bouguer refinadas (para interpolação de valores da
gravidade) e o termo g1 de Molodenskii (apresentado na
seção seguinte):
2
H - Hp
1
CT = Gr òò
ds
3
2
l
s
(2)
Onde 1 é a distância entre os pontos H e Hp, G é a constante
r
gravitacional e
é densidade média do Terreno,
interpretada, de um modo geral, como sendo 2670 kg/m³.
Aqui se chama atenção para o modo como as altitudes são
calculadas, embora de modo relativo, associadas a um
sistema de referência.
Quando, então, faz-se uma operação do tipo:
N = NC + N M + N L
(3)
Com índices C (curtos), M (médios) e L (Longos)
associados ao espectro do geopotencial pode-se
encontrar anomalias da gravidade (médios
comprimentos) vinculadas a um referencial local, e a
topografia do terreno (curtos comprimentos de onda)
vinculadas, normalmente, a um sistema global.
2.5 O Cálculo do quase-geóide segundo Molodenskii
De acordo com Hofmann-Wellenhof & Moritz (2005),
anomalias de altura podem ser calculadas segundo a
seguinte expressão:
z =
R
4pg 0
òò (Dg + g )S (y)ds
1
(4)
s
100
A anomalia de altura pode ser útil na avaliação do quão
grande podem ser as discrepâncias devido às
incompatibilidades de Datum, antes mencionadas. É
necessário lembrar que o termo g1 pode ser
compreendido como a correção do terreno para o local em
questão.
95
75
25
5
0
33
Avaliação da correção
Abordagem
gravimétrica
do processo
do de
terreno
comunicação
calculadae aa partir
participação
de Modelos Digitais
de Elevaçãodos
e associados
agentes envolvidos
ao Sistema
com
Geodésico
a produção
Brasileiro
integrada
e ao EGM2008
3. Região de Estudos
5. Resultados
A região de estudos envolve as latitudes 28,0°S a 28,5°S e
longitudes 50,5°W a 48,5°W, compreendendo parte do
Estado de Santa Catarina (Figura 1).
Primeiramente foram obtidas através do site do IBGE
todas as altitudes vinculadas ao SGB num total de 799
(figura 1). As atitudes referidas ao DTM2006.0 foram
obtidas do sítio do ICGEM (International Center for Global
Earth Models). Posteriormente, foram efetuadas grades
utilizando interpolador krigagem em ambos dados (figura
2 e 3).
Figura 1: Área de estudos.
A motivação desta quadrícula deve-se parcialmente ao
não conhecimento das informações altimétricas na parte
oceânica e que têm como referência o SGB e também
porque nestas localidades já foram desenvolvidos outros
trabalhos que possibilitaram testes de conformidade com
os resultados apresentados.
Figura 2: Dados em formato de grid de Altitudes referidas
ao DTM2006.0. Observações em metros.
4. Metodologia
Deseja-se avaliar qual o efeito de se utilizar altitudes
referidas ao DTM2006 em vez de utilizarem-se altitudes
referidas ao SGB quando o geóide é calculado em relação
ao SGB. Assim, a partir da equação (4), é possível operar:
z SGB - z DTM 2006
=
-
R
4pg 0
R
4pg 0
òò (Dg
SGB
+ g1- SGB )S (y ) ds
s
òò (Dg
DTM 2006
(5)
+ g1- DTM 2006 )S (y ) ds
Figura 3: Dados em formação de grid de altitudes referidas
no SGB. Observações em metros.
A partir desses dados foi desenvolvido um aplicativo em
ambiente MATLABTM por aproximação linear a partir da
equação (2) para o cálculo da correção do terreno do
DTM2006.0 (Figura 4) e do SGB (Figura 5).
s
Admitindo que as anomalias da gravidade estejam no
mesmo referencial,
z SGB - z DTM 2006
=
R
4pg 0
òò (g1-SGB - g1- DTM 2006 )S (y)ds
(6)
100
95
s
75
E então é possível obter-se a diferença devido a
aproximação de um modelo digital de altitudes que esteja
num referencial diferente de qualquer grandeza como,
por exemplo, das anomalias da gravidade.
Figura 4: Correção do terreno por aproximação linear
calculado com dados do DTM2006.0. Dados em mGal.
25
5
0
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Após o cálculo da diferença de grids foi utilizado a equação
(6) e implementado no aplicativo para o cálculo das
anomalias.
Foi encontrado como resultado o valor mínimo de 10x10-5 m e máximo de -10x10-4 m.
6. Conclusões
Figura 5: Correção do terreno por aproximação
linear calculado com dados do SGB. Dados em mGal.
A diferença entre grids da correção do terreno calculada
com dados do DTM2006.0 e a correção do terreno
calculado com dados do SGB (Tabela 1) resultou em um
desvio médio de 0,36 mGal e rms 0,56 mGal.
Mínimo
Desvio médio
Máximo
Desvio padrão
rms
0,05mGal
0,36mGal
2,59 mGal
0,33 mGal
0,56 mGal
A magnitude das discrepâncias devido as incompatibilidades de Datum verificada neste artigo foi de até 10x10-5 m o que pode causar diferenças de até 2,6 mGal nas
anomalias de altura verificando a influência de se usar
diferentes MDEs no cálculo do geóide, com referenciais
distintos. No caso aqui apresentado, utilizou-se o cálculo
das anomalias de altura, obtidas a partir da fórmula de
Molodenskii, bem como, modelos digitais de altitudes, que
estão em referenciais diferentes, como é o caso do
DTM2006.0, em referencial global e os dados do SGB, em
referencial local.
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Tabela 01: Resultado da diferença entre grids das correções
do terreno com dados do DTM2006.0 e SGB (dados em
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Gráfico 1: Diferenças entre as correções do terreno calculado
com dados do SGB e calculado com dados do DTM2006.0
associado com as alturas geoidais.
Para obter-se a diferença devido a aproximação de um
modelo digital de altitudes que esteja num referencial
diferente foi desenvolvido um aplicativo (em ambiente
MATLABTM) utilizando a equação (6) para o cálculo das
anomalias de altura.
Primeiramente foi utilizada a diferença entre os grids
da correção de terreno com dados do SGB e correção de
terreno com dados do DTM2006.0:
g1- SGB - g1- DTM 2006
(7)
MORITZ, H. Advanced Physical Geodesy. Karlsruhe:
Wichmann, 1980.
PAVLIS N.K, FACTOR, J.K, HOLMES, S.A, (2007). TerrainRelated Gravimetric Quantities Computed for the Next
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100
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(eds.): Gravity Field of the Earth, Proceedings of the 1st
International Symposium of the International Gravity
Field Service (IGFS), 28 August – 1 September, 2006,
Istanbul, Turkey (accepted).
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25
5
0
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Avaliação do efeito borda na
distribuição da avifauna em
fragmentos florestais de Cerrado
Bruno Senna Corrêa
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, campus 9 Nepomuceno, [email protected]
Marcelo Passamani
Universidade Federal de Lavras, [email protected]
Aloysio Souza de Moura
Centro Universitário de Lavras, [email protected]
Resumo
A perda da diversidade de fauna nos ecossistemas está associada a diversos fatores. A fragmentação florestal é considerada
um fator relevante nesta redução da fauna, tendo em vista suas conseqüências diretas e indiretas. A real dimensão desta
perda é um parâmetro pouco conhecido pela população em geral. Os aspectos relacionados à fragmentação são
amplamente discutidos, ao longo de 20 anos de estudo na Amazônia, por Laurance e colaboradores. Apesar de estudos na
literatura estejam relacionados a ambientes contínuos de floresta, poucos estudos levantam estas questões par fragmentos
florestais do Bioma Cerrado. Pela concepção teórica ambientes reduzidos são considerados todos influenciados por borda,
ou na verdade uma grande borda. Ainda faltam parâmetros ecológicos específicos para avaliar precisamente a dimensão de
uma borda e a área mínima de fragmentos florestais que já apresentam borda e interior.
Palavras-chave: Fragmentação; Taxocenose; Diversidade faunística; Interação animal-planta.
Evaluation of edge effect over bird distribution along Cerrado's forest fragment
Abstract
The loss of the diversity of fauna in ecosystems is associated with diverse factors. The forest spalling is considered an
excellent factor in this reduction of the fauna, in view of its direct and indirect consequences. The real dimension of this loss is
a parameter little known by the population in general. The aspects related to the spalling, widely are argued, throughout 20
years of study in the Amazônia, for Laurance and collaborators. Although studies in literature are related continuous
environments of forest, few studies raise these forest fragments questions pair of the Cerrado Biome. By the theoretical
conception surrounding reduced all influenced by edge, or in the truth are considered a great edge. Still they lack specific
ecological parameters to necessarily evaluate the dimension of an edge and the minimum area of forest fragments that
already present edge and interior.
Keywords: Fragmentation; Taxocenosis; Animal diversity; Animal plant interaction.
Introdução
A fragmentação florestal ocorre quando uma área de floresta nativa é transformada em uma série de remanescentes
menores isolados, através da intervenção da matriz aos organismos da floresta (Burguess e Shape 1981; Harris, 1984). O
processo de fragmentação apresenta aspectos importantes: perda do hábitat original, redução do tamanho do
remanescente, aumento de isolamento de remanescentes (Andrén, 1994) e exposição do fragmento florestal a efeito borda
como resultado da transição abrupta entre floresta e matriz (Murcia 1995). Com a fragmentação florestal é inevitável a
criação de bordas artificiais que podem implementar transformações aos sistemas biológicos ocasionadas em grande parte
por efeitos de borda (Rodrigues e Nascimento, 2006)
A fragmentação reduz a heterogeneidade horizontal e vertical do interior das florestas. Dessa forma, a influência de
fatores abióticos externos como vento, radiação solar, disponibilidade de água, temperatura e umidade, irão influenciar a
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Avaliação do efeito borda na distribuição da
avifauna em fragmentos florestais de Cerrado
ocorrência de processos biológicos. Essas alterações,
provocadas pelo efeito borda, pode influenciar
parcialmente fragmentos maiores (100 ha ou maiores) ou
influenciar a dinâmica de todo o fragmento, no caso de
fragmentos menores que 20 ha; a idéia é quanto menor o
fragmento, maior o efeito borda, estando essa relação
ligada diretamente à disponibilidade de recursos no solo
(água, minerais, microbiota), vento, radiação solar
incidente, temperatura. Assim espera-se que a dinâmica
de fragmentos menores esteja diretamente influenciada
pelos fatores abióticos presentes nos limites externos a
eles. A distribuição da flora nas bordas, irá indicar as
condições que podem ser bastante particulares nos
fragmentos, atuando na distribuição e densidade de
comunidades terrestres. Em relação à composição e
dinâmica das comunidades terrestres em ilhas oceânicas, a
Teoria da Biogeografia de Ilhas proposta por Macarthur e
Wilson (1967) possibilitou informações preciosas no
entendimento da estrutura de paisagens fragmentadas.
Segundo os autores acima citados, a riqueza de espécies
em ambientes fragmentados parece estar relacionada
com o tamanho e o grau de isolamento da área, sugerindo
uma redução no número de espécies em ilhas menores e
mais isoladas (Terborg 1976). Um fator relacionado com a
distribuição e a densidade populacional das espécies no
fragmento, é a estrutura da matriz. A matriz pode ser
considerada como uma área entre os fragmentos
(campos, savanas, áreas agricultáveis, etc), que
representa uma barreira para o fluxo migratório entre um
e outro fragmento (Tocher 1997). A permeabilidade da
matrix irá condicionar o fluxo das espécies por meio de um
sistema de metapopulações. (Harrison 1991; Hanski, 1991).
A questão de como a fragmentação provoca um
aumento de áreas de borda nos fragmentos, como as
espécies da avifauna respondem a este efeito borda
aumentado e quais seriam as estratégias específicas que
deveriam ser aplicadas nas suas áreas de estudo, que
apresentam intenso efeito borda será aqui discutida.
Referencial teórico
O efeito borda resulta de alterações em ecossistemas
florestais que geram ambientes fragmentados. Em áreas
de floresta, o processo de fragmentação tem produzido
paisagens na qual as bordas apresentam características
dominantes. Os efeitos de borda são bastante extensivos
nos fragmentos remanescentes (Chen, Franklin e Spies
1993 a,b). Segundo Franklin e Forman, 1987, em alguns
modelos teóricos de manejo florestal (clear-cutting), o
interior de florestas não afetadas pelo efeito borda é
inferior a 50% do remanescente, sendo este índice
dependente do padrão de manejo e do tamanho do
remanescente.
Recentes estudos relacionados com efeito borda em
remanescentes florestais (Murcia 1995) delimitaram três
tipos de efeitos: abiótico, biológico direto e biológico
indireto.
O efeito abiótico envolve mudanças nas condições
físicas do ambiente, resultantes da proximidade para uma
matriz estruturalmente dissimilar. Os efeitos biológicos
diretos envolvem mudanças na distribuição e abundância
das espécies causadas por condições físicas alteradas
próximas às bordas. Os efeitos biológicos indiretos
resultam das mudanças nas interações das espécies nas
bordas ou próximo a elas (Murcia 1995). Os
remanescentes florestais limitados por cultivos agrícolas
são expostos a diferentes radiações solares, vento,
disponibilidade de água e disponibilidade de nutrientes
que regiões de floresta contínua (Saunders, Hobbs e
Arnold 1993; Hobbs 1993). Fatores como a radiação solar,
temperatura e umidade dirigem processos biológicos
como fotossíntese, desenvolvimento da vegetação,
decomposição e ciclagem de nutrientes (Chen 1993b). A
dinâmica espacial e temporal do microclima para bordas
são de grande importância para entender as respostas
biológicas e a distribuição e abundância de organismos em
remanescentes florestais (Turton and Freiburguer in
Laurance e Bierregaard 1997). Segungo Murcia (1995), a
distância pela qual o efeito borda penetra dentro de
fragmentos florestais é uma medida geralmente usada
para indicar a intensidade da modificação do hábitat.
Estudos realizados por Matlack 1993; Kapos et al. 1993;
Young e Mitchell 1994 e Camargo e Kapos 1995),
envolvendo medição do ar, temperatura do solo e déficit
de vapor de pressão levaram a conclusão de que o efeito
borda penetra somente cerca de 50 m dentro da floresta,
sendo que em alguns casos não foi detectada alterações
nos gradientes microclimáticos em relação a este efeito
(Murcia 1995). A intensidade do efeito borda é altamente
influenciada pela orientação da borda e a fitofisionomia da
floresta. A quantidade de radiação solar recebida
determina a extensão de vários efeitos físicos da borda,
sendo essencialmente dependente em cima da orientação
da borda. A fitofisionomia florestal é importante, no
aspecto de afetar a quantidade de radiação solar incidente
recebida no sub-bosque da floresta (Turton and
Freiburguer in Laurance e Bierregaard 1997).
Variáveis ambientais como radiação fotossinteticamente ativa, temperatura, déficit de pressão de vapor,
velocidade do vento e fluxo de calor do solo, medidas
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
dentro dos dosséis da floresta, dependem da distribuição
vertical dos estratos e da abertura do dossel (Fritschen
1985).
O tamanho, a forma e a idade dos remanescentes irão
interagir para determinar a importância dos efeitos de
borda (Kapos 1989). Fatores climáticos externos podem
promover maiores efeitos em remanescentes menores ou
irregulares (Turton and Freiburguer in Laurance e
Bierregaard 1997). Os remanescentes maiores e circulares
tendem a apresentar uma área central (núcleo) maior, que
parece não ser influenciada pelo efeito borda (Laurance e
Yensen 1991; Saunders, Hobbs e Margulis 1991). Outro
fator relevante é a característica da vegetação na borda
(estágio sucessional). Bordas maduras tendem a ser
fechadas pela vegetação, enquanto bordas mais abertas
sofrem maior influência do efeito borda (Matlack 1994).
Trabalhos relacionados com a resposta da avifauna ao
efeito de borda como Galetti et al. 2003, mostraram que a
redução de habitat e o efeito borda afetam as chances de
consumo de frutos por aves, alterando sua distribuição em
ambientes fragmentados. Os mesmos autores
encontraram maior probabilidade de consumo de frutos
na borda do que no interior e relacionaram esse resultado
com dois fatores:
a) As variações de luz encontradas na borda e no interior,
que parecem afetar a comunicação entre aves e frutos
(Endler, 1993);
b) Aves frugívoras generalistas são mais comuns em
bordas de floresta do que no interior (Candido, 2000).
As espécies de avifauna podem se comportar de
maneira distinta em relação ao efeito borda aumentado.
No caso de espécies florestais, sensíveis a alterações de
hábitats, como é o caso de chocas da mata
(Thamnophilidae), sanhaços (Thraupis sp.) e gaturamos
(Euphonia sp.) (Thraupidae), a redução da área natural,
gera alterações no microhábitat e microclima do interior,
modificando a qualidade do hábitat. Essas espécies
tendem a se deslocar desses ambientes alterados, caso
não consigam se adaptar aos recursos disponíveis após a
ocorrência do impacto ambiental. Observa-se a migração
para fragmentos próximos que possam apresentar
recursos favoráveis para forrageamento e abrigo, caso já
não exista espécies florestais sensíveis e competidora
desses recursos, ou então migração para outras áreas que
possam ser exploradas com menores índices de
competição.
A falta de extinções em massa para os biomas de Mata
Atlântica e Cerrado sugere uma dinâmica específica da
comunidade de aves (guildas). A adaptabilidade de
determinadas espécies (onívoros e insetívoros) e a
sensibilidade de outras espécies (insetívoros de dossel,
insetívoros de solo) diante os impactos gerados pela
fragmentação (em fragmentos formados) ou pelas
alterações na matriz (em fragmentos naturais) pode ser
explicada pelo efeito da compensação por densidade ,
parâmetro observado em estudos de dinâmica de
comunidades.
Para a área de estudo nos valos, que incluem
fragmentos florestais conectados por corredores
ecológicos, a situação é bastante específica. Os 8
fragmentos estudados apresentam áreas que variam de
1,0 ha para os menores fragmentos, 7,0 ha para
fragmentos médios e 12 ha para os maiores fragmentos.
Nesse contexto, espera-se que o efeito borda para esses
remanescentes seja bastante intenso e possa alterar tanto
a dinâmica de flora como a dinâmica de fauna, uma vez que
estas estão diretamente relacionadas. Um fator que
influencia diretamente esta dinâmica de cada fragmento, é
a presença ou ausência de água. Alguns fragmentos,
apresentam um córrego perene, outros formam charcos
(matas paludosas). Estas características geram condições
específicas para cada ambiente, favorecendo a seleção de
espécies da flora adaptadas a essas condições e da fauna,
diretamente relacionada. Dessa forma, tendo em vista a
relação destes fatores, as estratégia a serem empregadas
nesse caso de intenso efeito de borda seriam:
a) Quantificação os gradientes microclimáticos ao longo
da borda de cada fragmento e corredor ecológico
Procedimentos:
a.1) Medição de temperatura do solo em três
profundidades (0 cm, 5 cm e 10 cm) (termômetro digital);
a.2) Medição da temperatura ambiente em dois níveis
(bulbo seco e molhado – higrômetro aspirador);
a.3) Medição do déficit de pressão de vapor;
b) Estabelecimento de transectos lineares para coleta de
amostras: pontos a 5m fora da borda, na borda, 5 m dentro
do fragmento, 10 m dentro do fragmento, 20m, 30m, 40m
dentro do fragmento. Para fragmentos menores (1 ha),
seguir a metodologia até o núcleo da floresta. paralelos
lineares perpendiculares às bordas (N,S,L,O) do
fragmento;
c) Comparação das distâncias na qual as bordas penetram
dentro dos fragmentos, para cada fragmento e comparar
com outros fragmentos da região em situações
semelhantes e com literatura para ambientes
semelhantes;
Procedimentos:
c.1) Fotografias hemisféricas do dossel par estimar a
abertura do dossel
d) Cálculo da densidade de sementes e propágulos ao
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Avaliação do efeito borda na distribuição da
avifauna em fragmentos florestais de Cerrado
longo das bordas nos fragmentos estudados para inferir a
respeito da influência da borda na dinâmica dos
fragmentos.
Procedimentos:
d.1) Estudo de dinâmica da comunidade de
monocotiledôneas, dicotiledôneas pioneiras e
dicotiledôneas secundárias das bordas dos fragmentos;
d.2) Estabelecimento de parcelas contíguas de 10 x 10m
paralelas na borda dos fragmentos, a 10m, 20m, 30m e
40m para o interior (contagem de todos os indivíduos na
parcela, jovens, sub-adultos e adultos)
d.3) Avaliação dados de dinâmica (número inicial de
árvores, número de recrutas, mortalidade, recrutamento,
mudança, área basal, crescimento, acréscimo,
decréscimo, durante pelo menos 5 anos;
d.4) Aplicação de estatística não paramétrica para
avaliação dos dados de dinâmica (Kruskal-Wallis,
Kolmorogov), regressão, variância, etc.
Conclusão
São necessários estudos mais acurados, relacionando
fatores como composição florística da borda, histórico,
estrutura e design do fragmento, e a distribuição sazonal
da taxocenose de aves, para avaliar entre outros as
interações animal-planta e suas variações para a dinâmica
de ambientes fragmentados.
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Composição bromatológica de duas variedades
de cana-de-açúcar submetidas a diferentes doses
de adubação mineral
Franklin Meireles de Oliveira
Universidade Estadual de Montes Claros, [email protected]
Poliana Batista de Aguilar
Benara Carla Barros Frota
Kléria Maria Souza Marques
Edivânia Souza Zeferino
Martolino Barbosa da Costa Júnior
Universidade Estadual de Montes Claros
Resumo
Objetivou-se com este experimento avaliar duas variedades de cana-de-açúcar submetidas a diferentes doses de adubação
mineral e baseada nas suas composições bromatológicas aos 180 dias de ciclo, identificar a mais adequada para o uso na
alimentação de ruminantes. O experimento foi instalado na Fazenda Experimental da Universidade Estadual de Montes
Claros – UNIMONTES, em Janaúba-MG. O delineamento utilizado foi o de blocos casualizados, três repetições, em parcelas
subdivididas. As análises laboratoriais determinadas foram: matéria seca (MS), proteína bruta (PB), cinzas, fibra em
detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio
insolúvel em detergente ácido (NIDA). A variedade SP 80-1816 foi inferior com 6,05% MS, e superior com 72,36 % FDN em
relação a RB 85-5453, não houve diferença (p>0,05) para FDA entre as variedades e entre os níveis de adubações. A SP 801816 foi superior com 6,05% PB, os níveis de adubação mineral referentes aos tratamentos 3, 5 e 6 apresentaram valores
superiores e/ou próximos a 7% PB, e para RB 85-5453 foram os 3 e 6. A RB 85-5453 obteve 3,19% cinzas inferior a SP 80-1816, o
níveis de adubação mineral referentes aos tratamentos 1 e 6 apresentaram valores inferiores para a SP 80-1816, e para a RB
85-5453 (p>0,05). A RB 85-5453 obteve 33,77% NIDIN inferior a SP 80-1816, os níveis de adubação mineral referentes aos
tratamentos 1, 3, 4, e 6 apresentaram valores inferiores para a SP 80-1816, e para a RB 85-5453 (p>0,05). A RB 85-5453 obteve
29,76% NIDA inferior a SP 80-1816, os níveis de adubação mineral referentes aos tratamentos 1, 4, 5 e 6 apresentaram valores
inferiores para a SP 80-1816, e para a RB 85-5453 foram os 3 e 5. A variedade RB 85-5453, apresentou a composição
bromatológica mais adequada para o uso na alimentação de ruminantes aos 180 dias de ciclo. As menores doses de
fertilizantes foram suficientes para o desenvolvimento da variedade RB 85-5453 e SP 80 -1816, sendo que os menores teores
de cinzas, NIDIN e NIDA e maiores de PB também foram obtidos com as menores doses de adubação mineral.
Palavras-chave: Alimentação; Volumoso; Ruminantes; Valor nutricional.
Chemical compositon of two varieties of sugar cane under different doses of mineral fertilizer
Abstract
The objective of this experiment was to evaluate two varieties of sugar cane under different doses of mineral fertilizer and
bromatological his compositions based on the 180-day cycle, identify the most appropriate for use in ruminant feed. The
experiment was conducted at the Experimental Farm of the Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES in
Janaúba-MG. The design was a randomized complete block, three replicates in a split plot. Laboratory tests were
determined: dry matter (DM), crude protein (CP), ash, neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF), neutral
detergent insoluble nitrogen (NIDN) and acid detergent insoluble nitrogen (NIDA). The variety SP 80-1816 was lower with
6.05% DM and NDF higher with 72,36% in relation to RB 85-5453, there was no difference (p> 0.05) for FDA between varieties
and between levels of fertilization. The SP 80-1816 was higher with 6,05% PB, the levels of mineral fertilizer treatments
related to the 3, 5 and 6 showed higher values and / or close to 7% CP, and RB 85-5453 were 3 and 6 . RB 85-5453 obtained less
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Composição bromatológica de duas variedades de cana-de-açúcar
submetidas a diferentes doses de adubação mineral
than 3,19% ash SP 80-1816, the levels of mineral fertilization
treatments related to 1 and 6 showed lower values for the
SP 80-1816, 85-5453 and RB (p> 0 , 05). RB 85-5453 NIDIN
obtained 33,77% less than SP 80-1816, levels of mineral
fertilizer treatments related to the 1, 3, 4, and 6 had lower
values for the SP 80-1816 and RB for the 85 - 5453 (p> 0.05).
RB 85-5453 NIDA obtained 29,76% less than SP 80-1816,
levels of mineral fertilizer treatments related to the 1, 4, 5
and 6 had lower values for the SP 80-1816, 85-5453 and RB
were 3 and 5. The variety RB 85-5453, presented the
chemical composition more suitable for use in ruminant
feeding the 180-day cycle. The lowest doses of fertilizer
were sufficient for the development of the variety RB 855453 and SP 80 -1816, and the lowest of ash, and NIDA
NIDIN and higher CP were also obtained with lower doses
of mineral fertilizer.
Keywords: Food; Forage; Ruminant; Nutritional value.
Introdução
No Brasil, as pastagens constituem a maneira mais prática
e econômica de fornecer alimentos aos bovinos. Porém,
aproximadamente 80% da matéria seca das forragens
produzidas nas pastagens, durante o ano, está disponível
na estação quente e chuvosa, tornando-se a estação fria e
seca um período crítico, no qual a produção de forragens é
insuficiente, daí a necessidade de ser complementada com
outras fontes de alimentos.
Dessa forma, a cana-de-açúcar tem atraído cada vez
mais a atenção dos pecuaristas, sendo usada
preferencialmente como fonte de volumoso, em função
de apresentar as seguintes características: baixo custo por
unidade de massa produzida, grandes produções obtidas
em condições tropicais, facilidade de cultivo, colheita na
época da seca do ano, persistência da cultura e autoarmazenamento ou conservação no campo (Landell et al.,
2002).
Há muito se preconiza que a melhor variedade de canade-açúcar para a indústria de açúcar é também a melhor
para ser utilizada como forrageira, pois apresenta maior
teor de açúcar, interessante na alimentação animal. No
entanto, existem numerosas variedades de cana-deaçúcar com características bastante diversificadas e,
especificamente quando se destina à alimentação animal,
as principais características são as produções de matéria
seca (cana-planta e cana-soca), a facilidade de colheita e a
qualidade nutritiva, que inclui não somente o teor de
açúcar, mas também a qualidade da fibra (Freitas et al.,
2006).
A cultura é bastante exigente quanto à nutrição, sendo
que na ordem de extração de nutrientes, verifica-se que o
potássio é extraído em maior quantidade que o nitrogênio
(K>N>Ca>Mg>P). O potássio, segundo Aquino et al. (1993),
estimula a o perfilhamento, crescimento vegetativo e
aumenta o teor de carboidratos, óleos, lipídeos e
proteínas; promove o armazenamento de açúcar e amido,
ajuda na fixação do nitrogênio, regula a utilização da água
e aumenta a resistência a seca, geada e moléstias.
O nitrogênio é parte constituinte de todos os
aminoácidos, proteínas e ácidos nucléicos, participando
direta ou indiretamente de vários processos bioquímicos,
a sua carência promoverá a diminuição na síntese de
clorofila e aminoácidos essenciais e também na energia
necessária à produção de carboidratos e esqueletos
carbônicos, refletindo diretamente no desenvolvimento e
produtividade da cultura (Malavolta et al., 1997).
O valor nutricional da cana está diretamente
correlacionado com o seu alto teor de açúcar, o resultado é
um alimento nutricionalmente desbalanceado, e quando
oferecido como único componente da dieta, o consumo é
baixo e não é capaz de atender nem mesmo as
necessidades de mantença do animal. Portanto, se o
objetivo for alcançar mantença ou ganhos de peso, a canade-açúcar, necessariamente, precisa ser suplementada.
Em função do seu alto teor de carboidratos solúveis, a cana
é classificada como um volumoso de média qualidade, mas
com baixos teores de proteína bruta e minerais (Embrapa,
2002). Assim, fica evidente a necessidade de estudos sobre
o valor nutricional das variedades de cana-de-açúcar
disponíveis no mercado, visando à alimentação animal.
Objetivou-se com este experimento avaliar duas
variedades de cana-de-açúcar submetidas a diferentes
doses de adubação mineral e baseada nas suas
composições bromatológicas, identificar a mais adequada
para o uso na alimentação de ruminantes.
Materiais e métodos
O experimento foi instalado na Fazenda Experimental da
Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES,
em Janaúba – MG. O delineamento utilizado foi o de blocos
casualizados, com três repetições, em parcelas
subdivididas (2 x 6) , sendo utilizado na parcela duas
variedades de cana-de-açúcar, RB85-5453 e SP80-1816, e
na subparcela adubou-se em uma só vez seis níveis de
adubação mineral, 1 (0 kg ha-1 de N e K2O), 2 (14 kg ha-1 de N
e 33 kg ha-1 de K2O), 3 (29 kg ha-1 de N e 66 kg ha-1 de K2O), 4
(43 kg ha-1 de N e 100 kg ha-1 de K2O), 5 (57 kg ha-1 de N e 133
kg ha-1 de K2O), 6 (71 kg ha-1 de N e 166 kg ha-1 de K2O) das
fontes de Sulfato de Amônia e Cloreto de Potássio. Foi
utilizado o sistema de irrigação por aspersão convencional
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com aspersores de baixa pressão.
Cada parcela foi composta por quatro linhas de 5
metros de comprimento (Cesnik & Miocque, 2004)
espaçadas de 1,40 metros, sendo as duas linhas centrais
consideradas como úteis para efeito de coleta de dados e
observações, descartando-se 2 metros em cada
extremidade da linha. As amostras foram coletadas no dia
16 de abril de 2010, sendo 18 amostras de cada variedade. O
corte foi feito próximo ao solo retirando as folhas para,
após a coleta foi realizada uma tritura prévia com auxílio
de um desintegrador, as amostras foram empacotadas em
sacos plásticos e posteriormente identificadas, sendo
transportada imediatamente para o Laboratório de
Análise de Alimentos do Departamento de Zootecnia da
Universidade Estadual de Montes Claros – MG.
No laboratório cada amostra foi desempacotada,
homogeneizada e colocada 500g de matéria natural em
um saco de papel devidamente pesado e identificado, logo
após todas as amostras foram pré-secas em estufa de
ventilação forçada a 55ºC, sendo revolvida
frequentemente para auxiliar a secagem. Após a secagem
as amostras foram moídas em moinho tipo Willey, com
peneira de 1 mm, dando prosseguimento às análises
realizando duplicatas das 36 amostras disponíveis. As
análises laboratoriais consistiram na determinação dos
teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e cinzas,
segundo técnicas descritas por Silva & Queiroz (2006). E os
teores de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em
detergente ácido (FDA), nitrogênio insolúvel em
detergente neutro (NIDIN), fibra insolúvel em detergente
ácido (NIDA), segundo Van Soest et al. (1991). Os dados
foram submetidos à análise de variância e, quando houve
diferença significativa pelo teste F, realizou-se a
comparação das medias pelo teste de Scott Knott (p<0,05)
para todas as variáveis estudadas, utilizando-se o software
estatístico SISVAR, descrito por Ferreira (2000).
Resultado e discussão
Os teores médios de matéria seca (MS), fibra em
detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido
(FDA), em porcentagem, das variedades SP 80-1816 e RB
85-5453 aos 180 dias de ciclo encontram-se na Tabela 1.
VARIEDADE
MS
FDN
FDA
SP 80-1816
-
6,05 b
72,36 a
36,13 a
RB 85-5453
9,12 a
61,10 b
36,56 a
Média
7,58
66,73
36,34
CV%
8,66
6,81
6,81
Tabela 1. Teores médios de matéria seca (MS), fibra em
detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA)
em porcentagem, das variedades SP 80-1816 e RB 85-5453
aos 180 dias de ciclo (dados expressos na matéria seca).
Médias seguidas de letras minúsculas distintas nas linhas
diferem entre si pelo teste de Scott Knot (p<0,05).
Quanto ao teor médio de MS houve diferença (p<0,05)
entre as variedades, sendo que a RB 85-5453 foi superior.
Em relação aos níveis de adubação mineral não houve
diferença (p>0,05). Muraro et al. (2009) analisaram o
efeito da idade de corte sobre a composição
bromatológica e as características da silagem de cana-deaçúcar plantada em dois espaçamentos e três idades de
corte, e encontraram valores de MS na variedade RB 72454 aproximados de 16% aos 180 dias de idade, no entanto,
Freitas et al. (2006) avaliaram a divergência nutricional de
genótipos de cana-de-açúcar, e observaram teores de 26%
e 27,8% de MS na cana-de-açúcar colhida aos 330 dias e aos
390 dias de ciclo, respectivamente, resultados superiores
aos obtidos neste experimento. O aumento do teor de
matéria seca ocorre com o avanço do estádio vegetativo
da planta e na cana-de-açúcar, o fator que mais determina
o aumento do teor de matéria seca são os carboidratos
solúveis, exclusivamente a sacarose.
Quanto ao teor de FDN houve diferença (p<0,05) entre
as variedades, sendo que a SP 80-1816 obteve valor
superior de 11,1% em relação à variedade RB 85-5453, já em
relação aos níveis de adubação mineral não houve
diferença (p>0,05). O valor da FDN encontrado neste
trabalho pode ter sido influenciado pela época de corte, a
cana-de-açúcar quando atinge a maturação ocorre um
efeito da diluição dos componentes da parede celular, em
decorrência do aumento do teor de sacarose. Rodrigues et
al. (1999), avaliaram o efeito da qualidade de variedades de
cana-de-açúcar sobre seu valor como alimento para
bovinos, e apresentaram valores médios de FDN de 50%
aos 360 dias de ciclo da variedade SP 80-1816. No entanto,
Rodrigues et al. (2001) trabalharam com dezoito cultivares
de cana-de-açúcar destinada à alimentação animal, e
observaram um teor de 50,30% de FDN para a variedade SP
80-1816. Enquanto, Azevedo et al. (2003) avaliaram
variedades de cana-de-açúcar e simulação do
desempenho de vacas leiteiras, e apresentaram valores
médios de FDN de 51,8% para a variedade RB 85-5453 aos
426 dias após plantio, resultados inferiores aos obtidos
neste trabalho.
Os teores de FDN da variedade RB 85-5453 está dentro
do índice ideal, segundo Van Soest et al. (1991), teores de
FDN abaixo ou acima de 50 a 60% podem comprometer o
consumo de forragem pelo animal. A determinação das
frações fibrosas das plantas forrageiras se faz necessária
devido à relação destes componentes com a regulação do
consumo, digestibilidade, taxa de passagem e atividade de
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Composição bromatológica de duas variedades de cana-de-açúcar
submetidas a diferentes doses de adubação mineral
mastigação na alimentação de ruminantes. Se as dietas
são ricas em fibra, a densidade de energia da dieta é baixa,
o consumo é limitado pelo enchimento ruminal e, o
desempenho animal (produção de leite e balanço nos
tecidos) decai. Em contrapartida, se as dietas
apresentarem um baixo conteúdo de fibra, a fermentação
ruminal é reduzida, pode haver a ocorrência de distúrbios
alimentares como a acidose, o que levará a um
comprometimento do desempenho e da saúde do animal.
Quanto ao teor de FDA não houve diferença (p>0,05)
entre as variedades e os níveis de adubações minerais.
Azevedo (2002) trabalhou com quinze variedades de canade-açúcar, colhidas aos 426, 487 e 549 dias após o plantio,
obteve teores médios de 26,84; 28,92 e 27,91% FDA,
respectivamente, resultados inferiores aos observados
neste trabalho. Entretanto, Pate et al. (2001), em estudo
do valor nutricional de sessenta e seis variedades
comerciais de cana-de-açúcar, plantadas no Sul da Flórida,
observaram uma ampla variação na porcentagem da FDA
(28,3% a 41,5%) e concluíram que, para se utilizar a cana-deaçúcar com propósito de alimentação animal, deve ser
dada ênfase ao baixo conteúdo de fibra, já que valores
altos de FDA significam baixa qualidade na digestibilidade
da forrageira.
Os teores médios de proteína bruta (PB), em
porcentagem, das variedades SP 80-1816 e RB 85-5453 e
tratamentos de adubação mineral aos 180 dias de ciclo
encontram-se na Tabela 2.
Tratamento
(1)
1
2
3
4
5
6
Média
Variedade
SP 80 -1816
RB 85 -5453
6,47 bB
3,84 bC
7,81 aA
2,47 bD
7,77 aA
7,95 aA
6,05
5,73 bA
6,02 aA
6,38 bA
5,12 aA
3,41 bB
6,34 bA
5,50
CV% = 12,49
Tabela 2. Teores médios de proteína bruta (PB), em
porcentagem, das variedades SP 80-1816 e RB 85-5453 e
tratamentos de adubação mineral aos 180 dias de ciclo
(dados expressos na matéria seca ).
(1) Tratamento 1 (0 kg ha-1 de nitrogênio e potássio); 2 (14 kg
ha-1 de nitrogênio e 33 kg ha-1 de potássio); 3 (29 kg ha-1 de
nitrogênio e 66 kg ha-1 de potássio); 4 (43 kg ha-1 de nitrogênio
e 100 kg ha-1 de potássio); 5 (57 kg ha-1 de nitrogênio e 133 kg
ha-1 de potássio); 6 (71 kg ha-1 de nitrogênio e 166 kg ha-1 de
potássio).
Médias seguidas de letras minúsculas distintas nas linhas
diferem entre si pelo teste de Scott Knot (p<0,05).
Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna
diferem entre si pelo teste de Scott Knot (p<0,05).
Houve interação significativa entre variedades versus
níveis de adubação mineral (p<0,05). A SP 80-1816 foi
superior com valor médio de 6,05% PB. Os níveis de
adubação mineral referentes aos tratamentos 3, 5 e 6
apresentaram valores superiores a 7% de PB para a SP 801816, porém para RB 85-5453 foram os tratamentos 3 e 6
que apresentaram índices próximos para o atendimento
dos requisitos de nitrogênio para a flora ruminal e para um
bom funcionamento de rúmen, que é no mínimo 7%.
Muraro et al. (2009), demonstraram valores de 5,49% PB
para a variedade RB 72-454 aos 180 dias de ciclo, sendo
semelhantes aos valores encontrados neste experimento.
Entretanto, Mello et al. (2006), analisaram os parâmetros
do valor nutritivo de nove variedades de cana-de-açúcar
cultivadas sob irrigação, e observaram valores de 3,3% PB
para a variedade SP 80-1816 aos 455 dias de ciclo,
resultados inferiores aos deste trabalho.
Adicionalmente, com a maturação, ocorre maior
desenvolvimento do colmo em relação ao número de
folhas, as quais apresentam maior concentração de PB.
Sendo assim, com o avanço da maturação, aumenta-se a
proporção de colmo: folha, reduzindo-se, dessa forma, o
percentual de PB (Lovadini, 1971). Como demonstrado no
tratamento 6 da variedade SP 80-1816 altos valores de PB,
pode ser conseqüência da maturação tardia da planta e
altos teores de nitrogênio disponíveis neste tratamento.
De acordo com Preston & Leng (1980), o teor de PB em
cultivares de cana-de-açúcar é baixo, sendo uma
característica desta espécie forrageira. Por isso, não serve
como critério de escolha de variedades para serem
utilizadas na alimentação de bovinos. No entanto, isso
pode ser corrigido a um baixo custo, por meio de adição de
uma fonte de nitrogênio não-protéico à dieta.
Os teores médios de cinzas, em porcentagem, das
variedades SP 80-1816 e RB 85-5453 e tratamentos de
adubação mineral aos 180 dias de ciclo encontram-se na
Tabela 3.
Tratamento (1)
Variedade
SP 80 -1816
RB 85 -5453
1
4,46 bD
2,75 bA
2
7,08 aA
3,47 bA
3
4,73 aC
3,23 bA
4
6,15 aB
2,74 bA
5
6,06 aB
3,17 bA
6
4,23 bD
3,80 bA
Média
5,45
3,19
100
95
75
CV% = 13,20
Tabela 3. Teores médios de cinzas, em porcentagem, das
variedades SP 80-1816 e RB 85-5453 e tratamentos de
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adubação mineral aos 180 dias de ciclo (dados expressos na
matéria seca ).
(1) Tratamento 1 (0 kg ha-1 de nitrogênio e potássio); 2 (14 kg
ha-1 de nitrogênio e 33 kg ha-1 de potássio); 3 (29 kg ha-1 de
nitrogênio e 66 kg ha-1 de potássio); 4 (43 kg ha-1 de nitrogênio
e 100 kg ha-1 de potássio); 5 (57 kg ha-1 de nitrogênio e 133 kg
ha-1 de potássio); 6 (71 kg ha-1 de nitrogênio e 166 kg ha-1 de
potássio).
Médias seguidas de letras minúsculas distintas nas linhas
diferem entre si pelo teste de Scott Knot (p<0,05).
Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna
diferem entre si pelo teste de Scott Knot (p<0,05).
Houve interação significativa entre variedades versus
níveis de adubação mineral (p<0,05). A variedade RB 855453 obteve teores médios inferiores, os valores de cinzas
implicam na determinação da quantidade de minerais
presentes na forrageira, porém altos teores podem ser
representados, por exemplo, por quantidades de sílica,
não sendo favorável na alimentação de ruminantes. A
variedade RB 85-5453 é de ciclo precoce podendo ser este
o fato pela qual apresentou a menor quantidade de cinzas.
Os níveis de adubação mineral referentes aos
tratamentos 1 e 6 apresentaram valores inferiores de
cinzas para a SP 80-1816, porém para a RB 85-5453 não
houve diferença entre os tratamentos (p>0,05).
Mendonça et al. (2004), apresentaram valores médios de
cinzas de 3,2% aos 360 dias de ciclo para a variedade RB 855536, resultado similar ao verificado neste experimento
para a RB 85-5453.
Nussio et al. (2006) trabalharam com cana-de-açúcar
como alimento para bovinos, e obtiveram
teores
variando de 0,81 a 6,42%. E Muraro et al. (2009)
encontraram teores de 7,25% de cinzas em cana com 180
dias de ciclo para a variedade RB 72-454, resultados
superiores aos observados neste experimento.
Os teores médios de nitrogênio insolúvel em
detergente neutro (NIDIN), em porcentagem, das
variedades SP 80-1816 e RB 85-5453 e tratamentos de
adubação mineral aos 180 dias de ciclo encontram-se na
Tabela 4.
Tratamento (1)
Variedade
SP 80 -1816
RB 85 -5453
1
2
28,78 bB
46,12 aA
35,51 bA
34,24 bA
3
34,89 bB
32,30 bA
4
5
31,73 bB
41,52 aA
32,33 bA
27,05 bA
6
Média
36,58 bB
36,60
41,17 bA
33,77
CV% = 15,65
Tabela 4. Teores médios de nitrogênio insolúvel em
detergente neutro (NIDIN), em porcentagem, das
variedades SP 80-1816 e RB 85-5453 e tratamentos de
adubação mineral aos 180 dias de ciclo (dados expressos na
matéria seca).
(1) Tratamento 1 (0 kg ha-1 de nitrogênio e potássio); 2 (14 kg
ha-1 de nitrogênio e 33 kg ha-1 de potássio); 3 (29 kg ha-1 de
nitrogênio e 66 kg ha-1 de potássio); 4 (43 kg ha-1 de nitrogênio
e 100 kg ha-1 de potássio); 5 (57 kg ha-1 de nitrogênio e 133 kg
ha-1 de potássio); 6 (71 kg ha-1 de nitrogênio e 166 kg ha-1 de
potássio).
Médias seguidas de letras minúsculas distintas nas linhas
diferem entre si pelo teste de Scott Knot (p<0,05).
Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna
diferem entre si pelo teste de Scott Knot (p<0,05).
Houve interação significativa entre variedades versus
níveis de adubação mineral (p<0,05). A variedade RB 855453 houve melhor desempenho com valores inferiores.
Os níveis de adubação mineral referentes aos tratamentos
1, 3, 4, e 6 apresentaram valores inferiores de NIDIN para a
SP 80-1816, entretanto para a RB 85-5453 não houve
diferença entre os tratamentos (p>0,05). Mello et al.
(2006), trabalharam com nove variedades de cana-deaçúcar cultivadas sob irrigação, e demonstraram valores
de 23,83% de NIDIN para espécie SP 80-1816 aos 360 dias de
ciclo, valor inferior ao verificado neste trabalho.
Os teores médios de nitrogênio insolúvel em
detergente ácido (NIDA), em porcentagem, das
variedades SP 80-1816 e RB 85-5453 e tratamentos de
adubação mineral aos 180 dias de ciclo encontram-se na
TABELA 5.
Tratamento
(1)
Variedade
SP 80 -1816
RB 85 -5453
1
2
34,56 bC
58,23 aA
31,99 bA
33,10 bA
3
42,72 aB
27,44 bB
4
5
36,70 bC
34,45 aC
31,50 bA
23,59 bB
6
39,05 aC
30,94 bA
Média
40,95
29,76
100
Tabela 5. Teores médios de nitrogênio insolúvel em
detergente ácido (NIDA), em porcentagem, das variedades
SP 80-1816 e RB 85-5453 e tratamentos de adubação mineral
aos 180 dias de ciclo (dados expressos na matéria seca ).
(1) Tratamento 1 (0 kg ha-1 de nitrogênio e potássio); 2 (14 kg
ha-1 de nitrogênio e 33 kg ha-1 de potássio); 3 (29 kg ha-1 de
95
75
25
5
0
47
Composição bromatológica de duas variedades de cana-de-açúcar
submetidas a diferentes doses de adubação mineral
nitrogênio e 66 kg ha-1 de potássio); 4 (43 kg ha-1 de nitrogênio
e 100 kg ha-1 de potássio); 5 (57 kg ha-1 de nitrogênio e 133 kg
ha-1 de potássio); 6 (71 kg ha-1 de nitrogênio e 166 kg ha-1 de
potássio).
Médias seguidas de letras minúsculas distintas nas linhas
diferem entre si pelo teste de Scott Knot (p<0,05).
Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna
diferem entre si pelo teste de Scott Knot (p<0,05).
Houve interação significativa entre variedade versus níveis
de adubação mineral (p<0,05). A RB 85-5453 obteve
melhor desempenho com valores inferiores . Os níveis de
adubação mineral referentes aos tratamentos 1, 4, 5 e 6
apresentaram valores inferiores de NIDA para a SP 801816, enquanto que para a RB 85-5453 foram os
tratamentos 3 e 5. De acordo Weiss et al. (1999), a
concentração de NIDA em forragens tem uma alta
correlação negativa com a digestibilidade aparente da
proteína.
Conclusões
A variedade RB 85-5453 apresentou a composição
bromatológica mais adequada aos 180 dias de ciclo para o
uso na alimentação de ruminantes, por apresentar
menores teores de cinza, fibra em detergente neutro e
nitrogênio insolúvel em detergente ácido e um maior teor
de matéria seca, e os teores de proteína bruta ficaram
próximos a 7% que é o valor mínimo para o
desenvolvimento da microbiota ruminal.
As menores doses de fertilizantes foram suficientes
para o desenvolvimento da variedade RB 85-5453 e SP 801816, sendo que os menores teores de cinzas, nitrogênio
insolúvel em detergente neutro e nitrogênio insolúvel em
detergente ácido e maiores de proteína bruta também
foram obtidos com as menores doses de adubação
mineral.
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Influência de fatores ambientais sobre o
desempenho de um sistema de bombeamento
fotovoltaico: um estudo de caso
José Airton Azevedo Santos
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, [email protected]
Roger Nabeyama Michels
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, [email protected]
Resumo
A energia elétrica é uma das formas de energia mais utilizadas no mundo. Ela é gerada, principalmente, nas usinas
hidrelétricas, usando o potencial energético da água. A instalação de painéis fotovoltaicos tem se tornado uma fonte
alternativa de fornecimento de energia elétrica em locais distantes da rede elétrica. Entretanto, esses painéis, apresentamse sujeitos a fatores ambientais como variações de intensidade solar e temperatura ambiente, que alteram os seus
desempenhos. O objetivo deste trabalho é analisar o desempenho, em função da variação de temperatura e irradiação solar,
de um sistema fotovoltaico de bombeamento de água na cidade de Medianeira, Região Oeste Paranaense.
Palavras-Chave: Painéis fotovoltaicos; Bombeamento de água; Temperatura; Irradiação.
Influence of environmental factors on the performance
of a photovoltaic pumping system: a case study
Abstract
Electricity is one of the most widely used forms of energy in the world. It is produced mainly in hydroelectric power plants,
using the potential energy of water. The installation of photovoltaic panels has become an alternative source of electrical
power in remote locations of the grid. However, these panels present themselves subject to environmental factors such as
variations in solar intensity and ambient temperature, which alter their performance. The objective of this work is to analyze
the performance, depending on the variation of temperature and solar radiation, a photovoltaic water pumping in the city of
Medianeira, Western Region Paranaense.
Keywords: Photovoltaic panels; Water pumping; Temperature; Irradiation.
Introdução
Muitas comunidades em razão de viverem em locais de difícil acesso e muitas vezes em áreas de proteção ambiental (APA),
têm dificuldades de serem atendidas pelos serviços convencionais de eletricidade, como as redes de distribuição (Costa; Eck,
1998). Para Abade (1996) e Ribeiro (2010), a geração de eletricidade por energia solar fotovoltaica, através de Sistemas
Individuais de Geração com Fontes Intermitentes (SIGFI), é um recurso estratégico capaz de trazer contribuição à
sustentabilidade de demandas energéticas em locais distantes da rede elétrica, evitando custos marginais superiores, além
de poder prover o desenvolvimento socioeconômico e preservar o meio ambiente em zonas isoladas.
Os Sistemas Individuais de Geração de Energia Elétrica com Fontes Intermitentes, utilizados em áreas rurais no Brasil,
representam uma solução sustentável, pois o silício, material ativo na maioria dos módulos, é o segundo elemento mais
abundante na superfície terrestre. Além disso, o sistema fotovoltaico é silencioso, estático e não causa desgaste de
materiais, convertendo diretamente a energia solar em energia elétrica (Ribeiro, 2010).
Os Sistemas Individuais de Geração de Energia Elétrica com Fontes Intermitentes podem ser utilizados em aplicações
sociais, tais como: iluminação pública, bombeamento de água, energização de escolas, postos de saúde, centros
comunitário, postos telefônicos, produção de gelo e dessalinização da água (Camus; Euzébio, 2006).
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95
75
25
5
0
51
Influência de fatores ambientais sobre o desempenho de um
sistema de bombeamento fotovoltaico: um estudo de caso
Para estudos mais precisos do potencial de um
determinado local, com vistas a um projeto específico, é
recomendável a realização de medições locais, buscando
avaliar as influências localizadas de relevo, poluição e
outros (Lasnier; Ang, 1990). Na otimização de projetos de
aproveitamento de energia solar é importante o
conhecimento das variações anuais, sazonais e diárias da
radiação solar (Cardona; López, 1999). Uma avaliação da
potencialidade desse recurso exige a realização de um
levantamento abrangente dos níveis de radiação solar por
meio de medições com instrumentos solarimétricos e a
utilização de modelos matemáticos para extrapolação dos
valores medidos para áreas desprovidas de dados
(Marafia, 2001).
Para que a implantação de um sistema de
bombeamento de água, em uma determinada região, seja
melhor avaliada, ainda são necessários diversos tipos de
estudos, em destaque tem-se a avaliação de fatores
ambientais em condições reais de trabalho para o sistema
fotovoltaico (Overstraeten; Mertens, 1996). Atendendo a
essa necessidade a presente pesquisa estabeleceu como
objetivo analisar o desempenho, em função da variação de
temperatura e irradiação solar, de um sistema fotovoltaico
de bombeamento de água na cidade de Medianeira,
Região Oeste Paranaense.
Material e métodos
O sistema fotovoltaico (Figura 1), com dez painéis, foi
montado na cidade de Medianeira, mais especificamente,
nas dependências da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. O município está localizado na Região Oeste
Paranaense com 25º 17' 43” latitude Sul, 54º 05' 38”
longitude Oeste e apresenta uma altitude de 500,7 metros.
Dez painéis fotovoltaicos foram instalados (Figura 1), mas
somente dois foram utilizados neste trabalho. Devido à
configuração do sistema os painéis foram ligados em série.
O posicionamento do conjunto fotovoltaico foi realizado
por meio de uma haste vertical projetada sobre um plano
horizontal, pela localização do norte geográfico utilizando
o valor do meio-dia real (12 horas, 43 minutos, 44
segundos). O ângulo de inclinação do conjunto
fotovoltaico em relação ao plano horizontal foi mantido
constante e idêntico à latitude do local.
Para a montagem do sistema fotovoltaico de
bombeamento de água foram necessários os seguintes
equipamentos:
a) Dois painéis solares, fabricante Solarex, modelo MSX 56,
tensão padrão de 12 V, corrente padrão de 3,35 A e
potência de 56 W;
b) Uma bomba, fabricante SolarJack, modelo SDS-D-228,
tensão de 30 V.
c) Um transdutor de pressão, fabricante Dicket-John,
modelo 46570-0010, faixa de atuação de 0 a 100 PSI,
tensão de entrada de 0 a 16VDC, tensão de saída de 0,5 a
5,0 VDC;
d) Um medidor de vazão, fabricante LAO, tipo turbina,
classe 0.1;
e) Um transdutor de vazão aferido com precisão;
f) Um micrologger da marca Campbel Scientific-INC,
modelo CD23X;
g) Um termopar do tipo K (cromo/alumínio) aferido para
a aquisição de dados.
h) Um microcomputador;
i) Um piranômetro Kipp & Zonen CM3;
j) Um divisor de tensão;
k) Uma resistência Shunt.
O termopar, colocado na parte de trás do painel
fotovoltaico, fornece o valor da temperatura dos painéis
(Figura 2) e o piranômetro (Figura 3) o valor da irradiação.
Os divisores de tensão e as resistências Shunt forneceram
os valores de tensão e corrente dos painéis fotovoltaicos.
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75
Figura 1: Sistema fotovoltaico.
Figura 2: Localização do Termopar.
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Uma bomba do tipo diafragma, do fabricante SolarJack,
modelo SDS-D-228, de trabalho submerso com
funcionamento de tensão próxima de 30 Vcc foi
alimentada pelos dois painéis e bombeou água a uma
altura de 20 metros, altura entre a cisterna e a caixa de
água, na qual está instalada.
Resultados e discussões
Figura 3: Piranômetro Kipp & Zonen
Muitas vezes os efeitos do aumento da temperatura são
negligenciados nos projetos de implantação de sistemas
fotovoltaicos. Paltz (1995) afirma que o aumento da
temperatura diminui a eficiência dos módulos
fotovoltaicos, pois acarreta diminuição significativa da
tensão. As curvas de tensão (V) em função da temperatura
(T) para o modelo MSX 56, são apresentadas nas Figuras 6
e 7.
Figura 4: Datalogger da Campbel.
O sistema de aquisição de dados é constituído por um
datalloger da CAMPBELL SCIENTIFIC-INC modelo CR23X
(Figura 4), programado para realizar uma leitura por
segundo de cada canal e armazenar a média aritmética de
um minuto dos seguintes dados:
a) Irradiação solar global incidente nos painéis
fotovoltaicos;
b) Vazão da água proporcionada pela moto-bomba;
c) Pressão da água proporcionada pela moto-bomba;
d) Tensão e corrente produzida pelos dois painéis
fotovoltaicos;
e) Temperatura nos painéis fotovoltaicos.
Um medidor de vazão, fabricante Lao, tipo turbina,
classe 0.1 também foi instalado para a informação do valor
total da vazão. A Figura 5 ilustra os equipamentos
destinados para a medição e monitoramento da vazão de
água.
Figura 6: Curvas V x T – 500/600 W.m-2
100
95
Figura 7: Curvas V x T – 700/800 W.m-2
75
Figura 5: Medidor de vazão e hidrômetro.
O fator temperatura influência na potência e
consequentemente na eficiência. Segundo Riffel (2005) a
temperatura faz com que a banda de energia do material
semicondutor diminua resultando no acréscimo da
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5
0
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Influência de fatores ambientais sobre o desempenho de um
sistema de bombeamento fotovoltaico: um estudo de caso
fotocorrente gerada de aproximadamente 1% a cada 2,7oC
de elevação de temperatura. Na Tabela 1 apresentam-se,
para os painéis Solarex, modelo MSX 56, a porcentagem
de perda de potência, em função do aumento de
temperatura dos módulos, de 25oC para 40oC, nas
irradiações de 500W.m-2, 600W.m-2, 700W.m-2 e 900W.m-2.
Irradiação
-2
(W.m )
Potência (W) Potência (W)
0
0
(25 C)
(40 C)
Perda
(%)
500
39,94
37,89
5,14
600
50,06
47,23
5,66
700
53,56
50,67
5,4
900
58,03
54,55
5,99
Média
5,5475
Tabela 1. Perda de potência.
Observa-se, da Tabela 1, uma perda média de potência de
5,5475% para os valores de irradiação e temperaturas
analisados.
Na Figura 8 Apresentam-se as curvas de vazão (Q) em
função da temperatura (T) para as irradiações de 500W.m-2,
600W.m-2, 700W.m-2, 800W.m-2 e 900W.m-2.
Irradiação Vazão (L/min) Vazão (L/Min)
(W.m-2)
(250C)
(400C)
Perda
(%)
500
3,81
3,67
3,67
600
4,61
4,4
4,55
700
4,81
4,61
4,16
800
4,95
4,73
4,44
900
5,06
4,84
4,35
Média
4,234
Tabela 2. Perda de vazão
Observa-se dos valores obtidos da Tabela 2 uma perda de
vazão, no sistema de bombeamento fotovoltaico, de
aproximadamente 4,234% em média, para os valores de
temperatura e irradiação analisados.
Conclusões
Neste trabalho apresentaram-se os resultados obtidos, de
campo, de um conjunto moto-bomba alimentado por um
painel fotovoltaico da marca SOLAREX, modelo MSX-56,
instalado na cidade de Medianeira, Região Oeste
Paranaense. Observou-se que o desempenho do sistema
de bombeamento fotovoltaico foi influenciado pela
variação da temperatura e irradiação solar. Observou-se,
também, que com o aumento de temperatura de 25oC para
40oC, dos painéis fotovoltaicos, reduziu-se em média:
a) a potência fornecida pelos painéis fotovoltaicos em
5,5475%;
b) a vazão do sistema de bombeamento em 4,234%.
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pilotos ou um grande mercado? In: 7 Congresso Brasileiro
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Figura 8: Curvas Q x T.
Através das curvas apresentadas na Figura 8, nota-se um
decréscimo da vazão da moto-bomba, com o aumento da
temperatura do painel, para um mesmo valor de
irradiação. Na Tabela 2 apresentam-se as perdas de vazão
do sistema de bombeamento, em função do aumento de
temperatura da células, dos painéis fotovoltaicos, de 25ºC
para 40ºC, para as irradiações de 500W.m-2, 600W.m-2,
700W.m-2, 800W.m-2 e 900W.m-2.
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Utilização de Biotech® para
prevenção do entupimento
de gotejadores
Kaio Golçalves de Lima Dias
Universidade Federal de Lavras, [email protected]
Thiago Henrique Pereira Reis
Universidade Federal de Lavras, [email protected]
Francisco Dias Nogueira
Empresa de Pesquisa Agropecuário de Minas Gerais, [email protected]
Maria Juliana Lasmar
Universidade Federal de Lavras, [email protected]
Cesar Henrique Caputo de Oliveira
Universidade Federal de Lavras, [email protected]
Paulo Tácito Gontijo Guimarães
Empresa de Pesquisa Agropecuário de Minas Gerais, [email protected]
Resumo
Este estudo foi conduzido com o objetivo de avaliar a ação do BIOTECH® (ácido cítrico 10-2 M + complexo enzimático) na
prevenção de entupimentos em gotejadores em sistema de fertirrigação. O experimento foi instalado em blocos
casualizados num fatorial 8 x 4 com seis repetições sendo oito tratamentos, com soluções que continham ou não BIOTECH®
misturados com alguns fertilizantes utilizados em fertirrigação e quatro períodos de avaliação da vazão dos
tubogotejadores. As soluções fluíram sob pressão em tubulação de polietileno dotada de tubogotejadores com a vazão
próxima a 1,6 L h-1, espaçados de 0,30 m, sendo cada tratamento composto por seis gotejadores. O fluxo foi cronometrado
por 45 minutos, repetidos diariamente por um período de 34 semanas, subdividido em quatro períodos de avaliação. Durante
as simulações de irrigação as precipitações químicas ocorreram gradualmente, modificando os coeficientes de variação de
vazão e as uniformidades de distribuição dos tubogotejadores sendo possível concluir que o BIOTECH® minimizou a redução
da vazão causada por entupimento, mas não impediu a obstrução total dos tubogotejadores pelas soluções indutoras de
precipitação.
Palavras-chave: Ácidos orgânicos; Enzimas; Precipitação; Gotejamento.
Biotech® application to avoid cloggiong drippers
Abstract
This paper was conducted to evaluate BIOTECH® (Citric Acid 2.10 M + enzyme complex) action in fertirrigation system
clogging prevention. The experiment was carried out in randomized blocks in a 8 x 4 factorial with six replications and eight
solutions treatments containing or not BIOTECH® mixed with some fertilizers used in fertirrigation and four periods of
assessment dripping pipes flow. The solutions stream flowed under pressure into polyethylene piping out flowing close to
1.6 L h-1, spaced 0.30 m apart where each treatment contained six drippers. The flow was scheduled for 45 minutes, repeated
daily in 34 weeks, divided into four periods. During irrigation simulations the chemical precipitation occurred gradually
modifying the variation coefficients of flow rate and the uniformity of drippers distribution being possible to conclude that
BIOTECH® minimized flow reduction caused by clogging but did not avoid total drippers obstruction by precipitation
inductor solutions.
Keywords: Organic acids; Enzymes; Precipitation; Dripping pipes.
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75
25
5
0
57
Utilização de Biotech® para prevenção
do entupimento de gotejadores
Introdução
Devido ao grande desenvolvimento da irrigação
localizada, as empresas que fabricam estes sistemas de
irrigação têm aperfeiçoado seus equipamentos e
dispositivos de emissão, bem como pesquisado novas
tecnologias, sempre tendo como objetivos: facilitar a
operação e manejo do sistema para os agricultores;
proporcionar maior uniformidade de distribuição de água
pelos dispositivos emissores e fazer com que haja uma
redução no preço de aquisição do sistema, permitindo
assim, a sua utilização por um maior número de
agricultores.
Atualmente a irrigação localizada deixou de focalizar
exclusivamente a aplicação de água, mas leva em
consideração a nutrição completa e alguns tratamentos
fitossanitários da planta por meio da irrigação, devido a
sua facilidade de aplicação via água junto à zona de
concentração das raízes das plantas (Folegatti, 1999). A
fertirrigação também se destaca pela economia no uso de
fertilizantes, controle da profundidade de sua aplicação,
menor incidência de doenças, economia de mãodeobra,
menor trânsito de máquinas na lavoura evitando a
compactação do solo, possibilidade de se fazer maior
número de parcelamentos das adubações dentre outras
vantagens (Alvarenga, 2004).
De um modo geral, a água utilizada pode apresentar
problemas de qualidade de natureza biológica, química e
física (Vilela et al., 2003). A introdução de nutrientes na
água de irrigação favorece o desenvolvimento de
microrganismos, aumentando o risco de entupimento dos
gotejadores (Pizarro, 1996). O surgimento de colônias de
algas e bactérias de até 30 micra em água é bastante
comum e em geral conseguem passar pelos filtros e
gotejadores, contudo, podem juntar-se a outras colônias
ou precipitados, formar aglomerados maiores e causar
entupimento dos gotejadores (Alvarenga, 2004). Uma vez
o sistema entupido, as alternativas são a troca dos
emissores ou a realização de processos de recuperação,
que aumentam o custo de manutenção do sistema e, em
algumas circunstâncias, podem ser ineficientes (Gilbert et
al., 1979). Assim, a prevenção ao aparecimento da
obstrução nos emissores e nas linhas de distribuição é a
melhor alternativa a ser praticada (Resende, 1999).
A aplicação de ácido inorgânico encontra suporte na
publicação de Rainbird (1990), mas os ácidos orgânicos de
baixo peso molecular causam menos impacto na reação
do solo, sobre sua microbiota e constituem fonte de
energia para microrganismos do solo pela facilidade em
serem biodegradados. Os ácidos orgânicos possuem a
capacidade de liberar nutrientes e solubilizar precipitados
químicos (Hue et al. 1986; Jayarama et al. 1998) devido
principalmente à posição dos grupos OH/COOH da
principal cadeia carbônica de suas moléculas. Os ácidos
mais eficientes para a complexação e desintoxicação do Al
são o cítrico, o tartárico, o oxálico e o málico, no grupo de
eficiência moderada, destacam-se o malônico e o salicílico
e, no grupo baixa eficiência o succínico, o lático e o fórmico
(Huang & Violante,1986; Miyasaka et al.,1991; Delhaize et
al.,1993).
Inoue & Huang (1986) classificaram os ácidos orgânicos
de acordo com o peso molecular e sua capacidade de
complexação, em função do arranjo dos grupos funcionais
carboxílicos, hidroxílicos e fenólicos, sendo:
a) baixa massa molecular e fraco ou moderado poder de
complexação – ácidos aspártico e salicílico;
b) baixa massa e alto poder de complexação – ácidos
málico, cítrico e tartárico; e
c) alta massa e alto poder de complexação – taninos,
ácidos fúlvicos e húmicos.
A maior eficiência do ácido cítrico possivelmente
ocorre em razão do mesmo possuir grupos funcionais
hidroxilas e carboxilas (Struthers & Sieling, 1950) ligados a
dois carbonos adjacentes, e essa posição favorece a
formação de estruturas estáveis com ligações cíclicas com
o alumínio (Huang & Violante,1986).
Os fosfatos monovalentes como o ácido fosfórico e
MAP são indicados para fertirrigação devido a sua alta
solubilidade e forte reação ácida sendo considerados
agentes químicos minimizadores dos problemas de
obstrução de gotejadores e no caso do MAP fonte de
fósforo e nitrogênio (Tisdale et al., 1985). Também,
fertilizantes fosfatados possuem facilidade para formação
de precipitados com Ca, Al, Fe, entre outros (Novais &
Smyth, 1999) em função do pH da solução de fertirrigação.
Sendo assim, torna-se interessante a execução de
trabalhos de pesquisa sobre a afinidade química dos
produtos veiculados nos tubogotejadores submetidos à
fertirrigação permitindo uma avaliação do
comportamento dos mesmos neste ambiente. Por esta
razão este trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar
a ação do BIOTECH® na prevenção de entupimentos em
gotejadores em sistema de fertirrigação por soluções
contendo produtos com grande possibilidade para
formação de precipitados químicos.
Material e métodos
Realizou-se no Laboratório de Hidráulica (DEG-UFLA)
Lavras, MG, latitude de 21°45' S, longitude de 45°00' W,
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
altitude de aproximadamente 918 metros, classificação
climática de Köppen cwa, em temperatura ambiente
protegida um experimento para simulação de
fertirrigação com produtos químicos de alta solubilidade,
baixa solubilidade e não solúveis porém capazes de formar
suspensão. A vazão nominal inicial foi de 1,6 L por hora. O
experimento foi realizado em blocos casualizados com 8
tratamentos, 4 épocas de avaliação e seis repetições
constituindo-se um fatorial 8 x 4. Efetuou-se um teste com
misturas de produtos químicos mais água colocados em
bombonas plásticas (cor preta) com volume de 50 L, sendo
que em seis bombonas adicionou-se um produto
comercial denominado BIOTECH® (constituído de 52% de
solução de ácido cítrico e mais 48% de um complexo
enzimático, líquido, obtido de resíduos vegetais). As
bombonas foram colocadas a 5,5 m de altura em relação
ao sistema de gotejamento, permanecendo tampadas
durante a execução do experimento. A tubulação
estendeu-se por de 35 m aproximadamente para alcançar
o sistema de gotejamento que continha seis gotejadores
inseridos a cada 30 cm no tubo, localizado sob uma área
coberta onde coletaram-se as vazões dos gotejadores,
para avaliações dos volumes gotejados de cada
tratamento (Tabela1).
O tubo de gotejamento utilizado foi o In - line PC-16mm,
1.6 lph, (Rain Bird) que possui como principais
características: autocompensação total entre 0.6 e 4.1 bar,
coeficiente de variação de fabricação (CV≤ 0.04), auto
lavagem durante início e término da irrigação, múltiplas
entradas de água no gotejador e alta uniformidade de
Tratamento
Biotech®
mL L
-1
emissão.
Todos os produtos constantes da tabela 1 foram
colocados em bombonas com 50 L de água aplicados cinco
dias por semana com os gotejadores acionados durante 45
minutos dia-1. Após a montagem do experimento mediu-se
a vazão pela primeira vez e a partir de então, durante trinta
e quatro semanas (238 dias), prosseguiram-se as medições
com uma leitura semanal. O pH das soluções dos
tratamentos nas bombonas foi monitorado para que a
oscilação ficasse entre 6,5 e 9,5 adicionando-se HCl ou
NaOH quando necessário para manutenção das
características químicas desejadas em cada mistura.
O experimento teve início no verão 03/02/2004 e
prosseguiu até na véspera da primavera 20/09/2004 tendo
sido conduzido em períodos com temperaturas altas e
baixas, próprias do clima tropical. A avaliação da vazão
total e monitoramento das obstruções, para os oito
tratamentos, durante 238 dias foi subdividida em quatro
períodos, assim compreendidos: Período 1 (03/02/2004 a
23/03/2004), 8 semanas de coleta de vazão (1 a 55 dias);
Período 2 (30/03/2004 a 18/03/2004), 8 semanas de coleta
de vazão (56 a 111 dias); Período 3 (25/05/2004 a
20/07/2004), 8 semanas de coleta de vazão (112 a 167 dias);
Período 4 (27/07/2004 a 27/09/2004), 10 semanas de coleta
de vazão (168 a 238 dias).
Os dados obtidos foram submetidos à análise de
variância e testes de média (Scott-Knott, 5%), para avaliar
as diferenças entre os tratamentos. Todas as análises
foram realizadas utilizando-se o programa estatístico
SISVAR (Ferreira, 2008).
MAP
mg L -
Sulfato
ferroso
Cloreto
de alumínio
Hidróxido
de ferro
Cloreto
de potássio
Super fosfato
triplo
Super fosfato
simples
1
mg L -1
mg L -1
mg L -1
mg L -1
mg L -1
mg L -1
A
-
-
-
-
-
-
-
-
B
186
10
5
20
-
-
-
-
C
-
10
-
20
5
-
-
-
D
186
10
-
-
5
80
-
-
E
186
-
-
20
5
-
20
-
F
-
-
-
20
5
-
20
-
G
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-
-
-
5
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-
H
186
-
-
-
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-
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Tabela 1. Composição química dos tratamentos.
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Utilização de Biotech® para prevenção
do entupimento de gotejadores
Resultados e discussão
Durante o experimento pôde observar-se que a maior redução de vazão nos tratamentos ocorreu no período final do ensaio
(168 a 238 dias), ou seja, na estação do inverno, onde a temperatura média foi de 18,5°C; seguido do período de (112 a 167
dias), medido durante a estação do outono-inverno, quando a temperatura média foi de 16,86°C. Na sequência aparece o
intervalo de (56 a 111 dias), onde a temperatura média foi de 20,13°C, medida também na estação outono-inverno e a maior
vazão, foi encontrada no período inicial do experimento (1 a 55 dias), quando a temperatura média foi de 21,45°C e vazão
medida no verão (Figura 1).
(a)
(c)
(b)
(d)
Figura 1. Vazão média de gotejadores em função dos diferentes tratamentos aplicados na solução de fertirrigação. (A) Período 1:
de 1 a 55 dias do início do ensaio, com temperatura média de 21,450C; (B) Período 2: de 56 a 111 dias do início do ensaio, com
temperatura média de 20,130C; (C) Período 3: de 112 a 167 dias do início do ensaio, com temperatura média de 16,860C; (D) Período
4: de 168 a 238 dias do início do ensaio, com temperatura média de 18,50C. Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si
pelo teste de Scott-Knott, em nível de 5% de probabilidades
De acordo com a literatura os precipitados químicos
podem ser produzidos quando as condições iniciais da
água são modificadas, como pH, temperatura, ocorrência
de íons incompatíveis e, sobretudo, a evaporação da água
nos emissores após cada irrigação, o que aumenta a
concentração dos sais dissolvidos que se precipitam ao
superar o limite de solubilidade (Pizarro, 1996),
Nas Figuras elaboradas para representar cada período
isoladamente, notam-se estes registros com maior clareza
(Figuras 1a, 1b, 1c e 1d), com muita evidência e coerência,
revelando a ação eficiente do BIOTECH®. Uma observação
interessante é que quando as temperaturas começaram a
aumentar no fim do inverno e princípio de primavera, não
houve recuperação de vazão nos tratamentos A, C e H.
Todavia, altas temperaturas e os altos valores de pH
estimulam reações que podem favorecer a precipitação
química, devido ao excesso de sulfato de cálcio de certas
águas de irrigação (Ayers & Westcot, 1991), fato não
observado no decorrer do ensaio, onde a maior redução de
vazão foi observada no período mais frio, mas isso ocorreu
sob ambiente coberto e, provavelmente por este ser o
período final quando o problema já havia agravado.
Segundo Parchomchuk (1976), Salomon (1979) e Lopez et
al. (1997) a uniformidade de aplicação sofre influência da
temperatura, características de fabricação dos emissores,
diferenças de pressão no sistema e relevo da área.
Temperaturas mais altas favorecem o desenvolvimento
bacteriano e, assim, aumentam o potencial da água em
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
entupir os emissores, numa faixa temperatura de 25 a 35°
C, ideal para desenvolvimento de bactérias (von Sperling,
1996; Cararo, 2004), entretanto não realizou-se esta
avaliação microbiológica nesta pesquisa.
No período 1 (1 a 55 dias), somente o tratamento B
apresentou redução de vazão significativa comparando-se
com os demais, não sendo a dose e/ou a concentração de
BIOTECH® suficientes para permitir plena vazão (Figura
1a). A redução encontrada é atribuída à afinidade para
formar, num curto prazo, precipitados entre os
componentes do tratamento B. Provavelmente por sua
alta solubilidade o sulfato ferroso favoreceu a reação e
formação de precipitados com o MAP e com o cloreto de
alumínio. O Fe precipitado forma uma incrustação
vermelha, a qual pode aderir à tubulação e entupir os
emissores. Algumas bactérias filamentosas como
Gallionella e Leptotrhix, oxidam o Fe+2, transformando-o
em Fe+3 que pode precipitar-se e provocar entupimento
dos gotejadores (Pizzaro, 1996).
No período 2 que compreendeu 56 a 111 dias (Figura 1b),
os tratamentos foram diferenciados em três grupos
semelhantes entre si, quando as maiores vazões foram
obtidas nos tratamentos A, D e H. Os tratamentos C, E, F, e
G obtiveram vazão intermediária e inferior aos
tratamentos do primeiro grupo e superior ao tratamento
B, com a menor vazão em relação aos demais. Os
tratamentos D e H que, juntamente com a testemunha,
obtiveram maiores vazões continham BIOTECH® assim
como os grupos com vazões, intermediárias e inferiores
não sendo possível fazer maiores inferências sobre o
efeito deste produto.
No período seguinte de 112 a 167 dias, observou-se que
somente a testemunha manteve vazão superior em
relação a todos os tratamentos. Os tratamentos D e H
foram semelhantes, mas inferiores à testemunha, tendo
havido redução da vazão em relação ao período anterior e
assim se procedeu para todos os tratamentos.
Os tratamentos C, E, F e G possuíam vazões
semelhantes e em torno de 700 cm-3 h-1, superiores ao
tratamento B com a menor vazão neste período (Figura
1c).
O efeito da redução de vazão foi comum em todos os
tratamentos porém a diferença desta redução se deve
provavelmente às características intrínsecas das soluções
que formavam os tratamentos.
O último período compreendido entre 168 a 238 dias foi
marcado pela obstrução total do tratamento F, dotado de
componentes muito susceptíveis à formação de
precipitados, sem BIOTECH®. Os demais tiveram redução
de vazão proporcionais aos períodos anteriores (Figura
1d).
Os tratamentos E e F diferem em sua composição,
respectivamente apenas pela presença e ausência de
BIOTECH® evidenciando o efeito positivo acumulado,
deste produto, ao longo do tempo, no controle parcial de
obstruções, mas na ausência do BIOTECH® (tratamento
F), evidenciando, até o período de 238 dias, a obstrução
total.
Outro tratamento que não possuía o BIOTECH® foi o C,
com grande redução de vazão, no entanto, este não
apresentou obstrução total como o tratamento F (sem
BIOTECH® e sem MAP), possivelmente atribuído à
ausência de um agente acidificante (Tisdale et al., 1985).
Ao observar os tratamentos que continham
BIOTECH®, apesar da redução de vazão, nenhum
apresentou obstrução total no curto período de
simulação, ao contrario do tratamento F (sem BIOTECH®)
que causou obstrução total dos gotejadores.
Esta prevenção parcial de obstrução também pode
estar relacionada com o tempo de duração do ensaio e a
alta concentração dos agentes precipitáveis, sugerindo
outros ensaios com doses de BIOTECH® mais
concentradas a fim de permitir-se uma recomendação
mais segura.
O tratamento D obteve redução menos acentuada que
os demais, exceto a testemunha, podendo ser atribuída a
utilização do MAP (mono fosfato de amônio) que é
sabidamente, um fertilizante recomendável como fonte
de fósforo e nitrogênio para as plantas (48% de P2O5 e 15%
de N) e ainda por sua alta solubilidade e forte reação ácida
é considerado importante tanto como fonte de nutrientes
como um agente químico minimizador dos problemas de
obstrução no sistema de fertirrigação por gotejamento
(Tisdale et al., 1985).
Ainda no tratamento D, a presença do cloreto de
potássio não tem limitações mais complexas na prática da
fertirrigação e por isto é até recomendável, indicado sem
restrição nas operações de fertirrigação, em relação ao
uso de equipamentos no sistema de fertirrigação.
O BIOTECH® e o MAP, presentes no tratamento D,
podem ter contribuído positivamente na prevenção de
entupimento de gotejadores, por possuírem
características solubilizadoras de precipitados químicos.
A fonte de fósforo foi a única diferença entre o
tratamento G e H. No tratamento H com superfosfato
simples, esperava-se uma maior obstrução do que o
tratamento G com superfosfato triplo pela maior
concentração de Ca no superfosfato simples (18 a 20% de
Ca) em relação ao superfosfato triplo (12 a 14%) entretanto,
isto não ocorreu. Como a concentração de Cálcio é maior
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Utilização de Biotech® para prevenção
do entupimento de gotejadores
no superfosfato simples, esperava-se uma maior
formação de precipitados de P-Ca em relação a P-Fe. De
acordo com Pinton et al. (2001) a ligação P-Ca é mais fraca ,
onde a ação solubilizadora do BIOTECH® provavelmente
foi mais eficiente evitando parcialmente a obstrução dos
gotejadores no tratamento G. A composição química do
BIOTECH® apresenta um componente em maior
quantidade, o acido tricarboxílico, que tem muita
afinidade química para complexar o alumínio o que evitaria
a formação de fosfato de alumínio.
Conclusões
Houve entupimento parcial dos gotejadores em todos os
tratamentos inclusive na testemunha durante os 238 dias
de ensaio.
O BIOTECH® minimizou a redução da vazão por
entupimento, sendo que a obstrução total dos
tubogotejadores foi observada no tratamento que não
continha BIOTECH® e apresentava soluções portadoras de
reagentes com mais afinidade para formar precipitados
com o fósforo, em experimento simulador de curta
duração.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG pelo apoio
financeiro ao desenvolvimento do trabalho de pesquisa e
concessão de bolsas e ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pela
concessão de bolsa.
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Avaliação mercadológica
da borracha natural no Brasil
Danubia Rejane Silva Brito
Universidade Federal do Piauí, campus Professora Cinobelina Elvas, [email protected]
Waldeídes de Castro e Sousa
Universidade Federal do Piauí, campus Professora Cinobelina Elvas, [email protected]
Joabel Raabe
Universidade Federal do Piauí, campus Professora Cinobelina Elvas, [email protected]
Sidney Araujo Cordeiro
Universidade Federal do Piauí, campus Professora Cinobelina Elvas, [email protected]
Resumo
Tendo em vista o grande consumo de borracha na indústria nacional e internacional, para diversas finalidades, este trabalho
tem como objetivo, mostrar a importância da seringueira em âmbito comercial, dando enfoque nas oscilações de preço do
principal produto proveniente desta espécie, com base em pesquisas mercadológicas encontradas na literatura, que
abordam principalmente temas referentes à utilização racional de produtos naturais e a geração de renda proveniente
destes. Mostrando de modo mais detalhado as características principais da fonte produtora de látex, e informações
referentes às características gerais do produto, do processo produtivo, de mercado e também os desafios encontrados
durante a produção e comercialização. Pode-se concluir que a adoção de medidas governamentais que incentivem o plantio
da espécie que produz o látex e o investimento em pesquisas que combatam ou que venham a reduzir a incidência de pragas
e doenças que atacam os seringais, seriam de fundamental importância para o controle destes plantios, bem como garantir
qualidade e quantidade suficiente para atender o mercado consumidor.
Palavras-chave: Seringueira; Látex; Mercado.
Evaluation of the market of natural rubber in Brazil
Abstract
In view of the great rubber consumption in the national and international industry, for diverse purposes, this work has as
objective, to show the importance of the seringueira in commercial scope, giving approach in the price fluctuations of the
main product proceeding from this species, on the basis of found marketing research in literature, that mainly approaches
referring subjects to the rational use of natural products and the generation of income proceeding from these. Showing in
way more detailed the main characteristics of the producing latex source, and referring information to the general
characteristics of the product, the productive process, market and also the challenges found during the production and
commercialization. It can be concluded that the adoption of governmental measures that stimulate the plantation of the
species that produces the latex and the Investment in research that fights or that they come to reduce the incidence of
plagues and illnesses that attack you inject them, would be of basic importance for the control of these plants, as well as
guaranteeing quality and amount enough to take care of the consuming market.
Keywords: Rubber tree; Latex; Market.
100
95
1. Introdução
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Muitas espécies de vegetais tropicais apresentam borracha natural, especialmente na família das , no entanto, quase toda a
produção mundial provém de uma espécie que tem sua origem no Brasil, Hevea brasiliensis, pertencente a esta família. Existe
na floresta amazônica mais de 11 espécies de seringueira do gênero Hevea e todas muito parecidas entre si. Embora seja
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Avaliação mercadológica
da borracha natural no Brasil
grande o número de espécies que por uma incisão na casca
exsudam secreção de aspecto semelhante ao látex,
somente algumas produzem quantidade e qualidade
suficientes para exploração em bases econômicas (UFSC,
2001).
Segundo Bernardes et al. (2000), a história da
produção da borracha natural brasileira mostra que o país
desfrutou da condição de principal produtor e exportador
mundial no final dos séculos XIX e início do século XX,
passando a ser importador desta matéria prima a partir do
começo dos anos cinquenta, do século passado. A
utilização da borracha proveniente da seringueira é feita
em diversos setores como, por exemplo: hospitalar/
farmacêutico, brinquedos, calçados, construção civil,
maquinário agrícola e industrial e de autopeças.
A importância econômica e industrial da borracha
natural fazia da seringueira uma árvore estratégica, sendo
que sementes foram levadas pelos ingleses para serem
plantadas em suas colônias na Ásia. Naqueles países a
seringueira foi cultivada como uma espécie comercial,
diferentemente do Brasil, onde estava em seu habitat
natural. Portanto, enquanto o sistema de produção
brasileiro era o extrativismo, o asiático se baseava na
exploração comercial. Esse foi o principal fator de sucesso
da produção de borracha na Ásia. Além desse aspecto
agronômico, na Ásia não existia o fungo causador do maldas-folhas (Microcyclus ulei), que é uma das doenças mais
comuns dos seringais - sobretudo na Amazônia (Borracha
Natural, 2011).
Segundo Pereira et al. (2000) a partir da década de 60
foram elaborados no país planos ambiciosos para
expandir a produção da borracha natural via cultivo da
seringueira. Nos anos 70 e 80, o país investiu mais de US$
1,0 bilhão para viabilizar a cultura na Amazônia. Todavia,
apenas os seringais formados fora da região Amazônica
tornaram-se viáveis e fizeram crescer a produção nacional
da borracha natural. De 1971 a 2004, a produção nacional
de borracha natural aumentou 400%, mas ainda é pequena
quando comparada com a dos países asiáticos
(CIFlorestas, 2011a).
O mercado de borracha natural está em ascensão. O
principal consumidor do produto é o setor
automobilístico, que atualmente importa do sudeste
asiático a maior parte dessa matéria prima, já que o Brasil
não dá conta de suprir a demanda (Seringueira, 2011).
O objetivo deste trabalho é mostrar a importância da
seringueira em âmbito comercial, dando enfoque nas
oscilações de preço do principal produto proveniente
desta espécie, com base em pesquisas mercadológicas
encontradas na literatura.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Características gerais do produto
Hevea brasiliensis ocorre na região amazônica, na margem
de rios e lugares inundáveis da mata de terra firme, é uma
planta lactescente de 20-30 m de altura, com tronco de 3060 cm de diâmetro. Popularmente é conhecida como
seringueira, seringa, seringa-verdadeira, cau-chu, árvore
da borracha, seringueira-preta, seringueira branca (UFSC,
2011).
O látex produzido pela árvore é uma suspensão aquosa
contendo 30 a 40% de sólidos em forma de partículas de
borracha visíveis em ultramicroscópio. Com propriedades
únicas entre os produtos naturais poliméricos, a borracha
natural combina elasticidade, plasticidade, resistência ao
desgaste (fricção), propriedades de isolamento elétrico e
impermeabilidade à líquidos e gases (GONÇALVES et al.,
1990).
As principais características da borracha natural que a
tornam uma excelente matéria prima para setores tão
variados são: elasticidade, flexibilidade, resistência à
abrasão e à corrosão, impermeabilidade e fácil adesão a
tecidos e ao aço (BORRACHA NATURAL, 2011).
O líquido, o látex, contém em suspensão um
hidrocarboneto de elevado peso molecular. A borracha
assim obtida é deformável como gesso e deverá ser
processada para adquirir os requisitos necessários para ser
utilizada em suas inúmeras aplicações. Por aquecimento e
adição de ácido acético coagula formando uma massa
gomosa que, depois de separada da água e outros
produtos, denomina-se “borracha bruta” (UFSC, 2011).
A qualidade das borrachas naturais brasileiras é
determinada, em primeira instância, através da inspeção
visual, observando sua limpeza, cor, homogeneidade e
defeitos. Depois, através de ensaios de laboratório
específicos e normalizados são classificadas e
comercializadas, com características padronizadas,
exigidas pela norma ABNT-EB-1866 de 1988. Composição
Química aproximada da borracha bruta: Hidrocarbonetos
de borracha (93,7%); Proteínas (2,2%); Carboidratos (0,4%);
Lipídios naturais (2,4%); Glicolipídios e Fosfolipídios (1,0%);
Materiais inorgânicos (0,2%); outros (0,1%) (UFSC, 2011).
2.2. Método de pesquisa rápida
A literatura sobre estudos que abordam aspectos técnicos
e de mercado relacionados à extração de látex,
proveniente de plantios de seringueira, mostra que
diversos métodos de busca de informações e análise têm
sido empregados, isoladamente ou de forma combinada.
Entretanto, a diversidade de objetivos desses estudos e a
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multiplicidade de questões relacionadas com recursos
físicos, financeiros e humanos, disponíveis para os
estudos, impedem uma recomendação universal de opção
metodológica para a busca de informações. Em geral,
métodos mais precisos de coleta de informações são mais
caros e demorados (IEL/CNA/SEBRAE, 2000).
Assim, segundo essas instituições, os objetivos do
estudo, sua abrangência e a limitação do período de
execução, optou-se por utilizar a metodologia
denominada “pesquisa rápida”. A exemplo de
IEL/CNA/SEBRAE (2000) e Silva (2001), este método
empírico baseou-se na utilização desse enfoque
metodológico de busca de informações, associado ao uso
intensivo de informações de fontes secundárias.
Os dados e as informações necessárias para a
realização deste estudo foram obtidos em diferentes
fontes, como: livros, revistas, teses e material disponível
na internet, em “sites” de renome na área florestal e
ambiental. Cada um dos autores pesquisou sobre
determinado assunto dentro do tema central, e,
posteriormente, efetivaram-se reuniões onde os
conhecimentos adquiridos separadamente foram
compartilhados pelos mesmos. Após intensas discussões,
o trabalho foi sendo aprimorado através das diversificadas
opiniões dos autores. Finalmente, foi escrito sob a forma
de artigo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Características de mercado
A cadeia agroindustrial da borracha natural é composta
por quatro segmentos: i) segmentos de insumos e
serviços, que envolve máquinas e equipamentos e
assistência técnica; ii) segmento produtivo, envolvendo
produção e extração de látex virgem, e beneficiamento da
borracha; iii) segmento consumidor, que é a indústria
pesada (pneumáticos) e indústria leve (artefatos); e, iv)
segmento distribuidor, que são os varejistas (de pneus e
artefatos) recauchutagens e borracharias (BORRACHA
NATURAL, 2011).
O Brasil tornou-se o maior produtor mundial da
borracha natural e passou a abastecer o comércio
internacional de 1879 a 1912. Isso trouxe riqueza e
desenvolvimento para cidades como Manaus, Belém e Rio
Branco, na época e ainda foi responsável pela colonização
do Acre, então território da Bolívia, que mais tarde foi
anexado ao Brasil (LEÃO, 2000). Entretanto, a partir de
1912, as exportações brasileiras foram substituídas
continuamente, até serem paralisadas no final dos anos 40
(PEREIRA et al., 2000).
O fim do ciclo da borracha iniciou em 1876 quando
Henry Wickham levou para Inglaterra 70 mil mudas de
seringueira onde apresentaram notável desenvolvimento.
Neste mesmo período, 2.000 mudas foram levadas para
Malásia onde também conseguiram se desenvolver. Em
1913, as seringueiras malaias superavam a produção do
Brasil: 47.000 toneladas contra 37.000 mil toneladas
(LEÃO, 2000).
Cerca de 70% de toda borracha natural consumida no
mundo é destinada à produção de pneus, para os mais
diferentes usos. As empresas pneumáticas são
constituídas por grandes conglomerados econômicos que
tem poder de pressão na formulação dos preços de
compra. Já os países produtores dependem da
comercialização desse produto, pois são economias
subdesenvolvidas ou em desenvolvimento. Isso faz com
que os preços, na maioria dos casos, fiquem ao sabor das
políticas dos compradores, e, até recentemente, a
consequência natural era que os preços sempre estavam
desfavoráveis para os produtores (CONAB, 2003).
Nos 10 anos compreendidos entre 1992 e 2002, o Brasil
despendeu US$ 1,082 bilhão com importações de borracha
natural nas suas diversas formas. No mesmo período, a
produção brasileira de borracha natural totalizou 693,5 mil
toneladas, o que correspondeu a 36% do total consumido
pelo País. Essa participação foi crescente no período,
tendo atingido mais de 45% em alguns anos devido,
especialmente, aos 45.000 hectares plantados por cerca
de 2.500 produtores paulistas (CIFlorestas, 2011d).
Dados referentes ao ano de 2003 mostram que a
produção brasileira de borracha natural estava em nono
lugar na produção mundial, mesmo este sendo o berço da
árvore produtora desta matéria prima, tendo a Tailândia e
a Indonésia líderes deste mercado de 1999 a 2003. Vários
fatores contribuíram para o sucesso da produção de
borracha natural nos países asiáticos (CONAB, 2003).
Segundo informação de sites especializados, 70% da
borracha consumida no país é proveniente da Ásia, o que
representa um gasto diário de R$ 3,6 milhões. O preço da
borracha natural está em torno de R$ 3,00, o quilo, um
preço considerado excelente por analistas deste assunto.
O Espírito Santo contribui com cerca de 6% da produção
nacional, o que representa 107 mil toneladas de borracha,
plantadas em 13 mil hectares. Mais de 60% do território do
município é composto por áreas rurais, mas somente uma
pequena parte está ocupada (SERINGUEIRA, 2011a).
Em 2004, a Região Sudeste respondeu por 60,9% da
produção nacional de borracha (látex coagulado), seguida
pelas regiões Centro-Oeste (21,4%), Nordeste (14,6%),
Norte (2,6%) e Sul (0,5%) (AGRIANUAL, 2007). Nessas
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da borracha natural no Brasil
regiões há mão-de-obra especializada; maior volume de
capital para investimento em tecnologia; concentração da
maioria das indústrias consumidoras de borracha natural,
o que reduz os custos logísticos com o transporte da
matéria-prima; e clima adequado para o cultivo da
seringueira (BORRACHA NATURAL, 2007).
O Brasil, que no início do século XX detinha o
monopólio da produção mundial, hoje responde por
apenas 1,2%, não conseguindo suprir as necessidades do
seu mercado interno. O consumo nacional de borracha
natural em 2005 foi de 297.000 toneladas (peso seco).
Sendo assim, o país importa grande parte da borracha
natural que consome. As importações brasileiras em 2005
foram de 203.927 toneladas, o equivalente a 269.222
milhões de dólares (SOARES et al., 2007).
Em 2008 o país de origem e centro de maior
diversidade genética da seringueira, importou
220.959.374 kg de borracha natural, ou seja,
aproximadamente 221 mil toneladas. Além dessa
quantidade, foram importados 22.748.924 kg de látex, ou
seja, aproximadamente 23 mil toneladas nesse mesmo ano
(GOOGLE, 2011).
No final do ano de 2010 o preço médio da borracha
natural em são Paulo estava de R$ 2,60 o quilo, havendo
um aumento nos meses seguintes. Em janeiro de 2011
estava de 3,05 (R$/Kg) e em fevereiro do mesmo ano
estava de R$ 3,75 o quilo (CIFlorestas, 2010; 2011c).
O ano de 2010 iniciou com chuvas intensas e frequentes
nas principais regiões produtoras do Estado de São Paulo,
maior produtor nacional, provocando a redução da oferta
da matéria-prima (CIFlorestas, 2010). O aumento nos
preços da borracha natural em São Paulo pode ser
explicado por estas fortes e constantes chuvas que
diminuíram a oferta do produto (CIFlorestas, 2011b).
As projeções do consumo da borracha natural
mostram que vale a pena investir em novos seringais no
Brasil. Até 2030, estima-se que a demanda nacional
alcance um milhão de toneladas, sendo que a produção
interna é cerca de 130 mil toneladas (CIFlorestas, 2011b).
Após um recorde de US$ 5.750,00 por tonelada no dia
14 de fevereiro de 2011, as cotações de borracha natural
iniciaram um movimento de queda na bolsa de Cingapura,
atingindo o menor valor de 2011 em 14 de março, de US$
3.800,00 por tonelada. De acordo com Heiko Rossmann,
diretor da Associação Paulista de Produtores de borracha
(Apabor), o preço do Granulado Escuro Brasileiro (GEB-1)
para o próximo bimestre – abr/mai, antes com expectativa
de superar a casa de R$ 10,00 por quilo, agora deve se
situar ao redor de R$ 9,50 por quilo, valor ligeiramente
superior ao preço praticado no mercado paulista no
bimestre fev/mar, de R$ 9,29 por quilo (CIFlorestas, 2011c).
Tendo como fonte o Instituto de Economia Agrícola
(IEA), o CIFlorestas realizou um levantamento mensal do
preço da borracha natural (R$/Kg), sendo este
mensalmente, desde o mês de agosto de 2002 ao mês de
fevereiro de 2011. Podendo ser perceptível o aumento no
valor da matéria-prima e a oscilação existente no início de
2009 ao início de 2010, tendo seu maior valor de 3,72
(R$/Kg) em março de 2011 (figura 1).
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Figura 1: Oscilação de preço da borracha natural (R$/Kg).
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3.2. Desafios na produção e comercialização do produto
No Brasil, os fatores que prejudicaram o desenvolvimento
do cultivo da seringueira foram: o sistema de produção
extrativista e a ausência de pesquisa para a solução dos
problemas dos seringais da região amazônica. Deste
modo, quase todas as tentativas de cultivo intensivo da
seringueira nessa região fracassaram devido à incidência
do fungo Microcyclus ulli (SOARES et al., 2007).
Entre as doenças que ocorrem na espécie, o “mal-dasfolhas”, causada pelo fungo Microcylus ulei é uma das mais
conhecidas e é o principal fator limitante à expansão da
heiveicultura no Brasil, principalmente na região Norte do
país. O dano maior é a queda prematura de folhas,
podendo levar as plantas à morte. O controle pode ser
realizado utilizando clones resistentes, área de escapes ou
fungicidas. Além deste fungo existem outros que
prejudicam o desenvolvimento desta espécie, atacando
não somente as folhas como também as flores, frutos e
sementes. O ataque de pragas nestas espécies também já
foi verificado (CIFlorestas, 2011a).
Apesar dos desafios da heveicultura no Brasil, ela está
se estabelecendo como uma atividade lucrativa, conforme
observou Nish et al. (2005), Cotta et al. (2006) e Soares et
al. (2006). A produção brasileira de borracha natural
voltou a crescer quando a seringueira começou ser
cultivada fora da Amazônia, mais especificamente em
regiões em que não há o fungo Microcyclus ulli.
A chuva em excesso atrapalha a produção porque o
trabalho não pode ser feito. O corte no caule da
seringueira é necessário para que a seiva escorra. Sem ele
não é possível a extração do látex. Segundo os produtores,
com a chuva a casca da seringueira fica úmida, o que
dificulta a sangria. Além disso, o recipiente onde cai o látex
enche de água e o produto é perdido (SERINGUEIRA,
2011b).
4 . Conclusão
A cadeia produtiva da borracha natural gera emprego nas
várias fases de produção: na colheita dos produtos, no
transporte até as usinas de beneficiamento, nas usinas
propriamente ditas, nas fábricas de pneumáticos, luvas
cirúrgicas e preservativas. Essa característica de sistema
de produção com grande geração de emprego e renda no
campo e na cidade é importante para o cumprimento de
exigências da ISO social, uma nova abordagem sobre as
empresas que terão que adequar sua produção à
responsabilidade social (Borracha Natural, 2011).
A cada 6 ha de floresta de seringueira em produção,
com estande normal de árvores, um emprego direto e bem
remunerado é gerado no campo. Sendo assim, a área
colhida de seringueira em 2007 (114.842 ha) gerou no Brasil
19.140 empregos diretos, considerando o rendimento de
mil árvores sangradas por dia/trabalhador, estimativa
bastante conservadora. Em São Paulo, a renda mensal de
um prestador de serviço de sangria era, em novembro de
2008, R$ 3.500,00 (Borracha Natural, 2011).
A adoção de medidas governamentais que
incentivassem o plantio da espécie que produz o látex
seria atrativa para as pessoas que o extraem da floresta de
forma extrativista, pois seria um incentivo para a formação
de cooperativas, e a adoção de plantios de seringueira de
forma planejada.
Investir em pesquisas que combatam ou que venham a
reduzir a incidência de pragas e doenças que atacam os
seringais seria de fundamental importância para o
controle destes plantios, bem como garantir qualidade e
quantidade suficiente para atender o mercado
consumidor.
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Compostagem de lodo de
esgoto para uso agrícola
Mário Viana Paredes Filho
Universidades José do Rosário Vellano (UNIFENAS), [email protected]
Resumo
Este trabalho de revisão de literatura tem o objetivo de demonstrar o potencial existente no lodo de esgoto proveniente das
estações de tratamento de esgotos, para que o mesmo seja reaproveitado e utilizado como matéria orgânica fornecedora de
nutrientes para o solo. O lodo de esgoto deve ser tratado antes da sua disposição final através de tratamentos biológicos
que vão reduzir a carga orgânica e promover a estabilização e higienização do composto. A compostagem apresenta-se
como uma técnica viável e relativamente de baixo custo, que atende aos padrões físicos, químicos e microbiológicos exigidos
pela legislação pertinente. A reciclagem agrícola do lodo de esgoto torna-se uma alternativa segura para a disposição final
deste resíduo.
Palavras-chave: Biossólido; Patógenos; Higienização; Matéria orgânica.
Composting of sewage sludge for agricultural use
Abstract
This work of literature review aims to demonstrate the potential existing in the sewage sludge from sewage treatment
plants, for it to be reclaimed and used as organic matter supplies nutrients to the soil. Sewage sludge must be treated before
final disposal by biological treatments that will reduce the organic load and promote stabilization and cleaning of the
compound. Composting presents itself as a viable technique and relatively low cost, that meets the standards of physical,
chemical and microbiological required by law. Agricultural recycling of sewage sludge becomes a safe alternative for disposal
of this waste.
Key-words: Biossolids; Pathogens; Hygienization; Organic matter.
1. Introdução
Segundo Corrêa et al. (2007), os processos de tratamento de esgoto separam a parte sólida da líquida para que o efluente
tratado possa ser liberado em corpos receptores sem causar danos ao meio ambiente. Nesse processo, poluentes,
nutrientes e contaminantes são concentrados em uma massa denominada lodo de esgoto, que é subproduto do tratamento.
Biossólidos são definidos pela USEPA (United States Environmental Protection Agency) como qualquer produto orgânico
resultante do tratamento de esgotos, que pode ser beneficamente utilizado ou reciclado. Beneficamente implica ausência
de danos ambientais e de prejuízos para a saúde de animais e humanos (USEPA,1995). Em contrapartida, existe uma
variedade de organismos em lodos de esgotos, tais como vírus, bactérias, protozoários e helmintos, devem ser reduzidos a
níveis que não tragam problemas à saúde pública.
De acordo com Pires & Matiazzo (2008), dentro das opções de disposição, a reutilização de resíduos é, sem dúvida, a
opção mais interessante sob o ponto de vista econômico, ambiental e, muitas vezes, social. No Brasil, não é difundida a
experiência de incorporar resíduos de esgoto e efluente aos solos, pois ainda são poucas as cidades dotadas de estações de
tratamento de esgotos (Maciel et al.,2009).
A técnica de compostagem é o processo de decomposição ou degradação de materiais orgânicos pela ação de
microorganismos em um meio naturalmente aerado (FUNASA,2009). Pelegrino et al. (2008) descreve que as vantagens da
compostagem de lodo de esgoto são muitas, podendo-se citar: economia de área em aterro sanitário, aumentando a sua vida
útil; reaproveitamento agrícola da matéria orgânica; e reciclagem de nutrientes para o solo.
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Compostagem de lodo de
esgoto para uso agrícola
A compostagem constitui uma alternativa econômica
e ambientalmente correta para a estabilização de resíduos
orgânicos industriais e de estações de tratamento, com
possibilidade de aproveitamento agronômico desses
resíduos (Metcalf & Eddy, 1991). A reciclagem agrícola do
lodo de esgoto no Brasil se faz necessária para a reposição
do estoque de matéria orgânica dos solos, devido ao
intenso intemperismo das nosas condições climáticas.
Dessa forma, objetivou-se com esta revisão de
literatura verificar o uso agrícola do lodo de esgoto através
da compostagem, analisando os parâmetros físicos,
químicos e microbiológicos, tendo por base a bibliografia
nacional e internacional relativas ao assunto.
transformação em esgoto, as estações de tratamento de
esgoto (ETE) concentram a poluição remanescente no
lodo, antes de devolver à natureza os efluentes tratados. O
lodo é, portanto, o último resíduo do ciclo urbano da água
(Fernandes & Silva, 1999).
Quando o lodo produzido no sistema de tratamento de
esgotos sanitários é utilizado de forma útil, ele pode ser
denominado “Biossólido”, conforme preconiza a Water
Environment Federation (WEF).
2.1.1 Características
Bettiol & Camargo (2006) descrevem que a composição do
esgoto varia em função do local de origem, ou seja, se
proveniente de uma área tipicamente residencial ou
tipicamente industrial, e em função da época do ano, entre
outros fatores. A figura 1 apresenta a composição básica
do esgoto domiciliar, encontrada nas estações de
tratamento (Melo & Marques, 2000).
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Lodo de esgoto
Após a utilização da água potável e sua consequente
Primeiro lote
(03/99)
Atributo(1)
Unidade(2)
Fósforo
Potássio
Sódio
Segundo lote
(12/99)
Terceiro lote
(09/00)
LB
LF
LB
LF
LB
LF
g/kg
15,9
16,0
31,2
21,3
26,9
12,9
g/kg
1,0
1,0
1,97
0,99
1,0
1,0
g/kg
0,5
0,5
0,6
0,6
0,5
0,9
Arsênio
mg/kg
<1
<1
<1
<1
<1
<1
Cádmio
mg/kg
12,8
3,32
9,5
2,0
9,4
2,05
Chumbo
mg/kg
364,4
199,6
233
118
348,9
140,5
Cobre
mg/kg
1058
239,8
1046
359
953,0
240,9
Cromo total
mg/kg
823,8
633,8
1071
1325
1297,2
1230,3
Mercúrio
mg/kg
<0,01
<0,01
<1
<1
<0,01
<0,01
Molibdênio
mg/kg
<0,01
<0,01
<1
<1
<0,01
<0,01
Níquel
mg/kg
518,4
54,7
483
74
605,8
72,4
Selênio
mg/kg
< 0,01
<0,01
<1
<1
<0,01
<1
Zinco
mg/kg
2821
1230
3335
1590
3372
1198
Boro
mg/kg
36,2
40,7
11,2
7,1
29,3
19,7
g/kg
248,2
305,1
271
374
292,9
382,4
6,6
6,3
6,4
6,4
6,4
5,4
%
66,4
83
80,2
82,4
71,2
82,7
%
43,0
60,5
56,8
72,5
g/kg
21
56,4
49,7
67,5
42,1
68,2
Carbono orgânico
pH
Umidade
Sólidos Voláteis
Nitrogênio total(3)
Enxofre
g/kg
13,4
16,3
10,8
13,3
17,1
15,7
Manganês
mg/kg
429,5
349,3
335
267
418,9
232,5
Ferro
mg/kg
54.181
33.793
32,5
31,7
37.990
24.176
3,7
2,5
Magnésio
g/kg
Alumínio
mg/kg
28.781
32.564
25,3
33,5
23.283
23.317
g/kg
40,3
29,2
22,8
16,8
47,8
24,8
Cálcio
3,0
2,2
4,5
2,2
100
95
75
Tabela 1. Características químicas de três lotes dos lodos de esgotos das Estações de Tratamento de Esgoto de Franca (LF) e de
Barueri (LB), localizadas no estado de São Paulo.(1) Determinados conforme o EPA SW-846-3051 (1986), no IAC (Campinas, SP). (2)
Os valores de concentração são dados com base na matéria seca. (3) Os valores de concentração para o nitrogênio total e umidade
foram determinados em amostras em condições originais, na Embrapa Meio Ambiente. Fonte: Bettiol (2004) e Fernandes et al.
(2004).
25
5
0
74
Revista Agroambiental - Dezembro/2011
ÁGUAS RESIDUÁRIAS
ÁGUA
SÓLIDOS
ORGÂNICO
INORGÂNICO
PROTEÍNAS
CARBOIDRATOS
LIPÍDEOS
AREIA
SAIS
METAIS
2.1.2 Poluentes do lodo de esgoto
Bettiol & Camargo (2006) citam que apesar de todas as
vantagens, o lodo de esgoto pode apresentar em sua
composição elementos tóxicos e agentes patogênicos ao
homem.
Segundo Bettiol & Camargo (2006), zinco, cobre,
manganês, ferro, molibdênio e níquel são micronutrientes
essenciais para as plantas, mas em altas concentrações
podem causar sérios problemas; o cádmio e o chumbo
podem também aparecer em quantidades consideráveis,
especialmente se os lodos provêm de regiões
industrializadas. Neste caso, há que se controlar e
monitorar a aplicação porque, em especial, zinco, cobre e
níquel, se presentes em teores elevados, podem ser
Figura 1. Composição do esgoto
doméstico (Melo & Marques, 2000). Podese observar na Tabela 1 as variações da
composição dos lodos de esgoto gerados
em estações de tratamento de esgoto.
Tanto as respostas agronômicas, quanto
os impactos ambientais, dependerão da
composição dos lodos.
fitotóxicos, podendo até, no caso do cádmio, ser
altamente prejudicial para os animais que se alimentem
destas plantas. Por isso, em todos os países onde o lodo de
esgoto é aplicado na agricultura, existem normas
estabelecendo, entre outras coisas, as concentrações
máximas permitidas de metais pesados no lodo e o teor
máximo acumulado no solo. A norma P4230 da CETESB
(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental),
estabelece esses limites, os quais são apresentados na
Tabela 2. Além destes limites, a norma também estabelece
a taxa máxima de aplicação anual de metais em solos
agrícolas tratados com lodo e a carga máxima acumulada
de metais pela aplicação do lodo.
Metal pesado
Concentração máxima
permitida no lodo
Taxa de aplicação
anual máxima
Carga máxima acumulada de
metais pela aplicação do lodo
Arsênio
75
2,0
41
Cádmio
85
1,9
39
Cobre
4.300
75
1.500
Chumbo
840
15
300
Mercúrio
57
0,85
17
Molibdênio
75
-
-
Níquel
420
21
420
Selênio
100
5,0
100
100
Zinco
7.500
140
2.800
95
75
Tabela 2. Concentrações limites de metais pesados no lodo de esgoto aceitáveis para uso agrícola (base seca) em mg/kg; taxa de
aplicação anual máxima de metais em solos (kg/ha/365 dias); e carga máxima acumulada de metais pela aplicação do lodo
(kg/ha). Fonte: CETESB (1999).
25
5
0
75
Compostagem de lodo de
esgoto para uso agrícola
A mobilidade dos metais pesados depende muito da
reação do solo, ou seja, se ele é mais ou menos ácido. De
maneira geral, aconselha-se que o pH seja mantido
acima de 5,5 para evitar que os metais pesados,
potencialmente tóxicos, possam ser absorvidos pelas
plantas ou ficar disponível no ambiente em quantidades
que apresentem risco (Bettiol & Camargo, 2006).
Os lodos de esgoto contêm patógenos humanos como
coliformes fecais, salmonela, vírus e helmintos, que
podem ser reduzidos com tratamentos adequados.
Entretanto, é importante o monitoramento da população
destes organismos, tanto no lodo a ser utilizado na
agricultura, como no solo onde ele foi aplicado.
Soccol & Paulino (2000) discutem amplamente os
riscos de contaminação do agroecossistema com
parasitos pelo uso do lodo de esgoto.
A norma P4230 da CETESB, que estabelece os critérios
de aplicação de lodos de sistemas de tratamento biológico
em áreas agrícolas, classifica o lodo de esgoto, quanto à
presença de patógenos, em classe A e B. O lodo classe A é
aquele que atende os seguintes critérios: densidade de
coliformes fecais inferior a 103 NMP/g de sólidos totais, e
densidade de sólidos totais de Salmonella sp. inferior a 3
NMP/4 g. O lodo é considerado classe B quando a
densidade de coliformes fecais for inferior a 2x106 NMP/g
de sólidos totais. No caso do estado do Paraná, a norma do
IAP (Instituto Ambiental do Paraná) estabelece limites
para ovos de helmintos (>1/g), pois estes organismos são
resistentes e de grande importância para a saúde pública
brasileira. Este procedimento é premente para as
condições nacionais, pois a nossa população apresenta
sérios problemas com relação a esses patógenos.
Outro grupo de contaminantes que merece atenção é o
dos compostos orgânicos persistentes. Até o momento no
Brasil, nenhuma norma estabelece limites para estes
compostos. Além disso, são extremamente escassos os
trabalhos com estes contaminantes no Brasil, existindo
praticamente apenas uma análise apresentada por
Tsutiya (2001).
País
Aterros Sanitários
2.2 Uso Agrícola
Segundo Bettiol & Camargo (2006) a utilização do lodo de
esgoto em solos agrícolas traz como principais benefícios
a incorporação de macronutrientes (nitrogênio e fósforo)
e micronutrientes (zinco, cobre, ferro, manganês e
molibdênio).
É preciso conhecer a composição do solo, para calcular
as quantidades adequadas a serem incorporadas, sem
correr o risco de intoxicar as plantas e em certas situações
os animais e aspessoas, como também não poluir o
ambiente (CETESB, 1999).
Com respeito à melhoria das condições físicas do solo, o
lodo de esgoto, de maneira semelhante à matéria
orgânica, aumenta a retenção de umidade em solos
arenosos e melhora a permeabilidade e infiltração nos
solos argilosos, e por determinado tempo mantém uma
boa estrutura e estabilidade dos agregados na superfície.
Melo & Marques (2000) apresentam informações sobre
o fornecimento de nutrientes pelo lodo de esgoto para as
seguintes culturas: cana-de-açúcar, milho, sorgo e
azevém. Existem ainda, informações do aproveitamento
do lodo de esgoto para arroz, aveia, trigo, pastagens,
feijão, soja, girassol, café e pêssego (Bettiol & Camargo,
2000).
2.3 Alternativas de tratamento e disposição final
De acordo com Fernandes & Silva (1999), as principais
alternativas de tratamento e destinação final de lodos de
esgoto incluem a sua disposição em aterros sanitários,
incineração, disposição oceânica e várias formas de
disposição no solo, tais como recuperação de áreas
degradadas, uso como fertilizante em grandes culturas,
reflorestamento e land farming. A Tabela 3 mostra
exemplos de alternativas de destino final para o lodo de
esgoto praticadas em alguns países da Europa e nos
Estados Unidos.
A reciclagem agrícola é outra prática bastante
utilizada. Ela transforma o lodo em um insumo agrícola,
contribuindo para fechar o ciclo bioquímico dos nutrientes
Agricultura
Incineração
Disposição Oceânica
França
40
40
20
0
Dinamarca
27
37
28
8
GrãBretanha
19
46
5
30
Alemanha
65
25
10
0
Itália
55
34
11
0
Portugal
28
11
0
61
Bélgica
50
28
22
0
Estados Unidos
37
34
17
7
Tabela 3. Exemplos de alternativas de destino final para o lodo de esgoto praticadas em alguns países da Europa e nos Estados Unidos.
Fonte: Bonnin,1998
100
95
75
25
5
0
76
Revista Agroambiental - Dezembro/2011
minerais, fornecendo matéria orgânica ao solo, estocando
o carbono na forma de compostos estáveis e não
liberando CO2 na atmosfera(Fernandes & Silva, 1999).
No Brasil, Fernandes & Silva (1999) descrevem que a
questão do destino final do lodo de esgoto permaneceu
esquecida até recentemente, quando modernas e
eficientes estações de tratamento de esgotos foram
instaladas, sem qualquer proposta do que fazer com o
lodo gerado. Em certos casos, o lodo foi acumulado nas
áreas próximas às estações, gerando riscos ambientais
imprevisíveis. A falta de uma alternativa segura de
tratamento e destino final do lodo gerado em uma estação
de tratamento de esgoto pode anular parcialmente os
benefícios do saneamento.
Fernandes & Silva (1999) alertam que, devido ao fato
do lodo também conter microrganismos patogênicos, sua
disposição no solo sem qualquer tratamento pode colocar
em risco a saúde pública. A compostagem é uma
alternativa natural de tratamento do lodo, uma vez que a
elevação da temperatura promove a desinfecção do
resíduo, tendo como produto final um insumo de alto valor
agronômico.
2.4 Processo de Compostagem
Andreoli et al. (1999) define a compostagem como um
processo biológico de degradação da matéria orgânica. Os
microrganismos degradam a matéria orgânica contida no
lodo puro ou em mistura com outros resíduos orgânicos
(palhas, serragem, resíduos de jardinagem e podas de
jardins, parques e praças, parte orgânica do lixo urbano,
etc.) em processos exotérmicos que geram calor e
consequentemente aumentam a temperatura das leiras.
Salmonella ssp
P/A
Estreptococos Fecais
NMP/100mL
Coliformes Totais
NMP/100g
Coliformes Fecais
NMP/100g
0
30
Ausente
Ausente
0
30
Ausente
Ausente
0
30
Ausente
Ausente
0
30
Ausente
Ausente
≤1,6x107
3,42x108
78,62%
15x106
3,6x10
76%
≥4,77x107
7,8x105
83,64%
5,73x107
2,8x106
95%
≥5x108
3,22x108
35%
≤6,86x108
6,42x107
90,6%
≥4,77x108
1,4x108
70,6%
≥5,73x108
4x107
93%
≤5x108
<200
99,9%
≤3,86x108
<200
99,9%
5,07x107
3,65x105
99,28%
≥5,73x108
<200
99,9%
Dias do
experimento
Leira 1
Redução
Leira 2
Redução
Leira 3
Redução
Leira 4
Redução
Experimentos utilizando restos vegetais e lodo
apresentaram aumentos de temperatura até alcançar a
fase termófila, o que promove a eliminação dos
organismos patogênicos presentes no lodo, desde que por
um período de tempo compatível. Para se fazer a
compostagem, deve-se misturar o lodo com resíduos
orgânicos (restos vegetais picados, palha, bagaço de cana,
etc.). É conveniente que o material orgânico seja picado
em pedaços de 0,5 a 4,0 cm, para permitir boa aeração,
algo fundamental para a atividade dos organismos. A
atividade dos organismos depende também de boa
umidade, sendo indicada entre 55 e 65%. A atividade
microbiana consome nitrogênio na degradação e
ressíntese de matéria orgânica. O carbono é retirado dos
resíduos e o nitrogênio é fornecido pelo lodo. O equilíbrio
ideal, ou bom estado nutricional do composto, apresenta
uma relação C/N entre 20 e 30, ou seja, 20 a 30 unidades de
Carbono para uma unidade de Nitrogênio. A temperatura
acima de 60°C deve ser mantida por um período de no
mínimo 10 dias. Quando a atividade biológica diminui, a
temperatura também diminui. Nesta fase devemos
revolver a leira do composto para promover a aeração e a
mistura dos materiais. Se o composto aquecer é porque o
processo não chegou à estabilidade. Se a temperatura se
mantiver estável, é porque o composto está pronto
(Andreoli et al.,1999).
Na prática, para acompanhar a atividade biológica,
utiliza-se enterrar mais de 0,5 m uma barra de ferro de
construção na leira, deixando uns 20 ou 30 cm para fora.
Ao tocarmos a barra, se atividade biológica for alta, a
temperatura estará em torno de 60°C. Esta temperatura é
o limite em que tendemos a soltar a barra porque está
100
95
75
Tabela 4. Redução de Salmonella spp. estreptococos fecais e coliformes totais no sistema de compostagem com resíduo verde e
lodo aeróbio digerido da estação de tratamento de esgoto Belém, para o período de dia 0 e ao final da fase termófila –no dia 30.
P/A = presença ou ausência em 25 g de amostra in natura.
NMP/100gPS = número mais provável em 100g de peso seco.
Fonte: ANDRAUS et al., 1999.
25
5
0
77
Compostagem de lodo de
esgoto para uso agrícola
atingindo um nível de temperatura desconfortável. Se o
desconforto não for tão grande assim, a temperatura e a
atividade biológica são baixas.
A tabela 4, demonstra a eficiência da compostagem
no processo de desinfecção para redução de salmonela,
estreptococos, coliformes totais e fecais.
Os resultados apresentaram uma média de redução
para estreptococos de 83%. Os coliformes totais
mostraram redução de 72,3% e os fecais, uma redução de
99,8%, dados que demonstram a eficiência da
compostagem na remoção das bactérias entéricas
presentes no lodo.
Assim, a compostagem, nas condições realizadas,
apresenta um produto final com excelentes características
agronômicas, bastante eficaz para eliminar patógenos. O
composto obtido pode ser utilizado para qualquer tipo de
atividade agrícola sem riscos para a saúde humana e
animal (Andreoli et al., 1999).
O processo de compostagem pode ser representado
pelo esquema mostrado na Figura 2.
Matéria
Orgânica
+
Micror+ O2
ganismo
Segundo Fernandes & Silva (1999) no início do
processo há um forte crescimento dos microrganismos
mesófilos. Com a elevação gradativa da temperatura,
resultante do processo de biodegradação, a população de
mesófilos diminui e os microrganismos termófilos
proliferam com mais intensidade. A população termófila é
extremamente ativa, provocando intensa e rápida
degradação da matéria orgânica e maior elevação da
temperatura, o que elimina os microrganismos
patogênicos, de acordo com a figura 3.
Quando o substrato orgânico está em sua maior parte
transformado, a temperatura diminui, a população
termófila se restringe, a atividade biológica global se reduz
de maneira significativa e os mesófilos se instalam
novamente. Nesta fase, a maioria das moléculas
facilmente biodegradáveis foram transformadas, o
composto apresenta odor agradável e já teve início o
processo de humificação, típico da segunda etapa do
processo, denominada maturação (Fernandes & Silva,
1999).
Matéria
Orgânica + CO 2
estável
+ H 2O
+ Calor
+
Nutrientes
Figura 2. Esquema simplificado do processo de compostagem (Fernandes & Silva, 1999).
Os parâmetros físico-químicos fundamentais no
processo de compostagem são: aeração, temperatura,
umidade, relação C/N, estrutura e pH.
Quando o processo de compostagem se inicia, há
proliferação de populações complexas de diversos grupos
de microrganismos (bactérias, fungos, actinomicetos),
que vão se sucedendo de acordo com as características do
meio. De acordo com suas temperaturas ótimas, estes
microrganismos são classificados em psicrófilos (0 - 200C),
mesófilos (15 - 430C) e termófilos (40 - 850C). Na verdade,
estes limites não são rígidos e representam muito mais
intervalos ótimos para cada classe de microrganismo do
que divisões estanques, conforme a tabela 5.
Bactérias
Temperatura
mínima
Temperatura
ótima
Temperatura
máxima
Mesófilas
15 a 25
25 a 40
43
Termófilas
25 a 45
50 a 55
85
Tabela 5. Temperaturas mínimas, ótimas e máximas para as
bactérias, em 0C.
Fonte: Institute for solid wastes of American Public Works
Association, 1970.
Figura 3. Exemplo genérico da evolução da temperatura de
uma leira de compostagem
Estas duas fases distintas do processo de
compostagem são bastante diferentes entre sí. Na fase de
degradação rápida, também chamada de bioestabilização,
há intensa atividade microbiológica e rápida
transformação da matéria orgânica. Portanto, há grande
consumo de O2 pelos microrganismos, elevação da
temperatura e mudanças visíveis na massa de resíduos em
compostagem, pois ela se torna escura e não apresenta
odor agressivo. Mesmo com tantos sinais de
transformação o composto não está pronto para ser
100
95
75
25
5
0
78
Revista Agroambiental - Dezembro/2011
utilizado. Ele só estará apto a ser disposto no solo após a
fase seguinte, chamada de maturação (Fernandes &
Silva,1999).
Na fase de maturação a atividade biológica é pequena,
portanto a necessidade de aeração também diminui
(Fernandes & Silva, 1999). O processo ocorre à
temperatura ambiente e com predominância de
transformações de ordem química: polimerização de
moléculas orgânicas estáveis no processo conhecido
como humificação.
Fernandes & Silva (1999) relatam que estes conceitos
são importantes, pois eles se refletem na própria
concepção das usinas de compostagem. Como na fase de
biodegradação rápida ocorre uma redução de volume do
material compostado, consequentemente a área
necessária para a fase de maturação é menor.
Durante a maturação , alguns testes simples permitem
definir o grau de maturação do composto e portanto a
possibilidade de sua liberação para uso. Ele pode, se
houver interesse, ser peneirado e acondicionado
adequadamente para ser mais facilmente vendido e
transportado (Fernandes & Silva, 1999).
3.Considerações Finais
Quando os parâmetros do lodo de esgoto estiverem
enquadrados nas normas específicas, pode ser aplicado
sem restrições na agricultura. Contudo, deve-se monitorar
o solo em relação aos nitratos, metais pesados, compostos
orgânicos persistentes e patógenos humanos.
A literatura internacional é abundante sobre o assunto,
destacando-se os Estados Unidos e países da Europa
Ocidental. A literatura nacional possui algumas
importantes contribuições, porém é deficientes quanto à
normatização, ao manejo, à fiscalização e ao controle da
aplicação de lodo de esgoto na agricultura. Portanto,
torna-se necessário o engajamento dos órgãos de ensino e
pesquisa nos estudos sobre os efeitos do lodo de esgoto
no solo e seus impactos ambientais.
Segundo Evans (1998), mais de 50mil artigos científicos
pesquisados sobre o assunto apontaram que nenhum
efeito adverso do uso controlado do lodo foi encontrado.
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Sanepar, Finep, 1999. 288 p.
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75
95
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5
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SOCCOL, V.T.; PAULINO, R.C. Riscos de contaminação do
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TSUTIYA, M.T. Características de biossólidos gerados em
estações de tratamento de esgotos. In: TSUTIYA, M.T.;
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Revista Agroambiental - Dezembro/2011
Homenagem ao Professor
Luiz Carlos Dias Rocha
O professor Luiz Carlos Dias Rocha destacou-se como pesquisador de pesticidas de baixo impacto
contra os inimigos naturais da praga, e como articulador de empreendimentos em assentamentos
rurais, agricultura familiar, educação ambiental e desenvolvimento sustentável no norte e sul de Minas
Gerais.
Nascido em 19 de abril de 1977, Luiz Carlos deixou Juramento, sua cidade natal no norte de Minas
Gerais, aos 16 anos, para formar-se como técnico em agropecuária na Escola Agrotécnica Federal de
Inconfidentes (EAFI), no sul do estado, em 1996, e como engenheiro agronômico na Universidade
Federal de Lavras, em 2002. Em Lavras ele também concluiu o mestrado em 2004 e o doutorado em
2008.
Tornou-se professor da EAFI em 2005, ao obter aprovação em concurso público. Sua trajetória foi
marcada pela busca do aperfeiçoamento profissional e do fortalecimento da instituição e da região que
o acolhiam.
Com a transformação da EAFI em campus Inconfidentes do IFSULDEMINAS (Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais), Luiz Carlos trabalhou em conjunto com colegas
do IFSULDEMINAS e de outras instituições de ensino, fechou parcerias e contatos com empresas,
fundações de pesquisa e governos europeus, que hoje apoiam iniciativas no campus Inconfidentes do
IFSULDEMINAS.
Um de seus projetos investigou métodos de controle de pragas do morangueiro. O morango é uma
das principais culturas agrícolas do sul de Minas Gerais, e os resultados dessa pesquisa formaram a base
para a discussão do Sistema de Produção Integrada do Morangueiro.
Em 2007, o professor Luiz Carlos se uniu ao grupo fundador da Revista Agrogeoambiental, a
professora Lillian Pinto e o professor Marlei Rodrigues Franco, este último o idealizador da publicação.
O primeiro volume e os primeiros fascículos foram conquistados com alegria.
Hoje o professor Luiz Carlos é diretor do departamento de administração e planejamento do campus
Inconfidentes do IFSULDEMINAS.
“
Os anseios são muitos, os sonhos são
desafiadores e as realizações serão frutos
da coletividade. Que ao final da próxima
década, possamos comemorar e colher
os frutos do nosso trabalho. Esperamos
que a Revista Agrogeoambiental seja
nossa vitrine!
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Instruções/Informações
aos autores e leitores
Periodicidade.
A Revista Agrogeoambiental é quadrimestral, editada até
Maio, Setembro e Dezembro de cada ano.
Corpo do artigo.
Deve conter o contexto claro do trabalho, informes que
permitam reprodução do mesmo, hipótese(s) testada(s).
Prazo para entrega de artigos.
A Revista Agrogeoambiental recebe artigos originais e de
submissão exclusiva em qualquer momento do ano.
Idiomas.
Português, inglês e espanhol.
Da publicação do artigo.
Poderá acontecer em um dos três momentos do ano. A
Revista Agrogeoambiental enviará para revisores ou
editores colaboradores sem identificação do autor e, após,
o artigo poderá ser publicado sem restrição ou ser
encaminhado ao autor com sugestões de mudança(s) ou
não ser considerado para publicação.
Abrangência.
Trata-se de Revista científica e tecnológica que abrange as
áreas de Agronomia, Zootecnia, Geomática, Geologia,
Engenharia Florestal, Ecologia e Meio Ambiente.
Composição do artigo
Título (Português e Inglês); Resumo; Palavras-chave;
Abstract; Key words; Introdução com Revisão de
Literatura; Material e Métodos; Resultados e Discussão;
Conclusão e Referências bibliográficas. Agradecimento(s);
Fontes de Aquisição e Informe Verbal, quando for
necessário o uso deve aparecer antes das referências.
Antes das referências deverá também ser descrito quando
apropriado que o trabalho foi aprovado pela Comissão de
Ética e Biossegurança da instituição e que os estudos em
animais foram realizados de acordo com normas éticas.
Título.
Descrever em português e inglês (caso o artigo seja em
português) - inglês português (caso o artigo seja em
inglês). Somente a primeira letra do título do artigo deve
ser maiúscula exceto no caso de nomes próprios. Evitar
abreviaturas e nomes científicos no título. Esses devem
aparecer nas palavras-chave e resumo e demais seções
quando necessários.
Envio de artigos para a Revista.
Pelo endereço eletrônico:
[email protected]
Formatação.
Total máximo de 15 páginas (Artigo ou Revisão); até 6
páginas (Nota científica); espaçamento 1,5. Com margens
direita e esquerda de 2,5 cm e superior e inferior de 3,0 cm;
Apresentação.
Com editor de texto Word na versão 97 ou posterior ou
BrOffice; tamanho A4 (210 x 297mm); páginas numeradas;
fonte Times New Roman, tamanho 12; espaçamento 1,5. A
revista é impressa em preto e branco, portanto, gráficos e
figuras coloridas devem ser modificadas para tons de cinza
ou soluções similares.
Título.
Deverá ser apresentado com fonte tamanho 12, maiúsculo,
negrito, centralizado. Autor(es). O(s) nome(s)
completo(s) do(s) autor(es) deverá(ão) ser
acompanhado(s) em linha da(s) Instituição(ões) a(s)
qual(ais) pertence(m) e respectivo(s) endereço(s)
eletrônico(s), separados por vírgula, com fonte tamanho
12, centralizado.
Texto (corpo do artigo).
Com fonte tamanho 12, espaçamento 1,5, justificado.
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Referências bibliográficas.
Apresentadas em ordem alfabética, justificadas a
esquerda, conforme normas abaixo:
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Instruções/Informações aos autores e leitores
1. As citações dos autores no texto. deverão ser feitas com
apenas inicial maiúscula seguidas do ano de publicação,
conforme exemplos: Resultados semelhantes foram
também observados por Silva & Souza (1999) e Soares et
al. (2000), como uma má formação congênita (Batista,
2001; Correa et al., 2002);
2. Referências. As Referências deverão ser efetuadas no
estilo ABNT (NBR 6023/2000) conforme normas próprias
da revista;
3. Citação de livro: MALAVOLTA, E. Manual de química
agrícola: adubos e adubação. 3ª ed. São Paulo.
Agronômica Ceres, 1981. 596p..
4. Capítulo de livro: GORBAMAN, A. A comparative
pathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E.
The thyroid. Baltimore: Williams & Wilkins, 1964. Cap.2,
p.32-48.
5. Artigo completo (citar todos os autores): Sempre que
possível o autor deverá acrescentar a url para o artigo
referenciado e o número de identificação DOI (Digital
Object Identifiers): ROCHA, L.C.D.; CARVALHO, G.A.;
FREITAS, J.A.Toxicidade de produtos fitossanitários
utilizados na cultura do crisântemo para ninfas de Orius
insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera: Anthocoridae). Revista
Agrogeoambiental, Inconfidentes, v.01, n.01,
p.123-134, 2009.
6. Resumos: MARAFELI, P.P.; ZACARIAS, M.S.; REIS, P.R.;
OLIVEIRA, A.C.S.; MESQUITA, D.N. Ocorrência e
identificação de vespas predadoras (Hymenoptera:
Vespidae) em cafezal orgânico em formação (Coffea
arabica L.) e sua relação com a predação do bicho-mineiro,
Leucoptera coffeella (Guér.-Mènev., 1842) (Lepidoptera:
Lyonetiidae). In: SIMPÓSIO DE PESQUISA DOS CAFÉS DO
BRASIL, 5., 2007, Águas de Lindóia. Anais... Brasília:
Embrapa Café, 2007. (CD-ROM)
7. Tese, dissertação, monografia: PINTO, L.V.A.
Germinação de sementes de lobeira (Solanum
lycocarpum) ST. HIL: mecanismo e regulação. 2007. 67p.
Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) - Universidade
Federal de Lavras.
8. Boletim técnico/Circular técnico: SOUZA, J.C.; SILVA,
R.A.; REIS, P.R. Complexo larva-alfinete e larva-arame
importantes pragas subterrâneas na cultura da batata.
Lavras: EPAMIG, 2007. 3p. (Circular Técnica, 6).
9. Documentos eletrônicos: GRIFON, D.M. Artroscopic
diagnosis of elbow displasia. In: WORLD SMALL ANIMAL
VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech
Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006. p.630636. Acesso em 12 fev. 2007. Online. Disponível em:
http://www.ivis.org/proceedings/wsava/2006
/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1
EMBRAPA. Projeto da Embrapa avalia a absorção de
poluentes do lodo de esgoto pelo milho, Jaguariuna, 30
jul. 2009. Acesso em 19 ago. 2009. Online. Disponível em
<http://www.cnpma.embrapa.br/nova/mostra2.php3?id=
528>
10. Agradecimentos: opcional, respeitando-se o máximo
de 15 páginas do artigo.
11. Tabelas, Figuras, Gráficos. Localizados após primeira
referência feita aos mesmos. Figuras e gráficos, com
melhor contraste, devem ser fornecidos por email. Figuras
em formato .jpg ou .gif.
12. Dotas de rodapé. Com fonte Times New Roman
tamanho 10, justificado.
13. Lista de verificação: Atentar para o a “Lista de
verificação” antes da submissão da proposta. A Lista
encontra-se disponível no site na página.
Demais informações.
Sugere-se que informações outras não mencionadas nesta
orientação devam seguir as normas da ABNT. Ou consultar
a equipe editorial da Revista Agrogeoambiental
Endereço:
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação
IFSULDEMINAS (Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Sul de Minas Gerais)
Rua Ciomara Amaral de Paula, 167, Medicina
Pouso Alegre-MG
Cep 37550-000
(35) 3449-6150
[email protected]
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Avaliação mercadológica da borracha natural no Brasil