A AMPLIAÇÃO DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO DO PROUNI E DO REUNI – PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES Cristini Colleoni1 Introdução O presente texto se refere ao projeto de pesquisa apresentado ao programa de PósGraduação stricto sensu em Educação, pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel. O objetivo da pesquisa é fazer uma análise das políticas de ampliação do acesso ao Ensino Superior propostas pelos programas PROUNI e REUNI2, criados pelo governo Lula (2003 – até o presente), no contexto das novas exigências para a Educação Superior na formação dos trabalhadores na atualidade. Diante disso, busca-se compreender quais as razões econômicas, políticas e ideológicas que permeiam estes programas, partindo do pressuposto de que expressam contradições próprias da realidade/sociedade em que estão inseridos. Assim, a partir da análise do PROUNI e do REUNI, pretende-se compreender tanto as políticas de acesso ao ensino superior, quanto os processos de mudança social e as transformações econômicas pelas quais a sociedade passou, a partir de 1990. Políticas para ampliação do acesso ao Ensino Superior – O Prouni e o Reuni Ampliar o acesso ao Ensino Superior e alcançar uma maior equidade com uma formação de qualidade são questões centrais da política educacional proferidas pelo Governo Lula. No início do mandato do então presidente, propostas referentes a este 1 Mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, especialista em Fundamentos da Educação pela mesma instituição, professora da rede pública municipal da cidade de Cascavel e integrante do GEPPES – Grupo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional e Social da UNIOESTE – Cascavel. 2 PROUNI – Programa Universidade para Todos. REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. assunto serviram como pano de fundo das políticas educacionais. Assim, foram implantadas várias políticas voltadas a esta finalidade e diversas Instituições de Ensino Superior foram instituídas, bem como foram criados novos tipos e modalidades de cursos. Dentre as medidas criadas pelo Governo Lula (2003 - até o presente), referentes à ampliação do acesso ao Ensino Superior, os programas PROUNI e REUNI são os que mais marcaram as políticas educacionais voltadas para esta modalidade de ensino. O Brasil tem vivenciado novas experiências com relação a estas transformações, o que serve como importante referência para a análise dos desafios da Educação Superior na sociedade contemporânea e, em especial aos países em desenvolvimento visto que, historicamente, a Universidade é a responsável pela formação dos trabalhadores que auxiliarão no desenvolvimento do país. Nas primeiras leituras das legislações e das entrevistas concedidas por representantes do governo Lula, referentes aos programas PROUNI e REUNI, observouse que houve um considerável aumento no número de estudantes ingressos em Instituições de Ensino Superior. Só com o PROUNI, segundo o site “http://siteprouni.mec.gov.br”, até o primeiro semestre de 2010, mais de 700 mil estudantes já foram beneficiados pelo programa que, tem como meta principal, o acesso à Universidade para estudantes de baixa renda e para professores da rede pública. No caso do REUNI, uma forte expectativa foi gerada no tocante à expansão das Universidades Federais. O governo Lula afirmou na criação do respectivo projeto que construiria novas Unidades, incentivaria a abertura de novos cursos, bem como ampliaria os recursos para tais instituições, expandiria o número de jovens na Universidade e preencheria as vagas ociosas existentes. Segundo o site “maisbrasilparamaisbrasileiros.wordpress.br”, a meta é abrir 1.248 novos cursos e criar mais de 93.400 vagas até 2012. Entretanto, nas análises feitas em Colleoni (2009) e Trópia (2009), percebeu-se que ambos os programas acenam para um crescimento no número de vagas no Ensino Superior, mas apresentam alguns problemas. No PROUNI, um deles diz respeito às pessoas que são por ele beneficiadas, pois segundo o próprio MEC, os dados apresentados para a inscrição no programa nem sempre são fidedignos. Além disso, o governo federal, com a criação desse programa, por meio de alguns artifícios, parece investir mais no ensino privado do que nas Universidades Públicas, sendo que, o ensino público, a priori, é uma das principais reivindicações não apenas dos professores, mas também dos alunos, ou seja, da comunidade. O REUNI, conforme as Diretrizes Gerais do Decreto Presidencial nº 6.096 (BRASIL, 2009a), tem dentre outras propostas, o objetivo de ampliar e garantir a permanência no Ensino Superior Público bem como, pôr fim às vagas ociosas que existem em diversos cursos de graduação, além de propor a reestruturação acadêmico/curricular, objetivando elevar a qualidade do ensino, dentre outras medidas. Mas, parece que há uma grande polêmica em torno de uma das variadas metas do REUNI, que diz respeito à proporção do número de alunos por professor. Nas primeiras aproximações com o tema, observou-se que professores novos, chamados professores-equivalentes (não efetivos), seriam contratados para atender à demanda de alunos, porém, estes professores teriam uma carga horária excessiva e desproporcional às condições e exigências do trabalho. Assim, a questão do acesso – democratização - e equidade no Ensino Superior faz parte do que se pretende analisar no trabalho de dissertação. Percebe-se que há, aparentemente, por parte dos governantes, a preocupação em ampliar o número de alunos nas Universidades, com discursos que afirmam ser a educação a responsável pela formação e qualificação da mão-de-obra. Entretanto, questiona-se quais as condições que estão levando o governo Lula (2003 – até o presente) a ampliar o número de alunos no Ensino Superior, visto que elas fazem parte de todo um processo de readequações relacionadas ao modo de produção capitalista e a mudança cultural advinda da consolidação da ideologia neoliberal, representada pela figura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sendo assim, considera-se importante compreender as transformações ocorridas no capitalismo que a partir de 1990, resultaram em Reformas Estatais, no caso do Brasil e passaram a exigir mudanças na educação, em especial na modalidade do Ensino Superior. Escolheu-se o PROUNI e o REUNI por se tratarem de programas que defendem o acesso a Universidade e, de certa forma, parecem ter expandido o número de vagas tanto em Universidades privadas (PROUNI) quanto nas públicas (REUNI). Em outras palavras, estes programas são considerados democráticos, pois segundo o discurso do governo Lula, possibilitam o acesso à Universidade para aqueles que até então se viam longe dela. Segundo o Ministro da Educação, Fernando Haddad, em entrevista à Rede de Comunicadores no Portal do MEC em 28 de abril de 2009, o governo federal, desde que iniciou as reformas para o Ensino Superior, dobrou, nos últimos seis anos, as vagas de ingressos a este nível de ensino que antes eram de apenas 113 mil vagas disponíveis a cada processo seletivo e hoje passam de 227 mil. Assim, questiona-se: Neste contexto, quais as razões econômicas, políticas e ideológicas que permeiam os programas de acesso à Universidade? Na mesma entrevista, o ministro afirmou que mais de 20 mil vagas foram canceladas nos cursos de Direito de instituições que, segundo ele, não prezam pela qualidade e compromisso com a educação. Contudo, estas políticas de acesso estão garantindo a qualidade e a permanência dos estudantes nas Universidades? Isto porque, como apresentado por Mazzuco e Teixeira (2009) e apontado brevemente acima, percebeu-se que dentre muitos aspectos democráticos trazidos pelos programas PROUNI e REUNI, determinadas ações podem colocar em risco a qualidade dos cursos ofertados por estas Instituições de Ensino Superior. Atualmente, a ampliação do acesso ao Ensino Superior tem sido assunto relevante para a sociedade. Desde governos anteriores ao do presidente Lula, a reforma do Ensino Superior tornou-se objeto da ação político-administrativa e hoje, com o PROUNI e REUNI, está adquirindo um determinado formato. Após o tenso período de crises relacionadas ao modo de produção capitalista e do modelo ditatorial vivenciado no Brasil entre os anos de 1964 e 1985, a educação passou a ser vista como a principal medida para o desenvolvimento do país, no contexto do mercado global competitivo. Assim, foram implantadas diversas políticas públicas advindas dos Organismos Internacionais, patrocinadas pelos países do capitalismo central. Na elaboração dessas políticas, diversos procedimentos e ajustes referentes à educação devem ser cumpridos pelos países em desenvolvimento que, como se sabe, são subsidiados pelos países ricos como os Estados Unidos, por exemplo. Neste sentido, as políticas de ampliação do acesso ao Ensino Superior também podem ser consideradas medidas que estão envoltas por intenções não apenas de interesse da classe trabalhadora que busca uma graduação ou qualificação, mas também das intenções do Estado em atender as exigências impostas pelos Organismos Internacionais. O atual governo ao implantar programas como o PROUNI e REUNI, cumpre o que é de dever do Estado. O direito à educação gratuita e de qualidade já havia sido anunciado na Lei Maior do Brasil, a Constituição de 1988, mas parecia esquecido. Assim, pretende-se mostrar que o fato de resgatá-las e implementá-las por parte do Governo Lula é de suma importância. Porém, é preciso entendê-las, pois, pelo que se percebe, tais programas são proclamados como democráticos no sentido de que oferecem acesso à Universidade. Mas, parte-se do pressuposto de que as políticas sociais advindas do Estado geralmente estão voltadas para atender aos reais interesses da classe dominante 3 e não da classe trabalhadora. Os anseios que impulsionam os jovens na luta pelo acesso ao Ensino Superior estão cada vez mais presentes na sociedade atual. O direito está garantido por lei. Porém, o acesso era, até então, restrito à classe que detém os modos de produção. O governo Lula iniciou seu mandato anunciando que a educação também faria parte do “carrochefe” de seu governo. Logo, para cumprir com a promessa de “Educação Para Todos”, programas como o PROUNI e REUNI foram criados. Todavia, parte-se da ideia de que as políticas voltadas para o acesso ao Ensino Superior, em especial o PROUNI e o REUNI, possuem várias contradições que se pretende analisar com esta pesquisa. Deste modo, é necessário compreender a difusão dessas políticas, no momento atual, bem como as razões que impulsionaram o governo a criá-las, pois se concebendo a democracia como burguesa (SAES, 2001), estas políticas, ditas democráticas atendem a determinados interesses por parte da classe dominante. Mas, por outro lado, a classe trabalhadora também pode ser beneficiada, pois de certa forma, está tendo acesso a Universidade. Considera-se importante analisar a que interesses estão pautadas as políticas para democratização do acesso ao Ensino Superior, proclamadas como redentoras e o que significaria esta democratização, no contexto da democracia formal. Cabe deixar claro que não está se afirmando que a educação não possa trazer mudanças. Mas esperar que ela, por si só, transforme a sociedade capitalista é quase uma utopia. 3 C.f. MARX, K. & ENGELS, F. A ideologia Alemã. São Paulo: Martin Claret, 2008. Desta forma, no decorrer da pesquisa, buscar-se-á compreender como estão inseridos os programas PROUNI e REUNI no processo de ampliação do acesso ao Ensino Superior, bem como, as mudanças que estão ocorrendo em relação a esta modalidade de ensino e que fomentam as razões do aumento do número de vagas, cursos e instituições. Nos últimos anos, as transformações ocorridas no modelo capitalista como, por exemplo, a flexibilização da economia e a reforma Estatal da década de 1990, no Brasil especificamente, passaram a exigir reformas relacionadas ao acesso ao Ensino Superior. Assim, diversas políticas voltadas a este nível de ensino foram criadas. Dentre estas políticas, há as de incentivo à ampliação de vagas em Universidades Públicas e Privadas. Segundo Dourado e Oliveira (1999, p. 5), as transformações no mundo do trabalho devem ser contextualizadas nos atuais “cenários contemporâneos” que se baseiam na inter-relação de três matrizes fundamentais, a saber: “a revolução técnicocientífica ou tecnológica, o processo de globalização e o projeto neoliberal” (DOURADO e OLIVEIRA, 1999, p. 5 e 6). Para os referidos autores, as transformações na sociedade contemporânea resultaram no aumento do desemprego, da fome, da miséria, violência, exclusão social, enfim, contribuíram para o crescimento da desigualdade e da divisão de classes e passaram a exigir a reestruturação da produção e do trabalho, que colocaram em xeque a formação e qualificação do trabalhador. Para Dourado e Oliveira, Tal questão relaciona-se, de um modo geral, com o processo de globalização do capital, pautado pela competição, por um padrão de eficiência e pela minimalização do papel do Estado, pela reestruturação produtiva que incorporou e incorpora, cotidianamente, os avanços tecnológicos e as novas técnicas de organização da produção e do trabalho (DOURADO e OLIVEIRA, 1999, p. 7). O discurso da eficiência e qualidade passou então a redirecionar a expansão do Ensino Superior com a finalidade de modernizar a sociedade de acordo com os moldes dos ajustes do capitalismo, que se transformava desde a década de 1970. As reformas educacionais na América Latina e em especial no Brasil vêm sendo implementadas com base na cartilha de instituições multilaterais como o Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, dentre outros. Porém, com a criação do PNE4, no governo FHC (Fernando Henrique Cardoso), uma das constatações consideradas grave no diagnóstico referente ao Ensino Superior, diz respeito ao baixo índice de acesso à universidade o que, segundo o PNE, exige políticas de ampliação do acesso, “objetivando atender à crescente pressão pela sua expansão, de modo a atingir patamares mais aceitáveis de acesso no panorama latinoamericano” (DOURADO e OLIVERIA, 1999, p. 16). Entretanto, essas políticas devem se equilibrar entre os setores públicos e privados de forma que mantenham “a diversificação do sistema de educação superior e, consequentemente, pela superação do modelo único (indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão)” (Idem). Contudo, o que parece ficar claro é a preocupação em atender a demanda em relação à ampliação das vagas - a democratização do acesso à universidade – porém, como medida para evitar o conflito entre as classes antagônicas da sociedade, sem a garantia da democratização, da equidade da qualidade e dos recursos necessários a esta modalidade de ensino. No decorrer da década de 1990, a reforma do Estado redefiniu o papel da educação no mundo globalizado. O Estado, cumprindo seu papel, transferiu para os diferentes setores a responsabilidade para com a educação. No entanto, no início do governo Lula, propostas relacionadas a este tema voltaram a tomar força nas propostas de campanhas eleitorais e dos planos de governo. E, segundo Silva Júnior (2007, p. 89) é necessário deixar claro o cenário a que se encontrava o Ensino Superior no Brasil, após o governo de FHC. Nos dados do MEC/INEP, em 2004, as vagas públicas neste nível de ensino tiveram acréscimo de 16% e 84% no setor privado5. Essa diferença entre o setor público e privado se deu, segundo o autor citado, pela expansão das IES (Instituições de Ensino Superior) privadas em virtude da reforma do Estado, encabeçada por Luiz Carlos Bresser Pereira, em 1995, no governo de FHC. Silva Júnior também aponta o grande número de vagas ociosas tanto nas universidades públicas quanto nas privadas e segundo ele, isto se deu por vários fatores dentre os quais está à grande desigualdade entre as classes na 4 O PNE é o Plano Nacional de Educação, criado no governo FHC como uma das exigências da nova LDB 9.394/96. 5 Cf. SILVA JÚNIOR, João dos Reis. Reforma Universitária: A nova forma histórica das esferas pública e privada no início do século XXI. In: Educação, sociedade de classes e reformas universitárias / Paulino José Orso (org.). – Campinas, SP: Autores Associados, 2007a. P. 87 – 120. sociedade capitalista. Neste sentido, em relação às universidades privadas, diferentes medidas foram tomadas como, por exemplo, a fusão de turmas com baixo número de alunos, atrasos nos salários dos professores, etc. O outro agravante é devido ao crescimento no número de IES privadas que passou para 45%, entre 2001 e 2003, aumentando consideravelmente o número de vagas ociosas nestas instituições. A origem destes problemas se encontra também, segundo Silva Júnior, nas promessas de transformações e do “novo cidadão brasileiro” do projeto político do governo FHC (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 95 e 96). FHC, num movimento de atualização de sua teoria da dependência, em sua prática política à frente da presidência, governou conforme o capital financeiro internacional, preocupando-se tangencialmente com o capital nacional industrial e com o fortalecimento de um capital produtivo brasileiro (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 96). Nas reformas universitárias do governo FHC, ficou então constatado o incentivo às IES privadas enquanto as universidades públicas eram tratadas com descaso, como citado anteriormente. Neste contexto de crises também relacionadas à educação, Lula assumiu o poder com uma grande diferença de votos e com a crença de grande parte da nação em suas propostas de governo que trouxeram, dentre várias, as políticas para o Ensino Superior. Com a intenção de cumprir uma das metas propostas pelo PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação6 e as promessas de ampliação do acesso ao Ensino Superior, o governo Lula criou a partir da medida provisória nº 213 de 2004, o PROUNI – Programa Universidade Para Todos, instituído pela Lei nº 11.096 de 13 de janeiro de 2005 – e o REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, pelo decreto nº 6.096 de 24 de abril de 2007. Porém, como citado inicialmente neste texto, há várias contradições nestes programas e que geram as seguintes questões: Quais as razões econômicas, políticas e ideológicas que permeiam os programas de acesso ao Ensino Superior? Quais os 6 O PDE foi lançado pelo MEC no dia 24 de abril de 2007, pelo decreto nº 6.094/2007, com a promessa de garantir a qualidade da educação brasileira. O Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, como também é conhecido, foi comparado com o antigo PNE, criado no governo FHC, anunciando que superaria as metas da gestão anterior e acrescentaria novas medidas para a efetivação das políticas educacionais brasileiras. Para saber mais: SAVIANI, Dermeval. PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação: Análise crítica da política do MEC. Campinas, SP: Autores Associados, 2009. interesses do Estado com a criação destas políticas? Políticas que ampliam o número de matrículas, mas colocam em xeque a qualidade da educação desvinculando o tripé ensino, pesquisa e extensão, que buscam atender recomendações de organismos multilaterais para os países em desenvolvimento, reafirmam a divisão de classes da sociedade capitalista, enfim, podem ser consideradas medidas de democratização do acesso ao ensino? Parecem estranhas as medidas que buscam o desenvolvimento do país pela universidade, mas que colocam em risco as questões de equidade, permanência e acesso. Além do mais, outra interrogação que se tem, se refere ao PROUNI. O programa foi criado em 2003, logo no início do mandato do presidente Lula, período este em que as universidades públicas se encontravam praticamente sucateadas em relação às IES privadas que apesar das crises de inadimplência, entre outras, ampliavam-se diariamente, tanto que no ano de 2004, já chegava a 90% o número total destas IES, no Brasil (SANTOS, 2008). Ao invés de priorizar o ensino público, o governo criou um programa voltado para a iniciativa privada. Por que não se foi pensado inicialmente, em atuar em prol do ensino público que preza pelo tripé ensino – pesquisa – extensão, levando em consideração que a educação pública e gratuita é direito de todos? Retomando os governos posteriores à ditadura militar brasileira, observou-se que desde os governos Collor e FHC, nos quais os pressupostos do neoliberalismo se efetivaram no Brasil, o Estado brasileiro tem criado diversas políticas sociais, de caráter assistencialista e minimalista apoiados na ideia de democratização e com o intuito de desenvolver o país. A educação, neste sentido, é apresentada como a alternativa para isso. Os dados estatísticos disponíveis no site do MEC das políticas voltadas para a ampliação do acesso ao Ensino Superior, provindas do governo Lula (2003 – até o presente), demonstram um acréscimo no número de matrículas em Instituições de Ensino Superior. Assim, não se pode negar que elas certamente significam um avanço na História da Educação Brasileira. Entretanto, estes programas permitem outras análises sobre suas conveniências. Uma delas refere-se ao Estado. Segundo a concepção marxista, este tem uma função a cumprir. De acordo com Saes, esta função é “assegurar a coesão da sociedade de classes vigente, mantendo sob controle o conflito entre as classes sociais antagônicas (...)” (SAES, 2001, p. 96). Desta forma, pode-se dizer que programas que visam o aumento do número de estudantes no Ensino Superior possuem várias contradições – que se pretende investigar e analisar no trabalho de dissertação - e, uma destas sem dúvida, é o fato da exigência de cumprir apenas a ampliação nos números de alunos matriculados em Universidades, mas possibilitando, ao mesmo tempo, o acesso ao Ensino Superior pela camada da população mais ameaçada pelas desigualdades sociais e que até então se mantiveram aquém da Universidade. Não se pode esquecer que um novo modelo de sociedade com uma educação de qualidade e melhores condições para todos, só ocorrerá mediante a intensa luta de classes. E, neste contexto de mudanças no Ensino Superior, deve-se ter sempre em mente quais as razões que justificam a expansão do acesso à Universidade, pois esta é considerada o espaço de possíveis transformações e, concordado com Orso, Reformar a universidade seriamente, portanto, implica considerar que a sociedade se constitui num espaço de conflito, de lutas e disputas sociais tendo em vista a construção de um projeto de vida, sociedade e de homem. Cabe aos que querem outro tipo de educação lutar por outro tipo de sociedade (ORSO, 2007a, p. 7). Somente com a luta por um ensino de qualidade e pelas melhores condições na educação pública, com políticas que vão desde o Ensino Básico até o Ensino Superior é que se poderá afirmar que a educação no Brasil é para todos. Esta sociedade não está pronta e acabada. Ela está em constante transformação e os rumos que ela toma são ditados pelos sujeitos que fazem a história e que tem o poder de transformá-la. Assim, são nas lutas de classes contra as contradições da sociedade capitalista que se devem travar as primeiras mudanças. A universidade é um espaço de lutas e decisões. Por isso, é preciso continuar na defesa do acesso e na garantia da qualidade do ensino, principalmente, público. O direito à educação de qualidade está garantido em lei. Logo, é dever do Estado cumpri-lo. Considerações finais Como apresentado inicialmente, este texto é parte do projeto de dissertação que se pretende desenvolver durante o curso de Mestrado em Educação, pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Desta forma, as conclusões que se chegou até aqui foram baseadas nas primeiras aproximações com o tema e se apresentam como suposições. Para a efetivação do trabalho, considerando-se que as políticas para a ampliação do acesso ao Ensino Superior são decorrentes das transformações ocorridas no Brasil, a partir da década de 1990, considera-se essencial buscar suporte em autores que explicitem as transformações no modelo capitalista e que passaram a exigir a ampliação no número de vagas nesta modalidade de ensino. Desta forma, é importante recorrer à história e compreender os motivos que justificaram tais políticas. Em seguida, pretendese analisar as políticas para ampliação do acesso ao Ensino Superior pelos programas PROUNI e REUNI. Para tal, será feito um estudo bibliográfico apoiando-se em autores que pesquisam sobre o tema, contextualizando estas políticas com o processo histórico da educação, nos últimos anos. Além disso, é essencial que se analise a legislação sobre o Ensino Superior. Portanto, far-se-á um levantamento e estudo das políticas educacionais do governo Lula, dentre as quais estão à legislação dos programas em foco, o Plano Nacional de Educação, a LDB, os informativos do MEC referentes ao REUNI e ao PROUNI, entre outros. Referências Bibliográficas: BRASIL. Decreto Nº 6.096, de 24 de abril de 2007. Institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/diretrizesreuni.pdf. Acessado em: 20/09/2009a. _______. Vagas no ensino superior quadruplicam. Disponível http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=11941. Acessado em 20/09/2009b. em: _______. Diretrizes Gerais do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/diretrizesreuni.pdf. Acessado em agosto de 2010. _______. 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