ENTRE DOIS MUNDOS: TRAJETÓRIAS DOS ESTUDANTES DOS ANOS
FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL E OS SIGNIFICADOS DA ESCOLA
LONGE DE CASA.
INTRODUÇÃO
O estudo em tela tem como ideia central o percurso de escolarização de estudantes da
Educação Básica. O foco é compreender os significados da escola para estudantes do
Ensino Fundamental que frequentam escolas públicas do Plano Piloto de Brasília. O
estudo será apresentado em dois artigos, quando este abordará estudantes dos anos
finais do Ensino Fundamental e o outro dos anos iniciais. Os dados fazem parte de um
projeto de pesquisa maior, realizado no seio da formação docente, no subprojeto
Educação Física do Pibid/UnB, que analisa a cultura das escolas públicas do Plano
Piloto de Brasília. Pretende como produto final, alicerçar planos de intervenção
pedagógica nas práticas corporais típicas da Educação Física, adequadas para aquela
realidade sociocultural.
O entendimento dos significados da escola para o percurso escolar dos estudantes é
relevante devido à particularidade que impõe o contexto. No Senso comum, entende-se
que o atendimento nas escolas públicas do Plano Piloto é feito prioritariamente para
estudantes das camadas populares que não tem acesso a escola privada e/ou pelo motivo
de seus responsáveis trabalharem perto das escolas, tendo o local de residência como
cidades-dormitórios. Essa representação da realidade é repetida como mantra pelos
membros da comunidade escolar e mesmo nas cadeiras universitárias de formação de
licenciados. Entretanto, pelas observações mais aguçadas dos participantes da pesquisa,
tal modelo não perece ser preciso ou passível de tamanha generalização.
Importante, então, entender Brasília, considerada uma utopia urbana. O relatório de
Lúcio Costa submetido ao concurso público que levou a construção de cidade
considerando a ideia de manter a paisagem natural. Em essência, o Plano Piloto,
proposto por Lúcio Costa, segue as seguintes características: setorização, separação da
circulação de pedestres e veículos, unidades de vizinhança, adensamento através da
concentração da população em edifícios, inclusão de áreas verdes no tecido urbano,
esvaziamento funcional do centro e expansão pré-definida de sua estrutura urbana, com
previsão de cidades satélites. São nessas cidades que moram grande parte dos sujeitos
analisados na pesquisa.
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Brasília é dividida em quatro escalas urbanísticas. São elas a Escala Monumental concebida para conferir a cidade a marca efetiva de capital do país; Escala Gregária concebida o centro nevrálgico de Brasília, em torno da intersecção dos Eixos
monumental e Rodoviário; Escala Residencial - proporcionando uma nova maneira de
viver, própria de Brasília, configurada ao longo das Asas Sul e Norte do Eixo
Rodoviário Residencial; e Escala Bucólica – conferindo o caráter de cidade-parque,
configurada em todas as áreas livres. Assim, em decorrência da apropriação do projeto
original pela população, observa-se hoje uma visível distinção urbanística entre o Plano
Piloto e as Cidades Satélites.
Brasília com o Plano Piloto - patrimônio histórico da humanidade - e as outras regiões
administrativas do DF, conhecidas como cidades satélites e que vivem em função da
vida econômica da capital, apresentam profundas distinções. Brasília possui por volta
de 200 mil moradores, como previsto no projeto original. Entretanto, o Distrito Federal
(DF) possui, segundo o Censo de 2010, 2.570.160 habitantes, com taxas de crescimento
populacional que duplicam a média nacional¹. É a quarta unidade da federação que mais
cresceu entre 2000 e 2010, atrás de Amapá, Roraima e Acre. Patriota e Vasconcelos
(2012) afirmam que Brasília é uma metrópole que atrai populações para as mais
diversas atividades. A expansão da malha urbana de Brasília tem sido efetuada, ao
longo do tempo, por meio de processos alternados de ocupação espontânea e
loteamentos informais, de um lado, e do estabelecimento de novas “cidades-satélites” e
“setores habitacionais”. O universo simbólico (VELHO, 1981, 1994) dos moradores do
DF se constitui a partir da construção da nova capital, quando os trabalhadores,
candangos, que ergueram a capital passaram a não habitar as residências do Plano
Piloto, mas em Cidades Satélites. No início, estas eram deficitárias em relação as
condições de emprego, educação, saúde e lazer, por isso os moradores/trabalhadores
passaram a utilizar os aparelhos urbanos instalados no Plano Piloto para satisfazerem
suas necessidades. Verifica-se que esta situação perdura até o presente, porém em
algumas cidades observam-se mudanças. Percebe-se a distinção entre morar no PlanoPiloto ou na periferia a partir das relações físicas e sociais e os significados que lhe são
atribuídos pela população que circula pelo DF. Nessa intensa interação social, vai se
constituindo a construção de distintos universos simbólicos sobre o morar e
trabalhar/estudar no DF.
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Tomando, então, a problemática dos estudantes que frequentam a escola longe de casa e
a percepção de que a resposta do senso comum sobre os motivos dessa escolha não
poderia ser generalizada, decidiu-se por olhar o fenômeno pela lente da análise dos
indivíduos e suas singularidades.
Estudar o contexto sociocultural a partir dos indivíduos não é, ainda, comumente
entendido como uma possibilidade sociológica fidedigna. Entretanto, Lahire (1997), no
estudo sobre as razões de sucesso nos meios populares, observou a importância do
estudo dos indivíduos para encontrar indicadores que tornassem mais claro como
estudantes dentro de um mesmo contexto sociocultural encontravam resultados
diferentes em seus percursos escolares. Patriota e Vasconcelos (2012), por sua vez,
estudaram uma realidade mais próxima ao contexto desta pesquisa ao investigar os
trajetos e trajetórias de mulheres estudantes da UnB que moravam na periferia e como a
escolha por um tipo de transporte para circular de casa para a universidade é cercado de
uma complexa teia de relações e sentidos sobre o que seja morar na periferia e estudar
na Universidade de referência em excelência da cidade.
Considerando os dois estudos citados, observa-se uma lacuna importante. Apesar de não
ter como foco de trabalho os trajetos realizados pelos sujeitos estudados, Lahire (1997)
não se ateve a relação entre local de moradia e local da escola quando apontou as
diversas dimensões de contexto que envolvia o desempenho escolar em seu trabalho.
Patriota e Vasconcelos (2012), por sua vez, estudaram jovens adultas da UnB. Evidente
que, apesar de se situar na mesma cidade deste estudo, a faixa etária diferente e o
contexto que apresenta uma única opção de ensino superior público para jovens, torna
os significados individuais de tipo e peso diferentes. No caso dos estudantes do Ensino
Fundamental, existem possibilidades de escolas públicas próximas de suas residências.
Ao que se acredita no trabalho pedagógico, de forma geral, é fulcral ter identificação ou
gosto pela escola que se estuda para se adquirir desejo de aprender. Se, como no caso do
presente trabalho e contrariamente ao padrão da maioria das cidades, as escolas se
situam em locais e universos simbólicos diferentes do seu ambiente familiar, que
significados isso traria aos estudantes?
Assim, o objetivo específico deste trabalho é compreender quais os significados
singulares que os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental conferem sobre
morar na periferia e estudar nas escolas públicas do Plano Piloto de Brasília.
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DECISÕES METODOLÓGICAS
A construção coletiva do presente trabalho tem origem nas discussões e elaborações do
projeto de intervenção nas escolas atendidas pelo subprojeto Educação física do
Pibid/UnB. Tomando a ideia de educação pela pesquisa (1997), os licenciados deveriam
conhecer o contexto das escolas vinculadas e levantar questões sobre as particularidades
daquela cultura escolar que os intrigassem. As próprias experiências de vida e escola
dos licenciados no contexto urbanístico singular da cidade levaram ao debate ora
proposto como objeto de formação. Ao mesmo tempo, o grupo de trabalho estudava
conceitos das ciências sociais, tentando encontrar paralelos entre as análises das
sociedades complexas contemporâneas (VELHO, 1981, 1994) e da sociedade dos
indivíduos (LAHIRE, 1997) com a realidade escolar que vivenciavam. O conceito de
trajetória e a possibilidade de se realizar estudos considerando as individualidades antes
de generalizações imaginadas foi central na motivação de realizar o trabalho.
O conceito de “trajetórias” em Velho (1981, 1994) se tornou a chave explicativa para se
pensar o fenômeno. Diferente de “trajetos” – o caminho físico que os indivíduos se
apropriam ao circular pela cidade em busca de solucionar seu cotidiano, “trajetórias” é o
conjunto dos caminhos, físicos e simbólicos, pelos quais se constituiu o individuo em
sua história de vida e, portanto, lhe dá sentido para suas escolhas singulares
(PATRIOTA, VASCONCELOS, 2012). Assim, as diferentes possibilidades de
mobilidade entre os indivíduos tentam ser captadas pelo conceito de trajetória - um
processo social transitório integrado por experiências e vivências pessoais, abarcando
diferentes temporalidades, acarretando discernimento na percepção cultural, habitual e
na compreensão da estruturação de história enquanto indivíduo. Isto, diretamente
interligado às suas relações de interdependências do campo ao qual é pertencente e da
maneira como é capaz de interpretá-lo. A lucidez sobre este termo possibilita o domínio
sobre realidades consideradas diferentes, acarretando rudimentos na diversidade de
singularidades histórico-sociais.
O desenho metodológico seguiu as pesquisas de Lahire (1997) e Patriota e Vasconcelos
(2012), adaptado ao tempo e circunstâncias da rotina de trabalho do Pibid. Os dados de
campo definiram as categorias de analise aprofundadas. A primeira categoria foi
chamada de escolha pela escola, que dirigiu o olhar dos pesquisadores para os motivos
expressos pelos sujeitos para definirem a escola que estudam. A segunda, os trajetos,
que analisou a rotina cotidiana dos estudantes no ir e vir da casa-escola-casa. Na
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maioria dos casos, se teve acesso a informação pela narrativa do sujeito. Entretanto,
muitas vezes foi possível uma confirmação da informação pelos pais ou por acompanhar
o sujeito no trajeto casa-escola-casa. Essa diferença estará registrada no relato para
efeito de precisão do dado, mas o importante para o estudo é como os sujeitos
apresentam a narrativa de si para organizar sua auto identidade (GIDDENS, 2002).
Foram selecionados por cada um dos licenciados/pesquisadores cinco estudantes que
tivessem maior proximidade e facilidade de acesso, tanto na escola quanto no trajeto
casa-escola. Durante quatro meses os licenciados/pesquisadores acompanharam a vida
escolar dos estudantes e, com o tempo foram sendo definidos como sujeitos da pesquisa
os estudantes que se mostraram mais solícitos em compartilhar suas experiências e
compreensões da escola com os licenciados/pesquisadores. Ao final 6 estudantes
compuseram os sujeitos deste trabalho. Os nomes apresentados são fictícios para
preservar o anonimato. Além do acompanhamento das atividades escolares, os
licenciados/pesquisadores procuraram levantar informações com os pais, professores e
registros escolares dos estudantes. Os dados foram registrados em diário de campo e
analisados através de uma planilha comparativa. Em todas as situações, os dados foram
analisados considerando-se o estudo etnográfico mais amplo da cultura escolar e dos
dados referentes ao atual contexto urbanístico de Brasília. As interpretações e conclusão
foram resultado de dinâmicas de discussão entre os pesquisadores durante todo o
processo.
DISCUSSÃO DE DADOS
Contexto escolar
O Centro de Ensino Fundamental 02 de Brasília foi anexo de outra escolas da rede de
ensino. Passou a ter tal designação em 1994, atendendo antiga quinta a oitava séries.
Desde 2011 é uma escola de Ensino Integral, por consequência disto as séries foram
reduzidas e hoje só atende estudantes do sexto e sétimos anos. Com relação à estrutura a
escola possui oito salas de aula, um laboratório de informática com pouca
funcionalidade dos computadores, servindo muitas vezes de depósito para materiais,
uma biblioteca, uma sala de coordenação, uma sala para a direção, local destinado à
secretaria, sala dos professores, lanchonete privada, cantina, banheiros para uso dos
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estudantes, bebedouros, SOE (Serviço de Orientação Educacional) e o SAA (Serviço de
Auxílio Aprendizagem). A escola está dividida em sete turmas, quatro de sétimos anos e
três de sextos anos, sendo estudantes de 11 a 15 anos, com a totalidade de 230 alunos.
Ao aderir o ensino integral, passou a ter a participação de Jovens Educadores através do
PDAF¹ (Programa de Descentralização Administrativa e Financeira), e tem em sua
grade curricular atividades no CIL (Centro Interescolar de Línguas de Brasília), CIEF
(Centro Interescolar de Educação Física), para o deslocamento entre o CEF 02 e estes
Centros de Ensino citados, quatro ônibus escolares públicos são utilizados pelo
recebimento do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e contando
com atendimento de monitores específicos para esta atividade.
Está situado em uma área residencial da Asa Sul – Plano Piloto, na superquadra 107
Sul, fazendo parte da Unidade de Vizinhança I, esta Unidade seria o conjunto de quatro
superquadras², sendo um lugar de confluência das escalas bucólica, gregária e
residencial, se destinando a ser a área de moradia dos trabalhadores e de comércio local
para o atendimento das necessidades básicas e diárias. E tendo como característica da
localidade um grande centro urbano de Brasília, próximo à escola temos uma área
residencial vertical, ou seja, é composta por prédios, temos um parque infantil, uma área
verde e uma prefeitura da quadra.
Descrição dos estudantes
1. Maria tem 14 anos de idade, estudante do 6º ano, é identificada como DI
(deficiente intelectual) pela direção da escola. Observa-se que é uma estudante
tranquila, comportada, que não se envolve muito com o restante da turma e
demonstra dificuldades em algumas disciplinas. Nasceu no Plano Piloto, mas
não se sabe realmente se morou nessa região. Hoje é moradora do Paranoá, uma
cidade satélite distante 32 KM de Brasília, sendo uma região que surgiu para
abrigar os primeiros trabalhadores para as obras da barragem do lago. Tem
istalacoes de infraestrutura básica, serviços urbanos de pouca qualidade, falta de
empregos e situações críticas de violência. A estudante mora com sua irmã, sua
mãe que é separada e trabalha no Cruzeiro Velho, próximo ao Plano Piloto, e o
seu pai mora em outra cidade, com sua nova esposa e seu filho de 3 anos. A
estudante relata não visitar frequentemente seu pai que a telefona poucas vezes.
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2.
João tem 13 anos de idade, estudante do 7º ano, pardo, magro e de estatura
média, observa-se que é um estudante comunicativo, sociável com todos da
escola e com bom rendimento nos esportes. Nasceu em Brasília, morador do
Cruzeiro, uma R.A com uma distancia de 5,8 KM de Brasília, local tranquilo
devido à qualidade de vida da população que tem em média uma renda mensal
alta, considerada um patrimônio histórico e artístico da humanidade, sendo
próximo do Parque da Cidade Sarah Kubitschek, em Brasília. O estudante mora
com sua mãe, estudante universitária, que nasceu na Nordeste, seu pai, com
origem no Norte e servidor militar, sua irmã mais nova e sua tia.
3. Ana tem 11 anos de idade, estudante do 6º. Observa-se na escola que sua
conduta é de uma estudante calma, comunicativa com os colegas e monitores,
além dos participantes do PIBID. Nasceu em Brasília, moradora de Vicente
Pires, uma R.A com uma distância média de 18,3 km e população estimada em
17 mil famílias. Anteriormente era um setor habitacional rural, tendo nos dias
atuais um grande crescimento urbano e sendo considerada uma área habitacional
de classe média. A estudante convive com os pais e sua irmã de 8 anos.
4. José tem 15 anos de idade, estudante do 7º ano. Observa-se que é extrovertido,
comunicativo com muitos colegas da escola e sempre ativo no intervalo, com
brincadeiras, jogando tênis de mesa e se destaca pela idade acima da média
doscolegas. Nasceu em Brasília, morador do Recanto das Emas, uma R.A com
uma distância média de 30,9 km, e população estimada em 160 mil habitantes.
Com um contínuo crescimento habitacional e urbano, é uma cidade considerada
dormitório, onde as pessoas passam parte do dia trabalhando nos centros
urbanos e voltam para dormir. O estudante convive apenas com seus pais.
5. Juliana relata que já estudou em uma rede de ensino particular antes de chegar
ao CEF 02, porém não gostava do ambiente escolar, principalmente dos colegas
que segundo ela mesmo relatou eram muito “esnobes” e por esse motivo
preferiu mudar de escola. Sobre o CEF 02 ela diz que gosta de estudar lá pela
proximidade da escola com sua residência, e por já ter feito amizades.
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6. Francisco relatou que sua mãe acha mais apropriado ele estudar no Plano Piloto,
alegando que a qualidade do ensino. Foi relatado por ele mesmo que não era seu
primeiro ano estudando no Plano Piloto, e que já havia cerca de dois anos em
outra Escola Classe próximo ao CEF 02. Ele também citou o fator de já estar
acostumado com aquela rotina do trajeto de estudar no Plano Piloto, além de já
ter se familiarizado com o ambiente escolar e com os amigos.
Trajetos
Maria relata utilizar sempre o transporte escolar para chegar à escola, tendo dificuldades
nesse trajeto pelo fato de ter que acordar muito cedo por volta das 05:20 da manhã, pois
pega o ônibus às 06:40 e sempre chega por volta de 07:15 da manhã, deixando-a ao lado
da escola e ao término das atividades busca os estudantes em frente a escola por volta de
17: 45, chegando em casa por volta das 19:30, muito cansada.
Já o João e a Ana vão e voltam da escola sempre de carro. João vai e volta com seu pai
ou com um amigo de seu pai que também tem um filho que estuda na mesma escola e
que moram no mesmo prédio, ele sempre acorda por volta das 06:00 da manhã para se
arrumar e tomar café, chega na escola as 07:20 e na volta chega em casa por volta das
17:40. Ana relata que seu trajeto até a escola é feito com o auxilio de seu pai, tendo em
vista que na maioria das vezes ele é responsável por buscá-la e levá-la até a escola,
tendo como tempo estimado para chegar em casa 30 minutos.
O José relata que seu trajeto até a escola é feito por transporte público, utilizando apenas
um ônibus da linha 809, onde passa com grande frequência no ponto de ônibus, tem
como um tempo estimado para chegar em casa de 1 hora e 30 minutos em média, sendo
recorrente as situações de superlotação dos ônibus e grandes engarrafamentos. Esta
linha em alguns trechos utiliza a faixa exclusiva para ônibus, o que torna mais rápido o
seu trajeto, entretanto esta faixa muitas vezes não é respeitada.
A Juliana relata que por morar perto da escola, acorda ás 6:30 para se arrumar e tomar
café, por volta de 7:05 sai de casa e vai andando para a escola, e ao término das
atividades escolares, sai por volta de 17:15 e fazer o trajeto direto para sua casa.
No caso Francisco que relata acordar ás 05:00 para se arrumar e tomar café. Ás 6;30 da
manhã pega o ônibus para chegar a escola. Ás 17:30 pega o ônibus escolar novamente
para retornar a sua casa.
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Observa-se que temos um grupo heterogêneo, tendo dois alunos que usam o transporte
privado, dois alunos utilizam transporte público, uma aluna que vai caminhando para a
escola por morar perto e outra aluna que utiliza o ônibus escolar, verificamos a partir
disto também, que alguns alunos possuem um maior conforto neste deslocamento escola
– casa e um tempo menor estimado para chegar ao local desejado em relação a outros.
Motivos para escolha da escola
A Maria diz que sempre estudou na Asa Sul. O motivo da escolha de se matricular na
escola estudada foi o fato de sua mãe trabalhar perto dessa região. De acordo com a
pergunta se ela gostava de estudar na escola CEF 02, foi respondido que não,
justamente pelo fato dos horários e o longo tempo que gasta para poder chegar.
O João diz ter estudado em outras escolas fora da Asa Sul e fora de Brasília. O motivo
da escolha de se matricular no CEF 02 foi o incentivo do amigo do seu pai. De acordo
com a pergunta se ele gostava de estudar no CEF 02, foi respondido que sim, mas
achava a escola muito pequena e com pouca infraestrutura, mas o fato de passar muito
tempo com seus amigos, mesmo achando muito cansativo se habituou ao horário
integral.
A Ana relata que este é o primeiro ano estudando em uma escola no Plano Piloto. O
motivo da escolha de se matricular no CEF 02 foi devido a mudança da qualidade de
ensino que a escola oferece para os alunos, segundo a estudante, ela se sente bem com a
escola e com o ensino, anteriormente havia estudado em uma escola privada perto da
sua residência e outra em Região Administrativa do DF mais distante ainda.
O José relata que começou a estudar longe de casa a partir da Escola Classe que tem um
ensino do 1º ao 5º ano, por influência da sua mãe. O motivo da escolha de se matricular
no CEF foi a visão de sua mãe de que o ensino de qualidade está nas escolas do Plano
Piloto. O estudante está em seu 3º ano na escola, sendo um aluno repetente, se diz
gostar do ambiente escolar.
A Juliana relata que gosta de estudar no CEF 02 pela proximidade da escola com sua
residência, e por já ter feito amizades.
O Francisco relatou que sua mãe acha mais apropriado ele estudar no Plano Piloto,
alegando que a qualidade do ensino. Ele também citou outro fator de já estar
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acostumado com aquela rotina do trajeto de estudar no Plano Piloto, além de já ter se
familiarizado com o ambiente escolar e com os amigos.
Observa-se que em certos pontos os estudantes possuem respostas equivalentes em
relação ao ambiente escolar, por ser uma escola de regime integral, eles passam muito
tempo juntos, isso justifica alguns argumentos dados de já estarem familiarizados com
os amigos. Temos duas respostas divergentes que dizem não gostar da escola por ter
uma estrutura pequena, por passar longos períodos dentro da escola e pelo tempo gasto
no deslocamento. Analisamos também que o motivo de escolha ainda é a qualidade de
ensino que os pais acreditam que as escolas do Plano Piloto podem oferecer.
Conclusão
Os trajetos são realizados de forma homogênea, tendo como base que os mesmos vão e
voltam em sua maioria sozinhos e por meio de ônibus. Isto mostra uma independência
precoce dos estudantes nesta faixa etária, na busca de uma qualidade de ensino melhor
que seus pais acreditam que tenha, impondo esta realidade para os estudantes, eles se
dispõem a passar por trajetos longos e cansativos. Em virtude destes longos trajetos,
obteve-se a amostra específica de uma aluna, onde sua mãe alugou um apartamento
próximo à escola e de seu local de emprego, com a finalidade de um conforto maior. É
de grande importância verificar que os motivos da escolha da escola dizem muito sobre
o ensino de Brasília, onde ainda a qualidade de ensino está no centro da cidade e não
nas cidades periféricas. Segundo as percepções dos pais, além da qualidade de ensino,
temos escolas com melhores equipamentos e estruturas de um modo geral. Este estudo é
capaz de afirmar que a busca por um ensino de qualidade, mesmo com muitas
dificuldades pelos alunos no deslocamento escola - casa é realizado através da crença
dos pais que a qualidade de ensino trará aos seus filhos oportunidades de um futuro
diferente e melhor quando comparado a eles, consequentemente podendo gerar ascensão
sociais das famílias.
¹ O crescimento populacional médio da capital federal na última década foi de 2,28%, muito superior ao
registrado no país, de 1,17%. Disponível em: <http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2011/04/
distrito-federal-tem-quase-26-milhoes-de-habitantes.html>
² O PDAF tem como objetivo contribuir na realização do projeto pedagógico, administrativo e financeiro
das Instituições Educacionais e das Diretorias Regionais de Ensino.
A superquadra é uma célula da escala residencial e se conforma como conjunto de referência para o
endereçamento no Plano Piloto. O modelo de faixa residencial das superquadras de numeração
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100,200,300,400 é composto por blocos de até seis pavimentos com exceções, para a população estimada
de três a quatro mil habitantes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas: Ed. Associados. 2ª ed.1997
GIDDENS, A. identidade e modernidade. Rio de Janeiro: Ed. Zahar. 2002
LAHIRE, Bernard. Sucesso escolar nos meios populares: As razões do improvável.
São Paulo: Ática, 1997.
PATRIOTA DE MOURA & VASCONCELOS, L.F.L. 2012. “Trajetos, trajetórias e
Motilidade na Universidade de Brasília”. Antropolítica: Revista Contemporânea de
Antropologia, 32: 87-112.
SETTON, M.G.J. Bernard Lahire: a multiplicidade das condições de socialização e
cultura escolar. In GIOLO, J. AT AL. Educação e desigualdade coleção pedagógica
contemporânea v.1. São Paulo: Ed. Vozes, 2011.
VELHO, G. Individualismo e Cultura: notas para uma antropologia da sociedade
contemporânea. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1981.
VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose. Antropologia das sociedades complexas.
Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
VIANNA, L; PINTO, F; ZENUN M; SOUZA, R. Sociabilidade, arte e patrimônio
cultural em uma utopia urbana. In As artes populares no Brasil central: performance
e patrimônio. Org. João Gabriel L.C., Letícia C. R. Vianna. Brasília: Idade da Pedra,
2012.
Entre dois mundos: trajetórias de estudantes dos anos finais do Ensino
Fundamental e os significados da escola longe de casa.
A inquietação deste trabalho nasce das ações coletivas do Pibid UnB/Educação Física.
O objetivo da pesquisa é descrever e analisar os significados de “casa” e “escola”
construídos por jovens estudantes oriundos de classes populares, que moram na
periferia do Distrito Federal, e estudam em escolas situadas em bairro nobre, onde
residem as camadas médias da população no centro de Brasília. Tomamos como
pressuposto que o sentimento de pertencimento e a constituição de identidades com a
comunidade escolar é um elemento fulcral para o sucesso no percurso escolar de cada
indivíduo. A estratégia metodológica partiu dos trabalhos de Lahire (1997) e Patriota e
Vasconcelos (2012), descrevendo o contexto de uma Escola Classe, que atende anos
finais do Ensino Fundamental, arquitetada no projeto original da capital federal pelas
propostas de Anísio Teixeira, mas que atualmente apresenta projeto pedagógico e usos
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dos espaços escolares diferentes das ideias originais que as constituíram. A investigação
das visões de mundo e opiniões dos estudantes baseou-se nos relatos dos estudantes
escolhidos e acompanhados em sua rotina no trajeto casa-escola e no cotidiano escolar
para que, nas interações com os pibidianos, colegas e demais personagens da vida
escolar, fossem registrados, em diário de campo, as representações expressas
livremente, ou por questionamento direto. Dialogando os conceitos de “trajetórias” da
obra de Velho (1981,1994), analisamos como se constituem as visões de mundo de cada
estudante para viverem os dois espaços do cotidiano deles. Os resultados apontam que,
apesar da mesma base sociocultural em que se encontram, o(a)s estudantes tentam
construir coerência entre os diferentes mundos que transitam, mas diferem de modo
singular em diversos aspectos.
Palavras-chaves: Escola; Ensino Fundamental; trajetórias; indivíduos.
Alexandre Jackson Chan-Vianna – UnB
Izabela Costa Amaro – UnB
Patricia Carvalho Veras – UnB
Vitor de Andrade Pereira – UnB
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