COMUNICADO DE IMPRENSA Repensar o Novo Aeroporto de Lisboa Nas últimas três semanas dois aviões foram forçados a realizar aterragens de emergência nos Estados Unidos após colisões com aves. Em Portugal, projecta-se a construção do Novo Aeroporto de Lisboa numa zona de grande concentração de aves. Por outro lado, o alastramento da crise económica mundial começa a ter impacto nas viagens aéreas originando uma redução do número de passageiros no aeroporto da Portela, o que certamente altera alguns dos pressupostos dos estudos realizados para a viabilidade de um novo aeroporto. À luz destes factos, a LPN considera urgente voltar a questionar, não só a localização, como a própria urgência do novo aeroporto de Lisboa. Há poucos dias assistimos a uma espectacular amaragem forçada de um avião de passageiros nas águas do Rio Hudson, junto a Nova Iorque, após uma colisão com um bando de gansos que danificou os dois motores do aparelho. No dia 5 de Fevereiro vieram a público notícias de outro avião, também de uma companhia aérea americana, que foi forçado a aterrar no aeroporto internacional de Denver após colisão com uma ave. Ao contrário do local previsto para a construção do novo aeroporto de Lisboa, nenhuma das duas zonas em que ocorreram os acidentes tem concentrações significativas de aves. Um ano após o Primeiro-Ministro anunciar a decisão de construir novo aeroporto em Alcochete, o estudo que permitirá quantificar o risco de colisão entre os bandos de aves e os aviões ainda não foi iniciado. Os resultados finais deste estudo só serão conhecidos em Julho de 2010, altura em que se prevê que as obras de construção do aeroporto já poderão ter começado. Apesar da inexistência deste estudo pormenorizado, vários trabalhos já realizados e a opinião de especialistas em aves apontam para um problema de segurança de dimensão considerável (relatórios do LNEC e do Instituto de Ambiente e Desenvolvimento, pareceres do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade e da LPN, carta aberta do biólogo Pedro Lourenço, entre outros). Será sensato avançar para a construção de um aeroporto nas vizinhanças de um dos locais de maior concentração de aves aquáticas na Europa? Não será um convite para o desastre colocar aviões a aterrar e levantar voo em rotas que são diariamente atravessadas por dezenas de milhares de aves de médio porte? Em Março de 2008 a LPN emitiu um parecer negativo em relação à Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) do Novo Aeroporto de Lisboa. Entre muitos outros aspectos que considerámos discutíveis ou mesmo incorrectos na AAE, questionámos a manutenção dos níveis de procura do transporte aéreo, uma vez que os previsíveis aumentos dos preços, que resultam do aumento acelerado do preço do petróleo e da inclusão das taxas de emissão de gases com efeitos de estufa, são factores determinantes que podem contrariar as previsões de crescimento do tráfego aéreo. Menos de um ano depois, num período em que o preço do petróleo está baixo (mas não se sabe por quanto tempo) e que as emissões dos transportes aéreos ainda não são taxadas, a crise económica global já está a afectar o número de passageiros que passa pela Portela. Para o ano de 2009 a IATA (International Air Transport Association) prevê uma redução de 3% no número de passageiros aerotransportados e uma redução de 5% da carga transportada por via aérea. Nos meses de Novembro e Dezembro de 2008, o número de passageiros a utilizar o aeroporto da Portela foi inferior em 2,9%, quando comparado com igual período de 2007 (1.916.516 passageiros em 2007 e 1.861.855 passageiros em 2008, dados ANA - Aeroportos de Portugal). O ano de 2008 apresenta também um saldo negativo quanto ao número de rotas a partir de Lisboa (12 foram encerradas e 6 foram iniciadas, dados ANA). Face a um cenário económico mundial bastante negativo, será pertinente o país lançar-se em mais uma grande obra, em mais uma “fuga para a frente” face os problemas do país? Será que Portugal se pode dar ao luxo de investir muitas centenas de milhões de euros, grande parte fundos públicos, em mais betão, na mesma altura em que a crise é apontada como motivo para o desinvestimento noutras áreas da sociedade portuguesa? Em conclusão, a LPN mantém todas as objecções que conduziram ao parecer negativo à localização do novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, considerando ainda extremamente pertinente que se inicie um debate público alargado sobre o novo aeroporto de Lisboa, num debate centrado nas questões ambientais e económicas, mas também de segurança que a construção deste empreendimento acarreta. Anexos – Parecer LPN e Carta Aberta de Pedro Lourenço. Para mais informações: Eugénio Sequeira 968 029 499 Paula Chainho 962 415 546 Liga para a Protecção da Natureza | Estrada do Calhariz de Benfica, n.º 187 1500-124 Lisboa; www.lpn.pt 217 780 097 | 217 740 155 | 217 740 176 Lisboa, 09 de Fevereiro de 2009 A Direcção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), fundada em 1948, é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) de âmbito nacional. É uma Associação sem fins lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. A LPN é membro da IUCN (The World Conservation Union), do EEB (European Environmental Bureau), do CIDN (Conselho Ibérico para a Defesa da Natureza), do MIO-ECSDE (Mediterranean Information Office for Environmental Culture and Sustainable Development) e do SAR (Seas at Risk).