5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Modelos Não-Lineares O modelo malthusiano prevê que o crescimento populacional é exponencial. Entretanto, essa predição não pode ser válida por um tempo muito longo. As funções exponenciais crescem muito rapidamente e sem limites e, se o crescimento de uma população for sempre exponencial, cedo ou tarde o número de indivíduos na população vai ser maior do que o número de átomos no universo. Portanto, o modelo malthusiano está deixando escapar algum elemento importante para a modelagem de populações verdadeiras. Devemos rever as hipóteses usadas na construção do modelo malthusiano. A principal falha do modelo malthusiano é que ele assume que as taxas de natalidade e de mortalidade são constantes independentemente do tamanho da população. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Na realidade, espera-se que quando uma população fique muito grande a sua taxa de mortalidade cresça e a sua taxa de natalidade se reduza. Qual o efeito que isso teria sobre a taxa finita de crescimento λ? A taxa finita de crescimento λ é dada por, λ = 1+ b − d, de maneira que se b diminui e d cresce o valor de λ deve diminuir. Portanto, devemos modificar de alguma forma o modelo malthusiano para fazer com que a taxa de crescimento dependa do tamanho da população: λ ⇒ λ(N ). 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares E essa dependência tem que ser tal que quando N cresce, λ diminui. Para desenvolvermos um modelo melhor, é mais fácil nos concentramos na quantidade, ΔN , N que nos dá a variação no tamanho da população em uma unidade de tempo dividida pelo tamanho da população, chamada de taxa de crescimento per capita por unidade de tempo. Para pequenos valores de N, a taxa de crescimento per capita deve ser grande, pois imaginamos uma população com muitos recursos disponíveis no seu meio-ambiente para permitir seu crescimento. Por outro lado, para grandes valores de N a taxa de crescimento per capita deve ser pequena, pois os indivíduos competem entre si por comida e espaço. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Para valores ainda maiores de N, a taxa de crescimento per capita deve ser negativa, o que significa que a população começa a diminuir de tamanho. Com base no que foi discutido, podemos supor que ΔN N , como uma função de N, seja uma função decrescente, como, por exemplo, a mostrada na figura abaixo. No entanto, no espírito de sempre escolhermos a versão mais simples de um dado modelo, vamos supor que o decaimento de ΔN N em função de N seja do tipo linear, como na figura abaixo, 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Notemos que, para o modelo malthusiano, ΔN = R, N de maneira que o gráfico de ΔN N em função de N para esse modelo seria uma reta paralela ao eixo horizontal (indicando que ΔN N não varia com N). Como agora estamos propondo uma dependência linear de ΔN N contra N, a fórmula que expressa essa dependência deve ser do tipo, ΔN = mN + a, N 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares onde m e a são constantes. Olhando para o gráfico acima, vemos que m, o coeficiente angular, deve ser negativo e a, o coeficiente linear, deve ser positivo. Para determinar m e a em termos das constantes R e K definidas pelo gráfico, vemos que, quando N = 0, ΔN = R = a. N ΔN Já quando N = 0 e N = K , 0 = mK + R ⇒ m = − R . K Podemos, então, escrever a equação proposta para ΔN N em função de N como, ΔN R ⎛ N ⎞ = − N + R = R⎜1 − ⎟. N K ⎝ K ⎠ Notem que tanto R como K devem ser constantes positivas. Podemos reescrever a equação acima na forma de uma equação de diferenças finitas, N t +1 = f (N t ). 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Multiplicando ambos os lados por N: ⎛ N ⎞ ΔN = NR⎜1 − ⎟. ⎝ K ⎠ Escrevendo agora ΔN = N t +1 − N t , ⎛ N ⎞ N t +1 − N t = N t R⎜1 − t ⎟ ⇒ K ⎠ ⎝ ⎛ N ⎞ N t +1 = N t + N t R⎜1 − t ⎟, K ⎠ ⎝ o que implica que a nossa equação de diferenças finitas para este caso é, ⎡ ⎛ N ⎞⎤ N t +1 = N t ⎢1 + R⎜1 − t ⎟⎥. K ⎠⎦ ⎝ ⎣ Um modelo que obedeça a uma equação como a acima é chamado de modelo logístico discreto. Note que este modelo é não-linear, pois Nt+1 é uma função quadrática de Nt (isto é, depende de Nt2). Equações não-lineares aparecem com muita freqüência em modelos de sistemas biológicos e é importante que biólogos saibam lidar com elas. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Os parâmetros K e R podem ser interpretados em termos biológicos (observe o gráfico de ΔN N versus N). Em primeiro lugar, vemos que se N < K, então ΔN N > 0. Com uma taxa de crescimento per capita positiva, a população crescerá. Por outro lado, se N > K, então ΔN N < 0. Com uma taxa de crescimento per capita negativa, a população diminuirá. Portanto, K é um valor crítico para o tamanho N da população. Enquanto N for menor do que K a população crescerá, mas quando N for maior do que K a população diminuirá. O parâmetro K é chamado de capacidade de carga do ambiente, pois ele representa o número máximo de indivíduos que o ambiente pode suportar por um longo tempo. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Já quando a população é pequena (isto é, quando N é muito menor do que K), o fator (1 − N t K ) na equação do modelo logístico fica muito próximo de 1. Então, podemos aproximar o modelo logístico nesse caso por, N t +1 ≈ (1 + R )N t . Comparando esta equação com a equação para o modelo malthusiano, vemos que R desempenha o mesmo papel que a constante de crescimento finita, R = b − d, naquele caso. Portanto, o parâmetro R no modelo logístico reflete a maneira como a população irá variar (em função de nascimentos menos mortes per capita) quando a população está muito abaixo da capacidade de carga. Podemos continuar chamando o parâmetro R de taxa de crescimento finita, desde que fique bem claro que ele só pode ser interpretado dessa forma quando a população é muito pequena. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Para analisar o modelo logístico discreto, nosso primeiro passo é escolher valores para os parâmetros R e K e para o tamanho inicial da população N0, e implementar o modelo no Excel para ver o que acontece com a população no futuro. Por exemplo, para R = 0,75, K = 50 e N0 = 1, temos o seguinte gráfico (agora não será mais necessário explicar de forma detalhada como fazer um gráfico no Excel): Modelo Logístico Discreto Tamanho da população N 60 50 40 30 20 10 0 0 5 10 15 Tempo t 20 25 30 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Os valores da população estão dados na tabela abaixo: t Nt 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 1 1,735 2,991097 5,100219 8,5352 13,84386 21,35196 30,52734 39,44407 45,6896 48,64371 49,63333 49,90632 49,97645 49,9941 49,99853 49,99963 49,99991 49,99998 49,99999 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 Note que, desta vez, os valores de Nt não foram arredondados. Isso porque, muitas vezes, medimos o tamanho de uma população em milhares, ou milhões de indivíduos (por exemplo, o valor inicial N0 = 1 poderia ser 1 milhão de indivíduos), de maneira que não há necessidade de arredondar os valores. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Isso é ainda mais válido quando se mede a quantidade de certas espécies não por número de indivíduos, mas por massa, como toneladas, por exemplo. Pelo gráfico ou pela tabela, vemos que o tamanho da população cresce continuamente em direção à capacidade de carga de 50, conforme esperado. No princípio, o crescimento da população é lento, indicado pela pequena inclinação (ou derivada) da curva para t pequeno. Depois, o crescimento se acelera (a tangente à curva fica quase vertical) e, finalmente, ele se desacelera novamente até atingir o valor estacionário de 50. A curva de crescimento da população tem uma forma chamada de sigmóide (ou em forma de s) na literatura, que é uma forma característica de crescimento biológico observada experimentalmente. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares A solução para o modelo logístico mostrada acima, obtida numericamente com o Excel, permite visualizar a comportamento da população ao longo do tempo. Isto também pode ser feito no caso do modelo malthusiano. Porém, no caso do modelo malthusiano, além da solução numérica obtida com o Excel, foi também possível resolver a equação de diferenças finitas de forma analítica para se obter uma expressão para Nt em função de N0, para qualquer t. No caso do modelo logístico isso não é mais possível, portanto perde-se a capacidade de encontrar uma solução matemática geral para o modelo, pelo menos de maneira tão simples como no caso do modelo malthusiano. Por exemplo, se quisermos saber o tamanho da população para um tempo qualquer, digamos t = 100, teremos que gerar uma tabela com 100 entradas no Excel. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Isso tem que ser encarado como um fato da vida. Os modelos não-lineares, apesar de serem mais realistas do ponto de vista biológico, em geral não possuem soluções que possam ser expressas por fórmulas matemáticas explícitas. Ao invés de buscar soluções analíticas para os modelos não-lineares, o que se faz é usar técnicas gráficas e simulações numéricas no computador (como as feitas no Excel) para se ter uma idéia dos comportamentos dos modelos. A técnica gráfica mais básica para se entender um modelo não-linear é a chamada de cobwebbing. Para ilustrá-la, é melhor usar um exemplo. Consideremos novamente o modelo do exemplo anterior, ⎡ ⎛ N ⎞⎤ N t +1 = N t ⎢1 + 0,75⎜1 − t ⎟⎥, ⎝ 50 ⎠⎦ ⎣ N 0 = 1. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Para resolver, ou iterar, essa equação pelo método de cobwebbing, devemos fazer o seguinte (tente fazer isso na mão, com um papel de gráfico): 1. Primeiramente, deve-se fazer o gráfico da função Nt+1 versus Nt. Para tal, chame Nt+1 de y e Nt de x. A função resultante é ⎡ x ⎞⎤ ⎛ y = x ⎢1 + 0,75⎜1 − ⎟⎥. ⎝ 50 ⎠⎦ ⎣ O gráfico dessa função pode ser feito com o uso de uma calculadora ou do Excel, tomando-se vários valores para a variável x (não necessariamente inteiros) e calculando-se os valores correspondentes de y. O gráfico dessa função desenhado em um papel de gráfico seria algo parecido com o mostrado a seguir. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Nt+1 Função Nt+1 x Nt 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Nt 2. Em seguida, tome o valor de N0, que no nosso caso é 1, e desenhe uma linha vertical indo de N0 até a curva, como mostrado abaixo. A coordenada-y do ponto em que essa linha vertical toca a curva (indicado na figura abaixo) dá o valor de N1. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares 3. Tome o valor de N1, localize-o sobre o eixo horizontal e trace uma outra linha vertical indo dele até a curva. A coordenada-y desse ponto dará o valor de N2. Seguindo esse procedimento, pode-se obter todos os valores de Nt. 4. Existe uma maneira mais inteligente se fazer isso. Para tal, desenhe no mesmo gráfico em que foi feita a função de Nt+1 versus Nt o gráfico da função identidade Nt+1 = Nt. Esse gráfico dá uma linha reta com inclinação de 45o. Então, depois que você achar o ponto em que a linha vertical que sai de N0 cruza a curva de Nt+1 versus Nt, desenhe uma linha horizontal indo desse ponto até a reta para Nt+1 = Nt. O ponto onde essa linha horizontal 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares cruza a reta para Nt+1 = Nt determina o valor de N1 e é o ponto de onde você deve traçar a próxima linha vertical para determinar N2. A figura abaixo mostra o resultado desse procedimento para algumas iterações (note que a escala do eixo-x foi reduzida para permitir maior visibilidade). Uma visão do resultado do método de cobwebbing aplicado a partir de N0 = 1 até o fim é dada a seguir. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Esta figura deve deixar claro que se a população inicial tiver qualquer valor N0 entre 0 e a capacidade de carga K = 50, então o modelo fornecerá uma população que cresce continuamente em direção à capacidade de carga. E se o valor inicial da população for maior que a capacidade de carga K = 50? Aplicando o método de cobwebbing, vemos que sempre que o valor de N0 for maior do que 50, ocorre um imediato decréscimo no tamanho da população. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Esse decréscimo pode ser em direção ao valor da capacidade de carga K = 50, ou pode levar a população a um valor menor do que K. Neste segundo caso, assim que a população fica menor do que K = 50 ela começa a crescer em direção a K. Esses dois casos estão ilustrados pelas figuras a seguir. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Se, em algum momento durante essas iterações, o valor da população ficar negativo, devemos interpretar esse resultado como indicando que a população foi extinta. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Exercícios sobre o Modelo Logístico Discreto 1. Faça uma tabela e o gráfico do modelo logístico discreto descrito pela equação abaixo para t = 0, 1,..., 10, N ⎞ ⎛ ΔN = 1,3N ⎜1 − ⎟, ⎝ 10 ⎠ N 0 = 1. Solução. Usando o Excel, a tabela e o gráfico são dados abaixo. t Nt 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1,0000 2,1700 4,3788 7,5787 9,9642 10,0106 9,9968 10,0010 9,9997 10,0001 10,0000 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Gráfico de Nt para o exercício 1 10,00 8,00 Nt 6,00 4,00 2,00 0,00 0 2 4 6 8 10 t O gráfico apresenta um crescimento logístico (ou sigmóide) típico no início, mas ocorre um breve crescimento além da capacidade de carga K = 10 em t = 5, seguido de oscilações que decaem em amplitude em direção a N = 10. Isso pode ser melhor visto no gráfico a seguir, que mostra um zoom do comportamento de Nt para a escala do eixo vertical indo de 9,98 até 10,03. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Zoom do gráfico de Nt para o exercício 1 Nt 10,03 10,03 10,02 10,02 10,01 10,01 10,00 10,00 9,99 9,99 9,98 0 2 4 6 8 10 t 2. Use o Excel para explorar o que acontece com o modelo N ⎞ ⎛ ΔN = RN ⎜1 − ⎟, ⎝ 10 ⎠ para N0 = 1, nos casos em que o parâmetro R assume os valores: 0,2; 0,8; 1,3; 2,2; 2,5; 2,9; e 3,1. Será necessário variar o número de passos de tempo de acordo com o modelo. Solução. Esses gráficos estão mostrados abaixo. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares R=0,2 12,00 10,00 Nt 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 10 20 30 40 50 60 70 t R=0,8 12,00 10,00 Nt 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 5 10 15 20 25 30 t Esses dois primeiros gráficos apresentam um comportamento sigmóide típico, com o gráfico para R = 0,8 atingindo a capacidade de carga mais rapidamente do que o gráfico para R = 0,2. O gráfico para R = 1,3 é idêntico ao visto no exercício anterior, com comportamento a população sigmóide no apresentando início do um seu 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares crescimento, mas ultrapassando brevemente o valor de N = 10 (overshoot), para depois cair um pouco abaixo de N = 10 (undershoot) e seguir oscilando, de maneira amortecida, em direção ao valor de equilíbrio N = 10. R=2,2 12,00 10,00 Nt 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 5 10 15 20 25 30 t Quando R = 2,2, surpreendentemente, a população não se aproxima do valor de equilíbrio N = 10. Ao invés disso, o valor da população oscila de maneira regular em torno de K, como mostrado na figura acima. Os valores de N saltam repetidamente de N ≅ 7,5 para N ≅ 11,6. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares R=2,5 12,00 10,00 Nt 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 5 10 15 20 25 30 t Para R = 2,5, a população novamente não atinge o valor de equilíbrio K = 10, mas fica oscilando em torno dele de uma maneira mais complicada do que no caso anterior. Ela fica alternando em um ciclo composto por quatro valores, N ≅ 5,4, N ≅ 11,6, N ≅ 7,0 e N ≅ 12,25, como mostrado na figura abaixo. Para R = 2,9 o comportamento da população é mais complicado ainda. O seu valor continua oscilando, só que agora não existe mais um padrão nas oscilações e, em alguns momentos, o tamanho da população se reduz quase ao valor inicial de N = 1. Isso está mostrado na figura abaixo 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares R=2,9 14,00 12,00 Nt 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 t Para R = 3,1, o comportamento torna-se ainda mais complicado e as oscilações levam a população a se reduzir tanto que ela atinge o valor nulo, tornando-se extinta. Veja isso na figura abaixo. R=3,1 14,00 12,00 Nt 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 1 2 3 t 4 5 6 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Na próxima aula vamos analisar melhor o efeito que as mudanças no parâmetro R têm no comportamento da população. 3. Suponha que você tenha observado os seguintes valores para o tamanho de uma população de insetos em laboratório. t 0 Nt 1 2 3 4 5 6 7 8 0,97 1,52 2,31 3,36 4,63 5,94 7,04 7,76 8,13 9 10 8,3 8,36 Você acha que esses dados podem ser, pelo menos de maneira aproximada, consistentes com um modelo logístico? Justifique sua resposta. Se os dados forem consistentes com um modelo logístico, estime os valores de R e K para um modelo do tipo ΔN = RN (1 − N K ). Solução. A primeira coisa a fazer para saber se os dados são consistentes com um modelo logístico é fazer um gráfico deles. O gráfico, feito no Excel, está mostrado abaixo. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares N Crescimento da População de Insetos 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 2 4 6 8 10 t Pelo formato do gráfico, que é de tipo sigmóide, podemos concluir que um modelo logístico parece ser uma escolha razoável para modelar os dados experimentais. O valor para o qual a população tende (o valor de equilíbrio, ou capacidade de carga) deve ser algo um pouco acima de 8,36, por exemplo K ≈ 8,4. Para estimar R lembremos que, para N pequeno, R é equivalente à taxa de crescimento geométrico do modelo malthusiano, dada por R = 1 − λ. E λ pode ser estimada pela razão N 2 N1 . Logo, R = 1− N2 1,52 = 1− = 1 − 1,567 = 0,567. N1 0,97 Então, nosso modelo logístico estimado é, 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares N ⎞ ⎛ ΔN = 0,567 N ⎜1 − ⎟. 8 , 4 ⎝ ⎠ Para testar se esse modelo realmente fornece um bom ajuste para os dados experimentais, podemos fazer um gráfico dele junto com o gráfico experimental, que está mostrado abaixo. N Crescimento da População de Insetos 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Nmedido Nteórico 0 2 4 6 8 10 t O ajuste não está ruim, mas fica-se com a impressão que é possível fazer melhor. Como o Excel permite que se altere o valor de um parâmetro e o resultado seja visto imediatamente no gráfico, por tentativa e erro o professor conseguiu chegar a um ajuste melhor, com os parâmetros, R = 0,63 e K = 0,84. O gráfico está mostrado abaixo. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares N Crescimento da População de Insetos R=0,63 e K=8,4 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Nmedido Nteórico 0 2 4 6 8 10 t 4. Suponha que uma população seja modelada pela equação, N t ⎞ ⎛ N t +1 = N t _ 0,2 N t ⎜1 − ⎟, 200000 ⎝ ⎠ onde Nt é medida em indivíduos. a) Encontre uma equação da mesma forma, descrevendo a mesma população, mas com a população medida em milhares de indivíduos. b) Encontre uma equação da mesma forma, descrevendo a mesma população, com a população medida em 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares unidades escolhidas de forma que a capacidade de carga seja 1 nessas unidades. Solução. Este é um bom problema, pois mostra a vocês como fazer para mudar as unidades de um problema sem ter que refazer todo o modelo matemático sendo usado. No item (a), pede-se para reescrever a equação do modelo no caso em que a população é medida em milhares de indivíduos. Vamos supor que a nova variável que irá representar o tamanho da população em múltiplos de mil indivíduos é Mt. Portanto, quando Mt = 1, isso quer dizer que deveremos ter Nt = 1000 nas unidades do modelo original. Logo, N t = 1000M t . Substituindo esta equação no modelo, ⎛ 1000M t ⎞ 1000M t +1 = 1000M t + 0,2.1000M t ⎜1 − ⎟, 200000 ⎝ ⎠ e, simplificando, chegamos à equação desejada, 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares M ⎞ ⎛ M t +1 = M t + 0,2M t ⎜1 − t ⎟. ⎝ 200 ⎠ Note que, neste caso, a capacidade de carga fica escrita como 200 em unidades de mil indivíduos, ou 200 mil, que é a mesma capacidade de carga do modelo original, 200000. Para resolver o item (b), devemos considerar que o valor da capacidade de carga é de 200000 indivíduos. Portanto, as unidades em que esse valor seja igual a 1 devem ser tais que (vamos chamar a nova variável para o tamanho da população de Pt), N t = 200000Pt . Substituindo isso na equação original do modelo, ⎛ 200000Pt ⎞ 200000Pt +1 = 200000Pt + 0,2.200000Pt ⎜1 − ⎟, 200000 ⎝ ⎠ de maneira que, Pt +1 = Pt + 0,2Pt (1 − Pt ). 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares 5. A técnica de cobwebbing não é limitada apenas ao modelo logístico. Ela pode ser usada para obter os valores de Nt de forma iterada para qualquer modelo baseado em equações de diferenças finitas. Determine graficamente, pelo método de cobwebbing os valores do tamanho da população para os próximos seis passos de tempo para cada um dos quatro casos da figura abaixo, a partir dos valores de N0 indicados. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Solução Os desenhos obtidos pela aplicação do método de cobwebbing estão mostrados nos gráficos a seguir. Note que o modelo do primeiro gráfico é linear (malthusiano) e que o tamanho da população cresce vertiginosamente. Para o modelo (b), parece que o valor da população vai ficar oscilando entre dois valores em torno da capacidade de carregamento, como em um dos casos do exercício 2. No caso (c), a população tende diretamente para a capacidade de carregamento. Já no caso (d), ela também tende para a capacidade de carregamento, mas a convergência ocorre de maneira oscilatória. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares 6. Muitos dos modelos que estamos vendo para modelar dinâmica de populações podem ser usados para modelar várias outras situações de interesse em biologia. Uma delas ocorre na modelagem de reações químicas, pois, em geral, as taxas em que as reações ocorrem são proporcionais às quantidades de reagentes presentes. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Suponha uma reação em que a substância A é convertida continuamente na substância B. Considere que a soma das quantidades das duas substâncias é sempre constante e igual a K e que os valores iniciais de A e B são, respectivamente, iguais a K e 0. Construa uma equação de diferenças finitas para modelar a reação e use-a para determinar como o gráfico da quantidade da substância B deve se comportar em função do tempo. Solução. A reação que estamos estudando é, A → B. Estamos interessados em modelar como o comportamento de B varia no tempo, dadas as condições iniciais A = K e B0 = 0, e que a soma de A e B é constante e igual a K. Vamos supor que a taxa com que B é formada é proporcional à quantidade de A existente, isto é, quanto 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares mais moléculas de A existirem, mais moléculas de B estarão sendo formadas por unidade de tempo. Escrevendo isso em termos de uma equação de diferenças finitas (tempo discreto), ΔB = RA, onde R é a constante de proporcionalidade. Vamos agora usar a condição de que a soma das quantidades de A e B é sempre constante, A + B = K ⇒ A = K − B. Substituindo isso na equação para ΔB, ΔB = R(K − B). Esta é a equação procurada. Ela nos diz que a taxa com que B é criada é proporcional à diferença entre a quantidade total de substâncias K e a quantidade de B. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Ou seja, quando há pouca quantidade de B formada, a taxa de formação de B é grande, mas quando há muita quantidade de B já formada a taxa é pequena e se aproxima de zero à medida em que a quantidade de B se aproxima de K. Portanto, neste modelo, as constantes K e R têm papéis similares às constantes K e R do modelo para uma população: K é a quantidade máxima de B que pode existir e R controla a velocidade com que B é criada. O valor de R tem que estar entre 0 e 1. Se R = 0, não temos formação de B a partir de A e, se R = 1, toda a quantidade de A é convertida em B em apenas um passo de tempo. Para ver isso, reescreva a equação anterior como, Bt +1 = Bt + R(K − Bt ). Portanto, se R = 1 temos, B1 = B0 + 1(K − B0 ) = K , onde fizemos B0 = 0. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Gráficos de B versus t para R = 0,2 e R = 0,7 estão mostrados nas figuras abaixo (com K = 10). Nos dois casos, o comportamento de B x t é o de um forte crescimento inicial cuja taxa vai se reduzindo à medida que B se aproxima de K = 10. Quanto maior o valor de R, mais rapidamente o valor de B se aproxima de K (note as mudanças nas escalas do eixo horizontal). Quantidade de B R=0,2 12,00 10,00 B 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 10 20 t 30 40 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Quantidade de B R=0,7 12,00 10,00 B 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 2 4 6 8 10 t 7. Uma reação química é dita autocatalítica quando a taxa em que ela ocorre é proporcional às quantidades, tanto dos reagentes como dos produtos presentes (isto é, o produto da reação é um catalisador para a reação). Assuma novamente a reação da questão anterior, onde a soma das quantidades de A e B é constante e igual a K, mas considere que agora a reação é autocatalítica de maneira que a taxa de criação de B tem que ser proporcional às quantidades de A e de B existentes. Faça um modelo de diferenças finitas para essa situação e repita a análise feita na questão anterior. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Solução. Como a reação é autocatalítica, é necessário que exista pelo menos uma quantidade mínima de B no início da reação para que ela proceda. Isto implica que B0 ≠ 0. Podemos escrever a equação para a taxa de formação de B como, ΔB = RAB = RB(K − B). Note que se B = 0 não há formação de B. Observe que a equação obtida tem a forma de uma equação logística. Podemos reescreve-la como, Bt +1 = Bt [1 + R(K − Bt )]. Um gráfico dessa equação para B0 = 0,001, K = 10 e R = 0,1 está dado abaixo. Note que ele tem a típica forma sigmóide da solução de um modelo logístico. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Quantidade de B R=0,1 12 10 B 8 6 4 2 0 0 5 10 15 20 t A forma sigmóide da solução é bastante apropriada para uma reação autocatalítica. Ela indica que a reação progride lentamente no início, quando a quantidade do produto B é pequena; que depois ela se acelera quando há quantidades significativas tanto de B como de A; e que, finalmente, ela se desacelera de novo quando a quantidade de A diminui. Note que se o valor da constante R for um pouco maior do que 0,1, começam a ocorrer oscilações na convergência de B para K. Nessas oscilações, o valor de B ultrapassa 10, que é o máximo valor possível (veja a figura abaixo, para R = 0,15). Portanto, elas não são aceitáveis para este caso. 5910179 – Biofísica II – Turma de Biologia – FFCLRP – USP – Prof. Antônio Roque Biologia de Populações 2 – Modelos não-lineares Isso indica que o modelo de equações de diferenças finitas desenvolvido é válido apenas para valores bem pequenos de R, entre 0 e 0,1 aproximadamente. Quantidade de B R=0,15 12 10 8 B 6 4 2 0 -4 1 6 t 11 16