Boletim Academia Paulista de Psicologia
ISSN: 1415-711X
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Academia Paulista de Psicologia
Brasil
Soares Zoéga, Maria Rita; Bomtempo, Edda
Soares, M. R. Z. A preparação da criança hospitalizada para procedimentos médicos
Boletim Academia Paulista de Psicologia, vol. XXIII, núm. 3, janeiro-abril, 2003, pp. 28-34
Academia Paulista de Psicologia
São Paulo, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=94623308
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• SOARES, M. R. Z. A preparação da criança
hospitalizada para procedimentos médicos. 1
Maria Rita Zoéga Soares2
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Edda Bomtempo (C. nº 36)3
Instituto de Psicologia - USP
Resumo: A hospitalização infantil é uma condição complexa que necessita da intervenção psicológica para promover a modificação do comporta-
Relato da tese de doutorado A criança hospitalizada: análise de um programa de atiyidades preparatórias
para o procedimento médico de inalação, apresentada pela primeira autora no Instituto de Psicologia da
USp, em 2002, sob orientação da segunda.
2 Doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia - USP. Docente do Departamento de Psicologia
Geral e Análise do Comportamento da UEL. Endereço para correspondência: R. Hugo Cabral, 1062 ap.
142 - 86020-917 - Londrina-PR. Tel.: (43) 3371-4227. E-mail: [email protected].
3 Endereço para correspondência: IPUSP - Av. Prot. Mello Moraes, 1721 Bloco F - 05508-900 - São
Paulo. Tel.lfax: (11) 30645912
1
mento dos pacientes, facilitando sua adaptação. São propostos procedimentos observacionais e experimentais para descrever e avaliar um programa de
atendimento a crianças hospitalizadas, expostas a procedimentos médicos de
inalação. Tem-se como objetivo a diminuição da freqüência de comportamentos concorrentes e o aumento da ocorrência de comportamentos de adesão.
Emprega-se a Observational Scale of Distress Behavior (OSDB), que possibilita a definição das categorias comportamentais infantis, permitindo o registro
desses comportamentos em um grupo de 20 crianças, selecionado em função
de critérios apropriados e dividido em 2 sub-grupos: experimental e controle.
O Programa de Atividades que se utiliza como procedimentometodológico,
inclui estratégias relacionadas à leitura de livros infantis, com conteúdo específico, à simulação lúdica, ao relaxamento e à faptasia, aplicado ao grupo experimental. A análise dos dados demonstra que ~ascrianças deste grupo apresentam um padrão comportamental mais adaptativo, colaborando com a execução dos procedimentos médicos de inalação. Os resultados obtidos pretendem subsidiar o desenvolvimento de programas de preparação psicológica na
aplicação de procedimentos médicos em hospitais.
Palavras-chave:
Psicologia Hospitalar.
criança, adesão ao tratamento, Psicologia Pediátrica,
1. Introdução
A criança hospitalizada tem necessidades que vão muito além do atendimento estritamente médico. Algumas condições são de relevância tanto no
agravamento como no restabelecimento
do quadro clínico causante da
internação. Para uma intervenção eficaz, é necessário explicitar tais condições a fim de propiciar um atendimento mais efetivo no contexto hospitalar. A
proposta do presente estudo procura satisfazer essa necessidade com o respaldo teórico da análise do comportamento, decorrente de um Programa de
Atividades (leitura de livros infantis, simulação lúdica, relaxamento e fantasia),
como estratégia para preparar a criança a aceitar o procedimento médico de
inalação e, indiretamente, como recurso para otimizar a eficácia terapêutica da
hospitalização, mediante o desenvolvimento de um repertório comportamental
c~vel
ao enfrentamento de situações aversivas como esta.
A análise efetuada da bibliografia alusiva ao propósito do trabalho serviu
para sua fundamentação, especialmente quantc ao manejo comportamental
na cooperação da criança aos procedimentos médicos desconfortáveis e,
muitas vezes, dolorosos. São apreciadas também nessa direção, contribuições referentes aos recursos utilizados par.a desenvolver na criança comportamentos de adesão, empregando até mesmo recursos utilizados no Programa de Atividades indicado para a pesquisa em referência. Os estudos analisados neste sentido não se mostraram convincentes para os propósitos do trabalho e indicaram a necessidade de sua utilização conjunta, embasada em
uma linha teórica, como a comportamental.
A presente investigação, ao empregar o Programa de Atividades, o faz
integrando tais procedimentos. Tem em vista o aumento na freqüência de comportamentos adaptativos e a diminuição dos concorrentes durante a execução
dos procedimentos médicos de inalação. Especificam-se, desta forma, os ohjetivos da investigação.
2. Metodologia
Os participantes da pesquisa foram 20 crianças, de 5 a 8 anos de idade,
sendo 8 femininas e 12 masculinas, internadas no Setor de Pediatria de um
hospital público localizado em uma cidade de grande porte. Em nova seleção,
o walker check-Iíst WPBC foi aplicado para se evitar a interferência de problemas de comportamento, considerados como variáveis intervenientes. O total
de 20 crianças, foi dividido em 2 grupos: experimental (G. E.) e grupo controle
(G. C.), em número de 10 cada um. O G.E. participou do-Programa de Atividades, a seguir especificado. Ao G.C., não foi oferecida esta participação quando eram aplicados os procedimentos médicos de inalação.
Como instrumento de coleta de dados, para ambos os grupos, utilizouse a Escala de Categorias Comportamentais - aSOB (Observatíans Scale af
BehavíaralDístress) de Jay, azolins, Elliot e Caldwell (1983). Conforme apontaram Peterson,
Crowson
e Holdridge
(1999), a aSOB é a escala
comportamental mais utilizada para investigar o comportamento de crianças
expostas a procedimentos médicos.
O Programa de Atividades, estruturado para as crianças do G. E., constituiu-se das seguintes etapas:
A 1ª, intitulada "Livro infantil", teve como objetivo informar à criança sobre o ambiente hospitalar, as funções dos profissionais da saúde e a razão
dos procedimentos médicos, como também facilitar-lhe a expressão de sua
percepção sobre a doença e a hospitalização, incentivando-a à verbalização
de sentimentos e pensamentos a respeito. Shechtman (1999), demonstrou
que a literatura deve ser utilizada no contexto hospitalar, com a criança, porque permite que ela lide de uma forma menos aversiva, com a complexidade
da situação, além de aumentar sua capacidade de compreensão. Um livreto
"Andrezinho no hospital", bem ilustrado e em linguagem coloquial, especialmente elaborado para a pesquisa, compreendendo o conteúdo acima expresso, serviu como recurso didático a esta etapa. Outros livros contendo temas
relacionados à saúde, à doença, ao medo, à raiva e à expressão de sentimentos também estiveram disponíveis para a leitura.
A 2ª, denominada "Brincar de médico", constou de um conjunto de materiais lúdicos representativos dos utilizados nos procedimentos médicos junto à
criança. Através da dramatização, a criança teve oportunidade de familiarizarse com esses procedimentos, de vivenciar s'ítuações e expressar sentimentos
em relação a eles, como também de desenvolver comportamentos de adesão
e intensificar suas relações com o profissional que a atendia. Bomtempo (1987,
2000) considerou que oferecendo um tempo para o brincar, um ambiente para
explorar e materiais que favoreçam a brincadeira de "faz-de-conta", adultos
oodem promover a aprendizagem de crianças porque possibilita o treino de
habilidades, ensaio de papéis, exploração do ambiente e desenvolvimento do
repertório e capacidade de comunicação. A literatura tem demonstrado que a
dramatização facilita a aprendizagem de procedimentos, bem como a representação de papéis de outras pessoas no ambiente hospitalar. A encenação
de temas médicos pode dar à criança um senso de controle sobre sua situação
de passividade perante os procedimentos médicos e a doença (Huerta, 1996).
A 3ª fase, chamada de "Relaxamento e fantasia"; teve por objeto aliviar
a tensão muscular, produzir imagens relaxantes, analisar funcionalmente o
comportamento e identificar variáveis controladoras como também formas de
intervenção mais eficazes. O relaxamento com a combinação de fantasia tem
sido utilizado como estratégia para a redução da ansiedade, da dor e do medo
e para aquisição de habilidades em crianças hospitalizadas (Silva Jr., 2000;
Siegel & Hudson, 1992).
3. Resultados e Discussão
Os resultados da pesquisa foram analisados estatisticamente e descritivamente. Considerou-se que as informações coletadas sobre a criança, permitiram uma descrição e operacionalização do seu repertório comportamental,
o que constituiu parte importante da avaliação e intervenção proposta pela
pesquisa, possibilitando identificar a variação do padrão comportamental.
Concluiu-se que o GE, após tratado, teve melhora expressiva (aumento
significativo no número da ocorrência de comportamentos de adesão e diminuição na ocorrência de comportamentos concorrentes). Tal condição demonstra a
eficácia do procedimento da pesquisa, no sentido de ampliar o repertório de comportamentos adaptativos à situação de procedimentos médicos. Os resultados
obtidos parecem confirmar as observações de Christiano e Russ (1998), referentes à inclusão de programas de atendimento a crianças hospitalizadas, como
alternativa eficiente para a redução do caráter aversivo dos procedimentos médicos utilizados no contexto hospitalar. Na pesquisa, a utilização desses procedi~entos junto à criança internada configurou-se como um contexto aversivo, com
probabilidade de que ela desenvolvesse comportamentos concorrentes.
A utilização da análise funcional possibilitou a avaliação do comportamento das crianças submetidas à intervenção médica, através do estabelecimento da relação com o contexto do procedimento empregado. Para melhor
compreensão do comportamento da criança, foi necessário explicitar elementos relacionados à condição antecedente, fatores disposicionais, repertório
comportamental e eventos conseqüentes presentes na situação.
Os procedimentos utilizados nas etapas do Programa de Atividades
mostraram-se benéficos para a adesão ao tratamento de inalação. Na referente à do "Livro infantil" (1ª fase) evidenciou-se que a criança bem informada,
participou mais ativamente no processo de adesão ao tratamento. Como Amaral
(2001) descreveu, ao analisar com a criança o contexto hospitalar, permite-se
que ela compreenda as relações funcionais presentes, promovendo condutas
mais eficazes de adesão ao tratamento e de enfrentamento dos procedimentos médicos.
Em relação à 2ª fase, "O brincar de médico", as crianças demonstraram
bastante interesse por brinquedos e brincadeiras relacionados a temas hospitalares. A simulação possibilitou maior compreensão da sua condição (doença e hospitalização) e também maior contato com experiências negativas de
forma menos aversiva (dessensibilização). O envolvimento da criança com a
atividade de simulação esteve relacionado também com sua maturidade, habilidade e condição física para lidar com esses estímulos. Constatou-se que a
utilização do brinquedo no hospital, proporcionou à criança, aprendizagem
mais rápida de conceitos relacionados à saúde. Bomtempo (1997) descreveu
tal condição, acrescentando que a atividade lúdica devEYSertambém valorizada por possibilitar a generalização para diferentes situações. Durante a
dramatização, os participantes da pesquisa tiveram oportunidade de expressar seus sentimentos e sanar dúvidas relacionadas aos procedimentos médicos como Huerta (1996) e Summers (1991) também descreveram em seus
estudos.
Quanto à 3ª fase, relativa ao relaxamento e fantasia, segundo o que
Siegel e Hudson (1992) consideraram, inferiu-se que tal estratégia possibilitou
aumento na freqüência da emissão de comportamentos cooperativos além
das interações verbais pertinentes a situações imaginadas.
Com relação ao nível de aproveitamento, apesar da diferença não ter
sido significativa (teste t de student), constatou-se que as meninas se beneficiaram mais da intervenção psicológica, apresentando maior diferença na freqüência da emissão de comportamentos concorrentes por ocasião do pré e do
pós-teste. A diferença no desempenho entre crianças do sexo masculino e
feminino deve ser melhor explicitada em estudos posteriores, considerando
os materiais lúdicos utilizados e as atividades propostas.
Quanto à idade dos participantes, as crianças menores (de 5 a 6 anos)
apresentaram uma sensível diminuição da ocorrência de comportamentos
concorrentes após a aplicação do programa. Quanto maior a faixa etária da
criança, menor foi seu aproveitamento da intervenção, evidenciando correlação negativa entre idade e o total de ocorrências de comportamentos concorrentes. Outros autores corroboram tais dados, considerando que as crianças
mais velhas, possuem um repertório comportamental mais elaborado e mais
recursos para o enfrentamento de situações difíceis e desconhecidas (Araujo
& Arraes, 2000; Siegel, Smith & Wood, 1991).
Entende-se que o sexo e a idade da criança são variáveis que devem
ser consideradas e que os dados obtidos no presente estudo podem oferecer
contribuição para a compreensão da variabilidade
de seu desempenho
comportamental, constituindo um critério de possível predição do comportamento das crianças. Há necessidade de que pesquisas futuras investiguem
mais detalhadamente tais variáveis que se relacionam com contexto de proce-
dimentos médicos e o repertório comportamental de indivíduos expostos a
estas contingências.
Verificou-se que, ao divulgar os resultados da pesquisa, profissionais da
saúde do hospital em estudo passaram a reiterar a inclusão de brincadeiras ou
permitiram sua utilização durante intervenções médicas. Muitos deles asseguraram que tal prática facilitou suas atribuições porque, geralmente, obtinham
maior colaboração dos pacientes para a execução desses procedimentos.
4. Considerações Gerais
A utilização da análise do comportamento permitiu a alteração das contingências que controlavam determinados padrões comportamentais, identificando reforçadores que mantinham comportamentos concorrentes, considerados inadequados para a realização ou prosseguimento da execução do procedimento médico, e apresentando reforçadores contingentes aos comportamentos de adesão.
Espera-se que o trabalho contribua para a produção científica da área,
no sentido não só de diminuir a insuficiência metodológica, relacionada ao
fornecimento de informações precisas acerca dos efeitos da intervenção psicológica sobre o repertório comportamental da criança hospitalizada, como
também de subsidiar intervenções nesse contexto, auxiliando profissionais que
atuam no campo da Psicologia da Saúde, a descrever e analisar comportamentos de crianças expostas a procedimentos médicos.
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Vera Maria Barros de Oliveira2
C. n 35, "Elza Bárra"
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Denise Milani3
Instituto Metodista de São Paulo e
APAE de São Caetano do Sul
Resumo: Investiga a forma como a criança com síndrome de Down organiza sua brincadeira e seu desenho em situação não estruturada. Inicia por
breve relato da história, etiologia e características da síndrome em questão,
salientando a relevância do diagnóstico, aconselhamento genético e orientação aos pais, inclusive sobre a estimulação precoce. Faz, a seguir, levantamento da literatura psicológica específica ao tema, identificando linhas de
pesquisa, como a que enfoca a relação mãe e criança com esta síndrome, no
Contribuição derivada da dissertação tiA brincadeira simbólica e o desenho da criança portadora da
síndrome de Down", defendida pela segunda autora e orientada pela primeira.
2 Professor Titular do programa de Pós-graduação em Psicologia da Saúde. Livre-docente pelo /PUSP.
Endereço para correspondência: R. Haddock Lobo, 281 ap.102 01407-200 São Paulo-SP. E-mail:
veraboliveira @ao/.com.br.
3 Docente dos grupos alternativos do Instituto e psicóloga da APAE. Endereço para correspondência:
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