Jornal da Construção ID: 30664985 17-06-2010 Tiragem: 15000 Pág: 16 País: Portugal Cores: Cor Period.: Quinzenal Área: 27,53 x 32,81 cm² Âmbito: Outros Assuntos Corte: 1 de 2 Sapien volutpat Autarquias continuam a saldar dívidas fora do prazo legal O número de autarquias que não paga aos seus fornecedores dentro dos prazos exigidos por lei, ou seja, a 90 dias, aumentou de 2007 para 2008, revela o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses. Os atrasos nos pagamentos por parte das autarquias são uma realidade que os empresários do sector da Construção Civil e Obras Públicas conhecem bem e sentem na sua actividade, sendo, por isso, objecto de reclamação frequente por parte das associações empresariais do Sector, entre elas a AECOPS. De acordo com os dados agora divulgados pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas e constantes no Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, de 2007 para 2008 aumentou o número de autarquias que não cumprem os prazos de pagamento legalmente estabelecidos. Aliás, pode ler-se no documento que “os prazos de pagamento agravaram-se de 2007 para 2008 (...), passando de um total de 122 autarquias que em 2007 não cumpriam os prazos exigidos, para 157 em 2008”. Ainda segundo os dados do Anuário Financeiro, em Dezembro de 2008, o prazo médio de pagamento dos municípios situava-se nos 220,6 dias, ou seja, mais 29,9 dias face ao mesmo período de 2007. 65 municípios em desequilíbrio financeiro O Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 2008 destaca ainda que Fornos de Algodres, Castanheira de Pêra, Fundão, Covilhã e Alijó são os municípios com a maior percentagem de dívida a fornecedores, tendo em conta as receitas cobradas. No total, foram 65 as câmaras que apresentaram desequilíbrio financeiro em 2008, de acordo com a Nova Lei ra, Lagos, Lagoa e Loulé, ou seja, de média e grande dimensão e que, por isso, têm uma maior capacidade para arrecadarem receitas, nomeadamente as provenientes dos impostos municipais a que têm direito (IMI, IMT, IMV, entre outros). Por outro lado, os municípios do Corvo, Nordeste, Vimioso, Barrancos e São Vicente são aqueles que registam uma menor independência financeira. Segundo o Anuário Financeiro, em 2008, havia 48 municípios (mais nove do que em 2007), cujas receitas totais dependiam em, pelo menos, 80% das transferências do Estado. Dois anos para efectuar os pagamentos das Finanças Locais, que entrou em vigor em 2007, que considera que um município com dívidas a fornecedores superiores a 50% das receitas totais do ano anterior pode ser declarado em situação de desequilíbrio financeiro estrutural e/ou ruptura financeira. As mais endividados Lisboa continua a ser, tal como em 2007, o único grande município que aparece no ranking dos 35 com maiores dívidas: mais de 1,1 mil milhões de euros em 2008. Seguem-se, nesta lista, as autarquias de Vila Nova de Gaia (277 milhões de euros), do Porto que, apesar de ter diminuído o valor da dívida em relação a 2007, ainda representa um passivo exigível (dívidas) de mais de 150 milhões de euros, de Aveiro (136 milhões de euros) e de Gondomar (117 milhões). Entre as 35 autarquias mais endividadas, só dez reduziram o valor das suas dívidas face a 2007, tendo as restantes 25 registado aumento das mesmas. De salientar que os municípios de Portalegre e Portimão passaram em 2008 a constar no ranking dos 35 mais endividados, facto que não se verificou nos anos anteriores. Nesta lista, é significativo o aumento da dívida, em mais de 100%, do município de Vila Real de Santo António, em relação ao ano anterior, que passou de 10 milhões de euros para 21,5 milhões de euros em 2008. Dívida total de 7,1 mil milhões É também significativo o número de municípios que diminuíram as suas dívidas em relação ao ano de 2007, sendo que o documento destaca o esforço das autarquias do Porto, que registou a maior diminuição (-15,3%), traduzindo-se em menos 27 milhões de euros, seguindo-se Maia, São Pedro do Sul, Setúbal e Vila do Conde. Os autores do Anuário Financeiro salientam que “os 35 municípios com maiores dívidas continuaram em 2008 a representar cerca de 53% do total das dívidas de todos os 308 municípios (em 2007 representavam 53,5%)”. No final de 2008, as dívidas totais dos municípios ultrapassavam os 7,1 mil milhões de euros. É ainda de salientar, pela positiva, os cinco municípios menos endividados: Penedono (99 mil euros), Redondo (771 mil euros), Lajes das Flores (824 mil euros), Viana do Alentejo (1,08 milhões de euros) e Vila do Bispo (1,09 milhões de euros). Perda de independência financeira Em 2008, as autarquias portuguesas viram a sua independência financeira diminuir, chegando mesmo a atingir o nível mais baixo dos últimos quatro anos para os municípios de média e grande dimensão. De acordo com o Anuário Financeiro, contribuíram para esta descida “a diminuição da taxa de crescimento de uma das principais receitas das grandes e médias autarquias: a receita proveniente dos impostos e taxas municipais”. Entre as autarquias com maior independência financeira estão Lisboa, Albufei- A Direcção-Geral das Autarquias Locais (DGAL) também fez as contas e os dados revelam que, no final do segundo trimestre de 2009, entre as autarquias que mais demoram a saldar as suas dívidas, encontram-se as de Alfândega da Fé e Castelo de Paiva, com prazos médios de pagamento de mais de um ano; aliás, chegam mesmo a ultrapassar os dois anos: 696 e 586 dias, respectivamente. Na lista dos municípios que mais demoram a pagar as suas dívidas estão também: Povoação (506 dias), Celorico da Beira (433 dias), Ourique (431 dias), Vila Nova de Poiares (415 dias) e Armamar (410 dias). Segundo estes dados da DGAL, a autarquia de Lisboa demora, em média, 116 dias a pagar aos seus fornecedores. De acordo com esta lista, em Junho de 2009, o prazo médio de pagamento dos 308 municípios era de 81 dias. FEPICOP quer medidas imediatas para regularizar as dívidas As entidades públicas são as maiores devedoras ao Sector. Numa altura em que as empresas de Construção enfrentam graves dificuldades provocadas pela crise económica e financeira nacional e internacional, a FEPICOP – Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas volta a chamar a atenção do Governo para a necessidade de serem criadas condições para que as entidades públicas paguem a tempo às construtoras. A Federação do Sector refere que o atempado pagamento pelo Estado é uma medida prioritária na actual conjuntura. Para a FEPICOP, o “Programa Pagar a Tempo e Horas”, implementado pelo Governo em 2008, bem como o “PREDE – Programa de Regularização Extraordinária de Dívidas do Estado” foram “insuficientes para eliminar este grave problema que afecta as empresas de Construção”, já que o prazo de pagamento das autarquias “continua longe de estar regularizado”. Segundo refere a FEPICOP, a situação, que já é por si só “um pesado fardo para a economia nacional em geral e as micro e PME’s, é ainda agravada pela crescente deterioração das condições de acesso ao crédito por parte das empresas”. A criação de um mecanismo expedito que permita a imediata regularização de todas as dívidas do Estado aos fornecedores e uma conta corrente entre aquela entidade e as empresas, que inclua todos os impostos, inclusive as restituições de IVA, e as contribuições para a segurança social, são as medidas que a FEPICOP espera que sejam rapidamente concretizadas. Jornal da Construção ID: 30664985 17-06-2010 Tiragem: 15000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Quinzenal Área: 12,19 x 9,29 cm² Âmbito: Outros Assuntos Corte: 2 de 2 Autarquias levam quase um ano para pagar dívidas Cada vez é maior o número de autarquias que não paga aos seus fornecedores a ‘tempo e horas’, ou seja, no prazo legal de 90 dias. Do mesmo modo, cada vez é mais extenso o prazo para saldar as dívidas, que hoje já atinge, em média, os 221 dias. pág. 16