PSICOLOGIA ESCOLAR: EXPECTATIVAS DO ALUNO DA UNITAU E ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO VALE DO PARAÍBA Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro Cecília Pescatore Alves Marlito de Souza Lima Departamento de Psicologia UNITAU RESUMO Como parte de uma ampla pesquisa sobre o mercado de trabalho regional em psicologia, foram consultados os psicólogos residentes no Vale do Paraíba e os alunos do departamento de Psicologia da UNITAU. Os objetivos desta consulta foram caracterizar a inserção dos psicólogos no mercado de trabalho, a avaliação que fazem de sua formação e traçar o perfil dos alunos a partir de suas expectativas quanto à formação e futura atuação profissional. O presente trabalho faz um recorte deste e concentra-se no campo específico da Psicologia Escolar, caracterizando os profissionais que atuam e/ou atuaram na área escolar e os alunos que demonstram interesse na área escolar. A investigação detectou a Psicologia Educacional como uma área atraente, mas que não oferece oportunidades suficientes ou satisfatórias e, mais ainda, para a qual os critérios de absorção dos profissionais pelo mercado não privilegiam a formação específica. Assim, caracteriza-se por um reduzido potencial de fixação e como área de atuação complementar. Discutem-se aspectos relacionados ao ensino de graduação que podem contribuir para a melhoria deste quadro, necessária devido a relevância das contribuições que o psicólogo escolar tem a oferecer à educação. PALAVRAS-CHAVE: formação do psicólogo, psicólogo escolar, mercado de trabalho em psicologia ABSTRACT This paper is part of a larger study about the regional market for jobs in psychology. Psychologists residing in the Paraíba Valley were surveyed and so were surveyed and so were students from the Departament of Psichology at UNITAU. The objectives of this inquiry were to characterize the insertion of psychologists in the job market, how they evaluate their formation, and outline the profile of the students based on their expectation towards formation and future professional performance. This part of the research focusses on the specific area of Educational Psychology, characterizing the professional who work and/or have worked in education and undergraduates who are interested in the area. The results of this investigation suggest that Educational Psychology is an attractive field, but is does not offer enough or satisfactory opportunities. Moreover, results suggest it is an area for which criteria of absorption of professionals by the market do not favour specific formation. Thus, Education Psychology is characterized by a reduced potencial of fixation and as an area of complementary perfomance. We discuss aspects related to undergraduate education which may contribute to the improvement of this situation, which is necessary due to the relevance of contributions Educational Psychology has to offer to education. KEY WORDS: psychology formation, educational psychologist, job market in psychology O sistema educacional brasileiro prevê que profissionais de nível superior obtenham seus títulos em cursos universitários. Entretanto, ao ingressarem no mercado de trabalho, a Universidade perde o contato com eles. Este distanciamento entre os centros formadores e os profissionais acaba por se refletir na qualidade da formação de novos profissionais. Currículos ultrapassados, que não contemplam novas áreas de atuação ou desenvolvimentos tecnológicos de ponta, terminam por formar profissionais despreparados para as vicissitudes do mercado, com altos custos pessoais ou institucionais para a adequação de suas habilitações, ou com a perda dos anos de investimento do ex-aluno na Universidade. Nos cursos de Psicologia, não é diferente a situação. A profissão foi regulamentada em 1962, ocasião em que o currículo mínimo foi fixado. Desde então, não se modificaram as diretrizes oficiais. Portanto, o ajustamento dos currículos depende da sensibilidade das Universidades ao mercado de trabalho do psicólogo, sujeito aos avanços do conhecimento científico e às influências econômicas e sociais. A Universidade de Taubaté vem formando psicólogos há doze anos. Neste período, seus exalunos vêm se defrontando com a necessidade de inserção em um mercado de trabalho competitivo e dinâmico. Como se comporta este mercado, e como se comportam nele os psicólogos do Vale do Paraíba, egressos da Unitau ou de outras instituições de ensino? Há também os atuais alunos, futuros psicólogos: o que esperam de sua futura inserção neste mercado? Diante destas questões, foi realizada pesquisa1 com os objetivos de: 1. Conhecer a natureza da inserção no mercado de trabalho dos psicólogos inscritos no Conselho Regional de Psicologia e residentes no Vale do Paraíba e como avaliam sua formação; 2. Conhecer e sistematizar as expectativas dos atuais alunos do Curso de Psicologia da Unitau, quanto à formação e inserção futura no mercado de trabalho. No caso dos psicólogos, os dados foram colhidos através de questionário, que foi encaminhado a todos os inscritos no CRP-06 que residiam nas cidades do Vale do Paraíba Paulista2. Foram enviados pelo correio 1400 questionários, dos quais retornaram 350 ( 25%). As informações dos alunos foram colhidas em entrevistas. Foram entrevistados 150 alunos dos 245 matriculados à época da coleta de dados, representando 61%. O presente trabalho discute parte dos dados coletados, aqueles que dizem respeito à área da Psicologia Educacional. Dentre os questionários dos psicólogos, foram selecionados os que preenchiam um ou mais dos seguintes critérios: ter realizado complementações aos estudos da graduação em 1 2 Esta pesquisa foi financiada pela UNITAU e pelo CRP-06. As cidades abrangidas foram Taubaté, Tremembé, São José dos Campos, Caçapava, Pindamonhangaba, Roseira, Aparecida do Norte, Guaratinguetá, Lorena, Cachoeira Paulista, Cruzeiro, Silveiras, Queluz, São José do Barreiro, São Luiz do Paraitinga, Paraibuna, Redenção da Serra, Campos do Jordão. Note-se que foram incluídas cidades que, não estando na bacia do Rio Paraíba, guardam com os municípios da região estreitas relações. Psicologia Educacional, ter ingressado no mercado de trabalho atuando em Psicologia Educacional ou estar trabalhando em Psicologia Educacional. Resultaram 89 questionários, equivalentes a 25,4% dos questionários retornados. Dos registros de entrevistas dos alunos, foram selecionados os 24 que declaravam ter interesse em futuramente trabalhar em Psicologia Educacional, representando 16% dos alunos entrevistados. 2 - EXPECTATIVAS DOS ALUNOS DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UNITAU QUANTO À FORMAÇÃO E FUTURA INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO Do universo de 150 alunos entrevistados, 24 (representando 16% da amostra) apontaram Psicologia Educacional como área de interesse para atuação profissional no futuro. Estes alunos avaliaram que a formação que receberiam até o final do curso, para esta escolha, seria parcialmente suficiente. Este julgamento manteve-se, tanto no caso da escolha incidir exclusivamente sobre a Psicologia Educacional, como quando outras áreas eram apontadas, juntamente com Psicologia Educacional, como sendo área de interesse futura. Ao serem perguntados sobre as razões de sua opção por psicologia enquanto profissão3, 37% apontaram motivos voltados para si, 29,76% motivos voltados para o outro e 20,83% motivos voltados para a profissão. A visão que revelaram sobre a atuação do psicólogo esteve preponderantemente direcionada a uma psicologia aplicada, no sentido de um fazer mediado pela razão instrumental da psicologia, que pode se expressar em qualquer campo de atuação profissional. Seguiu-se, em freqüência, uma visão do fazer clínico, onde o outro (o paciente) é compreendido como portador de distúrbios passíveis de ação do psicólogo. O julgamento que o aluno fez sobre a possibilidade de ocupação do psicólogo no Vale foi favorável, na sua grande maioria (66,66%), justificado por razões centradas na competência e interesse profissional (29,16%) e em características do campo de atuação (20,83%). Psicologia Educacional foi julgada como a área que ofereceria as melhores oportunidades de 3 A avaliação dos motivos de escolha da psicologia como profissão (tanto para alunos quanto para psicólogos) foi baseada nos critérios usados por Carvalho e cols., descritos em Quem é o Psicólogo Brasileiro, publicado pelo CFP em 1988. ocupação. A segunda área mais apontada foi a Clínica. A não atuação do psicólogo foi atribuída por 33% ao desinteresse pela profissão. Contudo, 20,8% julgaram que, embora possa haver interesse, o mercado de trabalho não oferece oportunidade; 16,6% atribuíram a não atuação à insuficiência da formação. 3. PSICÓLOGOS: DADOS SOBRE A INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO, E AVALIAÇÃO QUE FAZEM DESTE E DE SUA FORMAÇÃO 3.1. A inserção dos psicólogos no mercado de trabalho em Psicologia Educacional 3.1.1. Atuam ou já atuaram em Psicologia Educacional cinqüenta e quatro psicólogos. Distribuíram-se em três condições, que levaram em conta a área de atuação do primeiro trabalho conseguido em psicologia e a área de atuação do trabalho atual. A distribuição resultante está demonstrada na Figura 1. Observa-se que o número de psicólogos que hoje trabalham em Psicologia Educacional e que iniciaram a carreira em outras áreas (Grupo A) é muito superior que o número daqueles que ingressaram na área e nela permaneceram (Grupo B). Supera também o número dos que deixaram a área (Grupo C). Estas três condições constituíram ponto básico de análise dos dados que se seguem. 3.1.2. A Psicologia Educacional como área do primeiro trabalho: 29 psicólogos ingressaram no mercado de trabalho na área de Psicologia Educacional, representando 8,3% dos respondentes. Destes, 9 permanecem ainda hoje na área, sendo que 7 atuam somente em Psicologia Educacional e 2 combinam atuação com Psicologia Clínica. A área que mais atraiu os 20 psicólogos que deixaram a Psicologia Educacional foi a Clínica. Atuando exclusivamente em Clínica encontramos 25% deles, combinando-a com outras áreas de atuação, este número sobe para 55%. A Figura 2 apresenta a distribuição encontrada para as áreas de atuação do trabalho atual. Realização profissional foi o motivo mais apontado para aceitação do primeiro trabalho, tanto para os que permaneceram na área, como para os que a deixaram. A relação de trabalho mais freqüente foi a de empregado pela CLT, para ambos os grupos. Entretanto, eles diferem quanto à proporção de servidores públicos e autônomos. Dentre os que permanecem na área, há mais servidores públicos; dentre os que a deixam, há mais autônomos. 5 4 Org. Docência 3 2 1 A: Psicólogos para os quais o 1º trabalho e o trabalho atual estão na área da Psicologia Educacional 46% 17% 37% B: Psicólogos que tiveram 1º trabalho em Psicologia Educacional e deixaram a área C: Psicólogos que tiveram 1º trabalho em outras áreas e trabalham atualmente em Psicologia Educacional Fig. 1. Distribuição dos psicólogos nas condições resultantes da combinação entre área do primeiro trabalho e área do trabalho atual Clínica Institucional Clínica +Hosp. Clínica +Instit. Clínica + Org. Clínica + Doc. Class. Imp. Não trab. Psic Não respondeu 0 Fig. 2. Áreas de atuação do trabalho atual em psicologia para psicólogos que deixaram a área da Psicologia Educacional. 3.1.3. A Psicologia Educacional como área do trabalho atual: 34 psicólogos trabalham hoje na área, representando 9,7% dos respondentes. Destes, 9 estão na área desde o início de sua vida profissional. Os demais 25 iniciaram-se em outras áreas de atuação. Entre as outras áreas, foi a Clínica a que atraiu a maior parte destes psicólogos inicialmente: 23,5% deles ingressaram no mercado de trabalho atuando nesta área. O motivo mais apontado para aceitação do trabalho atual em Psicologia Educacional foi realização profissional, como foi também no caso do primeiro trabalho, tanto para o grupo que ingressou em Psicologia Educacional como o que ingressou em outras áreas. Estes dois grupos diferem quando se compara o número de diferentes motivos citados. Vinte e quatro por cento dos psicólogos que iniciaram em outras áreas e que hoje trabalham em Psicologia Educacional referem-se a outros motivos (salário, falta de opção, influência da formação), dispersão não observada para o grupo dos psicólogos que se fixou na área. pouco mais da metade dos psicólogos acredita que haja oportunidade de ocupação para o psicólogo na região do Vale do Paraíba. As áreas que são citadas com mais freqüência são Clínica e Organizacional. Uma constatação emerge da comparação entre os que se fixaram na área educacional e os que vieram de outras áreas: apenas estes afirmam que há oportunidades de ocupação na área da Psicologia Educacional. Mesmo assim, a área não é apontada exclusivamente, mas em combinação. As justificativas apontadas para a existência ou não de oportunidades de ocupação estão voltadas, em sua maior parte, para condições externas ao sujeito (condições sócio-econômicas ou características da profissão). Características do profissional são consideradas apenas para justificar a existência, mas não a inexistência, de oportunidades de ocupação. Psicólogos com 1º trabalho e trabalho atual na área da Psicologia Educacional Psicólogos com 1º trabalho em outras áreas e trabalho atual em Psicologia Educacional Psicólogos que não declaram atuação em Psicologia Educacional Fig. 3. Distribuição dos psicólogos quanto a trabalho atual em Psicologia Educacional A relação de trabalho mais freqüente é a de empregado pela CLT, que se repete para os dois grupos, como já se observou para o primeiro emprego. 3.1.4. Psicologia Educacional como área de atuação principal ou secundária: o trabalho exclusivamente na área de Psicologia Educacional era exercido por 50% da amostra, sendo mais freqüente para aqueles que se fixaram na área que para os que vieram de outras áreas. Para os últimos, a dispersão é maior: quatro áreas diferentes combinam-se com Educacional (Clínica, Organizacional, Institucional e Docência). Estes dados podem ser vistos na Figura 4. Psicólogos para os quais o 1º trabalho e o trabalho atual estão na área da Psicologia Educacional 10 9 8 Psicólogos que tiveram 1º trabalho em outras áreas da Psicologia e trabalham atualmente em Psicologia Educacional 7 6 5 4 3 2 1 0 Educac. Educac.+ Clínica+ Organiz. Educac.+ Organiz. Fig. 4. Áreas de atuação do trabalho atual 3.1.5. Avaliação das oportunidades de ocupação para psicólogos no Vale do Paraíba: 3.2. A realização complementares após a graduação de estudos Do total de 350 respondentes, 65 declararam ter realizado complementos à graduação na área da Psicologia Educacional, conforme se vê na Tabela 1. Nota-se que a maioria dos que têm interesse pelo estudo do assunto nunca chegou a atuar na área. Condição Psicólogos para os quais o 1º trabalho e o trabalho atual estão na área da Psicologia Educacional Psicólogos que tiveram 1º trabalho em Psicologia Educacional e deixaram a área Psicólogos que tiveram 1º trabalho em outras áreas da Psicologia e que agora atuam em Psicologia Educacional Nunca atuaram em Psicologia Educacional TOTAL Fi 4 %65 25,0 %350 4,57 10 15,4 2,85 16 6,1 1,14 35 65 53,8 100 10,0 18,57 Tab.1 - Atuação em Psicologia Educacional para psicólogos que realizaram complementos à graduação nesta área Quando são analisados os estudos complementares realizados pelos respondentes que atuam ou atuaram na área, observa-se que dentre os vinte que tiveram o primeiro trabalho em Psicologia Educacional e depois deixaram-na, apenas 10 fizeram complementação nesta área; dos trinta e quatro que atuam em Psicologia Educacional, vinte fizeram complementação nesta área. Dentre os que estão na área desde o princípio de sua vida profissional, 3 (1/3 do grupo) declararam não ter realizado quaisquer estudos complementares à graduação; o mesmo ocorrendo com apenas 1 dos que a deixaram. ÁREA DA PSICOLOGIA Clínica Educacional Organizacio-nal Hospitalar Social Institucional Psicólogos para os quais o 1º trabalho e o trabalho atual estão na área da Psic. Educacional 4 4 Psicólogos que tiveram 1º trabalho em Psicologia e deixaram a área 13 10 2 1 3 6 Psicólogos que tiveram 1º trabalho em outras áreas e trabalham atualmente em Psicologia Educacional 17 16 3 2 1 3 TOTAL 34 30 5 3 4 9 Tab. 2. Área em que buscou complementos à formação após a graduação: freqüência de referências à área Salienta-se que a área mais apontada pelos 54 respondentes é a Clínica, conforme se vê na Tabela 2. Esta tabela mostra o número de vezes que uma área foi apontada, sozinha ou em combinação com outras áreas. Por isto, os totais superam o número de respondentes. Ter realizado complementos em Clínica foi referido mais vezes que qualquer das outras áreas, incluindo-se Psicologia Educacional. Os motivos voltados para a profissão são os mais apontados dentre os psicólogos que vieram para a área. A maior parte dos respondentes, nas três condições, afirmou que estes motivos originais não mudaram com o tempo. Os mesmos fatores foram apontados para justificar tanto a permanência como a mudança do motivo. Assim, inserção no mercado de trabalho e a própria formação - os mais citados - são vistos por alguns como causas de confirmação do motivo que os levou a buscarem graduação em Psicologia e por outros como razões para mudança deste motivo. 9 8 para si 7 Para o outro Para profissão 6 Extrínsecos à profissão 5 Para si e para o outro 4 Para aptidão pessoal e para o outro 3 3.3. Avaliação da formação quanto à amplitude, atualização dos conteúdos e integração entre teoria e prática De modo geral, os respondentes fazem avaliações favoráveis à formação recebida na graduação. Os psicólogos que deixaram a área da Psicologia Educacional demonstraram menor satisfação com a formação recebida na graduação, quando foram comparados os respondentes nas três condições. O aspecto mais criticado foi o da amplitude da formação. Os psicólogos que atuam em Psicologia Educacional avaliam de modo mais positivo a contribuição da graduação ao exercício profissional e, como menos satisfatório, a integração entre teoria e prática. 3.4. Motivos de escolha da profissão Os motivos apontados como determinantes da escolha da profissão foram classificados de acordo com Carvalho e cols. (1988) e dividiram-se principalmente entre os voltados para si, para o outro e para a profissão, como se vê na Figura 5. Os motivos voltados para si são os mais freqüentes dentre os que iniciaram-se na profissão já em Psicologia Educacional e permaneceram na área. Dentre os que deixaram a área, verificam-se freqüências semelhantes para os três motivos mais citados. Outros motivos 2 1 0 1º trabalho e o trabalho atual em Psicologia Educacional 1º trabalho em Psicologia Educacional e deixaram a área 1º trabalho em outras áreas e trabalho atual em Psicologia Educacional Fig. 5. Motivos apontados pelos psicólogos como determinantes de escolha da profissão 3.5. Ser psicólogo e não trabalhar em Psicologia Dois psicólogos que tiveram o primeiro trabalho em Psicologia Educacional hoje não trabalham em Psicologia, sendo que um não está trabalhando e o outro trabalha em outra atividade. Ambos afirmam que, embora interessados na profissão, não encontram oportunidades de ocupação no mercado de trabalho. Seis psicólogos que realizaram complementos à graduação em Psicologia Educacional hoje não trabalham em Psicologia. Três trocaram a profissão por outra, dois não trabalham atualmente. Um trabalha em outra atividade e nunca trabalhou como psicólogo. Motivos de ordem pessoal foram citados por três deles. Os outros três atribuíram o fato de não trabalharem como psicólogos ao mercado de trabalho, por não oferecer oportunidades de trabalho (1), por oferecer oportunidades de trabalho não lucrativas (1) e faz exigências para as quais a graduação não os capacitou. RESUMINDO 1) O primeiro trabalho em Psicologia, na área de Psicologia Educacional é aceito por realização profissional e mais freqüentemente é em regime de CLT. 2) A maioria dos que ingressam em Psicologia Educacional deixa a área, indo principalmente para Clínica. 3) A maior parte dos que atuam hoje em Psicologia Educacional iniciou sua vida profissional em outras áreas de atuação, mais freqüentemente em Clínica. Este trabalho também é aceito principalmente por realização profissional e o regime de trabalho mais comum é CLT. 4) Metade da amostra combina atuação em Psicologia Educacional com atuação em outras áreas, mais freqüentemente com Clínica. 5) Proporção expressiva dos psicólogos acredita que não haja na região oportunidades de ocupação para o psicólogo. 6) Entre os que acreditam que haja oportunidades de ocupação para o psicólogo na região, as áreas citadas são Clínica e Organizacional. A Psicologia Educacional só é citada pelos psicólogos que vieram para a área, e não pelos que iniciaram nela. 7) As justificativas apontadas para a existência ou inexistência de oportunidades de ocupação estão, mais freqüentemente, fora dos sujeitos (condições sócio-econômicas da região ou do país). Características do sujeito como profissional são lembradas para justificar a existência, mas não a inexistência de oportunidades. 8) O interesse pela área da Psicologia Educacional, expresso pela realização de complementação na área após a graduação, não é acompanhado pela absorção pelo mercado: a maioria dos que têm interesse pelo assunto nunca atuou na área. 9) A atuação na área não é necessariamente acompanhada pela realização de estudos na mesma: metade dos que deixaram a área e menos da metade dos que nela estão apontam ter realizado complementação à graduação em Psicologia Educacional. 10) A formação recebida na graduação é, de modo geral, avaliada favoravelmente. O grupo menos satisfeito com a formação recebida na graduação é o dos que deixaram a área da Psicologia Educacional, os quais consideram a amplitude da formação o ponto mais fraco. 11) Os que atuam em Psicologia Educacional avaliam como positiva a contribuição da graduação para o exercício profissional, mas consideram a integração teoria-prática o ponto mais fraco. 12) Os três grupos variam quanto ao motivo mais freqüente de escolha da profissão. No grupo que fixou-se na área, predominam os motivos voltados para si. No grupo que veio para a área, predominam os motivos voltados para a profissão. No grupo que deixou a área, equilibram-se os motivos voltados para si, os voltados para a profissão e os voltados para o outro. 13) O motivo de escolha da profissão não muda com o tempo, para a maior parte dos respondentes. Inserção no mercado de trabalho e a formação em psicologia são apontados tanto para justificar a permanência do motivo quanto sua mudança. 14) Dois psicólogos que tiveram o primeiro trabalho em Psicologia Educacional e seis psicólogos que realizaram complementos à graduação em Psicologia Educacional hoje não trabalham em Psicologia. O fato de não trabalharem como psicólogos é relacionado ao mercado de trabalho, por não oferecer oportunidades de trabalho, por oferecer oportunidades de trabalho não lucrativas e por fazer exigências para as quais a graduação não capacitou. Também são citados motivos de ordem pessoal. 4. CONCLUSÕES Os dados coletados nesta pesquisa nos remetem necessariamente a refletirmos sobre alguns aspectos do campo de atuação, da formação e do mercado de trabalho do psicólogo educacional. A Psicologia Educacional mostrou ser uma área de interesse para atuação profissional, tanto para os alunos como para os psicólogos. Há, entretanto, um descompasso entre este interesse e a efetiva absorção pelo mercado de trabalho, expressa no fato de que a maioria dos psicólogos que realizou estudos complementares neste assunto nunca chegou a atuar na área. Atuação em Psicologia Educacional, apesar de atraente, parece não oferecer oportunidades suficientes ou satisfatórias e, mais ainda, os critérios de absorção pelo mercado não privilegiam a formação específica. Assim, é possível supor que, mantidas as condições atuais da formação e do mercado, as tendências aqui observadas venham a se repetir no futuro para os novos contingentes de psicólogos: atração inicial pela área e posterior abandono, com o ingresso de psicólogos que passam a exercê-la conjuntamente com outras áreas e, muitas vezes, apenas com a formação recebida na graduação, que pode não incluir estágio supervisionado e estudos teóricos na área. Estas características da Psicologia Educacional como área com reduzido potencial de fixação e de atuação complementar ou secundária, já foram apontadas na pesquisa nacional realizada pelo Conselho Federal de Psicologia (Bastos, 1988), e creditadas “às precárias condições de trabalho na área (...) ou a ausência de um campo ou mercado claramente conquistado”(p.182). A inexistência de um espaço legalmente constituído para o psicólogo no sistema escolar é freqüentemente apontada como responsável pela situação do mercado de trabalho na área, e discutida por Witter e cols (1992), que constataram nos anos 80 um crescimento na atuação do psicólogo educacional, mas dissociado de uma formação dirigida para a área. A formação recebida na graduação foi avaliada favoravelmente, tanto pelos psicólogos, como pelos alunos. Há relativamente poucas menções à possibilidade de que os problemas enfrentados no contato com o mercado de trabalho sejam resultantes de insuficiência desta formação. Ressalte-se que a compreensão da importância que o preparo na graduação possa ter para o confronto com as exigências de atuação propostas pelo mercado de trabalho foi explicitada mais freqüentemente pelos alunos que pelos psicólogos. O aluno - vinculado aos critérios acadêmicos de aprovação e reprovação - valoriza a graduação, crê que esta o habilitará às exigências do exercício profissional e tem uma visão otimista das oportunidades de ocupação que o mercado regional oferece. Conseqüentemente, crê que o insucesso na inserção no mercado deva ser creditado ao profissional como indivíduo (incompetente ou desinteressado). Por seu lado, o psicólogo, inserido ou tentando se inserir no mercado de trabalho, credita a este as dificuldades vividas. Assim, os dois grupos deixam de manifestar uma visão mais compreensiva dos diferentes processos que compõem a complexa rede de relações que culminam no sucesso ou fracasso do indiivíduo como profissional e que incluem tanto os fatores (incontáveis!) da formação, quanto os econômicos, os sociais, os políticos, associados à conjuntura específica da profissão do psicólogo. A sociedade e a escola (de Psicologia, aqui) não trata a todos da mesma forma. Assim, cada aluno, depois da formatura, defrontar-se-á com suas necessidades individuais a serem resolvidas na sociedade. Com o confronto com o mercado de trabalho, a visão idealista liberal encontrada no aluno manifesta novos aspectos, até então abafados pelo locus institucional universitário. Com baixos salários e vislumbrando poucas oportunidades de colocação, o psicólogo não pensa mais se é capaz, se foi ou está preparado. Responsabiliza genericamente a sociedade, que não resolve suas crises econômicas, ou que não reconhece a importância do psicólogo como categoria profissional. Responsabiliza também a escola onde se graduou, por não ter favorecido a integração teoriaprática. Em complementações livres às perguntas dos questionários, esta foi a colocação mais freqüente. Há a sugestão de que a faculdade devesse se encarregar de conseguir empregos para os recém-formados, ou ainda de garantir a continuidade da supervisão, porque esta é cara fora da faculdade. Assim, numa sociedade desigual onde a educação superior foi esperança de mobilidade social, um expressivo contingente de psicólogos ligados à área educacional percebe-se como excluído. O distanciamento vivido entre Universidade e vida cotidiana será reposto nas instituições escolares, tornando o processo cíclico. Ao comportarem-se como vítimas de um mercado de trabalho e de uma sociedade poderosa e opressiva que não os acolhe como planejaram, tornam-se também incapazes de serem agentes de mudança social, como cidadãos, através de seu saber profissional (Lehman, 1992). Evidencia-se, assim, a necessidade de um redirecionamento no ensino de graduação. Este ensino deve garantir que a capacitação técnicoprofissional ocorra num contexto de estreita vinculação com os fenômenos da vida cotidiana. Estes fenômenos têm direcionado mudanças na prática profissional, que se refletem nas novas habilidades requeridas dos psicólogos, como demonstrado por Bastos (1994). Estas habilidades são agrupadas por ele em três áreas principais: posição frente ao conhecimento, ao trabalho e características pessoais. Apontam para um profissional cujo perfil é empreendedor e criativo, sintonizado com os movimentos sociais e com os conhecimentos gerados pela prática contextualizada e teorizada, que se dá de modo interdisciplinar Esta condição poderá ser criada pela Universidade, ao comprometer-se com as demandas sócio-políticas, que incluem o mercado de trabalho e de não-trabalho. Tornar efetivo este redirecionamento abrirá espaço para sua continuidade na ação do profissional na instituição escolar. Deste modo, a formação dos psicólogos permitirá a eles assumirem a necessária postura de educadores, visando a construção de uma escola inserida na cotidianeidade, que seja orientada por relações mais democráticas, que objetivem a reconstrução e transmissão dos conhecimentos necessários à cidadania. LEHMAN, Yvette Piha. Eleitos e Marginalizados. Psicologia, Ciência e Profissão,12 (3/4), 1992, 34-37. WITTER, Geraldina Porto, WITTER, Carla, YUKIMITSU, Maria Terezinha C.P. et al. Atuação do Psicólogo Escolar e Educacional no Brasil: Perspectivas através de textos. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Psicólogo Brasileiro: construção de novos espaços. Campinas, Tomo, 1992. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt Bastos. Dinâmica profissional e formação do psicólogo. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Psicólogo brasileiro: Práticas emergentes e desafios para a formação. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1994. BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt Bastos. Áreas de atuação: em questão o nosso modelo de profissional. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo, Edicon, 1988. CARVALHO, Anamélia Araújo, ULIAN, Ana Lúcia A. de Oliveira, BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt et al. A escolha da Profissão: alguns valores implícitos nos motivos apontados pelos psicólogos. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo, Edicon, 1988. Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro, Cecília Pescatore Alves e Marlito de Souza Lima são professores junto ao Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté.