PSICOLOGIA ESCOLAR: EXPECTATIVAS DO
ALUNO DA UNITAU E ATUAÇÃO DO
PSICÓLOGO NO VALE DO PARAÍBA
Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro
Cecília Pescatore Alves
Marlito de Souza Lima
Departamento de Psicologia
UNITAU
RESUMO
Como parte de uma ampla pesquisa sobre o mercado de trabalho regional em psicologia, foram consultados os
psicólogos residentes no Vale do Paraíba e os alunos do departamento de Psicologia da UNITAU. Os objetivos desta consulta
foram caracterizar a inserção dos psicólogos no mercado de trabalho, a avaliação que fazem de sua formação e traçar o perfil
dos alunos a partir de suas expectativas quanto à formação e futura atuação profissional. O presente trabalho faz um recorte
deste e concentra-se no campo específico da Psicologia Escolar, caracterizando os profissionais que atuam e/ou atuaram na área
escolar e os alunos que demonstram interesse na área escolar. A investigação detectou a Psicologia Educacional como uma área
atraente, mas que não oferece oportunidades suficientes ou satisfatórias e, mais ainda, para a qual os critérios de absorção dos
profissionais pelo mercado não privilegiam a formação específica. Assim, caracteriza-se por um reduzido potencial de fixação e
como área de atuação complementar. Discutem-se aspectos relacionados ao ensino de graduação que podem contribuir para a
melhoria deste quadro, necessária devido a relevância das contribuições que o psicólogo escolar tem a oferecer à educação.
PALAVRAS-CHAVE: formação do psicólogo, psicólogo escolar, mercado de trabalho em psicologia
ABSTRACT
This paper is part of a larger study about the regional market for jobs in psychology. Psychologists residing in the
Paraíba Valley were surveyed and so were surveyed and so were students from the Departament of Psichology at UNITAU.
The objectives of this inquiry were to characterize the insertion of psychologists in the job market, how they evaluate their
formation, and outline the profile of the students based on their expectation towards formation and future professional
performance. This part of the research focusses on the specific area of Educational Psychology, characterizing the professional
who work and/or have worked in education and undergraduates who are interested in the area. The results of this investigation
suggest that Educational Psychology is an attractive field, but is does not offer enough or satisfactory opportunities. Moreover,
results suggest it is an area for which criteria of absorption of professionals by the market do not favour specific formation.
Thus, Education Psychology is characterized by a reduced potencial of fixation and as an area of complementary perfomance.
We discuss aspects related to undergraduate education which may contribute to the improvement of this situation, which is
necessary due to the relevance of contributions Educational Psychology has to offer to education.
KEY WORDS: psychology formation, educational psychologist, job market in psychology
O sistema educacional brasileiro prevê que
profissionais de nível superior obtenham seus títulos
em cursos universitários. Entretanto, ao ingressarem
no mercado de trabalho, a Universidade perde o
contato com eles. Este distanciamento entre os
centros formadores e os profissionais acaba por se
refletir na qualidade da formação de novos
profissionais. Currículos ultrapassados, que não
contemplam novas
áreas
de atuação ou
desenvolvimentos tecnológicos de ponta, terminam
por formar profissionais despreparados para as
vicissitudes do mercado, com altos custos pessoais ou
institucionais para a adequação de suas habilitações,
ou com a perda dos anos de investimento do ex-aluno
na Universidade.
Nos cursos de Psicologia, não é diferente a
situação. A profissão foi regulamentada em 1962,
ocasião em que o currículo mínimo foi fixado. Desde
então, não se modificaram as diretrizes oficiais.
Portanto, o ajustamento dos currículos depende da
sensibilidade das Universidades ao mercado de
trabalho do psicólogo, sujeito aos avanços do
conhecimento científico e às influências econômicas
e sociais.
A Universidade de Taubaté vem formando
psicólogos há doze anos. Neste período, seus exalunos vêm se defrontando com a necessidade de
inserção em um mercado de trabalho competitivo e
dinâmico. Como se comporta este mercado, e como
se comportam nele os psicólogos do Vale do Paraíba,
egressos da Unitau ou de outras instituições de
ensino? Há também os atuais alunos, futuros
psicólogos: o que esperam de sua futura inserção
neste mercado?
Diante destas questões, foi realizada
pesquisa1 com os objetivos de:
1. Conhecer a natureza da inserção no
mercado de trabalho dos psicólogos inscritos no
Conselho Regional de Psicologia e residentes no Vale
do Paraíba e como avaliam sua formação;
2. Conhecer e sistematizar as expectativas
dos atuais alunos do Curso de Psicologia da Unitau,
quanto à formação e inserção futura no mercado de
trabalho. No caso dos psicólogos, os dados foram
colhidos através de questionário, que foi
encaminhado a todos os inscritos no CRP-06 que
residiam nas cidades do Vale do Paraíba Paulista2.
Foram enviados pelo correio 1400 questionários, dos
quais retornaram 350 ( 25%).
As informações dos alunos foram colhidas
em entrevistas. Foram entrevistados 150 alunos dos
245 matriculados à época da coleta de dados,
representando 61%.
O presente trabalho discute parte dos dados
coletados, aqueles que dizem respeito à área da
Psicologia Educacional.
Dentre os questionários dos psicólogos,
foram selecionados os que preenchiam um ou mais
dos
seguintes
critérios:
ter
realizado
complementações aos estudos da graduação em
1
2
Esta pesquisa foi financiada pela UNITAU e pelo CRP-06.
As cidades abrangidas foram Taubaté, Tremembé, São José dos
Campos, Caçapava, Pindamonhangaba, Roseira, Aparecida do
Norte, Guaratinguetá, Lorena, Cachoeira Paulista, Cruzeiro,
Silveiras, Queluz, São José do Barreiro, São Luiz do Paraitinga,
Paraibuna, Redenção da Serra, Campos do Jordão. Note-se que
foram incluídas cidades que, não estando na bacia do Rio
Paraíba, guardam com os municípios da região estreitas
relações.
Psicologia Educacional, ter ingressado no mercado de
trabalho atuando em Psicologia Educacional ou estar
trabalhando em Psicologia Educacional. Resultaram
89 questionários, equivalentes a 25,4% dos
questionários retornados.
Dos registros de entrevistas dos alunos, foram
selecionados os 24 que declaravam ter interesse em
futuramente trabalhar em Psicologia Educacional,
representando 16% dos alunos entrevistados.
2 - EXPECTATIVAS DOS ALUNOS DO
CURSO DE PSICOLOGIA DA UNITAU
QUANTO À FORMAÇÃO E FUTURA
INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO
Do universo de 150 alunos entrevistados, 24
(representando 16% da amostra) apontaram
Psicologia Educacional como área de interesse para
atuação profissional no futuro.
Estes alunos avaliaram que a formação que
receberiam até o final do curso, para esta escolha,
seria parcialmente suficiente. Este julgamento
manteve-se, tanto no caso da escolha incidir
exclusivamente sobre a Psicologia Educacional, como
quando outras áreas eram apontadas, juntamente com
Psicologia Educacional, como sendo área de interesse
futura.
Ao serem perguntados sobre as razões de sua
opção por psicologia enquanto profissão3, 37%
apontaram motivos voltados para si, 29,76% motivos
voltados para o outro e 20,83% motivos voltados para
a profissão.
A visão que revelaram sobre a atuação do
psicólogo esteve preponderantemente direcionada a
uma psicologia aplicada, no sentido de um fazer
mediado pela razão instrumental da psicologia, que
pode se expressar em qualquer campo de atuação
profissional. Seguiu-se, em freqüência, uma visão do
fazer clínico, onde o outro (o paciente) é
compreendido como portador de distúrbios passíveis
de ação do psicólogo.
O julgamento que o aluno fez sobre a
possibilidade de ocupação do psicólogo no Vale foi
favorável, na sua grande maioria (66,66%),
justificado por razões centradas na competência e
interesse profissional (29,16%) e em características
do campo de atuação (20,83%).
Psicologia Educacional foi julgada como a
área que ofereceria as melhores oportunidades de
3
A avaliação dos motivos de escolha da psicologia como
profissão (tanto para alunos quanto para psicólogos) foi baseada
nos critérios usados por Carvalho e cols., descritos em Quem é
o Psicólogo Brasileiro, publicado pelo CFP em 1988.
ocupação. A segunda área mais apontada foi a
Clínica.
A não atuação do psicólogo foi atribuída por
33% ao desinteresse pela profissão. Contudo, 20,8%
julgaram que, embora possa haver interesse, o
mercado de trabalho não oferece oportunidade;
16,6% atribuíram a não atuação à insuficiência da
formação.
3. PSICÓLOGOS: DADOS SOBRE A
INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO, E
AVALIAÇÃO QUE FAZEM DESTE E DE SUA
FORMAÇÃO
3.1. A inserção dos psicólogos no mercado
de trabalho em Psicologia Educacional
3.1.1. Atuam ou já atuaram em Psicologia
Educacional cinqüenta e quatro psicólogos.
Distribuíram-se em três condições, que levaram em
conta a área de atuação do primeiro trabalho
conseguido em psicologia e a área de atuação do
trabalho atual. A distribuição resultante está
demonstrada na Figura 1.
Observa-se que o número de psicólogos que
hoje trabalham em Psicologia Educacional e que
iniciaram a carreira em outras áreas (Grupo A) é
muito superior que o número daqueles que
ingressaram na área e nela permaneceram (Grupo B).
Supera também o número dos que deixaram a área
(Grupo C).
Estas três condições constituíram ponto
básico de análise dos dados que se seguem.
3.1.2. A Psicologia Educacional como área
do primeiro trabalho: 29 psicólogos ingressaram no
mercado de trabalho na área de Psicologia
Educacional, representando 8,3% dos respondentes.
Destes, 9 permanecem ainda hoje na área,
sendo que 7 atuam somente em Psicologia
Educacional e 2 combinam atuação com Psicologia
Clínica.
A área que mais atraiu os 20 psicólogos que
deixaram a Psicologia Educacional foi a Clínica.
Atuando exclusivamente em Clínica encontramos
25% deles, combinando-a com outras áreas de
atuação, este número sobe para 55%.
A Figura 2 apresenta a distribuição
encontrada para as áreas de atuação do trabalho atual.
Realização profissional foi o motivo mais
apontado para aceitação do primeiro trabalho, tanto
para os que permaneceram na área, como para os que
a deixaram.
A relação de trabalho mais freqüente foi a de
empregado pela CLT, para ambos os grupos.
Entretanto, eles diferem quanto à proporção de
servidores públicos e autônomos. Dentre os que
permanecem na área, há mais servidores públicos;
dentre os que a deixam, há mais autônomos.
5
4
Org.
Docência
3
2
1
A: Psicólogos para os
quais o 1º trabalho e o
trabalho atual estão na
área da Psicologia
Educacional
46%
17%
37%
B: Psicólogos que
tiveram 1º trabalho em
Psicologia Educacional
e deixaram a área
C: Psicólogos que
tiveram 1º trabalho em
outras áreas e
trabalham atualmente
em Psicologia
Educacional
Fig. 1. Distribuição dos psicólogos nas condições
resultantes da combinação entre área do primeiro
trabalho e área do trabalho atual
Clínica
Institucional
Clínica +Hosp.
Clínica +Instit.
Clínica + Org.
Clínica + Doc.
Class. Imp.
Não trab. Psic
Não respondeu
0
Fig. 2. Áreas de atuação do trabalho atual em
psicologia para psicólogos que deixaram a área da
Psicologia Educacional.
3.1.3. A Psicologia Educacional como área
do trabalho atual: 34 psicólogos trabalham hoje na
área, representando 9,7% dos respondentes. Destes, 9
estão na área desde o início de sua vida profissional.
Os demais 25 iniciaram-se em outras áreas de
atuação.
Entre as outras áreas, foi a Clínica a que
atraiu a maior parte destes psicólogos inicialmente:
23,5% deles ingressaram no mercado de trabalho
atuando nesta área.
O motivo mais apontado para aceitação do
trabalho atual em Psicologia Educacional foi
realização profissional, como foi também no caso do
primeiro trabalho, tanto para o grupo que ingressou
em Psicologia Educacional como o que ingressou em
outras áreas. Estes dois grupos diferem quando se
compara o número de diferentes motivos citados.
Vinte e quatro por cento dos psicólogos que iniciaram
em outras áreas e que hoje trabalham em Psicologia
Educacional referem-se a outros motivos (salário,
falta de opção, influência da formação), dispersão não
observada para o grupo dos psicólogos que se fixou
na área.
pouco mais da metade dos psicólogos acredita que
haja oportunidade de ocupação para o psicólogo na
região do Vale do Paraíba. As áreas que são citadas
com mais freqüência são Clínica e Organizacional.
Uma constatação emerge da comparação entre os que
se fixaram na área educacional e os que vieram de
outras áreas: apenas estes afirmam que há
oportunidades de ocupação na área da Psicologia
Educacional. Mesmo assim, a área não é apontada
exclusivamente, mas em combinação.
As justificativas apontadas para a existência
ou não de oportunidades de ocupação estão voltadas,
em sua maior parte, para condições externas ao
sujeito
(condições
sócio-econômicas
ou
características da profissão). Características do
profissional são consideradas apenas para justificar a
existência, mas não a inexistência, de oportunidades
de ocupação.
Psicólogos com 1º trabalho e trabalho atual na área da Psicologia Educacional
Psicólogos com 1º trabalho em outras áreas e trabalho atual em Psicologia Educacional
Psicólogos que não declaram atuação em Psicologia Educacional
Fig. 3. Distribuição dos psicólogos quanto a trabalho
atual em Psicologia Educacional
A relação de trabalho mais freqüente é a de
empregado pela CLT, que se repete para os dois
grupos, como já se observou para o primeiro
emprego.
3.1.4. Psicologia Educacional como área de
atuação principal ou secundária: o trabalho
exclusivamente na área de Psicologia Educacional era
exercido por 50% da amostra, sendo mais freqüente
para aqueles que se fixaram na área que para os que
vieram de outras áreas. Para os últimos, a dispersão é
maior: quatro áreas diferentes combinam-se com
Educacional (Clínica, Organizacional, Institucional e
Docência). Estes dados podem ser vistos na Figura 4.
Psicólogos para os quais o 1º
trabalho e o trabalho atual estão
na área da Psicologia
Educacional
10
9
8
Psicólogos que tiveram 1º
trabalho em outras áreas da
Psicologia e trabalham
atualmente em Psicologia
Educacional
7
6
5
4
3
2
1
0
Educac.
Educac.+ Clínica+
Organiz.
Educac.+ Organiz.
Fig. 4. Áreas de atuação do trabalho atual
3.1.5. Avaliação das oportunidades de
ocupação para psicólogos no Vale do Paraíba:
3.2.
A
realização
complementares após a graduação
de
estudos
Do total de 350 respondentes, 65 declararam
ter realizado complementos à graduação na área da
Psicologia Educacional, conforme se vê na Tabela 1.
Nota-se que a maioria dos que têm interesse pelo
estudo do assunto nunca chegou a atuar na área.
Condição
Psicólogos para os quais o 1º trabalho e o
trabalho atual estão na área da Psicologia
Educacional
Psicólogos que tiveram 1º trabalho em
Psicologia Educacional e deixaram a área
Psicólogos que tiveram 1º trabalho em
outras áreas da Psicologia e que agora
atuam em Psicologia Educacional
Nunca atuaram em Psicologia Educacional
TOTAL
Fi
4
%65
25,0
%350
4,57
10
15,4
2,85
16
6,1
1,14
35
65
53,8
100
10,0
18,57
Tab.1 - Atuação em Psicologia Educacional para
psicólogos que realizaram complementos à graduação
nesta área
Quando
são analisados
os
estudos
complementares realizados pelos respondentes que
atuam ou atuaram na área, observa-se que dentre os
vinte que tiveram o primeiro trabalho em Psicologia
Educacional e depois deixaram-na, apenas 10 fizeram
complementação nesta área; dos trinta e quatro que
atuam em Psicologia Educacional, vinte fizeram
complementação nesta área.
Dentre os que estão na área desde o princípio
de sua vida profissional, 3 (1/3 do grupo) declararam
não ter realizado quaisquer estudos complementares à
graduação; o mesmo ocorrendo com apenas 1 dos que
a deixaram.
ÁREA DA
PSICOLOGIA
Clínica
Educacional
Organizacio-nal
Hospitalar
Social
Institucional
Psicólogos para
os quais o 1º
trabalho e o
trabalho atual
estão na área da
Psic.
Educacional
4
4
Psicólogos
que tiveram 1º
trabalho em
Psicologia e
deixaram a
área
13
10
2
1
3
6
Psicólogos que
tiveram 1º
trabalho em
outras áreas e
trabalham
atualmente em
Psicologia
Educacional
17
16
3
2
1
3
TOTAL
34
30
5
3
4
9
Tab. 2. Área em que buscou complementos à formação
após a graduação: freqüência de referências à área
Salienta-se que a área mais apontada pelos 54
respondentes é a Clínica, conforme se vê na Tabela 2.
Esta tabela mostra o número de vezes que uma área
foi apontada, sozinha ou em combinação com outras
áreas. Por isto, os totais superam o número de
respondentes. Ter realizado complementos em
Clínica foi referido mais vezes que qualquer das
outras áreas, incluindo-se Psicologia Educacional.
Os motivos voltados para a profissão são os
mais apontados dentre os psicólogos que vieram para
a área.
A maior parte dos respondentes, nas três
condições, afirmou que estes motivos originais não
mudaram com o tempo. Os mesmos fatores foram
apontados para justificar tanto a permanência como a
mudança do motivo. Assim, inserção no mercado de
trabalho e a própria formação - os mais citados - são
vistos por alguns como causas de confirmação do
motivo que os levou a buscarem graduação em
Psicologia e por outros como razões para mudança
deste motivo.
9
8
para si
7
Para o outro
Para profissão
6
Extrínsecos à profissão
5
Para si e para o outro
4
Para aptidão pessoal e para o
outro
3
3.3. Avaliação da formação quanto à
amplitude, atualização dos conteúdos e integração
entre teoria e prática
De modo geral, os respondentes fazem
avaliações favoráveis à formação recebida na
graduação.
Os psicólogos que deixaram a área da
Psicologia
Educacional
demonstraram menor
satisfação com a formação recebida na graduação,
quando foram comparados os respondentes nas três
condições. O aspecto mais criticado foi o da
amplitude da formação.
Os psicólogos que atuam em Psicologia
Educacional avaliam de modo mais positivo a
contribuição da graduação ao exercício profissional e,
como menos satisfatório, a integração entre teoria e
prática.
3.4. Motivos de escolha da profissão
Os motivos apontados como determinantes da
escolha da profissão foram classificados de acordo
com Carvalho e cols. (1988) e dividiram-se
principalmente entre os voltados para si, para o outro
e para a profissão, como se vê na Figura 5.
Os motivos voltados para si são os mais
freqüentes dentre os que iniciaram-se na profissão já
em Psicologia Educacional e permaneceram na área.
Dentre os que deixaram a área, verificam-se
freqüências semelhantes para os três motivos mais
citados.
Outros motivos
2
1
0
1º trabalho e o trabalho atual
em Psicologia Educacional
1º trabalho em Psicologia
Educacional e deixaram a
área
1º trabalho em outras áreas e
trabalho atual em Psicologia
Educacional
Fig. 5. Motivos apontados pelos psicólogos como
determinantes de escolha da profissão
3.5. Ser psicólogo e não trabalhar em
Psicologia
Dois psicólogos que tiveram o primeiro
trabalho em Psicologia Educacional hoje não
trabalham em Psicologia, sendo que um não está
trabalhando e o outro trabalha em outra atividade.
Ambos afirmam que, embora interessados na
profissão, não encontram oportunidades de ocupação
no mercado de trabalho.
Seis psicólogos que realizaram complementos
à graduação em Psicologia Educacional hoje não
trabalham em Psicologia. Três trocaram a profissão
por outra, dois não trabalham atualmente. Um
trabalha em outra atividade e nunca trabalhou como
psicólogo. Motivos de ordem pessoal foram citados
por três deles. Os outros três atribuíram o fato de não
trabalharem como psicólogos ao mercado de trabalho,
por não oferecer oportunidades de trabalho (1), por
oferecer oportunidades de trabalho não lucrativas (1)
e faz exigências para as quais a graduação não os
capacitou.
RESUMINDO
1) O primeiro trabalho em Psicologia, na área
de Psicologia Educacional é aceito por realização
profissional e mais freqüentemente é em regime de
CLT.
2) A maioria dos que ingressam em
Psicologia Educacional deixa a área, indo
principalmente para Clínica.
3) A maior parte dos que atuam hoje em
Psicologia Educacional iniciou sua vida profissional
em outras áreas de atuação, mais freqüentemente em
Clínica.
Este trabalho também é aceito principalmente
por realização profissional e o regime de trabalho
mais comum é CLT.
4) Metade da amostra combina atuação em
Psicologia Educacional com atuação em outras áreas,
mais freqüentemente com Clínica.
5) Proporção expressiva dos psicólogos
acredita que não haja na região oportunidades de
ocupação para o psicólogo.
6) Entre os que acreditam que haja
oportunidades de ocupação para o psicólogo na
região, as áreas citadas são Clínica e Organizacional.
A Psicologia Educacional só é citada pelos
psicólogos que vieram para a área, e não pelos que
iniciaram nela.
7) As justificativas apontadas para a
existência ou inexistência de oportunidades de
ocupação estão, mais freqüentemente, fora dos
sujeitos (condições sócio-econômicas da região ou do
país). Características do sujeito como profissional são
lembradas para justificar a existência, mas não a
inexistência de oportunidades.
8) O interesse pela área da Psicologia
Educacional,
expresso
pela
realização
de
complementação na área após a graduação, não é
acompanhado pela absorção pelo mercado: a maioria
dos que têm interesse pelo assunto nunca atuou na
área.
9) A atuação na área não é necessariamente
acompanhada pela realização de estudos na mesma:
metade dos que deixaram a área e menos da metade
dos que nela estão apontam ter realizado
complementação à graduação em Psicologia
Educacional.
10) A formação recebida na graduação é, de
modo geral, avaliada favoravelmente. O grupo menos
satisfeito com a formação recebida na graduação é o
dos que deixaram a área da Psicologia Educacional,
os quais consideram a amplitude da formação o ponto
mais fraco.
11) Os que atuam em Psicologia Educacional
avaliam como positiva a contribuição da graduação
para o exercício profissional, mas consideram a
integração teoria-prática o ponto mais fraco.
12) Os três grupos variam quanto ao motivo
mais freqüente de escolha da profissão. No grupo que
fixou-se na área, predominam os motivos voltados
para si. No grupo que veio para a área, predominam
os motivos voltados para a profissão. No grupo que
deixou a área, equilibram-se os motivos voltados para
si, os voltados para a profissão e os voltados para o
outro.
13) O motivo de escolha da profissão não
muda com o tempo, para a maior parte dos
respondentes. Inserção no mercado de trabalho e a
formação em psicologia são apontados tanto para
justificar a permanência do motivo quanto sua
mudança.
14) Dois psicólogos que tiveram o primeiro
trabalho em Psicologia Educacional e seis psicólogos
que realizaram complementos à graduação em
Psicologia Educacional hoje não trabalham em
Psicologia. O fato de não trabalharem como
psicólogos é relacionado ao mercado de trabalho, por
não oferecer oportunidades de trabalho, por oferecer
oportunidades de trabalho não lucrativas e por fazer
exigências para as quais a graduação não capacitou.
Também são citados motivos de ordem pessoal.
4. CONCLUSÕES
Os dados coletados nesta pesquisa nos
remetem necessariamente a refletirmos sobre alguns
aspectos do campo de atuação, da formação e do
mercado de trabalho do psicólogo educacional.
A Psicologia Educacional mostrou ser uma
área de interesse para atuação profissional, tanto para
os alunos como para os psicólogos. Há, entretanto,
um descompasso entre este interesse e a efetiva
absorção pelo mercado de trabalho, expressa no fato
de que a maioria dos psicólogos que realizou estudos
complementares neste assunto nunca chegou a atuar
na área.
Atuação em Psicologia Educacional, apesar
de atraente, parece não oferecer oportunidades
suficientes ou satisfatórias e, mais ainda, os critérios
de absorção pelo mercado não privilegiam a
formação específica.
Assim, é possível supor que, mantidas as
condições atuais da formação e do mercado, as
tendências aqui observadas venham a se repetir no
futuro para os novos contingentes de psicólogos:
atração inicial pela área e posterior abandono, com o
ingresso de psicólogos que passam a exercê-la
conjuntamente com outras áreas e, muitas vezes,
apenas com a formação recebida na graduação, que
pode não incluir estágio supervisionado e estudos
teóricos na área.
Estas
características
da
Psicologia
Educacional como área com reduzido potencial de
fixação e de atuação complementar ou secundária, já
foram apontadas na pesquisa nacional realizada pelo
Conselho Federal de Psicologia (Bastos, 1988), e
creditadas “às precárias condições de trabalho na área
(...) ou a ausência de um campo ou mercado
claramente conquistado”(p.182).
A inexistência de um espaço legalmente
constituído para o psicólogo no sistema escolar é
freqüentemente apontada como responsável pela
situação do mercado de trabalho na área, e discutida
por Witter e cols (1992), que constataram nos anos 80
um crescimento na atuação do psicólogo educacional,
mas dissociado de uma formação dirigida para a área.
A formação recebida na graduação foi
avaliada favoravelmente, tanto pelos psicólogos,
como pelos alunos. Há relativamente poucas menções
à possibilidade de que os problemas enfrentados no
contato com o mercado de trabalho sejam resultantes
de insuficiência desta formação.
Ressalte-se que a
compreensão da
importância que o preparo na graduação possa ter
para o confronto com as exigências de atuação
propostas pelo mercado de trabalho foi explicitada
mais freqüentemente pelos alunos que pelos
psicólogos.
O aluno - vinculado aos critérios acadêmicos
de aprovação e reprovação - valoriza a graduação, crê
que esta o habilitará às exigências do exercício
profissional e tem uma visão otimista das
oportunidades de ocupação que o mercado regional
oferece. Conseqüentemente, crê que o insucesso na
inserção no mercado deva ser creditado ao
profissional como indivíduo (incompetente ou
desinteressado).
Por seu lado, o psicólogo, inserido ou
tentando se inserir no mercado de trabalho, credita a
este as dificuldades vividas.
Assim, os dois grupos deixam de manifestar
uma visão mais compreensiva dos diferentes
processos que compõem a complexa rede de relações
que culminam no sucesso ou fracasso do indiivíduo
como profissional e que incluem tanto os fatores
(incontáveis!) da formação, quanto os econômicos, os
sociais, os políticos, associados à conjuntura
específica da profissão do psicólogo.
A sociedade e a escola (de Psicologia, aqui)
não trata a todos da mesma forma. Assim, cada aluno,
depois da formatura, defrontar-se-á com suas
necessidades individuais a serem resolvidas na
sociedade. Com o confronto com o mercado de
trabalho, a visão idealista liberal encontrada no aluno
manifesta novos aspectos, até então abafados pelo
locus institucional universitário.
Com baixos salários e vislumbrando poucas
oportunidades de colocação, o psicólogo não pensa
mais se é capaz, se foi ou está preparado.
Responsabiliza genericamente a sociedade, que não
resolve suas crises econômicas, ou que não reconhece
a importância do psicólogo como categoria
profissional. Responsabiliza também a escola onde se
graduou, por não ter favorecido a integração teoriaprática. Em complementações livres às perguntas dos
questionários, esta foi a colocação mais freqüente. Há
a sugestão de que a faculdade devesse se encarregar
de conseguir empregos para os recém-formados, ou
ainda de garantir a continuidade da supervisão,
porque esta é cara fora da faculdade.
Assim, numa sociedade desigual onde a
educação superior foi esperança de mobilidade social,
um expressivo contingente de psicólogos ligados à
área educacional percebe-se como excluído. O
distanciamento vivido entre Universidade e vida
cotidiana será reposto nas instituições escolares,
tornando o processo cíclico. Ao comportarem-se
como vítimas de um mercado de trabalho e de uma
sociedade poderosa e opressiva que não os acolhe
como planejaram, tornam-se também incapazes de
serem agentes de mudança social, como cidadãos,
através de seu saber profissional (Lehman, 1992).
Evidencia-se, assim, a necessidade de um
redirecionamento no ensino de graduação. Este
ensino deve garantir que a capacitação técnicoprofissional ocorra num contexto de estreita
vinculação com os fenômenos da vida cotidiana.
Estes fenômenos têm direcionado mudanças
na prática profissional, que se refletem nas novas
habilidades requeridas dos psicólogos, como
demonstrado por Bastos (1994). Estas habilidades são
agrupadas por ele em três áreas principais: posição
frente ao conhecimento, ao trabalho e características
pessoais. Apontam para um profissional cujo perfil é
empreendedor e criativo, sintonizado com os
movimentos sociais e com os conhecimentos gerados
pela prática contextualizada e teorizada, que se dá de
modo interdisciplinar
Esta condição poderá ser criada pela
Universidade, ao comprometer-se com as demandas
sócio-políticas, que incluem o mercado de trabalho e
de não-trabalho.
Tornar efetivo este redirecionamento abrirá
espaço para sua continuidade na ação do profissional
na instituição escolar.
Deste modo, a formação dos psicólogos
permitirá a eles assumirem a necessária postura de
educadores, visando a construção de uma escola
inserida na cotidianeidade, que seja orientada por
relações mais democráticas, que objetivem a
reconstrução e transmissão dos conhecimentos
necessários à cidadania.
LEHMAN, Yvette Piha. Eleitos e Marginalizados.
Psicologia, Ciência e Profissão,12 (3/4),
1992, 34-37.
WITTER, Geraldina Porto, WITTER, Carla,
YUKIMITSU, Maria Terezinha C.P. et al.
Atuação do Psicólogo Escolar e Educacional
no Brasil: Perspectivas através de textos.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA.
Psicólogo Brasileiro: construção de novos
espaços. Campinas, Tomo, 1992.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt Bastos.
Dinâmica profissional e formação do
psicólogo. CONSELHO FEDERAL DE
PSICOLOGIA. Psicólogo brasileiro: Práticas
emergentes e desafios para a formação. São
Paulo, Casa do Psicólogo, 1994.
BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt Bastos. Áreas
de atuação: em questão o nosso modelo de
profissional. CONSELHO FEDERAL DE
PSICOLOGIA. Quem é o psicólogo
brasileiro? São Paulo, Edicon, 1988.
CARVALHO, Anamélia Araújo, ULIAN, Ana Lúcia
A. de Oliveira, BASTOS, Antonio Virgílio
Bittencourt et al. A escolha da Profissão:
alguns valores implícitos nos motivos
apontados pelos psicólogos. CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem é o
psicólogo brasileiro? São Paulo, Edicon,
1988.
Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro, Cecília
Pescatore Alves e Marlito de Souza Lima são
professores junto ao Departamento de Psicologia da
Universidade de Taubaté.
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psicologia escolar: expectativas do aluno da unitau e atuação do