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Banca examinadora
Prof. Orientador
Pro f.
Prof.
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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
. ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
DE EMPRESAS DE SÃO PAULO
MARGARIDA KALEMKARIAN
AS INDÚSTRIAS DE ALTA TECNOLOGIA NO INTERIOR DE SÃO
PAULO: Um Estudo sobre Fatores Locacionais
Dissertação apresentada ao Curso de
Pós-Graduação
da
FGV/EAESP
Área
de
Concentração:
Administração e Políticas Urbanas,
como requisito para obtenção de
título de mestre em Administração.
Orientador:
SÃO PAULO
1994
Prof. Ruben Cesar Keinert
iii
Margarida, As Indústrias de Alta Tecnologia no Interior
de São Pau/o: Um Estudo sobre Fatores Locacionais,
São Paulo,
EAESP/FGV, 1994, 156p. (Dissertação de Mestrado apresentada ao
Curso de Pós-Graduação
da EAESP/FGV, Área de Concentração:
Administração e Políticas Urbanas).
KALEMKARIAN,
Resumo:
Trata do problema da localização de indústrias de alta
tecnologia no Interior de São Paulo. Aborda a questão dos fatores que
levaram à criação de pólos tecnológicos no Interior de São Paulo.
Analisa as implicações sócio-econômicas dessas aglomerações.
Palavras-Chaves:
Indústrias de alta tecnologia - Pólos Tecnológicos Pós-fordismo - Flexibilidade - Localização Industrial - Desconcentração
Industrial - Geografia Econômica - São José dos Campos - São Carlos Campinas - etc ...
,
o
•
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•
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•••••
_
••
iv
ÍNDICE
INTRODUçAo
01
1. A Crise dos anos 70 e as Mudanças no Modo de Produção
Capitalista
1.1. O Cenário Internacional..
1.2. A Reestruturação Econômica
1.3. A Quase Integração Vertical..
08
08
11
··· 17
:
2. Os Novos Espaços de Crcscimento........
22
3. As Indústrias de Alta Tecnologia e sua Localização......................
3.1. As Teorias de Localização
3.1.1. As Teorias Estáticas de Localização
3.1.2. As Teorias Dinâmicas de Localização
3.2. Os Fatores Locacionais das Indústrias de Alta Tecnologia....
3.2.1. Dois Exemplos Americanos
3.2.1.1. O Silicon Valley
3.2.1.2. A Route 128
3.2.1.3. Comparações com o Caso Francês
4. A Distribuição Espacial das Indústrias em São Paulo....
4.1. Os Primórdios da Industrialização Paulista
4.2. O Período de 1930-55
4.3. O Período de 1956-70
':'
4.4. A Década de 70
4.5. A Situação Recente
5. A Formação de "Tecnopólos" no Interior Paulista
5.1. Considerações Preliminares
5.2. O Pólo de São José dos Campos
5.3. O Pólo de São Carlos
5.4. O Pólo de Campinas
28
· 28
28
37
43
·..48
48
54
55
58
58
·..·
60
·.. 65
··· ·· .. 71
·······
88
··
··
98
·..·
98
l00
·..··.. · 115
·..·· .. · 125
CONCLUSÕES
136
BIBLIOGRAFIA
142
INTRODUÇÃO
A partir dos anos 70~ o capitalismo
reestruturação
a nível mundial,
começa a passar por um processo
de
em razão da crise que vinha enfrentando
desde o final da década anterior.
w
'.\
o aumento
per ca.pita leva à desaceleração
na relação capital fixo/produto
dos ganhos de produtividade
obtidos após a 2a. Guerra através de métodos
tayloristas de trabalho e gera uma crise de oferta - queda na lucratividade
capital.
Os altos salários e a mobilização
dos trabalhadores,
saturação do mercado e o aumento da competição
maior descentralização
.
espacial e intemacionalização
Em vista disso, reduzem-se os investimentos,
acaba pressionando
sociais conquistados
pelos trabalhadores
ao lado da
induzem à
internacional,
da produção.
L
e aumenta o desemprego,
os governos, e dificultando
a manutenção
do
o que
dos beneficios
com o modo de regulação
social
baseado em políticas keynesianas, o Estado do Bem-Estar.
Por
sua
vez,
internacionalização
o
crescente
financeira,
de políticas monetaristas,
conseqüentemente,
endividamento
público,
gera pressões inflacionárias
facilitado
pela
e leva à adoção
que provocam estagnação econômica,
recessão, e,
uma crise de demanda, provocada pela compressão
dos
salários .
.
~.
Trata-se,
segundo os pesquisadores
da Escola de Regulação
crise do próprio modelo de desenvolvimento
dominante
francesa,
no pós-guerra,
da
o
2
fordismo, caracterizado pela "produção em massa", que leva à emergência de
um novo regime de acumulação do capital, marcado, acima de tudo, pela
flexibilidade - o pôs-fordtsmo.
Nesse período, ocorrem grandes avanços tecnológicos, principalmente nas
áreas de telecomunicações, microeletrônica e informática, que. possibilitam,
ao lado da flexibilidade de equipamentos e processos de produção, a
internacionalização da atividade produtiva, uma nova divisão internacional
do trabalho.
A semelhança dos padrões de industrialização nas diferentes partes do
mundo permitia selecionar o local mais adequado Pat:a a fabricação de um
determinado produto, em função, por exemplo, do preço das matériasprimas, da maior exploração da mão-de-obra, de legislação ambiental menos
restritiva, ou de outros fatores importantes para um dado gênero industrial.
Essa reorganização espacial das atividades produtivas leva ao surgimento tanto em países avançados como naqueles em desenvolvimento - de "novos
espaços de crescimento", os quais têm sido objeto de estudo principalmente
de geógrafos, sociólogos, economistas, de várias partes do mundo.
Um desses espaços apontados nas análises são as grandes metrópoles, que se
tornam centros especializados em atividades terciárias mais complexas (as
"cidades mundiais", como Londres, Nova Iorque e Tóquio).
O outro diz
respeito às cidades ligadas a setores industriais tradicionais
de base
artesanal, que passam por um processo de revitalização, de modernização,
como a "Terceira Itália",
3
o terceiro
tipo são os centros de pesquisa e alta tecnologia, as "novíssimas
paisagens industriais" (Vale do Silicio, Rodovia 128), cujas especificidades
constituem a preocupação central do presente trabalho, uma vez que elas
geram produtos de alto valor agregado e apresentam-se para muitos como
uma das soluções para corrigir desigualdades regionais.
Como ocorrem as aglomerações de indústrias de alta tecnologia?
Quais os
fatores que as levam a se fixar numa determinada localidade?
Em que
medida esses fatores se assemelham ou diferenciam dos fatores clássicos de
localização industrial? Quais os impactos sócio-econômicos que elas geram
nas comunidades locais? Até que ponto proporcionam um desenvolvimento
econômico equilibrado?
Qual a participação do Estado nesse processo?
Quais os outros agentes de importância?
São essas as principais questões que se pretende responder ao longo dessa
dissertação, com base na análise de 3 casos concretos ocorridos no Interior
do Estado de São Paulo - os dos municipios de São José dos Campos, São
Carlos e Campinas, conhecidos como os mais importantes pólos tecnológicos
paulistas.
A hipótese central dessa dissertação é a de que as transformações ocorridas
na distribuição espacial das indústrias no Estado de São Paulo, a partir de
1970, foram uma conseqüência da reestruturação econômica internacional.
Uma dessas transformações foi o surgimento de pólos de alta tecnologia no
Interior, em lugares que apresentavam os atrativos essenciais exigidos para a
localização de indústrias high tech.
4
Foram de grande importância
pólos tecnológicos,
para a consolidação
os investimentos
desses muncípios
realizados principalmente
federal, com o objetivo de interiorizar o desenvolvimento,
como
pelo governo
e desconcentrar
as
indústrias da Grande São Paulo.
Através da criação de centros de pesquisa e universidades
Interior do Estado, que formaram uma mão-de-obra
(cientistas,
engenheiros,
técnicos),
de. alto nível no
de elevada qualificação
e se tornaram centros de excelência
em
pesquisas nos setores de tecnologia avançada, como: mecânica de precisão,
informática,
telecomunicações,
óptica, química fina etc, o governo reforçou
as condições favoráveis que determinadas regiões já apresentavam
para atrair
empresas vinculadas a essas áreas.
Entretanto,
passaram
ao lado
do crescimento
a desfrutar,
constata-se
econômico
que
que a ausência
adequado por parte das municipalidades
esses
municípios
de um planejamento
locais, provocou, com o passar do
tempo, o surgimento de carências sociais, no que se refere à infra-estrutura
de equipamentos
e serviços urbanos.
A ênfase na mão-de-obra
tecnologia.
qualificada,
que caracteriza
reforça a tendência à polarização
suas conseqüências,
as indústrias
de alta
social, que tem como uma de
a segregação espacial da população
de menor renda, a
sua exclusão dos beneficios que essas indústrias trazem a uma cidade.
Aos poucos, verifica-se uma deterioração
habitacional,
problemas
de transporte,
saúde, aumento da criminalidade
da qualidade de vida local - déficit
saneamento,
poluição, educação
e
etc -, que o poder local tenta solucionar ou
5
minimizar,
para garantir
o "ambiente
urbano
agradável",
necessário
à
retenção da mão-de-obra de alto nível.
No que se refere à metodologia
da pesquisa,
tem-se que o trabalho
dividido em duas partes: uma, teórica, e a outra, empírica.
abrange
os
três
bibliográfico
capítulos
levantado
pressupostos
iniciais,
a respeito
foi
feita
do assunto,
com
A primeira, que
base, em
valendo
foi
material
ressaltar
que os
teóricos citados no trabalho sobre os fatores de localização
alta
tecnologia,
em
sua
maioria,
das
indústrias
de
fundamentam-se
em
publicações
estrangeiras - americanas, inglesas e francesas -, uma vez que se
trata de um tema ainda pouco abordado por autores brasileiros.
Por sua vez, a segunda parte, que corresponde
baseia-se
em dados estatísticos
secundários,
à pesquisa propriamente
extraídos
dita,
de livros e revistas
técnicas mencionadas na bibliografia e também em informações obtidas junto
a institutos de pesquisa oficiais, como o SEADE e o IBGE.
Contudo, em razão desse último não haver divulgado, até a data de entrega
da dissertação,
importantes
os resultados
do Censo
variáveis dos municípios,
Demográfico
1991 referentes
que poderiam fornecer um perfil mais
atualizado e completo a respeito de suas condições sócio-econômicas
por exemplo:
o grau
de instrução
a
da população,
ocupação por setor de atividade, características
rendimento
dos domicílios,
(como,
mensal,
condição de
ocupação etc), o trabalho limitou-se a utilizar as informações mais antigas do
IBGE,
comparando-as
peródicos
e jornais,
características
com outras
apenas
do cenário atual.
com
mais recentes,
a
finalidade
publicadas
de
apontar
em outros
algumas
6
o trabalho
desenvolve-se em 5 etapas.
No Capítulo 1, analisam-se os principais fatores que onginaram a cnse
mundial dos anos 70, e as alterações que ocorreram a partir daí, no que diz
respeito ao modo de produção capitalista: a flexibilidade dos produtos e dos
processos produtivos, a nova relação capital-trabalho,
a intervenção do
Estado etc.
o fordismo,
a "produção em massa", cede lugar ao pós-fordismo, à produção
flexível.
Segundo a abordagem regulacionista,
um novo paradigma
industrial, um novo regime de acumulação e um novo modo de regulação,
entram em vigor. Novas configurações espaciais também delineiam-se em
função da combinação de elementos predominante na região.
o Capítulo
2 preocupa-se em apontar, ainda que de modo superficial, a visão
de diferentes autores sobre os "novos espaços de crescimento", que ganham
destaque a partir da reestruturação.
o Capitulo
3, por sua vez, detém-se essencialmente na questão dos fatores
locacionais da indústria.
Inicialmente são destacados os fatores de atração
apontados nas principais teorias clássicas da localização,
e, a seguir,
procura-se enfatizar as especificidades que caracterizam a implantação de
indústrias de alta tecnologia em uma determinada região.
o
Capítulo 4 recupera um pouco da história da industrialização paulista,
identificando as transformações
ocorridas na distribuição
espacial das
7
indústrias em São Paulo, e associando-as, sempre que possível, aos fatores
que levaram a essas novas configurações do espaço.
Finalmente, no Capítulo 5, são analisados os condicionantes da formação dos
mais importantes pólos tecnológicos paulistas - São José dos Campos, São
Carlos e Campinas -, e algumas das conseqüências que a concentração de
indústrias de alta tecnologia trouxe para as comunidades locais.
8
1.
A CRISE DOS ANOS 70 E AS MUDANÇAS NO MODO DE
PRODUÇÃO CAPITALISTA
1.1. O Cenário Internacional
Os primeiros sinais de esgotamento do "boom" econômico do pós-guerra
fazem-se sentir em diversas partes do mundo já ao final da década de 60.
Novas realidades, históricas e geográficas, do capitalismo contemporâneo
surgem a partir de então (Scott e Storper, 1986a),
Relembrando alguns acontecimentos da época, tem-se que os Estados
Unidos, preocupados em manter sua posição como potência hegemônica e
em conter os avanços do comunismo na Europa, adotaram, em 1947, o Plano
Marshall, concedendo recursos para a reconstrução européia e criando as
condições necessárias para o acelerado crescimento industrial dos principais
países europeus e do Japão, especialmente após a 2a. metade dos anos 50.
Essa cooperação incluía: estímulos à gradativa redução das barreiras
comerciais entre os países do continente europeu, para maior integração
entre eles; permissão para significativas desvalorizações de suas moedas
frente ao dólar, que era o meio de pagamento internacional; abertura do
mercado americano para os produtos de europeus e japoneses, sem exigir, em
contrapartida, a não-discriminação dos produtos americanos em seus países;
e atualização tecnológica proporcionada pelos Estados Unidos (Teixeira e
Rocha Miranda, 1992).
9
Em vista disso, tais economias puderam aumentar sensivelmente
sua
produção manufatureira, melhorar sua produtividade, ampliar seu comércio
exterior e suas reservas internacionais, ao contrário da economia nacional
americana, que ia perdendo sua posição relativa e a competitividade de seus
produtos, ampliando seus déficits fiscal e do balanço de pagamentos, graças
à tática do governo de manter a liquidez
internacional
através da
supervalorização artificial do dólar.
Os principais fatores que determinaram, nas décadas de 50 e 60, a evolução
subseqüente da economia internacional foram: 1) a eliminação de obstáculos
ao movimento de capitais e à conversibilidade das moedas, posta em prática
pelos governos europeus face à intensificação crescente da concorrência
intercapitalista mundial; 2) a generalização dos padrões de industrialização
de todos os países do mundo, que tomam-se muito similares; e 3) as
mudanças institucionais
efetuadas pelo governo americano,
que, sem
condições de continuar mantendo a liquidez internacional através de ajustes
monetários e cambiais, permitiu a expansão de seus bancos privados para o
exterior, integrando-os ao circuito internacionalizado e dando-lhes condições
para financiar a ampliação da produção "cdo comércio de outros países, sem
o controle dos instrumentos tradicionais de política econômica utilizados por
seus bancos centrais (Teixeira e Rocha Miranda, 1992).
Nota-se, então, que, em função da intensificação da acumulação de capital,
ocorre paulatinamente um extravasamento dessa acumulação para além das
fronteiras nacionais - a transnacionalização global do sistema capitalista
(Rattner, 1984) - sob a forma do conglomerado multinacional, para o qual
perde importância a questão da integração vertical, interessando-lhe apenas o
10
fato
de
suas
empresas,
independentemente
do
setor
de
atuação,
proporcionarem taxas de retomo de capital superiores às médias nacionais.
Para atingir esse objetivo, não existe uma preocupação com as limitações
impostas à expansão de uma economia nacional, pois o espaço econômico do
conglomerado é o mundo todo, e em função de suas necessidades determina
a forma de organização de sua produção, de seu comércio, de suas finanças,
com uma visão global grandemente facilitada e/ou melhorada em função dos
avanços tecnológicos na área das telecomunicações,
microeletrônica
e
informática, ocorridos nos últimos 20 anos. Novas tecnologias de processo e
de produto são desenvolvidas para melhorar a produtividade.
o
capitalismo
industrial
reorganiza-se
através
da internacionalização
financeira, o que favorece o forte endividamento externo de empresas e
governos para sustentar o crescimento da produção. Assim sendo, a partir do
momento em que começam a despontar, no início dos anos 70, problemas de
saturação do mercado de bens duráveis, com uma conseqüente queda da
lucratividade, rentabilidade do capital, indicando a necessidade de mudanças
estruturais no padrão industrial vigente, a crise monetária atinge âmbito
internacional, agravando-se ainda mais com os choques do petróleo.
A redução da produção e da produtividade, com o aumento da capacidade
ociosa, os altos custos financeiros da dívida externa, geram atitudes e
medidas de cunho recessivo, pressões inflacionárias,
diferentes partes do mundo capitalista.
desemprego, nas
11
Dentro desse cenário internacional desfavorável, o "capitalismo provou ser
mais tecnicamente dinâmico e socialmente criativo do que foi antecipado na
teoria marxista da crise" (Scott e Storper, 1986a, p.9). A queda da taxa de
lucro foi detida através da utilização de tecnologias poupadoras de capital,
do barateamento das matérias-primas, do aumento da taxa de exploração da
mão-de-obra, possibilitados peja extensiva e intensa internacionalização das
relações econômicas e sociais.
Já ao final dos anos 60, ocorria transferência de capital fixo para, a produção
de bens de exportação em países da América Latina e nos NICs (New
Industrialized Countries) asiáticos.
Além disso, essas nações deixaram de
ser apenas reservas de mão-de-obra barata, para desenvolverem atividades
industriais cada vez mais complexas.
1.2. A Reestruturação
Econômica
As novas realidades históricas do capitalismo levam a novas realidades
geográficas.
O capitalismo
industrial
reorganiza-se
locacionalmente,
redistribuindo no espaço a produção, os investimentos, a força de trabalho,
para melhorar a rentabilidade do capital, e originando, em conseqüência
disso, transformações no processo urbano e regional dos países envolvidos.
A difusão do processo de produção - fábrica difusa, isto é, com várias
plantas - por diferentes áreas, reduz o risco de bloqueios numa determinada
planta industrial ou numa dada região, ampliando sensivelmente o poder de
barganha dos empresários capitalistas junto aos trabalhadores e governos.
12
Novas relações capital-trabalho são adotadas com a internacionalização,
envolvendo ataques sistemáticos ao Estado do Bem-Estar.
Pressões externas - de economias avançadas - são exercidas sobre todos os
países, para modificação nas relações sociais de produção e nas políticas
econômicas. estatais,
com vistas a ampliar, por meio das inovações
tecnológicas, os fluxos interdependentes de mercadorias, mão-de-obra e
capital.
Trata-se de uma nova forma de produção - baseada na informação e no
conhecimento ~ dentro do modo de produção capitalista, e de uma nova
forma de organização social (Castells, 1986).
Relacionando os principais aspectos do novo modelo econômico vigente a
partir de 70, Castells menciona essa crescente internacionalização
economia capitalista
e seus efeitos, ou seja, a interdependência
da
das
economias nacionais no que diz respeito aos processos de produção, à mãode-obra, ao capital, aos mercados; ressalta, também, que, ao tentar reduzir a
inflação, o setor público - especificamente o caso americano - efetua cortes
orçamentários nas despesas com fins sociais, investindo expressivamente na
área militar, tanto para ampliar o mercado industrial, como para se afirmar
como potência mundial.
Finalmente, enfatizá a questão da redução crescente dos custos da força de
trabalho, através da diminuição do número de empregos - provocada pela
automação-,
dos
salários,
dos beneficios
sociais,
para
aumentar
a
13
produtividade e os lucros, e desrespeitando os contratos sociais firmados
após a Grande Depressão de 30.
Como conseqüência desse processo de internacionalização
da economia,
verifica-se a gradativa reorganização das economias nacionais e de sua
estrutura espacial - uma divisão territorial do trabalho -, principalmente nos
países menos desenvolvidos ou de recente industrialização.
Conforme o setor de atividade predominante, a posição na rede de trocas, a
função que uma determinada região desempenha na hierarquia da divisão
internacional do trabalho, ela tende a apresentar uma dada dinâmica espacial;
esse modelo baseia-se no crescimento polarizado, no desenvolvimento
seletivo.
Na medida em que as novas tecnologias de comunicações permitem a
separação espacial das unidades de produção, favorecem o aparecimento
e/ou fortalecimento de desigualdades entre as regiões, e o desequilíbrio de
sua estrutura espacial.
Castells fala de um "espaço de geometria variável" (1986, p.22), que obedece
às determinações dos grandes conglomerados transnacionais e dos estados
"desenvolvimentistas", e não às características históricas e sociais de cidades
e regiões, que a.cabam perdendo, em grande medida, o poder de decisão
sobre seus destinos.
14
Trata-se, então, de um "espaço de fluxos" (Castells,
localidades,
que não leva
especificidades
os processos
sociais
e as
culturais de uma determinada cidade ou região.
Essa configuração
sócio-econômica
movimentos
em consideração
1986, p.22), e não de
espacial
determinada
pelo processo
de reestruturação
pode, contudo, ser alterada a partir da intensificação
dos
sociais locais, exigências de classe, da conjugação de forças da
comunidade,
dos
cidades/regiões,
Um estudo
D.Leborgne
e
dos
governos
de
determinadas
para impor projetos alternativos de desenvolvimento.
mais
pesquisadores
trabalhadores
detalhado
ligados
(1988),
a respeito
à Escola
ao analisar
de
do assunto
Regulação
o pós ...fordismo
é realizado
francesa,
por 2
A.Lipietz
e seu espaço.
e
Nesse
trabalho, eles procuram mostrar que a nova geografia humana e econômica
mundial é conseqüência
da crise do modelo de desenvolvimento
não somente da introdução
de mudanças tecnológicas
fordista, e
ou de alterações
nas
relações de produção.
Um modelo
de desenvolvimento,
dizem os autores,
articulados
entre si: "uma forma de organização
industrial),
uma estrutura macroeconômica
conjunto
regulação),
de normas
e regras
(um regime de acumulação),
institucionais
(um
modo
um
de
entre capitais etc"
1988, p.12), além de uma configuração
Assim, baseado num determinado
3 aspectos
do trabalho (um paradigma
no que toca à relação salarial, à concorrência
(Lipietz e Leborgne,
aceitável.
implícitas
envolve
internacional
paradigma industrial,
modo de regulação social leva a um certo regime de acumulação.
um dado
15
Comumente atribui-se ao "subconsumo" a crise dos anos 70, alegando-se que
a estagnação do mercado de bens duráveis, provocada pelo acirramento da
concorrência internacional, teria sido a responsável pela crise da "produção
em massa", isto é, do modelo fordista.
Lipietz e Leborgne (1988) dão outra explicação ao fato: -o paradigma
industrial vigente, baseado em princípios tayloristas, com a rígida separação
entre concepção (engenheiros e técnicos da área de O & M) e execução
manual (trabalhadores diretamente ligados à produção), e a padronização dos
gestos de operação das máquinas (dispositivos automáticos determinavam
quais eram e quanto tempo deveriam levar as operações desejadas), para
aumentar a produção e reduzir a ociosidade dos trabalhadores, apresentavase em crise, com queda crescente da produtividade.
Ao invés de se tentar adotar novas técnicas que aproveitassem a inteligência,
a experiência e a criatividade dos trabalhadores da fábrica, investia-se
apenas em novos equipamentos, o que, significava um aumento cada vez
maior na relação capital fixo/produto per capita.
Apesar do engajamento inconsciente e paradoxal desses trabalhadores - ao
evitarem panes e superarem obstáculos ocorridos durante a produção - ser
percebido por engenheiros e chefes de oficina, não se demonstrava nenhuma
preocupação em reconhecer a importância do seu engajamento consciente,
em razão do poder que ele poderia representar para os trabalhadores.
Essa situação leva gradativamente à queda da lucratividade, e, a seguir, da
taxa de acumulação.
Com o intuito de superar a crise que ia ganhando
16
proporções
expressivas,
maciça da produção,
austeridade,
os empresários
enquanto
geradoras
partem para a internacionalização
que o Estado passa a adotar políticas
de desemprego
e contrárias
às determinações
de
do
Estado do Bem-Estar.
Instala-se, assim, uma "crise de demanda" (Lipietz e Leborgne,
em função dessa internacionalização
o choque
1988, p.16),
e da queda do poder aquisitivo.
monetarista é aplicado com o objetivo de acabar com o modelo de
desenvolvimento
fordista,
através
de uma série de medidas
respeito tanto ao seu modo de regulação - desindexação
nas despesas com a seguridade social, restrições
que dizem
dos salários, corte
creditícias
., como ao seu
regime de acumulação - redução do consumo de massas, aumento dos lucros
e dos salários
mais
elevados,
poupança
e investimentos
paradigma industrtal - indução à incorporação
meio de sobrevivência
Paulatinamente,
de novas tecnologias,
como
das indústrias.
vão surgindo novas possibilidades
de organização industrial.
Os avanços da eletrônica permitem a flexibilidade
isso, a flexibilidade
-, e ao seu
da própria produção.
dos equipamentos,
e, com
O ciclo de vida dos equipamentos
toma-se muito superior ao dos produtos, uma vez que pequenas alterações,
inclusive
operações
automáticas,
viabilizam
a sua imediata
e à fabricação de diferentes
medida a ociosidade e a obsolescência
A flexibilidade
concebidos
produtos,
de módulos,
reduzindo
a diferentes
em grande
das máquinas.
requer séries curtas de produção.
na forma
adaptação
e, graças
Assim, os produtos
à automação,
podem
são
ser
17
fabricados de uma maneira padronizada, com alta precisão, e montados por
subconjuntos.
Por outro lado, a gestão por fluxos (Just-in-Time), realizada através de
computadores que agilizam a coleta e a troca de informações, permite a
adequação da produção e dos estoques à demanda, aproximando a concepção
da execução.
As modificações que vão sendo introduzidas exigem maior engajamento e
qualificação .•treinamento, atualização - dos operadores, para efetuar ajustes
permanentes e a manutenção dos equipamentos, e contribuir com seu saber
para a melhoria dos hardwares e softwares utilizados.
Conhecimentos especializados envolvendo a aplicação de novas tecnologias
passam a ser amplamente
difundidos
com a automação,
não mais
permanecendo restritos aos núcleos das grandes empresas, mas, ao contrário,
disseminando-se e transformando-se em ramos de atividade específicos,
como é o caso da produção de softwares.
1.3. A Quase Integração Vert.ical
As diversas etapas, ou módulos, do processo de trabalho tomam-se
crescentemente
I'
extemalizáveis
sendo mais imprescindível
ff,
por meio de firmas especializadas, não
a integração vertical das empresas.
Essa
desverticalização das grandes empresas em redes de firmas especializadas
representa uma partilha dos riscos que a instabilidade
da conjuntura
18
internacional atual e a gradativa redução do ciclo de vida dos produtos
oferecem aos altos investimentos em P&D e às vultosas imobilizações em
capital fixo efetuados pelas grandes empresas, o que não implica na perda do
controle do processo por parte dessas, ou a desconcentração de seu poder.
Elas usufruem das vantagens de uma integração vertical - baixo custo das
transações, gestão por fluxos, flexibilidade da política global - e da
desintegração vertical - capacidade inovadora das subcontratadas, exigência
de qualidade, partilha dos riscos.
Trata-se, segundo Lipietz e Leborgne, de uma Quase Integração Vertical
(QIV), que eles assim caracterizam: "relações estáveis entre fornecedores e
clientes; uma importante participação do cliente no volume de negócios do
fornecedor; um campo de subcontratação extenso, indo da concepção à
comercialização; formas não mercantis de relações inter-firmas, indo da
subordinação à parceria" (Lipietz e Leborgne, 1988, p.23).
Essa QIV pode ser: a) territorialmente desintegrada,isto
é, as firmas
especializadas que participam da rede estão localizadas fora do território
nacional, o que dificulta a difusão interna das inovações tecnológicas às
indústrias; ou, b) territorialmente integrada, quando as firmas especializadas
estão no próprio país - ou até, na cidade/região - da firma principal, gerando
efeitos macroeconômicos multiplicadores e aceleradores, produto da ampla
troca de informações entre as empresas nele situadas.
Com base, principalmente, na análise das características da organização
industrial, como por exemplo, do tipo de relações profissionais (polarização
19
nas qualificações ou engajamento, com negociação individual ou coletiva dos
trabalhadores) e de contrato de trabalho (rígido ou flexível), além da forma
de QIV predominante (territorialmente integrada ou não), Lipietz e Leborgne
(1988, p.20 e 21) apontam os principais modelos de desenvolvimento em
curso na atualidade (neotaylorista, caJiforniano e satumiano, segundo a
denominação
dos autores).
fazem projeções
e especulam
sobre
as
conseqüências espaciais, caso um deles venha a prevalecer sobre os demais
no futuro.
Assim, verifica-se, com o neotaylorismo, o aprofundamento dos princípios
tayloristas, a ampliação da automação, com elevação da composição do
capital, e uma QIV teritorialmente desintegrada, segundo os níveis de
qualificação: nos "centros nodais" das metrópoles, em torno das firmas
principais, permanecem as empresas subcontratadas
desempenhando
as
tarefas de nível superior (P&D, concepção, finanças e serviços mais
complexos
às empresas),
enquanto
que haveria
uma
dispersão
de
estabelecimentos especializados desqualificados, com baixos salários, pelas
zonas periféricas, rurais, ou em "áreas produtivas especializadas" (Lipietz e
Leborgne, 1988, p.24), monos setoriais, criadas com vistas à exportação, e
fracas ligações interfirmas, e onde os trabalhadores,
engajados e com
contratos flexíveis, mantêm contatos limitados com as comunidades locais
preexistentes.
o modelo californiano,
por outro lado, envolve o engajamento individual dos
trabalhadores, .através de incentivos salariais, promoções,
ameaças de
demissão etc, o que lhe proporciona uma maior flexibilidade no que se refere
à força de trabalho, exigindo-lhe menor intensividade em capital.
20
Ele
se
caracteriza
pelo
predomínio
de
uma
QIV
territorialmente
desintegrada, com exceção das tarefas que exigem qualificação profissional e
interfaces diretas, que tendem a se localizar em zonas denominadas "sistemas
produtivos locais" (Lipietz e Leborgne, 1988, p.25), também monossetoriais,
voltadas para o mercado externo, e onde ocorre uma intensa integração
territorial entre as firmas intra-setorialmente especializadas (uma QIV entre
essas firmas),
que já
apresentavam
provavelmente
uma qualificação
profissional anterior.
Finalmente, o modelo saturniano de desenvolvimento combina engajamento
coletivo, flexibilidade e contrato rígido. Com maior segurança em relação ao
emprego, aos salários, os trabalhadores apresentam um grau de engajamento
tal que acaba gerando melhorias na produtividade e na qualidade dos
produtos, sem a necessidade de maiores investimentos em capital fixo.
Esse
engajamento,
mencionados,
diferentemente
envolve negociações
do
que
ocorre
nos
modelos
coletivas, não apenas referentes
já
a
aspectos mercantis, mas também a melhores condições de trabalho, redução
de jornada etc. As relações profissionais no interior das empresas têm por
base a qualificação e a cooperação.
A QIV ocorre por meio de parcerias entre firmas, sindicatos, universidades e
governos locais, levando ao surgimento de "áreas-sistemas",
(Lipietz e
Leborgne,
integradas,
1988, p.25) ou melhor,
redes
territorialmente
multissetoriais, de firmas contratantes e firmas especializadas.
O saber
social é amplamente difundido entre as diferentes atividades econômicas e
21
por toda a sociedade, possibilitando a promoção social em larga escala, sem
dualismo.
Dessa forma, constrói-se wna "flexibilidade ofensiva" (Lipietz e Leborgne,
1988, p.26), que permite auferir maiores vantagens econômicas e sociais das
novas tecnologias, com a participação de todos, e não "defensiva", de
destruição dos acordos firmados entre capital e trabalho.
Esse é, segundo
Lipietz e Leborgne (l988), o modelo que demonstra maiores possibilidades
de sucesso, apesar de poder ser uma mistura dos três.
22
2.
OS NOVOS ESPAÇOS DE CRESCIMENTO
As conseqüências espaciais das alterações que ocorreram nos anos 80, nos
principais países do mundo, na dinâmica da acumulação capitalista são
também objeto de análise de Nicos Komninos (1992). Os "novos centros de
crescimento pós-fordista" (1992, p.218) são classificados de formas variadas,
conforme os critérios adotados pelos estudiosos do assunto.
Assim sendo, Scott e Storper, por exemplo, subdividem esses espaços em:
novos centros de alta tecnologia (Silicon Valley, Orange County, Route 128,
Dallas Fort Worth, o eixo Cambridge-Reading-Bristol, a cidade científica de
Paris-Sul, Grenoble, Toulouse, Sophia-Antipolis, o sul da Baviera); centros
revitalizados de produção artesanal (a "Terceira Itália"): e centros de grande
crescimento de atividades terciárias (Londres, Nova Iorque, Tóquio).
Por sua vez, Komninos (1992, p.219) aponta como principais tipos dos novos
espaços europeus: "1) as metrópoles em reestruturação; 2) os novos espaços
da pesquisa e da alta tecnologia; e 3) as cidades e comunas de especialização
flexível", cada qual com características geográficas e relações internas
particulares.
Referindo-se, inicialmente, a metrópoles como: Turim, Grenoble, Toulouse,
Munique e as cidades da Escócia central, com uma tradição taylorista ou
fordista, constata tanto a implantação de novas atividades de tecnologia
avançada, como a modernização de indústrias tradicionais, favorecendo um
23
grande número de pequenas e médias empresas subcontratadas altamente
qualificadas.
o
desenvolvimento
é promovido pela ação "harmônica"
empresários e organizações sindicais.
de grandes
Verificam-se modificações
nas
prioridades da educação, nos modelos de consumo, na própria .estrattficação
social, e não apenas no sistema de produção.
Estabelecem-se vínculos de
cooperação entre pesquisa e produção dentro da empresa, e competição entre
as empresas.
Quanto aos centros de pesquisa e de alta tecnologia - alguns exemplos dos
quais são Cambridge, Montpellier, Rennes-Atalante,
Sophia-Antipolis .,
Komninos (1992) atribui seu surgimento à intervenção do Estado, às
coletividades locais e à orientação empresarial das universidades.
o Estado
subvenciona a P&D e busca restabelecer a concorrência através de
redes de cooperação produtiva e alianças estratégicas.
As coletividades
locais tentam ampliar o número de empregos, investindo em infra-estrutura e
na criação de centros empresariais.
As universidades visam à criação de
parques científicos, dando uma utilização rentável a terrenos disponíveis.
A separação entre a pesquisa e a produção nesses locais mostra que a
cooperação "externa" entre ambas é tão eficaz quanto à que ocorre no
interior das empresas.
Existe grande proliferação de atividades terciárias,
pesquisa e serviços, além de atividades industriais ligeiras.
24
Esses espaços diferenciam-se dos demais devido ao fato de terem sido
criados
graças
a uma iniciativa
pública,
do governo
central,
das
universidades e dos governos locais.
o
30. tipo citado por Komninos (1992), as comunas de especialização
:flexível
(distritos
industriais),
está
presente
na
"Terceira
Itália"
principalmente, e tem as seguintes características: "concentração espacial de
pequenas e médias empresas que se especializam em diferentes fases de uma
mesma produção;
estrutura social específica,
empresários, artesãos e trabalhadores
composta por pequenos
qualificados;
altas remunerações;
grande especialização e flexibilidade; tecnologia avançada e capacidade de
inovação; e múltiplas relações de confiança, cooperação, divisão organizada
do trabalho" (Komninos, 1992, p.221).
Existe uma atuação conjunta da comunidade no sentido de manter a
propriedade
e a sobrevivência de pequenas e médias empresas.
A
cooperação flexível desenvolve-se em setores tradicionais: têxtil, vestuário,
produtos de couro, móveis, cerâmicas, instrumentos musicais e outros.
Assim, verifica-se que a formação de novos espaços de crescimento varia em
função da história de cada região, das relações de cooperação produtiva e
dos modos de intervenção do Estado.
Apesar disso, existem algumas
tendências em direção à convergência, tais como: o surgimento de um
sistema produtivo localmente integrado, a polarização espacial, a supremacia
das aglomerações urbanas.
autores face a essa questão.
Komninos destaca as colocações de alguns
25
Uma delas é a de Scott, que atribui o aparecimento desses centros à
instabilidade na produção, à ampliação da concorrência e à dissolução das
economias de escala internas à empresa. Gradativamente, vai ocorrendo a
desintegração horizontal e vertical de todo o sistema produtivo, ao mesmo
tempo em que vão aumentando as economias externas e as relações de
integração vertical dinâmica.
A elevação dos custos das transações (transportes, comunicações, troca de
informações) provocada pela maior divisão social do trabalho, na medida em
que reduz a velocidade de circulação do capital, estimula a "reaglomeração"
dos produtores em determinados pontos, originando novos núcleos de
atividades econômicas.
Glasmeier, por sua vez, vincula a nova paisagem industrial às mudanças nas
formas de produção e troca, e não à disponibilidade diferencial de recursos.
Lipietz e Leborgne, como já foi visto. anteriormente, mostram diferentes
estruturas espaciais, constituindo-se em decorrência de certos modelos de
organização
do trabalho
e das relações
industriais,
e privilegiando
essencialmente as aglomerações urbanas, "em função do caráter mercantil
dessas relações industriais" (Komninos, 1992, p.223).
Outro autor, Cooke, reenfatiza a posição central da integração flexível no
processo de acumulação pós-fordista,
e suas conseqüências
espaciais,
dependentes da flexibilidade do processo de trabalho. A reorganização das
empresas, a necessidade de trabalho qualificado, a importância da integração
entre pesquisa e produção, a formação de redes de cooperação tecnológica,
26
etc, levam à valorização da descentralização, mas também à formação de
núcleos, a movimentos de aglomeração, a uma nova centralidade.
Ao se referir às atividades modernas, Komninos (1992) chama a atenção para
o papel predominante que assume a pesquisa no processo de produção pósfordista, as exigências constantes de inovação a que estão submetidas as
indústrias de alta tecnologia, sustentáculos da atual fase de desenvolvimento
capitalista",
Contrariando Scott, o autor afirma que as economias de escala - internas ou
externas - perdem importância frente às necessidades de criação de novos
produtos e sistemas de produção; a concorrência desenvolve-se ao nível dos
laboratórios, dos projetos de pesquisa, das aplicações industriais da pesquisa,
da interligação entre pesquisa e produção.
Toma-se fundamental a íntima
vinculação entre universidades, instituições de pesquisa, e empresas.
Outros fatores que interferem na localização das empresas dessa natureza são
a qua1idade do meio ambiente e o grau de urbanização (vitalidade do tecido
urbano, redes e qualidades urbanas), uma vez que a lógica de implantação
dessas empresas-está
muito ligada à imagem, à forma fisica de uma
localidade, uma "estratégia de imagem", diz Komninos (1992, p.226).
A partir dessa implantação inicial, verifica-se uma integração local e uma
extensão desse conjunto produtivo; forma-se um sistema de produção
localizado, que inclui universidades, centros de pesquisa, multinacionais,
pequenas e médias empresas, dividindo os riscos dos investimentos em
pesquisa.
27
Os novos espaços de crescimento; então, não se constituem apenas em
aglomerações industriais, enclaves de empresas de alta tecnologia, como
alegam muitos autores, mas sim envolvem a presença de "indústrias de
tecnologia nova, sistemas de QIV, relações sistemáticas entre pesquisa e
produção, mercados de trabalho específicos, e mais, associando as condições
culturais de integração dos trabalhadores à lógica da pesquisa, da síntese, da
produção de alta precisão, da produção em mudança contínua" (Komninos,
1992, p.228).
Os novos espaços de crescimento representam sistemas de inovação, de
produção
flexível, baseados
na cooperação
- e não na exploração,
dominação, social para elevação da produtividade - sem a degradação do
meio ambiente.
Surge um novo tipo de urbanidade, de espaço fisico e social, que, entretanto,
se vê ameaçado por crescentes desigualdades sociais e contradições urbanas,
caso a concorrência entre as localidades para atrair investimentos não as leve
em consideração e não se criem mecanismos de regulação adequados para
evitar tais diferenciações internas (Komninos, 1992).
A seguir, vão ser analisados os fatores específicos que determinam a
formação de um desses "novos espaços de crescimento"- o das indústrias de
alta tecnologia ., partindo de uma breve revisão das principais teorias de
localização.
28
3. AS
,
INDUSTRIAS
Dl~
ALTA
TECNOLOGIA
E
SUA
LOCALIZAÇÃO
3.1. As Teorias de Localização
Para que se conheçam as forças que levam à concentração geográfica das
atividades econômicas, e, assim, seja possível, por exemplo, planejar de
forma adequada o desenvolvimento de uma região, é imprescindível
identificar os fatores que influenciam as decisões empresariais a respeito
de suas escolhas locacionais.
Esses fatores constituem a preocupação central das teorias de localização,
que, segundo Ferreira (1989b) podem ser classificadas em dois tipos
essenciais: estáticas e dinâmicas.
3.1.1. As Teorias Estáticas de Localização
Essas teorias caracterizam-se por Ignorar os aspectos espaciais. . Elas
referem-se a um mundo estático, não espacial, e, por isso, muitas das
formulações econômicas de seus autores são consideradas leis eternas, de
validade universal (Richardson, 1975)..
Podem ser divididas em 2 grupos: "l ) as teorias que consideram os
mercados
consumidores
puntifonnes,
ou seja,
os consumidores
se
concentram em pontos discretos do espaço geográfico; e 2) as teorias que
29
consideram os consumidores dispersos em áreas de mercado de diversos
tamanhos" (Ferreira, 1989b, p.68).
As teorias do Grupo 1 buscam minimizar os custos de transporte, uma vez
que, para essa corrente, inexistem problemas de demanda: tudo o que for
produzido será vendido a preços de mercado.
Não existe também uma
preocupação com a dependência das decisões locacionais de outras
empresas na decisão locacional de uma empresa.
Os insumos têm preços fixos e sua oferta é petfeitamente elástica. Não se
leva em consideração o tamanho da firma (a escala de produção), e não se
permite a substituição de fatores (ou insumos), uma vez que admitem
proporções fixas, ou coeficientes técnicos de produção constantes nos
projetos industriais.
Quanto às teorias do Grupo 2, também apresentam coeficientes fixos de
produção, preços fixos dos insumos e oferta perfeitamente elástica, custos
operacionais fixos (exceto os de transporte), não consideram o tamanho da
empresa e não admitem substituição entre fatores. Entretanto, elas diferem
do Grupo
1, em razão
de considerarem
que a demanda toma-se
relativamente elástica em função dos preços e enfatizarem a questão da
interdependência locacional e das condições de mercado (concorrência
imperfeita),
influindo nas decisões empresariais
a respeito
de sua
localização.
Considerando-se que os consumidores estão dispersos numa determinada
área geográfica (área de mercado) e as empresas tentam atender o maior
30
número
de consumidores,
as que estiverem
maiores condições de monopolizar
técnicas,
tamanho
mínimo
mais próximas
o mercado -dadas
de um empreendimento
deles terão
as indivisibilidades
- e eliminar
seus
concorrentes.
Segundo a lei geral das áreas de mercado,
mercado
de empresas
hipercírculo.
concorrentes,
Em cada ponto
"o limite entre
para produtos
a.
áreas de
homogêneos,
da linha que estabelece
é um
este limite,
a
diferença entre os custos de transporte até este ponto é exatamente igual à
diferença
entre os preços de mercado, enquanto
dessa linha essas diferenças são desiguais.
que em ambos os lados
A razão da diferença de preços
com relação à tarifa e a razão entre as tarifas relativas aos 2 mercados
determinam a localização
da linha limítrofe; quanto maior o preço relativo
e quanto menor a tarifa relativa, maior é a área de mercado"
(Ferreira,
1989b, p.158).
No Grupo 1, aparecem Alfred Weber e Johan H. von Thünen; no Grupo 2,
August Lõsch, Harold Hotelling,
Hyson,
W.P. Hyson
ofereceram
e Edgard
contribuições
Tord Palander,
M. Hoover.
Frank A. Fetter, C.D.
Outros
para a teoria locacional,
autores
como:Walter
também
Isard,
Leon M. Moses e David R. Smith.
Aqui vão ser destacadas
apenas algumas das colocações
autores: Weber, Lõsch e Isard.
de três desses
31
Alfred Weber
"O grande pen.sador clássico da localização industrial", segundo Castells
(1975, p.30).
A teoria weberiana considera como principais fatores de
localização: os custos de transporte, os custos de mão-de-obra e as forças
de aglomeração e desaglomeração.
Entretanto, os custos de transporte têm papel decisivo para a localização
das indústrias, e dependem do peso fisico do produto, e da distância a ser
percorrida.
Através de seu triângulo locactonal, Weber determina o ponto de custo
mínimo de transporte: é o ponto no qual é mínimo o total de tonJkm
referentes ao transporte de matérias-primas para o local de produção e do
produto final para o mercado" (Ferreira, 1989b, p.S1).
Weber apresenta um modelo de equilíbrio estático e parcial.
das
outras
teorias
do
Grupo
1, não
leva
em
A exemplo
consideração
a
interdependência Iocacional das firmas, e o mercado é caracterizado pela
concorrência perfeita.
Os agentes econômicos detêm o total conhecimento das informações, e,
assim, tomam suas decisões sem riscos.·
Por sua vez, os coeficientes
técnicos de produção são fixos, independentemente da localização.
As condições básicas de seu modelo são:
1) os pontos de consumo são
dados, e a demanda é perfeitamente elástica a um dado preço; 2) as fontes
32
de matérias-primas também são dadas, e sua oferta é perfeitamente elástica
a um dado preço; e 3) os locais de mão-de-obra são dados, e sua oferta
também é ilimitada a uma dada taxa de salários reais.
o segundo
fator de localização apontado porWeber é o custo da mão-de-
obra, que é analisado por meio de isodapanas, que podem ser defmidas
como os conjuntos de pontos que têm igual acréscimo de custo de
transporte em relação àquele local em que o custo é mínimo (Matteo,
1990, p.9).
As indústrias serão atraídas pela mão-de-obra, desde que a localidade
esteja situada dentro da "isodapana critica", que é aquela na qual o custo
de transporte adicional contrabalança com a economia de gastos com a
mão-de-obra; caso contrário, a atividade permanecerá no local de custo de
transporte mínimo.
Weber destaca também os fatores de aglomeração e desaglomeração.
Os
primeiros geram economias de custos básicos. em razão da proximidade
com indústrias complementares, melhor comunicação com o mercado etc.
Quanto aos fatores desaglomerativos, Weber refere-se essencialmente à
"renda da terra", que tende a aumentar com a maior concentração de
indústrias numa determinada região.
Nesse caso, ele também utiliza
isodapanas críticas.
Weber não analisa, entretanto, os fatores técnicos com o mesmo detalhe
que os custos de transporte e de mão-de-obra, e considera os fatores de
aglomeração numerosos e heterogêneos.
33
Hoover faz críticas ao fato de Weber não distinguir os 3 elementos
diferenciados que compõem os fatores de aglomeração: "a) economias de
escala dentro de uma firma, devido ao aumento da escala de produção da
firma em um dado local (economias internas à firma); b) economias de
localização para todas as firmas de uma única indústria em um único local,
devido ao aumento da produção total da indústria nesse mesmo local
(economias externas às firmas e internas à indústria); e 3) economias de
urbanização
para todas as firmas em todas as indústrias em um único
local, devido ao aumento do nível econômico (população, renda, produção
ou riqueza), para todas as indústrias tomadas em conjunto" (Ferreira,
1989b, p.l 05).
August Lõsch
"A demanda de um bem é função direta do preço de fábrica, supostamente
dado, e função inversa dos custos de transporte necessários para deslocar o
bem no espaço" (Richardson, 1975, p.80.). A demanda de uma firma pode
ser aumentada pelo aumento da demanda individual de cada consumidor
ou pela ampliação dos limites de sua área de mercado.
O preço,
entretanto, é dado pelo nível de produção, demanda e custo de transporte.
Dado que não existem diferenças espaciais nos recursos nem diferenciais
de gostos e renda da população, e nem interdependência locacional das
empresas, haverá um limite finito para a área de mercado, que é aquele em
que o preço de fábrica mais o frete impedirão que qualquer consumidor
consuma o produto a uma determinada distância.
34
o
cone de demanda mostra o nível de demanda em função do preço
líquido de fábrica e a distribuição espacial dessa demanda. Ele é obtido
girando-se o eixo dos custos ao redor do das quantidades.
Em seu modelo, que analisa os fatores de demanda. Lõsch parte das
seguintes
hipóteses:
"distribuição
uniforme
das
matérias-primas
industriais; possibilidade de transporte em todas as direções, levando a
custos idênticos em toda uma superficie de uma planície homogênea;
distribuição regular da população; gostos e preferências idênticos dos
consumidores; e oportunidades abertas para todos" (Richardson, 1975,
p.112).
Com base nelas, o equilíbrio locacional geral é obtido a partir de 5
condições: 1) localização ótima do produtor para maximizar seus lucros; 2)
número de empresas suficiente para ocupar todo o espaço; 3) preço de
fábrica igual ao custo médio, sendo ambos função da demanda; 4) área de
mercado de proporções mínimas necessárias para justificar a continuidade
da produção; 5) nos limites das áreas de mercado, existe indiferença dos
consumidores quanto ao possível local de compras.
A estabilidade do equilíbrio depende da formação de áreas de mercado
hexagonais, que possibilitem a ocupação total do espaço.
Como a área
circular é a mais lucrativa, os círculos tenderiam a ser comprimidos pela
concorrência até atingirem a forma hexagonal, que maximizará o número
de firmas,
de forma
consumidores.
a dar o melhor
atendimento
possível
aos
Essas redes de áreas de mercado hexagonais devem ser
superpostas de modo a terem um centro comum, uma cidade central.
35
Trata-se de um modelo ideal, que não combina com economias capitalistas
de mercado, onde intervêm fatores como: interdependência locacional,
economias de escala, de localização e de urbanização, e a constituição
oligopólica
das grandes empresas,
que alteram a distribuição
das
atividades econômicas, induzindo à concentração geográfica.
Apesar de suas limitações, entretanto, a análise de Lõsch é pioneira na
tentantiva de descrever relações espaciais gerais por meio de um conjunto
de equações simples; e apresenta um modelo de economia espacial
operando em condições de concorrência monopolista.
Walter Isard
Segundo Castells, ele é "o principal depositário de toda a tradição da
economia espacial, e essa herança intelectual lhe assegura uma posição
central no pensamento contemporâneo" (Matteo, 1990, p.14).
Parte de um modelo de minimização
de custos de transporte de tradição
weberiana, para encontrar a localização ótima, só que com sistemas de
tarifas mais realistas que o de Weber.
o conceito
básico utilizado por lsard é o de insumo de transporte, ou seja,
o movimento de uma unidade de peso por uma unidade de distância,
expresso em ton!km.
"Os insumos de transporte correspondem ao
exercício de esforço necessário para superar a resistência oposta ao
movimento no espaço" (Richardson, 1975, p.61).
36
As tarifas de transporte se diferenciam em função da extensão e das
características
do trajeto, tipo de mercadoria transportada,
grau de
concorrência no setor de transporte, topografia da região pela qual os bens
serão transportados etc.
Isard cria também uma linha de substituição de dispêndios, que mostra as
possibilidades de substituição entre os dispêndios de transporte e outros
fatores, como: mão-de-obra, energia, aluguel, ou qualquer outro gasto
produtivo cujos custos variem de um lugar para o outro.
Ele classifica os fatores locacionais em 3 grupos, vinculados a custos: 1)
custos de transporte e outros custos de transferência, que variam com a
distância; 2) outros custos de produção, que não variam com a distância; e
3) economias e deseconomias de aglomeração, que não estão vinculadas à
posição geográfica.
Apenas o pnmeiro
contribui para impor regularidade
à distribuição
espacial da atividade econômica, o que leva o autor a aplicar a sua técnica
de análise de substituição a insumos de transporte, já que no caso dos
outros fatores não
o modelo
é significativa
(Matteo, 1990).
de Isard tenta integrar as teorias fundamentais da localização
com a teoria da produção neoc1ássica, com funções de produção que
admitem a substituição entre fatores.
"A inclusão de insumos de
transporte na função de transformação da firma acrescenta uma dimensão
espacial à teoria da produção" (Richardson, 1975, p.67).
37
Superando
obstáculos como a concorrência
perfeita e a localização
da firma, alega que o lucro máximo exige um ajustamento
nível
de produção.
transporte),
da
da localização
final (Ferreira,
combinação
insumos
adequado
(inclusive
os
do
de
da empresa e do preço de venda. do produto
1989b).
3.1.2. As Teorias Dinâmicas
A Escola Histórica
necessidade
dos
ótima
de Localização
Alemã chama a atenção
de seus membros,
para a
Os elementos tempo e
de referir as teorias à realidade social.
espaço passaram, então, a ser incluídos na análise econômica.
A Economia
influência
Existem
espacial
reconhece
da distância
resistências
dando
econômicas
as imperfeições
condições
na concorrência
de monopolizar
e não-econômicas
e a
o mercado.
à mobilidade
dos
fatores.
"As forças de mercado não levam inevitavelmente
regionais per capita ou à localização
certas circunstâncias,
à igualdade das rendas
espacial ótima dos recursos,
podem operar de forma instabilizadora.
e, em
De fato, a
economia de mercado pode levar a uma drenagem maciça de população de
certas áreas para outras e a uma alta concentração
dos recursos
número limitado de centros urbanos de alta densidade" (Richardson,
em um
1975,
p.17).
Antes de mais nada, é preciso
que as teorias
sejam dinâmicas,
e não
estática, pois devem explicar o impacto das mudanças nas técnicas, custos
38
de transporte, níveis de renda e gastos sobre os padrões locacionais do
consumo e da produção.
Freqüentemente, as primeiras teorias da localização consideravam como
localização ótima aquela em que os custos de transporte eram mínimos,
subestimando
a importância
das variações espaciais
nos, custos de
produção e na demanda por outros fatores que não o transporte.
"As teorias clássicas e fundamentais da localização constituem um elo
indispensável
para a explicação das decisões onde localizar-se,
da
concentração das atividades e dos condicionantes do desenvolvimento
regional. Por outro lado, as teorias dinâmicas agregativas da localização
procuram
compreender
o
surgimento
em
um
dado
local,
o
desaparecimento, as relocalizações, a segmentação da produção em vários
locais, a utilização dos recursos naturais, bem como a interdependência
das decisões locacionais a médio e longo prazos, como resultado da
estratégia de acumulação oligopólica (inclusive a nível mundial) dos
grandes conglomerados" (Ferreira, 1989b, p.l97).
As teorias dinâmicas, ao contrário das estáticas, dão uma ênfase especial
ao tamanho das empresas, uma vez que as estruturas oligopólicas atuais
constituem-se de grandes empresas de âmbito mundial, que adotam
decisões locacionais em função de suas estratégias de acumulação.
A preocupação essencial com uma única firma é substituída pela atenção
na dinâmica locacional de organizações com múltiplos estabelecimentos, e
sistemas de produção distribuídos por múltiplas localidades.
Maior
39
flexibilidade nas relações capital-trabalho são buscadas por essas empresas
em outros lugares.
As transformações
tecnológicas
exigem altos
investimentos, e, portanto, taxas de lucro elevadas, e interferem nas
decisões locacionais.
"São novos caminhos das teorias da localização, relacionados, às teorias
do oligopólio e dos ciclos dos produtos e dos lucros, em um sistema
complexo de interdependência locacional entre várias empresas e suas
estratégias e planos de produção e de expansão, formando o que Markusen
denomina de sucessão espacial, que é uma seqüência de tendências
locacionais na qual um setor industrial se estabelece e se concentra em
uma ou várias regiões, eventualmente, abandonando os centros iniciais"
(Ferreira, 1989b, p.195).
Matteo vincula a evolução das teorias de localização aos contextos
históricos em que surgiram:
Weber - com o início da industrialização,
ligado a princípios tayloristas de aumento da produção; Lõsch - após a
crise de 1929, preocupado também com a questão da venda da produção
(daí, construir um modelo que determina a localização onde os lucros
fossem máximos); Greenhut e Alonso - incluem o marketing, numa época
de transformação do taylorismo ao fordismo; Isard, por sua vez, é o marco
do racionalismo, com inúmeros modelos, num quadro de planejamento
estratégico.
Já as teorias dinâmicas, surgidas a partir do final dos anos 60, aparecem
num momento de crise no modo de produção capitalista, e buscam
explicações da localização industrial num contexto de relações sociais.
40
Os teóricos marxistas consideram o espaço, como uma mercadoria
capitalista, inserida no processo de acumulação de capital, e que, portanto,
deve ser analisado sob a ótica da relação capital-trabalho (Ferreira, 1989a).
Dentre os autores ligados a essas teorias, podem ser citados Castells, Scott,
Malecki, Markusen e outros; entretanto, serão apresentadas apenas as
colocações do primeiro.
Manuel Castells
Para ele,
lia
análise do espaço da produção não deve ser feita a partir da
produção do espaço, mas sim da produção das relações sociais, isto é, da
análise do movimento dialético das classes sociais que o produzem" (1975,
p.232).
Chama a atenção para o viés ideológico
por trás dos esquemas
marginalistas que tentam explicar a localização; eles mascaram a dinâmica
social que está em sua base, .incapacitando-os
fenômenos.
para explicar esses
As teorias clássicas de localização industrial não oferecem
uma explicação social para os processos que ocorrem na organização do
espaço, diz Castells: daí, a necessidade de mudar a perspectiva teórica.
Os fatores "sociais" não devem ser apenas justapostos aos "econômicos",
mas sim integrados num conjunto articulado,
"no qual as relações
econômicas são, em si mesmas, relações sociais contraditórias, isto é,
relações de classe" (Castells, 1975, p.40).
41
Assim, Castel1s tenta desenvolver tal perspectiva, aplicando conceitos
marxistas à análise do espaço industrial, e do espaço econômico. Trata de
associar
as
observações
das
novas
tendências
espacrais
com
o
conhecimento das leis estruturais que as regem.
Ele aponta alguns pontos essenciais das novas tendências locacionais,
As
imposições econômicas variam com o tipo de empresa, que pode ser
orientada para o mercado; para as fontes de matérias-primas ou de
localização livre.
Em função do progresso técnico e do tamanho das empresas, o espaço
torna-se
cada vez mais indiferenciado
para a atividade
Entretanto, apesar da homogeneização em relação
industrial.
às necessidades das
empresas de fontes naturais e posições geográficas, novas imposições do
meio técnico se colocam na localização.
Em primeiro lugar, a importância das ligações entre empresas, tanto para a
distribuição dos produtos como para solução de problemas técnicos.
As
"economias de aglomeração" tornam-se os fatores centrais de localização.
Em segundo Iugar, na medida em que a mão-de-obra aparece como o
requisito fundamental da indústria moderna, e que não é somente um fator
de produção, ela envolve a necessidade de: de um lado, um entorno urbano
favorável, com escolas, equipamentos sociais e culturais, pontos de
encontro,
conforto,
clima
agradável
etc; e, de outro,
(universidades c centros de formaçãoprofissional)
instituições
capazes de formar e
42
recicIar a mão-de-obra,
com vistas a aumentar ainda mais o seu nível de
qualificação.
Trata-se,
então, de uma combinação
com uma atividade
Rémy,
segundo
conhecimento
intelectual
a qual
da valorização
desenvolvida,
"a
cidade
é o meio necessário
do quadro espacial
o que confirma
como
centro
de
para o desenvolvimento
a tese de
produção
de
da indústria
moderna" (CastelIs, 1975, p.50). Nela verifica-se a troca de informações e
oferecem-se possibilidades
Outro
elemento
valorização
de criação.
importante
para a escolha
espacial
da empresa
é a
social do espaço enquanto tal. Ao invés de se preocupar com
o espaço enquanto
realidade
questão da diferenciação
fisica, algumas empresas voltam-se
social do espaço, da apropriação
para a
dos elementos
simbólicos unidos a um espaço.
Os fatores puramente
tecnologicamente
priorizar
sociais têm m81Qr importância
mais avançadas
para as indústrias
do que para as demais, que tendem a
fatores mais tradicionais.
"Pôr em relêvo
o comportamento
inovador e social da indústria de ponta tem como fim, sobretudo,
com a idéia de uma racionalidade
romper
única, que seria a racionalidade
de
objetivos, e não de valores, e que deveriam ser aplicados a todos os tipos
de empresas" (CastelIs, 1975, p.52).
Castells tenta apenas assinalar as grandes tendências estruturais
na base da formação do novo espaço industrial,
têm
uma
homogeneidade
teórica,
que estão
Estes estudos, que não
mas .a mesma
perspectiva,
estão
43
centrados na análise da produção do espaço industrial, e não sobre as
conseqüências do meio industrial constituído sobre o conjunto do território
(Castells, 1975).
É dentro dessa linha de análise das teorias dinâmicas que se inserem os
estudos a respeito da localização de indústrias
de alta, tecnologia.
detalhados a seguir.
3.2. Os Fatores Locacionais das Indústrias de Alta Tecnologia
Na medida em que a preocupação do presente trabalho é analisar os fatores
locacionais das indústrias de alta tecnologia (IAT), cumpre, antes de mais
nada, discriminar os ramos industriais considerados high fecho
Utilizando-se a lista de atividades definida pela OCDE (Guermond, 1988,
p.278), a relação éa
seguinte: 1) quimica - corantes sintéticos; insumos
farmacêuticos; materiais plásticos; resinas sintéticas e outros elastômeros;
óleos de essências, aromas naturais e sintéticos; 2) paraqufmica - produtos
fitossanitários; carvões artificiais, terras ativas e produtos químicos para uso
metalúrgico e mecânico; 3) farmacêutica - especialidades farmacêuticas; 4)
mecânica - motores a combustão interna, exceto para automóveis ou aviões;
turbinas térmicas e hidráulicas. equipamentos para barragens; 5) informática
- material para tratamento da informação, máquinas de bureau; 6) elétrica equipamentos de distribuição, de comandos de baixa pressão, de aplicação
da eletrônica de potência; material elétrico de grande potência ou alta tensão;
aparelhagem industrial de baixa pressão, relê, material de sinalização;
44
fabricação de equipamentos para automação de processos industriais; 7)
eletrônica - materiais telegráficos e telefônicos; aparelhos de radiologia e de
eletrônica médica; aparelhos de controle e regulagem especificamente
concebidos para automação industrial, instrumentos e aparelhos elétricos e
eletrônicos de medição; material profissional eletrônico e radioelétrico,
componentes
passivos
e
condensadores
fixos,
tubos
eletrônicos
e
semicondutores; aparelhos de registro e reprodução de som e imagem,
suporte de registro; 8) aeronáutica - células de aeronaves; propulsores de
aviões e equipamentos de propulsores; equipamentos específicos para aviões; .
lançadores espaciais; e 9) mecânica de precisão - produtos de relojoaria;
aparelhos de pesagem, contadores, instrumentos de metrologia; instrumentos
de ótica e precisão; material fotográfico e cinematográfico.
A implantação de indústrias desse tipo é vista como a solução ideal para
regiões economicamente atrasadas ou decadentes. Sua imagem normalmente
está associada à de produtos com alto valor agregado, elevados níveis de
renda
da
população,
competitividade
atividades \
não-poluidoras,
modernização,
internacional etc, e, por isso, são utilizados os mais
diferentes recursos com vistas a atraí-las para uma determinada localidade.
Coloca-se, então, a questão de verificar até que ponto esses recursos se
mostram eficientes para atingir a meta almejada, e em que medida eles são
ou não compatíveis com os requisitos locacionais de empresas dessa
natureza.
De início, convém destacar que as IATs caracterizam-se por um padrão
locacional específico, bastante diferenciado daqueles adotados pelas demais
45
indústrias, e que não pode ser compreendido exclusivamente à luz da teoria
convencional da localização.
Esta, segundo Malecki (1985), subestima o
trabalho como fator de localização, ao passo que as IATs, não apenas
valorizam de modo acentuado o fator mão-de-obra, como procedem à sua
segmentação e separação espacial.
A estrutura de empregos nas IATs é altamente dicotomizada.
O avanço da
automação vem alterando gradativamente as necessidades de mão-de-obra
nas empresas. Empregos que exigiam qualificação média na produção estão
sendo eliminados, à medida em que novas etapas do processo produtivo são
padronizadas e rotinizadas. A dependência das empresas em relação a esses
trabalhadores de nível intermediário reduz-se cada vez mais, tendendo de
forma crescente à bipolarização,
De um lado, estão os trabalhadores da produção, os operadores, nãoqualificados, exercendo atividades rotinizadas, com salários baixos, e cuja
disponibilidade existe em muitos lugares, não representando, pois, nenhum
obstáculo às empresas, que buscam localizar suas atividades de produção
onde os custos são menores.
Do outro, está o pessoal técnico e profissional qualificado, atuando em áreas
de pesquisa, inovação, com remunerações elevadas, e gozando de uma
considerável mobilidade no mercado de trabalho nacional e até internacional,
dada a relativa escassez dessas aptidões técnicas.
Concentrações de cientistas e engenheiros representam vantagens locais,
economias de aglomeração, para as empresas de setores industriais de alta
46
tecnologia, beneficiando não apenas as grandes firmas, mas também as
pequenas,
cUJOS
custos
de
comunicação/informação
compradores/fornecedores reduzem-se consideravelmente.
com
Para Browning
(Malecki, 1986), a presença desses profissionais representa o principal fator
de localização para as corporações de P&D.
Conforme um centro de alta tecnologia se consolida, existe uma tendência
para que sua atração se reforce cada vez mais. A crescente aglomeração de
empresas e pesquisadores facilita amplamente a rotatividade da mão-de-obra
especializada, "sem raizes", em constante busca por melhores alternativas de
trabalho, ao mesmo tempo em que a presença de "amenidades urbanas"
(Malecki, 1986, p.75) - shoppings, restaurantes, equipamentos culturas e de
recreação - atende às exigências de qualidade de vida, impostas por técnicos
especializados e empresários com rendimentos elevados.
o
surgimento de novas firmas de alta tecnologia ou desdobramentos de
antigas empresas ocorre preferencialmente nos centros desenvolvidos, que
retêm os talentos, o capital e a infra-estrutura necessários.
Assim, são
poucas as regiões que têm condições de desfrutar das vantagens que essas
indústrias oferecem em termos de possibilidade de novos mercados, ou de
criação de novos produtos para os mercados já existentes; a difusão, quando
acontece, é muito restrita.
Uma relação detalhada dos principais arributos de regiões de alta tecnologia
bem-sucedidas é apresentada por Saxenian, que, todavia, não os classifica
por ordem de importância.
São eles: "1) uma universidade de pesquisa,
preferivelmente do maior calibre, que assegure uma base científica e o
47
fornecimento de cientistas e engenheiros; 2) uma ampla oferta de capital de
risco para a criação de novas firmas; 3) investimento público voltado para a
pesquisa e a busca de novas tecnologias; 4) uma qualidade de vida que atráia
e retenha engenheiros e cientistas "sem raizes"; 5) ausência de sindicatos; 6)
um parque industrial eufemisticamente referido a um parque científico, para
as firmas domiciliares; 7) infra-estrutura adequada - estradas, aeroportos etc
..para assegurar eficientes ligações de transporte e comunicações" (Saxenian,
1989, p.).
A maioria desses fatores locacionais é apontada também no trabalho de
Malecki (1985), com exceção dos sindicatos, da participação do setor
público e da vinculação parque industrial-parque científico.
CasteIls (1985), por sua vez, define, a partir de pesquisas empiricas atuais
realizadas
por outros autores, um modelo locacional
para as IATs,
mencionando também a necessidade de: presença de universidades e centros
de pesquisa; técnicos e cientistas; não-sindicalização
dos trabalhadores
(principalmente para evitar dificuldades de flexibilização e inovação); capital
de risco para financiamento de empresas de alta tecnologia nascentes e sem
recursos próprios; distribuição espacial hierárquica da força de trabalho
(atividades de pesquisa separadas da fabricação, montagem etc). Acrescenta
ainda que, no caso americano, o surgimento incial das IATs se deu nas
proximidades de bases militares, dada a dependência dessas empresas em
relação
aos mercados governamentais,
militares e espaciais.
principalmente
para programas
48
3.2.1. Dois Exemplos Americanos
Para tanto, lançou-se mão das análises de Saxenian (1983 e 1985) a respeito
de duas concentrações de indústrias de alta tecnologia existentes nos Estados
Unidos .. o Silicon Valley, na Califórnia, e a Route 128, em Boston .,
apontando não apenas os fatores locacionais, mas também as, contradições
urbanas originadas pela presença de importantes complexos industriais de
alta tecnologia nessa região.
3.2.1.1. O Silicon VaUey
No caso específico do Silicon Valley, a autora chama a atenção para o fato
de que o condado de Santa Clara representa um raro exemplo de vinculação
entre setor industrial, desenvolvimento regional e estrutura espacial urbana geografia urbana.
Nessa região, já nos anos 30, surgiam pequenas
empresas de base
tecnológica, ligadas ao setor eletrônico, e cujos proprietários eram, em boa
parte, cientistas e engenheiros formados pela Universidade de Stanford, que
buscavam se beneficiar do ambiente intelectual familiar proporcionado pela
proximidade do campus universitário.
Durante o período da 2a. Guerra, e também depois, a universidade recebia
recursos federais para desenvolver equipamentos e componentes militares
mais versáteis; a partir das pesquisas realizadas, foi inventado o transistor,
cuja produção comercial tem inicio em 1951.
indústria de semicondutores.
Criava-se, assim, a jovem
49
Algumas características dessa indústria, como, por exemplo, os acelerados
avanços tecnológicos, a rápida difusão das inovações, a ausência de
economias de escala e a rápida disponibilidade de financiamentos (amplo
volume de capital de risco, proveniente de São Francisco), facilitavam a
instalação
de pequenas
e competitivas
firmas novas, que tinham
a
flexibilidade necessária para explorar essas inovações.
A concentração de empresas de alta tecnologia nesse espaço tomava-se cada
vez mais vantajosa, na medida em que existiam condições extremamente
favoráveis para seu desenvolvimento.
Economias externas, incluindo uma
ampla oferta de trabalhadores qualificados e não-qualificados, insumos e
serviços especializados,
e um ambiente social, cultural e educacional
atraente, alavancaram a proliferação de indústrias de semicondutores no
condado. Ocorre o chamado efeito "spinoff", isto é, a criação de empresas
em cadeia.
Paralelamente, verifica-se um
crescimento acelerado da população, em
decorrência do maciço afluxo de imigrantes, formando uma corrente dual,
constituída
de trabalhadores
bem qualificados
e trabalhadores
sem
qualificação • agricultores, mexicanos e filipinos, americanos negros e de
descendência latina-, que foram sendo integrados à força de trabalho local.:
o crescimento
da indústria de semicondutores vai aos poucos definindo os
padrões de desenvolvimento urbano da região. Como se trata de um setor
com uma estrutura de empregos bifurcada, ou seja, constituída basicamente
por 2 segmentos polarizados da mão-de-obra - um, com alta qualificação, e o
outro, não-qualificado, sendo que o estrato intermediário é inexpressivo e
50
tende à extinção -, essa mesma estrutura ocupacional acaba gerando uma
estrutura de classes também bifurcada, e padrões de assentamentoresidencial
e de urbanização que refletem essa. estrutura. de classes (ver Mapa 1).
Os profissionais e executivos mais ricos residem na Região I (a oeste, nas
colinas), que é constituída pelas cidades mais novas e nas -quais existem
apenas comunidades residenciais (Saxenian, 1985). Essa região, além da
beleza das colinas, tem a vantagem de se situar bastante próxima ao local de
trabalho de seus moradores, pessoas com altos rendimentos, o mais elevado
nível
educacional,
a maioria
exercendo
atividades
profissionais
ou
administradores, e sendo todos brancos.
Os moradores da Região Il, ao norte do condado (local em que está a maior
parte
dos empregos),
intermediária.
representam
uma combinação
sócio-econômica
O status sócio-econômico da população vai declinando à
medida em que se dirige ao sul do condado. onde a ocupação predominante
passa a ser
8
de operador e artesão, e as minorias tendem a prevalecer.
A Região 111,composta de cidades mais antigas (a principal delas é San
Jose), possui um contingente populacional substantivo, caracterizado por
salários abaixo da média do condado, imigrantes não-qualificados, pessoas
com grau
menor
de educação;
são,
essencialmente,
"comunidades-
dormitório". Finalmente, a Região IV abriga os 10% mais pobres, conecta-se
marginalmente ao complexo eletrônico, constituindo-se de uma população
rural, voltada para a agricultura.
51
MAPAt
o PÓLO TECNOLÓGICO DO VALE DO SILÍCIO
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52
Assim, a paisagem urbana do Silicon ValIey retrata bem a estrutura social
resultante da estrutura ocupacional das IATs ali instaladas, a segregação
espacial existente.
Por volta dos anos 70, a região começou a enfrentar uma série de problemas
provocados por esse desenvolvimento
urbano distorcido.
moradias leva ao encarecimento exagerado dos imóveis.
habitacional
decorre dos "limites de construtibilidade
,A
falta de
Esse déficit
impostos pelas
municipalidades", como afirma Ghorra-Gobin (1992, p.1l5), ou seja, são
uma conseqüência das políticas restritivas de uso do solo e das práticas de
planejamento de exclusão, promovidas pelos governos locais para preservar a
"qualidade de vida" em suas jurisdições, evitando inclusive despesas com a
criação de novos equipamentos e serviços urbanos.
Através da criação de
espaços verdes, ou da transformação de espaços livres em espaços para as
indústrias, dificultava-se excessivamente a possibilidade de construção de
novas residências.
Tendo em vista o diferencial de salários (que chegava até a 10 vezes) entre
engenheiros e cientistas, e trabalhadores da produção, só os primeiros tinham
condições de adquirir os imóveis localizados em áreas privilegiadas, dada a
acentuada elevação de preços que estes sofreram. Em conseqüência disso, a
mão-de-obra pouco ou nada qualificada tinha que se deslocar para territórios
menos dispendiosos, como San Jose.
o
número crescente de trabalhadores obrigados a morar em lugares mais
distantes, em vista dos preços inferiores, e a deslocar-se diariamente de
automóvel para seus locais de trabalho, por inexistirem alternativas viáveis
53
de
transporte
de
massas,
acaba
provocando
graves
problemas
de
congestionamento nas estradas, e, com isso, um aumento considerável da
poluição do ar.
Por outro lado, a falta de controle sobre os despejos de produtos tóxicos
efetuados pelas empresas gera o comprometimento da qualidade da água para
abastecer a população, obrigando o setor público a adotar medidas enérgicas
no sentido de punir os infratores.
É interessante notar que esse aspecto
negativo de algumas IATs contradiz a imagem freqüentemente veiculada a
respeito desse tipo de indústria, que é a de serem atividades não poluentes.
Aos poucos, vão se disseminando movimentos de não crescimento na região,
liderados por industriais preocupados em reter seus empregados, ou pelos
próprios moradores, visando reverter esse quadro de problemas urbanos e
degradação ambiental, e preservar a qualidade de vida local. Na medida em
que se atribui a culpa principal ao crescimento do número de empregos, o
governo cria uma legislação bastante .restritiva, objetivando controlar o
volume de empregados, o tipo e a localização de novas indústrias.
De início, as empresas tentam contornar a possibilidade de evasão da mãode-obra, tanto qualificada como sem qualificação
- esta última tenta
encontrar trabalhos mais próximos de suas residências, evitando as longas
viagens diárias -, através da elevação de salários e beneficios.
Entretanto,
gradativamente, vão optando por outra alternativa, a relocalização de suas
atividades de produção em lugares mais afastados, onde os custos fossem
menores.
54
A preferência quanto a novas localizações recai sobre as áreas urbanas de
porte médio, com populações entre 500 mil e 1 milhão de habitantes. Essas
regiões, ao mesmo tempo em que devem ter um contingente razoável de
trabalhadores não-qualificados, têm que ter um ambiente social e cultural
adequado para atrair cientistas e engenheiros, que têm liberdade de escolher
sua localização residencial, pois os empregos irão seguí-Ios.
Assim, a proximidade de uma universidade, atividades culturais e sociais,
disponibilidade e facilidades de recreação, assim como de moradia, são os
elementos-chave no cã1culo locacional para a nova facilidade de fabricação
de semicondutores.
Os mesmos problemas enfrentados pelo Silicon Valley
podem atingir essas novas regiões.
Essa indústria molda a estrutura de
classes e a organização do espaço - padrão residencial altamente segregado na região, gerando contradições onerosas, semelhantes às que 'a levaram a se
reestruturar.
Assim, ocorre uma nova divisão interregional do trabalho na indústria de
semicondutores: o Silicon Valley passa a ser um centro de controle e
pesquisas de alto nível, assim como o da fase inicial de novas empresas
baseadas em tecnologia, enquanto que as regiões ao sul e a oeste crescem
como centros estandartizados da indústria.
3.2.1.2. A Route 128
No caso da Route 128 (Saxenian, 1985), situada nas proximidades do M.I.T.
e da Universidade
de Harvard, apesar de não existirem as mesmas
características do Silicon Valley e o mesmo domínio das empresas de alta
55
tecnologia
- os setores de atividade são mais diversificados
apresenta problemas sociais e urbanos,
um padrão de segregação
empregos
não conduziu
gerando-se,
assim,
conseqüente
organização
Nessa região também se desenvolveu
sócio-residencial.
ao aumento
similarmente,
., ela também
A ampliação
do volume de
do número de moradias
problemas
dos cidadãos
de tráfego
disponíveis,
e poluição,
para o controle
e
de crescimento
urbano.
Da mesma
atividades
forma,
uma
parte
de P&D na Route
desenvolvimento
industrial
das indústrias
se realoca,
128, e também
verifica-se
nessas
o reagrupamento
mantendo
novas
as
áreas
de
das empresas
do
mesmo setor, e a segregação social em espaços residenciais hierarquizados.
"Os limites do crescimento
dessas concentrações
regionais
de indústrias
baseadas em ciência são sociais, e não fisicos", diz Saxenian (1985,p.lOO).
Oferece-se
um "bem de posição" para cientistas
disponibilidade
e engenheiros,
ou seja, a
de morar numa comunidade rural bonita e isolada, com fácil
acesso aos beneficios culturais de um centro urbano.
Entretanto, ao longo do
tempo, devido à natureza do mercado de trabalho e da lógica de produção
das IATs, e à estrutura
social e espacial geradas por ela, aparecem
problemas de deterioração
3.2.1.3.
Comparações
da qualidade de vida de tais localidades.
com o Caso Francês
A falta de planejamento
não coordenadas
sérios
do desenvolvimento
urbano, a tornada de decisões
entre si, é também um importante fator, responsável
limites que as disfunções
urbanas representam
para o crescimento
pelos
de uma
,
;
56
região dominada por IATs ou tecnopôlos, segundo Ghorra-Gobin (1992). O
amplo conhecimento das especifi.cidades desses novos setores industriais,
principalmente a bipolarização no mercado de trabalho a eles vinculados,
permitiria planejar a melhor forma de superar essas disfunções criadas pelas
indústrias.
Comparando um tecnopólo dos Estados Unidos
M
Silicon Valley
M
com os
existentes na França, Gobin - a exemplo de vários geógrafos, ambientalistas,
sociólogos e políticos franceses
M
chama a atenção para a necessidade de
distinção entre tecnopôto (technopôle) e tecnópole (technopole): no caso do
primeiro, tem-se "um parque de atividades de alta tecnologia ou pólo
destinado a favorecer as trocas pesquisa-indústria"; quanto ao segundo, tratase do "parque e a aglomeração que ele suscita, o que implica numa certa
dinâmica entre eles, "uma nova aliança" (Ghorra-Gobin, 1992, p.l09).
Ela destaca que os tecnopólos americanos são conhecidos, principalmente,
pelas vias de acesso que os atravessam, e não referidos a determinadas
cidades, lugares. Na medida em que são vistos como tendo caráter efêmero,
representam uma ancoragem territorial aleatória.
O fato dos tecnopólos emanarem das universidades,
amencano,
apresentarem
uma
dinâmica
própria
e estas, no caso
e
serem
bastante
independentes das cidades próximas a elas, favorece a alienação dos que
residem em suas imediações e a ela estão vinculados, em relação ao que
ocorre fora do ambiente da universidade, em seu entorno.
Professores e
alunos residem nas proximidades para se aproveitarem do ambiente social, e
não se preocupam com a degradação que toma conta das redondezas.
57
A França, ao contrário, privilegia o conceito de tecnópole, que traz a
preocupação em assegurar um certo grau de coordenação entre as diferentes
cidades vinculadas aos complexos de alta tecnologia, para evitar uma
segregação pronunciada entre elas, como a que ocorreu no Silicon Valley;
assim, os beneficios gerados na região podem ser distribuídos de forma mais
equilibrada.
Trata-se da integração entre as políticas de ordem espacial -
urbana/territorial -, sociais, econômicas, educacionais, culturais etc, das
diferentes comunidades em prol de todos.
58
4.
A DISTRIBUiÇÃO
ESPACIAL
DAS INDÚSTRIAS
EM SÃO
PAULO
Uma vez explicitados os pressupostos teóricos do trabalho, passa-se à
pesquisa propriamente dita, buscando mostrar em que medida os fatores
locacionais das IATs estão presentes nos pólos do Interior de São Paulo.
Parte-se de uma retrospectiva da evolução histórica da atividade industrial na
região, e os determinantes de sua localização.
4.1. Os Primórdios da Industrialização
Paulista
Há, aproximadamente um século, o Estado de São Paulo vem se destacando
como o grande pólo concentrador das indústrias do país. A aglomeração que
ocorreu em seu território deve-se ao fato de ter sido a unidade da federação
com as condições mais propícias para o desenvolvimento de um capitalismo
industrial.
A grande expansão da lavoura cafeeira paulista entre 1850 e 1929 forneceu
tais condições, a saber: um crescente mercado consumidor, uma ampla
acumulação de capitais - de origem mercantil e bancária ., um abundante
mercado de trabalhadores livres - imigrantes - e assalariados. A elas, vieram
somar-se outras, como a transferência de tecnologia estrangeira, e a criação
de uma infra-estrutura energética e viária voltada para as necessidades do
complexo cafeeiro, e que depois é aproveitada para a expansão das
indústrias"
A introdução de máquinas para beneficiamento do café e a
ampliação das ferrovias permitem uma redução nos custos de produção e de
59
transporte, elevando os lucros dos cafeicultores e ampliando seu potencial de
acumulação de capital, para posterior inversão na indústria (Fundap, 1980;
Cano, 1977).
Inicialmente, a concentração das empresas se dá na Capital, que, por sua
situação geográfica, ou melhor, sua localização intermediária entre as zonas
produtoras de café - Oeste paulista - e o porto de Santos, tornou-se o centro
administrativo e financeiro do complexo cafeeiro.
A industrialização
incipiente, baseada quase que exclusivamente na fabricação de bens de
consumo não-duráveis (em especial, têxteis e alimentos), vai se expandindo
aos poucos, induzida pelo capital mercantil, que controlava a principal
atividade econômica na ocasião, o setor agroexportador.
A busca de empregos na agricultura, os elevados rendimentos dos produtores
de café, a expansão do comércio e da indústria etc, atraem um número
crescente
de pessoas para o Município
de São Paulo, aumentando
sensivelmente sua população, e reforçando cada vez mais a concentração
espacial, as economias de aglomeração nele já existentes.
Durante a Ia. Guerra, as restrições ao comércio exterior favorecem o
crescimento da indústria e da agricultura paulistas, que, por serem as mais
diversificadas e desenvolvidas do país, passam a abastecer outros estados
brasileiros, incrementando ainda mais as taxas de acumulação de capital em
São Paulo. Essa vantagem relativa amplia-se na década de 20, à medida em
que novos produtos (alguns bens de consumo duráveis) e novos segmentos
dos setores de bens intermediários e de capital (com a participação de
60
investimentos
estrangeiros,
principalmente
em química,
metalurgia
e
transportes) são introduzidos em sua estrutura industrial.
A ampliação do número de empregos na indústria e da massa de salários
acelera o processo de urbanização, gerando um aumento da demanda de
produtos duráveis e não-duráveis; e a expansão do setor terciário (comércio,
bancos, escritórios etc).
A configuração
espacial da indústria
na época mostra uma enorme
concentração - 2/3 dos estabelecimentos - na Capital do Estado (Negri,
1988a), sendo que no Interior
os destaques
vão para
as regiões
administrativas de Sorocaba e Campinas, com uma estruturá industrial
semelhante à da Região Metropolitana de São Paulo. A seguir, aparecem as
regiões do Vale do Paraíba e de Ribeirão Preto, com importância inferior às
anteriores.
A
gradativa
competitividade
diversificação,
elevada
produtividade
e
da indústria paulista permitem a consolidação
crescente
de sua
hegemonia a partir da crise do café em 1929, quando o eixo dinâmico da
acumulação no Brasil deixa de ser o setor primário exportador, e assume seu
lugar o setor industrial - principalmente a produção de bens não-duráveis e
alguns bens de capital.
4.2. O Período t 930-55
De 1930 - quando efetivamente tem início o processo de industrialização no
país - até 1955, desenvolve-se a etapa denominada por Maria da Conceição
61
Tavares de "industrialização restringida" (Negri, 1988a, p.75), na qual a
indústria ainda dependia grandemente das divisas geradas pelo setor
agroexportador para importar os bens de produção (intermediários e de
capital) que lhe permitiriam um aumento da capacidade produtiva. Segundo
J.M.Cardoso de Mello, não se conseguia implantar de uma só vez o núcleo
fundamental da indústria de bens de produção - imprescindível
para
promover o crescimento da capacidade produtiva acima da demanda, a
auto sustentação do setor industrial - em razão das insuficientes bases
técnicas e financeiras de acumulação (Negri, ]988a).
Apesar disso, vai-se percebendo uma modificação na estrutura industrial
paulista durante esse período: as indústrias produtoras de bens de consumo
não-duráveis apresentam uma queda no Valor de Transformação Industrial
(VTI), enquanto crescem as indústrias de bens intermediários, e as de bens
de capital e bens de consumo duráveis quadruplicam sua participação,
passando de 4,6% para 16,4% no mesmo período (Seade, 1988).
Essa recuperação da indústria pós-33 foi viabilizada pelo uso da capacidade
ociosa da indústria instalada na década de 20~ por outro lado, os obstáculos
impostos às importações favoreceram a indústria nacional, e principalmente
o diversificado parque industrial de São Paulo, no sentido de atender o
mercado interno.
Cumpre destacar que a expansão industrial no Brasil foi promovida pela
articulação de capitais privados nacionais (no caso da produção. da indústria
leve, inclusive máquinas
e equipamentos para lavoura e beneficiamento),
estrangeiros (concentrando esforços na produção de material de transporte,
62
cimento e produtos químicos), e estatais (investimentos em indústria pesada,
como a do aço).
Antes de prosseguir, é preciso mencionar que, para maior simplificação,
utiliza-se neste trabalho a mesma classificação adotada por Negri (1988a,
p.59), que agrega os ramos industriais da seguinte forma:
Grupo I . indústrias predominantemente produtoras de bens de consumo
não-duráveis: mobiliário; produtos farmacêuticos e medicinais; produtos de
perfumaria, sabões e velas; têxtil; vestuário, calçados e artefatos de tecidos;
produtos alimentares; bebidas; fumo; editorial e gráfica;
Grupo 11 - indústrias predominantemente produtoras de bens intermediários:
minerais não-metálicos; metalurgia; papel e papelão; madeira; borracha;
couros, peJes e produtos similares; química; produtos de matéria plástica;
Grupo In - indústrias predominantemente produtoras de bens de capital e
bens de consumo duráveis: mecânica; material elétrico e de comunicações;
material de transporte; indústrias diversas; e, recentemente, as unidades
auxiliares de apoio e serviços industriais.
A concentração industrial em território paulista passa de 37,5% em 1929,
para 55,6% em 1959, destacando-se
a significativa
participação
das
indústrias do Grupo III, que, nesse ano representavam 82% do total nacional.
Por sua vez, a distribuição regional das indústrias paulistas em 1956
apresenta
as
seguintes
características:
a
Região
Metropolitana
(e,
63
especialmente,
a Capital)
continuava
concentrando
quase 2/3 do pessoal
ocupado e do Valor da Produção Industrial (VPI) das indústrias do Grupo I,
com destaque para os ramos têxtil e de vestuário,
tecidos.
Essa concentração
metalurgia,
calçados
e artefatos de
é maior ainda no Grupo 11 (nos ramos de
química e minerais não-metálicos)
e atinge os 90% em alguns
ramos do Grupo IH, como material elétrico e de comunicações
e material de
transporte.
As
4
regiões
mais
industrializadas
Estado,
depois
da
Região
Metropolitana
- Campinas,
concentravam,
em 1928, 91,6% dos operários do Interior, e 26,7% do total
do Estado
Sorocaba,
do
de São Paulo;
respectivamente,
Ribeirão Preto e Vale do Paraíba .,
em 1956, os percentuais
passam
a ser de,
78,1% e 25,9%.
Campinas, com indústrias do Grupo I (têxtil, alimentos, vestuário),
(minerais não-metálicos),
e Grupo IH (mecânica);
Grupo II
Sorocaba, com indústrias
do Grupo I (têxtil e alimentos) e 11(minerais não-metálicos);
Ribeirão Preto,
com indústrias do Grupo I ( têxtil, alimentos e vestuário, calçados e artefatos
de tecidos); Vale do Paraíba, com indústrias do Grupo I (têxtil e alimentos) e
Grupo 11 (minerais não-metálicos).
O Litoral, por sua vez, caracterizava-se
pela presença de indústrias do Grupo I (alimentos) e do Grupo 11(química).
Nas
demais
regiões,
(basicamente,
a predominância
alimentos),
era de indústrias
acrescentando-se:
no
caso
de
do Grupo
I
Araçatuba,
a
indústria têxtil; no de Presidente Prudente, têxtil e madeira; e no de Marília,
têxtil e química.
64
Ao longo desse período, modifica-se
mencionadas,
Campinas
redefine-se
supera
a posição relativa das regiões acima
a divisão
Sorocaba
do trabalho
(mesmo
Preto,
industrial
entre
açúcar,
laticínios
excluindo
baseando
seu crescimento
elas:
e
frigoríficos);
e Ribeirão
na moderna
agroindústria,
passa à frente do Vale do Paraíba, tanto em produto como
emprego industrial, e, nos anos 40, também de Sorocaba, no que se refere ao
VPl.
Aos poucos, consolidam-se
os principais núcleos de agregação industrial do
Estado de São Paulo (Fundap, 1980), os quais, na década de 50, são sete, a
saber:
1) o mais importante,
composto
pela Capital,
Santo André,
São
Bernardo, São Caetano, Guarulhos, e, depois, Diadema e Osasco; 2) pela via
Anhangüera
- Jundiaí,
Campinas,
Americana,
Bárbara d'Oeste; como prolongamentos
Limeira, Rio Claro e Santa
do núcleo anterior, 3) Ribeirão Preto
e Franca e 4) São Carlos, Araraquara, Bauru e São José do Rio Preto; 5) pela
via Dutra - São José dos Campos,
Taubaté,
Jacareí
Sorocaba., Salto, Itu e Tatuí; e como prolongamento
e Guaratinguetá;
6)
da Grande São Paulo, 7)
Santos e Cubatão.
A industrialização
rodoferroviários,
industrializado,
avança em direção ao Interior, seguindo os grandes eixos
e formando
constituído
um quadrilátero
integrado
pelas regiões da Baixada
e intensamente
Santista,
Campinas,
Sorocaba e Vale do Paraíba.
A concentração
de indústrias nessas regiões não ocorreu de modo casual: ela
deveu-se à mesma dinâmica da expansão cafeeira que levou à concentração
inicial na Capital de São Paulo, e depois selecionou
os núcleos alternativos
65
de concentração
irradiação
industrial
Campinas,
do café no Oeste paulista
complexo cafeeiro,
produtos
no Estado.
transformou-se
de uma ampla
e segundo
núcleo
em escoadouro
região.
A abertura
acumulação de capitais provenientes
nos setores bancário
por exemplo,
centro de
polarizador
do
e mercado de troca de
de estradas
de ferro,
a
do café, a atuação do capital estrangeiro
e de transportes,
induziram
ao desenvolvimento
de
atividades terciárias, de comércio e serviços, na cidade, que passou também
a ser o local. de residência
proliferando
de muitos fazendeiros.
estabelecimentos
industriais
Paralelamente,
foram
para atender a demanda crescente
de alimentos, vestuário, instrumentos agrícolas, construção civil, manutenção
de estradas
de ferro etc.
diversificou-se,
Sorocaba,
Com
A estrutura
assemelhando-se
industrial
à da Região Metropolitana.
por sua vez, também constitui-se
a decadência
do café,
da região de Campinas
sua
num núcleo industrial
agricultura
diversificou-se,
antigo.
enquanto
indústrias foram se instalando, tanto para atender a demandas locais de bens
não-duráveis
regionais
como para o beneficiamento
destinadas
à exportação.
e a elaboração de matérias-primas
A situação foi semelhante
no caso do
Vale do Paraíba e do Litoral.
4.3. O Período 1956-70
Essa etapa corresponde
concentrando-se
essencialmente
padrão de acumulação,
automóveis,
à da implantação da industrialização
em São Paulo.
pesada no país,
Entra em vigor um novo
baseado na produção de bens de consumo duráveis -
eletroeletrônicos
etc - e na participação
dos investimentos
66
estrangeiros no setor industrial - entrada de capital de risco, com estímulos à
remessa de lucros para o exterior.
Reduz-se o acentuado predomínio da produção de bens de consumo nãoduráveis na estrutura industrial brasileira, e a ênfase passa a ser dada na
produção de bens intermediários e de bens de consumo duráveis e de capital
- segmentos industriais mais complexos e modernos; além da substituição de
importações de insumos básicos.
Alguns fatos contribuiram para essa nova fase da industrialização do Brasil.
Foram eles: a crise internacional de superprodução de algodão, a partir de
1952, e a nova crise do café, a partir de 1954, que causaram novo
estrangulamento externo ao pais (Negri, 1988a). Assim, o governo federal,
que, para beneficiar o exportador, já havia estabelecido em 1953, através de
Instrução no. 70 da SUMOC, o regime de taxas múltiplas de câmbio, para
atender os interesses de importação dos industriais; instituiu também a
Instrução no.
130, que visava atrai! investimentos
diretos
externos,
autorizand.o a importação de bens de capital sem cobertura cambial por parte
das empresas estrangeiras aqui instaladas, e concedendo subsídios para a
remessa de lucros (Seade, 1990a).
Aumentam também, nessa época, os investimentos estatais.
Além da
criação, na década de 40, da Companhia Vale do Rio Doce, Fábrica Nacional
de Motores, Acesita e Companhia Siderúrgica Nacional, outras iniciativas
são adotadas pelo governo para acelerar a industrialização.
Dentre elas,
podem ser citadas: a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento
67
Econômico-BNDE (1952) e da Petrobrás (1954), instituindo o monopólio
estatal do petróleo.
Essas medidas colaboram para a formação da capacidade produtiva da
indústria no período de expansão, de 1956 a 1962.
financiar projetos
industriais,
para eliminar
estrangulamento da infra-estrutura,
O BNDE passa a
os principais
pontos
de
principalmente na área energética e
siderúrgica; e a Petrobrás, iniciando com a indústria de refino de petróleo,
lança as bases para a posterior implantação da indústria petroquímica.
A indústria utilizou-se da capacidade ociosa instalada no pós-guerra (Seade,
1988),
Essa fase expansionista deveu-se essencialmente à ampliação e
consolidação
do
mercado
interno,
às
políticas
protecionistas,
aos
investimentos estatais, à entrada de capital estrangeiro, à concessão de
incentivos fiscais e financiamentos ao setor privado, e à expansão do setor
agrícola (Seade, 1990a).
A industrialização
modernização
pesada fornece a base técnica e financeira para a
da agricultura
- políticas
de crédito
e incentivos
às
exportações, além de maior beneficiamento e transformação dos alimentos.
A incorporação de avanços tecnológicos (máquinas, equipamentos e insumos
agrícolas) no campo - com o conseqüente êxodo rural - melhora a qualidade
e a produtividade dos produtos agrícolas, aumentando sua competitividade
internacional.
Ampliam-se as exportações do complexo da soja, carnes,
sucos cítricos etc.
68
o modo de articulação entre indústria e agricultura modifica-se, na medida
em que a atividade agrícola passa a subordinar-se à acumulação industrial
(Seade, 1988). Surge um novo ramo industrial - o de bens de produção para
a agricultura, a indústria "para a agricultura" - e expande-se sensivelmente a
atividade agroindustrial.
Por outro lado, com a abertura do mercado internacional e a política de
incentivo às exportações, ocorre também uma expansão das exportações
industriais (Negri, 1988a): de inicio, apenas as de bens de consumo nãoduráveis (tecidos, vestuário, calçados, alimentos), em razão da melhoria da
qualidade e preço desses produtos.
A crise econômica e política que atinge o país a partir de 1962 provoca a
desaceleração do crescimento e é resultado dos desajustes da década anterior
(Seade, 1988). O novo governo militar, então, promove um reordenamento
institucional, através de uma série de reformas (principalmente das políticas
fiscal, monetária
e de endividamento),
beneficiadas
pela conjuntura
favorável da economia internacional (Negri, 1992), que levam a uma
modernização
do
aparelho
estatal
com
vistas
a
dar
suporte
ao
desenvolvimento da industrialização pesada.
O período seguinte, conhecido como do "milagre econômico" (1967-73),
caracteriza-se por aprofundar ainda mais a estrutura industrial, provocar um
novo salto tecnológico, e acentuar a internacionalização
(Fundap, 1980).
da economia
69
o
novo padrão de desenvolvimento industrial aprofunda ainda mais a
concentração no Estado de São Paulo: 55,6% da produção industrial
brasileira ao final dos anos 50, com concentração da industrialização pesada
na Região Metropolitana de São Paulo, que representava o maior mercado
consumidor, possuía o maior volume de mão-de-obra qualificada e sem
qualificação,
matérias-primas,
componentes
e
serviços .industriais
-
principalmente água e energia -, o principal porto nacional e as melhores
rodovias e ferrovias (Fundap, 1980).
A implantação da indústria pesada reforçou a liderança de São Paulo no
processo de integração do mercado nacional (Cano, 1990). Aumentam os
fluxos comerciais entre São Paulo e as outras regiões do país, dada a nova
base industrial, que passa a exigir, .além de alimentos e matérias-primas,
novos insumos industriais pelo avanço da. estrutura produtiva, e maior
exploração dos recursos minerais.
Á medida em que aumenta o congestionamento econômico e urbano na
Capital, ou seja, com a elevação dos preços dos terrenos encarecimento da
mão-de-obra, e a saturação da infra-estrutura urbana, cresce o interesse por
parte das novas empresas em se instalar nas proximidades do Município de
São Paulo, em locais onde o acesso fosse fácil e os terrenos amplos e
baratos, como o ABC, Guarulhos e Osasco.
Foi esse o caso da indústria
automobilística, por exemplo, que instalou-se no ABC, pela localização
intermediária entre a Capital e o porto de Santos, e a existência de um
parque industrial metalúrgico fornecedor de peças e componentes.
70
Foi ela também que induziu à substituição das ferrovias pelas rodovias, como
base do sistema de transportes,
o que levou, numa reação em cadeia, a se
tornarem eixos indutores da relocalização
industrial.
Cabe ressaltar que, já a partir da 2a. Guerra, o transporte
ferroviário
vinha
perdendo
esse
ganha
espaço
em
favor
do
rodoviário,
processo
que
intensidade a partir de 1956, com o Plano de Metas.
Assim,
a dinâmica
cafeeira,
da própria
vai determinando
igualmente
redinamizam-se
expansão
a localização
industrial,
e não da expansão
das indústrias.
época,
industrial
do
Interior: Campinas, Vale do Paraíba, Litoral - que, com o funcionamento
da
Refinaria
em
Presidente
os antigos núcleos de agregação
Nessa
Bernardes
Cubatão, da predominância
e da Cosipa, presencia
a substituição,
das indústrias tradicionais pelas modernas.
Entre 1956 e 1970, verificam-se
mudanças na estrutura industrial da Região
Metropolitana:
(têxtil ,e alimentos)
reduzida,
(metalurgia
os não-duráveis
o mesmo ocorrendo
e química).
com as indústrias
O grande crescimento
têm sua participação
de bens intermediários
de participação
se dá no
Grupo III, com grande destaque para a indústria de material de transporte.
No caso de Campinas, o Grupo I, com liderança do setor de alimentos e, em
menor grau, têxtil, tem uma queda.
O Grupo II (metalurgia,
minerais não-
metálicos e química) apresenta uma ligeira expansão, enquanto o Grupo UI
mostra sinais de aceleração.
A Região de Ribeirão Preto apresenta queda no
Grupo I, elevação no Grupo li (química e metalurgia),
III, destacando-se
o setor de mecânica.
e também no Grupo
71
o
Litoral tem uma diminuição na participação do Grupo I, aumento no
Grupo II (especialmente, química), e o Grupo III (mecânica).
O Vale do
Paraíba, que se caracterizava pelo predomínio da produção de não-duráveis,
presencia o crescimento do Grupo Il (química), e principalmente do Grupo
111,que dá um grande salto, com a indústria de material de transporte.
Sorocaba reduz a participação no Grupo I, sobe no Grupo 11e no Grupo lI.
Bauru perde participação no Grupo I, ganha importância em relação ao
Grupo Il, e no GtUPO III (mecânica).
Nas demais regiões, continuam
predominando os não-duráveis.
4.4. A Década de 70
Com a crise do petróleo e a importação maciça de bens de capital, o governo
autoritário percebeu a fragilidade do setor externo brasileiro.
Com vistas,
então, a complementar ainda mais a estrutura industrial do país, o Estado
adotou em 1974 uma série de programas definidos no II Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND), para consolidar o processo de industrialização do
Brasil e impedir a redução do dinamismo dos investimentos em capital fixo,
e, além disso, ajustar a economia à nova realidade nacional e internacional
(Seade, 1990a).
Os objetivos básicos do II PND eram: tia) substituir importações de capital e
insumos básicos, como máquinas, equipamentos,
produtos químicos e
siderúrgicos, metais não-ferrosos e minerais não-metálicos; b) implantar
grandes projetos para exportação de insumos industriais, como celulose,
"'<."
72
ferro, alumínio
e aço; c) aumentar
geração de energia hidrelétrica;
rodoviário
e ferroviário,
a produção
interna de petróleo,
e d) desenvolver
e de
o sistema de transportes
e o sistema de telecomunicações"
(Negri,
1992,
p.18).
o governo
de dois setores da indústria
partiu para a implementação
intermediários: no início dos anos 70, a indústria petroquímica,
capitais privados nacionais e estrangeiros,
2a. metade
da década,
(principalmente
a instalação
sob a coordenação
da indústria
de bens
associando
do Estado, e na
de metais
não-ferrosos
alumínio, chumbo, cobre e estanho), com capitais estatais e
estrangeiros.
Na área de energia, o governo federal criou o Programa Nacional do Álcool
(PROÁLCOOL),
que, ao lado da enorme expansão da produção
de álcool
gerada até o final da década de 70, estimulou também a produção de insumos
químicos e implementos agrícolas para a lavoura canavieira, e a produção de
máquinas,
equipamentos
e acessórios
para usinas e destilarias
de álcool
(Negri, 1988a).
o setor
da construção civil - com a criação do BNH em 1965 - também teve
um crescimento
acelerado nesse período, provocando efeitos multiplicadores
em outros setores industriais:
cimento, ferro, alumínio,
telhas, material elétrico, material e equipamentos
cerâmica,
hidráulicos,
tijolos e
madeira, entre
outros.
Durante
os anos
70, o governo
desconcentraçãoindustrial,
em
federal
direção
preocupou-se
a outros
em promover
estados
do
a
Brasil,
73
principalmente do Nordeste, incentivando a realocação de investimentos para
reduzir os desequilíbrios regionais.
Em função disso, constata-se efetivamente uma desconcentração industrial
em direção a outras unidades da federação, que passam a crescer a taxas
anuais superiores às de São Paulo. Entre 1949 e 1970, a participação de São
Paulo no total nacional passa de 48,60/0para 58,2%; mas, a partir de 1970,
estabiliza-se, e, a seguir, decresce, passando para 53,4% em 1980, em razão,
principalmente, da grande redução da participação no Grupo I.
Entretanto, pela própria natureza do capitalismo industrial, o governo federal
foi obrigado a realizar alguns investimentos no Estado de São Paulo,
ampliando ainda mais suas vantagens comparativas (Negri, 1988a).
Neste ponto cumpre citar os principais investimentos realizados pelo governo
federal, visando desconcentrar a indústria de São Paulo em direção ao
Interior do Estado, para evitar o agravamento do "caos urbanos" que ela
havia provocado na Região Metropolitana (Negri, 1988b).
Foram eles: 1) a instalação de 2 importantes refinarias de petróleo da
"
Petrobrás, na região de Campinas (Paulínia) e em São José dos Campos,
gerando estímulos para um encadeamento técnico, articulação com outras
indústrias; 2) a implantação. a partir de 1975, do PROÁLCOOL, gerando
fortes' encadeamentos com a indústria de bens de capital , que se consolidou
n~s proximidades das áreas produtoras de álcool. e se expandindo por todo o
Interior, com forte concentração nas regiões de Campinas, Ribeirão Preto e
Bauru; 3) a consolidação
do pólo petroquímico
de Cubatão, com a
74
participação
acentuada da Petrobrás e expansão constante da Cosipa no setor
siderúrgico;
4) a implantação
militares,
e indústrias
concentração
de um complexo aeronáutico
de material
bélico
no Vale do Paraíba;
e 5) a
de institutos de pesquisas e de empresas estatais nos setores de
informática, microeletrônica
proximidades
e telecomunicações,
da UNICAMP,
industriais ligadas
a essas
a instalação,
de unidades
os investimentos
do governo
áreas (Seade, 1988).
nas vias de transporte,
uma vez constatado
principais eixos de interiorização
A via Anhangüera,
na região de Campinas, nas
que estimularam
Por outro lado, foram de grande importância
estadual
para fins civis e
que definiam
os
da atividade industrial (ver Mapas 2 e 3).
fumo a Ribeirão Preto; a rodovia Washington
Luiz, em
direção a São José do Rio Preto; a rodovia Castelo Branco, ultrapassando
Sorocaba; a via Dutra, em direção ao Vale do Paraíba; e modernas rodovias,
como a Castelo Branco, Bandeirantes,
Imigrantes e dos Trabalhadores,
da recuperação
e ampliação (terceiras faixas) das rodovias Washington
e Anhangüera,
a recuperação
uma rede de estradas
Luiz
da malha. viária estadual e a implantação
vicinais,
contribuíram
custos de transporte, aproximando
induzir a localização
além
grandemente
a Região Metropolitana
de indústrias em municípios
para reduzir
de
os
do Interior, e para
do Interior.
Além disso,
políticas municipais de concessão de terrenos, isenção de impostos e taxas, e
a criação
de distritos
industriais
também
colaboraram
nesse
processo.
MAPA 2
DIVISÃO ADMINISTRATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, SEGUNDO AS REGIÕES ADMINISTRATIVAS E DE GOVERNO
RESlÕES
1.
2.
l.
4.
5.
6.
7.
8.
ADMINISTltATlvaS
R••• i60"
GR"
SeioPalulo
R.,iio do Litoral
I'Ilt9iao.o Volo oi. Paralk
Rlt9iio d. SorocoM
Revi&. 01. Co,",pi_
R.,iao fl RiNirõo "'-'6R.,iõo de 8011"'
R.;iilo ele SlIo Jotoido RioPre!o
9.
Re9iio ele Arcca! ••"
lO. R.,ilo d. Prni4 •• ",~.
11. Regiao 010M.rília
MAPA 3
PRINCIPAIS EIXOS RODOVIÁRIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO
77
Quanto à estrutura industrial, o período 1970-80 provoca as seguintes
alterações na produção paulista: reduz-se a participação das indústrias do
Grupo I no VTI total, aumenta a do Grupo 11(principalmente, química), e a
do Grupo 111(em especial, mecânica).
No que se refere à distribuição espacial das indústrias em território paulista,
verifica-se que, depois de um longo período de crescente concentração, a
Região Metropolitana, a partir de 1970, vai cedendo lugar para o Interior,
que passa a concentrar, de 25,3% do VTI total paulista em 1970, 37,1% em
1980.
A Região Metropolitana apresenta, em 1970, uma estrutura industrial,
segundo o VPI, relativamente equilibrada; em 1980, cai a participação dos
não-duráveis (têxtil, alimentos) e aumenta a do Grupo IH (material de
transporte, material elétrico, mecânica) (Negri, 1988a).
o
"caos urbano" predominava na Grande São Paulo: elevados custos de
aglomeração, agravamento dos problemas de transporte e de abastecimento
de água, danos ambientais, além da força do sindicalismo vinculado ao setor
metal-mecânico,
Interior.
levaram muitas empresas a buscar cidades médias do
Uma série de atrativos podem ser apontados: uma rede urbana
moderna, com amplo atendimento no setor de serviços de saúde, habitação,
educação, saneamento e transportes; infra-estrutura viária, de energia e
telecomunicações.
A indústria
do Interior, por sua vez, diversifica-se
e moderniza-se,
assemelhando-se à da Região Metropolitana, e passa a ter uma expansão
78
crescente,
com exceção das regiões do Oeste paulista (Negri,
1988a).
década de 50, apenas o Litoral havia aumentado sua participação,
Na
devido à
I
maturação dos complexos siderúrgico
e químico, estabilizando-se,
contudo,
na década de 60, enquanto que Campinas e o Vale do Paraíba crescem.
2a. metade dos anos 70, a participação
de Campinas
Na
aumenta ainda mais,
pela maturação da Refinaria do Planalto, que atraiu a produção química, e a
indústria metal-mecânica;
além dela, outras regiões como o Litoral, Vale do
Paraíba, Ribeirão Preto e Sorocaba apresentam crescimento.
Assim, constata-se
maior
dinamismo
um processo de concentração
registrou-se
em
áreas
industrial no Interior, cujo
mais
próximas
da
Capital,
abrangendo uma distância aproximada de cerca de 150 km, seguindo além na
direção do eixo da via Anhangüera
direção da Castelo Branco.
e com extensão menos pronunciada
A concentração
no Interior tende a se tomar
cada vez mais intensa - hoje, é a 2a. maior concentração
o
processo
de interiorização
da indústria
ocorreu de forma muito concentrada,
na
paulista
industrial do país.
no período
1970-80
em tomo dos eixos de penetração
e
ligação com outros mercados (Seade, 1990a).
Constatam-se
4 tendências
espontâneas
de localização
industrial a partir de
1970: 1) expansão do parque industrial para fora da área metropolitana,
dentro dos limites do quadrilátero
Santos-Campinas-Sorocaba-São
mas
José dos
Campos; 2) ampliação do número de indústrias na periferia da Grande São
Paulo;
3) evasão das grandes
e médias empresas
das zonas centrais
Capital; e 4) formação de "pólos" regionais, especializados
gêneros industriais.
da
em determinados
79
Surgem 2 grandes blocos de produção: um, constituído pelas regiões da
Grande São Paulo, Litoral, Vale do Paraíba, Sorocaba, Campinas e Ribeirão
Preto, com uma economia predominantemente urbano-industrial (apesar de
Sorocaba apresentar um grau relativamente baixo de urbanização e Ribeirão
Preto ter uma industrialização recente); o outro bloco, composto por Bauru,
São José do Rio Preto, Araçatuba, Presidente Prudente e Marília, apresenta
uma base econômica agrícola, com industrialização incipiente e empresas de
pequeno e médio porte, baseada na produção de bens de consumo nãoduráveis, tanto para consumo interno como para exportação (Fundap, 1980).
Não ocorre um "esvaziamento econômico" da Região Metropolitana, mas sim
ajustes no padrão de acumulação de capital, na divisão interregional do
trabalho e nas formas de hegemonia econômica das regiões. Apesar disso, a
indústria continua concentrada no Estado de São Paulo, na Grande São Paulo
e no Município de São Paulo, e a ela vêm somar-se a concentração dos
serviços de intermediação financeira e das sedes administrativas da maioria
dos grandes grupos econômicos.
Trata-se, pois, de uma "desconcentração
centralizada" (Fundap, 1980, p.93),
No Interior, as indústrias do Grupo I, no período de 1970-80 passam de
53,6% para 30,3% (39,9% para 46,3% do total do VPI do Estado); as do
Grupo 11aumentam de 34,0% para 49,20/0- quase metade do VPI do Interior
(30,4% para 47,4%); e as do Grupo 111,de 12,50/0para 20,5% (13,1% para
27,7%).
A indústria de alimentos (65,1%) do total estadual), que, até 1970,
predominava na estrutura industrial do Interior, inverte de posição com a
80
indústria química (64,9% do total) em 1980, no que se refere ao VPI (Negri,
1988a).
A indústria
representando,
mecânica,
por sua vez, amplia
sua participação,
em 1980, 36,90/0 do total do Estado.
o grande dinamismo da indústria química é resultado direto e indireto das
medidas do governo federal: de modo direto, em razão da implantação,
anos 70, das refinarias
ampliação
da
PRoALCOOL,
nos
de Paulínia e São. José dos Campos e da constante
refinaria
gerando
de
Cubatão;
criação
do
da produção
de álcool
no
ao longo dos anos 70, indústrias
complexas
de
a grande
indiretamente,
expansão
pela
Interior.
Instalam-se,
no Interior,
médio e grande porte, ligadas aos setores metal-mecânico,
petroquímico
e
eletrônico.
No período 1970-80 também aumentou o emprego industrial no Interior de
São Paulo.
Entre 1970 e 1975, a participação
do Interior na criação de novos
empregos foi de 36,9%, ao passo que entre 1975 e 1980 foi de 51,3%, a
maior parte dos quais - 20,7% - na região de Campinas.
modernas
e complexas
- principalmente,
mecânica
As indústrias
- foram as que mais
criaram empregos: 47,5% do total do Interior entre 1970 e 1975, e 38,9%
entre 1975 e 1980 (Seade, 1988).
A Região de Campinas,
que, em 1970, representava
Estado, passa, em 1980, para 15,4% (Negri, 1988a).
10,5% do VPI do
Cai a participação
indústria de alimentos e da têxtil, enquanto a química, quintuplica.
I vê sua participação
da
O Grupo
reduzida à metade, enquanto o Grupo II quase dobra.
8]
Isso, entretanto,
não significa queda na concentração
alimentos a nível do Estado.
Os municípios de Americana,
Santa Bárbara d'Oeste modernizam
tecidos sintéticos,
dos ramos têxtil e de
Nova Odessa e
sua produção têxtil, introduzindo
ao lado de subsidiárias
de multinacionais.
fibras e
Quanto aos
alimentos, cabe destacar a importância da produção de açúcar em Piracicaba
e sub-região;
do suco de laranja em Limeira; de conservas
4e legumes e
hortaliças em Araras, Americana e Jundiaí; da produção de leite e creme de
leite conservados,
do óleo de milho, do empacotamento
e beneficiamento
do
milho.
As indústrias do Grupo II vão aumentando
gradativamente
sua participação
na região, com destaque para a indústria química, a mais importante, como já
que com a indústria de minerais não-metálicos
mencionado,
cerâmica)
representam,
respectivamente,
estadual nesses ramos, em 1980.
21,5%
As indústrias
(principalmente
e 20,50/0 da produção
do Grupo UI representam
24,7% da estrutura industria1 em 1980, contra os ]6,6% de 1970, com ênfase
nas indústrias mecânica,
comunicações,
de material de, transporte
que crescem a partir da maturação de importantes
pesquisa e desenvolvimento
Tecnológico
e material elétrico e de
de Informática
tecnológico,
centros de
como os da UNICAMP, do Centro
e o da Telebrás.
A região
tem grande
importância também como geradora de empregos industriais.
A atração da Região de Campinas deve-se, na maior parte, à sua complexa
rede de infra-estrutura
viária, uma vez que sua produção tem acesso fácil aos
mercados de outras regiões, como: Ribeirão Preto, pela via Anhangüera;
José do Rio Preto, pela rodovia Washington
Luiz; Sorocaba,
São
pela Santos
Dumont; e São José dos Campos, pela rodovia D. Pedro I; e aos de outros
82
estados, pelos prolongamentos destas rodovias ou de outras, como a Fernão
Dias e a Adhemar de Barros; e, principalmente, ao da Grande São Paulo e ao
mercado externo, pela Anhangüera e Bandeirantes (Seade, 1990a). Outros
fatores locacionais importantes são: mão-de-obra especializada e infraestrutura urbana da maioria dos municípios que a compõem. É o 20. pólo
industrial do Estado.
A Região de Ribeirão Preto também diversifica sua estrutura industrial no
período 1970-80. Ocorre uma queda sensível na participação das indústrias
. do Grupo I, sendo que, na década de 70, as indústrias do GIUpO II e do
Grupo IH apresentam crescimento.
A redução na participação da indústria
de alimentos não foi maior em razão da expansão da agroindústria na região,
a partir do início dos anos 70: açúcar, suco de frutas, conservas, refinação de
óleos
comestíveis;
leite
e derivados;
indústria
frigorífica;
rações
e
concentrados; e empacotamento e beneficiamento de cereais.
Com o crescimento das exportações agroindustriais brasileiras no final da
década, cresce a participação do setor de alimentos no total do VPI da
região, apesar da acentuada redução quanto ao nível de emprego. Aumenta
também a participação da indústria de vestuário, calçados e artefatos de
tecidos - com destaque especial para a região calçadista de Franca, que se
beneficiou bastante dos incentivos fiscais dados pelo governo federal para
ampliação das exportações.
No que se refere às indústrias do Grupo lI, deve-se ressaltar a grande
expansão que teve a indústria química, com a implantação do PROÁLCOOL
e com o desenvolvimento da extração de óleo vegetais. Em 10 anos, duplica
83
a participação da indústria química no VPI da região. Finalmente, no Grupo
IH o destaque vai para a indústria mecânica, que participa, em 1980, com
15,3% do VPI da região e 2] ,2% do emprego.
As empresas ali situadas, na maioria de peqeno e médio porte, vêm de outras
regiões do Estado, e não da Região Metropolitana, sendo que.a tendência a
uma industrialização mais rápida dos municípios de Araraquara, São Carlos e
Ribeirão Preto deve-se ao fato de atuarem como continuação da Região
Administrativa
de Campinas
(Seade,
1990a).
Assim, como fatores
locacionais importantes podem ser citados, além da mesma malha rodoviária
de Campinas, a ampla oferta de mão-de-obra, a existência de matériasprimas para a agroindústria e o preço baixo dos terrenos.
Qua.nto ao Litoral, verifica-se uma transformação em sua estrutura industrial:
a participação do Grupo lI, que, em 1970, era de 75,3%, passa para 92,7%,
tanto em razão do aumento da produção química, como da metalurgia, com a
criação da Cosipa em 1963. A queda mais acentuada fica a cargo do Grupo
I, devido ã redução da participação dos alimentos (Negri, 1988a).
o complexo
industrial de Cubatão e o porto de Santos é que dinamizam essa
região, além da extensa malha rodoviária (via Anchieta e rodovia dos
Imigrantes), por onde são recebidas as matérias-primas e é escoada a
produção para a Região Metropolitana de São Paulo e os outros estados
brasileiros. Pequenas e médias empresas, ligadas ao comércio e à prestação
de serviços, estão presentes em Santos, enquanto Cubatão, caracterizado pelo
alto grau de especialização, abriga indústrias de grande porte (Seade, 1990a).
84
A Região
do Vale do Paraíba
equilibrada
da estrutura
caracterizando-se
industrial.
em 1970, uma distribuição
Em] 980, contudo,
pelo nítido predomí'nio
(Negri, ]988a).
mais
ela modifica-se,
das indústrias dos Grupos II e III
O ramo quimico assume a liderança da produção regional,
graças principalmente
à implantação da Refinaria da Petrobrás nos anos 70,
o que atraiu outros segmentos
indústrias
tinha,
de material
desse setor.
de transporte,
Em segundo
como as montadoras
lugar, vêm as
de automóveis,
além da fabricação de aeronaves, que foi estimulada pela implantação,
governo
federal,
concentrava
em 1980.
do complexo
aeronáutico.
Em razão
disso,
mais de 10% da produção de material de transporte
Seguem-se, em ordem de importância,
pelo
a região
do Estado
os ramos metalúrgico,
de
material elétrico e mecânica.
Cabe destacar
aqui o papel dos 5 institutos
de pesquisa
existentes
no
município de São José dos Campos, e das grandes empresas dos segmentos
aeronáutico,
tomar
aeroespacial
a região
e de armamentos
urn pólo
ali instaladas,
de desenvolvimento
no sentido
de tecnologia
de
militar
e
aeroespacial.
A maior parte das indústrias da região veio da Grande São Paulo, em função
das deseconomias
de aglomeração
algumas multinacionais
diretamente
urbano, embora
e outras ligadas à esfera federal tenham se localizado
no Vale (Seade,
mercados consumidores
e do congestionamento
1990a).
Localizada
entre os 2 principais
do país - São Paulo e Rio de Janeiro - e atravessada
pela via Dutra, abriga empresas dos setores industriais mais complexos.
85
Na Região de Sorocaba
o predomínio
Entretanto,
as indústrias
aos poucos,
era dos Grupos 1 e 11, em 1970.
do Grupo 1 (têxtil,
alimentos)
perden~o peso relativo em favor das dos Grupos II (metalurgia,
não-metálicos,
química)
comunicações)
e
111. (mecânica,
material
vão
minerais
elétrico
e
de
(Negri, 1988a).
industrial deve-se em grande parte à construção,
A diversificação
na década
de 70, da rodovia Castelo Branco, que tornou mais fácil o acesso à Região
Metropolitana
de São Paulo e aos estados do Sul do país.
Novas empresas
passam a se instalar na região, voltadas para os setores mais complexos,
como metalurgia, mecânica, química e material elétrico.
Essa região possui uma importante
rede de rodovias:
Raposo Tavares,
que ligam a Região Metropolitana
Castelo
para amplo escoamento
Branco,
Dumont, para desafogar
o pólo industrial
Marechal
Rondon e
ao oeste do Estado;
da produção;
e rodovia
Santos
de Campinas,
que já demonstra
sinais de saturação.
Por sua vez, na Região de Bauru o Grupo I (alimentos, têxtil) era claramente
predominante
em
importância.
1970,
apesar
do
Grupo
II
(química)
ter
Em 1980, todavia, o Grupo I perde participação,
predominância;
relativa
mas não a
e aumenta o peso dos Grupos II (química) e IH (mecânica,
com empresas de pequeno e médio porte, produzindo implementos
agrícolas,
peças e acessórios necessários à lavoura) (Negri, 1988a).
Finalmente,
a Região Oeste, constituída
Preto, Araçatuba,
Presidente
pelas regiões de São José do Rio
Prudente e Marília, participam,
em 1980, com
86
menos de 1% cada na produção industrial total do Estado.
Grupo I representavam,
As indústrias do
em 1956, 85% da produção da região, enquanto que
em 1980, 71% - alimentos, mobiliário (São José do Rio Preto), vestuário,
calçados e artefatos de tecidos (Araçatuba),
Gl1JpO 11, que representava
1980 (química
inexpressivo
ramo
(mecânica - Marília).
mobiliário
importância
- representa
participa
Prudente).
com
O Grupo
Ill
continua" relativamente
O setor de alimentos - com destaque para
16,4% da produção
14,8% do total
da indústria de couros - principalmente
total do Estado.
estadual,
e cresce
em Presidente
Tabela 1
Participação no VPI do Estado de São Paulo, por região administrativa
ao ......-------------------------.------,
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Fonte: IBGE
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O
a
Prudente
e Araçatuba (Negri, 1988a).
ao
O
1/5 da produção em 1960, passa para 1/4 em
e metalurgia).
a indústria frigorífica
têxtil (Presidente
87
Tabela 2
Estrutura Industrial segundo o VPI, por região administrativa - 1956
110
100
11 G
111
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Fonte: IBGE
Tabela 3
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Fonte: IBGE
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Tabela 4
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Fonte: IBGE
4.5. A Situação Recente
A crise profunda que atinge o Brasil a partir de 1980 afetou de forma intensa
o Estado de São Paulo, principalmente o setor metal-mecânico. Essa década
é marcada pelo grande aumento das exportações, estimuladas por políticas
recessivas do governo federal, como: tia)
, facilidades na política cambial; b)
continuidade das medidas de incentivo e subsídios às exportações de
manufaturados; c) ajustes na economia interna com diminuição da demanda e
estimulos ao comércio internacional" (Negri, 1992, p.32).
Essas medidas
visavam a obtenção de elevados superávits comerciais para o pagamento dos
serviços da dívida externa.
São Paulo é o estado mais atingido por tais ações, em razão de concentrar
.
quase 2/3 da indústria
nacional
de bens de capital, e o grau de
interdependência técnica entre os diferentes setores ser o mais elevado, o que
provocou uma reação em cadeia em seu parque industrial; assim, a queda de
89
produção de material de transporte e material elétrico e de comunicações
gerou reflexos nas indústrias de autopeças, e de acessórios e componentes de
material elétrico.
o
Interior, ao contrário da Região Metropolitana,
cnou empregos e
aumentou sua participação no valor adicionado. Dados mais recentes sobre
o valor adicionado pela indústria de transformação no Estado de São Paulo
informam que a participação da Região Metropolitana decresceu ainda mais,
passando do 60,0% em 1980 para 50,17% em 1990, ao passo que as 5
maiores regiões administrativas - Litoral, Vale do Paraíba, Sorocaba,
Campinas e Ribeirão Preto - passam de 32,8% para 36,60/0 (Negri, 1988b).
Cabe aqui uma explicação sobre o conceito de valor adicionado.
"O valor
adicionado é a diferença entre as saídas e as entradas de mercadorias das
diversas firmas, correspondendo ao montante que cada uma acrescenta de
valor às suas matérias-primas"
(Azzoni, 1993, p.49).
Corresponde ao
faturamento anual declarado pelas empresas à Secretaria da Fazenda, através
do preenchimento
da Declaração para o Índice de Participação
dos
Municípios (DIPAM). O total das DIPAMs de um município equivale ao
valor de sua produção naquele ano.
Deve-se ressaltar, contudo, que os valores captados pelas DIPAMs não são
corrigidos pela inflação. Assim, os municípios agrícolas, por exemplo, são
prejudicados por valores defasados, em função de sua produção ocorrer
principalmente no início do ano.
Existem também os problemas de
preenchimento e fiscalização, próprios de qualquer declaração.
90
Esses dados são utilizados no trabalho em substituição
ao VTI, para analisar
a atividade industrial num período mais recente, já que o IBGE não realizou
o Censo Econômico em 1990. Apesar de possuirem conceitos distintos (um,
tem como base o faturamento;
o outro, a produção). eles apontam as mesmas
tendências quanto ao desenvolvimento
da indústria de transformação.
Durante o período 1980~87 amplia-se a participação
das indústrias do Grupo
I na estrutura paulista, de 25,8% para 28,9%, em razão do desempenho
agroindústria
paulista e do aumento das exportações
O Grupo 11 reduz sua participação
da
de alimentos e têxteis.
de 39,6% para 37,2%, graças à queda da
demanda de insumos básicos provocada pela recessão; também o Grupo IH
sofre uma redução de 34,6% para 33,9%, mais atenuada pelo aumento das
exportações
da indústria de material de transporte (Negri, 1992).
A participação
de São Paulo na indústria brasileira
1987 - em 1980, era de 53,40/0.
participava
decresce para 510/0 em
Por sua vez, o Interior
com 19,8%, em 1987 passa para 20,4%,
Metropolitana
passa de 33,6% para 30,6%.
(exceto a Capital) em 1987 destaca-se
mais complexos (principalmente
sendo que a Região
A indústria da Grande São Paulo
pela predominância
metal-mecânica,
dos segmentos
e eletroeletrônica,
papelão, borracha e produtos de matérias plásticas),
bens de consumo não-duráveis,
que, em 1980,
papel e
e contínua redução dos
a saber: Grupo I - 22,5%; Grupo II - 38,9%;
e Grupo III - 38,6%.
Quanto à distribuição
espacial da indústria em São Paulo, tem-se que, em
1987, a Região Metropolitana
tinha uma participação
64,1% - no total do valor adicionado
de 60,0% - em 1980,
do Estado, sendo que, no Interior, as
91
regiões com maior participação eram: Campinas - 17,6%, Vale do Paraíba 6,6%, Ribeirão Preto - 5,3%, Sorocaba - 4,60/0, com uma concentração de
indústrias do Grupo IIl, além de um aumento de participação nos setores
metalúrgico, farmacêutico e vestuário e calçados; Bauru - 1,1%, e região
Oeste - 1,9%, que aumentam a participação nas indústrias do Grupo I principalmente alimentos - e na produção de álcool (Seade, 198,8).
Assim, no período 1980-87 foi o Interior que garantiu o crescimento
industrial
do Estado, graças à sua integração
no mercado nacional,
crescimento dos mercados consumidores do Interior (maior urbanização) e
aumento das exportações, tanto de produtos agroindustriais (suco de laranja,
café, farelo de soja, carne congelada bovina e de frango, óleos vegetais e
açúcar), como de industrializados (material de transporte, tecidos, calçados,
produtos siderúrgicos, produtos mecânicos e caldeiraria) (Negri, 1992).
O Interior aumentou sua participação
110
total do Estado no período 1980-87:
Grupo I - de 40,2% para 49,6%; Grupo JI - de 2,8% para 38,7%; e Grupo IH
- de 28,2% para 34,1%. Por sua vez, a participação no emprego industrial
passa de 35,2% para 38,5% - principalmente no Grupo I (Negri, 1992).
Dentre os fatores que explicam o .crescimento do Interior nesse período
estão: a continuidade dos investimentos do governo estadual na infraestrutura
rodoviária,
por meio da implantação
de terceiras
faixas e
duplicações de trechos das rodovias Anhangüera, Washington Luiz, D. Pedro
I, Castelo Branco e rodovias Piracicaba-Americana,
Campinas-Sorocaba,
para maior liberdade das instalações industriais; melhoria de rodovias
estaduais e pavimentação de estradas vicinais em regiões produtoras de bens
92
alimentares,
energéticos
e de exportação;
consolidação
maior região produtora de álcool do país; consolidação
do Interior
da agroindústria
suco de laranja, do complexo da soja, com grande penetração
internacional;
Interior
e expansão
- material
das exportações
de transporte,
aviões
siderúrgicos e máquinas, equipamentos
Ao final dos anos 80, os principais
problemas
semelhantes
deterioração
dos
comprometimento
aos
de
no mercado
industrializados
e material
bélico,
do
produtos
e produtos de caldeiraria.
centros urbanos do Interior enfrentam
enfrentados
serviços
dos
de produtos
como
de
recursos
pela
transporte,
hídricos,
metrópole
em
poluição
favelização,
1970:
ambiental,
problemas
de
saneamento, saúde, educação etc (Negri, 1992).
A Região de Campinas,
importante
com cerca de 4,5 milhões de habitantes,
área econômica
diversificada,
utilizando
onde destacam-se
do Interior,
insumos
as culturas
arroz e milho, e diversos
com uma agricultura
químicos
de laranja,
produtos
sucos cítricos, carnes e laticínios.
e biológicos,
cana-de-açúcar,
agroindustriais
é a mais
moderna
e
e mecanização,
tomate,
cebola,
como: açúcar,
álcool,
Possui também uma estrutura industrial
bem diversificada,
com forte presença das indústrias do Grupo II - química,
metalurgia,
e papelão,
transporte,
papel
e do Grupo
material elétrico e de comunicações,
química, mecânica,
têxtil e alimentos.
IH - mecânica,
material
de
sendo as mais importantes:
No período
1980-87: Grupo I - de
29,5% para 29%; Grupo 11 - de 34,1% para 35,30/0; e Grupo III - de 36,4%
para 35,7%.
91
A Região do Vale do Paraíba, com cerca de 1,5 milhão de habitantes, é a 2a.
em termos de importância industrial no Interior. Desde 1970, sua estrutura
industrial é bem diversificada, com setores modernos e complexos, situação
essa que se acentuou nos anos 80.
No período 1980-87, a distribuição
passou a ser: Grupo I - 22% para 14%; Grupo II - 33% para 410/0;Grupo UI 45%.
Os ramos industriais mais importantes são: química; material de
transporte, metalurgia, mecânica e material elétrico e de comunicações juntos, representam mais de 2/3 da produção regional (Negri, 1992).
O Centro Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos, foi
impulsionado por projetos de interesse do Ministério da Aeronáutica, e
forma profissionais
altamente qualificados
nos setores de engenharia
aeronáutica e mecânica.
A Região de Ribeirão Preto vem apresentando uma indústria e agroindústria
cada vez mais modernas, às quais se vinculam atividades comerciais e de
serviços que atendem até parte de Minas -Gerais, e uma agricultura que ocupa
ala. posição no Estado, em termos de área cultivada, produção física e valor
da produção agrícola (Negri, 1992).
Atrái fluxos migratórios em razão de seu dinamismo na cultura da cana-deaçúcar, produção de açúcar e álcool, laranja, cítricos, café, milho e soja;
entretanto, a substituição da produção alimentar, de pequenas propriedades,
por culturas de exportação tem levado à proliferação de trabalhadores
volantes ou "bóias-frias".
94
Para o crescimento da região contribuiu também a existência de uma extensa
malha rodoviária,
que tem recebido investimentos
elevados nos últimos 20
anos: a via Anhangüera, que, saindo da Capital, corta as regiões de Campinas
e Ribeirão Preto, e faz a ligação com Minas Gerais; a rodovia Washington
Luiz, que, unindo a Capital à região de Campinas pela Anhangüera,
a partir
de Rio Claro e Limeira, faz a ligação com São José do Rio Preto, passando
por Araraquara
e São Carlos; os eixos transversais,
'Urbanos como Araraquara, Jaboticabal,
Sua estrutura
consumo
industrial
não-duráveis
Bebedouro e Barretos.
é caracterizada
- metade
que ligam com centros
pela forte presença
da indústria
alimentos (açúcar, indústria frigorífica,
regional
cítricos),
de bens de
-, principalmente
vindo, a seguir,
o ramo
químico (extração de óleos vegetais e produção de álcool).
Outros ramos de
importância
e equipamentos
são: metal-mecânica
(produção
para a agricultura e para a agroindústria),
A Região de Sorocaba,
indústria
melhorias
redinamizada
de máquinas
e calçados.
com cerca de .1,9 milhão de habitantes,
teve sua
a partir dos anos 70, em função da realização
em sua infra-estrutura
viária: a construção
da rodovia
de
Castelo
Branco, com pistas duplas, como eixo de penetração para o Interior; ligações
com o Paraná,
através
da rodovia
Raposo
Tavares;
com a região
Campinas, através da rodovia SP027; e com Piracicaba,
através da rodovia
Costeio Branco e da rodovia do Açúcar, também construída
nos anos 70;
além da rodovia Marechal Rondon e dos trilhos da Fepasa (Negri,
Assim, além da proximidade
adequada
estrutura
de
com a Região Metropolitana
transportes
rodoviários
de
1992).
de São Paulo, sua
e
ferroviários,
a
95
disponibilidade de matérias-primas agrícolas e minerais, colaboraram para
atrair indústrias para a região.
Nos anos 70, a expansão industrial ocorreu no setor de bens intermediários
(minerais
não-metálicos,
química,
metalurgia
e madeira - esta, com
incentivos governamentais para o reflorestamento), ao passo ,que nos anos
80, nas indústrias
do Grupo UI (mecânica,
material
elétrico
e de
comunicações, material de transporte).
A Região do Litoral, apesar da maturação dos investimentos realizados nos
ramos siderúrgico e petroquímico a partir dos anos 50, concentrava no setor
terciário a maior parte de sua PEA nos anos 70. Sua estrutura industrial está
concentrada nos ramos químico e metalúrgico.
Uma série de indústrias
ligadas a esses setores, como a de fertilizantes, foram atraídas para a região
em razão de fatores como: infra-estrutura viária - a via Anchieta e a rodovia
dos Imigrantes, ligando à Capital>, as linhas férreas da Fepasa, o acesso ao
mar e o porto de Santos, além da presença da Cosipa e da Refinaria
Presidente Bernardes.
Nos anos 80, sua participação se reduz no total estadual, em conseqüência
de: redução da produção de bens intermediários, provocada pela recessão;
maiores exigências quanto ao controle ambiental, com desativação de
unidades poluidoras; maior crescimento da indústria química em outras
regiões etc.
A Região de Bauru, com cerca de 850 mil habitantes, tem uma estrutura
industrial em que é maior a importância das indústrias de bens de consumo
96
não-duráveis,
principalmente
indústrias:
química,
têxtil,
alimentos.
mecânica
Também
vêm se destacando
e de bebidas,
e em menor
as
grau,
Éa
vestuário, calçados e artefatos de tecidos, editorial e gráfica, e madeira.
3a. região produtora
de álcool de São Paulo, além de produzir
açúcar.
Também se destaca na extração e refino de óleos vegetais (mamona,
amendoim,
milho);
produz
frutas
cristalizadas,
hortaliças, rações e derivados, e empacotamento
A indústria mecânica fabrica implementos
conservas
soja,
de legumes
e
de milho, arroz, trigo e café.
agrícolas, peças e acessórios para
a agricultura e agroindústria.
Finalmente,
a região
concentrando
articulado,
Oeste,
com cerca de 3 milhões
36,30/0 do território
interligando
paulista,
tem um sistema
Washington
viário
e
bem
a região com os estados do Mato Grosso do Sul,
Paraná e Minas Gerais, e com as regiões administrativas
Campinas e Sorocaba.
de habitantes,
de Ribeirão Preto"
Ao lado das ligações ferroviárias,
tem-se: a rodovia
Luiz, rumo a São José do Rio Preto; a Marechal Rondon, para
Araçatuba; e a Raposo Tavares, para Presidente Prudente e Marília; além de
vias secundárias
de acesso aos principais
centros
urbanos
governo estadual realizou um grande esforço de recuperação
na década de 80, melhorando
centros distribuidores
A região
produz
laranja, mamona,
concentrada
o escoamento
ou agroindustriais
amendoim,
da produção
de processamento
café, mandioca,
além da produção
pecuária.
milho,
regionais.
dessas rodovias
agrícola para os
(Negri, 1992).
feijão,
A estrutura
além de mobiliário.
está
A Região de
São José do Rio Preto produz açúcar, álcool, sucos cítricos,
e produtos frigoríficos,
soja, trigo,
industrial
nas indústrias do Grupo I, em especial alimentos.
óleos vegetais
O
extração
de
Na Região de
97
Araçatuba destacam-se: alimentos, vestuário, calçados e artefatos de tecidos,
couros, peles e similares, produtos frigoríficos e química (álcool).
Na
Região de Presidente Prudente, destaca-se a indústria de alimentos - mais de
40% da produção regional>, produtos frigoríficos, além de química (extração
de óleos vegetais) e têxtil.
Na Região de Marília, a indústria mais
importante é a de alimentos (frigorífica e de refinação de óleos vegetais),
seguida da química, mecânica, madeira e bebidas • esta, representando 5%
do total estadual (Negri, 1992).
É esse, então, em grandes linhas, o cenário que se apresenta atualmente no
Interior paulista, em função da desconcentração industrial ocorrida. Agora,
o estudo passa a concentrar-se especificamente nas IATs e nos fatores que as
levaram a se aglomerar em determinados municípios paulistas.
98
5.
A FORMAÇÃO DE "TECNOPÓLOS"
NO INTERIOR PAULISTA
5.1. Considerações Preliminares
Antes de mais nada, convém lembrar que as aglomerações
alta
tecnologia
também
tecnológicos.
são
conhecidas
Sem entrar em maiores
tecnopôíos
como
detalhes
da indústrias
pólos
ou
sobre a origem do termo
"pólo", que é freqüentemente
associado aos "pólos de desenvolvimento"
François
aqui a considerar
Perroux,
região usualmente
desenvolvimento,
um município.
empresas
limitou-se
próxima a universidades
de alta tecnologia"
e/ou instituições
voltadas
relativamente
e Perito,
concentração
espacial
universidades
de alto nível têm centros de excelência
fluxo de informações
de empresas
de pesquisa
aos limites geográficos
uma densidade
(Nascimento
de
pólo tecnológico como "a
de um modo geral circunscríta
onde seencontTa
de
de
alta de
1991, p.30).
para atividades
e
A
nas quais as
gera um importante
entre elas, e entre o pessoal das próprias
empresas,
além de economias externas de escala.
Segundo Medeiros, o pólo científico-tecnológico
de
4
componentes:
especializaram
empresas
tecnológica
"1)
instituições
ensino
e
pesquisa
em pelo menos uma das novas tecnologias;
envolvidas
conjunto
nesses
desenvolvimentos;
(empresa-universidade),
governo, dado o caráter estratégico
(projetos
de
é definido por um conjunto
chamados
de
dos desenvolvimentos
mobilizadores);
apropriada (mesmo informal)" (1992, p.20).
4)
estrutura
se
2) aglomerado de
3) projetos
usualmente
que
de inovação
estimulados
pelo
a eles associados
organizacional-
99
As empresas de base tecnológica que estão presentes nos pólos têm como
principal insumo de produção o conhecimento científico-tecnológico;
daí,
fixarem-se, normalmente em cidades de porte médio, nas proximidades de
universidades e centros de excelência de alto nível, para fazer uso não
apenas dos recursos humanos nela existentes (intercâmbio de informações)
como de seus laboratórios e equipamentos.
Medeiros cita três configurações básicas dos pólos científico-tecnológicos no
Brasil: "1) pólo com estrutura
informal: As empresas e as instituições de
ensino e pesquisa estão dispersas na cidade.
estrutura organizacional
projetos
conjuntos
agrupamentos.
que
Apesar da ausência de uma
formal estão presentes ações sistematizadas
proporcionam
alguma
interação
entre
e
esses
Eventualmente pode existir uma incubadora para abrigar as
empresas nascentes; 2) p610 com estrutura
formal: As empresas e as
instituições de ensino e pesquisa estão dispersas na cidade. Mas existe uma
entidade coordenadora, formalmente constituída, encarregada de acelerar a
criação de empresas, facilitar seu funcionamento, e promover a integração
entre os parceiros envolvidos no processo de inovação tecnológica; e 3)
parque tecnológico: As empresas estão reunidas num mesmo local, dentro
do campus da universidade, ao lado deste ou em área próxima (distância
inferior a 5 km). Existe uma entidade coordenadora do pólo, concebida para
facilitar a integração universidade-empresa
facilidades existentes no pólo.
e para gerenciar o uso das
Estão disponíveis, para venda ou locação,
terrenos e/ou prédios; os quais abrigam uma incubadora ou condomínio de
empresas" (Medeiros, 1992, p.22).
100
Feitas essas observações, passa .•se, então, para a análise das características
dos "tecnopólos" do Interior de São Paulo - São José dos Campos, São
Carlos e Campinas -, seus fatores locacionais e algumas das suas implicações
sócio-econômicas.
5.2. O Pólo de São José dos Campos
o primeiro
caso a ser analisado neste trabalho é o de São José dos Campos,
o maior centro aeroespacial do país. Localiza-se a 89 km da Capital, no vale
do rio Paraíba do Sul, que garante a abundância de água indispensável às
indústrias, e é cortado pela via Dutra, que liga os 2 principais centros
consumidores do país, São Paulo e Rio de Janeiro.
o município
tinha, na década de 40, em tomo de 30 mil habitantes e uma
vida urbana medíocre, sem dinamismo, sendo que sua economia, após a
decadência do café, baseava-se na pecuária leiteira de baixa produtividade.
(Revista da Indústria, 1989).
A partir daí, a taxa anual de crescimento demográfico da cidade foi bem
superior à de outras sedes regionais: 1940-50, 3,3%; 1950-60, 5,6%; 196070, 6,7%; 1970-80, 6,8%; e 1980-91, 3,99%.
Atualmente, possui uma
população de cerca de 442 mil habitantes.
o
marco inicial da formação deste pólo tecnológico foi a instalação do
Centro Técnico Aeroespacial (CTA) do Ministério da Aeronáutica (MAer),
em 1950, com seu primeiro instituto de ensino e pesquisa, o Instituto
101
Tecnológico da Aeronáutica (lTA) (Medeiros, 1990; Medeiros et al., 1992).
Ela decorreu da preocupação, pós-2a. Guerra, do MAer em tirar o Brasil da
situação
de total dependência
externa
em relação
aos materiais
e
equipamentos bélicos importados; assim, foi criado o ITA, uma escola de
engenharia aeronáutica, concebida nos moldes do Massachusetts Institute of
Technology (M.I.T.), para a formação de mão-de-obra especializada nesse
setor.
o ITA, que até
]991 fonnou 3.500 engenheiros, desde o início, foi inovador,
pelo fato de integrar o ensino e a pesquisa ao setor produtivo, tentando
superar as barreiras
institucionais
tecnologias às empresas industriais.
e burocráticas
e Desenvolvimento
de
Esse exemplo foi seguido pelos outros
institutos do CTA que surgiram posteriormente,
Pesquisa
para o repasse
como: o Instituto de
(IPD), criado em 1954; o Instituto
de
Atividades Espaciais (lAE), em 1973; o Instituto de Fomento e Coordenação
Industrial (IFI), em 1974; e o Instituto de Estudos Avançados (IEAv), em
1980. O eTA tinha, em 1992, aproximadamente 7 mil funcionários.
Um exemplo de sua atuação: o desenvolvimento da tecnologia do carro a
álcool brasileiro, que foi testada pelo CTA nos anos 70, e repassada
gratuitamente às montadoras, apesar de que, normalmente, a transferência de
tecnologia às empresas envolve royalties no valor de 5% sobre o valor
líquido de venda do produto que passar a fabricar.
Recentemente, o
lEAv/CTA desenvolveu o primeiro protótipo de um túnel de choque para
testar aviões hipersônicos, isto é, com velocidade entre 5 e 25 vezes a do
som, cuja versão é pioneira no mundo.
Em razão dos altos custos dos
102
ensaios, vai propor uma parceria aos Estados Unidos (Gazeta Mercantil,
1993).
Outro centro de pesquisas de fundamental importância para o pólo foi o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), criado em 1961 e
vinculado à Secretaria de Ciência e Tecnologia, a principal instituição civil
brasileira voltada para atividades espaciais. Atuando em ciências espaciais e
atmosféricas, meteorologia e sensoriamento remoto, engenharia e tecnologia
espaciais, participa, desde 1980, de 2 programas de desenvolvimento e
fabricação de satélites e do segmento solo associado: a Missão Espacial
Completa Brasileira (MECB) e o Programa Sino-Brasileiro de Pesquisa e
Produção de Satélites de Observação da Terra (CBERS), que estão levando
hoje à criação de empresas (Exame Paulista n.3, 1990).
Criou, na década de 80, o 10. satélite brasileiro e vai construir mais três da
MECB, sendo a metade das peças e componentes produzidos pela iniciativa
privada, com a possibilidade de, no futuro, o satélite todo ser feito por
empresas particulares, como ocorre em países como Estados Unidos, França,
Canadá, Japão, Alemanha e Inglaterra, bastando apenas que elas atinjam o
nível de qualificação necessário.
o INPE possui
cursos de mestrado e doutorado - já formou 540 mestres e 27
doutores ., sendo que a metade de seus 1.400 funcionários tem curso
superior (Medeiros, 1990; Medeiros et al., 1992).
São José dos Campos tem também outras instituições de ensino superior - a
Escola de Engenharia Industrial (EEI) e a Universidade do Vale do Paraíba
103
(UNIVAP), além de destacadas escolas técnicas, como a Escola Técnica
Everardo Passos (ETEP) e a Escola SENAI Santos Dumont, todas de grande
interesse para a indústria local.
É o município brasileiro com a maior concentração de técnicos de nível
superior e PhD.; ali existem, proporcionalmente, 3 vezes mais doutores e
mestres que em todo o Estado de São Paulo (Dirigente Industrial, 1992;
Exame Paulista n.3, 1990). Em 1991, a cidade tinha 452 estabelecimentos
de ensino, sendo 7 de nível superior e 3 de pós-graduação, com 135 mil
alunos, dos quais 5 mil universitários.
O índice de analfabetismo é de
15,7%, 3 pontos percentuais abaixo da média nacional; em 1985, 62% da
população tinha o 10. grau incompleto e quase 9% curso superior. Mais de
95% moram na zona urbana.
Dentre os fatores que levaram à instalação do CTA em São José dos Campos
podem ser citados: a distância relativa dos grandes centros urbanos, a
facilidade de acesso a esses centros - através da rodovia Presidente Dutra,
que permitia maior acesso às matérias-primas e aos canais de escoamento da
produção por via marítima (portos de Santos, Rio de Janeiro e São
Sebastião), rodoviária ou aérea (aeroportos de Cumbica e do Rio de Janeiro),
e que foi inaugurada na mesma época do CTA -, a abundância de energia
elétrica e a ampla disponibilidade de terrenos (Revista da Indústria, 1989).
Apesar de não ter sido o resultado de uma ação planejada e coordenada, o
complexo aeroespacial de São José dos Campos foi se estruturando, se
consolidando, e atraindo, também pela abundância de água, um número cada
vez maior de empresas de alta tecnologia, sendo que as primeiras (que datam
104
da década de 60) eram grandes.
Segundo pesquisa realizada por Medeiros e
Perito (1991), em 1990, as empresas entrevistadas
investiam entre 7% e 30%
de seu faturamento em P&D.
Seu parque industrial abriga: "a) empresas multinacionais
porte, de base tecnológica,
suas matrizes;
que utilizam basicamente
b) empresas
empresas nacionais
a tecnologia
de diferentes
e c)
portes, atuando nos
bélico, de novos materiais e eletrônica,
- principalmente
vinda de
ligadas a setores tradicionais:
de base tecnológica,
setores aeroespacial,
ou interagiram
nacionais
de médio e grande
que interagem
quando de sua criação - com os centros de
pesquisa da região" (Medeiros et a1., 1992, p.164).
Em 1946, instala-se
rayon (Pacheco,
a Rhodia, produzindo
1992).
inicialmente
fios sintéticos
de
Durante a década de 50, começam a chegar outras
indústrias de grande porte, como Johnson e Johnson, Ericsson, Tecelagem e
Fiação Kanebo, Eaton e General Motors, ao lado de algumas empresas de
menor
porte.
Nos anos seguintes,
principalmente
de capital estrangeiro
estaduais;
entre
1960
e
1970,
surgem
outras
grandes
- em proporção
implantam-se:
empresas
-
maior que as médias
Alpargatas,
Amplimatic, Avibrás, Embraer; National e Bundy Tubing.
Matarazzo,
Outras empresas
vão ocupando municípios vizinhos.
Em 1956, a indústria da cidade restringia-se
metálicos (cerâmicas)
pessoal
ocupado
metalúrgico,
Crescem
e químico (fios sintéticos),
na indústria.
de material
bastante
aos ramos têxtil, minerais não-
os
Em
1970, ganham
de transporte,
fluxos
responsáveis
migratórios
material
para
destaque
elétrico
a
por 87% do
região.
os ramos
e vestuário.
Aumenta
105
sensivelmente o número de pessoas ocupadas na indústria, principalmente
material de transporte, mecânica e química.
Instalam-se: Kodak, Philips,
Hitachi, Engesa, Metalúrgica Fiel, Monsanto, Ethicon, Neu Aeronáutica e
Kone Elevadores.
Entre 1970 e 1980, o VTI cresceu 15,3% a.a.. Nos anos 80" instalam-se a
Refinaria Henrique Lage da Petrobrás , a Orion e a Órbita Sistemas
Aeroespaciais. Em 1988, os setores que mais empregavam eram: material de
transporte - 36,8%; material elétrico e de comunicações - 17,6%; atividades
diversas - 14,8%; e químico - 4,7%, num total de 63,9%. O tamanho médio
dos estabelecimentos era de 110 empregos por estabelecimento, sendo que os
setores modernos apresentam tamanhos médios maiores: indústria química 394 empregos/estab; material elétrico e de comunicações - 425; diversos 955; têxtil - 1.312; e material de transporte - 1.451.
De acordo com o valor adicionado de 1987, o peso menor é do setor de bens
de consumo não-duráveis.
Seu valor adicionado representa 63,5% do total
de São José dos Campos, Taubaté, Jacareí e Caçapava.
A participação no
VTI estadual aumentou, assim como no valor adicionado do Estado.
A Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (EMBRAER), por exemplo, é
uma empresa de capital misto, criada por iniciativa do MAer, com recursos
do governo federal para o investimento inicial, e que, no primeiro momento,
adotou tecnologia totalmente desenvolvida no IPD/CT A, depois transferida
para a nova empresa, para atende um mercado representado pela encomenda
de 80 aviões Bandeirante, feita pelo próprio MAer (Nascimento e Perilo,
1991).
106
Outros modelos se seguiram a ele, como o Xingu e o Tucano, este para
treinamento básico militar - principal mercado da EMBRAER. Em 21 anos,
a empresa fabricou mais de 4.500 aviões, e exportou para 47 países - dentre
os quais, Inglaterra, Estados Unidos, França, Alemanha e Japão. Em 1989,
começou a ser produzido o caça tático AMX, em consórcio com empresas
italianas.
A empresa entrou em declínio sob o peso da enorme dívida de
mais de 600 milhões de dólares, mas, talvez, com sua privatização, recupere
o dinamismo inicial.
A criação de empresas nesses setores deveu-se a vários motivos: o
aproveitamento de nichos de mercado percebidos por pesquisadores do CTA
e do INPE principalmente; a materialização de projetos desenvolvidos nos
centros de pesquisa; as condições favoráveis da cidade; a instalação de
subsidiárias de empresas com sede em outras regiões.
A atuação do governo federal, com seus pesados investimentos, foi decisiva
para a consolidação de empresas brasileiras nos setores aeroespacial, de
material de defesa e eletrônica, instaladas em São José dos Campos (cerca de
20). Trata-se de setores marcados pela alta concentração, dadas as barreiras
que novas firmas - principalmente de pequeno e médio porte - têm de
enfrentar: "longos prazos de maturação, investimentos iniciais elevados,
pequena escala de produção, custo elevado de obtenção da tecnologia e
necessidade de equipes grandes e de alta qualificação para sua absorção,
necessidade
de homologação dos produtos e necessidade
de financiar
clientes" (Medeiros et al., 1992, p.167), ao lado da acirrada competição
internaci ona1.
107
Como o MAer controla a aviação de terceiro nível - aviões com 30 a 40
lugares - no Brasil, através do Departamento de Aviação Civil (DAC),
garantiu espaço, inicialmente para o Bandeirante, e, mais recentemente, o
Brasília, restringindo o acesso aos concorrentes externos (Nascimento e
Perilo, J 991). Atuação semelhante teve o Ministério no caso da fabricação
de material de uso aeronáutico, como os aviônicos para o AMX, e
equipamentos para o sistema DACTA de tráfego aéreo, quando as compras
internacionais do MAer ficaram condicionadas à transferência de tecnologia
às empresas brasileiras.
A cooperação entre os institutos de ensino e pesquisa e as empresas se dá
através da prestação de serviços pelos primeiros - consultorias, empréstimo
ou locação de laboratórios, realização de testes, homologação de produtos,
além de contratos de projetos e de recursos humanos dos institutos pelas
empresas interessadas.
Podem citar-se alguns dos fatores que levaram empresas de base tecnológica
a se instalarem em São José dos Campos: amplo contingente de mão-de-obra
qualificada; ambiente favorável à atração e retenção desse tipo de mão-deobra; topografia e localização favoráveis; baixo índice de poluição; excelente
malha viária e existência de aeroporto.
A escassez de opções de lazer é
compensada pela proximidade do litoral Norte, cidades de montanha como
Campos de Jordão, e da Capital de São Paulo.
Possui cinemas, teatro,
discotecas, bares, clubes de campo, academias de ginástica etc.
108
Quadro 1
Intensidade de Ocorrência de Fatores Característicos de Pólos Tecnológicos
em São José dos Campos
FATORES
A. INFRA-ESTRUTURA CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA
1, Grupos de pesquisa e acadêmicos de excelência
2, Infra-estrutura tecnológica (laboratórios e centros de
pesquisa bem aparelhados)
3. Fluxo de tecnologia de instituições de ensino e pesquisa
para empresas
B. RECURSOS FÍSICOS E FINANCEIROS
1. Mão-de-obra qualificada e especializada
2. Ambiente favorável à atração e retenção de mão-de-obra
especializada
3. Infra-estrutura industrial tradicional
4, Terrenos e facilidades de construção industrial
.
5. Localização favorável (malha viária, aeroportos c proximidade
grande centros urbanos)
6. Capital de risco
C. AGLOMERAÇÃO DE El\1PRESAS
1, Concorrência funciona como fonte de informação (através
da mobilidade da mão-de-obra e por troca de experiências)
2. Cidade funciona como pólo de convergência de informações
dentro de sua área de especialização
"
3. Frentes de atuação tecnológico-empresarial complementares
e interdependentes
4. Proximidade da concorrência induz lançamento acelerado
5. Vantagens proporcionais associadas à instalação em um
centro de alta tecnologia
D. PAPEL DAS NOVAS EMPRESAS E SUAS ORIGENS
1. Firmas novas (menos de 30 anos) lideram desenvolvimento
2. Instituições de ensino e pesquisa funcionam como fonte de
empresários
3. Firmas estabelecidas no local levam à formação de outras
XXXX
= ===
Fator
Fator
Fator
Fator
INTENSIDADE
xxxx
====
xxxx
------====
====
::::===
xxxx
--------
-------
xxxx
xxxx
====
presente e fortemente caracteristico do local
presente e relevante no contexto local
presente mas não especialmente significativo no contexto local
ausente no local
109
Alguns comentários são feitos a respeito dos resultados apresentados no
quadro anterior: até meados da década de 70, São José dos Campos gozava
de ampla disponibilidade de terrenos e facilidades para construção industrial
(Nascimento e Perilo, 1991).
Entretanto, atualmente esta situação está
modificada, dada a elevação dos preços dos terrenos - industriais
e
residenciais -, da mão-de-obra, e do custo de vida, enquanto que a infraestrutura urbana apresenta sinais de deterioração
e insuficiência
para
atendimento da cidade.
Os recursos financeiros para a criação das empresas geralmente veio dos
sócios, e no caso de subsidiárias, foi proveniente das matrizes; quanto a
capital de risco, inexiste.
A mobilidade da mão-de-obra é vista mars como uma fonte de pessoal
qualificado, do que como fluxo de informações entre empresas, já que os
produtos comercializados não são muito semelhantes.
como
frente
interdependentes
de
atuação
tecnológico-empresarial
Por sua vez, fatores
complementares
e
e a indução ao lançamento de :novos produtos pela
proximidade da concorrência não são relevantes pela própria natureza da
tecnologia ali desenvolvida.
A partir dessas colocações, os autores apresentam as peculiaridades do pólo
de São José dos Campos, ou seja, as características que o diferenciam de um
pólo tecnológico típico, justamente
pelo tipo de tecnologia que aí é
desenvolvida: "a) inexistência de grande número de pequenas empresas de
alta tecnologia; b) intensa intervenção coordenadora e financeira do Estado,
principalmente em decorrência do caráter militar estratégico da tecnologia;
110
c) o principal setor do pólo, o aeroespacial, embora dinâmico, não apresenta
o vigor e o número de oportunidades do setor eletrônico; d) fabricação do
produto final está concentrada em um número pequeno de firmas; e)
existência de fortes barreiras de mercado, tecnológicas e financeiras, à
entrada de pequenas empresas no setor; f) tecnologia desenvolvida no pólo
não está na fronteira internacional do conhecimento; g) mercado interno não
é suficiente para sustentar as empresas do setor; e f) fornecedores de
empresas integradoras não estão geograficamente concentrados" (Nascimento
e Perilo, 1991, p.36).
A ausência de um grande número de pequenas empresas de alta tecnologia
contrasta com o que sucede na Route 128 e no Vale do Silício, nos Estados
Unidos, e em Santa Rita do Sapucai e São Carlos, no Brasil.
As ações do MAer criando condições para que as empresas brasileiras
vencessem as barreiras e pudessem entrar no mercado aeroespacial mostram
a importância que a intervenção estatal" o envolvimento governamental, tem
para
a
implantação
desenvolvimento,
de
uma
principalmente
indústria
naquelas
de
em
ponta
que
em
a
países
em
concorrência
internacional é forte. Pelo menos, até que se atinja a fase de maturação dos
investimentos, o que pode implicar em períodos bastante longos.
Os problemas que São José dos Campos vem enfrentando nos últimos anos
(Medeiros et al., 1992; Ipesi, 1992) - crise econômica, enxugamento de
pessoal, desemprego, greves, crise no setor aeronáutico e bélico, redução de
encomendas externas, calote de alguns importadores etc - têm estimulado
vários órgãos da cidade a promover a retomada do crescimento industrial
111
local, através de programas de criação e fortalecimento
tecnológica,
aproveitando
a mão-de-obra
de empresas de base
altamente qualificada
existente na
região, e que se acha desempregada.
A Engesa e a Avibrás, por exemplo,
até 1988 empregavam juntas
]0.500
pessoas, sendo que em 199], com a redução das atividades e Q enxugamento
do quadro operacional,
funcionários
empresas
dessas
passaram para 1.050; isso fez com que muitos ex-
e outras
menores,
empresas
produzindo
variados
ligadas
ítens
ao setor bélico
abrissem
de tecnologia
avançada
(Dirigente Industrial, 1991).
Os parceiros
no projeto
Desenvolvimento
são:
a Secretaria
de Ciência,
Tecnologia
e
Econômico (SCTDE), a Associação Comercial e Industrial
de São José dos Campos (ACI-SJC), a Prefeitura Municipal de São José dos
Campos, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo
(SEBRAE-SP)-Regional
Vale do Paraíba, INPE, CrA e UNIVAP.
Foi criada, então, em agosto de ] 992, uma fundação de direito privado para
coordenar as ações - a Fundação Pólo Tecnológico
do Vale do Paraíba - nos
moldes da de São Carlos (SP), Campina Grande (PB) e Florianópolis
com os seguintes objetivos: instalar e manter uma incubadora
(SC),
de empresas,
cujo acesso será permitido tanto às novas empresas como às que pretendam
criar novos produtos ou melhorar produtos e processos existentes; divulgar e
tomar acessível o uso, às empresas de base tecnológica,
infra-estrutura
dos laboratórios
e da
de pesquisa disponíveis na região; oferecer apoio às empresas
nos setores jurídico, econômico, mercadológico,
técnico e de informação.
112
A cada entidade envolvida coube determinada ação, para colaborar no início
das atividades
da Fundação:
à formalização
necessários
infra-estrutura
cedeu
a ACI-SJC
jurídica
cedeu
os recursos
da Fundação,
além do espaço físico e
para o começo de suas atividades administrativas;
o prédio
responsabilizou
para
o funcionamento
pelo pagamento
primeiro ano de funcionamento;
da
financeiros
incubadora;
a Prefeitura
a. SCTDE
se
do pessoal de gerência da incubadora
no
o SEBRAE-SP vai financiar parte do custeio
da Fundação; enquanto que o INPE, o CT A e a UNIV AP tentam agilizar o
acesso das empresas a seus laboratórios e recursos humanos.
É interessante incluir aqui o quadro apresentado no trabalho de Nascimento e
Perito (1992, p.32), mostrando a intensidade de ocorrência
Campos
de fatores
característicos
da implantação
em São José dos
e desenvolvimento
de
pólos e parques tecnológicos apontados em literatura sobre o tema.
Para a década
terciário
de 80, estima-se
- comércio,
atividades
prestação
o CT A e outras
constituição
comunicações
liA consolidação
instituições
social
Os estímulos
interna de cargos e funções
pessoais dessa parcela da população
como
o INPE,
complexa,
derivados
e
de um
em conjunto com o setor de pesquisas,
de uma estrutura
médios.
maior do emprego no
transportes,
moderno, com a diferenciação
próprias de grandes empresas,
segmentos
de serviços,
sociais - do que na atividade industrial.
setor industrial
envolve
um crescimento
que
dão margem
com peso
da demanda
elevado
à
dos
por serviços
somam-se à demanda por serviços de
apoio à produção decorrentes da própria estrutura industrial e do conjunto de
requisitos de um centro regiona1.
Criam-se condições para um crescimento
mais acentuado do emprego nesses setores
It
(Pacheco,
1992, p.199).
113
o crescimento
do poder aquisitivo de boa parcela da população, que desfruta
da boa qualidade de vida da cidade, ativa o comércio local. A maioria é da
classe média, com renda lO. a 15% superior à média nacional, sendo que 4%
ganham acima de 20. salários mínimos, enquanto que apenas l% no Brasil e
2% na Grande São Paulo estão nessa faixa. Cerca de 10.% recebem entre 1 e
3 salários mínimos, enquanto que em 1980., eram 470/0 nessa classe de
rendimento; em 1980. -2,9% dos operários tinham carro, e em 1988, 110/0
(Revista da Indústria, 1989). Para a população de baixa renda - - a situação
se toma cada vez mais complicada. Existem alguns "bolsões" de pobreza e o
déficit habitacional era de cerca de 20. mil moradias em 1989, o que
provocou o surgimento de favelas.
A partir da inauguração da via Dutra, a tendência de crescimento da malha
urbana foi no sentido de seguir o traçado da rodovia, e não mais fazendo a
ocupação do solo em função da proximidade com o rio Paraíba e a Estrada
de Ferro Central do Brasil. Desde então, as áreas residenciais passaram a se
localizar nos espaços vazios da ocupação industrial, seguindo padrões
diferenciados de ocupação.
As áreas próximas ao centro, no platô que vai em direção à Dutra,
instalaram-se segmentos de maior renda, enquanto "os bairros da população
de menor renda foram sendo sistematicamente deslocados para os corredores
internos às áreas tipicamente industriais, ou às zonas de ocupação antiga da
cidade, na parte norte do núcleo urbano" (Pacheco, 1992, p. 20.3).
A
ocupação horizontal tendeu, assim, a segregar os núcleos residenciais mais
novos e de população de menor renda, o que foi reforçado pela construção de
114
conjuntos
habitacionais
loteamentos
também
irregulares
sudeste.
do
SFH
nessa
direção.
Multiplicam-se
na periferia da área urbana, em direção ao norte e
A área
urbana,
que entre
1974 e 1980 tinha
médio de 6,5% a.a., cái para 3,7% entre
crescimento
os
1980-85,
um
e sobe
novamente entre 1985-89 para 6,1%.
A partir
de 70, acelera-se
centrais, e lançam-se
o processo
conjuntos residenciais,
demanda da crescente classe média local.
moradias
são inacessíveis
das áreas mars
de verticalização
principalmente
para atender à
Nas proximidades
do centro, as
para quem tem renda
inferior
a 20 salários
mínimos, com demanda crescente para apartamentos
de alto padrão.
Também
e um fluxo migratório
intenso,
existe um déficit
gerando
criminatidade,
um aumento
do número de bairros.
e o congestionamento
A arrecadação
brasileiras,
de leitos hospitalares
de ICMS,
proveniente
Cresce também
a
na Dutra para escoamento da produção.
em 1988,
é
maior
que a de muitas
dos mais de 26 mil estabelecimentos
capitais
industriais,
comerciais e de serviços ali existentes.
o consumo
industrial
de energia elétrica é bastante elevado, assim como o
número de empregos industriais
em 1991) - principalmente
eletroeletrônico,
(desemprego
de 20% no setor metalúrgico
nos setores de material de transporte,
e também químico e metalúrgico,
com empresas de maior
porte -, apesar de que, quanto ao número de estabelecimentos,
alimentos, minerais não-metálicos
e metalurgia,
material
a ordem é:
115
As indústrias
tecnologia
Brasil
de grande porte daqueles grandes setores são as que utilizam
mais avançada, e são responsáveis
exporta,
cinescópios
desde
componentes
por 70/0 (em 1991) do que o
eletrônicos,
antenas
parabólicas,
- tubos de imagem para televisão -, material hospitalar,
e papéis fotográficos,
câmaras
material bélico, aviões, até sistemas de lançamento
de
foguetes.
Boa parte das empresas
ali instaladas
investimentos,
ampliação
seja
em
Monsanto) ou modernização
vem realizando
da
capacidade
os mais diversos
produtiva
de máquinas e equipamentos
(Rhodia,
(Philips, National
e outras), lançamento de novos produtos etc.
A renda per capita da região é uma das mais altas do Estado - 8.673 dólares
anuais em 1990 (Azzoni, 1993), enquanto a do Brasil, no período 1987-89,
era de 2.059 dólares.
mínimos,
O salário médio de um metalúrgico
é de 7 salários
igual ao do ABC e maior que na Capital (Revista
da Indústria,
1989).
5.3. O Pólo de São Carlos
Outro pólo tecnológico
Carlos, um município
do Estado de São Paulo está localizado
de porte médio, com 158 mil habitantes,
cerca de 233 km da Capital, indo pela rodovia Washington
1990; Medeiros
et al., 1992; Medeiros
industrial, constituído
com tecnologia
e Torkomian,
em São
e distante
Luiz (Medeiros,
1993).
Seu parque
de mais de 600 empresas, abriga indústrias modernas,
de ponta, e também indústrias
tradicionais
- como Faber
116
Castell,
Hero Conservas
Alimentícias,
Tapetes
São Carlos,
Tolhas
São
A decadência do café, a baixa fertilidade do solo e a não-disponibilidade
de
Carlos etc, que geram cerca de 80 mil empregos diretos.
terras levam à transformação
antigos colonos imigrantes
para uma economia
industrialização
- a partir da década de 30, com a chegada de
italianos
à cidade - de uma economia
urbano-industrial,
baseado
com a expansão
na substituição
de importações
agrícola
do processo
(Souza
de
e Lima,
1988).
Na década de 50, com o crescimento
expressivo
do mercado
cidade começa a tornar-se um centro de conhecimento
científico,
com a excelência
física,
passando
em ciência
para a engenharia
favorecia a realização
energia) e mecânica
básica
- matemática,
civil (o desenvolvimento
a
iniciando
química
econômico
de grandes obras de infra-estrutura
(formação
interno,
- e
nacional
de estradas e de
de técnicos para operar a indústria
metal-
mecânica em expansão).
No início
dos
anos
expressiva participação
80, sua estrutura
industrial
do setor metalúrgico.
caracterizava-se
pela
A expansão industrial ocorrida
nos anos 70 refletiu-se também na Região de Ribeirão Preto, aumentando
participação
no
(Semeghini,
1992b).
significativa
VTI
estadual
e no
Esse
dinamismo
modernização
de
decorreu
empregos
industriais
de fatores
como:
a
da agricultura da região, cujos efeitos se fizeram
sentir tanto através das indústrias
insumos e equipamentos
número
sua
processadoras
como das produtoras
de
agrícolas; a sua excelente malha viária - a principal
artéria do sistema viário da região é a via Anhangüera,
mas existem ligações
117
rodoviárias,
ferroviárias
e aéreas com todo o Interior paulista e com outros
estados -, que possibilitou
a instalação de muitas indústrias voltadas para o
mercado regional ou nacional.
Um exemplo disso foi a ampliação do parque metal-mecânico
e Araraquara.
Em 1980, Araraquara tomou-se o 10. município da região em
termos de produção
Preto.
de São Carlos
industrial,
seguida por São Carlos, Franca e Ribeirão
Nos anos 70, foi, com Ribeirão Preto, a sub-região que mais cresceu
em termos de população (3,2% a.a.), o terceiro muncípio, depois de Ribeirão
Preto e Franca,
população
além de ser o quinto
urbana,
polarização
da região
em razão do predomínio
quanto
da atividade
a aumento
na
industrial.
A
exercida pelas cidades como São Carlos fez crescer também o
setor de comércio e serviços.
Entretanto,
a presença
local de 2 universidades
(Medeiros,
1990; Medeiros et al.,
1992) ~ hoje,
sobretudo nas áreas de novos materiais.vóptica,
mecânica
de
precisão,
química
fina
e
centros
informática,
biotecnologia
de excelência,
instrumentação,
-
provocou
das atividades
microempresas
de base tecnológica voltadas para essas áreas, principalmente
alunos
dessas
empresas,
nas
com a criação
de alto nível
diversificação
a partir de 1983.
econômicas,
públicas
de pequenas
Um número cada vez maior de pesquisadores,
instituições
quais
as
passou
pesquisas
superando, assim, gradativamente,
em repassar o conhecimento
a colaborar
eram
a tradicional resistência
em
e
docentes e
para o surgimento
transformadas
a
dessas
produtos,
das universidades
ao setor produtivo, em face da ameaça de que,
assim, poderia estar colocando em risco a sua autonomia.
118
A mais antiga dessas entidades de ensino superior é a Escola de Engenharia
de São Carlos (EESC), criada em 1948, pela Universidade de São Paulo, e
instalada em 1952, com os cursos de engenharia civil e mecânica.
Mais
tarde, em 1972, foi instalado o campus da USP na cidade, acrescentando à
EESC duas outras unidades: o Instituto de Ciências Matemáticas (ICMSC) e
o Instituto de Física e Química (IFQSC), que resultaram do desmembramento
dos docentes de Matemática, Física e Química.
A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por sua vez, criada em
1968 e funcionando em 1970, possui: o Centro de Ciências Exatas e
Tecnologia (CCT), o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), o
Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH) e o Centro de Ciências
Agrárias (CCA) (Medeiros, 1990; Medeiros et al., 1992). Foi pioneira no
Brasil na criação do curso de Engenharia de Mteriais, que envolve também
estágio industrial para uma maior aproximação dos estudantes com as
empresas; mantém convênios de pesquisa com a IBM, Pirelli, Alcoa, Philips,
Petrobrás,
e outras.
Essa cooperação
universidade-empresa
levou à
instalação do Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais com apoio do BIRD e do CNPq - e do Núcleo de Informação em Materiais.
Em 1992, o número de professores era de 547 (279 doutores), além de 2.945
alunos (700 pós-graduandos).
Dados de 1992 dão conta da existência na cidade de um contingente
acadêmico de 550 doutores, 937 docentes, 2.100 pós-graduandos e 4.200
graduandos.
119
A presença
progresso
centros
de outras entidades
e colabora
para o seu dinamismo
de pesquisa
(EMBRAPA),
incubadoras
em São Carlos também impulsiona
da Empresa
especializados
Brasileira
científico
o seu
e tecnológico:
de Pesquisas
em zootecnia e instrumentação
2
Agropecuárias
agropecuária;
2
de empresas; e 2 escolas técnicas - uma do Serviço Nacional de
Aprendizagem
Industrial
(SENAI),
e a outra do Serviço
Nacional
do
Comércio (SENAC).
Com o fim do "milagre",
o ritmo de absorção
de técnicos
pelo parque
industrial vai se reduzindo, e a degradação dos salários dos docentes induz à
sua evasão para o setor privado,
com exceção
da comunidade
acadêmica
voltada para a ciência básica, que não encontra melhores opções no mercado
de trabalho (Souza e Lima, 1988).
Ao final dos anos 70 e início dos 80,
entretanto,
para o IFQSC • que produziu
surgem,
principalmente
tomógrafo brasileiro ., oportunidades
da Telebrás,
em Campinas,
com financiamento
algumas empresas
universidades:
para desenvolvimento
de entidades
apoio ao desenvolvimento
de associação
governamentais
científico
ao Centro de Pesquisas
de pesquisas
professores-empresários.
conjuntas,
e paragovernamentais
e tecnológico,
por parte de pesquisadores;
o 10.
além da criação
uma nova mentalidade
de
de
nas
A partir daí, é que são criados o
PaqTc-SC e o CEDIN.
Ao contrário
de São José dos Campos
pesados investimentos
tecnológicos
e Campinas,
do governo militar para sua consolidação
aeroespacial
e de telecomunicações
com
como pólos
respectivamente,
Carlos recebeu do governo federal um apoio relativamente
a instituição,
que contaram
São
reduzido, que foi
em fins de 1984, da Fundação Parque de Alta Tecnologia
São
120
Carlos (PaqTc-SC), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), com o apoio da Prefeitura e do Centro das Indústrias
do Estado de São Paulo (CIESP), além da UFSCar e da USP (Medeiros,
1990; Medeiros ct aI., 1992).
Atualmente, formam a parcena da Fundação: a SCTDE, a, Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), a EMBRAPA, a
UFSCar, a USP e lideranças comunitárias - comerciais e industriais.
Essa fundação de direito privado, sem fins lucrativos, voltada para criar
condições de acelerar o surgimento e a consolidação de empresas de alta
tecnologia na região, tenta promover a interação entre os parceiros e
coordenar seus esforços.
Fica encarregada da gestão do pólo de alta tecnologia, apoiando as empresas
de base tecnológica, novas ou já existentes, através de: incubação de
empresas nascentes, com o apoio do SEBRAE; cessão provisória de seu
endereço e infra-estrutura às empresas nascentes ou associadas (espaço
fisico,
secretária,
administrativa
telefone,
fax
e mercadológica;
etc);
assessona
uso compartilhado
técnica,
jurídica,
de laboratórios
e
equipamentos por parte das empresas filiadas; bolsas de estudos para o
desenvolvimento. nas empresas, de projetos relevantes, com a colaboração
da USP-SC e da UFSCar; Consórcio de Software, para fortalecer as empresas
de informática
do pólo;
organização
da Feira
de Alta Tecnologia
(FEALTEC) de São Carlos, com o SEBRAE, para promover os produtos e
serviços criados no pólo (Silva, 1993).
121
Ela não recebe ajuda financeira permanente de nenhuma entidade pública ou
privada.
Apenas as mensalidades dos filiados, e o auxílio de empresas
locais, da Prefeitura e do SEBRAE, além da cobrança por serviços como:
administração de contratos, aluguel de instalações, taxas de telefone, fax etc.
À PaqTc·SC são filiadas 5 I das 60 empresas de base tecnológica que
formam o Pólo Científico-Tecnológico de São Carlos, sendo que 30 foram
criadas com seu apoio. O faturamento anual das empresas do pólo é de cerca
de 30 milhões de dólares, envolvendo algo em tomo de 600 empregos •
metade dos quais de nível superior ou técnico médio.
Cerca de 70% dos
sócios das empresas têm ou já tiveram ligação formal com as universidades são ou foram professores, alunos, funcionários das mesmas ., o que facilita o
acesso a elas, tanto no que diz respeito à prestação de serviços, utilização de
recursos materiais e humanos etc.
A PaqTC-SC tenta cnar a Companhia de Capital de Risco (CCR), para
captar recursos financeiros para empresas de alta tecnologia, a exemplo do
que ocorre, por exemplo, na França, onde existem cerca de 70 empresas de
capital de risco, engajadas em financiamentos desse tipo. São Carlos pode
ser a pioneira no país nesse campo, com o apoio do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o SEBRAE, que ficarão,
respectivamente, com 40% e 10% das cotas da empresa, enquanto 5% ficam
com a PaqTc-SC e os restantes 45% com o capital privado.
A Fundação busca também obter autorização da Prefeitura para concessão de
incentivos fiscais municipais para as empresas de alta tecnologia instaladas
ou que venham a se instalar em São Carlos; e a complementação de um
122
distrito industrial
(CEAT)
.,
especializado
além
do Centro
- o Centro Empresarial
de Inovação
de Alta Tecnologia
Tecnológica
de São
(CETESC) - uma escola técnica voltada para as necessidades
Carlos
das empresas
do pólo (Medeiros et al., 1992).
A ocupação de São Carlos por empresas de alta tecnologia
espontânea,
não planejada,
deu-se de forma
o que fez com que elas se dispersassem
pelas
imediações da USP, da UFSCar e em outros locais em que o preço do terreno
fosse mais baixo (Medeiros e Torkomian,
1993). Por isso, foi destinada uma
área de 100 alqueires (I milhão de m2), desapropriada
Fepasa, ao futuro parque tecnológico
da cidade.
pela Prefeitura junto à
O CEAT começou a ser
implantado em 1988: arruamento, guias, sarjetas e energia elétrica - ficariam
a cargo da Prefeitura
proprietários
., e água, esgoto e asfalto
- a cargo dos futuros
dos lotes; mas a Prefeitura não cumpriu a sua parte, e, assim,
em 1992, o CEAT tinha 10% de ocupação com 70% dos lotes vendidos.
Além da PaqTc-SC, as empresas de base. tecnológica de São Carlos dispõem,
desde
1986, do Centro
de Desenvolvimento
das Indústrias
Nascentes
(CEDIN), criado pela SCTDE, com o apoio da Prefeitura de São Carlos e das
2 universidades
incubadora,
públicas locais (Medeiros
et al., 1992).
Trata-se
instalada num prédio, com espaço para 8 empresas,
de uma
construído
pela SCTDE, que responde também pelo pagamento das despesas de pessoal
e de manutenção
• numa área cedida pela Prefeitura.
apenas uma taxa simbólica como aluguel.
CEDJN,
produtos.
duas foram bem sucedidas
As empresas pagam
Das 5 empresas que sairam do
no mercado,
até exportando
seus
123
Falta de recursos e desavenças
políticas são fatores que impediram
que o
CEDIN tivesse o êxito esperado, o que levou a SCrDE a rever sua forma de
atuação e a tentar fazer as mudanças necessárias,
número
de parceiros
fundamental
no sentido de aumentar o
e obter maior participação
para esse fracasso,
entretan.to,
das empresas.
deve-se
ao próprio
estreita vinculação da instituição à burocracia oficial - dependência
tem administração
O fator
fato da
total, não
autônoma.
A crise atual não tem afetado grandemente as empresas locais, que, graças à
sua estrutura
flexível,
se adaptam
facilmente
às circunstâncias
(Exame
Paulista n.4, 1991).
A qualidade
de vida local é muito boa, o que faz com que a maioria dos
executivos vindos dos grandes centros urbanos não sintam saudades de seus
locais de origem.
As grandes empresas instaladas
em São Carlos, como a
Faber Castell, mantêm em São Paulo, seus escritórios de vendas e marketing,
mas a produção é feita na própria cidade.
Sua qualidade de vida equipara-se apenas à de poucas cidades brasileiras,
por isso, a cidade teme crescer.
transporte
coletivo;
diariamente
Tem uma ótima infra-estrutura
as ruas são varridas,
lâmpadas queimadas das ruas trocadas.
expansão do pólo tecnológico
parte do parque industrial,
média da cidade.
urbana:
o lixo coletado,
as
A existência das 2 universidades,
a
e a oferta de empregos de nível superior por
fazem com que se mantenha
Contribuem
e,
para isso os incentivos
o perfil de classe
proporcionados
pela
Prefeitura à instalação de empresas que paguem bons salários - a renda per
capita gira em tomo de 5.000 dólares anuais.
124
São Carlos tem a maior concentração
do país
(Exame
alfabetização
Paulista
n.4,
per capita de cientistas e pesquisadores
1991).
A cidade
tem
alto
índice
de
~ 87,7% - e boa oferta de vagas escolares - 40 mil até a última
série do 20. grau - incluindo
escola; entretanto,
as dos cursos profissionalizantes
e da pré-
comenta-se que a qualidade do ensino de lo. e 20. graus
(na maioria, público), não é tão boa quanto a do nível universitário.
Os fluxos migratórios
mínimo.
são de mão-de-obra
e o desemprego
é
A única favela existente na cidade foi urbanizada.
o déficit
habitacional
estimado
falta de financiamentos
1991).
qualificada
Os apartamentos
é de 4 mil moradias,
para a aquisição
concentram-se
de imóveis (Exame Paulista
nas áreas centrais
mais caras, tanto para locação como para compra.
mais acessíveis.
principalmente
pela
n.4,
da cidade - as
As casas, contudo,
são
Novos bairros vão sendo criados, e também condomínios
fechados, apesar do mercado imobiliário local não ser muito dinâmico.
Em novembro do ano passado, foi concluída a primeira etapa de construção
do Parque Faber - que compreende
um condomínio
horizontal
de 240 lotes
residenciais
de alto padrão, e outro vertical, com mais de 40 lotes para uso
residencial,
comercial ou de serviços - numa antiga área de reflorestamento
da empresa FaberCastell,
situada a cerca de I km do centro da cidade.
O
investimento foi de cerca de 4,5 milhões de dólares.
É nesse parque também que vai ser construído o Shopping Iguatemi de São
Carlos, cuja inauguração
está prevista para o final de 1995.
Essa obra vai
atender às exigências da comunidade local, que se ressente muito da falta de
125
um shopping, que, principalmente no Interior, representa um dos mais
importantes centros de convívio social e lazer.
São Carlos tem uma população universitária de mais de 10 mil pessoas, que
se ressente da escassez de programas culturais; daí, a busca periódica de
lazer na Capital. Existem bares e restaurantes com preços bem -inferiores aos
de São Paulo, além de clubes sociais e um Parque Ecológico. A ampla
malha rodoviária permite o acesso fácil tanto aos centros urbanos mais
movimentados como aos lugares tranqüilos existentes em suas proximidades.
A rede hoteleira local deixa muito a desejar.
bastante.
O comércio vem crescendo
A base da inústria local é o setor metalúrgico, mas a indústria
têxtil também tem grande importância. É uma das mais importantes bacias
leiteiras dopaís > líder na produção de leite tipo B ., além de ter produtos
agrícolas importantes: laranja, cana-de-açúcar, tomate, frango, ovos, café,
soja e milho.
5.4. O Pólo de Campinas
A cidade de Campinas, com 846 mil habitantes, e distante 95 km da Capital pela via Anhangüera ., é mais um dos pólos tecnológicos do Estado doeSão
Paulo (Medeiros,
aproximadamente
1990; Medeiros et al., 1992).
Ali concentram-se
1.200 indústrias, em sua maiona microempresas,
setores: mecânico, metalúrgico, eletroeletrônico,
dos
material de transporte,
madeira e mobiliário, minerais não-metálicos, têxtil, vestuário, calçados,
126
alimentos, editorial e gráfica, química e petroquímica, e farmacêutica - em
1991, mais de 9% ~.aprodução industrial do Brasil.
o município,
hoje com feições típicas de uma metrópole, era, em 1860, o
maior produtor de café do Estado e o maior entroncamento ferroviário
brasileiro.
A
medida em que as terras da região foram sofrendo desgaste, a
cidade começou a desenvolver a atividade comercial, e depois a industrial,
que já era expressiva ao final do século, produzindo bens de consumo nãoduráveis, implementos agrícolas e peças para trens.
Campinas tem como traço marcante uma economia muito dinâmica, com
grande capacidade de diversificação,
transformações
(Semeghini,
à medida em que se verificam
nos padrões de acumulação que ocorreram no Brasil
1992a).
Existem três características
fundamentais
que a
diferenciam das outras regiões do Estado: 1) por sua base produtiva mais
diversificada, tanto na agricultura como nas atividades urbanas, alcançou
uma divisão social do trabalho mais .diferenciada e articulada, relações
mercantis de produção mais disseminadas e relações inter-setoriais
e
interregionais mais dinâmicas; 2) assumiu, a cada etapa do proceso de
acumulação, um papel central, de liderança, sobre regiões maiores e mais
ricas do Estado; 3) em vista disso, transformou-se na interface entre a
Capital e o Interior, no processo de desenvolvimento econômico de São
Paulo.
Em Campinas,
desenvolveram-se
atividades
urbanas
estimuladas
pela
expansão cafeeira: indústrias, comércio atacadista e varejista, e serviços.
Com a crise do café em 1929, Campinas se recicIa economicamente, e toma-
127
se um dos maiores produtores algodoeiros do Estado de São Paulo.
Nas
décadas de 30 e 40, ganham destaque as atividades do setor secundário e
terciário, em função da mudança no padrão de acumulação no sentido de
priorizar o mercado intemo.
Sua posição na rede urbana e de transportes
favorecia a expansão. Expandem-se as culturas do algodão, de alimentos, e
a pecuária. Grandes estabelecimentos agroprocessadores ali se estabelecem
na década de 40, e a cidade se torna o 20. núcleo manufatureiro do Estado.
Na
fase
da industrialização
pesada,
e
a implantação
de
grandes
estabelecimentos dos setores de bens de consumo duráveis, intermediários e
de capital, Campinas, a exemplo da Região Metropolitana, passa a atrair
considerável número de empresas.
Por sua proximidade à Capital, um parque industrial expressivo, bom sistema
de transportes e comunicações, e importante rede urbana, a região passa a
atrair grandes empresas dos setores mecânico, material de transporte,
material elétrico e de comunicações, reforçando o movimento iniciado nos
anos 50, quando se instalaram Singer, GE, Bosch, Clark, Rhodia etc.
Nos anos 70, essa atração se reforçou, pois é um processo cumulativo.
Acelera-se a urbanização, crescem e diversificam-se os serviços de apoio, e
cria-se um mercado de trabalho amplo.
O Estado acompanha esse
crescimento e o estimula, com investimentos de infra-estrutura, energia e
transportes - ampliação da malha rodoviária regional; também são realizados
investimentos produtivos, como a construção da Refinaria de Paulínia; e na
área de pesquisa e ensino, a cri ação da UNICAMP. Expandem-se também
consideravelmente
as
atividades
terciárias
(comércio,
transportes
e
128
comunicações, serviços pessoais, sociais e produtivos), acompanhando a
ampliação da base produtiva e o crescimento da população urbana.
A indústria local foi se diversificando,
a partir da modernização
da
agricultura e das políticas federal e estadual de desconcentração industrial.
A interiorização dos investimentos do governo federal, como o complexo
petroquímico de Paulinia e o CPqD da Telebrás em Campinas, aliada à ação
do governo estadual, construindo e recuperando estradas, e a consolidação
do pólo de ensino e pesquisa da UNICAMP, levaram à proliferação de
indústrias e à expansão do comércio e dos serviços na cidade (Exame
Paulista n.l, 1990). Foi decisiva para o processo de desenvolvimento da
região a vinculação entre a expansão da agroindústria provocada pelo
PROÁLCOOL e o crescimento do setor metal-mecânico.
Em 1989, o Estado de São Paulo concentrava 70% de toda a produção de alta
tecnologia do pais, sendo que 20% desse total estão nos institutos de
pesquisa e nas indústrias de Campinas (Eiesp/Ciesp Notícias, 1989).
A vocação de Campinas para a pesquisa é antiga: há mais de 100 anos, já
existia o Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Ali existem também
outros centros mais recentes, de renome na área agrícola, como: o Instituto
Tecnológico para Alimentos (ITAL), o Centro de Assistência Técnica
Integrada (CATI), o Instituto Biológico (IB), e a Pontificia Universidade
Católica de Campinas (PUCCAMP). Esta escola, criada em 1955, tem cerca
de 18 mil alunos, em 39 cursos (3 de pós-graduação).
129
A outra universidade existente em Campinas, e que se tornou a "âncora" do
pólo tecnológico é a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
construída em 1966, com uma filosofia acadêmica nova, essencialmente
voltada para a priorização das áreas de maior desenvolvimento tecnológico, e
para o contato permanente com o setor produtivo. Na tentativa de se ter uma
instituição de ensino e pesquisa de alto nível, foram contratados professores
e pesquisadores nacionais e estrangeiros, especializados nas mais diversas
áreas do conhecimento.
Na década de 70, ela contratou pesquisadores
doutorados no exterior, que haviam retomado
ao país e enfrentavam
barreiras político-ideológicas para serem admitidos na USP e em outras
universidades tradicionais.
Ela tem hoje aproximadamente 12 mil alunos (5 mil pós-graduandos), em 75
cursos (45 de pós-graduação).
A UNICAMP obteve financiamentos para a
montagem de laboratórios sofisticados, principalmente da área de Exatas.
Destacou-se pelas pesquisas de fibras óticas, pelo desenvolvimento pioneiro
do raio laser no Brasil.
Uma das principais vocações do pólo de Campinas é o triângulo físicatelecomunicações-informática (Medeiros, 1990; Medeiros et aI., 1992). Essa
vocação foi se definindo a partir da decisão do governo federal - visando o
apoio tecnológico da UNICAMP para sua política de telecomunicações - de
instalar, na cidade, em 1977, o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento
(CPqD) da Telebrás, empresa que atua nas áreas de telefonia, comunicações
por satélite, fibras óticas etc.
A UNICAMP e a Telebrás já haviam
trabalhado juntas, em 1973, desenvolvendo um programa de formação de
pessoal e de pesquisa de equipamentos básicos do setor de comunicações
130
digitais, e dotaram, assim, o Brasil de tecnologia própria nesse campo. Os
resultados obtidos a partir desse trabalho foram utilizados em computação,
automação industrial, telemática, microeletrônica, engenharia biomédica e
outros.
Além disso, a excelência da UNICAMP fez com que fosse .instalado, em
Campinas também, em 1984, o Centro Tecnológico para Informática (CTI),
vinculado à Secretaria Especial de Informática (SEI), que desenvolve e
transfere tecnologias na área de informática, microeletrônica, robótica e
automação.
Mais recentemente,
,
está sendo implantado o Laboratório
Nacional de Luz Síncroton (LNLS), vinculado ao CNPq, e que já atua em
pesquisa. Através de um equipamento gerador de intensa luz ultravioleta e
raios X, pode-se ver a estrutura dos materiais.
No pólo localiza-se também a Companhia de Desenvolvimento Tecnológico
(CODETEC), uma empresa privada, criada, em 1976, por iniciativa da
UNICAMP, da Secretaria de Tecnologia.Industrial do Ministério da Indústria
e Comércio, e de empresas que se tomaram acionistas para tomar possível a
existência
da companhia,
voltada
para
pesquisa
e desenvolvimento
tecnológico, e industrialização (Medeiros, 1990; Medeiros et aI., 1992).
Nascida no interior do campus universitário, a CODETEC tem, desde 1983,
sede própria, nas proximidades da UNICAMP, com a qual mantém íntima
vinculação.
tecnológica,
De 1978 a 1985, promoveu a criação de 5 empresas de base
no
microcomputadores,
ramo
de
geração
aplicações
de
calor
industriais
industrial
por
e
criogênicas,
gaseificadores,
informática e aquecimento solar. Depois de um período de crise, passou a
131
especializar-se
em química fina (fármacos, defensivos, corantes, aditivos etc)
e bíotecnologia,
mantendo hoje convênios com agências governamentais
Já deu origem à criação de mais de 50 indústrias
fomento.
de
(de pequeno,
médio e grande porte).
Todo esse potencial
tecnológico
um número crescente
de qualidade concentrado
na região atraiu
de indústrias ligadas a esses setores, como a ABC-
XTal (fibras óticas) e a Elebra (informática).
Um grupo de professores
intensiva
decidiram
da UNICAMP e profissionais
criar uma entidade para organizar
carecia de planejamento
colaboração
(Medeiros
et al., 1992).
o pólo, já que ele
Valeram-se,
da Prefeitura, que definiu um zoneamento,
fiscais, para acolher empresas nas proximidades
ligados à tecnologia
então, da
com leis e incentivos
das instituições
de pesquisa.
Em 1984, foi criado o programa Centro da Indústria e Apoio à Tecnologia de
Campinas
(CIATEC),
Desenvolvimento
mesma
sigla,
Prefeitura
que,
em ] 986,
transforma-se
do Pólo de Alta Tecnologia
CIATEC):
70% das ações
e 30% para a UNICAMP.
CIATEC: a UNICAMP,
a Prefeitura
na Companhia
de Campinas
da companhia
Foram
Municipal
parceiros
de
(utilizando
ficaram
para a
na criação
de Campinas,
a
da
o CPqD, a
Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e o CTI, com o apoio do Banco
de Desenvolvimento
do Estado de São Paulo (BADESP).
Decidiu-se pela divisão do pólo - abrangendo cerca de 7 milhões de m2 - em
2 áreas:
uma,
tecnológico,
ao lado do CTI, com as características
destinado
a abrigar
até 40 empresas;
de um parque
a outra,
englobando
132
instituições e empresas já existentes, e buscando definir novas formas de
ocupação e interação.
Segundo a pesquisa da CIATEC feita em 1991, a maior parte das empresas
localizadas no pólo é de pequeno porte (até 100 funcionários e só 5 são
grandes), quase a metade foi criada a partir de tecnologias .desenvolvidas
pela UNICAMP; mas cerca de 80% mantêm algum tipo de vinculação com as
universidades e/ou instituições de pesquisa, sendo que 63% nunca tiveram
financiamentos de espécie alguma (Medeiros et al., 1992).
Na década de 50, Campinas notabilizava-se,
ao lado de seus setores
produtivos, pelo desenvolvimento da infra-estrutura
de equipamentos e
serviços urbanos, e por seu padrão elevado de qualidade de vida (Semeghini,
1992a).
A grande expansão econômica dos anos 70 modificou as feições urbanas de
Campinas, transformando-a numa grande cidade.
Durante o período de extensão da "explosão urbana" para o Interior do
Estado, nas décadas de 70 e 80, Campinas surge como a principal cidade.
paulista depois da Capital, com dois complexos de dimensão nacional: um,
petroquímico,
em tomo
da Refinaria
de Paulínia;
e o outro,
de
microeletrônica, informática, em tomo dos centros de pesquisa ..
Ela é uma espécie de "porta de entrada" (Semeghini, 1992a, p.61) para o
Interior de São Paulo, com o mais importante nó de transportes
comunicações.
e
Nos anos 70, foi criado o Aeroporto Internacional de
133
Viracopos, que hoje é o lo. em movimento de cargas.
Possui um grande
shopping center; 2 estações de TV; um complexo de entrepostos
hipermercados
instalados ao longo dos eixos rodoviários,
consumidores
inclusive
de outros estados;
grandes
e
que atraem
bancos,
serviços
produtivos, equipamentos culturais, teatros, cinemas, clubes, ampla rede
hoteleira, restaurantes, bares.
Ao final da década, os sinais de transformação urbana se evidenciam:
deterioração dos serviços de educação, saneamento, habitação (favelização),
transportes.
Reforça-se o movimento de horizontalização e periferização,
com vazios urbanos destinados à especulação imobiliária.
o poder
público não conseguiu gerir o crescimento explosivo da cidade, a
partir da década de 70, o que ocasionou a quebra de seu padrão de
urbanização.
A localização das grandes indústrias, aliada à consolidação e expansão do
aeroporto de Viracopos e da implantação do Distrito Industrial de Campinas,
determinaram a ocupação periférica de baixa renda, seguindo o vetor
sudoeste, nas décadas de 50 e 60.
Além disso, contribuiu para isso a
construção de conjuntos habitacionais da COHAB.
Os fatores de indução ao novo vetor de crescimento norte-nordeste são: a
abertura da rodovia D.Pedro I, com a instalação de plantas industriais e
estabelecimentos comerciais de grande porte; a implantação da UNICAMP e
do loteamento da Cidade Universitária; a implantação da Refinaria do
Planalto e do pólo petroquímico a ela ligado (Semegbini, 1992a).
134
Os loteamentos
implantados
no eixo norte-nordeste
são, em sua maioria, de
médio e alto padrão, pois eram as terras mais produtivas do ponto de vista
agrícola.
Nos anos 80, novos loteamentos,
com conjuntos
habitacionais,
aparecem no sudoeste de Campinas.
A região é afetada por 2 movimentos de valorização do capital.imobiliário:
horizontalização
e o crescimento
periférico,
e a intensificação
a
do uso e
ocupação do solo.
Desconcentram-se
institucionais,
também
o
também
os
para áreas em volta do centro
assim, um "centro expandido",
cidade
comércio,
serviços
tradicional
e
os
- configura-se,
definido em lei de zoneamento
tem se verticalizado
bastante,
prédios
de 1988.
principalmente
A
nas áreas
centrais - tendência de adensamento do "centro expandido".
Na região de Campinas existe uma forte tendência
a um maior crescimento
industrial dos municípios de pequeno e médio porte, ficando Campinas com
especialização
no terciário (Semeghini,
1992a).
Campinas também tende a
reter a população de média e alta renda (cerca de 4 mil pessoas), enquanto os
de baixa renda fixam residência nos municípios vizinhos.
Renda per capita
da Região de Governo de Campinas em 1990 -7.732 dólares anuais (Azzoni,
1993).
migração
A falta de empregos,
dada a recessão,
de baixa renda em aumento
tende a transformar
da criminalidade.
essa
Os problemas
crescem em termos de degradação do meio ambiente.
Nos anos 80, aumentam os desequilíbrios
e a crise econômica
do pais.
sociais, com a redução do emprego
Três problemas
principais
ameaçam
as
135
condições de vida da população campinerra:
1) o aumento das carências
sociais, em função do desemprego e da ineficiência das políticas públicas
voltadas para esse campo; 2) a degradação do meio ambiente, especialmente
dos recursos hídricos: e 3) o estrangulamento na provisão de infra-estrutura,
principalmente, saneamento, habitação e transportes (Semeghini, 1992a).
136
CONCLUSÕES
Em vista do que foi exposto ao longo do trabalho, constata-se que,
efetivamente, os três municípios analisados - São José dos Campos, São
Carlos e Campinas - tinham as condições necessárias,
apontadas na
literatura, para atrair empresas de alta tecnologia.
Dentro do contexto mundial de reestruturação econômica, mudança no
padrão de acumulação e divisão internacional do trabalho, os governos
federal e estadual adotaram, no início da década de 70, políticas de
desconcentração industrial, da Região Metropolitana de São Paulo em
direção a outros estados brasileiros e ao Interior paulista.
As "deseconomias de aglomeração", o "caos urbano" da Grande São Paulo,
induziam as indústrias a buscar outros lugares para se instalar, levando em
conta os preços dos terrenos e da mão-de-obra, o congestionamento urbano,
a legislação ambiental etc.
Aos poucos,
8.
estrutura industrial do Interior vai sofrendo modificações e se
modernizando, e passa a incluir setores de grande complexidade, como
material de transporte, material elétrico e de comunicações, mecânica e
outros -jndústrias de tecnologia avançada.
Os conhecidos pólos tecnológicos do Interior paulista receberam parte dos
investimentos públicos realizados nessa época, que reforçaram as condições
favoráveis que eles já possuíam para atrair empresas desse tipo.
137
A1ém dos tradicionais
grandes
espaços),
surgimento
do
consumidor,
razoável
fatores de macrotocalização
que
capital
coincidem
e do
acumulação
infra-estrutura
com
regime
prévia
essas cidades apresentam
as próprias
capita1ista
de capitais.
de transportes
industrial
(escolha
condições
e comunicações)
fatores de microlocalização
para
(expressivo
mão-de-obra
de
o
mercado
abundante,
(Fundap,
(escolha
e
1980),
dentro de
grandes espaços) típicos das IATs.
A presença local de universidades
é o mais importante
e/ou institutos de pesquisa de alto padrão
desses fatores.
Os investimentos
nesse período buscaram criar ou potencializar
públicos realizados
esses centros de excelência,
de modo a levar as indústrias de tecnologia avançada a se instalarem em seu
entorno,
aproveitando
os
(cientistas, engenheiros)
recursos
humanos
de
elevada
qualificação
ali presentes, para intercâmbio de informações.
Todos esses municípios tinham porte médio - apesar de que, hoje, Campinas
é uma metrópole - e ficavam relativamente
próximos à Capital de São Paulo,
sendo que o acesso a ela era facilitado pela existência de uma infra-estrutura
adequada de transportes (rodovias, aeroportos etc) e de comunicações.
Seu grau de urbanização
girava, em 1991, ao redor de 95%.
conhecidos pela boa qualidade de vida, condição imprescindível
reter pessoal de nível de qualificação
serviços produtivos,
lazer, clima agradável, etc.
para atrair e
elevado: estabelecimentos
boas escolas, hospitais,
equipamentos
Eles eram
comerciais,
culturais
e de
138
Quanto
a capital
praticamente
de nsco,
entretanto,
inexiste em tais cidades.
o que se verifica
é que
ele
Algumas tentativas vêm sendo feitas,
pelo governo e por outras entidades, no sentido de atrair empresas de capital
de risco, que financiem pequenas indústrias nascentes de base tecnológica.
Recentemente,
o BNDESParticipações
(BNDESPru')
e a FINEP
. esforços nessa direção: vão participar como acionistas minoritários,
30% do capital
qualquer
das empresas
atividade
(Gazeta Mercantil,
produtiva
de investimento
que pretenda
de risco,
utilizar
uniram
com até
voltadas
para
tecnologia
de ponta
a alegação
de que a
1993).
Por outro lado, trata-se
de um apelo demagógico
presença de IATs numa cidade gera o desenvolvimento
região em seu entorno, e dai a preocupação
econômico de toda a
das municipalidades
em atraí-las
para seu território, a qualquer custo. Elas não geram efeitos multiplicadores
e crescimento
de
uma
equilibrado,
concentração
aproveitamento
mas sim, pelo contrário, a tendência é no sentido
cada
vez
maior
das
das economias de aglomeração,
empresas,
para
melhor
economias externas, que são
geradas.
o tamanho
das empresas presentes em cada um desses pólos varia bastante.
São José dos Campos, por exemplo, é marcado por grandes indústrias,
vez que se trata de um complexo aeroespacial
de investimentos
uma
e bélico, que, dado o volume
necessário e o prazo de maturação dos mesmos, impede a
entrada de pequenas firmas,
139
Entretanto,
coma
efetuadas
por
profissionais
recessão
empresas
dos últimos anos e as demissões
como
demitidos
a Embraer
e a Avibrás,
e com alta capacitação
buscaram adaptar-se à nova situação,
Voltaram-se,
pequenas empresas próprias, aproveitando
exemplo do que ocorre principalmente
científica
em massa
muitos
dos
e tecnológica,
então, para a criação de
nichos de mercado existentes,
a
em São Carlos, com os professores-
empreendedores.
Em todos
os tecnopôlos
estruturas organizacionais
analisados
existiu
uma preocupação
formais, entidades coordenadoras
em cnar
dos pólos, sob a
forma de fundações privadas, empresas, sociedades civis etc, para agilizar a
difusão
de informações
inovação tecnológica,
entre
os parceiros
envolvidos
no processo
inclusive o governo.
A esse último, cabe, segundo Medeiros (1992), desempenhar
de coadjuvante,
facilitando
de
estimulando
o acesso
apenas o papel
o surgimento de novos centros de excelência,
a incubadoras,
'Concedendo
incentivos
fiscais,
ou
abrindo linhas de capital de risco.
A participação
institutos
do Estado é extremamente
de pesquisa
Segundo C Quandt,
tecnologia
no Brasil
que dinamizaram.
a compreensão
modo,
responsáveis
não foram
à promoção
da pesquisa
de alta
científica
pelas elites locais.
de descentralização
pela formação e consolidação
e
são públicos.
dos complexos
de seus beneficios
as políticas
As universidades
esses municípios
do surgimento
está vinculada
através do Estado e a ínternalização
Desse
importante.
industrial
dos pólos tecnológicos,
as
mas sim
140
o interesse das empresas locais em privatizar os beneficios gerados pelas
universidades públicas (Silva, 1993).
Segundo Castells, o Estado na nova organização do espaço produtivo, tornase o "ordenador privilegiado do espaço em função dos interesses sociais
dominantes",
Sua ação manifesta-se de diversos modos, da criação de
distritos industriais à implantação de redes de transportes. Ele é "a base da
organização do espaço em seu conjunto" (1975, p.227).
Ao longo do tempo, a falta de planejamento, que caracteriza a formação dos
. "tecnopólos" paulistas, vem provocando o crescimento das carências sociais,
a insuficiência dos equipamentos e serviços urbanos (habitação, saneamento,
escolas, saúde, transporte etc), o que leva a uma paulatina deterioração da
qualidade de vida local
A renda per capita é bastante elevada em todos os três municípios
analisados. Ela atinge 10 mil dólares na região de São José dos Campos. A
maioria da. população é de classe média. O índice de mortalidade infantil
está abaixo da média, o que indica boas condições de saúde.
Entretanto,
verifica-se uma segregação espacial, que tende a aumentar com o decorrer
do tempo. Moradias de alto padrão são construídas em espaços privativos,
para os que têm maiores rendimentos, enquanto a população de baixa renda
vê-se obrigada a ocupar a periferia ou espaços deteriorados da cidade.
Na medida em que aglomerações de alta tecnologia tendem a apresentar uma
estrutura de empregos polarizada.
os que detêm o conhecimento,
as
141
informações,
recebem a maior parcela dos beneficios
que as IATs
proporcionam em termos de aumento de valor agregado.
As contradições urbanas vão aparecendo, cabendo, então, às autoridades
governamentais
tentar
solucioná-Ias
ou
minimizá-las.
para
garantir
condições de retenção do pessoal qualificado nesses municípios e de
continuidade do processo de acumulação local.
"O Estado não é somente um regulador econômico.
É, antes de tudo, wn
aparato político das classes dominantes, que deve estar atento a uma
conjuntura de exigências que podemos resumir segundo a dupla dialética da
dominação-regulação em relação às classes dominantes, e de repressãointegração quanto às classes dominadas,
Assim, a ordenação do espaço
produtivo pelo aparelho de Estado tem isso de específico: ser a transcrição
não só da lógica técnica e econômica do capital, mas dos interesses políticos
das classes dominantes em função da relação de forças em cada conjuntura"
(Castells, 1975, p.228).
.•
"Uma sociedade não é só um processo de reprodução.
É também
contradição e processo de transformação através da ação das classes que em
seu enfrentamento a constituem.
Não obstante, as mesmas tendências que
conduzem ao tipo de espaço esboçado geram contradições cada vez mais
profundas (Castells, 1975, p.231).
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AS INDÚSTRIAS .DEALTA TECNOLOGIA NO INTERIOR DE SÃO