.. 1199400687 '. i 1111111111111111111111111111111111111111 '-.~ -- --~- .~ .,,-, . AS INDÚSTRIAS .DE ALTA TECNOLOGIA NO INTERIOR SÃO PAULO:Um Estudosobre Fatores Locacionais ,.-.----I _.~--~--- '~ FG V • DE ---~-~-\ Fundaçiio GetulÕoVargas •.•. '.,~ Escola de Ad ministraçi.o ~ \. de Empresas de sse Paulo i.. ~, Blbliote(AII ~"'J .••••. ,-J" , v (J) <, I"- . CO UJ ,_~ __ I ..:.--11:.....:..9..:....9-.:..::40::..::0..=-68=-:.7 ~) Banca examinadora Prof. Orientador Pro f. Prof. _ ------------------ ~. " i ----.J" li FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS . ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO MARGARIDA KALEMKARIAN AS INDÚSTRIAS DE ALTA TECNOLOGIA NO INTERIOR DE SÃO PAULO: Um Estudo sobre Fatores Locacionais Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da FGV/EAESP Área de Concentração: Administração e Políticas Urbanas, como requisito para obtenção de título de mestre em Administração. Orientador: SÃO PAULO 1994 Prof. Ruben Cesar Keinert iii Margarida, As Indústrias de Alta Tecnologia no Interior de São Pau/o: Um Estudo sobre Fatores Locacionais, São Paulo, EAESP/FGV, 1994, 156p. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação da EAESP/FGV, Área de Concentração: Administração e Políticas Urbanas). KALEMKARIAN, Resumo: Trata do problema da localização de indústrias de alta tecnologia no Interior de São Paulo. Aborda a questão dos fatores que levaram à criação de pólos tecnológicos no Interior de São Paulo. Analisa as implicações sócio-econômicas dessas aglomerações. Palavras-Chaves: Indústrias de alta tecnologia - Pólos Tecnológicos Pós-fordismo - Flexibilidade - Localização Industrial - Desconcentração Industrial - Geografia Econômica - São José dos Campos - São Carlos Campinas - etc ... , o • _ ••• •••• __ ••• _ •• __ ••• •••• • ._ ••••• _ •• iv ÍNDICE INTRODUçAo 01 1. A Crise dos anos 70 e as Mudanças no Modo de Produção Capitalista 1.1. O Cenário Internacional.. 1.2. A Reestruturação Econômica 1.3. A Quase Integração Vertical.. 08 08 11 ··· 17 : 2. Os Novos Espaços de Crcscimento........ 22 3. As Indústrias de Alta Tecnologia e sua Localização...................... 3.1. As Teorias de Localização 3.1.1. As Teorias Estáticas de Localização 3.1.2. As Teorias Dinâmicas de Localização 3.2. Os Fatores Locacionais das Indústrias de Alta Tecnologia.... 3.2.1. Dois Exemplos Americanos 3.2.1.1. O Silicon Valley 3.2.1.2. A Route 128 3.2.1.3. Comparações com o Caso Francês 4. A Distribuição Espacial das Indústrias em São Paulo.... 4.1. Os Primórdios da Industrialização Paulista 4.2. O Período de 1930-55 4.3. O Período de 1956-70 ':' 4.4. A Década de 70 4.5. A Situação Recente 5. A Formação de "Tecnopólos" no Interior Paulista 5.1. Considerações Preliminares 5.2. O Pólo de São José dos Campos 5.3. O Pólo de São Carlos 5.4. O Pólo de Campinas 28 · 28 28 37 43 ·..48 48 54 55 58 58 ·..· 60 ·.. 65 ··· ·· .. 71 ······· 88 ·· ·· 98 ·..· 98 l00 ·..··.. · 115 ·..·· .. · 125 CONCLUSÕES 136 BIBLIOGRAFIA 142 INTRODUÇÃO A partir dos anos 70~ o capitalismo reestruturação a nível mundial, começa a passar por um processo de em razão da crise que vinha enfrentando desde o final da década anterior. w '.\ o aumento per ca.pita leva à desaceleração na relação capital fixo/produto dos ganhos de produtividade obtidos após a 2a. Guerra através de métodos tayloristas de trabalho e gera uma crise de oferta - queda na lucratividade capital. Os altos salários e a mobilização dos trabalhadores, saturação do mercado e o aumento da competição maior descentralização . espacial e intemacionalização Em vista disso, reduzem-se os investimentos, acaba pressionando sociais conquistados pelos trabalhadores ao lado da induzem à internacional, da produção. L e aumenta o desemprego, os governos, e dificultando a manutenção do o que dos beneficios com o modo de regulação social baseado em políticas keynesianas, o Estado do Bem-Estar. Por sua vez, internacionalização o crescente financeira, de políticas monetaristas, conseqüentemente, endividamento público, gera pressões inflacionárias facilitado pela e leva à adoção que provocam estagnação econômica, recessão, e, uma crise de demanda, provocada pela compressão dos salários . . ~. Trata-se, segundo os pesquisadores da Escola de Regulação crise do próprio modelo de desenvolvimento dominante francesa, no pós-guerra, da o 2 fordismo, caracterizado pela "produção em massa", que leva à emergência de um novo regime de acumulação do capital, marcado, acima de tudo, pela flexibilidade - o pôs-fordtsmo. Nesse período, ocorrem grandes avanços tecnológicos, principalmente nas áreas de telecomunicações, microeletrônica e informática, que. possibilitam, ao lado da flexibilidade de equipamentos e processos de produção, a internacionalização da atividade produtiva, uma nova divisão internacional do trabalho. A semelhança dos padrões de industrialização nas diferentes partes do mundo permitia selecionar o local mais adequado Pat:a a fabricação de um determinado produto, em função, por exemplo, do preço das matériasprimas, da maior exploração da mão-de-obra, de legislação ambiental menos restritiva, ou de outros fatores importantes para um dado gênero industrial. Essa reorganização espacial das atividades produtivas leva ao surgimento tanto em países avançados como naqueles em desenvolvimento - de "novos espaços de crescimento", os quais têm sido objeto de estudo principalmente de geógrafos, sociólogos, economistas, de várias partes do mundo. Um desses espaços apontados nas análises são as grandes metrópoles, que se tornam centros especializados em atividades terciárias mais complexas (as "cidades mundiais", como Londres, Nova Iorque e Tóquio). O outro diz respeito às cidades ligadas a setores industriais tradicionais de base artesanal, que passam por um processo de revitalização, de modernização, como a "Terceira Itália", 3 o terceiro tipo são os centros de pesquisa e alta tecnologia, as "novíssimas paisagens industriais" (Vale do Silicio, Rodovia 128), cujas especificidades constituem a preocupação central do presente trabalho, uma vez que elas geram produtos de alto valor agregado e apresentam-se para muitos como uma das soluções para corrigir desigualdades regionais. Como ocorrem as aglomerações de indústrias de alta tecnologia? Quais os fatores que as levam a se fixar numa determinada localidade? Em que medida esses fatores se assemelham ou diferenciam dos fatores clássicos de localização industrial? Quais os impactos sócio-econômicos que elas geram nas comunidades locais? Até que ponto proporcionam um desenvolvimento econômico equilibrado? Qual a participação do Estado nesse processo? Quais os outros agentes de importância? São essas as principais questões que se pretende responder ao longo dessa dissertação, com base na análise de 3 casos concretos ocorridos no Interior do Estado de São Paulo - os dos municipios de São José dos Campos, São Carlos e Campinas, conhecidos como os mais importantes pólos tecnológicos paulistas. A hipótese central dessa dissertação é a de que as transformações ocorridas na distribuição espacial das indústrias no Estado de São Paulo, a partir de 1970, foram uma conseqüência da reestruturação econômica internacional. Uma dessas transformações foi o surgimento de pólos de alta tecnologia no Interior, em lugares que apresentavam os atrativos essenciais exigidos para a localização de indústrias high tech. 4 Foram de grande importância pólos tecnológicos, para a consolidação os investimentos desses muncípios realizados principalmente federal, com o objetivo de interiorizar o desenvolvimento, como pelo governo e desconcentrar as indústrias da Grande São Paulo. Através da criação de centros de pesquisa e universidades Interior do Estado, que formaram uma mão-de-obra (cientistas, engenheiros, técnicos), de. alto nível no de elevada qualificação e se tornaram centros de excelência em pesquisas nos setores de tecnologia avançada, como: mecânica de precisão, informática, telecomunicações, óptica, química fina etc, o governo reforçou as condições favoráveis que determinadas regiões já apresentavam para atrair empresas vinculadas a essas áreas. Entretanto, passaram ao lado do crescimento a desfrutar, constata-se econômico que que a ausência adequado por parte das municipalidades esses municípios de um planejamento locais, provocou, com o passar do tempo, o surgimento de carências sociais, no que se refere à infra-estrutura de equipamentos e serviços urbanos. A ênfase na mão-de-obra tecnologia. qualificada, que caracteriza reforça a tendência à polarização suas conseqüências, as indústrias de alta social, que tem como uma de a segregação espacial da população de menor renda, a sua exclusão dos beneficios que essas indústrias trazem a uma cidade. Aos poucos, verifica-se uma deterioração habitacional, problemas de transporte, saúde, aumento da criminalidade da qualidade de vida local - déficit saneamento, poluição, educação e etc -, que o poder local tenta solucionar ou 5 minimizar, para garantir o "ambiente urbano agradável", necessário à retenção da mão-de-obra de alto nível. No que se refere à metodologia da pesquisa, tem-se que o trabalho dividido em duas partes: uma, teórica, e a outra, empírica. abrange os três bibliográfico capítulos levantado pressupostos iniciais, a respeito foi feita do assunto, com A primeira, que base, em valendo foi material ressaltar que os teóricos citados no trabalho sobre os fatores de localização alta tecnologia, em sua maioria, das indústrias de fundamentam-se em publicações estrangeiras - americanas, inglesas e francesas -, uma vez que se trata de um tema ainda pouco abordado por autores brasileiros. Por sua vez, a segunda parte, que corresponde baseia-se em dados estatísticos secundários, à pesquisa propriamente extraídos dita, de livros e revistas técnicas mencionadas na bibliografia e também em informações obtidas junto a institutos de pesquisa oficiais, como o SEADE e o IBGE. Contudo, em razão desse último não haver divulgado, até a data de entrega da dissertação, importantes os resultados do Censo variáveis dos municípios, Demográfico 1991 referentes que poderiam fornecer um perfil mais atualizado e completo a respeito de suas condições sócio-econômicas por exemplo: o grau de instrução a da população, ocupação por setor de atividade, características rendimento dos domicílios, (como, mensal, condição de ocupação etc), o trabalho limitou-se a utilizar as informações mais antigas do IBGE, comparando-as peródicos e jornais, características com outras apenas do cenário atual. com mais recentes, a finalidade publicadas de apontar em outros algumas 6 o trabalho desenvolve-se em 5 etapas. No Capítulo 1, analisam-se os principais fatores que onginaram a cnse mundial dos anos 70, e as alterações que ocorreram a partir daí, no que diz respeito ao modo de produção capitalista: a flexibilidade dos produtos e dos processos produtivos, a nova relação capital-trabalho, a intervenção do Estado etc. o fordismo, a "produção em massa", cede lugar ao pós-fordismo, à produção flexível. Segundo a abordagem regulacionista, um novo paradigma industrial, um novo regime de acumulação e um novo modo de regulação, entram em vigor. Novas configurações espaciais também delineiam-se em função da combinação de elementos predominante na região. o Capítulo 2 preocupa-se em apontar, ainda que de modo superficial, a visão de diferentes autores sobre os "novos espaços de crescimento", que ganham destaque a partir da reestruturação. o Capitulo 3, por sua vez, detém-se essencialmente na questão dos fatores locacionais da indústria. Inicialmente são destacados os fatores de atração apontados nas principais teorias clássicas da localização, e, a seguir, procura-se enfatizar as especificidades que caracterizam a implantação de indústrias de alta tecnologia em uma determinada região. o Capítulo 4 recupera um pouco da história da industrialização paulista, identificando as transformações ocorridas na distribuição espacial das 7 indústrias em São Paulo, e associando-as, sempre que possível, aos fatores que levaram a essas novas configurações do espaço. Finalmente, no Capítulo 5, são analisados os condicionantes da formação dos mais importantes pólos tecnológicos paulistas - São José dos Campos, São Carlos e Campinas -, e algumas das conseqüências que a concentração de indústrias de alta tecnologia trouxe para as comunidades locais. 8 1. A CRISE DOS ANOS 70 E AS MUDANÇAS NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA 1.1. O Cenário Internacional Os primeiros sinais de esgotamento do "boom" econômico do pós-guerra fazem-se sentir em diversas partes do mundo já ao final da década de 60. Novas realidades, históricas e geográficas, do capitalismo contemporâneo surgem a partir de então (Scott e Storper, 1986a), Relembrando alguns acontecimentos da época, tem-se que os Estados Unidos, preocupados em manter sua posição como potência hegemônica e em conter os avanços do comunismo na Europa, adotaram, em 1947, o Plano Marshall, concedendo recursos para a reconstrução européia e criando as condições necessárias para o acelerado crescimento industrial dos principais países europeus e do Japão, especialmente após a 2a. metade dos anos 50. Essa cooperação incluía: estímulos à gradativa redução das barreiras comerciais entre os países do continente europeu, para maior integração entre eles; permissão para significativas desvalorizações de suas moedas frente ao dólar, que era o meio de pagamento internacional; abertura do mercado americano para os produtos de europeus e japoneses, sem exigir, em contrapartida, a não-discriminação dos produtos americanos em seus países; e atualização tecnológica proporcionada pelos Estados Unidos (Teixeira e Rocha Miranda, 1992). 9 Em vista disso, tais economias puderam aumentar sensivelmente sua produção manufatureira, melhorar sua produtividade, ampliar seu comércio exterior e suas reservas internacionais, ao contrário da economia nacional americana, que ia perdendo sua posição relativa e a competitividade de seus produtos, ampliando seus déficits fiscal e do balanço de pagamentos, graças à tática do governo de manter a liquidez internacional através da supervalorização artificial do dólar. Os principais fatores que determinaram, nas décadas de 50 e 60, a evolução subseqüente da economia internacional foram: 1) a eliminação de obstáculos ao movimento de capitais e à conversibilidade das moedas, posta em prática pelos governos europeus face à intensificação crescente da concorrência intercapitalista mundial; 2) a generalização dos padrões de industrialização de todos os países do mundo, que tomam-se muito similares; e 3) as mudanças institucionais efetuadas pelo governo americano, que, sem condições de continuar mantendo a liquidez internacional através de ajustes monetários e cambiais, permitiu a expansão de seus bancos privados para o exterior, integrando-os ao circuito internacionalizado e dando-lhes condições para financiar a ampliação da produção "cdo comércio de outros países, sem o controle dos instrumentos tradicionais de política econômica utilizados por seus bancos centrais (Teixeira e Rocha Miranda, 1992). Nota-se, então, que, em função da intensificação da acumulação de capital, ocorre paulatinamente um extravasamento dessa acumulação para além das fronteiras nacionais - a transnacionalização global do sistema capitalista (Rattner, 1984) - sob a forma do conglomerado multinacional, para o qual perde importância a questão da integração vertical, interessando-lhe apenas o 10 fato de suas empresas, independentemente do setor de atuação, proporcionarem taxas de retomo de capital superiores às médias nacionais. Para atingir esse objetivo, não existe uma preocupação com as limitações impostas à expansão de uma economia nacional, pois o espaço econômico do conglomerado é o mundo todo, e em função de suas necessidades determina a forma de organização de sua produção, de seu comércio, de suas finanças, com uma visão global grandemente facilitada e/ou melhorada em função dos avanços tecnológicos na área das telecomunicações, microeletrônica e informática, ocorridos nos últimos 20 anos. Novas tecnologias de processo e de produto são desenvolvidas para melhorar a produtividade. o capitalismo industrial reorganiza-se através da internacionalização financeira, o que favorece o forte endividamento externo de empresas e governos para sustentar o crescimento da produção. Assim sendo, a partir do momento em que começam a despontar, no início dos anos 70, problemas de saturação do mercado de bens duráveis, com uma conseqüente queda da lucratividade, rentabilidade do capital, indicando a necessidade de mudanças estruturais no padrão industrial vigente, a crise monetária atinge âmbito internacional, agravando-se ainda mais com os choques do petróleo. A redução da produção e da produtividade, com o aumento da capacidade ociosa, os altos custos financeiros da dívida externa, geram atitudes e medidas de cunho recessivo, pressões inflacionárias, diferentes partes do mundo capitalista. desemprego, nas 11 Dentro desse cenário internacional desfavorável, o "capitalismo provou ser mais tecnicamente dinâmico e socialmente criativo do que foi antecipado na teoria marxista da crise" (Scott e Storper, 1986a, p.9). A queda da taxa de lucro foi detida através da utilização de tecnologias poupadoras de capital, do barateamento das matérias-primas, do aumento da taxa de exploração da mão-de-obra, possibilitados peja extensiva e intensa internacionalização das relações econômicas e sociais. Já ao final dos anos 60, ocorria transferência de capital fixo para, a produção de bens de exportação em países da América Latina e nos NICs (New Industrialized Countries) asiáticos. Além disso, essas nações deixaram de ser apenas reservas de mão-de-obra barata, para desenvolverem atividades industriais cada vez mais complexas. 1.2. A Reestruturação Econômica As novas realidades históricas do capitalismo levam a novas realidades geográficas. O capitalismo industrial reorganiza-se locacionalmente, redistribuindo no espaço a produção, os investimentos, a força de trabalho, para melhorar a rentabilidade do capital, e originando, em conseqüência disso, transformações no processo urbano e regional dos países envolvidos. A difusão do processo de produção - fábrica difusa, isto é, com várias plantas - por diferentes áreas, reduz o risco de bloqueios numa determinada planta industrial ou numa dada região, ampliando sensivelmente o poder de barganha dos empresários capitalistas junto aos trabalhadores e governos. 12 Novas relações capital-trabalho são adotadas com a internacionalização, envolvendo ataques sistemáticos ao Estado do Bem-Estar. Pressões externas - de economias avançadas - são exercidas sobre todos os países, para modificação nas relações sociais de produção e nas políticas econômicas. estatais, com vistas a ampliar, por meio das inovações tecnológicas, os fluxos interdependentes de mercadorias, mão-de-obra e capital. Trata-se de uma nova forma de produção - baseada na informação e no conhecimento ~ dentro do modo de produção capitalista, e de uma nova forma de organização social (Castells, 1986). Relacionando os principais aspectos do novo modelo econômico vigente a partir de 70, Castells menciona essa crescente internacionalização economia capitalista e seus efeitos, ou seja, a interdependência da das economias nacionais no que diz respeito aos processos de produção, à mãode-obra, ao capital, aos mercados; ressalta, também, que, ao tentar reduzir a inflação, o setor público - especificamente o caso americano - efetua cortes orçamentários nas despesas com fins sociais, investindo expressivamente na área militar, tanto para ampliar o mercado industrial, como para se afirmar como potência mundial. Finalmente, enfatizá a questão da redução crescente dos custos da força de trabalho, através da diminuição do número de empregos - provocada pela automação-, dos salários, dos beneficios sociais, para aumentar a 13 produtividade e os lucros, e desrespeitando os contratos sociais firmados após a Grande Depressão de 30. Como conseqüência desse processo de internacionalização da economia, verifica-se a gradativa reorganização das economias nacionais e de sua estrutura espacial - uma divisão territorial do trabalho -, principalmente nos países menos desenvolvidos ou de recente industrialização. Conforme o setor de atividade predominante, a posição na rede de trocas, a função que uma determinada região desempenha na hierarquia da divisão internacional do trabalho, ela tende a apresentar uma dada dinâmica espacial; esse modelo baseia-se no crescimento polarizado, no desenvolvimento seletivo. Na medida em que as novas tecnologias de comunicações permitem a separação espacial das unidades de produção, favorecem o aparecimento e/ou fortalecimento de desigualdades entre as regiões, e o desequilíbrio de sua estrutura espacial. Castells fala de um "espaço de geometria variável" (1986, p.22), que obedece às determinações dos grandes conglomerados transnacionais e dos estados "desenvolvimentistas", e não às características históricas e sociais de cidades e regiões, que a.cabam perdendo, em grande medida, o poder de decisão sobre seus destinos. 14 Trata-se, então, de um "espaço de fluxos" (Castells, localidades, que não leva especificidades os processos sociais e as culturais de uma determinada cidade ou região. Essa configuração sócio-econômica movimentos em consideração 1986, p.22), e não de espacial determinada pelo processo de reestruturação pode, contudo, ser alterada a partir da intensificação dos sociais locais, exigências de classe, da conjugação de forças da comunidade, dos cidades/regiões, Um estudo D.Leborgne e dos governos de determinadas para impor projetos alternativos de desenvolvimento. mais pesquisadores trabalhadores detalhado ligados (1988), a respeito à Escola ao analisar de do assunto Regulação o pós ...fordismo é realizado francesa, por 2 A.Lipietz e seu espaço. e Nesse trabalho, eles procuram mostrar que a nova geografia humana e econômica mundial é conseqüência da crise do modelo de desenvolvimento não somente da introdução de mudanças tecnológicas fordista, e ou de alterações nas relações de produção. Um modelo de desenvolvimento, dizem os autores, articulados entre si: "uma forma de organização industrial), uma estrutura macroeconômica conjunto regulação), de normas e regras (um regime de acumulação), institucionais (um modo um de entre capitais etc" 1988, p.12), além de uma configuração Assim, baseado num determinado 3 aspectos do trabalho (um paradigma no que toca à relação salarial, à concorrência (Lipietz e Leborgne, aceitável. implícitas envolve internacional paradigma industrial, modo de regulação social leva a um certo regime de acumulação. um dado 15 Comumente atribui-se ao "subconsumo" a crise dos anos 70, alegando-se que a estagnação do mercado de bens duráveis, provocada pelo acirramento da concorrência internacional, teria sido a responsável pela crise da "produção em massa", isto é, do modelo fordista. Lipietz e Leborgne (1988) dão outra explicação ao fato: -o paradigma industrial vigente, baseado em princípios tayloristas, com a rígida separação entre concepção (engenheiros e técnicos da área de O & M) e execução manual (trabalhadores diretamente ligados à produção), e a padronização dos gestos de operação das máquinas (dispositivos automáticos determinavam quais eram e quanto tempo deveriam levar as operações desejadas), para aumentar a produção e reduzir a ociosidade dos trabalhadores, apresentavase em crise, com queda crescente da produtividade. Ao invés de se tentar adotar novas técnicas que aproveitassem a inteligência, a experiência e a criatividade dos trabalhadores da fábrica, investia-se apenas em novos equipamentos, o que, significava um aumento cada vez maior na relação capital fixo/produto per capita. Apesar do engajamento inconsciente e paradoxal desses trabalhadores - ao evitarem panes e superarem obstáculos ocorridos durante a produção - ser percebido por engenheiros e chefes de oficina, não se demonstrava nenhuma preocupação em reconhecer a importância do seu engajamento consciente, em razão do poder que ele poderia representar para os trabalhadores. Essa situação leva gradativamente à queda da lucratividade, e, a seguir, da taxa de acumulação. Com o intuito de superar a crise que ia ganhando 16 proporções expressivas, maciça da produção, austeridade, os empresários enquanto geradoras partem para a internacionalização que o Estado passa a adotar políticas de desemprego e contrárias às determinações de do Estado do Bem-Estar. Instala-se, assim, uma "crise de demanda" (Lipietz e Leborgne, em função dessa internacionalização o choque 1988, p.16), e da queda do poder aquisitivo. monetarista é aplicado com o objetivo de acabar com o modelo de desenvolvimento fordista, através de uma série de medidas respeito tanto ao seu modo de regulação - desindexação nas despesas com a seguridade social, restrições que dizem dos salários, corte creditícias ., como ao seu regime de acumulação - redução do consumo de massas, aumento dos lucros e dos salários mais elevados, poupança e investimentos paradigma industrtal - indução à incorporação meio de sobrevivência Paulatinamente, de novas tecnologias, como das indústrias. vão surgindo novas possibilidades de organização industrial. Os avanços da eletrônica permitem a flexibilidade isso, a flexibilidade -, e ao seu da própria produção. dos equipamentos, e, com O ciclo de vida dos equipamentos toma-se muito superior ao dos produtos, uma vez que pequenas alterações, inclusive operações automáticas, viabilizam a sua imediata e à fabricação de diferentes medida a ociosidade e a obsolescência A flexibilidade concebidos produtos, de módulos, reduzindo a diferentes em grande das máquinas. requer séries curtas de produção. na forma adaptação e, graças Assim, os produtos à automação, podem são ser 17 fabricados de uma maneira padronizada, com alta precisão, e montados por subconjuntos. Por outro lado, a gestão por fluxos (Just-in-Time), realizada através de computadores que agilizam a coleta e a troca de informações, permite a adequação da produção e dos estoques à demanda, aproximando a concepção da execução. As modificações que vão sendo introduzidas exigem maior engajamento e qualificação .•treinamento, atualização - dos operadores, para efetuar ajustes permanentes e a manutenção dos equipamentos, e contribuir com seu saber para a melhoria dos hardwares e softwares utilizados. Conhecimentos especializados envolvendo a aplicação de novas tecnologias passam a ser amplamente difundidos com a automação, não mais permanecendo restritos aos núcleos das grandes empresas, mas, ao contrário, disseminando-se e transformando-se em ramos de atividade específicos, como é o caso da produção de softwares. 1.3. A Quase Integração Vert.ical As diversas etapas, ou módulos, do processo de trabalho tomam-se crescentemente I' extemalizáveis sendo mais imprescindível ff, por meio de firmas especializadas, não a integração vertical das empresas. Essa desverticalização das grandes empresas em redes de firmas especializadas representa uma partilha dos riscos que a instabilidade da conjuntura 18 internacional atual e a gradativa redução do ciclo de vida dos produtos oferecem aos altos investimentos em P&D e às vultosas imobilizações em capital fixo efetuados pelas grandes empresas, o que não implica na perda do controle do processo por parte dessas, ou a desconcentração de seu poder. Elas usufruem das vantagens de uma integração vertical - baixo custo das transações, gestão por fluxos, flexibilidade da política global - e da desintegração vertical - capacidade inovadora das subcontratadas, exigência de qualidade, partilha dos riscos. Trata-se, segundo Lipietz e Leborgne, de uma Quase Integração Vertical (QIV), que eles assim caracterizam: "relações estáveis entre fornecedores e clientes; uma importante participação do cliente no volume de negócios do fornecedor; um campo de subcontratação extenso, indo da concepção à comercialização; formas não mercantis de relações inter-firmas, indo da subordinação à parceria" (Lipietz e Leborgne, 1988, p.23). Essa QIV pode ser: a) territorialmente desintegrada,isto é, as firmas especializadas que participam da rede estão localizadas fora do território nacional, o que dificulta a difusão interna das inovações tecnológicas às indústrias; ou, b) territorialmente integrada, quando as firmas especializadas estão no próprio país - ou até, na cidade/região - da firma principal, gerando efeitos macroeconômicos multiplicadores e aceleradores, produto da ampla troca de informações entre as empresas nele situadas. Com base, principalmente, na análise das características da organização industrial, como por exemplo, do tipo de relações profissionais (polarização 19 nas qualificações ou engajamento, com negociação individual ou coletiva dos trabalhadores) e de contrato de trabalho (rígido ou flexível), além da forma de QIV predominante (territorialmente integrada ou não), Lipietz e Leborgne (1988, p.20 e 21) apontam os principais modelos de desenvolvimento em curso na atualidade (neotaylorista, caJiforniano e satumiano, segundo a denominação dos autores). fazem projeções e especulam sobre as conseqüências espaciais, caso um deles venha a prevalecer sobre os demais no futuro. Assim, verifica-se, com o neotaylorismo, o aprofundamento dos princípios tayloristas, a ampliação da automação, com elevação da composição do capital, e uma QIV teritorialmente desintegrada, segundo os níveis de qualificação: nos "centros nodais" das metrópoles, em torno das firmas principais, permanecem as empresas subcontratadas desempenhando as tarefas de nível superior (P&D, concepção, finanças e serviços mais complexos às empresas), enquanto que haveria uma dispersão de estabelecimentos especializados desqualificados, com baixos salários, pelas zonas periféricas, rurais, ou em "áreas produtivas especializadas" (Lipietz e Leborgne, 1988, p.24), monos setoriais, criadas com vistas à exportação, e fracas ligações interfirmas, e onde os trabalhadores, engajados e com contratos flexíveis, mantêm contatos limitados com as comunidades locais preexistentes. o modelo californiano, por outro lado, envolve o engajamento individual dos trabalhadores, .através de incentivos salariais, promoções, ameaças de demissão etc, o que lhe proporciona uma maior flexibilidade no que se refere à força de trabalho, exigindo-lhe menor intensividade em capital. 20 Ele se caracteriza pelo predomínio de uma QIV territorialmente desintegrada, com exceção das tarefas que exigem qualificação profissional e interfaces diretas, que tendem a se localizar em zonas denominadas "sistemas produtivos locais" (Lipietz e Leborgne, 1988, p.25), também monossetoriais, voltadas para o mercado externo, e onde ocorre uma intensa integração territorial entre as firmas intra-setorialmente especializadas (uma QIV entre essas firmas), que já apresentavam provavelmente uma qualificação profissional anterior. Finalmente, o modelo saturniano de desenvolvimento combina engajamento coletivo, flexibilidade e contrato rígido. Com maior segurança em relação ao emprego, aos salários, os trabalhadores apresentam um grau de engajamento tal que acaba gerando melhorias na produtividade e na qualidade dos produtos, sem a necessidade de maiores investimentos em capital fixo. Esse engajamento, mencionados, diferentemente envolve negociações do que ocorre nos modelos coletivas, não apenas referentes já a aspectos mercantis, mas também a melhores condições de trabalho, redução de jornada etc. As relações profissionais no interior das empresas têm por base a qualificação e a cooperação. A QIV ocorre por meio de parcerias entre firmas, sindicatos, universidades e governos locais, levando ao surgimento de "áreas-sistemas", (Lipietz e Leborgne, integradas, 1988, p.25) ou melhor, redes territorialmente multissetoriais, de firmas contratantes e firmas especializadas. O saber social é amplamente difundido entre as diferentes atividades econômicas e 21 por toda a sociedade, possibilitando a promoção social em larga escala, sem dualismo. Dessa forma, constrói-se wna "flexibilidade ofensiva" (Lipietz e Leborgne, 1988, p.26), que permite auferir maiores vantagens econômicas e sociais das novas tecnologias, com a participação de todos, e não "defensiva", de destruição dos acordos firmados entre capital e trabalho. Esse é, segundo Lipietz e Leborgne (l988), o modelo que demonstra maiores possibilidades de sucesso, apesar de poder ser uma mistura dos três. 22 2. OS NOVOS ESPAÇOS DE CRESCIMENTO As conseqüências espaciais das alterações que ocorreram nos anos 80, nos principais países do mundo, na dinâmica da acumulação capitalista são também objeto de análise de Nicos Komninos (1992). Os "novos centros de crescimento pós-fordista" (1992, p.218) são classificados de formas variadas, conforme os critérios adotados pelos estudiosos do assunto. Assim sendo, Scott e Storper, por exemplo, subdividem esses espaços em: novos centros de alta tecnologia (Silicon Valley, Orange County, Route 128, Dallas Fort Worth, o eixo Cambridge-Reading-Bristol, a cidade científica de Paris-Sul, Grenoble, Toulouse, Sophia-Antipolis, o sul da Baviera); centros revitalizados de produção artesanal (a "Terceira Itália"): e centros de grande crescimento de atividades terciárias (Londres, Nova Iorque, Tóquio). Por sua vez, Komninos (1992, p.219) aponta como principais tipos dos novos espaços europeus: "1) as metrópoles em reestruturação; 2) os novos espaços da pesquisa e da alta tecnologia; e 3) as cidades e comunas de especialização flexível", cada qual com características geográficas e relações internas particulares. Referindo-se, inicialmente, a metrópoles como: Turim, Grenoble, Toulouse, Munique e as cidades da Escócia central, com uma tradição taylorista ou fordista, constata tanto a implantação de novas atividades de tecnologia avançada, como a modernização de indústrias tradicionais, favorecendo um 23 grande número de pequenas e médias empresas subcontratadas altamente qualificadas. o desenvolvimento é promovido pela ação "harmônica" empresários e organizações sindicais. de grandes Verificam-se modificações nas prioridades da educação, nos modelos de consumo, na própria .estrattficação social, e não apenas no sistema de produção. Estabelecem-se vínculos de cooperação entre pesquisa e produção dentro da empresa, e competição entre as empresas. Quanto aos centros de pesquisa e de alta tecnologia - alguns exemplos dos quais são Cambridge, Montpellier, Rennes-Atalante, Sophia-Antipolis ., Komninos (1992) atribui seu surgimento à intervenção do Estado, às coletividades locais e à orientação empresarial das universidades. o Estado subvenciona a P&D e busca restabelecer a concorrência através de redes de cooperação produtiva e alianças estratégicas. As coletividades locais tentam ampliar o número de empregos, investindo em infra-estrutura e na criação de centros empresariais. As universidades visam à criação de parques científicos, dando uma utilização rentável a terrenos disponíveis. A separação entre a pesquisa e a produção nesses locais mostra que a cooperação "externa" entre ambas é tão eficaz quanto à que ocorre no interior das empresas. Existe grande proliferação de atividades terciárias, pesquisa e serviços, além de atividades industriais ligeiras. 24 Esses espaços diferenciam-se dos demais devido ao fato de terem sido criados graças a uma iniciativa pública, do governo central, das universidades e dos governos locais. o 30. tipo citado por Komninos (1992), as comunas de especialização :flexível (distritos industriais), está presente na "Terceira Itália" principalmente, e tem as seguintes características: "concentração espacial de pequenas e médias empresas que se especializam em diferentes fases de uma mesma produção; estrutura social específica, empresários, artesãos e trabalhadores composta por pequenos qualificados; altas remunerações; grande especialização e flexibilidade; tecnologia avançada e capacidade de inovação; e múltiplas relações de confiança, cooperação, divisão organizada do trabalho" (Komninos, 1992, p.221). Existe uma atuação conjunta da comunidade no sentido de manter a propriedade e a sobrevivência de pequenas e médias empresas. A cooperação flexível desenvolve-se em setores tradicionais: têxtil, vestuário, produtos de couro, móveis, cerâmicas, instrumentos musicais e outros. Assim, verifica-se que a formação de novos espaços de crescimento varia em função da história de cada região, das relações de cooperação produtiva e dos modos de intervenção do Estado. Apesar disso, existem algumas tendências em direção à convergência, tais como: o surgimento de um sistema produtivo localmente integrado, a polarização espacial, a supremacia das aglomerações urbanas. autores face a essa questão. Komninos destaca as colocações de alguns 25 Uma delas é a de Scott, que atribui o aparecimento desses centros à instabilidade na produção, à ampliação da concorrência e à dissolução das economias de escala internas à empresa. Gradativamente, vai ocorrendo a desintegração horizontal e vertical de todo o sistema produtivo, ao mesmo tempo em que vão aumentando as economias externas e as relações de integração vertical dinâmica. A elevação dos custos das transações (transportes, comunicações, troca de informações) provocada pela maior divisão social do trabalho, na medida em que reduz a velocidade de circulação do capital, estimula a "reaglomeração" dos produtores em determinados pontos, originando novos núcleos de atividades econômicas. Glasmeier, por sua vez, vincula a nova paisagem industrial às mudanças nas formas de produção e troca, e não à disponibilidade diferencial de recursos. Lipietz e Leborgne, como já foi visto. anteriormente, mostram diferentes estruturas espaciais, constituindo-se em decorrência de certos modelos de organização do trabalho e das relações industriais, e privilegiando essencialmente as aglomerações urbanas, "em função do caráter mercantil dessas relações industriais" (Komninos, 1992, p.223). Outro autor, Cooke, reenfatiza a posição central da integração flexível no processo de acumulação pós-fordista, e suas conseqüências espaciais, dependentes da flexibilidade do processo de trabalho. A reorganização das empresas, a necessidade de trabalho qualificado, a importância da integração entre pesquisa e produção, a formação de redes de cooperação tecnológica, 26 etc, levam à valorização da descentralização, mas também à formação de núcleos, a movimentos de aglomeração, a uma nova centralidade. Ao se referir às atividades modernas, Komninos (1992) chama a atenção para o papel predominante que assume a pesquisa no processo de produção pósfordista, as exigências constantes de inovação a que estão submetidas as indústrias de alta tecnologia, sustentáculos da atual fase de desenvolvimento capitalista", Contrariando Scott, o autor afirma que as economias de escala - internas ou externas - perdem importância frente às necessidades de criação de novos produtos e sistemas de produção; a concorrência desenvolve-se ao nível dos laboratórios, dos projetos de pesquisa, das aplicações industriais da pesquisa, da interligação entre pesquisa e produção. Toma-se fundamental a íntima vinculação entre universidades, instituições de pesquisa, e empresas. Outros fatores que interferem na localização das empresas dessa natureza são a qua1idade do meio ambiente e o grau de urbanização (vitalidade do tecido urbano, redes e qualidades urbanas), uma vez que a lógica de implantação dessas empresas-está muito ligada à imagem, à forma fisica de uma localidade, uma "estratégia de imagem", diz Komninos (1992, p.226). A partir dessa implantação inicial, verifica-se uma integração local e uma extensão desse conjunto produtivo; forma-se um sistema de produção localizado, que inclui universidades, centros de pesquisa, multinacionais, pequenas e médias empresas, dividindo os riscos dos investimentos em pesquisa. 27 Os novos espaços de crescimento; então, não se constituem apenas em aglomerações industriais, enclaves de empresas de alta tecnologia, como alegam muitos autores, mas sim envolvem a presença de "indústrias de tecnologia nova, sistemas de QIV, relações sistemáticas entre pesquisa e produção, mercados de trabalho específicos, e mais, associando as condições culturais de integração dos trabalhadores à lógica da pesquisa, da síntese, da produção de alta precisão, da produção em mudança contínua" (Komninos, 1992, p.228). Os novos espaços de crescimento representam sistemas de inovação, de produção flexível, baseados na cooperação - e não na exploração, dominação, social para elevação da produtividade - sem a degradação do meio ambiente. Surge um novo tipo de urbanidade, de espaço fisico e social, que, entretanto, se vê ameaçado por crescentes desigualdades sociais e contradições urbanas, caso a concorrência entre as localidades para atrair investimentos não as leve em consideração e não se criem mecanismos de regulação adequados para evitar tais diferenciações internas (Komninos, 1992). A seguir, vão ser analisados os fatores específicos que determinam a formação de um desses "novos espaços de crescimento"- o das indústrias de alta tecnologia ., partindo de uma breve revisão das principais teorias de localização. 28 3. AS , INDUSTRIAS Dl~ ALTA TECNOLOGIA E SUA LOCALIZAÇÃO 3.1. As Teorias de Localização Para que se conheçam as forças que levam à concentração geográfica das atividades econômicas, e, assim, seja possível, por exemplo, planejar de forma adequada o desenvolvimento de uma região, é imprescindível identificar os fatores que influenciam as decisões empresariais a respeito de suas escolhas locacionais. Esses fatores constituem a preocupação central das teorias de localização, que, segundo Ferreira (1989b) podem ser classificadas em dois tipos essenciais: estáticas e dinâmicas. 3.1.1. As Teorias Estáticas de Localização Essas teorias caracterizam-se por Ignorar os aspectos espaciais. . Elas referem-se a um mundo estático, não espacial, e, por isso, muitas das formulações econômicas de seus autores são consideradas leis eternas, de validade universal (Richardson, 1975).. Podem ser divididas em 2 grupos: "l ) as teorias que consideram os mercados consumidores puntifonnes, ou seja, os consumidores se concentram em pontos discretos do espaço geográfico; e 2) as teorias que 29 consideram os consumidores dispersos em áreas de mercado de diversos tamanhos" (Ferreira, 1989b, p.68). As teorias do Grupo 1 buscam minimizar os custos de transporte, uma vez que, para essa corrente, inexistem problemas de demanda: tudo o que for produzido será vendido a preços de mercado. Não existe também uma preocupação com a dependência das decisões locacionais de outras empresas na decisão locacional de uma empresa. Os insumos têm preços fixos e sua oferta é petfeitamente elástica. Não se leva em consideração o tamanho da firma (a escala de produção), e não se permite a substituição de fatores (ou insumos), uma vez que admitem proporções fixas, ou coeficientes técnicos de produção constantes nos projetos industriais. Quanto às teorias do Grupo 2, também apresentam coeficientes fixos de produção, preços fixos dos insumos e oferta perfeitamente elástica, custos operacionais fixos (exceto os de transporte), não consideram o tamanho da empresa e não admitem substituição entre fatores. Entretanto, elas diferem do Grupo 1, em razão de considerarem que a demanda toma-se relativamente elástica em função dos preços e enfatizarem a questão da interdependência locacional e das condições de mercado (concorrência imperfeita), influindo nas decisões empresariais a respeito de sua localização. Considerando-se que os consumidores estão dispersos numa determinada área geográfica (área de mercado) e as empresas tentam atender o maior 30 número de consumidores, as que estiverem maiores condições de monopolizar técnicas, tamanho mínimo mais próximas o mercado -dadas de um empreendimento deles terão as indivisibilidades - e eliminar seus concorrentes. Segundo a lei geral das áreas de mercado, mercado de empresas hipercírculo. concorrentes, Em cada ponto "o limite entre para produtos a. áreas de homogêneos, da linha que estabelece é um este limite, a diferença entre os custos de transporte até este ponto é exatamente igual à diferença entre os preços de mercado, enquanto dessa linha essas diferenças são desiguais. que em ambos os lados A razão da diferença de preços com relação à tarifa e a razão entre as tarifas relativas aos 2 mercados determinam a localização da linha limítrofe; quanto maior o preço relativo e quanto menor a tarifa relativa, maior é a área de mercado" (Ferreira, 1989b, p.158). No Grupo 1, aparecem Alfred Weber e Johan H. von Thünen; no Grupo 2, August Lõsch, Harold Hotelling, Hyson, W.P. Hyson ofereceram e Edgard contribuições Tord Palander, M. Hoover. Frank A. Fetter, C.D. Outros para a teoria locacional, autores como:Walter também Isard, Leon M. Moses e David R. Smith. Aqui vão ser destacadas apenas algumas das colocações autores: Weber, Lõsch e Isard. de três desses 31 Alfred Weber "O grande pen.sador clássico da localização industrial", segundo Castells (1975, p.30). A teoria weberiana considera como principais fatores de localização: os custos de transporte, os custos de mão-de-obra e as forças de aglomeração e desaglomeração. Entretanto, os custos de transporte têm papel decisivo para a localização das indústrias, e dependem do peso fisico do produto, e da distância a ser percorrida. Através de seu triângulo locactonal, Weber determina o ponto de custo mínimo de transporte: é o ponto no qual é mínimo o total de tonJkm referentes ao transporte de matérias-primas para o local de produção e do produto final para o mercado" (Ferreira, 1989b, p.S1). Weber apresenta um modelo de equilíbrio estático e parcial. das outras teorias do Grupo 1, não leva em A exemplo consideração a interdependência Iocacional das firmas, e o mercado é caracterizado pela concorrência perfeita. Os agentes econômicos detêm o total conhecimento das informações, e, assim, tomam suas decisões sem riscos.· Por sua vez, os coeficientes técnicos de produção são fixos, independentemente da localização. As condições básicas de seu modelo são: 1) os pontos de consumo são dados, e a demanda é perfeitamente elástica a um dado preço; 2) as fontes 32 de matérias-primas também são dadas, e sua oferta é perfeitamente elástica a um dado preço; e 3) os locais de mão-de-obra são dados, e sua oferta também é ilimitada a uma dada taxa de salários reais. o segundo fator de localização apontado porWeber é o custo da mão-de- obra, que é analisado por meio de isodapanas, que podem ser defmidas como os conjuntos de pontos que têm igual acréscimo de custo de transporte em relação àquele local em que o custo é mínimo (Matteo, 1990, p.9). As indústrias serão atraídas pela mão-de-obra, desde que a localidade esteja situada dentro da "isodapana critica", que é aquela na qual o custo de transporte adicional contrabalança com a economia de gastos com a mão-de-obra; caso contrário, a atividade permanecerá no local de custo de transporte mínimo. Weber destaca também os fatores de aglomeração e desaglomeração. Os primeiros geram economias de custos básicos. em razão da proximidade com indústrias complementares, melhor comunicação com o mercado etc. Quanto aos fatores desaglomerativos, Weber refere-se essencialmente à "renda da terra", que tende a aumentar com a maior concentração de indústrias numa determinada região. Nesse caso, ele também utiliza isodapanas críticas. Weber não analisa, entretanto, os fatores técnicos com o mesmo detalhe que os custos de transporte e de mão-de-obra, e considera os fatores de aglomeração numerosos e heterogêneos. 33 Hoover faz críticas ao fato de Weber não distinguir os 3 elementos diferenciados que compõem os fatores de aglomeração: "a) economias de escala dentro de uma firma, devido ao aumento da escala de produção da firma em um dado local (economias internas à firma); b) economias de localização para todas as firmas de uma única indústria em um único local, devido ao aumento da produção total da indústria nesse mesmo local (economias externas às firmas e internas à indústria); e 3) economias de urbanização para todas as firmas em todas as indústrias em um único local, devido ao aumento do nível econômico (população, renda, produção ou riqueza), para todas as indústrias tomadas em conjunto" (Ferreira, 1989b, p.l 05). August Lõsch "A demanda de um bem é função direta do preço de fábrica, supostamente dado, e função inversa dos custos de transporte necessários para deslocar o bem no espaço" (Richardson, 1975, p.80.). A demanda de uma firma pode ser aumentada pelo aumento da demanda individual de cada consumidor ou pela ampliação dos limites de sua área de mercado. O preço, entretanto, é dado pelo nível de produção, demanda e custo de transporte. Dado que não existem diferenças espaciais nos recursos nem diferenciais de gostos e renda da população, e nem interdependência locacional das empresas, haverá um limite finito para a área de mercado, que é aquele em que o preço de fábrica mais o frete impedirão que qualquer consumidor consuma o produto a uma determinada distância. 34 o cone de demanda mostra o nível de demanda em função do preço líquido de fábrica e a distribuição espacial dessa demanda. Ele é obtido girando-se o eixo dos custos ao redor do das quantidades. Em seu modelo, que analisa os fatores de demanda. Lõsch parte das seguintes hipóteses: "distribuição uniforme das matérias-primas industriais; possibilidade de transporte em todas as direções, levando a custos idênticos em toda uma superficie de uma planície homogênea; distribuição regular da população; gostos e preferências idênticos dos consumidores; e oportunidades abertas para todos" (Richardson, 1975, p.112). Com base nelas, o equilíbrio locacional geral é obtido a partir de 5 condições: 1) localização ótima do produtor para maximizar seus lucros; 2) número de empresas suficiente para ocupar todo o espaço; 3) preço de fábrica igual ao custo médio, sendo ambos função da demanda; 4) área de mercado de proporções mínimas necessárias para justificar a continuidade da produção; 5) nos limites das áreas de mercado, existe indiferença dos consumidores quanto ao possível local de compras. A estabilidade do equilíbrio depende da formação de áreas de mercado hexagonais, que possibilitem a ocupação total do espaço. Como a área circular é a mais lucrativa, os círculos tenderiam a ser comprimidos pela concorrência até atingirem a forma hexagonal, que maximizará o número de firmas, de forma consumidores. a dar o melhor atendimento possível aos Essas redes de áreas de mercado hexagonais devem ser superpostas de modo a terem um centro comum, uma cidade central. 35 Trata-se de um modelo ideal, que não combina com economias capitalistas de mercado, onde intervêm fatores como: interdependência locacional, economias de escala, de localização e de urbanização, e a constituição oligopólica das grandes empresas, que alteram a distribuição das atividades econômicas, induzindo à concentração geográfica. Apesar de suas limitações, entretanto, a análise de Lõsch é pioneira na tentantiva de descrever relações espaciais gerais por meio de um conjunto de equações simples; e apresenta um modelo de economia espacial operando em condições de concorrência monopolista. Walter Isard Segundo Castells, ele é "o principal depositário de toda a tradição da economia espacial, e essa herança intelectual lhe assegura uma posição central no pensamento contemporâneo" (Matteo, 1990, p.14). Parte de um modelo de minimização de custos de transporte de tradição weberiana, para encontrar a localização ótima, só que com sistemas de tarifas mais realistas que o de Weber. o conceito básico utilizado por lsard é o de insumo de transporte, ou seja, o movimento de uma unidade de peso por uma unidade de distância, expresso em ton!km. "Os insumos de transporte correspondem ao exercício de esforço necessário para superar a resistência oposta ao movimento no espaço" (Richardson, 1975, p.61). 36 As tarifas de transporte se diferenciam em função da extensão e das características do trajeto, tipo de mercadoria transportada, grau de concorrência no setor de transporte, topografia da região pela qual os bens serão transportados etc. Isard cria também uma linha de substituição de dispêndios, que mostra as possibilidades de substituição entre os dispêndios de transporte e outros fatores, como: mão-de-obra, energia, aluguel, ou qualquer outro gasto produtivo cujos custos variem de um lugar para o outro. Ele classifica os fatores locacionais em 3 grupos, vinculados a custos: 1) custos de transporte e outros custos de transferência, que variam com a distância; 2) outros custos de produção, que não variam com a distância; e 3) economias e deseconomias de aglomeração, que não estão vinculadas à posição geográfica. Apenas o pnmeiro contribui para impor regularidade à distribuição espacial da atividade econômica, o que leva o autor a aplicar a sua técnica de análise de substituição a insumos de transporte, já que no caso dos outros fatores não o modelo é significativa (Matteo, 1990). de Isard tenta integrar as teorias fundamentais da localização com a teoria da produção neoc1ássica, com funções de produção que admitem a substituição entre fatores. "A inclusão de insumos de transporte na função de transformação da firma acrescenta uma dimensão espacial à teoria da produção" (Richardson, 1975, p.67). 37 Superando obstáculos como a concorrência perfeita e a localização da firma, alega que o lucro máximo exige um ajustamento nível de produção. transporte), da da localização final (Ferreira, combinação insumos adequado (inclusive os do de da empresa e do preço de venda. do produto 1989b). 3.1.2. As Teorias Dinâmicas A Escola Histórica necessidade dos ótima de Localização Alemã chama a atenção de seus membros, para a Os elementos tempo e de referir as teorias à realidade social. espaço passaram, então, a ser incluídos na análise econômica. A Economia influência Existem espacial reconhece da distância resistências dando econômicas as imperfeições condições na concorrência de monopolizar e não-econômicas e a o mercado. à mobilidade dos fatores. "As forças de mercado não levam inevitavelmente regionais per capita ou à localização certas circunstâncias, à igualdade das rendas espacial ótima dos recursos, podem operar de forma instabilizadora. e, em De fato, a economia de mercado pode levar a uma drenagem maciça de população de certas áreas para outras e a uma alta concentração dos recursos número limitado de centros urbanos de alta densidade" (Richardson, em um 1975, p.17). Antes de mais nada, é preciso que as teorias sejam dinâmicas, e não estática, pois devem explicar o impacto das mudanças nas técnicas, custos 38 de transporte, níveis de renda e gastos sobre os padrões locacionais do consumo e da produção. Freqüentemente, as primeiras teorias da localização consideravam como localização ótima aquela em que os custos de transporte eram mínimos, subestimando a importância das variações espaciais nos, custos de produção e na demanda por outros fatores que não o transporte. "As teorias clássicas e fundamentais da localização constituem um elo indispensável para a explicação das decisões onde localizar-se, da concentração das atividades e dos condicionantes do desenvolvimento regional. Por outro lado, as teorias dinâmicas agregativas da localização procuram compreender o surgimento em um dado local, o desaparecimento, as relocalizações, a segmentação da produção em vários locais, a utilização dos recursos naturais, bem como a interdependência das decisões locacionais a médio e longo prazos, como resultado da estratégia de acumulação oligopólica (inclusive a nível mundial) dos grandes conglomerados" (Ferreira, 1989b, p.l97). As teorias dinâmicas, ao contrário das estáticas, dão uma ênfase especial ao tamanho das empresas, uma vez que as estruturas oligopólicas atuais constituem-se de grandes empresas de âmbito mundial, que adotam decisões locacionais em função de suas estratégias de acumulação. A preocupação essencial com uma única firma é substituída pela atenção na dinâmica locacional de organizações com múltiplos estabelecimentos, e sistemas de produção distribuídos por múltiplas localidades. Maior 39 flexibilidade nas relações capital-trabalho são buscadas por essas empresas em outros lugares. As transformações tecnológicas exigem altos investimentos, e, portanto, taxas de lucro elevadas, e interferem nas decisões locacionais. "São novos caminhos das teorias da localização, relacionados, às teorias do oligopólio e dos ciclos dos produtos e dos lucros, em um sistema complexo de interdependência locacional entre várias empresas e suas estratégias e planos de produção e de expansão, formando o que Markusen denomina de sucessão espacial, que é uma seqüência de tendências locacionais na qual um setor industrial se estabelece e se concentra em uma ou várias regiões, eventualmente, abandonando os centros iniciais" (Ferreira, 1989b, p.195). Matteo vincula a evolução das teorias de localização aos contextos históricos em que surgiram: Weber - com o início da industrialização, ligado a princípios tayloristas de aumento da produção; Lõsch - após a crise de 1929, preocupado também com a questão da venda da produção (daí, construir um modelo que determina a localização onde os lucros fossem máximos); Greenhut e Alonso - incluem o marketing, numa época de transformação do taylorismo ao fordismo; Isard, por sua vez, é o marco do racionalismo, com inúmeros modelos, num quadro de planejamento estratégico. Já as teorias dinâmicas, surgidas a partir do final dos anos 60, aparecem num momento de crise no modo de produção capitalista, e buscam explicações da localização industrial num contexto de relações sociais. 40 Os teóricos marxistas consideram o espaço, como uma mercadoria capitalista, inserida no processo de acumulação de capital, e que, portanto, deve ser analisado sob a ótica da relação capital-trabalho (Ferreira, 1989a). Dentre os autores ligados a essas teorias, podem ser citados Castells, Scott, Malecki, Markusen e outros; entretanto, serão apresentadas apenas as colocações do primeiro. Manuel Castells Para ele, lia análise do espaço da produção não deve ser feita a partir da produção do espaço, mas sim da produção das relações sociais, isto é, da análise do movimento dialético das classes sociais que o produzem" (1975, p.232). Chama a atenção para o viés ideológico por trás dos esquemas marginalistas que tentam explicar a localização; eles mascaram a dinâmica social que está em sua base, .incapacitando-os fenômenos. para explicar esses As teorias clássicas de localização industrial não oferecem uma explicação social para os processos que ocorrem na organização do espaço, diz Castells: daí, a necessidade de mudar a perspectiva teórica. Os fatores "sociais" não devem ser apenas justapostos aos "econômicos", mas sim integrados num conjunto articulado, "no qual as relações econômicas são, em si mesmas, relações sociais contraditórias, isto é, relações de classe" (Castells, 1975, p.40). 41 Assim, Castel1s tenta desenvolver tal perspectiva, aplicando conceitos marxistas à análise do espaço industrial, e do espaço econômico. Trata de associar as observações das novas tendências espacrais com o conhecimento das leis estruturais que as regem. Ele aponta alguns pontos essenciais das novas tendências locacionais, As imposições econômicas variam com o tipo de empresa, que pode ser orientada para o mercado; para as fontes de matérias-primas ou de localização livre. Em função do progresso técnico e do tamanho das empresas, o espaço torna-se cada vez mais indiferenciado para a atividade Entretanto, apesar da homogeneização em relação industrial. às necessidades das empresas de fontes naturais e posições geográficas, novas imposições do meio técnico se colocam na localização. Em primeiro lugar, a importância das ligações entre empresas, tanto para a distribuição dos produtos como para solução de problemas técnicos. As "economias de aglomeração" tornam-se os fatores centrais de localização. Em segundo Iugar, na medida em que a mão-de-obra aparece como o requisito fundamental da indústria moderna, e que não é somente um fator de produção, ela envolve a necessidade de: de um lado, um entorno urbano favorável, com escolas, equipamentos sociais e culturais, pontos de encontro, conforto, clima agradável etc; e, de outro, (universidades c centros de formaçãoprofissional) instituições capazes de formar e 42 recicIar a mão-de-obra, com vistas a aumentar ainda mais o seu nível de qualificação. Trata-se, então, de uma combinação com uma atividade Rémy, segundo conhecimento intelectual a qual da valorização desenvolvida, "a cidade é o meio necessário do quadro espacial o que confirma como centro de para o desenvolvimento a tese de produção de da indústria moderna" (CastelIs, 1975, p.50). Nela verifica-se a troca de informações e oferecem-se possibilidades Outro elemento valorização de criação. importante para a escolha espacial da empresa é a social do espaço enquanto tal. Ao invés de se preocupar com o espaço enquanto realidade questão da diferenciação fisica, algumas empresas voltam-se social do espaço, da apropriação para a dos elementos simbólicos unidos a um espaço. Os fatores puramente tecnologicamente priorizar sociais têm m81Qr importância mais avançadas para as indústrias do que para as demais, que tendem a fatores mais tradicionais. "Pôr em relêvo o comportamento inovador e social da indústria de ponta tem como fim, sobretudo, com a idéia de uma racionalidade romper única, que seria a racionalidade de objetivos, e não de valores, e que deveriam ser aplicados a todos os tipos de empresas" (CastelIs, 1975, p.52). Castells tenta apenas assinalar as grandes tendências estruturais na base da formação do novo espaço industrial, têm uma homogeneidade teórica, que estão Estes estudos, que não mas .a mesma perspectiva, estão 43 centrados na análise da produção do espaço industrial, e não sobre as conseqüências do meio industrial constituído sobre o conjunto do território (Castells, 1975). É dentro dessa linha de análise das teorias dinâmicas que se inserem os estudos a respeito da localização de indústrias de alta, tecnologia. detalhados a seguir. 3.2. Os Fatores Locacionais das Indústrias de Alta Tecnologia Na medida em que a preocupação do presente trabalho é analisar os fatores locacionais das indústrias de alta tecnologia (IAT), cumpre, antes de mais nada, discriminar os ramos industriais considerados high fecho Utilizando-se a lista de atividades definida pela OCDE (Guermond, 1988, p.278), a relação éa seguinte: 1) quimica - corantes sintéticos; insumos farmacêuticos; materiais plásticos; resinas sintéticas e outros elastômeros; óleos de essências, aromas naturais e sintéticos; 2) paraqufmica - produtos fitossanitários; carvões artificiais, terras ativas e produtos químicos para uso metalúrgico e mecânico; 3) farmacêutica - especialidades farmacêuticas; 4) mecânica - motores a combustão interna, exceto para automóveis ou aviões; turbinas térmicas e hidráulicas. equipamentos para barragens; 5) informática - material para tratamento da informação, máquinas de bureau; 6) elétrica equipamentos de distribuição, de comandos de baixa pressão, de aplicação da eletrônica de potência; material elétrico de grande potência ou alta tensão; aparelhagem industrial de baixa pressão, relê, material de sinalização; 44 fabricação de equipamentos para automação de processos industriais; 7) eletrônica - materiais telegráficos e telefônicos; aparelhos de radiologia e de eletrônica médica; aparelhos de controle e regulagem especificamente concebidos para automação industrial, instrumentos e aparelhos elétricos e eletrônicos de medição; material profissional eletrônico e radioelétrico, componentes passivos e condensadores fixos, tubos eletrônicos e semicondutores; aparelhos de registro e reprodução de som e imagem, suporte de registro; 8) aeronáutica - células de aeronaves; propulsores de aviões e equipamentos de propulsores; equipamentos específicos para aviões; . lançadores espaciais; e 9) mecânica de precisão - produtos de relojoaria; aparelhos de pesagem, contadores, instrumentos de metrologia; instrumentos de ótica e precisão; material fotográfico e cinematográfico. A implantação de indústrias desse tipo é vista como a solução ideal para regiões economicamente atrasadas ou decadentes. Sua imagem normalmente está associada à de produtos com alto valor agregado, elevados níveis de renda da população, competitividade atividades \ não-poluidoras, modernização, internacional etc, e, por isso, são utilizados os mais diferentes recursos com vistas a atraí-las para uma determinada localidade. Coloca-se, então, a questão de verificar até que ponto esses recursos se mostram eficientes para atingir a meta almejada, e em que medida eles são ou não compatíveis com os requisitos locacionais de empresas dessa natureza. De início, convém destacar que as IATs caracterizam-se por um padrão locacional específico, bastante diferenciado daqueles adotados pelas demais 45 indústrias, e que não pode ser compreendido exclusivamente à luz da teoria convencional da localização. Esta, segundo Malecki (1985), subestima o trabalho como fator de localização, ao passo que as IATs, não apenas valorizam de modo acentuado o fator mão-de-obra, como procedem à sua segmentação e separação espacial. A estrutura de empregos nas IATs é altamente dicotomizada. O avanço da automação vem alterando gradativamente as necessidades de mão-de-obra nas empresas. Empregos que exigiam qualificação média na produção estão sendo eliminados, à medida em que novas etapas do processo produtivo são padronizadas e rotinizadas. A dependência das empresas em relação a esses trabalhadores de nível intermediário reduz-se cada vez mais, tendendo de forma crescente à bipolarização, De um lado, estão os trabalhadores da produção, os operadores, nãoqualificados, exercendo atividades rotinizadas, com salários baixos, e cuja disponibilidade existe em muitos lugares, não representando, pois, nenhum obstáculo às empresas, que buscam localizar suas atividades de produção onde os custos são menores. Do outro, está o pessoal técnico e profissional qualificado, atuando em áreas de pesquisa, inovação, com remunerações elevadas, e gozando de uma considerável mobilidade no mercado de trabalho nacional e até internacional, dada a relativa escassez dessas aptidões técnicas. Concentrações de cientistas e engenheiros representam vantagens locais, economias de aglomeração, para as empresas de setores industriais de alta 46 tecnologia, beneficiando não apenas as grandes firmas, mas também as pequenas, cUJOS custos de comunicação/informação compradores/fornecedores reduzem-se consideravelmente. com Para Browning (Malecki, 1986), a presença desses profissionais representa o principal fator de localização para as corporações de P&D. Conforme um centro de alta tecnologia se consolida, existe uma tendência para que sua atração se reforce cada vez mais. A crescente aglomeração de empresas e pesquisadores facilita amplamente a rotatividade da mão-de-obra especializada, "sem raizes", em constante busca por melhores alternativas de trabalho, ao mesmo tempo em que a presença de "amenidades urbanas" (Malecki, 1986, p.75) - shoppings, restaurantes, equipamentos culturas e de recreação - atende às exigências de qualidade de vida, impostas por técnicos especializados e empresários com rendimentos elevados. o surgimento de novas firmas de alta tecnologia ou desdobramentos de antigas empresas ocorre preferencialmente nos centros desenvolvidos, que retêm os talentos, o capital e a infra-estrutura necessários. Assim, são poucas as regiões que têm condições de desfrutar das vantagens que essas indústrias oferecem em termos de possibilidade de novos mercados, ou de criação de novos produtos para os mercados já existentes; a difusão, quando acontece, é muito restrita. Uma relação detalhada dos principais arributos de regiões de alta tecnologia bem-sucedidas é apresentada por Saxenian, que, todavia, não os classifica por ordem de importância. São eles: "1) uma universidade de pesquisa, preferivelmente do maior calibre, que assegure uma base científica e o 47 fornecimento de cientistas e engenheiros; 2) uma ampla oferta de capital de risco para a criação de novas firmas; 3) investimento público voltado para a pesquisa e a busca de novas tecnologias; 4) uma qualidade de vida que atráia e retenha engenheiros e cientistas "sem raizes"; 5) ausência de sindicatos; 6) um parque industrial eufemisticamente referido a um parque científico, para as firmas domiciliares; 7) infra-estrutura adequada - estradas, aeroportos etc ..para assegurar eficientes ligações de transporte e comunicações" (Saxenian, 1989, p.). A maioria desses fatores locacionais é apontada também no trabalho de Malecki (1985), com exceção dos sindicatos, da participação do setor público e da vinculação parque industrial-parque científico. CasteIls (1985), por sua vez, define, a partir de pesquisas empiricas atuais realizadas por outros autores, um modelo locacional para as IATs, mencionando também a necessidade de: presença de universidades e centros de pesquisa; técnicos e cientistas; não-sindicalização dos trabalhadores (principalmente para evitar dificuldades de flexibilização e inovação); capital de risco para financiamento de empresas de alta tecnologia nascentes e sem recursos próprios; distribuição espacial hierárquica da força de trabalho (atividades de pesquisa separadas da fabricação, montagem etc). Acrescenta ainda que, no caso americano, o surgimento incial das IATs se deu nas proximidades de bases militares, dada a dependência dessas empresas em relação aos mercados governamentais, militares e espaciais. principalmente para programas 48 3.2.1. Dois Exemplos Americanos Para tanto, lançou-se mão das análises de Saxenian (1983 e 1985) a respeito de duas concentrações de indústrias de alta tecnologia existentes nos Estados Unidos .. o Silicon Valley, na Califórnia, e a Route 128, em Boston ., apontando não apenas os fatores locacionais, mas também as, contradições urbanas originadas pela presença de importantes complexos industriais de alta tecnologia nessa região. 3.2.1.1. O Silicon VaUey No caso específico do Silicon Valley, a autora chama a atenção para o fato de que o condado de Santa Clara representa um raro exemplo de vinculação entre setor industrial, desenvolvimento regional e estrutura espacial urbana geografia urbana. Nessa região, já nos anos 30, surgiam pequenas empresas de base tecnológica, ligadas ao setor eletrônico, e cujos proprietários eram, em boa parte, cientistas e engenheiros formados pela Universidade de Stanford, que buscavam se beneficiar do ambiente intelectual familiar proporcionado pela proximidade do campus universitário. Durante o período da 2a. Guerra, e também depois, a universidade recebia recursos federais para desenvolver equipamentos e componentes militares mais versáteis; a partir das pesquisas realizadas, foi inventado o transistor, cuja produção comercial tem inicio em 1951. indústria de semicondutores. Criava-se, assim, a jovem 49 Algumas características dessa indústria, como, por exemplo, os acelerados avanços tecnológicos, a rápida difusão das inovações, a ausência de economias de escala e a rápida disponibilidade de financiamentos (amplo volume de capital de risco, proveniente de São Francisco), facilitavam a instalação de pequenas e competitivas firmas novas, que tinham a flexibilidade necessária para explorar essas inovações. A concentração de empresas de alta tecnologia nesse espaço tomava-se cada vez mais vantajosa, na medida em que existiam condições extremamente favoráveis para seu desenvolvimento. Economias externas, incluindo uma ampla oferta de trabalhadores qualificados e não-qualificados, insumos e serviços especializados, e um ambiente social, cultural e educacional atraente, alavancaram a proliferação de indústrias de semicondutores no condado. Ocorre o chamado efeito "spinoff", isto é, a criação de empresas em cadeia. Paralelamente, verifica-se um crescimento acelerado da população, em decorrência do maciço afluxo de imigrantes, formando uma corrente dual, constituída de trabalhadores bem qualificados e trabalhadores sem qualificação • agricultores, mexicanos e filipinos, americanos negros e de descendência latina-, que foram sendo integrados à força de trabalho local.: o crescimento da indústria de semicondutores vai aos poucos definindo os padrões de desenvolvimento urbano da região. Como se trata de um setor com uma estrutura de empregos bifurcada, ou seja, constituída basicamente por 2 segmentos polarizados da mão-de-obra - um, com alta qualificação, e o outro, não-qualificado, sendo que o estrato intermediário é inexpressivo e 50 tende à extinção -, essa mesma estrutura ocupacional acaba gerando uma estrutura de classes também bifurcada, e padrões de assentamentoresidencial e de urbanização que refletem essa. estrutura. de classes (ver Mapa 1). Os profissionais e executivos mais ricos residem na Região I (a oeste, nas colinas), que é constituída pelas cidades mais novas e nas -quais existem apenas comunidades residenciais (Saxenian, 1985). Essa região, além da beleza das colinas, tem a vantagem de se situar bastante próxima ao local de trabalho de seus moradores, pessoas com altos rendimentos, o mais elevado nível educacional, a maioria exercendo atividades profissionais ou administradores, e sendo todos brancos. Os moradores da Região Il, ao norte do condado (local em que está a maior parte dos empregos), intermediária. representam uma combinação sócio-econômica O status sócio-econômico da população vai declinando à medida em que se dirige ao sul do condado. onde a ocupação predominante passa a ser 8 de operador e artesão, e as minorias tendem a prevalecer. A Região 111,composta de cidades mais antigas (a principal delas é San Jose), possui um contingente populacional substantivo, caracterizado por salários abaixo da média do condado, imigrantes não-qualificados, pessoas com grau menor de educação; são, essencialmente, "comunidades- dormitório". Finalmente, a Região IV abriga os 10% mais pobres, conecta-se marginalmente ao complexo eletrônico, constituindo-se de uma população rural, voltada para a agricultura. 51 MAPAt o PÓLO TECNOLÓGICO DO VALE DO SILÍCIO --.- -------------_._-------------'---- c•••••••• I •• ",••chee Cotldodo d, SAN MPU:O ,- o NVCLEO Cf:N1AAl "'lIfodlo.1 I_P'9'1t" , 11- IIAIR~OS ftU1D!HCIAIS RICOS CONDAOO DE . 111- eAIMOS ~ESIO[NCI~IS DA MÃO-OE·OBRA IV - eAI""OS RUIDf;NClAlS DA ",lO·O[-Of"'1A "f:Cf:NT! SANTA CLARA o Condado d. SAN BENITO ________ ____ ._ .. "11111." eo<>d1l40 _____ ~__ ......__. _..--.--_ .-. -_ a1rtoulf.do . ,_-... , _ w_.---~----.-..j 52 Assim, a paisagem urbana do Silicon ValIey retrata bem a estrutura social resultante da estrutura ocupacional das IATs ali instaladas, a segregação espacial existente. Por volta dos anos 70, a região começou a enfrentar uma série de problemas provocados por esse desenvolvimento urbano distorcido. moradias leva ao encarecimento exagerado dos imóveis. habitacional decorre dos "limites de construtibilidade ,A falta de Esse déficit impostos pelas municipalidades", como afirma Ghorra-Gobin (1992, p.1l5), ou seja, são uma conseqüência das políticas restritivas de uso do solo e das práticas de planejamento de exclusão, promovidas pelos governos locais para preservar a "qualidade de vida" em suas jurisdições, evitando inclusive despesas com a criação de novos equipamentos e serviços urbanos. Através da criação de espaços verdes, ou da transformação de espaços livres em espaços para as indústrias, dificultava-se excessivamente a possibilidade de construção de novas residências. Tendo em vista o diferencial de salários (que chegava até a 10 vezes) entre engenheiros e cientistas, e trabalhadores da produção, só os primeiros tinham condições de adquirir os imóveis localizados em áreas privilegiadas, dada a acentuada elevação de preços que estes sofreram. Em conseqüência disso, a mão-de-obra pouco ou nada qualificada tinha que se deslocar para territórios menos dispendiosos, como San Jose. o número crescente de trabalhadores obrigados a morar em lugares mais distantes, em vista dos preços inferiores, e a deslocar-se diariamente de automóvel para seus locais de trabalho, por inexistirem alternativas viáveis 53 de transporte de massas, acaba provocando graves problemas de congestionamento nas estradas, e, com isso, um aumento considerável da poluição do ar. Por outro lado, a falta de controle sobre os despejos de produtos tóxicos efetuados pelas empresas gera o comprometimento da qualidade da água para abastecer a população, obrigando o setor público a adotar medidas enérgicas no sentido de punir os infratores. É interessante notar que esse aspecto negativo de algumas IATs contradiz a imagem freqüentemente veiculada a respeito desse tipo de indústria, que é a de serem atividades não poluentes. Aos poucos, vão se disseminando movimentos de não crescimento na região, liderados por industriais preocupados em reter seus empregados, ou pelos próprios moradores, visando reverter esse quadro de problemas urbanos e degradação ambiental, e preservar a qualidade de vida local. Na medida em que se atribui a culpa principal ao crescimento do número de empregos, o governo cria uma legislação bastante .restritiva, objetivando controlar o volume de empregados, o tipo e a localização de novas indústrias. De início, as empresas tentam contornar a possibilidade de evasão da mãode-obra, tanto qualificada como sem qualificação - esta última tenta encontrar trabalhos mais próximos de suas residências, evitando as longas viagens diárias -, através da elevação de salários e beneficios. Entretanto, gradativamente, vão optando por outra alternativa, a relocalização de suas atividades de produção em lugares mais afastados, onde os custos fossem menores. 54 A preferência quanto a novas localizações recai sobre as áreas urbanas de porte médio, com populações entre 500 mil e 1 milhão de habitantes. Essas regiões, ao mesmo tempo em que devem ter um contingente razoável de trabalhadores não-qualificados, têm que ter um ambiente social e cultural adequado para atrair cientistas e engenheiros, que têm liberdade de escolher sua localização residencial, pois os empregos irão seguí-Ios. Assim, a proximidade de uma universidade, atividades culturais e sociais, disponibilidade e facilidades de recreação, assim como de moradia, são os elementos-chave no cã1culo locacional para a nova facilidade de fabricação de semicondutores. Os mesmos problemas enfrentados pelo Silicon Valley podem atingir essas novas regiões. Essa indústria molda a estrutura de classes e a organização do espaço - padrão residencial altamente segregado na região, gerando contradições onerosas, semelhantes às que 'a levaram a se reestruturar. Assim, ocorre uma nova divisão interregional do trabalho na indústria de semicondutores: o Silicon Valley passa a ser um centro de controle e pesquisas de alto nível, assim como o da fase inicial de novas empresas baseadas em tecnologia, enquanto que as regiões ao sul e a oeste crescem como centros estandartizados da indústria. 3.2.1.2. A Route 128 No caso da Route 128 (Saxenian, 1985), situada nas proximidades do M.I.T. e da Universidade de Harvard, apesar de não existirem as mesmas características do Silicon Valley e o mesmo domínio das empresas de alta 55 tecnologia - os setores de atividade são mais diversificados apresenta problemas sociais e urbanos, um padrão de segregação empregos não conduziu gerando-se, assim, conseqüente organização Nessa região também se desenvolveu sócio-residencial. ao aumento similarmente, ., ela também A ampliação do volume de do número de moradias problemas dos cidadãos de tráfego disponíveis, e poluição, para o controle e de crescimento urbano. Da mesma atividades forma, uma parte de P&D na Route desenvolvimento industrial das indústrias se realoca, 128, e também verifica-se nessas o reagrupamento mantendo novas as áreas de das empresas do mesmo setor, e a segregação social em espaços residenciais hierarquizados. "Os limites do crescimento dessas concentrações regionais de indústrias baseadas em ciência são sociais, e não fisicos", diz Saxenian (1985,p.lOO). Oferece-se um "bem de posição" para cientistas disponibilidade e engenheiros, ou seja, a de morar numa comunidade rural bonita e isolada, com fácil acesso aos beneficios culturais de um centro urbano. Entretanto, ao longo do tempo, devido à natureza do mercado de trabalho e da lógica de produção das IATs, e à estrutura social e espacial geradas por ela, aparecem problemas de deterioração 3.2.1.3. Comparações da qualidade de vida de tais localidades. com o Caso Francês A falta de planejamento não coordenadas sérios do desenvolvimento urbano, a tornada de decisões entre si, é também um importante fator, responsável limites que as disfunções urbanas representam para o crescimento pelos de uma , ; 56 região dominada por IATs ou tecnopôlos, segundo Ghorra-Gobin (1992). O amplo conhecimento das especifi.cidades desses novos setores industriais, principalmente a bipolarização no mercado de trabalho a eles vinculados, permitiria planejar a melhor forma de superar essas disfunções criadas pelas indústrias. Comparando um tecnopólo dos Estados Unidos M Silicon Valley M com os existentes na França, Gobin - a exemplo de vários geógrafos, ambientalistas, sociólogos e políticos franceses M chama a atenção para a necessidade de distinção entre tecnopôto (technopôle) e tecnópole (technopole): no caso do primeiro, tem-se "um parque de atividades de alta tecnologia ou pólo destinado a favorecer as trocas pesquisa-indústria"; quanto ao segundo, tratase do "parque e a aglomeração que ele suscita, o que implica numa certa dinâmica entre eles, "uma nova aliança" (Ghorra-Gobin, 1992, p.l09). Ela destaca que os tecnopólos americanos são conhecidos, principalmente, pelas vias de acesso que os atravessam, e não referidos a determinadas cidades, lugares. Na medida em que são vistos como tendo caráter efêmero, representam uma ancoragem territorial aleatória. O fato dos tecnopólos emanarem das universidades, amencano, apresentarem uma dinâmica própria e estas, no caso e serem bastante independentes das cidades próximas a elas, favorece a alienação dos que residem em suas imediações e a ela estão vinculados, em relação ao que ocorre fora do ambiente da universidade, em seu entorno. Professores e alunos residem nas proximidades para se aproveitarem do ambiente social, e não se preocupam com a degradação que toma conta das redondezas. 57 A França, ao contrário, privilegia o conceito de tecnópole, que traz a preocupação em assegurar um certo grau de coordenação entre as diferentes cidades vinculadas aos complexos de alta tecnologia, para evitar uma segregação pronunciada entre elas, como a que ocorreu no Silicon Valley; assim, os beneficios gerados na região podem ser distribuídos de forma mais equilibrada. Trata-se da integração entre as políticas de ordem espacial - urbana/territorial -, sociais, econômicas, educacionais, culturais etc, das diferentes comunidades em prol de todos. 58 4. A DISTRIBUiÇÃO ESPACIAL DAS INDÚSTRIAS EM SÃO PAULO Uma vez explicitados os pressupostos teóricos do trabalho, passa-se à pesquisa propriamente dita, buscando mostrar em que medida os fatores locacionais das IATs estão presentes nos pólos do Interior de São Paulo. Parte-se de uma retrospectiva da evolução histórica da atividade industrial na região, e os determinantes de sua localização. 4.1. Os Primórdios da Industrialização Paulista Há, aproximadamente um século, o Estado de São Paulo vem se destacando como o grande pólo concentrador das indústrias do país. A aglomeração que ocorreu em seu território deve-se ao fato de ter sido a unidade da federação com as condições mais propícias para o desenvolvimento de um capitalismo industrial. A grande expansão da lavoura cafeeira paulista entre 1850 e 1929 forneceu tais condições, a saber: um crescente mercado consumidor, uma ampla acumulação de capitais - de origem mercantil e bancária ., um abundante mercado de trabalhadores livres - imigrantes - e assalariados. A elas, vieram somar-se outras, como a transferência de tecnologia estrangeira, e a criação de uma infra-estrutura energética e viária voltada para as necessidades do complexo cafeeiro, e que depois é aproveitada para a expansão das indústrias" A introdução de máquinas para beneficiamento do café e a ampliação das ferrovias permitem uma redução nos custos de produção e de 59 transporte, elevando os lucros dos cafeicultores e ampliando seu potencial de acumulação de capital, para posterior inversão na indústria (Fundap, 1980; Cano, 1977). Inicialmente, a concentração das empresas se dá na Capital, que, por sua situação geográfica, ou melhor, sua localização intermediária entre as zonas produtoras de café - Oeste paulista - e o porto de Santos, tornou-se o centro administrativo e financeiro do complexo cafeeiro. A industrialização incipiente, baseada quase que exclusivamente na fabricação de bens de consumo não-duráveis (em especial, têxteis e alimentos), vai se expandindo aos poucos, induzida pelo capital mercantil, que controlava a principal atividade econômica na ocasião, o setor agroexportador. A busca de empregos na agricultura, os elevados rendimentos dos produtores de café, a expansão do comércio e da indústria etc, atraem um número crescente de pessoas para o Município de São Paulo, aumentando sensivelmente sua população, e reforçando cada vez mais a concentração espacial, as economias de aglomeração nele já existentes. Durante a Ia. Guerra, as restrições ao comércio exterior favorecem o crescimento da indústria e da agricultura paulistas, que, por serem as mais diversificadas e desenvolvidas do país, passam a abastecer outros estados brasileiros, incrementando ainda mais as taxas de acumulação de capital em São Paulo. Essa vantagem relativa amplia-se na década de 20, à medida em que novos produtos (alguns bens de consumo duráveis) e novos segmentos dos setores de bens intermediários e de capital (com a participação de 60 investimentos estrangeiros, principalmente em química, metalurgia e transportes) são introduzidos em sua estrutura industrial. A ampliação do número de empregos na indústria e da massa de salários acelera o processo de urbanização, gerando um aumento da demanda de produtos duráveis e não-duráveis; e a expansão do setor terciário (comércio, bancos, escritórios etc). A configuração espacial da indústria na época mostra uma enorme concentração - 2/3 dos estabelecimentos - na Capital do Estado (Negri, 1988a), sendo que no Interior os destaques vão para as regiões administrativas de Sorocaba e Campinas, com uma estruturá industrial semelhante à da Região Metropolitana de São Paulo. A seguir, aparecem as regiões do Vale do Paraíba e de Ribeirão Preto, com importância inferior às anteriores. A gradativa competitividade diversificação, elevada produtividade e da indústria paulista permitem a consolidação crescente de sua hegemonia a partir da crise do café em 1929, quando o eixo dinâmico da acumulação no Brasil deixa de ser o setor primário exportador, e assume seu lugar o setor industrial - principalmente a produção de bens não-duráveis e alguns bens de capital. 4.2. O Período t 930-55 De 1930 - quando efetivamente tem início o processo de industrialização no país - até 1955, desenvolve-se a etapa denominada por Maria da Conceição 61 Tavares de "industrialização restringida" (Negri, 1988a, p.75), na qual a indústria ainda dependia grandemente das divisas geradas pelo setor agroexportador para importar os bens de produção (intermediários e de capital) que lhe permitiriam um aumento da capacidade produtiva. Segundo J.M.Cardoso de Mello, não se conseguia implantar de uma só vez o núcleo fundamental da indústria de bens de produção - imprescindível para promover o crescimento da capacidade produtiva acima da demanda, a auto sustentação do setor industrial - em razão das insuficientes bases técnicas e financeiras de acumulação (Negri, ]988a). Apesar disso, vai-se percebendo uma modificação na estrutura industrial paulista durante esse período: as indústrias produtoras de bens de consumo não-duráveis apresentam uma queda no Valor de Transformação Industrial (VTI), enquanto crescem as indústrias de bens intermediários, e as de bens de capital e bens de consumo duráveis quadruplicam sua participação, passando de 4,6% para 16,4% no mesmo período (Seade, 1988). Essa recuperação da indústria pós-33 foi viabilizada pelo uso da capacidade ociosa da indústria instalada na década de 20~ por outro lado, os obstáculos impostos às importações favoreceram a indústria nacional, e principalmente o diversificado parque industrial de São Paulo, no sentido de atender o mercado interno. Cumpre destacar que a expansão industrial no Brasil foi promovida pela articulação de capitais privados nacionais (no caso da produção. da indústria leve, inclusive máquinas e equipamentos para lavoura e beneficiamento), estrangeiros (concentrando esforços na produção de material de transporte, 62 cimento e produtos químicos), e estatais (investimentos em indústria pesada, como a do aço). Antes de prosseguir, é preciso mencionar que, para maior simplificação, utiliza-se neste trabalho a mesma classificação adotada por Negri (1988a, p.59), que agrega os ramos industriais da seguinte forma: Grupo I . indústrias predominantemente produtoras de bens de consumo não-duráveis: mobiliário; produtos farmacêuticos e medicinais; produtos de perfumaria, sabões e velas; têxtil; vestuário, calçados e artefatos de tecidos; produtos alimentares; bebidas; fumo; editorial e gráfica; Grupo 11 - indústrias predominantemente produtoras de bens intermediários: minerais não-metálicos; metalurgia; papel e papelão; madeira; borracha; couros, peJes e produtos similares; química; produtos de matéria plástica; Grupo In - indústrias predominantemente produtoras de bens de capital e bens de consumo duráveis: mecânica; material elétrico e de comunicações; material de transporte; indústrias diversas; e, recentemente, as unidades auxiliares de apoio e serviços industriais. A concentração industrial em território paulista passa de 37,5% em 1929, para 55,6% em 1959, destacando-se a significativa participação das indústrias do Grupo III, que, nesse ano representavam 82% do total nacional. Por sua vez, a distribuição regional das indústrias paulistas em 1956 apresenta as seguintes características: a Região Metropolitana (e, 63 especialmente, a Capital) continuava concentrando quase 2/3 do pessoal ocupado e do Valor da Produção Industrial (VPI) das indústrias do Grupo I, com destaque para os ramos têxtil e de vestuário, tecidos. Essa concentração metalurgia, calçados e artefatos de é maior ainda no Grupo 11 (nos ramos de química e minerais não-metálicos) e atinge os 90% em alguns ramos do Grupo IH, como material elétrico e de comunicações e material de transporte. As 4 regiões mais industrializadas Estado, depois da Região Metropolitana - Campinas, concentravam, em 1928, 91,6% dos operários do Interior, e 26,7% do total do Estado Sorocaba, do de São Paulo; respectivamente, Ribeirão Preto e Vale do Paraíba ., em 1956, os percentuais passam a ser de, 78,1% e 25,9%. Campinas, com indústrias do Grupo I (têxtil, alimentos, vestuário), (minerais não-metálicos), e Grupo IH (mecânica); Grupo II Sorocaba, com indústrias do Grupo I (têxtil e alimentos) e 11(minerais não-metálicos); Ribeirão Preto, com indústrias do Grupo I ( têxtil, alimentos e vestuário, calçados e artefatos de tecidos); Vale do Paraíba, com indústrias do Grupo I (têxtil e alimentos) e Grupo 11 (minerais não-metálicos). O Litoral, por sua vez, caracterizava-se pela presença de indústrias do Grupo I (alimentos) e do Grupo 11(química). Nas demais regiões, (basicamente, a predominância alimentos), era de indústrias acrescentando-se: no caso de do Grupo I Araçatuba, a indústria têxtil; no de Presidente Prudente, têxtil e madeira; e no de Marília, têxtil e química. 64 Ao longo desse período, modifica-se mencionadas, Campinas redefine-se supera a posição relativa das regiões acima a divisão Sorocaba do trabalho (mesmo Preto, industrial entre açúcar, laticínios excluindo baseando seu crescimento elas: e frigoríficos); e Ribeirão na moderna agroindústria, passa à frente do Vale do Paraíba, tanto em produto como emprego industrial, e, nos anos 40, também de Sorocaba, no que se refere ao VPl. Aos poucos, consolidam-se os principais núcleos de agregação industrial do Estado de São Paulo (Fundap, 1980), os quais, na década de 50, são sete, a saber: 1) o mais importante, composto pela Capital, Santo André, São Bernardo, São Caetano, Guarulhos, e, depois, Diadema e Osasco; 2) pela via Anhangüera - Jundiaí, Campinas, Americana, Bárbara d'Oeste; como prolongamentos Limeira, Rio Claro e Santa do núcleo anterior, 3) Ribeirão Preto e Franca e 4) São Carlos, Araraquara, Bauru e São José do Rio Preto; 5) pela via Dutra - São José dos Campos, Taubaté, Jacareí Sorocaba., Salto, Itu e Tatuí; e como prolongamento e Guaratinguetá; 6) da Grande São Paulo, 7) Santos e Cubatão. A industrialização rodoferroviários, industrializado, avança em direção ao Interior, seguindo os grandes eixos e formando constituído um quadrilátero integrado pelas regiões da Baixada e intensamente Santista, Campinas, Sorocaba e Vale do Paraíba. A concentração de indústrias nessas regiões não ocorreu de modo casual: ela deveu-se à mesma dinâmica da expansão cafeeira que levou à concentração inicial na Capital de São Paulo, e depois selecionou os núcleos alternativos 65 de concentração irradiação industrial Campinas, do café no Oeste paulista complexo cafeeiro, produtos no Estado. transformou-se de uma ampla e segundo núcleo em escoadouro região. A abertura acumulação de capitais provenientes nos setores bancário por exemplo, centro de polarizador do e mercado de troca de de estradas de ferro, a do café, a atuação do capital estrangeiro e de transportes, induziram ao desenvolvimento de atividades terciárias, de comércio e serviços, na cidade, que passou também a ser o local. de residência proliferando de muitos fazendeiros. estabelecimentos industriais Paralelamente, foram para atender a demanda crescente de alimentos, vestuário, instrumentos agrícolas, construção civil, manutenção de estradas de ferro etc. diversificou-se, Sorocaba, Com A estrutura assemelhando-se industrial à da Região Metropolitana. por sua vez, também constitui-se a decadência do café, da região de Campinas sua num núcleo industrial agricultura diversificou-se, antigo. enquanto indústrias foram se instalando, tanto para atender a demandas locais de bens não-duráveis regionais como para o beneficiamento destinadas à exportação. e a elaboração de matérias-primas A situação foi semelhante no caso do Vale do Paraíba e do Litoral. 4.3. O Período 1956-70 Essa etapa corresponde concentrando-se essencialmente padrão de acumulação, automóveis, à da implantação da industrialização em São Paulo. pesada no país, Entra em vigor um novo baseado na produção de bens de consumo duráveis - eletroeletrônicos etc - e na participação dos investimentos 66 estrangeiros no setor industrial - entrada de capital de risco, com estímulos à remessa de lucros para o exterior. Reduz-se o acentuado predomínio da produção de bens de consumo nãoduráveis na estrutura industrial brasileira, e a ênfase passa a ser dada na produção de bens intermediários e de bens de consumo duráveis e de capital - segmentos industriais mais complexos e modernos; além da substituição de importações de insumos básicos. Alguns fatos contribuiram para essa nova fase da industrialização do Brasil. Foram eles: a crise internacional de superprodução de algodão, a partir de 1952, e a nova crise do café, a partir de 1954, que causaram novo estrangulamento externo ao pais (Negri, 1988a). Assim, o governo federal, que, para beneficiar o exportador, já havia estabelecido em 1953, através de Instrução no. 70 da SUMOC, o regime de taxas múltiplas de câmbio, para atender os interesses de importação dos industriais; instituiu também a Instrução no. 130, que visava atrai! investimentos diretos externos, autorizand.o a importação de bens de capital sem cobertura cambial por parte das empresas estrangeiras aqui instaladas, e concedendo subsídios para a remessa de lucros (Seade, 1990a). Aumentam também, nessa época, os investimentos estatais. Além da criação, na década de 40, da Companhia Vale do Rio Doce, Fábrica Nacional de Motores, Acesita e Companhia Siderúrgica Nacional, outras iniciativas são adotadas pelo governo para acelerar a industrialização. Dentre elas, podem ser citadas: a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento 67 Econômico-BNDE (1952) e da Petrobrás (1954), instituindo o monopólio estatal do petróleo. Essas medidas colaboram para a formação da capacidade produtiva da indústria no período de expansão, de 1956 a 1962. financiar projetos industriais, para eliminar estrangulamento da infra-estrutura, O BNDE passa a os principais pontos de principalmente na área energética e siderúrgica; e a Petrobrás, iniciando com a indústria de refino de petróleo, lança as bases para a posterior implantação da indústria petroquímica. A indústria utilizou-se da capacidade ociosa instalada no pós-guerra (Seade, 1988), Essa fase expansionista deveu-se essencialmente à ampliação e consolidação do mercado interno, às políticas protecionistas, aos investimentos estatais, à entrada de capital estrangeiro, à concessão de incentivos fiscais e financiamentos ao setor privado, e à expansão do setor agrícola (Seade, 1990a). A industrialização modernização pesada fornece a base técnica e financeira para a da agricultura - políticas de crédito e incentivos às exportações, além de maior beneficiamento e transformação dos alimentos. A incorporação de avanços tecnológicos (máquinas, equipamentos e insumos agrícolas) no campo - com o conseqüente êxodo rural - melhora a qualidade e a produtividade dos produtos agrícolas, aumentando sua competitividade internacional. Ampliam-se as exportações do complexo da soja, carnes, sucos cítricos etc. 68 o modo de articulação entre indústria e agricultura modifica-se, na medida em que a atividade agrícola passa a subordinar-se à acumulação industrial (Seade, 1988). Surge um novo ramo industrial - o de bens de produção para a agricultura, a indústria "para a agricultura" - e expande-se sensivelmente a atividade agroindustrial. Por outro lado, com a abertura do mercado internacional e a política de incentivo às exportações, ocorre também uma expansão das exportações industriais (Negri, 1988a): de inicio, apenas as de bens de consumo nãoduráveis (tecidos, vestuário, calçados, alimentos), em razão da melhoria da qualidade e preço desses produtos. A crise econômica e política que atinge o país a partir de 1962 provoca a desaceleração do crescimento e é resultado dos desajustes da década anterior (Seade, 1988). O novo governo militar, então, promove um reordenamento institucional, através de uma série de reformas (principalmente das políticas fiscal, monetária e de endividamento), beneficiadas pela conjuntura favorável da economia internacional (Negri, 1992), que levam a uma modernização do aparelho estatal com vistas a dar suporte ao desenvolvimento da industrialização pesada. O período seguinte, conhecido como do "milagre econômico" (1967-73), caracteriza-se por aprofundar ainda mais a estrutura industrial, provocar um novo salto tecnológico, e acentuar a internacionalização (Fundap, 1980). da economia 69 o novo padrão de desenvolvimento industrial aprofunda ainda mais a concentração no Estado de São Paulo: 55,6% da produção industrial brasileira ao final dos anos 50, com concentração da industrialização pesada na Região Metropolitana de São Paulo, que representava o maior mercado consumidor, possuía o maior volume de mão-de-obra qualificada e sem qualificação, matérias-primas, componentes e serviços .industriais - principalmente água e energia -, o principal porto nacional e as melhores rodovias e ferrovias (Fundap, 1980). A implantação da indústria pesada reforçou a liderança de São Paulo no processo de integração do mercado nacional (Cano, 1990). Aumentam os fluxos comerciais entre São Paulo e as outras regiões do país, dada a nova base industrial, que passa a exigir, .além de alimentos e matérias-primas, novos insumos industriais pelo avanço da. estrutura produtiva, e maior exploração dos recursos minerais. Á medida em que aumenta o congestionamento econômico e urbano na Capital, ou seja, com a elevação dos preços dos terrenos encarecimento da mão-de-obra, e a saturação da infra-estrutura urbana, cresce o interesse por parte das novas empresas em se instalar nas proximidades do Município de São Paulo, em locais onde o acesso fosse fácil e os terrenos amplos e baratos, como o ABC, Guarulhos e Osasco. Foi esse o caso da indústria automobilística, por exemplo, que instalou-se no ABC, pela localização intermediária entre a Capital e o porto de Santos, e a existência de um parque industrial metalúrgico fornecedor de peças e componentes. 70 Foi ela também que induziu à substituição das ferrovias pelas rodovias, como base do sistema de transportes, o que levou, numa reação em cadeia, a se tornarem eixos indutores da relocalização industrial. Cabe ressaltar que, já a partir da 2a. Guerra, o transporte ferroviário vinha perdendo esse ganha espaço em favor do rodoviário, processo que intensidade a partir de 1956, com o Plano de Metas. Assim, a dinâmica cafeeira, da própria vai determinando igualmente redinamizam-se expansão a localização industrial, e não da expansão das indústrias. época, industrial do Interior: Campinas, Vale do Paraíba, Litoral - que, com o funcionamento da Refinaria em Presidente os antigos núcleos de agregação Nessa Bernardes Cubatão, da predominância e da Cosipa, presencia a substituição, das indústrias tradicionais pelas modernas. Entre 1956 e 1970, verificam-se mudanças na estrutura industrial da Região Metropolitana: (têxtil ,e alimentos) reduzida, (metalurgia os não-duráveis o mesmo ocorrendo e química). com as indústrias O grande crescimento têm sua participação de bens intermediários de participação se dá no Grupo III, com grande destaque para a indústria de material de transporte. No caso de Campinas, o Grupo I, com liderança do setor de alimentos e, em menor grau, têxtil, tem uma queda. O Grupo II (metalurgia, minerais não- metálicos e química) apresenta uma ligeira expansão, enquanto o Grupo UI mostra sinais de aceleração. A Região de Ribeirão Preto apresenta queda no Grupo I, elevação no Grupo li (química e metalurgia), III, destacando-se o setor de mecânica. e também no Grupo 71 o Litoral tem uma diminuição na participação do Grupo I, aumento no Grupo II (especialmente, química), e o Grupo III (mecânica). O Vale do Paraíba, que se caracterizava pelo predomínio da produção de não-duráveis, presencia o crescimento do Grupo Il (química), e principalmente do Grupo 111,que dá um grande salto, com a indústria de material de transporte. Sorocaba reduz a participação no Grupo I, sobe no Grupo 11e no Grupo lI. Bauru perde participação no Grupo I, ganha importância em relação ao Grupo Il, e no GtUPO III (mecânica). Nas demais regiões, continuam predominando os não-duráveis. 4.4. A Década de 70 Com a crise do petróleo e a importação maciça de bens de capital, o governo autoritário percebeu a fragilidade do setor externo brasileiro. Com vistas, então, a complementar ainda mais a estrutura industrial do país, o Estado adotou em 1974 uma série de programas definidos no II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), para consolidar o processo de industrialização do Brasil e impedir a redução do dinamismo dos investimentos em capital fixo, e, além disso, ajustar a economia à nova realidade nacional e internacional (Seade, 1990a). Os objetivos básicos do II PND eram: tia) substituir importações de capital e insumos básicos, como máquinas, equipamentos, produtos químicos e siderúrgicos, metais não-ferrosos e minerais não-metálicos; b) implantar grandes projetos para exportação de insumos industriais, como celulose, "'<." 72 ferro, alumínio e aço; c) aumentar geração de energia hidrelétrica; rodoviário e ferroviário, a produção interna de petróleo, e d) desenvolver e de o sistema de transportes e o sistema de telecomunicações" (Negri, 1992, p.18). o governo de dois setores da indústria partiu para a implementação intermediários: no início dos anos 70, a indústria petroquímica, capitais privados nacionais e estrangeiros, 2a. metade da década, (principalmente a instalação sob a coordenação da indústria de bens associando do Estado, e na de metais não-ferrosos alumínio, chumbo, cobre e estanho), com capitais estatais e estrangeiros. Na área de energia, o governo federal criou o Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL), que, ao lado da enorme expansão da produção de álcool gerada até o final da década de 70, estimulou também a produção de insumos químicos e implementos agrícolas para a lavoura canavieira, e a produção de máquinas, equipamentos e acessórios para usinas e destilarias de álcool (Negri, 1988a). o setor da construção civil - com a criação do BNH em 1965 - também teve um crescimento acelerado nesse período, provocando efeitos multiplicadores em outros setores industriais: cimento, ferro, alumínio, telhas, material elétrico, material e equipamentos cerâmica, hidráulicos, tijolos e madeira, entre outros. Durante os anos 70, o governo desconcentraçãoindustrial, em federal direção preocupou-se a outros em promover estados do a Brasil, 73 principalmente do Nordeste, incentivando a realocação de investimentos para reduzir os desequilíbrios regionais. Em função disso, constata-se efetivamente uma desconcentração industrial em direção a outras unidades da federação, que passam a crescer a taxas anuais superiores às de São Paulo. Entre 1949 e 1970, a participação de São Paulo no total nacional passa de 48,60/0para 58,2%; mas, a partir de 1970, estabiliza-se, e, a seguir, decresce, passando para 53,4% em 1980, em razão, principalmente, da grande redução da participação no Grupo I. Entretanto, pela própria natureza do capitalismo industrial, o governo federal foi obrigado a realizar alguns investimentos no Estado de São Paulo, ampliando ainda mais suas vantagens comparativas (Negri, 1988a). Neste ponto cumpre citar os principais investimentos realizados pelo governo federal, visando desconcentrar a indústria de São Paulo em direção ao Interior do Estado, para evitar o agravamento do "caos urbanos" que ela havia provocado na Região Metropolitana (Negri, 1988b). Foram eles: 1) a instalação de 2 importantes refinarias de petróleo da " Petrobrás, na região de Campinas (Paulínia) e em São José dos Campos, gerando estímulos para um encadeamento técnico, articulação com outras indústrias; 2) a implantação. a partir de 1975, do PROÁLCOOL, gerando fortes' encadeamentos com a indústria de bens de capital , que se consolidou n~s proximidades das áreas produtoras de álcool. e se expandindo por todo o Interior, com forte concentração nas regiões de Campinas, Ribeirão Preto e Bauru; 3) a consolidação do pólo petroquímico de Cubatão, com a 74 participação acentuada da Petrobrás e expansão constante da Cosipa no setor siderúrgico; 4) a implantação militares, e indústrias concentração de um complexo aeronáutico de material bélico no Vale do Paraíba; e 5) a de institutos de pesquisas e de empresas estatais nos setores de informática, microeletrônica proximidades e telecomunicações, da UNICAMP, industriais ligadas a essas a instalação, de unidades os investimentos do governo áreas (Seade, 1988). nas vias de transporte, uma vez constatado principais eixos de interiorização A via Anhangüera, na região de Campinas, nas que estimularam Por outro lado, foram de grande importância estadual para fins civis e que definiam os da atividade industrial (ver Mapas 2 e 3). fumo a Ribeirão Preto; a rodovia Washington Luiz, em direção a São José do Rio Preto; a rodovia Castelo Branco, ultrapassando Sorocaba; a via Dutra, em direção ao Vale do Paraíba; e modernas rodovias, como a Castelo Branco, Bandeirantes, Imigrantes e dos Trabalhadores, da recuperação e ampliação (terceiras faixas) das rodovias Washington e Anhangüera, a recuperação uma rede de estradas Luiz da malha. viária estadual e a implantação vicinais, contribuíram custos de transporte, aproximando induzir a localização além grandemente a Região Metropolitana de indústrias em municípios para reduzir de os do Interior, e para do Interior. Além disso, políticas municipais de concessão de terrenos, isenção de impostos e taxas, e a criação de distritos industriais também colaboraram nesse processo. MAPA 2 DIVISÃO ADMINISTRATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, SEGUNDO AS REGIÕES ADMINISTRATIVAS E DE GOVERNO RESlÕES 1. 2. l. 4. 5. 6. 7. 8. ADMINISTltATlvaS R••• i60" GR" SeioPalulo R.,iio do Litoral I'Ilt9iao.o Volo oi. Paralk Rlt9iio d. SorocoM Revi&. 01. Co,",pi_ R.,iao fl RiNirõo "'-'6R.,iõo de 8011"' R.;iilo ele SlIo Jotoido RioPre!o 9. Re9iio ele Arcca! ••" lO. R.,ilo d. Prni4 •• ",~. 11. Regiao 010M.rília MAPA 3 PRINCIPAIS EIXOS RODOVIÁRIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO 77 Quanto à estrutura industrial, o período 1970-80 provoca as seguintes alterações na produção paulista: reduz-se a participação das indústrias do Grupo I no VTI total, aumenta a do Grupo 11(principalmente, química), e a do Grupo 111(em especial, mecânica). No que se refere à distribuição espacial das indústrias em território paulista, verifica-se que, depois de um longo período de crescente concentração, a Região Metropolitana, a partir de 1970, vai cedendo lugar para o Interior, que passa a concentrar, de 25,3% do VTI total paulista em 1970, 37,1% em 1980. A Região Metropolitana apresenta, em 1970, uma estrutura industrial, segundo o VPI, relativamente equilibrada; em 1980, cai a participação dos não-duráveis (têxtil, alimentos) e aumenta a do Grupo IH (material de transporte, material elétrico, mecânica) (Negri, 1988a). o "caos urbano" predominava na Grande São Paulo: elevados custos de aglomeração, agravamento dos problemas de transporte e de abastecimento de água, danos ambientais, além da força do sindicalismo vinculado ao setor metal-mecânico, Interior. levaram muitas empresas a buscar cidades médias do Uma série de atrativos podem ser apontados: uma rede urbana moderna, com amplo atendimento no setor de serviços de saúde, habitação, educação, saneamento e transportes; infra-estrutura viária, de energia e telecomunicações. A indústria do Interior, por sua vez, diversifica-se e moderniza-se, assemelhando-se à da Região Metropolitana, e passa a ter uma expansão 78 crescente, com exceção das regiões do Oeste paulista (Negri, 1988a). década de 50, apenas o Litoral havia aumentado sua participação, Na devido à I maturação dos complexos siderúrgico e químico, estabilizando-se, contudo, na década de 60, enquanto que Campinas e o Vale do Paraíba crescem. 2a. metade dos anos 70, a participação de Campinas Na aumenta ainda mais, pela maturação da Refinaria do Planalto, que atraiu a produção química, e a indústria metal-mecânica; além dela, outras regiões como o Litoral, Vale do Paraíba, Ribeirão Preto e Sorocaba apresentam crescimento. Assim, constata-se maior dinamismo um processo de concentração registrou-se em áreas industrial no Interior, cujo mais próximas da Capital, abrangendo uma distância aproximada de cerca de 150 km, seguindo além na direção do eixo da via Anhangüera direção da Castelo Branco. e com extensão menos pronunciada A concentração no Interior tende a se tomar cada vez mais intensa - hoje, é a 2a. maior concentração o processo de interiorização da indústria ocorreu de forma muito concentrada, na paulista industrial do país. no período 1970-80 em tomo dos eixos de penetração e ligação com outros mercados (Seade, 1990a). Constatam-se 4 tendências espontâneas de localização industrial a partir de 1970: 1) expansão do parque industrial para fora da área metropolitana, dentro dos limites do quadrilátero Santos-Campinas-Sorocaba-São mas José dos Campos; 2) ampliação do número de indústrias na periferia da Grande São Paulo; 3) evasão das grandes e médias empresas das zonas centrais Capital; e 4) formação de "pólos" regionais, especializados gêneros industriais. da em determinados 79 Surgem 2 grandes blocos de produção: um, constituído pelas regiões da Grande São Paulo, Litoral, Vale do Paraíba, Sorocaba, Campinas e Ribeirão Preto, com uma economia predominantemente urbano-industrial (apesar de Sorocaba apresentar um grau relativamente baixo de urbanização e Ribeirão Preto ter uma industrialização recente); o outro bloco, composto por Bauru, São José do Rio Preto, Araçatuba, Presidente Prudente e Marília, apresenta uma base econômica agrícola, com industrialização incipiente e empresas de pequeno e médio porte, baseada na produção de bens de consumo nãoduráveis, tanto para consumo interno como para exportação (Fundap, 1980). Não ocorre um "esvaziamento econômico" da Região Metropolitana, mas sim ajustes no padrão de acumulação de capital, na divisão interregional do trabalho e nas formas de hegemonia econômica das regiões. Apesar disso, a indústria continua concentrada no Estado de São Paulo, na Grande São Paulo e no Município de São Paulo, e a ela vêm somar-se a concentração dos serviços de intermediação financeira e das sedes administrativas da maioria dos grandes grupos econômicos. Trata-se, pois, de uma "desconcentração centralizada" (Fundap, 1980, p.93), No Interior, as indústrias do Grupo I, no período de 1970-80 passam de 53,6% para 30,3% (39,9% para 46,3% do total do VPI do Estado); as do Grupo 11aumentam de 34,0% para 49,20/0- quase metade do VPI do Interior (30,4% para 47,4%); e as do Grupo 111,de 12,50/0para 20,5% (13,1% para 27,7%). A indústria de alimentos (65,1%) do total estadual), que, até 1970, predominava na estrutura industrial do Interior, inverte de posição com a 80 indústria química (64,9% do total) em 1980, no que se refere ao VPI (Negri, 1988a). A indústria representando, mecânica, por sua vez, amplia sua participação, em 1980, 36,90/0 do total do Estado. o grande dinamismo da indústria química é resultado direto e indireto das medidas do governo federal: de modo direto, em razão da implantação, anos 70, das refinarias ampliação da PRoALCOOL, nos de Paulínia e São. José dos Campos e da constante refinaria gerando de Cubatão; criação do da produção de álcool no ao longo dos anos 70, indústrias complexas de a grande indiretamente, expansão pela Interior. Instalam-se, no Interior, médio e grande porte, ligadas aos setores metal-mecânico, petroquímico e eletrônico. No período 1970-80 também aumentou o emprego industrial no Interior de São Paulo. Entre 1970 e 1975, a participação do Interior na criação de novos empregos foi de 36,9%, ao passo que entre 1975 e 1980 foi de 51,3%, a maior parte dos quais - 20,7% - na região de Campinas. modernas e complexas - principalmente, mecânica As indústrias - foram as que mais criaram empregos: 47,5% do total do Interior entre 1970 e 1975, e 38,9% entre 1975 e 1980 (Seade, 1988). A Região de Campinas, que, em 1970, representava Estado, passa, em 1980, para 15,4% (Negri, 1988a). 10,5% do VPI do Cai a participação indústria de alimentos e da têxtil, enquanto a química, quintuplica. I vê sua participação da O Grupo reduzida à metade, enquanto o Grupo II quase dobra. 8] Isso, entretanto, não significa queda na concentração alimentos a nível do Estado. Os municípios de Americana, Santa Bárbara d'Oeste modernizam tecidos sintéticos, dos ramos têxtil e de Nova Odessa e sua produção têxtil, introduzindo ao lado de subsidiárias de multinacionais. fibras e Quanto aos alimentos, cabe destacar a importância da produção de açúcar em Piracicaba e sub-região; do suco de laranja em Limeira; de conservas 4e legumes e hortaliças em Araras, Americana e Jundiaí; da produção de leite e creme de leite conservados, do óleo de milho, do empacotamento e beneficiamento do milho. As indústrias do Grupo II vão aumentando gradativamente sua participação na região, com destaque para a indústria química, a mais importante, como já que com a indústria de minerais não-metálicos mencionado, cerâmica) representam, respectivamente, estadual nesses ramos, em 1980. 21,5% As indústrias (principalmente e 20,50/0 da produção do Grupo UI representam 24,7% da estrutura industria1 em 1980, contra os ]6,6% de 1970, com ênfase nas indústrias mecânica, comunicações, de material de, transporte que crescem a partir da maturação de importantes pesquisa e desenvolvimento Tecnológico e material elétrico e de de Informática tecnológico, centros de como os da UNICAMP, do Centro e o da Telebrás. A região tem grande importância também como geradora de empregos industriais. A atração da Região de Campinas deve-se, na maior parte, à sua complexa rede de infra-estrutura viária, uma vez que sua produção tem acesso fácil aos mercados de outras regiões, como: Ribeirão Preto, pela via Anhangüera; José do Rio Preto, pela rodovia Washington Luiz; Sorocaba, São pela Santos Dumont; e São José dos Campos, pela rodovia D. Pedro I; e aos de outros 82 estados, pelos prolongamentos destas rodovias ou de outras, como a Fernão Dias e a Adhemar de Barros; e, principalmente, ao da Grande São Paulo e ao mercado externo, pela Anhangüera e Bandeirantes (Seade, 1990a). Outros fatores locacionais importantes são: mão-de-obra especializada e infraestrutura urbana da maioria dos municípios que a compõem. É o 20. pólo industrial do Estado. A Região de Ribeirão Preto também diversifica sua estrutura industrial no período 1970-80. Ocorre uma queda sensível na participação das indústrias . do Grupo I, sendo que, na década de 70, as indústrias do GIUpO II e do Grupo IH apresentam crescimento. A redução na participação da indústria de alimentos não foi maior em razão da expansão da agroindústria na região, a partir do início dos anos 70: açúcar, suco de frutas, conservas, refinação de óleos comestíveis; leite e derivados; indústria frigorífica; rações e concentrados; e empacotamento e beneficiamento de cereais. Com o crescimento das exportações agroindustriais brasileiras no final da década, cresce a participação do setor de alimentos no total do VPI da região, apesar da acentuada redução quanto ao nível de emprego. Aumenta também a participação da indústria de vestuário, calçados e artefatos de tecidos - com destaque especial para a região calçadista de Franca, que se beneficiou bastante dos incentivos fiscais dados pelo governo federal para ampliação das exportações. No que se refere às indústrias do Grupo lI, deve-se ressaltar a grande expansão que teve a indústria química, com a implantação do PROÁLCOOL e com o desenvolvimento da extração de óleo vegetais. Em 10 anos, duplica 83 a participação da indústria química no VPI da região. Finalmente, no Grupo IH o destaque vai para a indústria mecânica, que participa, em 1980, com 15,3% do VPI da região e 2] ,2% do emprego. As empresas ali situadas, na maioria de peqeno e médio porte, vêm de outras regiões do Estado, e não da Região Metropolitana, sendo que.a tendência a uma industrialização mais rápida dos municípios de Araraquara, São Carlos e Ribeirão Preto deve-se ao fato de atuarem como continuação da Região Administrativa de Campinas (Seade, 1990a). Assim, como fatores locacionais importantes podem ser citados, além da mesma malha rodoviária de Campinas, a ampla oferta de mão-de-obra, a existência de matériasprimas para a agroindústria e o preço baixo dos terrenos. Qua.nto ao Litoral, verifica-se uma transformação em sua estrutura industrial: a participação do Grupo lI, que, em 1970, era de 75,3%, passa para 92,7%, tanto em razão do aumento da produção química, como da metalurgia, com a criação da Cosipa em 1963. A queda mais acentuada fica a cargo do Grupo I, devido ã redução da participação dos alimentos (Negri, 1988a). o complexo industrial de Cubatão e o porto de Santos é que dinamizam essa região, além da extensa malha rodoviária (via Anchieta e rodovia dos Imigrantes), por onde são recebidas as matérias-primas e é escoada a produção para a Região Metropolitana de São Paulo e os outros estados brasileiros. Pequenas e médias empresas, ligadas ao comércio e à prestação de serviços, estão presentes em Santos, enquanto Cubatão, caracterizado pelo alto grau de especialização, abriga indústrias de grande porte (Seade, 1990a). 84 A Região do Vale do Paraíba equilibrada da estrutura caracterizando-se industrial. em 1970, uma distribuição Em] 980, contudo, pelo nítido predomí'nio (Negri, ]988a). mais ela modifica-se, das indústrias dos Grupos II e III O ramo quimico assume a liderança da produção regional, graças principalmente à implantação da Refinaria da Petrobrás nos anos 70, o que atraiu outros segmentos indústrias tinha, de material desse setor. de transporte, Em segundo como as montadoras lugar, vêm as de automóveis, além da fabricação de aeronaves, que foi estimulada pela implantação, governo federal, concentrava em 1980. do complexo aeronáutico. Em razão disso, mais de 10% da produção de material de transporte Seguem-se, em ordem de importância, pelo a região do Estado os ramos metalúrgico, de material elétrico e mecânica. Cabe destacar aqui o papel dos 5 institutos de pesquisa existentes no município de São José dos Campos, e das grandes empresas dos segmentos aeronáutico, tomar aeroespacial a região e de armamentos urn pólo ali instaladas, de desenvolvimento no sentido de tecnologia de militar e aeroespacial. A maior parte das indústrias da região veio da Grande São Paulo, em função das deseconomias de aglomeração algumas multinacionais diretamente urbano, embora e outras ligadas à esfera federal tenham se localizado no Vale (Seade, mercados consumidores e do congestionamento 1990a). Localizada entre os 2 principais do país - São Paulo e Rio de Janeiro - e atravessada pela via Dutra, abriga empresas dos setores industriais mais complexos. 85 Na Região de Sorocaba o predomínio Entretanto, as indústrias aos poucos, era dos Grupos 1 e 11, em 1970. do Grupo 1 (têxtil, alimentos) perden~o peso relativo em favor das dos Grupos II (metalurgia, não-metálicos, química) comunicações) e 111. (mecânica, material vão minerais elétrico e de (Negri, 1988a). industrial deve-se em grande parte à construção, A diversificação na década de 70, da rodovia Castelo Branco, que tornou mais fácil o acesso à Região Metropolitana de São Paulo e aos estados do Sul do país. Novas empresas passam a se instalar na região, voltadas para os setores mais complexos, como metalurgia, mecânica, química e material elétrico. Essa região possui uma importante rede de rodovias: Raposo Tavares, que ligam a Região Metropolitana Castelo para amplo escoamento Branco, Dumont, para desafogar o pólo industrial Marechal Rondon e ao oeste do Estado; da produção; e rodovia Santos de Campinas, que já demonstra sinais de saturação. Por sua vez, na Região de Bauru o Grupo I (alimentos, têxtil) era claramente predominante em importância. 1970, apesar do Grupo II (química) ter Em 1980, todavia, o Grupo I perde participação, predominância; relativa mas não a e aumenta o peso dos Grupos II (química) e IH (mecânica, com empresas de pequeno e médio porte, produzindo implementos agrícolas, peças e acessórios necessários à lavoura) (Negri, 1988a). Finalmente, a Região Oeste, constituída Preto, Araçatuba, Presidente pelas regiões de São José do Rio Prudente e Marília, participam, em 1980, com 86 menos de 1% cada na produção industrial total do Estado. Grupo I representavam, As indústrias do em 1956, 85% da produção da região, enquanto que em 1980, 71% - alimentos, mobiliário (São José do Rio Preto), vestuário, calçados e artefatos de tecidos (Araçatuba), Gl1JpO 11, que representava 1980 (química inexpressivo ramo (mecânica - Marília). mobiliário importância - representa participa Prudente). com O Grupo Ill continua" relativamente O setor de alimentos - com destaque para 16,4% da produção 14,8% do total da indústria de couros - principalmente total do Estado. estadual, e cresce em Presidente Tabela 1 Participação no VPI do Estado de São Paulo, por região administrativa ao ......-------------------------.------, Cil1928 70~~-r-.;l----------.-----------------I f,~ , ", ~i, ------------1 ------------- '-'t, & se .;:;< ,/;, ~ 40 . E fl '1~· &. 30 .~. 20 " 01958 01970 .1980 PI" ~1! ,•. .: , ------_ .. ·LL~"cll]-cdIl~ ..· RMSP llTOIW. Fonte: IBGE VN.EOO pARAl9f. sortOCABA CAMl'NAS RIBl3RAo PR€TO ~-=-+--'~ 8NJRU ossre O a Prudente e Araçatuba (Negri, 1988a). ao O 1/5 da produção em 1960, passa para 1/4 em e metalurgia). a indústria frigorífica têxtil (Presidente 87 Tabela 2 Estrutura Industrial segundo o VPI, por região administrativa - 1956 110 100 11 G 111 IJGII ao fJ I: 10 G I 40 30 20 10 •••••••• LHOJW. vAU; 00 p..uWt\A !!~ C.wPtHo\! ~ Bl-lAJ ~1O S J 00 FqTO IA\ÇA'~ PA:.S "'~A Pf\JD[NT( Fonte: IBGE Tabela 3 Estrutura Industrial segundo o VPI, por região administrativa - 1970 110~------------------------------------------------------------' 100 .GIII DGII [] 30 20 10 o Ht<P1i Fonte: IBGE VI.tI. 00 P,A.-tWI\I. tof:WX'.I.&. c~, R9:1\\O J)qIO RAI.AJ G I . 88 Tabela 4 Estrutura Industrial segundo o VPI, por região administrativa - 1980 100 .GIII 90 DGII 80 .GI 70 f: & 10 o Atf!fI IIlO'W. vo\I.FOO 'S~ •• 1\1$.< ~, ~YJJD PI{ to ""tnl SJRO m TO Af\\Ç41lf\A Pf1;g JU,A'.lA PI>JOCNlE Fonte: IBGE 4.5. A Situação Recente A crise profunda que atinge o Brasil a partir de 1980 afetou de forma intensa o Estado de São Paulo, principalmente o setor metal-mecânico. Essa década é marcada pelo grande aumento das exportações, estimuladas por políticas recessivas do governo federal, como: tia) , facilidades na política cambial; b) continuidade das medidas de incentivo e subsídios às exportações de manufaturados; c) ajustes na economia interna com diminuição da demanda e estimulos ao comércio internacional" (Negri, 1992, p.32). Essas medidas visavam a obtenção de elevados superávits comerciais para o pagamento dos serviços da dívida externa. São Paulo é o estado mais atingido por tais ações, em razão de concentrar . quase 2/3 da indústria nacional de bens de capital, e o grau de interdependência técnica entre os diferentes setores ser o mais elevado, o que provocou uma reação em cadeia em seu parque industrial; assim, a queda de 89 produção de material de transporte e material elétrico e de comunicações gerou reflexos nas indústrias de autopeças, e de acessórios e componentes de material elétrico. o Interior, ao contrário da Região Metropolitana, cnou empregos e aumentou sua participação no valor adicionado. Dados mais recentes sobre o valor adicionado pela indústria de transformação no Estado de São Paulo informam que a participação da Região Metropolitana decresceu ainda mais, passando do 60,0% em 1980 para 50,17% em 1990, ao passo que as 5 maiores regiões administrativas - Litoral, Vale do Paraíba, Sorocaba, Campinas e Ribeirão Preto - passam de 32,8% para 36,60/0 (Negri, 1988b). Cabe aqui uma explicação sobre o conceito de valor adicionado. "O valor adicionado é a diferença entre as saídas e as entradas de mercadorias das diversas firmas, correspondendo ao montante que cada uma acrescenta de valor às suas matérias-primas" (Azzoni, 1993, p.49). Corresponde ao faturamento anual declarado pelas empresas à Secretaria da Fazenda, através do preenchimento da Declaração para o Índice de Participação dos Municípios (DIPAM). O total das DIPAMs de um município equivale ao valor de sua produção naquele ano. Deve-se ressaltar, contudo, que os valores captados pelas DIPAMs não são corrigidos pela inflação. Assim, os municípios agrícolas, por exemplo, são prejudicados por valores defasados, em função de sua produção ocorrer principalmente no início do ano. Existem também os problemas de preenchimento e fiscalização, próprios de qualquer declaração. 90 Esses dados são utilizados no trabalho em substituição ao VTI, para analisar a atividade industrial num período mais recente, já que o IBGE não realizou o Censo Econômico em 1990. Apesar de possuirem conceitos distintos (um, tem como base o faturamento; o outro, a produção). eles apontam as mesmas tendências quanto ao desenvolvimento da indústria de transformação. Durante o período 1980~87 amplia-se a participação das indústrias do Grupo I na estrutura paulista, de 25,8% para 28,9%, em razão do desempenho agroindústria paulista e do aumento das exportações O Grupo 11 reduz sua participação da de alimentos e têxteis. de 39,6% para 37,2%, graças à queda da demanda de insumos básicos provocada pela recessão; também o Grupo IH sofre uma redução de 34,6% para 33,9%, mais atenuada pelo aumento das exportações da indústria de material de transporte (Negri, 1992). A participação de São Paulo na indústria brasileira 1987 - em 1980, era de 53,40/0. participava decresce para 510/0 em Por sua vez, o Interior com 19,8%, em 1987 passa para 20,4%, Metropolitana passa de 33,6% para 30,6%. (exceto a Capital) em 1987 destaca-se mais complexos (principalmente sendo que a Região A indústria da Grande São Paulo pela predominância metal-mecânica, dos segmentos e eletroeletrônica, papelão, borracha e produtos de matérias plásticas), bens de consumo não-duráveis, que, em 1980, papel e e contínua redução dos a saber: Grupo I - 22,5%; Grupo II - 38,9%; e Grupo III - 38,6%. Quanto à distribuição espacial da indústria em São Paulo, tem-se que, em 1987, a Região Metropolitana tinha uma participação 64,1% - no total do valor adicionado de 60,0% - em 1980, do Estado, sendo que, no Interior, as 91 regiões com maior participação eram: Campinas - 17,6%, Vale do Paraíba 6,6%, Ribeirão Preto - 5,3%, Sorocaba - 4,60/0, com uma concentração de indústrias do Grupo IIl, além de um aumento de participação nos setores metalúrgico, farmacêutico e vestuário e calçados; Bauru - 1,1%, e região Oeste - 1,9%, que aumentam a participação nas indústrias do Grupo I principalmente alimentos - e na produção de álcool (Seade, 198,8). Assim, no período 1980-87 foi o Interior que garantiu o crescimento industrial do Estado, graças à sua integração no mercado nacional, crescimento dos mercados consumidores do Interior (maior urbanização) e aumento das exportações, tanto de produtos agroindustriais (suco de laranja, café, farelo de soja, carne congelada bovina e de frango, óleos vegetais e açúcar), como de industrializados (material de transporte, tecidos, calçados, produtos siderúrgicos, produtos mecânicos e caldeiraria) (Negri, 1992). O Interior aumentou sua participação 110 total do Estado no período 1980-87: Grupo I - de 40,2% para 49,6%; Grupo JI - de 2,8% para 38,7%; e Grupo IH - de 28,2% para 34,1%. Por sua vez, a participação no emprego industrial passa de 35,2% para 38,5% - principalmente no Grupo I (Negri, 1992). Dentre os fatores que explicam o .crescimento do Interior nesse período estão: a continuidade dos investimentos do governo estadual na infraestrutura rodoviária, por meio da implantação de terceiras faixas e duplicações de trechos das rodovias Anhangüera, Washington Luiz, D. Pedro I, Castelo Branco e rodovias Piracicaba-Americana, Campinas-Sorocaba, para maior liberdade das instalações industriais; melhoria de rodovias estaduais e pavimentação de estradas vicinais em regiões produtoras de bens 92 alimentares, energéticos e de exportação; consolidação maior região produtora de álcool do país; consolidação do Interior da agroindústria suco de laranja, do complexo da soja, com grande penetração internacional; Interior e expansão - material das exportações de transporte, aviões siderúrgicos e máquinas, equipamentos Ao final dos anos 80, os principais problemas semelhantes deterioração dos comprometimento aos de no mercado industrializados e material bélico, do produtos e produtos de caldeiraria. centros urbanos do Interior enfrentam enfrentados serviços dos de produtos como de recursos pela transporte, hídricos, metrópole em poluição favelização, 1970: ambiental, problemas de saneamento, saúde, educação etc (Negri, 1992). A Região de Campinas, importante com cerca de 4,5 milhões de habitantes, área econômica diversificada, utilizando onde destacam-se do Interior, insumos as culturas arroz e milho, e diversos com uma agricultura químicos de laranja, produtos sucos cítricos, carnes e laticínios. e biológicos, cana-de-açúcar, agroindustriais é a mais moderna e e mecanização, tomate, cebola, como: açúcar, álcool, Possui também uma estrutura industrial bem diversificada, com forte presença das indústrias do Grupo II - química, metalurgia, e papelão, transporte, papel e do Grupo material elétrico e de comunicações, química, mecânica, têxtil e alimentos. IH - mecânica, material de sendo as mais importantes: No período 1980-87: Grupo I - de 29,5% para 29%; Grupo 11 - de 34,1% para 35,30/0; e Grupo III - de 36,4% para 35,7%. 91 A Região do Vale do Paraíba, com cerca de 1,5 milhão de habitantes, é a 2a. em termos de importância industrial no Interior. Desde 1970, sua estrutura industrial é bem diversificada, com setores modernos e complexos, situação essa que se acentuou nos anos 80. No período 1980-87, a distribuição passou a ser: Grupo I - 22% para 14%; Grupo II - 33% para 410/0;Grupo UI 45%. Os ramos industriais mais importantes são: química; material de transporte, metalurgia, mecânica e material elétrico e de comunicações juntos, representam mais de 2/3 da produção regional (Negri, 1992). O Centro Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos, foi impulsionado por projetos de interesse do Ministério da Aeronáutica, e forma profissionais altamente qualificados nos setores de engenharia aeronáutica e mecânica. A Região de Ribeirão Preto vem apresentando uma indústria e agroindústria cada vez mais modernas, às quais se vinculam atividades comerciais e de serviços que atendem até parte de Minas -Gerais, e uma agricultura que ocupa ala. posição no Estado, em termos de área cultivada, produção física e valor da produção agrícola (Negri, 1992). Atrái fluxos migratórios em razão de seu dinamismo na cultura da cana-deaçúcar, produção de açúcar e álcool, laranja, cítricos, café, milho e soja; entretanto, a substituição da produção alimentar, de pequenas propriedades, por culturas de exportação tem levado à proliferação de trabalhadores volantes ou "bóias-frias". 94 Para o crescimento da região contribuiu também a existência de uma extensa malha rodoviária, que tem recebido investimentos elevados nos últimos 20 anos: a via Anhangüera, que, saindo da Capital, corta as regiões de Campinas e Ribeirão Preto, e faz a ligação com Minas Gerais; a rodovia Washington Luiz, que, unindo a Capital à região de Campinas pela Anhangüera, a partir de Rio Claro e Limeira, faz a ligação com São José do Rio Preto, passando por Araraquara e São Carlos; os eixos transversais, 'Urbanos como Araraquara, Jaboticabal, Sua estrutura consumo industrial não-duráveis Bebedouro e Barretos. é caracterizada - metade que ligam com centros pela forte presença da indústria alimentos (açúcar, indústria frigorífica, regional cítricos), de bens de -, principalmente vindo, a seguir, o ramo químico (extração de óleos vegetais e produção de álcool). Outros ramos de importância e equipamentos são: metal-mecânica (produção para a agricultura e para a agroindústria), A Região de Sorocaba, indústria melhorias redinamizada de máquinas e calçados. com cerca de .1,9 milhão de habitantes, teve sua a partir dos anos 70, em função da realização em sua infra-estrutura viária: a construção da rodovia de Castelo Branco, com pistas duplas, como eixo de penetração para o Interior; ligações com o Paraná, através da rodovia Raposo Tavares; com a região Campinas, através da rodovia SP027; e com Piracicaba, através da rodovia Costeio Branco e da rodovia do Açúcar, também construída nos anos 70; além da rodovia Marechal Rondon e dos trilhos da Fepasa (Negri, Assim, além da proximidade adequada estrutura de com a Região Metropolitana transportes rodoviários de 1992). de São Paulo, sua e ferroviários, a 95 disponibilidade de matérias-primas agrícolas e minerais, colaboraram para atrair indústrias para a região. Nos anos 70, a expansão industrial ocorreu no setor de bens intermediários (minerais não-metálicos, química, metalurgia e madeira - esta, com incentivos governamentais para o reflorestamento), ao passo ,que nos anos 80, nas indústrias do Grupo UI (mecânica, material elétrico e de comunicações, material de transporte). A Região do Litoral, apesar da maturação dos investimentos realizados nos ramos siderúrgico e petroquímico a partir dos anos 50, concentrava no setor terciário a maior parte de sua PEA nos anos 70. Sua estrutura industrial está concentrada nos ramos químico e metalúrgico. Uma série de indústrias ligadas a esses setores, como a de fertilizantes, foram atraídas para a região em razão de fatores como: infra-estrutura viária - a via Anchieta e a rodovia dos Imigrantes, ligando à Capital>, as linhas férreas da Fepasa, o acesso ao mar e o porto de Santos, além da presença da Cosipa e da Refinaria Presidente Bernardes. Nos anos 80, sua participação se reduz no total estadual, em conseqüência de: redução da produção de bens intermediários, provocada pela recessão; maiores exigências quanto ao controle ambiental, com desativação de unidades poluidoras; maior crescimento da indústria química em outras regiões etc. A Região de Bauru, com cerca de 850 mil habitantes, tem uma estrutura industrial em que é maior a importância das indústrias de bens de consumo 96 não-duráveis, principalmente indústrias: química, têxtil, alimentos. mecânica Também vêm se destacando e de bebidas, e em menor as grau, Éa vestuário, calçados e artefatos de tecidos, editorial e gráfica, e madeira. 3a. região produtora de álcool de São Paulo, além de produzir açúcar. Também se destaca na extração e refino de óleos vegetais (mamona, amendoim, milho); produz frutas cristalizadas, hortaliças, rações e derivados, e empacotamento A indústria mecânica fabrica implementos conservas soja, de legumes e de milho, arroz, trigo e café. agrícolas, peças e acessórios para a agricultura e agroindústria. Finalmente, a região concentrando articulado, Oeste, com cerca de 3 milhões 36,30/0 do território interligando paulista, tem um sistema Washington viário e bem a região com os estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e Minas Gerais, e com as regiões administrativas Campinas e Sorocaba. de habitantes, de Ribeirão Preto" Ao lado das ligações ferroviárias, tem-se: a rodovia Luiz, rumo a São José do Rio Preto; a Marechal Rondon, para Araçatuba; e a Raposo Tavares, para Presidente Prudente e Marília; além de vias secundárias de acesso aos principais centros urbanos governo estadual realizou um grande esforço de recuperação na década de 80, melhorando centros distribuidores A região produz laranja, mamona, concentrada o escoamento ou agroindustriais amendoim, da produção de processamento café, mandioca, além da produção pecuária. milho, regionais. dessas rodovias agrícola para os (Negri, 1992). feijão, A estrutura além de mobiliário. está A Região de São José do Rio Preto produz açúcar, álcool, sucos cítricos, e produtos frigoríficos, soja, trigo, industrial nas indústrias do Grupo I, em especial alimentos. óleos vegetais O extração de Na Região de 97 Araçatuba destacam-se: alimentos, vestuário, calçados e artefatos de tecidos, couros, peles e similares, produtos frigoríficos e química (álcool). Na Região de Presidente Prudente, destaca-se a indústria de alimentos - mais de 40% da produção regional>, produtos frigoríficos, além de química (extração de óleos vegetais) e têxtil. Na Região de Marília, a indústria mais importante é a de alimentos (frigorífica e de refinação de óleos vegetais), seguida da química, mecânica, madeira e bebidas • esta, representando 5% do total estadual (Negri, 1992). É esse, então, em grandes linhas, o cenário que se apresenta atualmente no Interior paulista, em função da desconcentração industrial ocorrida. Agora, o estudo passa a concentrar-se especificamente nas IATs e nos fatores que as levaram a se aglomerar em determinados municípios paulistas. 98 5. A FORMAÇÃO DE "TECNOPÓLOS" NO INTERIOR PAULISTA 5.1. Considerações Preliminares Antes de mais nada, convém lembrar que as aglomerações alta tecnologia também tecnológicos. são conhecidas Sem entrar em maiores tecnopôíos como detalhes da indústrias pólos ou sobre a origem do termo "pólo", que é freqüentemente associado aos "pólos de desenvolvimento" François aqui a considerar Perroux, região usualmente desenvolvimento, um município. empresas limitou-se próxima a universidades de alta tecnologia" e/ou instituições voltadas relativamente e Perito, concentração espacial universidades de alto nível têm centros de excelência fluxo de informações de empresas de pesquisa aos limites geográficos uma densidade (Nascimento de pólo tecnológico como "a de um modo geral circunscríta onde seencontTa de de alta de 1991, p.30). para atividades e A nas quais as gera um importante entre elas, e entre o pessoal das próprias empresas, além de economias externas de escala. Segundo Medeiros, o pólo científico-tecnológico de 4 componentes: especializaram empresas tecnológica "1) instituições ensino e pesquisa em pelo menos uma das novas tecnologias; envolvidas conjunto nesses desenvolvimentos; (empresa-universidade), governo, dado o caráter estratégico (projetos de é definido por um conjunto chamados de dos desenvolvimentos mobilizadores); apropriada (mesmo informal)" (1992, p.20). 4) estrutura se 2) aglomerado de 3) projetos usualmente que de inovação estimulados pelo a eles associados organizacional- 99 As empresas de base tecnológica que estão presentes nos pólos têm como principal insumo de produção o conhecimento científico-tecnológico; daí, fixarem-se, normalmente em cidades de porte médio, nas proximidades de universidades e centros de excelência de alto nível, para fazer uso não apenas dos recursos humanos nela existentes (intercâmbio de informações) como de seus laboratórios e equipamentos. Medeiros cita três configurações básicas dos pólos científico-tecnológicos no Brasil: "1) pólo com estrutura informal: As empresas e as instituições de ensino e pesquisa estão dispersas na cidade. estrutura organizacional projetos conjuntos agrupamentos. que Apesar da ausência de uma formal estão presentes ações sistematizadas proporcionam alguma interação entre e esses Eventualmente pode existir uma incubadora para abrigar as empresas nascentes; 2) p610 com estrutura formal: As empresas e as instituições de ensino e pesquisa estão dispersas na cidade. Mas existe uma entidade coordenadora, formalmente constituída, encarregada de acelerar a criação de empresas, facilitar seu funcionamento, e promover a integração entre os parceiros envolvidos no processo de inovação tecnológica; e 3) parque tecnológico: As empresas estão reunidas num mesmo local, dentro do campus da universidade, ao lado deste ou em área próxima (distância inferior a 5 km). Existe uma entidade coordenadora do pólo, concebida para facilitar a integração universidade-empresa facilidades existentes no pólo. e para gerenciar o uso das Estão disponíveis, para venda ou locação, terrenos e/ou prédios; os quais abrigam uma incubadora ou condomínio de empresas" (Medeiros, 1992, p.22). 100 Feitas essas observações, passa .•se, então, para a análise das características dos "tecnopólos" do Interior de São Paulo - São José dos Campos, São Carlos e Campinas -, seus fatores locacionais e algumas das suas implicações sócio-econômicas. 5.2. O Pólo de São José dos Campos o primeiro caso a ser analisado neste trabalho é o de São José dos Campos, o maior centro aeroespacial do país. Localiza-se a 89 km da Capital, no vale do rio Paraíba do Sul, que garante a abundância de água indispensável às indústrias, e é cortado pela via Dutra, que liga os 2 principais centros consumidores do país, São Paulo e Rio de Janeiro. o município tinha, na década de 40, em tomo de 30 mil habitantes e uma vida urbana medíocre, sem dinamismo, sendo que sua economia, após a decadência do café, baseava-se na pecuária leiteira de baixa produtividade. (Revista da Indústria, 1989). A partir daí, a taxa anual de crescimento demográfico da cidade foi bem superior à de outras sedes regionais: 1940-50, 3,3%; 1950-60, 5,6%; 196070, 6,7%; 1970-80, 6,8%; e 1980-91, 3,99%. Atualmente, possui uma população de cerca de 442 mil habitantes. o marco inicial da formação deste pólo tecnológico foi a instalação do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) do Ministério da Aeronáutica (MAer), em 1950, com seu primeiro instituto de ensino e pesquisa, o Instituto 101 Tecnológico da Aeronáutica (lTA) (Medeiros, 1990; Medeiros et al., 1992). Ela decorreu da preocupação, pós-2a. Guerra, do MAer em tirar o Brasil da situação de total dependência externa em relação aos materiais e equipamentos bélicos importados; assim, foi criado o ITA, uma escola de engenharia aeronáutica, concebida nos moldes do Massachusetts Institute of Technology (M.I.T.), para a formação de mão-de-obra especializada nesse setor. o ITA, que até ]991 fonnou 3.500 engenheiros, desde o início, foi inovador, pelo fato de integrar o ensino e a pesquisa ao setor produtivo, tentando superar as barreiras institucionais tecnologias às empresas industriais. e burocráticas e Desenvolvimento de Esse exemplo foi seguido pelos outros institutos do CTA que surgiram posteriormente, Pesquisa para o repasse como: o Instituto de (IPD), criado em 1954; o Instituto de Atividades Espaciais (lAE), em 1973; o Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), em 1974; e o Instituto de Estudos Avançados (IEAv), em 1980. O eTA tinha, em 1992, aproximadamente 7 mil funcionários. Um exemplo de sua atuação: o desenvolvimento da tecnologia do carro a álcool brasileiro, que foi testada pelo CTA nos anos 70, e repassada gratuitamente às montadoras, apesar de que, normalmente, a transferência de tecnologia às empresas envolve royalties no valor de 5% sobre o valor líquido de venda do produto que passar a fabricar. Recentemente, o lEAv/CTA desenvolveu o primeiro protótipo de um túnel de choque para testar aviões hipersônicos, isto é, com velocidade entre 5 e 25 vezes a do som, cuja versão é pioneira no mundo. Em razão dos altos custos dos 102 ensaios, vai propor uma parceria aos Estados Unidos (Gazeta Mercantil, 1993). Outro centro de pesquisas de fundamental importância para o pólo foi o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), criado em 1961 e vinculado à Secretaria de Ciência e Tecnologia, a principal instituição civil brasileira voltada para atividades espaciais. Atuando em ciências espaciais e atmosféricas, meteorologia e sensoriamento remoto, engenharia e tecnologia espaciais, participa, desde 1980, de 2 programas de desenvolvimento e fabricação de satélites e do segmento solo associado: a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB) e o Programa Sino-Brasileiro de Pesquisa e Produção de Satélites de Observação da Terra (CBERS), que estão levando hoje à criação de empresas (Exame Paulista n.3, 1990). Criou, na década de 80, o 10. satélite brasileiro e vai construir mais três da MECB, sendo a metade das peças e componentes produzidos pela iniciativa privada, com a possibilidade de, no futuro, o satélite todo ser feito por empresas particulares, como ocorre em países como Estados Unidos, França, Canadá, Japão, Alemanha e Inglaterra, bastando apenas que elas atinjam o nível de qualificação necessário. o INPE possui cursos de mestrado e doutorado - já formou 540 mestres e 27 doutores ., sendo que a metade de seus 1.400 funcionários tem curso superior (Medeiros, 1990; Medeiros et al., 1992). São José dos Campos tem também outras instituições de ensino superior - a Escola de Engenharia Industrial (EEI) e a Universidade do Vale do Paraíba 103 (UNIVAP), além de destacadas escolas técnicas, como a Escola Técnica Everardo Passos (ETEP) e a Escola SENAI Santos Dumont, todas de grande interesse para a indústria local. É o município brasileiro com a maior concentração de técnicos de nível superior e PhD.; ali existem, proporcionalmente, 3 vezes mais doutores e mestres que em todo o Estado de São Paulo (Dirigente Industrial, 1992; Exame Paulista n.3, 1990). Em 1991, a cidade tinha 452 estabelecimentos de ensino, sendo 7 de nível superior e 3 de pós-graduação, com 135 mil alunos, dos quais 5 mil universitários. O índice de analfabetismo é de 15,7%, 3 pontos percentuais abaixo da média nacional; em 1985, 62% da população tinha o 10. grau incompleto e quase 9% curso superior. Mais de 95% moram na zona urbana. Dentre os fatores que levaram à instalação do CTA em São José dos Campos podem ser citados: a distância relativa dos grandes centros urbanos, a facilidade de acesso a esses centros - através da rodovia Presidente Dutra, que permitia maior acesso às matérias-primas e aos canais de escoamento da produção por via marítima (portos de Santos, Rio de Janeiro e São Sebastião), rodoviária ou aérea (aeroportos de Cumbica e do Rio de Janeiro), e que foi inaugurada na mesma época do CTA -, a abundância de energia elétrica e a ampla disponibilidade de terrenos (Revista da Indústria, 1989). Apesar de não ter sido o resultado de uma ação planejada e coordenada, o complexo aeroespacial de São José dos Campos foi se estruturando, se consolidando, e atraindo, também pela abundância de água, um número cada vez maior de empresas de alta tecnologia, sendo que as primeiras (que datam 104 da década de 60) eram grandes. Segundo pesquisa realizada por Medeiros e Perito (1991), em 1990, as empresas entrevistadas investiam entre 7% e 30% de seu faturamento em P&D. Seu parque industrial abriga: "a) empresas multinacionais porte, de base tecnológica, suas matrizes; que utilizam basicamente b) empresas empresas nacionais a tecnologia de diferentes e c) portes, atuando nos bélico, de novos materiais e eletrônica, - principalmente vinda de ligadas a setores tradicionais: de base tecnológica, setores aeroespacial, ou interagiram nacionais de médio e grande que interagem quando de sua criação - com os centros de pesquisa da região" (Medeiros et a1., 1992, p.164). Em 1946, instala-se rayon (Pacheco, a Rhodia, produzindo 1992). inicialmente fios sintéticos de Durante a década de 50, começam a chegar outras indústrias de grande porte, como Johnson e Johnson, Ericsson, Tecelagem e Fiação Kanebo, Eaton e General Motors, ao lado de algumas empresas de menor porte. Nos anos seguintes, principalmente de capital estrangeiro estaduais; entre 1960 e 1970, surgem outras grandes - em proporção implantam-se: empresas - maior que as médias Alpargatas, Amplimatic, Avibrás, Embraer; National e Bundy Tubing. Matarazzo, Outras empresas vão ocupando municípios vizinhos. Em 1956, a indústria da cidade restringia-se metálicos (cerâmicas) pessoal ocupado metalúrgico, Crescem e químico (fios sintéticos), na indústria. de material bastante aos ramos têxtil, minerais não- os Em 1970, ganham de transporte, fluxos responsáveis migratórios material para destaque elétrico a por 87% do região. os ramos e vestuário. Aumenta 105 sensivelmente o número de pessoas ocupadas na indústria, principalmente material de transporte, mecânica e química. Instalam-se: Kodak, Philips, Hitachi, Engesa, Metalúrgica Fiel, Monsanto, Ethicon, Neu Aeronáutica e Kone Elevadores. Entre 1970 e 1980, o VTI cresceu 15,3% a.a.. Nos anos 80" instalam-se a Refinaria Henrique Lage da Petrobrás , a Orion e a Órbita Sistemas Aeroespaciais. Em 1988, os setores que mais empregavam eram: material de transporte - 36,8%; material elétrico e de comunicações - 17,6%; atividades diversas - 14,8%; e químico - 4,7%, num total de 63,9%. O tamanho médio dos estabelecimentos era de 110 empregos por estabelecimento, sendo que os setores modernos apresentam tamanhos médios maiores: indústria química 394 empregos/estab; material elétrico e de comunicações - 425; diversos 955; têxtil - 1.312; e material de transporte - 1.451. De acordo com o valor adicionado de 1987, o peso menor é do setor de bens de consumo não-duráveis. Seu valor adicionado representa 63,5% do total de São José dos Campos, Taubaté, Jacareí e Caçapava. A participação no VTI estadual aumentou, assim como no valor adicionado do Estado. A Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (EMBRAER), por exemplo, é uma empresa de capital misto, criada por iniciativa do MAer, com recursos do governo federal para o investimento inicial, e que, no primeiro momento, adotou tecnologia totalmente desenvolvida no IPD/CT A, depois transferida para a nova empresa, para atende um mercado representado pela encomenda de 80 aviões Bandeirante, feita pelo próprio MAer (Nascimento e Perilo, 1991). 106 Outros modelos se seguiram a ele, como o Xingu e o Tucano, este para treinamento básico militar - principal mercado da EMBRAER. Em 21 anos, a empresa fabricou mais de 4.500 aviões, e exportou para 47 países - dentre os quais, Inglaterra, Estados Unidos, França, Alemanha e Japão. Em 1989, começou a ser produzido o caça tático AMX, em consórcio com empresas italianas. A empresa entrou em declínio sob o peso da enorme dívida de mais de 600 milhões de dólares, mas, talvez, com sua privatização, recupere o dinamismo inicial. A criação de empresas nesses setores deveu-se a vários motivos: o aproveitamento de nichos de mercado percebidos por pesquisadores do CTA e do INPE principalmente; a materialização de projetos desenvolvidos nos centros de pesquisa; as condições favoráveis da cidade; a instalação de subsidiárias de empresas com sede em outras regiões. A atuação do governo federal, com seus pesados investimentos, foi decisiva para a consolidação de empresas brasileiras nos setores aeroespacial, de material de defesa e eletrônica, instaladas em São José dos Campos (cerca de 20). Trata-se de setores marcados pela alta concentração, dadas as barreiras que novas firmas - principalmente de pequeno e médio porte - têm de enfrentar: "longos prazos de maturação, investimentos iniciais elevados, pequena escala de produção, custo elevado de obtenção da tecnologia e necessidade de equipes grandes e de alta qualificação para sua absorção, necessidade de homologação dos produtos e necessidade de financiar clientes" (Medeiros et al., 1992, p.167), ao lado da acirrada competição internaci ona1. 107 Como o MAer controla a aviação de terceiro nível - aviões com 30 a 40 lugares - no Brasil, através do Departamento de Aviação Civil (DAC), garantiu espaço, inicialmente para o Bandeirante, e, mais recentemente, o Brasília, restringindo o acesso aos concorrentes externos (Nascimento e Perilo, J 991). Atuação semelhante teve o Ministério no caso da fabricação de material de uso aeronáutico, como os aviônicos para o AMX, e equipamentos para o sistema DACTA de tráfego aéreo, quando as compras internacionais do MAer ficaram condicionadas à transferência de tecnologia às empresas brasileiras. A cooperação entre os institutos de ensino e pesquisa e as empresas se dá através da prestação de serviços pelos primeiros - consultorias, empréstimo ou locação de laboratórios, realização de testes, homologação de produtos, além de contratos de projetos e de recursos humanos dos institutos pelas empresas interessadas. Podem citar-se alguns dos fatores que levaram empresas de base tecnológica a se instalarem em São José dos Campos: amplo contingente de mão-de-obra qualificada; ambiente favorável à atração e retenção desse tipo de mão-deobra; topografia e localização favoráveis; baixo índice de poluição; excelente malha viária e existência de aeroporto. A escassez de opções de lazer é compensada pela proximidade do litoral Norte, cidades de montanha como Campos de Jordão, e da Capital de São Paulo. Possui cinemas, teatro, discotecas, bares, clubes de campo, academias de ginástica etc. 108 Quadro 1 Intensidade de Ocorrência de Fatores Característicos de Pólos Tecnológicos em São José dos Campos FATORES A. INFRA-ESTRUTURA CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA 1, Grupos de pesquisa e acadêmicos de excelência 2, Infra-estrutura tecnológica (laboratórios e centros de pesquisa bem aparelhados) 3. Fluxo de tecnologia de instituições de ensino e pesquisa para empresas B. RECURSOS FÍSICOS E FINANCEIROS 1. Mão-de-obra qualificada e especializada 2. Ambiente favorável à atração e retenção de mão-de-obra especializada 3. Infra-estrutura industrial tradicional 4, Terrenos e facilidades de construção industrial . 5. Localização favorável (malha viária, aeroportos c proximidade grande centros urbanos) 6. Capital de risco C. AGLOMERAÇÃO DE El\1PRESAS 1, Concorrência funciona como fonte de informação (através da mobilidade da mão-de-obra e por troca de experiências) 2. Cidade funciona como pólo de convergência de informações dentro de sua área de especialização " 3. Frentes de atuação tecnológico-empresarial complementares e interdependentes 4. Proximidade da concorrência induz lançamento acelerado 5. Vantagens proporcionais associadas à instalação em um centro de alta tecnologia D. PAPEL DAS NOVAS EMPRESAS E SUAS ORIGENS 1. Firmas novas (menos de 30 anos) lideram desenvolvimento 2. Instituições de ensino e pesquisa funcionam como fonte de empresários 3. Firmas estabelecidas no local levam à formação de outras XXXX = === Fator Fator Fator Fator INTENSIDADE xxxx ==== xxxx ------==== ==== ::::=== xxxx -------- ------- xxxx xxxx ==== presente e fortemente caracteristico do local presente e relevante no contexto local presente mas não especialmente significativo no contexto local ausente no local 109 Alguns comentários são feitos a respeito dos resultados apresentados no quadro anterior: até meados da década de 70, São José dos Campos gozava de ampla disponibilidade de terrenos e facilidades para construção industrial (Nascimento e Perilo, 1991). Entretanto, atualmente esta situação está modificada, dada a elevação dos preços dos terrenos - industriais e residenciais -, da mão-de-obra, e do custo de vida, enquanto que a infraestrutura urbana apresenta sinais de deterioração e insuficiência para atendimento da cidade. Os recursos financeiros para a criação das empresas geralmente veio dos sócios, e no caso de subsidiárias, foi proveniente das matrizes; quanto a capital de risco, inexiste. A mobilidade da mão-de-obra é vista mars como uma fonte de pessoal qualificado, do que como fluxo de informações entre empresas, já que os produtos comercializados não são muito semelhantes. como frente interdependentes de atuação tecnológico-empresarial Por sua vez, fatores complementares e e a indução ao lançamento de :novos produtos pela proximidade da concorrência não são relevantes pela própria natureza da tecnologia ali desenvolvida. A partir dessas colocações, os autores apresentam as peculiaridades do pólo de São José dos Campos, ou seja, as características que o diferenciam de um pólo tecnológico típico, justamente pelo tipo de tecnologia que aí é desenvolvida: "a) inexistência de grande número de pequenas empresas de alta tecnologia; b) intensa intervenção coordenadora e financeira do Estado, principalmente em decorrência do caráter militar estratégico da tecnologia; 110 c) o principal setor do pólo, o aeroespacial, embora dinâmico, não apresenta o vigor e o número de oportunidades do setor eletrônico; d) fabricação do produto final está concentrada em um número pequeno de firmas; e) existência de fortes barreiras de mercado, tecnológicas e financeiras, à entrada de pequenas empresas no setor; f) tecnologia desenvolvida no pólo não está na fronteira internacional do conhecimento; g) mercado interno não é suficiente para sustentar as empresas do setor; e f) fornecedores de empresas integradoras não estão geograficamente concentrados" (Nascimento e Perilo, 1991, p.36). A ausência de um grande número de pequenas empresas de alta tecnologia contrasta com o que sucede na Route 128 e no Vale do Silício, nos Estados Unidos, e em Santa Rita do Sapucai e São Carlos, no Brasil. As ações do MAer criando condições para que as empresas brasileiras vencessem as barreiras e pudessem entrar no mercado aeroespacial mostram a importância que a intervenção estatal" o envolvimento governamental, tem para a implantação desenvolvimento, de uma principalmente indústria naquelas de em ponta que em a países em concorrência internacional é forte. Pelo menos, até que se atinja a fase de maturação dos investimentos, o que pode implicar em períodos bastante longos. Os problemas que São José dos Campos vem enfrentando nos últimos anos (Medeiros et al., 1992; Ipesi, 1992) - crise econômica, enxugamento de pessoal, desemprego, greves, crise no setor aeronáutico e bélico, redução de encomendas externas, calote de alguns importadores etc - têm estimulado vários órgãos da cidade a promover a retomada do crescimento industrial 111 local, através de programas de criação e fortalecimento tecnológica, aproveitando a mão-de-obra de empresas de base altamente qualificada existente na região, e que se acha desempregada. A Engesa e a Avibrás, por exemplo, até 1988 empregavam juntas ]0.500 pessoas, sendo que em 199], com a redução das atividades e Q enxugamento do quadro operacional, funcionários empresas dessas passaram para 1.050; isso fez com que muitos ex- e outras menores, empresas produzindo variados ligadas ítens ao setor bélico abrissem de tecnologia avançada (Dirigente Industrial, 1991). Os parceiros no projeto Desenvolvimento são: a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Econômico (SCTDE), a Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos (ACI-SJC), a Prefeitura Municipal de São José dos Campos, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (SEBRAE-SP)-Regional Vale do Paraíba, INPE, CrA e UNIVAP. Foi criada, então, em agosto de ] 992, uma fundação de direito privado para coordenar as ações - a Fundação Pólo Tecnológico do Vale do Paraíba - nos moldes da de São Carlos (SP), Campina Grande (PB) e Florianópolis com os seguintes objetivos: instalar e manter uma incubadora (SC), de empresas, cujo acesso será permitido tanto às novas empresas como às que pretendam criar novos produtos ou melhorar produtos e processos existentes; divulgar e tomar acessível o uso, às empresas de base tecnológica, infra-estrutura dos laboratórios e da de pesquisa disponíveis na região; oferecer apoio às empresas nos setores jurídico, econômico, mercadológico, técnico e de informação. 112 A cada entidade envolvida coube determinada ação, para colaborar no início das atividades da Fundação: à formalização necessários infra-estrutura cedeu a ACI-SJC jurídica cedeu os recursos da Fundação, além do espaço físico e para o começo de suas atividades administrativas; o prédio responsabilizou para o funcionamento pelo pagamento primeiro ano de funcionamento; da financeiros incubadora; a Prefeitura a. SCTDE se do pessoal de gerência da incubadora no o SEBRAE-SP vai financiar parte do custeio da Fundação; enquanto que o INPE, o CT A e a UNIV AP tentam agilizar o acesso das empresas a seus laboratórios e recursos humanos. É interessante incluir aqui o quadro apresentado no trabalho de Nascimento e Perito (1992, p.32), mostrando a intensidade de ocorrência Campos de fatores característicos da implantação em São José dos e desenvolvimento de pólos e parques tecnológicos apontados em literatura sobre o tema. Para a década terciário de 80, estima-se - comércio, atividades prestação o CT A e outras constituição comunicações liA consolidação instituições social Os estímulos interna de cargos e funções pessoais dessa parcela da população como o INPE, complexa, derivados e de um em conjunto com o setor de pesquisas, de uma estrutura médios. maior do emprego no transportes, moderno, com a diferenciação próprias de grandes empresas, segmentos de serviços, sociais - do que na atividade industrial. setor industrial envolve um crescimento que dão margem com peso da demanda elevado à dos por serviços somam-se à demanda por serviços de apoio à produção decorrentes da própria estrutura industrial e do conjunto de requisitos de um centro regiona1. Criam-se condições para um crescimento mais acentuado do emprego nesses setores It (Pacheco, 1992, p.199). 113 o crescimento do poder aquisitivo de boa parcela da população, que desfruta da boa qualidade de vida da cidade, ativa o comércio local. A maioria é da classe média, com renda lO. a 15% superior à média nacional, sendo que 4% ganham acima de 20. salários mínimos, enquanto que apenas l% no Brasil e 2% na Grande São Paulo estão nessa faixa. Cerca de 10.% recebem entre 1 e 3 salários mínimos, enquanto que em 1980., eram 470/0 nessa classe de rendimento; em 1980. -2,9% dos operários tinham carro, e em 1988, 110/0 (Revista da Indústria, 1989). Para a população de baixa renda - - a situação se toma cada vez mais complicada. Existem alguns "bolsões" de pobreza e o déficit habitacional era de cerca de 20. mil moradias em 1989, o que provocou o surgimento de favelas. A partir da inauguração da via Dutra, a tendência de crescimento da malha urbana foi no sentido de seguir o traçado da rodovia, e não mais fazendo a ocupação do solo em função da proximidade com o rio Paraíba e a Estrada de Ferro Central do Brasil. Desde então, as áreas residenciais passaram a se localizar nos espaços vazios da ocupação industrial, seguindo padrões diferenciados de ocupação. As áreas próximas ao centro, no platô que vai em direção à Dutra, instalaram-se segmentos de maior renda, enquanto "os bairros da população de menor renda foram sendo sistematicamente deslocados para os corredores internos às áreas tipicamente industriais, ou às zonas de ocupação antiga da cidade, na parte norte do núcleo urbano" (Pacheco, 1992, p. 20.3). A ocupação horizontal tendeu, assim, a segregar os núcleos residenciais mais novos e de população de menor renda, o que foi reforçado pela construção de 114 conjuntos habitacionais loteamentos também irregulares sudeste. do SFH nessa direção. Multiplicam-se na periferia da área urbana, em direção ao norte e A área urbana, que entre 1974 e 1980 tinha médio de 6,5% a.a., cái para 3,7% entre crescimento os 1980-85, um e sobe novamente entre 1985-89 para 6,1%. A partir de 70, acelera-se centrais, e lançam-se o processo conjuntos residenciais, demanda da crescente classe média local. moradias são inacessíveis das áreas mars de verticalização principalmente para atender à Nas proximidades do centro, as para quem tem renda inferior a 20 salários mínimos, com demanda crescente para apartamentos de alto padrão. Também e um fluxo migratório intenso, existe um déficit gerando criminatidade, um aumento do número de bairros. e o congestionamento A arrecadação brasileiras, de leitos hospitalares de ICMS, proveniente Cresce também a na Dutra para escoamento da produção. em 1988, é maior que a de muitas dos mais de 26 mil estabelecimentos capitais industriais, comerciais e de serviços ali existentes. o consumo industrial de energia elétrica é bastante elevado, assim como o número de empregos industriais em 1991) - principalmente eletroeletrônico, (desemprego de 20% no setor metalúrgico nos setores de material de transporte, e também químico e metalúrgico, com empresas de maior porte -, apesar de que, quanto ao número de estabelecimentos, alimentos, minerais não-metálicos e metalurgia, material a ordem é: 115 As indústrias tecnologia Brasil de grande porte daqueles grandes setores são as que utilizam mais avançada, e são responsáveis exporta, cinescópios desde componentes por 70/0 (em 1991) do que o eletrônicos, antenas parabólicas, - tubos de imagem para televisão -, material hospitalar, e papéis fotográficos, câmaras material bélico, aviões, até sistemas de lançamento de foguetes. Boa parte das empresas ali instaladas investimentos, ampliação seja em Monsanto) ou modernização vem realizando da capacidade os mais diversos produtiva de máquinas e equipamentos (Rhodia, (Philips, National e outras), lançamento de novos produtos etc. A renda per capita da região é uma das mais altas do Estado - 8.673 dólares anuais em 1990 (Azzoni, 1993), enquanto a do Brasil, no período 1987-89, era de 2.059 dólares. mínimos, O salário médio de um metalúrgico é de 7 salários igual ao do ABC e maior que na Capital (Revista da Indústria, 1989). 5.3. O Pólo de São Carlos Outro pólo tecnológico Carlos, um município do Estado de São Paulo está localizado de porte médio, com 158 mil habitantes, cerca de 233 km da Capital, indo pela rodovia Washington 1990; Medeiros et al., 1992; Medeiros industrial, constituído com tecnologia e Torkomian, em São e distante Luiz (Medeiros, 1993). Seu parque de mais de 600 empresas, abriga indústrias modernas, de ponta, e também indústrias tradicionais - como Faber 116 Castell, Hero Conservas Alimentícias, Tapetes São Carlos, Tolhas São A decadência do café, a baixa fertilidade do solo e a não-disponibilidade de Carlos etc, que geram cerca de 80 mil empregos diretos. terras levam à transformação antigos colonos imigrantes para uma economia industrialização - a partir da década de 30, com a chegada de italianos à cidade - de uma economia urbano-industrial, baseado com a expansão na substituição de importações agrícola do processo (Souza de e Lima, 1988). Na década de 50, com o crescimento expressivo do mercado cidade começa a tornar-se um centro de conhecimento científico, com a excelência física, passando em ciência para a engenharia favorecia a realização energia) e mecânica básica - matemática, civil (o desenvolvimento a iniciando química econômico de grandes obras de infra-estrutura (formação interno, - e nacional de estradas e de de técnicos para operar a indústria metal- mecânica em expansão). No início dos anos expressiva participação 80, sua estrutura industrial do setor metalúrgico. caracterizava-se pela A expansão industrial ocorrida nos anos 70 refletiu-se também na Região de Ribeirão Preto, aumentando participação no (Semeghini, 1992b). significativa VTI estadual e no Esse dinamismo modernização de decorreu empregos industriais de fatores como: a da agricultura da região, cujos efeitos se fizeram sentir tanto através das indústrias insumos e equipamentos número sua processadoras como das produtoras de agrícolas; a sua excelente malha viária - a principal artéria do sistema viário da região é a via Anhangüera, mas existem ligações 117 rodoviárias, ferroviárias e aéreas com todo o Interior paulista e com outros estados -, que possibilitou a instalação de muitas indústrias voltadas para o mercado regional ou nacional. Um exemplo disso foi a ampliação do parque metal-mecânico e Araraquara. Em 1980, Araraquara tomou-se o 10. município da região em termos de produção Preto. de São Carlos industrial, seguida por São Carlos, Franca e Ribeirão Nos anos 70, foi, com Ribeirão Preto, a sub-região que mais cresceu em termos de população (3,2% a.a.), o terceiro muncípio, depois de Ribeirão Preto e Franca, população além de ser o quinto urbana, polarização da região em razão do predomínio quanto da atividade a aumento na industrial. A exercida pelas cidades como São Carlos fez crescer também o setor de comércio e serviços. Entretanto, a presença local de 2 universidades (Medeiros, 1990; Medeiros et al., 1992) ~ hoje, sobretudo nas áreas de novos materiais.vóptica, mecânica de precisão, química fina e centros informática, biotecnologia de excelência, instrumentação, - provocou das atividades microempresas de base tecnológica voltadas para essas áreas, principalmente alunos dessas empresas, nas com a criação de alto nível diversificação a partir de 1983. econômicas, públicas de pequenas Um número cada vez maior de pesquisadores, instituições quais as passou pesquisas superando, assim, gradativamente, em repassar o conhecimento a colaborar eram a tradicional resistência em e docentes e para o surgimento transformadas a dessas produtos, das universidades ao setor produtivo, em face da ameaça de que, assim, poderia estar colocando em risco a sua autonomia. 118 A mais antiga dessas entidades de ensino superior é a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), criada em 1948, pela Universidade de São Paulo, e instalada em 1952, com os cursos de engenharia civil e mecânica. Mais tarde, em 1972, foi instalado o campus da USP na cidade, acrescentando à EESC duas outras unidades: o Instituto de Ciências Matemáticas (ICMSC) e o Instituto de Física e Química (IFQSC), que resultaram do desmembramento dos docentes de Matemática, Física e Química. A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por sua vez, criada em 1968 e funcionando em 1970, possui: o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCT), o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), o Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH) e o Centro de Ciências Agrárias (CCA) (Medeiros, 1990; Medeiros et al., 1992). Foi pioneira no Brasil na criação do curso de Engenharia de Mteriais, que envolve também estágio industrial para uma maior aproximação dos estudantes com as empresas; mantém convênios de pesquisa com a IBM, Pirelli, Alcoa, Philips, Petrobrás, e outras. Essa cooperação universidade-empresa levou à instalação do Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais com apoio do BIRD e do CNPq - e do Núcleo de Informação em Materiais. Em 1992, o número de professores era de 547 (279 doutores), além de 2.945 alunos (700 pós-graduandos). Dados de 1992 dão conta da existência na cidade de um contingente acadêmico de 550 doutores, 937 docentes, 2.100 pós-graduandos e 4.200 graduandos. 119 A presença progresso centros de outras entidades e colabora para o seu dinamismo de pesquisa (EMBRAPA), incubadoras em São Carlos também impulsiona da Empresa especializados Brasileira científico o seu e tecnológico: de Pesquisas em zootecnia e instrumentação 2 Agropecuárias agropecuária; 2 de empresas; e 2 escolas técnicas - uma do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), e a outra do Serviço Nacional do Comércio (SENAC). Com o fim do "milagre", o ritmo de absorção de técnicos pelo parque industrial vai se reduzindo, e a degradação dos salários dos docentes induz à sua evasão para o setor privado, com exceção da comunidade acadêmica voltada para a ciência básica, que não encontra melhores opções no mercado de trabalho (Souza e Lima, 1988). Ao final dos anos 70 e início dos 80, entretanto, para o IFQSC • que produziu surgem, principalmente tomógrafo brasileiro ., oportunidades da Telebrás, em Campinas, com financiamento algumas empresas universidades: para desenvolvimento de entidades apoio ao desenvolvimento de associação governamentais científico ao Centro de Pesquisas de pesquisas professores-empresários. conjuntas, e paragovernamentais e tecnológico, por parte de pesquisadores; o 10. além da criação uma nova mentalidade de de nas A partir daí, é que são criados o PaqTc-SC e o CEDIN. Ao contrário de São José dos Campos pesados investimentos tecnológicos e Campinas, do governo militar para sua consolidação aeroespacial e de telecomunicações com como pólos respectivamente, Carlos recebeu do governo federal um apoio relativamente a instituição, que contaram São reduzido, que foi em fins de 1984, da Fundação Parque de Alta Tecnologia São 120 Carlos (PaqTc-SC), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com o apoio da Prefeitura e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), além da UFSCar e da USP (Medeiros, 1990; Medeiros ct aI., 1992). Atualmente, formam a parcena da Fundação: a SCTDE, a, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), a EMBRAPA, a UFSCar, a USP e lideranças comunitárias - comerciais e industriais. Essa fundação de direito privado, sem fins lucrativos, voltada para criar condições de acelerar o surgimento e a consolidação de empresas de alta tecnologia na região, tenta promover a interação entre os parceiros e coordenar seus esforços. Fica encarregada da gestão do pólo de alta tecnologia, apoiando as empresas de base tecnológica, novas ou já existentes, através de: incubação de empresas nascentes, com o apoio do SEBRAE; cessão provisória de seu endereço e infra-estrutura às empresas nascentes ou associadas (espaço fisico, secretária, administrativa telefone, fax e mercadológica; etc); assessona uso compartilhado técnica, jurídica, de laboratórios e equipamentos por parte das empresas filiadas; bolsas de estudos para o desenvolvimento. nas empresas, de projetos relevantes, com a colaboração da USP-SC e da UFSCar; Consórcio de Software, para fortalecer as empresas de informática do pólo; organização da Feira de Alta Tecnologia (FEALTEC) de São Carlos, com o SEBRAE, para promover os produtos e serviços criados no pólo (Silva, 1993). 121 Ela não recebe ajuda financeira permanente de nenhuma entidade pública ou privada. Apenas as mensalidades dos filiados, e o auxílio de empresas locais, da Prefeitura e do SEBRAE, além da cobrança por serviços como: administração de contratos, aluguel de instalações, taxas de telefone, fax etc. À PaqTc·SC são filiadas 5 I das 60 empresas de base tecnológica que formam o Pólo Científico-Tecnológico de São Carlos, sendo que 30 foram criadas com seu apoio. O faturamento anual das empresas do pólo é de cerca de 30 milhões de dólares, envolvendo algo em tomo de 600 empregos • metade dos quais de nível superior ou técnico médio. Cerca de 70% dos sócios das empresas têm ou já tiveram ligação formal com as universidades são ou foram professores, alunos, funcionários das mesmas ., o que facilita o acesso a elas, tanto no que diz respeito à prestação de serviços, utilização de recursos materiais e humanos etc. A PaqTC-SC tenta cnar a Companhia de Capital de Risco (CCR), para captar recursos financeiros para empresas de alta tecnologia, a exemplo do que ocorre, por exemplo, na França, onde existem cerca de 70 empresas de capital de risco, engajadas em financiamentos desse tipo. São Carlos pode ser a pioneira no país nesse campo, com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o SEBRAE, que ficarão, respectivamente, com 40% e 10% das cotas da empresa, enquanto 5% ficam com a PaqTc-SC e os restantes 45% com o capital privado. A Fundação busca também obter autorização da Prefeitura para concessão de incentivos fiscais municipais para as empresas de alta tecnologia instaladas ou que venham a se instalar em São Carlos; e a complementação de um 122 distrito industrial (CEAT) ., especializado além do Centro - o Centro Empresarial de Inovação de Alta Tecnologia Tecnológica de São (CETESC) - uma escola técnica voltada para as necessidades Carlos das empresas do pólo (Medeiros et al., 1992). A ocupação de São Carlos por empresas de alta tecnologia espontânea, não planejada, deu-se de forma o que fez com que elas se dispersassem pelas imediações da USP, da UFSCar e em outros locais em que o preço do terreno fosse mais baixo (Medeiros e Torkomian, 1993). Por isso, foi destinada uma área de 100 alqueires (I milhão de m2), desapropriada Fepasa, ao futuro parque tecnológico da cidade. pela Prefeitura junto à O CEAT começou a ser implantado em 1988: arruamento, guias, sarjetas e energia elétrica - ficariam a cargo da Prefeitura proprietários ., e água, esgoto e asfalto - a cargo dos futuros dos lotes; mas a Prefeitura não cumpriu a sua parte, e, assim, em 1992, o CEAT tinha 10% de ocupação com 70% dos lotes vendidos. Além da PaqTc-SC, as empresas de base. tecnológica de São Carlos dispõem, desde 1986, do Centro de Desenvolvimento das Indústrias Nascentes (CEDIN), criado pela SCTDE, com o apoio da Prefeitura de São Carlos e das 2 universidades incubadora, públicas locais (Medeiros et al., 1992). Trata-se instalada num prédio, com espaço para 8 empresas, de uma construído pela SCTDE, que responde também pelo pagamento das despesas de pessoal e de manutenção • numa área cedida pela Prefeitura. apenas uma taxa simbólica como aluguel. CEDJN, produtos. duas foram bem sucedidas As empresas pagam Das 5 empresas que sairam do no mercado, até exportando seus 123 Falta de recursos e desavenças políticas são fatores que impediram que o CEDIN tivesse o êxito esperado, o que levou a SCrDE a rever sua forma de atuação e a tentar fazer as mudanças necessárias, número de parceiros fundamental no sentido de aumentar o e obter maior participação para esse fracasso, entretan.to, das empresas. deve-se ao próprio estreita vinculação da instituição à burocracia oficial - dependência tem administração O fator fato da total, não autônoma. A crise atual não tem afetado grandemente as empresas locais, que, graças à sua estrutura flexível, se adaptam facilmente às circunstâncias (Exame Paulista n.4, 1991). A qualidade de vida local é muito boa, o que faz com que a maioria dos executivos vindos dos grandes centros urbanos não sintam saudades de seus locais de origem. As grandes empresas instaladas em São Carlos, como a Faber Castell, mantêm em São Paulo, seus escritórios de vendas e marketing, mas a produção é feita na própria cidade. Sua qualidade de vida equipara-se apenas à de poucas cidades brasileiras, por isso, a cidade teme crescer. transporte coletivo; diariamente Tem uma ótima infra-estrutura as ruas são varridas, lâmpadas queimadas das ruas trocadas. expansão do pólo tecnológico parte do parque industrial, média da cidade. urbana: o lixo coletado, as A existência das 2 universidades, a e a oferta de empregos de nível superior por fazem com que se mantenha Contribuem e, para isso os incentivos o perfil de classe proporcionados pela Prefeitura à instalação de empresas que paguem bons salários - a renda per capita gira em tomo de 5.000 dólares anuais. 124 São Carlos tem a maior concentração do país (Exame alfabetização Paulista n.4, per capita de cientistas e pesquisadores 1991). A cidade tem alto índice de ~ 87,7% - e boa oferta de vagas escolares - 40 mil até a última série do 20. grau - incluindo escola; entretanto, as dos cursos profissionalizantes e da pré- comenta-se que a qualidade do ensino de lo. e 20. graus (na maioria, público), não é tão boa quanto a do nível universitário. Os fluxos migratórios mínimo. são de mão-de-obra e o desemprego é A única favela existente na cidade foi urbanizada. o déficit habitacional estimado falta de financiamentos 1991). qualificada Os apartamentos é de 4 mil moradias, para a aquisição concentram-se de imóveis (Exame Paulista nas áreas centrais mais caras, tanto para locação como para compra. mais acessíveis. principalmente pela n.4, da cidade - as As casas, contudo, são Novos bairros vão sendo criados, e também condomínios fechados, apesar do mercado imobiliário local não ser muito dinâmico. Em novembro do ano passado, foi concluída a primeira etapa de construção do Parque Faber - que compreende um condomínio horizontal de 240 lotes residenciais de alto padrão, e outro vertical, com mais de 40 lotes para uso residencial, comercial ou de serviços - numa antiga área de reflorestamento da empresa FaberCastell, situada a cerca de I km do centro da cidade. O investimento foi de cerca de 4,5 milhões de dólares. É nesse parque também que vai ser construído o Shopping Iguatemi de São Carlos, cuja inauguração está prevista para o final de 1995. Essa obra vai atender às exigências da comunidade local, que se ressente muito da falta de 125 um shopping, que, principalmente no Interior, representa um dos mais importantes centros de convívio social e lazer. São Carlos tem uma população universitária de mais de 10 mil pessoas, que se ressente da escassez de programas culturais; daí, a busca periódica de lazer na Capital. Existem bares e restaurantes com preços bem -inferiores aos de São Paulo, além de clubes sociais e um Parque Ecológico. A ampla malha rodoviária permite o acesso fácil tanto aos centros urbanos mais movimentados como aos lugares tranqüilos existentes em suas proximidades. A rede hoteleira local deixa muito a desejar. bastante. O comércio vem crescendo A base da inústria local é o setor metalúrgico, mas a indústria têxtil também tem grande importância. É uma das mais importantes bacias leiteiras dopaís > líder na produção de leite tipo B ., além de ter produtos agrícolas importantes: laranja, cana-de-açúcar, tomate, frango, ovos, café, soja e milho. 5.4. O Pólo de Campinas A cidade de Campinas, com 846 mil habitantes, e distante 95 km da Capital pela via Anhangüera ., é mais um dos pólos tecnológicos do Estado doeSão Paulo (Medeiros, aproximadamente 1990; Medeiros et al., 1992). Ali concentram-se 1.200 indústrias, em sua maiona microempresas, setores: mecânico, metalúrgico, eletroeletrônico, dos material de transporte, madeira e mobiliário, minerais não-metálicos, têxtil, vestuário, calçados, 126 alimentos, editorial e gráfica, química e petroquímica, e farmacêutica - em 1991, mais de 9% ~.aprodução industrial do Brasil. o município, hoje com feições típicas de uma metrópole, era, em 1860, o maior produtor de café do Estado e o maior entroncamento ferroviário brasileiro. A medida em que as terras da região foram sofrendo desgaste, a cidade começou a desenvolver a atividade comercial, e depois a industrial, que já era expressiva ao final do século, produzindo bens de consumo nãoduráveis, implementos agrícolas e peças para trens. Campinas tem como traço marcante uma economia muito dinâmica, com grande capacidade de diversificação, transformações (Semeghini, à medida em que se verificam nos padrões de acumulação que ocorreram no Brasil 1992a). Existem três características fundamentais que a diferenciam das outras regiões do Estado: 1) por sua base produtiva mais diversificada, tanto na agricultura como nas atividades urbanas, alcançou uma divisão social do trabalho mais .diferenciada e articulada, relações mercantis de produção mais disseminadas e relações inter-setoriais e interregionais mais dinâmicas; 2) assumiu, a cada etapa do proceso de acumulação, um papel central, de liderança, sobre regiões maiores e mais ricas do Estado; 3) em vista disso, transformou-se na interface entre a Capital e o Interior, no processo de desenvolvimento econômico de São Paulo. Em Campinas, desenvolveram-se atividades urbanas estimuladas pela expansão cafeeira: indústrias, comércio atacadista e varejista, e serviços. Com a crise do café em 1929, Campinas se recicIa economicamente, e toma- 127 se um dos maiores produtores algodoeiros do Estado de São Paulo. Nas décadas de 30 e 40, ganham destaque as atividades do setor secundário e terciário, em função da mudança no padrão de acumulação no sentido de priorizar o mercado intemo. Sua posição na rede urbana e de transportes favorecia a expansão. Expandem-se as culturas do algodão, de alimentos, e a pecuária. Grandes estabelecimentos agroprocessadores ali se estabelecem na década de 40, e a cidade se torna o 20. núcleo manufatureiro do Estado. Na fase da industrialização pesada, e a implantação de grandes estabelecimentos dos setores de bens de consumo duráveis, intermediários e de capital, Campinas, a exemplo da Região Metropolitana, passa a atrair considerável número de empresas. Por sua proximidade à Capital, um parque industrial expressivo, bom sistema de transportes e comunicações, e importante rede urbana, a região passa a atrair grandes empresas dos setores mecânico, material de transporte, material elétrico e de comunicações, reforçando o movimento iniciado nos anos 50, quando se instalaram Singer, GE, Bosch, Clark, Rhodia etc. Nos anos 70, essa atração se reforçou, pois é um processo cumulativo. Acelera-se a urbanização, crescem e diversificam-se os serviços de apoio, e cria-se um mercado de trabalho amplo. O Estado acompanha esse crescimento e o estimula, com investimentos de infra-estrutura, energia e transportes - ampliação da malha rodoviária regional; também são realizados investimentos produtivos, como a construção da Refinaria de Paulínia; e na área de pesquisa e ensino, a cri ação da UNICAMP. Expandem-se também consideravelmente as atividades terciárias (comércio, transportes e 128 comunicações, serviços pessoais, sociais e produtivos), acompanhando a ampliação da base produtiva e o crescimento da população urbana. A indústria local foi se diversificando, a partir da modernização da agricultura e das políticas federal e estadual de desconcentração industrial. A interiorização dos investimentos do governo federal, como o complexo petroquímico de Paulinia e o CPqD da Telebrás em Campinas, aliada à ação do governo estadual, construindo e recuperando estradas, e a consolidação do pólo de ensino e pesquisa da UNICAMP, levaram à proliferação de indústrias e à expansão do comércio e dos serviços na cidade (Exame Paulista n.l, 1990). Foi decisiva para o processo de desenvolvimento da região a vinculação entre a expansão da agroindústria provocada pelo PROÁLCOOL e o crescimento do setor metal-mecânico. Em 1989, o Estado de São Paulo concentrava 70% de toda a produção de alta tecnologia do pais, sendo que 20% desse total estão nos institutos de pesquisa e nas indústrias de Campinas (Eiesp/Ciesp Notícias, 1989). A vocação de Campinas para a pesquisa é antiga: há mais de 100 anos, já existia o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Ali existem também outros centros mais recentes, de renome na área agrícola, como: o Instituto Tecnológico para Alimentos (ITAL), o Centro de Assistência Técnica Integrada (CATI), o Instituto Biológico (IB), e a Pontificia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP). Esta escola, criada em 1955, tem cerca de 18 mil alunos, em 39 cursos (3 de pós-graduação). 129 A outra universidade existente em Campinas, e que se tornou a "âncora" do pólo tecnológico é a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), construída em 1966, com uma filosofia acadêmica nova, essencialmente voltada para a priorização das áreas de maior desenvolvimento tecnológico, e para o contato permanente com o setor produtivo. Na tentativa de se ter uma instituição de ensino e pesquisa de alto nível, foram contratados professores e pesquisadores nacionais e estrangeiros, especializados nas mais diversas áreas do conhecimento. Na década de 70, ela contratou pesquisadores doutorados no exterior, que haviam retomado ao país e enfrentavam barreiras político-ideológicas para serem admitidos na USP e em outras universidades tradicionais. Ela tem hoje aproximadamente 12 mil alunos (5 mil pós-graduandos), em 75 cursos (45 de pós-graduação). A UNICAMP obteve financiamentos para a montagem de laboratórios sofisticados, principalmente da área de Exatas. Destacou-se pelas pesquisas de fibras óticas, pelo desenvolvimento pioneiro do raio laser no Brasil. Uma das principais vocações do pólo de Campinas é o triângulo físicatelecomunicações-informática (Medeiros, 1990; Medeiros et aI., 1992). Essa vocação foi se definindo a partir da decisão do governo federal - visando o apoio tecnológico da UNICAMP para sua política de telecomunicações - de instalar, na cidade, em 1977, o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CPqD) da Telebrás, empresa que atua nas áreas de telefonia, comunicações por satélite, fibras óticas etc. A UNICAMP e a Telebrás já haviam trabalhado juntas, em 1973, desenvolvendo um programa de formação de pessoal e de pesquisa de equipamentos básicos do setor de comunicações 130 digitais, e dotaram, assim, o Brasil de tecnologia própria nesse campo. Os resultados obtidos a partir desse trabalho foram utilizados em computação, automação industrial, telemática, microeletrônica, engenharia biomédica e outros. Além disso, a excelência da UNICAMP fez com que fosse .instalado, em Campinas também, em 1984, o Centro Tecnológico para Informática (CTI), vinculado à Secretaria Especial de Informática (SEI), que desenvolve e transfere tecnologias na área de informática, microeletrônica, robótica e automação. Mais recentemente, , está sendo implantado o Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), vinculado ao CNPq, e que já atua em pesquisa. Através de um equipamento gerador de intensa luz ultravioleta e raios X, pode-se ver a estrutura dos materiais. No pólo localiza-se também a Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (CODETEC), uma empresa privada, criada, em 1976, por iniciativa da UNICAMP, da Secretaria de Tecnologia.Industrial do Ministério da Indústria e Comércio, e de empresas que se tomaram acionistas para tomar possível a existência da companhia, voltada para pesquisa e desenvolvimento tecnológico, e industrialização (Medeiros, 1990; Medeiros et aI., 1992). Nascida no interior do campus universitário, a CODETEC tem, desde 1983, sede própria, nas proximidades da UNICAMP, com a qual mantém íntima vinculação. tecnológica, De 1978 a 1985, promoveu a criação de 5 empresas de base no microcomputadores, ramo de geração aplicações de calor industriais industrial por e criogênicas, gaseificadores, informática e aquecimento solar. Depois de um período de crise, passou a 131 especializar-se em química fina (fármacos, defensivos, corantes, aditivos etc) e bíotecnologia, mantendo hoje convênios com agências governamentais Já deu origem à criação de mais de 50 indústrias fomento. de (de pequeno, médio e grande porte). Todo esse potencial tecnológico um número crescente de qualidade concentrado na região atraiu de indústrias ligadas a esses setores, como a ABC- XTal (fibras óticas) e a Elebra (informática). Um grupo de professores intensiva decidiram da UNICAMP e profissionais criar uma entidade para organizar carecia de planejamento colaboração (Medeiros et al., 1992). o pólo, já que ele Valeram-se, da Prefeitura, que definiu um zoneamento, fiscais, para acolher empresas nas proximidades ligados à tecnologia então, da com leis e incentivos das instituições de pesquisa. Em 1984, foi criado o programa Centro da Indústria e Apoio à Tecnologia de Campinas (CIATEC), Desenvolvimento mesma sigla, Prefeitura que, em ] 986, transforma-se do Pólo de Alta Tecnologia CIATEC): 70% das ações e 30% para a UNICAMP. CIATEC: a UNICAMP, a Prefeitura na Companhia de Campinas da companhia Foram Municipal parceiros de (utilizando ficaram para a na criação de Campinas, a da o CPqD, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e o CTI, com o apoio do Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo (BADESP). Decidiu-se pela divisão do pólo - abrangendo cerca de 7 milhões de m2 - em 2 áreas: uma, tecnológico, ao lado do CTI, com as características destinado a abrigar até 40 empresas; de um parque a outra, englobando 132 instituições e empresas já existentes, e buscando definir novas formas de ocupação e interação. Segundo a pesquisa da CIATEC feita em 1991, a maior parte das empresas localizadas no pólo é de pequeno porte (até 100 funcionários e só 5 são grandes), quase a metade foi criada a partir de tecnologias .desenvolvidas pela UNICAMP; mas cerca de 80% mantêm algum tipo de vinculação com as universidades e/ou instituições de pesquisa, sendo que 63% nunca tiveram financiamentos de espécie alguma (Medeiros et al., 1992). Na década de 50, Campinas notabilizava-se, ao lado de seus setores produtivos, pelo desenvolvimento da infra-estrutura de equipamentos e serviços urbanos, e por seu padrão elevado de qualidade de vida (Semeghini, 1992a). A grande expansão econômica dos anos 70 modificou as feições urbanas de Campinas, transformando-a numa grande cidade. Durante o período de extensão da "explosão urbana" para o Interior do Estado, nas décadas de 70 e 80, Campinas surge como a principal cidade. paulista depois da Capital, com dois complexos de dimensão nacional: um, petroquímico, em tomo da Refinaria de Paulínia; e o outro, de microeletrônica, informática, em tomo dos centros de pesquisa .. Ela é uma espécie de "porta de entrada" (Semeghini, 1992a, p.61) para o Interior de São Paulo, com o mais importante nó de transportes comunicações. e Nos anos 70, foi criado o Aeroporto Internacional de 133 Viracopos, que hoje é o lo. em movimento de cargas. Possui um grande shopping center; 2 estações de TV; um complexo de entrepostos hipermercados instalados ao longo dos eixos rodoviários, consumidores inclusive de outros estados; grandes e que atraem bancos, serviços produtivos, equipamentos culturais, teatros, cinemas, clubes, ampla rede hoteleira, restaurantes, bares. Ao final da década, os sinais de transformação urbana se evidenciam: deterioração dos serviços de educação, saneamento, habitação (favelização), transportes. Reforça-se o movimento de horizontalização e periferização, com vazios urbanos destinados à especulação imobiliária. o poder público não conseguiu gerir o crescimento explosivo da cidade, a partir da década de 70, o que ocasionou a quebra de seu padrão de urbanização. A localização das grandes indústrias, aliada à consolidação e expansão do aeroporto de Viracopos e da implantação do Distrito Industrial de Campinas, determinaram a ocupação periférica de baixa renda, seguindo o vetor sudoeste, nas décadas de 50 e 60. Além disso, contribuiu para isso a construção de conjuntos habitacionais da COHAB. Os fatores de indução ao novo vetor de crescimento norte-nordeste são: a abertura da rodovia D.Pedro I, com a instalação de plantas industriais e estabelecimentos comerciais de grande porte; a implantação da UNICAMP e do loteamento da Cidade Universitária; a implantação da Refinaria do Planalto e do pólo petroquímico a ela ligado (Semegbini, 1992a). 134 Os loteamentos implantados no eixo norte-nordeste são, em sua maioria, de médio e alto padrão, pois eram as terras mais produtivas do ponto de vista agrícola. Nos anos 80, novos loteamentos, com conjuntos habitacionais, aparecem no sudoeste de Campinas. A região é afetada por 2 movimentos de valorização do capital.imobiliário: horizontalização e o crescimento periférico, e a intensificação a do uso e ocupação do solo. Desconcentram-se institucionais, também o também os para áreas em volta do centro assim, um "centro expandido", cidade comércio, serviços tradicional e os - configura-se, definido em lei de zoneamento tem se verticalizado bastante, prédios de 1988. principalmente A nas áreas centrais - tendência de adensamento do "centro expandido". Na região de Campinas existe uma forte tendência a um maior crescimento industrial dos municípios de pequeno e médio porte, ficando Campinas com especialização no terciário (Semeghini, 1992a). Campinas também tende a reter a população de média e alta renda (cerca de 4 mil pessoas), enquanto os de baixa renda fixam residência nos municípios vizinhos. Renda per capita da Região de Governo de Campinas em 1990 -7.732 dólares anuais (Azzoni, 1993). migração A falta de empregos, dada a recessão, de baixa renda em aumento tende a transformar da criminalidade. essa Os problemas crescem em termos de degradação do meio ambiente. Nos anos 80, aumentam os desequilíbrios e a crise econômica do pais. sociais, com a redução do emprego Três problemas principais ameaçam as 135 condições de vida da população campinerra: 1) o aumento das carências sociais, em função do desemprego e da ineficiência das políticas públicas voltadas para esse campo; 2) a degradação do meio ambiente, especialmente dos recursos hídricos: e 3) o estrangulamento na provisão de infra-estrutura, principalmente, saneamento, habitação e transportes (Semeghini, 1992a). 136 CONCLUSÕES Em vista do que foi exposto ao longo do trabalho, constata-se que, efetivamente, os três municípios analisados - São José dos Campos, São Carlos e Campinas - tinham as condições necessárias, apontadas na literatura, para atrair empresas de alta tecnologia. Dentro do contexto mundial de reestruturação econômica, mudança no padrão de acumulação e divisão internacional do trabalho, os governos federal e estadual adotaram, no início da década de 70, políticas de desconcentração industrial, da Região Metropolitana de São Paulo em direção a outros estados brasileiros e ao Interior paulista. As "deseconomias de aglomeração", o "caos urbano" da Grande São Paulo, induziam as indústrias a buscar outros lugares para se instalar, levando em conta os preços dos terrenos e da mão-de-obra, o congestionamento urbano, a legislação ambiental etc. Aos poucos, 8. estrutura industrial do Interior vai sofrendo modificações e se modernizando, e passa a incluir setores de grande complexidade, como material de transporte, material elétrico e de comunicações, mecânica e outros -jndústrias de tecnologia avançada. Os conhecidos pólos tecnológicos do Interior paulista receberam parte dos investimentos públicos realizados nessa época, que reforçaram as condições favoráveis que eles já possuíam para atrair empresas desse tipo. 137 A1ém dos tradicionais grandes espaços), surgimento do consumidor, razoável fatores de macrotocalização que capital coincidem e do acumulação infra-estrutura com regime prévia essas cidades apresentam as próprias capita1ista de capitais. de transportes industrial (escolha condições e comunicações) fatores de microlocalização para (expressivo mão-de-obra de o mercado abundante, (Fundap, (escolha e 1980), dentro de grandes espaços) típicos das IATs. A presença local de universidades é o mais importante e/ou institutos de pesquisa de alto padrão desses fatores. Os investimentos nesse período buscaram criar ou potencializar públicos realizados esses centros de excelência, de modo a levar as indústrias de tecnologia avançada a se instalarem em seu entorno, aproveitando os (cientistas, engenheiros) recursos humanos de elevada qualificação ali presentes, para intercâmbio de informações. Todos esses municípios tinham porte médio - apesar de que, hoje, Campinas é uma metrópole - e ficavam relativamente próximos à Capital de São Paulo, sendo que o acesso a ela era facilitado pela existência de uma infra-estrutura adequada de transportes (rodovias, aeroportos etc) e de comunicações. Seu grau de urbanização girava, em 1991, ao redor de 95%. conhecidos pela boa qualidade de vida, condição imprescindível reter pessoal de nível de qualificação serviços produtivos, lazer, clima agradável, etc. para atrair e elevado: estabelecimentos boas escolas, hospitais, equipamentos Eles eram comerciais, culturais e de 138 Quanto a capital praticamente de nsco, entretanto, inexiste em tais cidades. o que se verifica é que ele Algumas tentativas vêm sendo feitas, pelo governo e por outras entidades, no sentido de atrair empresas de capital de risco, que financiem pequenas indústrias nascentes de base tecnológica. Recentemente, o BNDESParticipações (BNDESPru') e a FINEP . esforços nessa direção: vão participar como acionistas minoritários, 30% do capital qualquer das empresas atividade (Gazeta Mercantil, produtiva de investimento que pretenda de risco, utilizar uniram com até voltadas para tecnologia de ponta a alegação de que a 1993). Por outro lado, trata-se de um apelo demagógico presença de IATs numa cidade gera o desenvolvimento região em seu entorno, e dai a preocupação econômico de toda a das municipalidades em atraí-las para seu território, a qualquer custo. Elas não geram efeitos multiplicadores e crescimento de uma equilibrado, concentração aproveitamento mas sim, pelo contrário, a tendência é no sentido cada vez maior das das economias de aglomeração, empresas, para melhor economias externas, que são geradas. o tamanho das empresas presentes em cada um desses pólos varia bastante. São José dos Campos, por exemplo, é marcado por grandes indústrias, vez que se trata de um complexo aeroespacial de investimentos uma e bélico, que, dado o volume necessário e o prazo de maturação dos mesmos, impede a entrada de pequenas firmas, 139 Entretanto, coma efetuadas por profissionais recessão empresas dos últimos anos e as demissões como demitidos a Embraer e a Avibrás, e com alta capacitação buscaram adaptar-se à nova situação, Voltaram-se, pequenas empresas próprias, aproveitando exemplo do que ocorre principalmente científica em massa muitos dos e tecnológica, então, para a criação de nichos de mercado existentes, a em São Carlos, com os professores- empreendedores. Em todos os tecnopôlos estruturas organizacionais analisados existiu uma preocupação formais, entidades coordenadoras em cnar dos pólos, sob a forma de fundações privadas, empresas, sociedades civis etc, para agilizar a difusão de informações inovação tecnológica, entre os parceiros envolvidos no processo inclusive o governo. A esse último, cabe, segundo Medeiros (1992), desempenhar de coadjuvante, facilitando de estimulando o acesso apenas o papel o surgimento de novos centros de excelência, a incubadoras, 'Concedendo incentivos fiscais, ou abrindo linhas de capital de risco. A participação institutos do Estado é extremamente de pesquisa Segundo C Quandt, tecnologia no Brasil que dinamizaram. a compreensão modo, responsáveis não foram à promoção da pesquisa de alta científica pelas elites locais. de descentralização pela formação e consolidação e são públicos. dos complexos de seus beneficios as políticas As universidades esses municípios do surgimento está vinculada através do Estado e a ínternalização Desse importante. industrial dos pólos tecnológicos, as mas sim 140 o interesse das empresas locais em privatizar os beneficios gerados pelas universidades públicas (Silva, 1993). Segundo Castells, o Estado na nova organização do espaço produtivo, tornase o "ordenador privilegiado do espaço em função dos interesses sociais dominantes", Sua ação manifesta-se de diversos modos, da criação de distritos industriais à implantação de redes de transportes. Ele é "a base da organização do espaço em seu conjunto" (1975, p.227). Ao longo do tempo, a falta de planejamento, que caracteriza a formação dos . "tecnopólos" paulistas, vem provocando o crescimento das carências sociais, a insuficiência dos equipamentos e serviços urbanos (habitação, saneamento, escolas, saúde, transporte etc), o que leva a uma paulatina deterioração da qualidade de vida local A renda per capita é bastante elevada em todos os três municípios analisados. Ela atinge 10 mil dólares na região de São José dos Campos. A maioria da. população é de classe média. O índice de mortalidade infantil está abaixo da média, o que indica boas condições de saúde. Entretanto, verifica-se uma segregação espacial, que tende a aumentar com o decorrer do tempo. Moradias de alto padrão são construídas em espaços privativos, para os que têm maiores rendimentos, enquanto a população de baixa renda vê-se obrigada a ocupar a periferia ou espaços deteriorados da cidade. Na medida em que aglomerações de alta tecnologia tendem a apresentar uma estrutura de empregos polarizada. os que detêm o conhecimento, as 141 informações, recebem a maior parcela dos beneficios que as IATs proporcionam em termos de aumento de valor agregado. As contradições urbanas vão aparecendo, cabendo, então, às autoridades governamentais tentar solucioná-Ias ou minimizá-las. para garantir condições de retenção do pessoal qualificado nesses municípios e de continuidade do processo de acumulação local. "O Estado não é somente um regulador econômico. É, antes de tudo, wn aparato político das classes dominantes, que deve estar atento a uma conjuntura de exigências que podemos resumir segundo a dupla dialética da dominação-regulação em relação às classes dominantes, e de repressãointegração quanto às classes dominadas, Assim, a ordenação do espaço produtivo pelo aparelho de Estado tem isso de específico: ser a transcrição não só da lógica técnica e econômica do capital, mas dos interesses políticos das classes dominantes em função da relação de forças em cada conjuntura" (Castells, 1975, p.228). .• "Uma sociedade não é só um processo de reprodução. É também contradição e processo de transformação através da ação das classes que em seu enfrentamento a constituem. Não obstante, as mesmas tendências que conduzem ao tipo de espaço esboçado geram contradições cada vez mais profundas (Castells, 1975, p.231). ti 142 BIB.LIOGRAFIA 1. A AMEAÇA da Tecnologia jun.91., São Paulo. 2. 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