Identidade Preservada 14 Não existe razão científica para separar os produtos transgênicos dos não-transgênicos. Entretanto, por outras razões, alguns mercados tem demandado a segregacão desses dois tipos de produtos. No cinturão do milho nos EUA, somente pequeno número das indústrias que processam essa espécie tentou separar a produção de grãos transgênicos dos não-transgênicos na safra de 2000. A grande maioria dos processadores de grãos não faz acepção do tipo de produto recebido, no que diz respeito à sua classificação quanto à transgenicidade, indicando a ampla aceitacão dos grãos geneticamente modificados nos EUA. Até a presente data, os americanos não manifestaram preocupação com a segurança alimentar dos produtos geneticamente modificados, uma vez que a confiança na capacidade dos órgãos regulatórios em avaliar e monitorar a segurança alimentar é relativamente grande. Entretanto, 156 A. Borém uma parcela dos produtores americanos de soja e milho tem manifestado preocupação com a aceitação dos grãos provenientes de variedades transgênicas com características ainda não-aprovadas para importação pela Comunidade Européia. Cerca de 4% do milho produzido nos EUA ainda não havia sido aprovado para comércio na Europa em 2000. No entanto, todos os tipos de soja transgênica liberada nos EUA foram aprovados para importação em todos os maiores mercados mundiais. Grãos com o gene BT, usados nos híbridos Yieldgard, são amplamente aceitos nos mercados importadores europeus. Dentre as variedades transgênicas da Pioneer, somente aquelas com ambos os genes de Yieldgard e de LibertyLink ainda não haviam sido aprovadas pela Comunidade Européia em 2000. Recentemente, alguns importadores da Europa anunciaram que não aceitariam produtos derivados de GMO. O Japão também anunciou a adoção dessa rotulagem, indicando tendência da necessidade de segregação dos produtos nãotransgênicos dos transgênicos. Pureza absoluta é utopia. O exemplo dos níveis de mistura tolerados no sistema de produção de sementes é ilustrativo. Sementes das classes fiscalizadas, certificadas, básicas e genéticas apresentam elevado nível de pureza quanto à presença de debris, sementes de espécies daninhas e sementes de outras variedades. Mesmo as sementes básicas e genéticas, que são a origem das demais classes de sementes, apresentam nível de contaminação toleráveis. Tanto produtores e laboratórios oficiais de análise de sementes quanto os órgãos regulatórios da produção e comercialização de sementes reconhecem que 100% de pureza não é factível para qualquer espécie, seja ela transgênica, seja convencional. Identidade Preservada 157 Indentidade preservada refere-se ao manejo da produção, transporte, processamento e distribuição de produtos com o objetivo de assegurar a identidade da sua fonte e sua natureza. Esse é um conceito já utilizado em alguns tipos de produtos agrícolas, como sementes, dentre outros. Enquanto os produtos agrícolas que são, em sua maioria, comercializados no mercado internacional estão sujeitos a um sistema limitado de classificação, alguns mercados especializados requerem classificação mais detalhada. Muitos dos produtos agrícolas são classificados apenas com base no tipo de variedade ou em aspectos visuais ou de aparência. Por exemplo, milho: dentado, vítreo, branco ou amarelo; arroz: grãos longos ou grãos curtos; cevada: para alimentação animal ou para malteamento; etc. O objetivo de qualquer programa da identidade preservada e da conseqüente classificação ou segregação dos produtos é facilitar seu comércio, de forma a atender às demandas dos diferentes segmentos do mercado (produtores, processadores, distribuidores, varejistas e consumidores). A medida que o mercado sofistica, a demanda por produtos com garantia de qualidade, de origem ou com identidade preservada tende a se estabelecer. Com a globalização da economia e a elevação do nível de sofisticação da cadeia produtiva, a tendência do mercado é adotar um sistema de classificação mais refinado. Por exemplo, muitas indústrias possuem exigências quanto ao conteúdo de óleo e proteína dos grãos de soja. Outros tipos de indústrias fazem acepção quanto à região de origem e ao método de produção, como no caso da uva para produção de vinho com certificado de origem. Os programas de identidade preservada preconizam dois aspectos considerados básicos: análise da qualidade e níveis de tolerância. 158 A. Borém Análises de Qualidade O sistema de identidade preservada oferece ao consumidor a garantia e confiança de que o produto adquirido atende a padrões de qualidade preestabelecidos. Um dos importantes componentes desse sistema é a análise da qualidade ou pureza. Métodos padronizados de análise devem ser adotados para que os resultados possam ser facilmente interpretados; vários deles pelos componentes do sistema produtivo. Níveis de Tolerância Níves de tolerância devem ser estabelecidos, em virtude da impossibilidade de a pureza absoluta ser alcançada na cadeia de produção, processamento e comercialização dos alimentos. É por isto que, por exemplo, a classe de arroz grãos de longos pode conter até certo nível de mistura de grãos curtos e, ainda, ser classificada como de grãos longos. Um sistema de identidade preservada em funcionamento há alguns anos é o dos produtos orgânicos, um mercado de cerca de nove bilhões de dólares anualmente nos Estados Unidos. Mesmo para os produtos orgânicos tem existido certa confusão na sua certificação. Devido à dificuldade de manutenção da pureza dos produtos orgânicos desde a produção, a colheita, o transporte, o beneficiamento e o processamento até a comercialização, existe um nível de tolerância de 5% de material não-orgânico ou, às vezes, até valores maiores, admitidos pelas indústrias que produzem e comercializam esses alimentos. Diversas entidades ou sociedades certificadoras possuem diferentes padrões. Entretanto, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos desenvolveu um novo sistema de certificação, com o objetivo de servir de referência e padrão de certificação dos produtos orgânicos. De acordo com essa nova Identidade Preservada 159 regulamentação para produtos orgânicos, os produtores não podem, durante a produção, ter feito uso de fertlizantes sintéticos ou químicos, defensivos agrícolas químicos, hormônios de crescimento, antibióticos, irradiação ou conter transgênicos. Alimentos rotulados com “100% orgânicos” só podem conter ingredientes orgânicos, enquanto aqueles rotulados como “orgânicos” devem ter no mínimo 95% de ingredientes orgânicos, na base de volume ou peso, excetuando-se a água e o sal. Alimentos rotulados como “feitos com ingredientes orgânicos” devem ter pelo menos 70% de constituintes orgânicos. Dessa forma, alimentos que atinjam os critérios do USDA recebem um selo de certificação de identidade preservada com relação à sua natureza orgânica. Com as tecnologias analíticas atualmente disponíveis, é possível detectar quantidades mínimas de material transgênico, se presente, em vários produtos in natura ou processados. O número de laboratórios capacitados para esses tipos de análises deve crescer com o aumento da demanda desses testes. Um desses laboratórios incubados na Universidade Federal de Viçosa está realizando esses testes com base na tecnologia PCR, AgroGenética (2001). Identidade Preservada e Transgênicos Muitos cientistas questionam se as técnicas da engenharia genética são fundamentalmente diferentes das do melhoramento convencional de plantas. Para eles, a agricultura fundamentalmente consiste na alteração do processo evolucionário, dirigindo-o para o desenvolvimento de tipos que melhor atendam às necessidades do homem. Ao longo de todo o século XX até o início deste em curso, os melhoristas têm modificado (melhorado) as espécies de 160 A. Borém forma a torná-las mais produtivas, resistentes a pragas e doenças e com melhor qualidade nutricional etc. As variedades modernas são extremamente diferentes dos seus tipos ancestrais. Deve-se, ainda, considerar que as modificações genéticas via DNA recombinante não podem ser defendidas simplesmente em termos dos seus efeitos no fenótipo. Por exemplo, é possível desenvolver variedades tolerantes a herbicidas em algumas espécies exclusivamente com o uso do melhoramento convencional. A Pioneer desenvolveu, por métodos de melhoramento convencional, os híbridos Clearfield, que são tolerantes aos herbicidas imidazolinonas (Pioneer, 2001). Níveis de Mistura Um dos primeiros limites de tolerância de material transgênico em não-transgênico foi adotado na Suíça. O Ministério da Agricultura daquele país, afirmando que a contaminação de lotes de sementes seria inevitável, estabeleceu que lotes de sementes com até 0,5% de contaminação por sementes de variedades transgênicas poderiam ser comercializados como não-transgênicos. Esse limite adotado pela Suíça se aplicou a sementes e não a grãos destinados à alimentação humana ou animal. Não existem normas internacionais padronizadas que regulem o nível de presença de variedades transgênicas em lotes de sementes convencionais. Mesmo na Comunidade Européia não existe uniformidade de padrões de pureza genética estabelecidos. A Federação Internacional de Comércio de Sementes (FIS), organização que representa o setor sementeiro, tem estimulado os países a estabelecer limites de tolerância quanto à presença de transgênicos. A FIS propôs que o comércio internacional de sementes fosse Identidade Preservada 161 baseado no princípio de que o estabelecimento de padrões de contaminação com material transgênico em lotes de sementes deveria ser realizado com base em sistemas utilizados por entidades regulatórias, produtores de sementes e agricultores. Os esquemas de certificação de sementes têm funcionado, de forma satisfatória, por várias décadas, mantendo a identidade e pureza das sementes. Um sistema para medir a pureza genética das sementes deve incluir metodologias padronizadas. A Associação Internacional para o Comércio de Sementes (ISTA), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a Associação dos Analistas Oficiais de Sementes (AOSA) e a FIS estão trabalhando em conjunto, na busca de desenvolver normas padronizadas, factíveis e confiáveis, que possam ser internacionalmente aceitas. A Associação Européia de Produtos de Sementes (ESA) também tem estimulado os países da Comunidade Européia a estabelecer níveis padronizados de tolerância de transgênicos. A ESA tem recomendado o uso do limite de mistura de 1%, já adotado na rotulagem de alimentos em vários países, como referência para lotes de sementes. Devido à falta de normas claras e definitivas sobre níveis de pureza genética, a Associação Francesa de Produtores de Sementes (AFS) adotou voluntariamente o limite de 1% para presença de transgênicos em variedades de milho nãotransgênicas. Esse código de conduta estabelecido pela AFS foi voluntariamente aceito pelas empresas produtoras de sementes de milho na Europa. Em levantamento realizado em 1999 pela Genetic ID, uma das empresas pioneiras nos Estados Unidos a realizar testes para detecção de transgênicos em lotes de sementes e alimentos, analisando 20 diferentes variedades de milho 162 A. Borém provenientes de cinco dos maiores produtores de sementes do cinturão do milho naquele país, detectou duas amostras (10%) com 0,1 a 1% de material transgênico. Sete amostras (35%) apresentavam material transgênico abaixo de 0,1%. As demais 11 amostras não apresentavam níveis detectáveis de contaminação. Os testes foram realizados utilizando a técnica patenteada do triple-check PCR test, que valida a análise de cada amostra com base em 10 resultados consistentes (Genetic ID, 2001). Embora não exista um padrão internacional definindo o limite de material transgênico nos alimentos para estes serem rotulados como não-transgênicos, muitas indústrias e organizações não-governamentais têm sugerido valores entre 0,1 e 1,0% como referência. Alguns importadores japoneses, por exemplo, adotaram o limite de 0,1% de transgênicos nos alimentos. Como resultado da demanda de pureza do material pelos importadores de alimentos, alguns exportadores têm adotado esse limite. Todavia, muitos outros mercados importadores trabalham com o limite de 1% de material transgênico em alimentos classificados como não-transgênicos. Alguns países membros da Comunidade Européia adotaram o limite de 1%, acima do qual a empresa deve rotular seu produto como "contendo transgênico". A rotulagem só pode ser efetivamente adotada após a definição de umbrais ou limites a partir dos quais a identidade do produto é considerada preservada. Se não houver padronização desses limites em nível internacional, todo o esforço realizado em relação à rotulagem seria perdido, uma vez que o sistema não teria credibilidade. Só é possível a preservação da identidade dos produtos com a segregação da sua produção. Entretanto, têm ocorrido questionamentos sobre a fisilidade da segregação da Identidade Preservada 163 produção de grãos em regiões que produzem tanto transgênicos quanto não-transgênicos. Em 2000, o milho StarLink, que havia sido liberado legalmente apenas para alimentação animal nos EUA, foi detectado em tortilhas utilizadas pela cadeia de restaurantes Taco Bell, causando grande discussão sobre a fisibilidade de segregação da produção agrícola. Supermercados europeus que comercializam produtos rotulados como não-transgênicos têm voluntariamente adotado a rotulagem com base no sistema de certificação. Os produtos são classificados como não-transgênicos, observando-se diferentes limites de participação de transgênicos na sua composição. A preservação da identidade de um produto envolve o monitoramento e gerenciamento de todas as fases do processo produtivo: anterior à propriedade agrícola, na propriedade agrícola, no transporte, no armazenamento, no processamento, na rotulagem e na distribuição. A falha na manutenção da pureza do produto em qualquer dessas fases pode significar sua não-elegibilidade para obtenção do certificado de identidade preservada. A adoção de um programa de identidade preservada é, em última instância, determinada pela combinação da demanda pelo mercado, pelo seu custo e pela política definida pelos órgãos regulatórios. Em características direcionadas para o consumidor final, qualidade nutricional, por exemplo, é de interesse do fornecedor estabelecer um programa de identidade preservada, e, provavelmente nesses casos, tais programas sejam estáveis e duradouros. Nos casos em que a modificação genética é direcionada para maior lucratividade do produtor (características agronômicas, como toletância a herbicidas), em que não existe interesse direto do consumidor, a 164 A. Borém iniciativa de um programa de identidade preservada dependerá de legislação governamental. Nesses casos existe grande probabilidade de que a rotulagem e os programas de identidade preservada sejam fenômenos efêmeros, permanecendo ativos apenas enquanto os consumidores adquirem confiança nos produtos. Ainda, com a diversidade da sociedade, provavelmente existirá um segmento da população que persistentemente desejará evitar os alimentos transgênicos. A durabilidade do programa de identidade preservada nesse caso dependerá da disponibilidade desse mercado em arcar com os custos da segregação da produção. Apenas parte da produção das culturas é utilizada na alimentação humana ou animal. Uma parte da produção dos cereais e das oleaginosas é utilizada pela indústria como matéria-prima ou ingrediente do processo industrial, e, neste caso, a identidade preservada sob a ótica da mistura de material transgênico e não-transgênico pode não ter importância. As Figura 14.1 e 14.2 ilustram os vários usos da soja e do milho. Os diferentes usos do milho estão agrupados em três grandes categorias: alimentação humana, aplicação industrial e alimentação animal. No caso da soja, as três maiores classes são: óleo, proteína e grãos inteiros, dentro dos quais há a classificação em produtos comestívies, industriais, medicinais e outros. A eventual segregação da produção deve considerar os vários destinos da produção. Enquanto a segregação da produção destinada à alimentação humana pode ser defendida para atender à demanda de alguns segmentos da população, a segregação para fins industriais não se justifica, em muitos dos casos. Portanto, uma análise do destino da produção é necessária Identidade Preservada 165 antes de se definir por um programa de identidade preservada. A posição política do Brasil quanto aos transgênicos tem sido monitorada de perto tanto por exportadores quanto por importadores de grãos, haja vista sua importância atual no mercado internacional e, principalmente, a perspectiva de aumento da sua participação nas exportações de alimentos no futuro próximo. A Figura 14.3 ilustra a distribuição, por países, da produção de soja e milho no mundo. Especialmente no caso da soja, em que o Brasil é o segundo maior produtor e exportador, a política adotada em relação aos transgênicos terá impacto direto na oferta de grãos nãotransgênicos no mercado mundial. Cerca de 36% dos 72 milhões de hectares plantados globalmente com soja em 2000 foram de soja transgênica (James, 2001). O Brasil foi até o ano 2000 um dos maiores exportadores que não haviam ainda autorizado o plantio de variedades transgênicas. SOJA ÓLEOS Glicerol Óleo Refinado Comestíveis Éster Ácidos Graxos Cremes para café Óleo de cocção Leites Margarina Ésteres Maionese metílicos Óleo de soja Solventes Medicamentos Fármacos Molhos para salada Óleos para salada Patês para sanduíche Gorduras Usos Técnicos Anticorrosivo Antiestático Selante Resinas para construção Agente de liberação de concreto Óleos industriais Lápis de cera Desinfetante Agente de controle de poeira Isolamento elétrico Epóxis GRÃOS INTEIROS PROTEÍNA Lecitina Comestíveis Agentes Emulsificantes Produtos para cocção Cobertura de bolo Fármacos Farinha Comestíveis Usos Técnicos Comestíveis Grãos Adesivos Torta Reagentes analíticos Antibióticos Emulsão asfáltica Pastas e cremes Comida de bebês Balas Productos dietéticos Broto Grãos torrados Torta Alimentação Animal Aquacultura Apicultura Bovinocultura Sucrilhos Uso Nutricional Farinha integral Colas de madeira Confeites Avicultura Dietas Pão Bebidas Medicamentos Doces Produtos de limpeza Cosméticos Concentrados protéicos Ração Usos Técnicos Agentes Antiespumantes Misturas para panificação Sobremesas congeladas Agentes fermentadores Nutrientes Álcool Bebidas lácteas Levedura Farinhas Leite hipoalérgico Carne de soja "Noodles" Leite para bovinos Premia Fibras Pré-misturas Silagem Filmes para Invólucro para 167 Identidade Preservada hidrolisadas embalagens salsicha Fungicidas Agentes Amaciantes Untadores de panelas Pigmentos Levedura Tintas Margarina Massas de tortas Substitutos de couro Cerveja Óleo linolênico Agentes Dispersantes Soja Torrada Tintas hidrossolúveis Polimento de metal Tintas Balas Plásticos Tecidos oleificados Pigmentos Ingredientes para biscoitos Poliésteres Corantes Inseticidas "Cream crackers" Fármacos Pesticidas Borracha Itens dietéticos Pesticidas Bioplásticos Agentes Estabilizantes Creme de soja Têxteis Cobertura protetora Margarina Café de soja Massa calafetante Agentes Hidratantes Derivados de Soja Sabão xampu Leite para bovinos Miso Plástico vinúlico Cosméticos Pigmentos Leite Madeirite Figura 14.1 – Diferentes usos da soja. Tempeh USOS DO MILHO ALIMENTAÇÃO HUMANA Confeitaria Produtos fermentados Pão, roscas etc. "Donuts" Produtos não-fermentados Bolos Biscoitos Recheios cremosos Coberturas congeladas Tortas Pré-misturas Bebidas Bebidas desidratadas Cerveja Refrigerantes Vinhos Outros bebidas Produtos Enlatados Frutas e sucos Pudins Vegetais Doces Caramelo Goma de mascar Balas "Marshmallow" Processamento de Alimentos Condimentos Substitutos de lactose Alimentos em pó Alimentos congelados Geléias Gelatinas Carnes em conserva Picles Misturas em néctares Vinagres USO INDUSTRIAL Adesivos Adesivos de embalagens Adesivos de envelopes Cola gráfica Adesivos para laminação Processamento de Papel Adesivos reidratáveis Adesivos de embalagens Material da Construção Civil Massa de parede Isolante acústico Aditivos para concreto Massa plástica acrílica Indústria do Papel Terminação hidratada Acabamento de superfície Laminação Químicos Produção de sorbitol Produção de resina Ácido glucônico e gluconatos Gluco-heptonatos Químicos Químicos florais Produção de enzimas Raticidas Inseticidas Herbicidas Aerosol Tratamento de metal Componentes industriais Produção de corantes Emulsão polimerizadora (PVAc) ALIMENTAÇÃO ANIMAL Fármacos Néctares medicinais Solução intravenosa Produção de vitamina C Tabletes Fermentação Pastilhas Têxteis Ondulações Acabamento Tabaco Aditivos em tabaco Papel de cigarros Corrugados Sistema adesivo Cosméticos Cremes faciais Sombras Colônias Perfumes Fermentação Fermentação Mineração Purificação de minério de ferro Purificação de bauxita Purificação de flúor Figura 14.2 – Diferentes usos do milho. Alimentação para animais de produção (bovinos, suínos, caprinos, ovinos etc.) Alimentação para animais de estimação (cão, gato, peixes, pássaros etc.) Substituto do aleitamento de filhotes ou de animais jovens Silagem Identidade Preservada 169 Custos nos Programas de Identidade Preservada O custo adicional do produto com certificado de identidade preservada é decorrente dos procedimentos especiais de manejo, armazenamento, transporte, processamento, limpeza, análises e gerenciamento utilizados para assegurar sua segragação de outros produtos similares, porém sem garantia de constituição ou origem. O fluxograma da Figura 14.4 sumariza os principais estádios da cadeia produtiva percorridos, de uma maneira geral, por vários produtos agrícolas. Alguns produtos possuem, entretanto, uma cadeia de produção mais verticalizada, onde as industrias formalizam contratos com produtores selecionados. A magnitude dos custos adicionais dos produtos com certificado de identidade preservada dependerá das circunstâncias de sua produção, dos limites de tolerância admitidos pela certificação e de fatores associados à economia de escala da sua produção. A expectativa é de que o custo de produção desses produtos seja relativamente maior nos estádios iniciais da adoção do programa, mas, à medida que os setores produtivo, processador e distribuidor se adaptam ao sistema e, ainda, o volume comercializado aumenta, os custos tenderão a reduzir-se. Por exemplo, no caso do milho destinado à alimentação animal, cujo nível de processamento dos grãos é relativamente pequeno quando comparado com o processamento envolvido na produção de alguns alimentos para consumo humano, o custo adicional da identidade preservada é substancialmente menor. 170 A. Borém Uma das primeiras questões levantadas quando se estuda a viabilidade de adoção de um programa de identidade preservada é sobre quem arcará com os custos adicionais do produto. Para os produtos agrícolas, a divisão dos custos adicionais dependerá da responsabilidade e demanda de cada componente da cadeia produtiva. Se existem vários substitutos para o produto, então a demanda responde diretamente ao custo final. Por exemplo, se o custo do óleo de soja para cocção com certificado de identidade preservada é significativamente maior que o do óleo de soja sem identidade preservada, a indústria pode optar por substituí-lo pelo óleo de girassol, milho, canola etc. Nesse caso, em que o consumidor não está disposto a arcar com os custos adicionais, os demais segmentos da cadeia produtiva deverão absorvê-los. Em muitos casos, isso pode significar redução na remuneração do produtor. Modificações Genéticas Direcionadas ao Consumidor Em breve, uma nova gama de variedades transgênicas com características direcionadas ao consumidor final estará no mercado. Estarão diponíveis variedades com valores agregados de melhor qualidade nutricional, com composição química que atenda a dietas especiais, que permitam a produção de um produto final processado de melhor qualidade. Nesses casos, o consumidor provavelmente estará disposto a pagar ágio adicional pelo produto. Um exemplo é a massa de tomate feita com tomates transgênicos, que apresentam melhor consistência e resultam em melhores molhos que aqueles produzidos com tomates convencionais. Outro exemplo são as variedades transgênicas de soja com maior proporção de ácidos graxos insaturados em relação aos saturados. Outros 12% Outros 26% Argentina 9% EUA 41% Argentina 3% Brasil 5% Europa 7% China 18% China10% EUA 49% Brasil 20% Figura 14.3 – Discriminação da produção mundial de milho e soja, respectivamente, por maiores produtores. Fonte: USDA (2001). Propriedade Rural Anterior à Propriedade Plantio Melhoramento Multiplicação de Sementes Distribuição de sementes Plantio da semente correta Limpeza de equipamentos Evitar Fecundaçãocruzada Manter histórico Colheita Limpeza d a colheitadeira Armazenamento Limpeza de Silos Indústria Distribuição Assegurar que produtos com IP atinjam mercado específico Processamento Limpeza de moegas Amostragem e análise Limpeza das unidades Transporte Armazenamento limpeza de instalações Limpeza de caminhões Limpeza de moegas Amostragem e análises Assegurar destino correto Rotulagem Assegurar correta rotulagem Figura 14.4 – Fluxograma da cadeia produtiva de produtos agrícolas. Variedades convencionais têm maior proporção de ácidos graxos saturados, que contribuem para a elevação do colesterol LDL, associado aos riscos de doenças cardíacas. Nesses casos, o consumidor, provavelmente, estará disposto a pagar um valor adicional pelo produto que lhe proporcione melhor sabor, textura ou mesmo qualidade nutricional e, provavelmente, esteja disposto a cobrir os custos do programa de identidade preservada. Modificações Genéticas Direcionadas ao Produtor As características agronômicas que são direcionadas ao produtor, quer para redução do custo de produção, quer para facilidade do manejo da cultura, aparentemente não oferecem nenhuma vantagem para o consumidor final. Nesse caso, elas não criam valores agregados aos produtos que viessem a motivar o consumidor final a estar disposto a pagar um prêmio pelo produto. Nessa situação, o consumidor pode estar disposto a pagar um prêmio pelos produtos convencionais e não pelo geneticamente modificado. Essa tem sido a situção das primeiras variedades geneticamente modificadas que atingiram o mercado. Embora as associações de produtores divulguem as vantagens indiretas desses produtos para o consumidor, como menos resíduos de defensivos agrícolas nas variedades resistentes a insetos, o consumidor final tem manifestado pequena motivação em preferir tais produtos. Em resumo, modificações direcionadas aos produtores devem oferecer a eles algum benefício, para que estejam dispostos a adotá-las. Em contrapartida, os produtores devem também estar dispostos a compartilhar parte da economia no custo de produção com o consumidor final, como forma de incentivo para seu consumo. É óbvio que o Identidade Preservada 175 consumidor não estará disposto a consumir um novo produto somente para benefício do produtor. Finalmente, uma vez que a força de mercado dos setores processador e distribuidor é maior do que a do setor produtivo e a do consumidor final, provavelmente os custos adicionais para preservação da identidade dos produtos serão absorvidos pelo produtor e pelo consumidor. Isso significa que os custos adicionais serão divididos entre menores preços pagos ao produtor e maiores preços pagos pelo consumidor. Dessa forma, a adoção de um sistema de identidade preservada criará uma nova dinâmica de mercado, com resultados difíceis de serem previstos até que as forças de mercado atinjam o equilíbrio. Procedimentos para Manutenção da Pureza • • • • • Testar sementes rotuladas como não-transgênicas. Limpar a colhedoura e os equipamentos utilizados no transporte e armazenamento de outras variedades. Armazenar grãos em silos limpos. Adotar o uso de bordaduras entre campos com variedades transgênicas e não-transgênicas. Fazer rotação de culturas; se um talhão for plantado com uma variedade transgênica em dado ano, deve-se plantar outra espécie nos dois anos seguintes, bem como eliminar plantas voluntárias cuja origem possa ser a variedade transgênica. Algumas empresas têm estabelecido programas rígidos de identidade preservada que incluem o controle das etapas de produção, transporte, beneficiamento e distribuição dos produtos. Por exemplo, o programa InnovaSure de 176 A. Borém preservação da identidade do milho prevê o controle dos seguintes itens (Cargill, 2001): Híbridos • Lista de híbridos aprovados: somente os híbridos recomendados podem ser plantados. • Testes de pureza: são realizados testes para se detectar a presença de material transgênico nas sementes das variedades não-transgênicas. Produtores • Contratos de produção: são selecionados produtores que estejam dispostos a seguir recomendações técnicas da contratadora. • Adoção de procedimentos padronizados: adoção de bordaduras, limpeza de equipamentos agrícolas etc. • Treinamento de pessoal: capacitação da mão-de-obra. Normas para manipulação dos grãos • Nas propriedades: padronização de procedimentos na manipulação das sementes antes do plantio e durante. • Nos armazéns graneleiros: padronização de procedimentos no recebimento e armazenamento da produção. • No transporte: padronização de procedimentos no transporte da produção. • Nas unidades processadoras: padronização de procedimentos de recebimento, armazenagem e processamento dos grãos. Processamento • Teste de pureza: amostras de diferentes etapas do processamento são analisadas. Distribuição • Testes de pureza: testes finais para detecção de níveis de mistura. Identidade Preservada • 177 Rotulagem: rotulagem do produto com certificado de identidade preservada. Literatura Consultada Agbiotech Bulletin. 1999. http//:www.agwest.sk.ca./abbdec99.txt. AgroGenetica. 2001. Identificacao de material transgenico. http://www.funarbe.org.br/agrogenetica American Seed Trade Association. 2000. http//:www.amseed.com/documents/ltr-fis-052500.html Biodiagnosticos. 2001. PCR genetic purity testing. http://www.biodiagnostics.net Cargill. 2001. Inovasure: the leading source of identity preserved corn. http://www.innovasure.com Cropchoice. 2000. http//:www.cropchoice.com/leadstry.asp/recid=17. Europabio. 2000. http//:www.europa-bio.be/code/en/mnews.cfm?id-news=24. European Seed Association. 2000. http://www.swseed.se/DEV\SW\SwengComp.nsf/pages/p oint FIS. 1999. http//:www.worlseed.org/GMOthresholdse.htm Genetic ID. 2001. 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