SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1
1.1
Atividades
2
1.2
Infra – estrutura
3
1.3
Trabalhos de campo
4
1.4
Considerações Finais
23
1.5
Referências Bibliográficas
27
1.6
Inventário de Material Arqueológico
29
ANEXOS
Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
30
-INTRODUÇÃO
O presente Projeto de Prospecções Arqueológicas tem como objetivo primeiro à
produção de conhecimento, científico e sistematizado, sobre a trajetória no tempo da
“Casa de Rui Barbosa” (CRB) e vem sendo realizado no bojo do Projeto de drenagem
do seu jardim.
A importância e o valor da Casa de Rui Barbosa para a nossa história é
inquestionável, trata-se de bem patrimonial tombado pela União, assim a pesquisa
arqueológica segue as exigências legais (Lei Federal 3924/61 e Portaria IPHAN
07/88).
Seguindo as orientações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –
IPHAN, bem como as recomendações feitas pelo Manual de Arqueologia Histórica
(NAJJAR, 2005), elaboramos o projeto de prospecções arqueológicas no período de
02 de janeiro a 12 de março de 2007.
O objetivo do projeto de prospecções arqueológicas é o de produzir conhecimento
sobre o bem, a Casa de Rui Barbosa, a partir da abordagem daquele sítio histórico
enquanto objeto construído. A pesquisa busca gerar dados sobre o nosso objeto de
estudo, entendendo-o como um superartefato construído pelo homem que,
necessariamente, está inserido num dado tempo e espaço e, deste modo, carregado
de ideologia, valores e simbolismos (MACEDO, 2003).
O IPHAN, na pessoa da arqueóloga Rosana Najjar apontou alguns objetivos que o
projeto deveria contemplar, dentre os quais a localização da adutora de água que
corta todo o terreno da Casa de Rui Barbosa. Informações precisas quanto a sua
localização e o seu estado de conservação, além do seu mapeamento foram
colocados como fundamental para a segurança do bem patrimonial. A partir destes
dados a Direção da FCRB poderá solicitar junto aos órgãos competentes (CEDAE e
Governo do Estado) a desativação da adutora, visto ser inadequada à presença da
mesma dentro de um jardim histórico.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Através do Projeto de Prospecções nos foi possível realizar a avaliação do potencial
arqueológico da área, determinando os locais de mais férteis para uma futura
pesquisa, delimitando áreas e registrando os vestígios arqueológicos exumados a
partir das nossas escavações.
1.1 - Atividades
A definição do enfoque teórico-metodológico adotado é baseada nos pressupostos da
corrente pós-processualista da Arqueologia1. Adotamos como método de trabalho o
quadriculamento da área para mapeamento e representação gráfica das áreas que
sofreram à intervenção arqueológica.
A equipe de Arqueologia realizou um número de 75 prospecções através da abertura
de quadriculas ou poços-teste para realizar as prospecções na área do jardim. Para a
abertura destas quadrículas (1,00m X 1,00m) adotamos a técnica de estratigrafia
artificial com a retirada do sedimento em camadas de 0,10m.
A área do jardim foi dividida em 8 trechos (áreas de drenagem) e 6 setores (sem
intervenção da obra) específicos nos quais realizamos as escavações. Esta forma foi
encontrada para que fosse possível realizar além das prospecções arqueológicas o
monitoramento da obra de drenagem.
A equipe de Arqueologia foi composta por duas arqueólogas (Jackeline de Macedo e
Camilla Agostini) e quatro operários cedidos pela WCLou – empresa responsável pela
obra de drenagem. Os trabalhos foram realizados diariamente no período de 9 as 17
horas.
1
Destacamos como um dos seus maiores defensores, o arqueólogo britânico Ian Hodder. Segundo este autor a Arqueologia deveria restabelecer
seus laços com a história. Para os pós-processualistas não deveria haver “somente uma forma de investigar e sim várias, e a opção por um só
método seria uma atitude autoritária”. Para eles “os objetos não são apenas resultado da adaptação, mas sim elementos com múltiplos
significados utilizados pelos indivíduos de uma sociedade para simbolizar suas relações”. Neste sentido, não é a sociedade que está em jogo,
mas cada indivíduo que a compõe, como agentes ativos, interagindo, ditando ou negando regras sociais. Para esta corrente, “Arqueologia é
história” (NAJJAR, 2005, p. 8).
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Todas as áreas escavadas foram registradas gráficamente em planta específica de
locação e as quadrículas nas quais recuperou-se qualquer tipo de estrutura (muro,
canaleta, pisos) foi realizado desenho detalhado do vestígio em planta e corte. Os
registros gráfico e fotográfico são fundamentais para o bom andamento da pesquisa
arqueológica.
O registro fotográfico do monitoramento da obra de drenagem e da prospecção
arqueológica ficou a cargo das arqueólogas responsáveis, sendo que todo material
será fornecido em meio digital.
No que tange à Casa de Rui Barbosa, a realização da avaliação de potencial
arqueológico foi baseada a partir dos resultados das escavações e do material
arqueológico exumado no jardim.
1.2 - Infra-estrutura
A WCLou realizou a montagem de um barracão que serviu de escritório/ laboratório de
Arqueologia.
Esta área foi utilizada para armazenar o material de escavação e o
material arqueológico encontrado.
As ferramentas (baldes, pás, colheres-de-pedreiro, enxadas, picaretas, etc) utilizadas
para a escavação foram cedidas pela empresa, bem como os operários. O barracão
foi construído conforme as necessidades da equipe de Arqueologia: com bancada
para a separação do material, pia – para a limpeza e prateleiras para o
armazenamento temporário do material exumado.
Quanto à confecção dos desenhos das áreas escavadas contamos com a colaboração
da BK Arquitetos que nos cedeu uma estagiária de arquitetura para a realização do
registro.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
1.3 trabalhos de campo
No primeiro dia de trabalho realizamos uma apresentação e exposição aos operários
sobre como seria realizado o trabalho de Arqueologia, quais os cuidados, a forma
como deveríamos escavar o terreno e, principalmente mostrar a necessidade e o valor
deste trabalho. Por ser um trabalho de pesquisa a forma de se escavar seria diferente
da usada por eles habitualmente: todo o trabalho deveria ser manual, cuidadoso e
estarmos atentos às evidências que poderiam surgir no terreno.
Dividimos em duas frentes de trabalho a fim de melhor atender as necessidades do
cronograma da obra. A divisão por trechos e setores possibilitou um maior controle
das áreas escavadas e de quais as que continham o maior volume de vestígios
arqueológicos.
A abertura do trecho 1 foi a primeira área a ser escavada. Nesta área tínhamos a
referência da existência de uma adutora da CEDAE e um dos objetivos do nosso
projeto era o de localizá-la e demarcar o seu percurso dentro do terreno. No trecho 1
realizamos paralelamente a abertura de quadrículas para a avaliação arqueológica, o
monitoramento para a abertura das valas da instalação da nova rede de drenagem.
Visto que deveríamos seguir o trajeto da drenagem aproveitamos a vala aberta
dividindo-a em quadriculas de 2m X 0,80m - iniciando pelo portão de entrada. Foram
abertas 6 quadrículas (Q1 a Q6) chegando a profundidade do tubo antigo –
aproximadamente 1,00m abaixo do piso atual até a primeira caixa (PV).
A partir deste PV dando continuidade a escavação do trecho 1 foram abertas as
quadriculas Q7 a Q16 com o mesmo objetivo. O sedimento retirado destes locais foi
peneirado por amostragem, visto a grande quantidade de terra retirada na abertura
das valas. O volume de sedimento, aliado a falta de espaço para armazenamento do
mesmo inviabilizava que todo sedimento fosse peneirado. Resgatamos uma grande
quantidade de material arqueológico (conchas, fragmentos de louças, fragmentos de
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
vidros, cerâmicas, metal, ossos, etc), apesar da área já ter sido drasticamente
impactada quando da instalação da adutora.
A partir de Q7 (aproximadamente 15,00m do portão) foi possível verificarmos a
tubulação da adutora. Uma tubulação de 0,55m de diâmetro que percorre todo o
comprimento do terreno, seguindo paralelamente a casa.
Fig. 1 – Tubulação adutora – paralela a casa.
Em Q 16 – poço teste aberto ao lado da vala de drenagem, verificamos a presença de
dois tubos da adutora no nível de 0,80 do piso atual. A distância aproximada da
tubulação em relação à edificação principal (Casa de Rui) é de 10,00m.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 2 –T1Q16 - tubulação da adutora (a 0,80m do piso atual).
Outro fato que nos causou espanto foi à profundidade que esta tubulação está no
terreno. O ponto mais profundo no qual ela aparece é de 0,80m (os dois canos / Q 16)
do piso atual, variando entre 0,50m chegando à assombrosa medida de 0,15m do piso
atual.
Fig 3 – profundidade de 0,40m da superfície.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Na escavação das quadrículas no trecho 2 verificamos a superficialidade da adutora
revelando uma situação de risco ao bem patrimonial, visto que esta pode sofrer
impacto pela mais simples obra de manutenção da aléia. O desconhecimento deste
fato pode causar um dano irreparável se por algum motivo a mesma se romper.
Fig. 4 – tubulação da adutora a 0,15m da superfície.
fig. 5 – tubulação da adutora junto a superfície do terreno.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 6 - Estado do tubo quando da escavação
O fato de a escavação ter ocorrido manualmente possibilitou localizar a adutora com
segurança e precisão. Se a intervenção no terreno tivesse acontecido através de
máquina, poderia ter ocorrido um acidente grave, visto que a primeira informação que
a CEDAE nos havia passado era de que a tubulação estaria a aproximadamente
2,50m da superfície. Não é difícil imaginar o tipo de estrago que a ruptura de uma
tubulação deste calibre acontecesse junto a Casa de Rui Barbosa.
Fig 7 – planta de localização da adutora
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
A partir do monitoramento da obra foi possível verificarmos que a adutora varia em
profundidade e localização dentro da aléia.
No trecho 2 junto ao setor 4 (lago
redondo) verificou-se que um dos canos passa sobre o outro fazendo uma curva em
direção ao jardim.
Fig. 8 – curva da adutora - Trecho 2 junto ao Setor 4
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Outro ponto importante dentro do projeto foi à busca da sucessão de morfologias que
o jardim possuiu durante sua existência. O resgate de antigas feições e vestígios
deveriam nos remeter a diferentes momentos de ocupação da casa, nos detendo
apenas no que se refere à ocupação de Rui Barbosa e sua família.
As áreas que não fossem sofrer intervenção da obra de drenagem foram denominadas
setores e pesquisadas pela equipe da mesma forma que os trechos.
No setor 1 foram abertas duas quadrículas próximas ao quiosque, em uma delas
S1Q2 foi encontrada uma tartaruga completa, a qual foi fotografada e somente depois
deste registro foram retirados cuidadosamente, seus ossos e carapaça para uma
futura análise.
Fig. 9 –S1Q2 – ossos de tartaruga
No setor 2 foram abertas um número de 16 quadrículas (S2Q1 a S2Q16) que
proporcionou além da evidenciação de uma grande quantidade de material
arqueológico móvel (louças, vidros, etc) a de estruturas arquitetônicas como: muro e
canaletas de drenagem.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 10 – canaleta de pedra - Setor 2
A partir da abertura de S2Q3 a S2Q13 foi possível expor um muro de pedras, sua
presença no jardim era desconhecida não encontramos nenhuma referência quanto a
sua construção ou finalidade.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 11 – muro de pedras – Setor 2
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 12 – muro de pedras – continuação
Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Na tentativa de encontrarmos a continuidade deste muro foram abertas três
quadrículas no trecho 4 junto a edificação. Verificou-se que o muro chegava a casa
fechando uma área. Outro ponto verificado junto à edificação foi que as pedras ao
redor da edificação são apenas uma calçada, não fazendo parte da estrutura da
mesma.
Fig. 13 – muro junto ao Museu – trecho 4
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 14 - calçamento de pedra ao redor do Museu
No setor 4, área do lago redondo, foram abertas sete quadrículas. Nas quadrículas Q1
a Q3 recuperou-se uma pequena quantidade de material arqueológico e nenhum tipo
de estrutura arquitetônica. As áreas prospectadas chegaram a uma profundidade de
0,50 m com a retirada do sedimento através da estratigrafia artificial. Ao atingirmos
esta profundidade foram feitas prospecções no centro da quadricula com boca-de-lobo
a uma profundidade de 1,00m.
No trecho 5 realizamos a abertura de dois poços de prospecções antes da abertura
da vala para drenagem -
T5Q1 e T5Q2.
Em Q1 foram recuperadas pequenas
amostras de material arqueológico, já em Q2 recuperamos uma grande quantidade de
material entre os que aparecem em maior freqüência são as louças.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 15 – material cerâmico
Fig. 16 – material ósseo e malacológico
Para que fosse escavado o trecho 6, a equipe de Arqueologia prospectou
seis
quadrículas (T6Q1 a T6Q6). Neste trecho recuperamos um piso de tijoleiras de barro,
utro piso de pedra e uma estratigrafia bem demarcada.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 17 – piso de tijoleiras
Fig 18 – desenho do piso
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Quando da prospecção do setor 5 foram abertas três quadrículas ao redor do lago
oval. Nesta área a presença de material arqueológico não foi muito significativa,
apenas alguns fragmentos descontextualizados.
As quadrículas atingiram a profundidade determinada de 0,50m com prospecção em
boca de lobo de mais 0,50m. A profundidade final foi de 1,00m. Na profundidade final
encontramos um sedimento arenoso de coloração cinza e água.
No setor 3 foram abertas cinco quadrículas, sendo três na praça e duas na aléia
lateral.
No espaço redondo – praça das crianças, pouco material foi recuperado,
apenas pequenos fragmentos sem contexto.
Entretanto, na quadrícula S3Q4
recuperamos vestígio de uma canaleta de pedra e em S3Q5 uma sapata de pedras.
Esta estrutura de pedras começou a aparecer a 0,50 m de profundidade medindo 0,72
x 0,72 m chegando à profundidade final de 0,98m.
Fig. 19 – Estrutura de pedra/ sapata - S3Q5
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Para a abertura do trecho 3 que fica na fachada principal foi necessário retirarmos a
camada de asfalto (0,05m) que recobria a área. Entretanto, abaixo desta encontramos
uma camada de aproximadamente 0,15m de concreto.
Depois da retirada destes
pisos foram abertas 4 quadrículas T3Q1 a T3Q4 nas quais não foram recuperados
materiais arqueológico. Neste mesmo trecho foi aberta uma vala para verificação da
possível ligação dos lagos.
Fig. 20- piso de asfalto e de concreto fachada principal – Trecho 3
Quando da abertura desta área a nosso maior preocupação foi a de tentar recuperar
qualquer tipo de evidência que nos remetesse a uma interligação entre o lago do
jardim da fachada principal e o lago do quiosque.
Entretanto, não foi recuperado
qualquer tipo de vestígio que pudesse nos levar a esta ligação. Se por ventura esta
ligação existiu em algum momento, deve ter sido totalmente perdida durante as obras
para a abertura de uma rua realizada pela Prefeitura, no lado esquerdo do terreno
visando ligar à rua São Clemente com a rua Assunção.
Após esta grande intervenção, ocorreu a reforma no jardim da casa em 1930 para
devolver a Casa área da referida rua. Segundo relatos da época foi neste momento
houve a recomposição dos canteiros, reposição de aterros, modificações de feições,
concerto de todo jardim, reconstrução e aumento de toda rede elétrica, etc.
20
Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 21 – obra do jardim década de 1930.
Realizamos prospecções e monitoramento no trecho 7 e trecho 8. Desta áreas
retiramos uma grande quantidade de material arqueológico (vidros, ossos, metal e
louças) principalmente nas proximidades de casa. Para a escavação destes trechos
foi necessária a retirada do piso atual de paralelepípedos que foram guardados para
sua re-colocação.
Um grande cuidado foi quando escavamos junto ao piso da garagem, pois
procurávamos encontrar pisos de momentos anteriores. Entretanto, não verificamos
qualquer tipo de piso mais antigo. O que vimos foi uma secessão de intervenções
realizadas nesta área: rede de esgoto, drenagem, instalação elétrica, um emaranhado
de tubos. O que a principio nos surgiu como um piso cimentado, logo se revelou como
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
um “envelopamento” de rede elétrica que percorria todo o trecho escavado,
aparecendo também na área da elevatória.
Na área posterior do jardim, na rampa de acesso ao estacionamento, realizamos duas
prospecções para verificar a se seria possível instalar uma elevatória para esgoto. Na
primeira quadrícula aberta EQ1, verificamos a presença de duas linhas paralelas entre
si de tijolos, como se fosse um pequeno “passeio”. Além do alinhamento de tijolos há
um “envelopamento” do sistema elétrico da Casa. Assim, abrimos a EQ2 e neste local
não registramos qualquer tipo de vestígio.
Fig 22 – “passeio” de tijolos encontrado na EQ1
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 23 – passeio de tijolos e “envelopamento” – EQ1
Todas as áreas escavadas pela equipe ao final da pesquisa foram fechadas seguindo
as recomendações do IPHAN (NAJJAR, 2005). As quadrículas foram forradas com
uma tela plástica, locadas em planta e fotografadas, somente depois destes
procedimentos é que as mesmas foram re-aterradas.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Fig. 24 – re-aterramento das áreas escavadas
O material retirado durante as escavações foi todo limpo, separado, organizado e
inventariado, conforme solicitação do IPHAN. Para realizar a análise preliminar foi feita
a separação do material, acondicionando-o em sacos com fichas descritivas as quais
nos dão informações fundamentais para a futura analise laboratorial como:
profundidade, data, natureza do mesmo, etc. Após esta triagem, todo material foi
ensacado e acondicionado em caixas (tipo Box) sendo realizado inventário de todo
material exumado durante a realização do Projeto de Prospecções Arqueológicas.
Considerações Finais
O Projeto de Prospecções Arqueológica no jardim da Casa de Rui Barbosa teve
como principal objetivo avaliar o potencial arqueológico da área.
Por se tratar de
edificação de grande importância para a história de nosso país, a casa foi inscrita nos
livros de Tombo de Belas Artes e Histórico, em 11 de maio de 1938, pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e artístico Nacional - IPHAN. Sendo parte integrante do bem
tombado, o seu jardim que possui uma área de 9.000m², que representa uma
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
tendência paisagística do final do século XIX, não apenas por seu traçado e espécies
vegetais ali presentes, mas também pelos seus elementos decorativos (com
elementos de argamassa estruturada, o quiosque, os lagos e a pérgula de estrutura
metálica).
Durante mais de dois meses de trabalhos a equipe de Arqueologia pode levantar uma
série de informações e muitos dados pertinentes à ocupação daquele local e as
transformações ali ocorridas. Um dos objetivos perseguidos pela equipe foi o de tentar
resgatar uma possível sucessão de diferentes morfologias que o jardim possuiu,
associando-as aos diferentes momentos de ocupação da casa.
Neste sentido, resgatar evidências que revelassem a existência de golas margeando
as manchas de jardim e pisos em níveis diferentes dos atuais seriam fundamentais
para comprovar e/ou refutar estas questões. Entretanto, não foram verificadas
evidências de outros tipos de golas junto aos canteiros. As golas encontradas no
jardim atual estão relacionadas a um momento recente.
Uma referência sobre este assunto foi obtida a partir da análise fontes históricas e
iconográficas do jardim2. Em relatório produzido pelo engenheiro, Vittorio Miglietta,
responsável pela obra realizada em 1930, podemos destacar a construção das
esquinas dos canteiros com paralelepípedos e a realização de aterros. Esta mesma
fonte relata ainda o estado de degradação do terreno e os serviços efetuados,
relativos ao abastecimento de água nos lagos e reconstrução de alamedas e canteiros.
Estes dados nos remetem as transformações nas feições do jardim e necessidades de
manutenção do mesmo. A partir da inter-relação dos dados históricos com os vestígios
arqueológicos percebemos as alterações no nível do terreno (aléias e canteiros).
Vestígios como os pisos de tijolos de barro (0,40m abaixo do atual), a antiga estrutura
de drenagem (canaleta de pedras – que varia de 0,50 a 0,80m abaixo do atual) ou
ainda o muro de pedras que nos sugere um fechamento do terreno na área mais
íntima da casa.
2
Miglietta, Vittório. Relatório da reconstrução do Jardim da casa de Ruy Barbosa, 1930.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
Durante nosso trabalho percebemos que a área do jardim sofreu com as várias
intervenções ocorridas durante toda a sua existência. Um emaranhado de tubos e fios
revelou que foram muitas as intervenções (elétricas e hidráulicas) que ocorreram
durante toda sua existência. A maior e mais drástica de todas foi à construção da
adutora da CEDAE que corta todo o terreno da Casa de Rui Barbosa. Além de ter sido
danosa ao patrimônio arqueológico se mostra hoje como um grande risco para o
Museu e o jardim. A sua superficialidade, a proximidade com a casa e o seu precário
estado de conservação são fatores de risco no caso de ruptura em sua tubulação.
Além das estruturas arquitetônicas resgatadas (canaletas, pisos, muro), da localização
da tubulação da adutora, uma grande quantidade de material arqueológico móvel foi
recuperada3 e, necessita de ser analisado sistematicamente para que este possa
fornecer maiores informações acerca do sítio e daqueles que ali viveram. A análise
preliminar determinou a maior incidência de material do século XIX.
Vidros planos, vidros de remédio, garrafas antigas de bebida, material ósseo, dentes,
conchas, material de construção, carvão, metal (pregos, ferragens, ponteiros, etc),
tijolos maciços, telhas (francesas e canal), cerâmicas (vidradas ou não vidradas) são
um pequeno exemplo dos 4906 fragmentos exumados durante a pesquisa.
O potencial do sítio é evidente devido a grande quantidade de material arqueológico
resgatado se apresentar relacionada ao contexto da Casa. As mais antigas referências
da ocupação desta área são a de uso residencial, fato este que sempre nos levou a
acreditar na recuperação de material de uso doméstico como louças, vidros, além de
restos alimentares. A comprovação deste fato pode ser percebida através do material
acima mencionado.
Muitos fragmentos de louças: faianças finas (Shell Edge, Willow, Borrão Azul, Anular,
entre outras) foram recuperadas. As faianças finas inglesas podem estar relacionadas
ao primeiro momento da casa, quando esta foi ocupada pelo Barão da Lagoa.
Entretanto, é muito cedo para conclusões definitivas, visto que para que estes dados
3
Vide Inventário de material arqueológico.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
possam realmente se transformar em conhecimento amplo sobre o referido bem
patrimonial, devemos inter-relacionar todos os demais (material arqueológico,
estruturas e um aprofundado levantamento histórico).
Assim, se faz necessário à
continuidade dos trabalhos de Arqueologia através de uma pesquisa sistematizada.
Neste sentido, se faz necessário à utilização dos métodos e técnicas de escavação em
“superfícies amplas”, visto que este método tem como objetivo a exposição total do
vestígio arqueológico (PALLESTRINI & PERASSO, 1984, p. 21).
Analisando não
apenas o jardim, mas as construções nele inseridas, bem como o contexto ambiental,
ao qual estes estão relacionados. Segundo Mark Leone (apud ORSER, 1992, p. 79),
as edificações, bem como os jardins, podem ser vistas como superartefatos
construídos pelo homem, devendo ser estudados dentro do contexto ambiental ao qual
estão inseridos.
Outro fator de suma importância é a fase de análise laboratorial do material exumado
e a verificação do NMP (Número Mínimo de Peças) recuperado no sítio. A
consolidação de informações sobre o material arqueológico se faz necessária para
que seja produzido conhecimento sobre a casa, o seu jardins e, somente assim,
efetivamente, recuperar a sua história e a daqueles que a construíram e ali viveram.
Além das prospecções arqueológicas, o monitoramento da obra de drenagem
proporcionou a equipe uma maior cobertura da área do jardim. Apesar da maior parte
das áreas escavadas para a instalação dos dutos de drenagem já ter sofrido
intervenções anteriores, a parcela de instalação de novos dutos nos proporcionou um
entendimento melhor do terreno e a recuperação de vestígios fundamentais para a
recuperação da história do sítio.
Consideramos que os objetivos pretendidos no Projeto de Prospecções da Casa de
Rui Barbosa foram atingidos e podemos classificá-la, além de sítio histórico, também
um sítio arqueológico.
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
1.5 - Referências Bibliográficas
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Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro / RJ
IVENTÁRIO DE MATERIAL ARQUEOLÓGICO
Segue abaixo Inventário do material arqueológico resgatado durante a realização do
Projeto de Prospecções Arqueológicas da Casa de Rui Barbosa.
Natureza do Material
Quantidade
1. Material Construtivo
418
2. Metal
525
3. Cerâmica
201
4. Azulejos
892
5. Louças
897
6. Ossos/carvão
351
7. Vidro
1087
8. Plástico
39
9. Diversos
28
10. Malacológico
396
11. Telhas
10 – amostras
12. Tijolos
14 - amostras
13. Aros de Metal
48
30
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ANEXOS
1 – PLANTA DE LOCAÇÃO DAS ÁREAS ESCAVADAS
2 – PLANTA DE LOCAÇÃO DA ADUTORA
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Relatório Final do Projeto de Prospecção Arqueológica