HEBREUS, FENÍCIOS E PERSAS - 1 Três povos da Palestina A Palestina é descrita na Bíblia como uma terra fértil, de “leite e mel”. Ela é formada por uma faixa de terra rodeada pela Síria, pela Fenícia e pelo deserto da Arábia. Segundo a Bíblia, a Palestina foi a terra que Deus escolheu para fixar Abraão e sua tribo, os fundadores do povo hebreu. Pela tradição bíblica, a instalação dos hebreus na Palestina ocorreu por volta de 1800 a.C. e foi marcada por muitas guerras com os povos que já habitavam a região. Na nova terra, os hebreus consolidaram o monoteísmo, a crença em único Deus, partilhada por judeus, cristãos e muçulmanos. No norte da Palestina, entre o Mar Mediterrâneo e as montanhas do atual Líbano, viviam os fenícios. Sem dispor de terras boas para a agricultura, eles se tornaram grandes navegadores e comerciantes. Mas sua criação cultural mais importante foi o alfabeto, um sistema de escrita que teve difusão mundial e hoje é a base da maior parte das línguas ocidentais. As palavras que você está lendo foram escritas em um alfabeto derivado do fenício. Entre os muitos conquistadores da Palestina e da Fenícia estavam os persas, um povo que habitava o território onde hoje se situa o Irã. Eles organizaram um vasto império, que se estendia do Vale do Rio Nilo ao Vale do Rio Indo. OS HEBREUS Uma religião monoteísta - Muitas culturas antigas se destacaram nas artes, na escrita, nas técnicas agrícolas e nas ciências. Um dos traços marcantes do povo hebreu, de origem semita, foi, sem dúvida, a religião monoteísta, ou seja, a crença em um único Deus. A grande maioria dos povos da Antiguidade era politeísta, isto é, acreditava em vários deuses. Os hebreus acreditavam em um Deus único, criador do céu e da terra, dos seres humanos e de tudo o que existe no universo. Segundo sua tradição, a aliança estabelecida entre o hebreu Abraão e Deus — laweh (Javé ou Jeová), em hebraico — marcou o início da trajetória dos judeus, o povo descendente de Abraão. A história dos hebreus é contada na Bíblia, nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento. Chamado de Pentateuco, pelos cristãos, e de Torá, pelos judeus, esse conjunto de livros é uma importante fonte de pesquisa: a partir dele, é possível conhecer os costumes, os mitos, as leis, a moral e as práticas sociais dos antigos hebreus. Rumo à Terra Prometida - No início do segundo milênio antes de Cristo, quando o Egito e a Mesopotâmia já eram grandes impérios, os hebreus viviam em grupos de pastores nômades, liderados por anciãos. Abraão, um desses chefes, morava com sua família próximo a Ur, cidade no sul da Mesopotâmia. A Bíblia relata que, nessa época, Deus orientou Abraão a conduzir seu povo para Canaã, a Terra Prometida, na Palestina. Quando os hebreus chegaram à Palestina, a região já era habitada pelos cananeus e por outros povos. Os hebreus organizaram-se, então, em grupos familiares liderados por patriarcas. Abraão, Isaac e Jacó foram os primeiros patriarcas. Leite, mel e pouca água - Embora seja descrita na Bíblia como a terra que propicia leite e mel, a Palestina é uma região inóspita, cercada por desertos e marcada pela escassez de água. As poucas terras férteis localizam-se próximo ao Rio Jordão. Por isso, a principal atividade dos hebreus não era a agricultura, e sim a criação de animais, principalmente cabras e carneiros. Assim, segundo a Bíblia, em 1800 a.C., as tribos de pastores hebreus, governadas por seus patriarcas, vagavam por Canaã e outras regiões, sem se fixar em um local determinado. Exílio e escravidão no Egito - De acordo com a Bíblia, por volta de 1700 a.C., a Palestina passou por um longo período de seca e os hebreus emigraram para o Egito, onde o Rio Nilo garantia a fartura dos campos. A Torá conta que José, um dos filhos do patriarca hebreu Jacó, foi vendido pelos irmãos como escravo a mercadores egípcios. Mas José, que tinha habilidade para interpretar sonhos, caiu nas graças do faraó. Ele chegou a se tornar vizir, ou seja, um alto funcionário da administração do Egito. A importância política de José facilitou a entrada do seu povo em terras egípcias. Além disso, nessa época o Egito estava dominado pelos hicsos, povo também de origem semita, o que favoreceu a fixação dos hebreus na região. Cerca de um século depois, com a expulsão dos hicsos pelos egípcios, os hebreus foram acusados de ter colaborado com os invasores. Por isso, os novos governantes egípcios passaram a escravizá-los e a persegui-los. Ser escravo na Antiguidade - A escravidão foi comum na Antiguidade oriental. Havia escravos nas civilizações egípcia, mesopotâmica, hebraica etc., mas eram em pequeno número e não representavam a base da economia desses povos. Uma pessoa podia ser escravizada, entre outras razões, por dívidas, por ser prisioneira de guerra, por hereditariedade, por meio do comércio de crianças abandonadas ou pela prática de os pais pobres venderem seus filhos. Como as demais civilizações orientais, os hebreus também possuíam escravos, que eram divididos em dois grupos: o escravo hebreu e o escravo estrangeiro. A lei hebraica assegurava alguns direitos aos escravos, como possuir bens, casar-se com uma escrava, receber a liberdade e converter-se ao judaísmo. A fuga do Egito - Segundo a Bíblia, os hebreus se tornaram muito numerosos no período em que prosperaram no Egito. Por esse motivo, após a expulsão dos hicsos, o faraó mandou matar todos os meninos hebreus que nascessem para evitar o crescimento da população hebraica. Para impedir que o filho fosse morto pelos egípcios, uma mãe colocou seu bebê em um cesto de vime e o soltou no Rio Nilo. Uma princesa egípcia viu o cesto e o retirou da água; o menino foi chamado de Moisés, que significa nascido ou retirado das águas. A partir de então, Moisés foi educado e criado como um príncipe. Já adulto, no entanto, Moisés descobriu sua origem. De acordo com a Bíblia, depois de mais de 300 anos de dominação dos egípcios sobre os hebreus, Moisés recebeu de Deus a incumbência de libertar seu povo do cativeiro e reconduzi-lo à Terra Prometida. A fuga dos hebreus do Egito é conhecida como Êxodo. Os Dez Mandamentos - No caminho para a Terra Prometida, os judeus acamparam próximo ao Monte Sinai. Segundo a crença, Moisés escalou a montanha e recebeu de Deus tábuas que continham os Dez Mandamentos e a Torá, um conjunto de livros sagrados. Na Torá, além de histórias, existem 613 mandamentos que devem servir de base à vida do povo judeu. Desse conjunto de leis, os Dez Mandamentos, também utilizados pelos cristãos, são os que possuem maior destaque. Com a intenção de preservar as Tábuas da Lei, os judeus, segundo a crença, construíram a Arca da Aliança. A Arca era um baú de madeira, que depois foi guardado no Templo de Jerusalém, construído no tempo do rei Davi e finalizado pelo rei Salomão. A formação do Estado unificado - Segundo a Bíblia, por volta de 1200 a.C. Josué, sucessor de Moisés, comandou a reconquista da Palestina, então habitada por filisteus, cananeus e outros povos. Após um período de lutas, os hebreus conseguiram controlar a região e as terras foram divididas entre as doze tribos. De início, não havia um poder central em Canaã. Cada uma das doze tribos tinha o seu príncipe e elas só se uniam para ações específicas, como, por exemplo, combater um inimigo poderoso. Nessas ocasiões, era escolhido um líder militar, chamado juiz, que organizava e comandava os membros das tribos. Sansão, famoso por sua força física, foi um desses juízes. Mais tarde, o desenvolvimento da vida urbana e a necessidade de defender o território favoreceram o surgimento da monarquia, tipo de governo em que o poder fica centralizado nas mãos de um rei. Em 1020 a.C., Samuel, o último juiz, convocou a Assembleia que escolheu o primeiro rei de Israel: Saul. O Reino de Israel - Saul morreu em combate contra os filisteus e foi sucedido por Davi. Por volta do ano 1000 a.C., o rei Davi derrotou os filisteus e os cananeus, conquistou dos jebuseus a cidade de Jerusalém e a transformou em capital do reino, dando início a um período de paz e prosperidade em Israel. Quando Davi morreu, o trono foi ocupado por seu filho, Salomão, que levou o Reino de Israel ao seu apogeu. Salomão fez um acordo de paz com o Egito e intensificou o comércio com outros povos, principalmente com os fenícios, que viviam no norte da Palestina. Isso aumentou a comercialização dos principais produtos israelenses — azeite, trigo, mel e cera —, gerando mais renda para o Estado. O rei também reforçou o Exército e concluiu a construção do Templo de Jerusalém, iniciada no reinado de Davi. Finalmente, para financiar a expansão do reino, aumentou a carga de impostos. O Cisma - Com a morte de Salomão (c. 930 a.C.), manteve-se a política de altos tributos, e a população se rebelou. Foi nesse contexto que as doze tribos se dividiram, pondo fim à unidade do Reino de Israel. Esse Cisma (separação, divisão) marcou o início do declínio da monarquia israelita. Com o Cisma, surgiram dois reinos: o Reino de Judá, no sul, com capital em Jerusalém; o Reino de Israel, no norte, com capital em Samaria. Os membros das dez tribos que habitavam o Reino do Norte (Israel) continuaram a ser conhecidos como israelitas, enquanto os integrantes das duas tribos restantes, do Reino do Sul (Judá), passaram a ser conhecidos como judeus. A Diáspora dos judeus - Daí em diante, crises constantes enfraqueceram os dois reinos, que ficaram sujeitos às invasões de outros povos. Em 722 a.C., os assírios conquistaram o Reino de Israel (Norte), então mais rico do que o de Judá. Os invasores deportaram a população israelita para o Reino Assírio e levaram estrangeiros para ocupar as terras de Israel. Quase 150 anos depois, em 586 a.C., Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu o Reino do Sul e levou os judeus para a Mesopotâmia. Esse episódio ficou conhecido como Cativeiro da Babilônia. A população de Judá não se misturou com outros povos, no período do cativeiro. Já com a população israelita ocorreu miscigenação. Por esse motivo, os judeus não mais consideravam os habitantes do Reino do Norte como seus parentes, chamando-os de samaritanos, em alusão à Samaria, sua capital. O Cativeiro da Babilônia durou aproximadamente 50 anos. Em 539 a.C., Ciro, rei da Pérsia, conquistou a Babilônia e autorizou os judeus a voltarem a Jerusalém, mas não permitiu que eles reconstituíssem a monarquia nem que tivessem independência política. Nos anos seguintes, a Palestina foi conquistada pelos macedônios e, no século I a.C., tornou-se província romana. Os judeus, que nunca aceitaram a dominação romana, rebelaram-se no ano 70 d.C. Derrotados, foram expulsos da Palestina e espalharam-se pelo vasto território do Império Romano, em um episódio que entrou para a história com o nome de Diáspora. A partir daí, os judeus tornaram-se um povo sem pátria, disperso em todo o mundo. O território antigamente ocupado pelos hebreus só foi recuperado por seus descendentes em 1948, com a criação do Estado de Israel.