Saneas
SUMÁRIO
Saneas é uma publicação técnica quadrimestral
da Associação dos Engenheiros da Sabesp
EDITORIAL
3 Ciência, tecnologia e gestão
AESABESP
DIRETORIA EXECUTIVA
João Baptista Comparini / Presidente
Eliana K. I. Kitahara / Vice-Presidente
Nizar Qbar / 1º. Secretário
Magali Scarpelini M. Pereira / 2ª. Secretária
Ivan Norberto Borghi / 1º. Tesoureiro
Walter Antonio Orsati / 2º. Tesoureiro
4 AGENDA
DIRETORIA ADJUNTA
Cecília Takahashi Votta / Diretor Social
Luiz Yukishigue Narimatsu / Diretor Técnico Cultural
Gilberto Alves Martins / Diretor de Esportes
Reynaldo Eduardo Young Ribeiro / Diretor de Pólos
Paulo Eugênio de C.Corrêa / Diretor de Marketing
P&D
6 Influência de altas concentrações de sulfatos no
tratamento de esgotos por lodos ativados
CONSELHO DELIBERATIVO
Alipio Teixeira dos Santos Neto, Almiro Cassiano Filho, Choji
Ohara, Geraldo Gonçalves, Hélio Nazareno Padula Filho,
Ivo Nicolielo Antunes Junior, José Victorio Francisco de
Assis Bedusch, Nelson Luiz Stábile, Paulo Roberto Borges,
Pedro Luiz Todesco Ferraz, Pérsio Faulim de Menezes, Sérgio
Eduardo Nadur.
CONSELHO FISCAL
Antonio Soares Pereto, Marcos Clébio de Paula e
Yazid Naked
CONSELHO EDITORIAL
Viviana Marli N. Aquino Borges (Coordenadora)
Antonio Carlos Bragagnolo Rizzi, Antonio Edson Bizarro,
Gustavo Souza Nilo Bahia Diniz, Ivo Nicolielo Antunes
Junior, Milton Tomoyuki Tsuitya, Osmar Dias dos Santos,
Paulo Afonso da Silva, Pércio Faulin de Menezes e
Wilton da Silva Carneiro
FUNDO EDITORIAL
EQUIPE RESPONSÁVEL PELA SANEAS
Wanderley da Silva Paganini (Coordenador)
Carlos Roberto Canecchio, Fernando Gomes da Silva,
Gislene Flávio Lopes, Miriam Moreira Bocchiglieri,
Oswaldo Ioshio Niida e Rodolfo Baroncelli Jr.
ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA
Formato Artes Gráficas ([email protected])
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Terlânia Bruno Mtb 14.689; colaboração especial
na matéria de capa: João Carlos Charleaux
TIRAGEM: 3.000 exemplares
AESABESP
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1.642 – casa 1
01327-002 - São Paulo, SP
Fone (11) 3284 6420 – 3263 0484
Fax (11) 3141 9041
www.aesabesp.com.br
[email protected]
CAPA
Odair Marcos Faria
(Reservatório Pedro
Beight)
4 CARTAS
OPINIÃO
5 Águas subterrâneas e gestão integrada
MATÉRIA DE CAPA
12 O stress da água e o futuro dos mananciais
ARTIGOS TÉCNICOS
16 Reúso, controle da recepção de efluentes industriais e
gestão integrada do sistema de esgotos da RMSP 22 Um novo sistema produtor de água para a zona norte
da RMSP 27 Gestão de processos de controle da qualidade da água
e do esgoto em empresas de saneamento 31 Sabesp conquista mercado nacional com tecnologia de
automação
MEIO AMBIENTE
35 Monitoramento em tempo real da qualidade da água
dos mananciais da RMSP
A SABESP INOVA
38 Projeto de reúso de efluentes sanitários para uso agrícola
ENTREVISTA
42 Clélio Campolina Diniz – RMSP: uma nova vocação?
EMPREENDIMENTOS E GESTÃO
44 Diagnóstico do Sistema Produtor Metropolitano
HISTÓRIA DO SANEAMENTO
46 Fatos da história do abastecimento de água de São Paulo
48 NOVIDADES - FIQUE POR DENTRO
49 ATENÇÃO E RECONHECIMENTO
50 CAFEZINHO
51 AGRADECIMENTOS
Empresas patrocinadoras deste número de Saneas
JNS Engenharia, Consultoria e Gerenciamento S/C Ltda.
tel (11) 3814 1166; email [email protected]
MauberTec Engenharia e Projetos S/C Ltda.
tel (11) 223 0300; e-mail [email protected]
Unicorp Informática Industrial S/C Ltda.
tel (11) 3266 4861; e-mail [email protected]
– RAS do Brasil Consultores Associados S/C Ltda.
tel (11) 4727 7800; e-mail [email protected]
EDITORIAL
Ciência, tecnologia e gestão:
caminhos para uma nova
condição dos nossos mananciais
Eng. João B. Comparini
Presidente da Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESABESP)
C
enas de degradação, cenários de escassez: o panorama de muitos mananciais.
Ciência, tecnologia, educação e gestão: caminhos para uma nova condição.
Algumas previsões para o consumo de água na terra, mantidos os padrões
atuais, indicam a possibilidade de suporte para uma população entre 8 e 12
bilhões de pessoas. E já somos 6,1 bilhões de habitantes a serem supridos e, além
de mais numerosos, conseguimos viver mais tempo, consumindo mais água.
No Brasil, com mananciais invejados, a escassez de água com qualidade adequada aos usos diversos já é realidade, de áreas do Nordeste ao Rio Grande do
Sul, passando pela Região Metropolitana de São Paulo. No mundo, segundo as
Nações Unidas, mais de 1 bilhão de pessoas não têm acesso a fontes de água de
qualidade e 2,5 bilhões vivem sem saneamento básico.
Neste início de século, o Brasil, como outros países, enfrenta
o dilema de desenvolver-ser e, ao mesmo tempo, preservar e
recuperar as águas de seus mananciais. Uma imensa tarefa que
demandará o esforço de nossos cientistas, técnicos, educadores e gestores.
Nesta edição da Saneas são abordados, dentre outros, temas
como o reúso de águas como alternativa à exploração de novos
mananciais, o aproveitamento racional de aquíferos subterrâneos, a promoção da segurança em represas, a utilização das
tecnologias de automação, sensoriamento remoto e georreferenciamento como ferramentas de controle e otimização dos
aproveitamentos, e a situação dos mananciais na Região Metropolitana de São Paulo.
De abrangentes a específicos, esperamos que os aspectos
abordados contribuíram para o esclarecimento de questões e
para a disseminação do conhecimento, auxiliando o leitor na compreensão dos
problemas atuais e a serem doravante enfrentados em relação à qualidade e disponibilidade de nossos mananciais.
Aos profissionais do Fundo Editorial que se empenharam na preparação da
revista, os agradecimentos da Diretoria da AESABESP.
Segundo as Nações
Unidas, mais de
1 bilhão de pessoas
não têm acesso a
fontes de água de
qualidade e
2,5 bilhões vivem
sem saneamento
básico
Saneas / janeiro 2002 – 3
Cartas
Cartas
Parabéns a toda equipe editorial da
revista Saneas e em particular ao
Eng. Paganini pela criação desta magnífica revista que chega à comunidade
de saneamento honrando as melhores
tradições de publicações congêneres,
como a histórica Revista DAE.
Esta publicação coroa com muito
brilho a trajetória vitoriosa da Associação dos Engenheiros que reúne o que
é de melhor em competência tecnológica, científica e gerencial da Sabesp,
cujos feitos devem ser sempre divulgados e a revista Saneas é o veículo
mais adequado, pois penetra diretamente na comunidade científica, tecnológica e gerencial do Saneamento
Ambiental Brasileiro.
Vanzo
Agenda
Agenda
Gostaria de receber a revista Saneas
mensalmente. Tive acesso à de agosto
e achei muito boa. Como devo proce-
Simpósio Planejamento das Aplicações do Sistema Termovisão nas
Instalações Elétricas da Sabesp
Local: São Paulo, São Paulo, Brasil
Data: 19/02/2002
Organização: Superintendência de
Manutenção Guarapiranga - AG
Contato: Inês
Telefone: (11) 5683 3127
Instrutor responsável: Sr. Paulo
Henrique/ Sr. Alexandre.
[email protected]
Assuntos: Manutenção, instalação
elétrica, termovisão
Water Sources Conference and
Exhibition - Reuse, Resources,
Conservation
Local: Las Vegas, Nevada, EUA
Período: 27/01/2002 a 30/01/2002
Organização: American Water Works
Association - AWWA
www.awwa.org/exhibition
Assuntos: Reúso, conservação
ambiental, tratamento
3rd IWA World Congress
Local: Melbourne, Austrália
Período: 07/04/2002 a 12/04/2002
der? Ainda, onde encontro as normas
para o envio de contribuições?
Henrique Pizzo
Eng. de Saneamento de Juiz de Fora
Agradecemos a sua atenção e teremos
imenso prazer em apreciar seus artigos
para avaliar a possibilidade de que
venham a ser publicados.
Gostariam, também, de receber ou continuar recebendo a revista Saneas:
Rede de Bibliotecas Unoeste
Edson Atsushi Hirao
Cristina A. N. Borba Locatelli
Hélia Akemi Amano Igawa
Antonio Tadeu Silva
Ana Yamamoto
Acusamos o recebimento e agradecemos o envio da publicação nº12
vol. 1 de agosto de 2001 da revista
Saneas. Aproveitamos a oportunidade para solicitar a continuidade
do envio da referida publicação, à
título de doação, para disponibilizarmos aos acadêmicos desta instituição educacional e, se possível, o envio
das publicações anteriores. Antecipadamente agradecemos.
Biblioteca FEB
Fundação Educacional de Barretos
Gostaríamos de saber se poderíamos
inserir anúncios ao lado de matérias
de nosso interesse.
Luiz Octavio Fonseca Junior
Organização: International Water
Association - IWA
Contato: Ms M. Bates - Quitz Event
Management
Telefone: ++61 294 101 302
[email protected] ou
www.iwa-2002.com
Assuntos: Túnel, monitoramento,
meio ambiente
Contato: S.P. Kaushisj
Telefone: ++91 11 6116567 / 6115984
[email protected]
Assuntos: Qualidade da água, gerenciamento, recursos hídricos
Curso de Inspeção/Operação de
Sistemas de Proteção Catódica em
Dutos Terrestres e Tanques de
Armazenamento
Local: São Paulo, São Paulo, Brasil
Período: 15/04/2002 a 17/04/2002
Organização: Instituto Brasileiro de
Petróleo e Gás - IBP
Telefone: (21) 2240 1237
[email protected]
Assuntos: Manutenção, proteção
catódica, sistemas de proteção
2nd International Conference :
Water Quality Management
Local: New Delhi, Índia
Período: 06/02/2002 a 08/02/2002
Organização: Indian Committee on
Large Dams - INCOLD
Em todo número de Saneas são convidadas 4 empresas e/ou instituições
para publicar artigos sobre suas respectivas áreas de atuação. Elas dividem
entre si os custos editoriais e gráficos da
edição. A única forma de publicidade é
a inserção de seus logotipos na contracapa da revista.
AESABESP
XIII Encontro Técnico
Período: 27, 28 e 29/08/2002
A AESABESP estará recebendo os
resumos dos técnicos, para avaliação
e seleção, até o dia 22/04/2002. A
versão completa dos trabalhos selecionados deverá ser entregue até o
dia 08/06/2002. Informações: secretaria da AESABESP, tel. 3824 6420.
E-mail: [email protected]
Tarde de Tecnologia
Vantagens e aplicações para tratamento de água do produto CLOR-IN
em caixa d’água e caminhões-pipa.
Promoção: AESABESP - Pólo Sul
Data: dia 22/02/02, das 14 às 17h no
auditório ABV.
Palestrantes: Deise Moreira Paulo e
Marco Brazão Arnaldo Guinle.
O Calendário Eventos Técnicos 2002 completo está disponibilizado na intranet da Sabesp, na página da TD Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico.
4 – Saneas / janeiro 2002
OPINIÃO
Águas subterrâneas e
gestão integrada
Aldo da C. Rebouças
“Na RMSP 90% dos poços perfurados
são clandestinos, gerando uma
utilização predatória dos
mananciais subterrâneos”
U
ma parcela da água que cai da atmosfera
da região em apreço - chuvas, neblina e
neve, principalmente - escoa pela superfície,
outra infiltra e circula invisível pelo seu subsolo. Entretanto, a água que infiltra no subsolo
poroso ou fissural da bacia hidrográfica em
apreço, flui a velocidade relativamente baixa da ordem do cm/dia - alimentando o fluxo dos
rios durante o tempo em que as chuvas, sobretudo, são praticamente nulas.
Desta forma, o escoamento básico (Qb) dos
rios constitui uma boa medida da taxa de
recarga das reservas de água subterrânea da
bacia hidrográfica em questão. No estado de
São Paulo, o Qb médio é de 1.416 m³/s, significando, portanto, que a contribuição dos fluxos
subterrâneos representa 45% do escoamento
total (Q) dos seus rios de 3.130 m³/s. Por sua
vez, sendo a relação entre vazão mínima mensal
de dez anos de retorno - estimada estatisticamente a partir de amostras de dados observados - e o Qb da ordem de 70% no estado de São
Paulo, tem-se uma idéia da importância de se
realizar uma gestão integrada.
Na região Nordeste do Brasil, o escoamento
básico dos rios das suas 24 unidades de planejamento (UP’s) - PLIRHINE, 1980 e ÁRIDAS,
1995 - indica que a recarga média de longo
período dos seus aqüíferos é de 58 bilhões
m³/ano, ou 17% do escoamento total. No Plano
nacional, as descargas de base dos rios indicam que as nossas reservas de água subterrânea
(112.000 km³) recebem uma recarga da ordem
de 3.400 km³/ano. Desta forma, a utilização
de apenas 25% destas recargas já representaria
uma oferta per capita de água de 5.000 m³/ano
para uma população de 170 milhões de habitantes.
Assim, tanto no estado de São Paulo, no
Nordeste ou no Brasil, em geral, é de fundamental importância que se passe do discurso à
prática da gestão integrada da gota d’água disponível em cada uma das Unidades de Gestão
de Recursos Hídricos - UGRHI. Entretanto,
isto significa um grande desafio para a sociedade brasileira, incluindo seu meio técnico,
que é modificar a atual idéia, historicamente
estabelecida, de que a expansão da oferta é a
única solução aos problemas de abastecimento
de água no Brasil. Todavia, não se pode perder
de vista que a extração desordenada atual da
água subterrânea desvia fluxos que desaguariam nos rios, influenciando, portanto, no seu
escoamento básico, descargas mínimas, níveis
d’água dos açudes, lagoas e pantanais além da
redução da umidade dos solos que dá suporte
ao desenvolvimento da exuberante biomassa
natural ou cultivada e biodiversidade na bacia
hidrográfica em apreço.
Na RMSP, o grande número de poços não
outorgados, cerca de 90% do total, a utilização
indiscriminada do manancial subterrâneo, o
grande número de poços mal construídos, ressalta a preocupação quanto aos riscos de contaminação das águas subterrâneas da área, cujo
potencial é estimado em 18 m³/s.
Aldo da C. Rebouças é membro do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo,
autor de vários capítulos de livros, coordenador científico e editor de “Águas Doces no Brasil: Capital
Ecológico, Uso e Conservação” (IEA/ABC, 1999)
Saneas / janeiro 2002 – 5
P&D
Influência de altas concentrações
de sulfatos no tratamento de
esgotos por lodos ativados
Pesquisa & Desenvolvimento
Roque Passos Piveli Helvécio Carvalho de Sena 1. Introdução
2. Objetivos
A Lei estadual nº 997 regulamentada pelo
Decreto nº 8.468 de 08/09/76 em seu Artigo
19-A define que a concentração máxima do
íon sulfato que uma empresa pode descarregar nos coletores públicos de esgotos é de 1.000
mg/L. Assim, as empresas que apresentam em
seus efluentes quantidades de sulfato acima
do limite permitido, devem reduzir a concentração de descarte do sulfato. Porém, como a
remoção de sulfato é um processo complexo,
que exige alto investimento, algumas empresas
têm proposto as seguintes alternativas:
- Construção de tanques de equalização nas
ETE’s para o recolhimento dos seus efluentes encaminhados por caminhões-tanque e
posteriormente dosados no esgoto afluente;
- aeração forçada dos interceptores para se
evitar a formação de sulfeto;
- dosagem de produtos químicos, como, por
exemplo, nitratos, também para se evitar a formação de sulfeto dentro dos interceptores.
Os estudos sobre sulfato e sua redução a sulfeto nas estações de tratamento de esgotos têm
sido realizados principalmente sobre a inibição
da digestão anaeróbia, procurando-se conhecer a faixa que pode inibir a ação das metanobactérias. Na fase líquida do tratamento, o
estudo da ação do sulfato é escasso e os existentes são relacionados ao processo de nitrificação
e também aos problemas de intumescimento
filamentoso causado pela presença de sulfeto.
Devido às necessidades crescentes de tratamento de efluentes industriais, é necessário
um estudo para definir as cargas e/ou concentrações passíveis de serem tratadas em uma
estação de tratamento de esgoto convencional
com vistas à manutenção da eficiência do tratamento aeróbio e anaeróbio.
- Verificar o efeito do sulfato sobre o processo de lodos ativados quanto à floculação,
alteração na microfauna e eficiência na remoção de matéria carbonácea.
- Verificar a quantidade de sulfato removida
no tratamento primário e secundário, visando
análise de balanço de massa.
- Verificar a influência na digestão anaeróbia
da redução do sulfato a sulfeto, através dos
seguintes parâmetros: concentração de ácidos
voláteis e alcalinidade, produção de gás, redução
da DQO e destruição de sólidos totais voláteis.
3. Metodologia
Para atingir os objetivos propostos, o estudo
consistiu na operação e controle de dois sistemas
de lodos ativados em escala de laboratório,
incluindo decantadores primários, operando na
faixa convencional e tratando esgoto com suplementação de sulfato. Os digestores anaeróbios são
do tipo convencional, ou seja, com homogeneização, mas sem aquecimento. O desenho esquemático do sistema está descriminado na figura 1.
Os sistemas de tratamento descritos acima
operaram em paralelo, ou seja, as condições
operacionais foram similares sendo alterada
apenas a concentração de sulfato.
4. Fases do estudo
Houve 03 fases distintas de estudo:
1ª fase - Outubro/00 a Janeiro/01
– 592 mg SO4-2/L na alimentação do sistema
de lodos ativados 1,
– 1.045 mg SO4-2/L na alimentação do sistema
de lodos ativados 2.
Químico na ETE Suzano da SABESP, mestre em Engenharia Sanitária pela EPUSP.
email:[email protected]
Professor doutor da EPUSP
6 – Saneas / janeiro 2002
Pesquisa&Desenvolvimento
2ª fase - Fevereiro a Maio/01
– 1.585 mg SO4-2/L na alimentação do sistema
de lodos ativados 1,
– 2.071 mg SO4-2/L na alimentação do sistema
de lodos ativados 2.
3ª fase - Junho a Julho/01
– 2.486 mg SO4-2/L na alimentação do sistema
de lodos ativados 1,
– 2.781 mg SO4-2/L na alimentação do sistema
de lodos ativados 2.
As concentrações de sulfato apresentadas foram
monitoradas nos esgotos de alimentação dos
sistemas.
Descarte do lodo
Afluente
Bomba
dosadora
Esgoto decantado
Ar
L
DP
RA
Lodo adensado
Efluente tratado
DS
Reservatório
Lodo de retorno
Gáz
DA
Figura 1
Desenho
esquemático
do sistema em
escala de
laboratório
Lodo
digerido
Agitador magnético
5. Apresentação dos resultados
precipitação quanto existe a presença de sódio,
potássio, lítio, cálcio, alumínio, cromo e ferro(III)
(JEFFERY, et.al., 1992). Os fenômenos da co-precipitação associados com os desvios analíticos
podem explicar os resultados em que não foram
observadas remoções e sim, o aumento na concentração de sulfato no decantado.
5.2. Influência do íon sulfato no tratamento
aeróbio e anaeróbio
Os dois reatores aerados, operaram com
tempo de detenção hidráulico médio de 07
horas e a idade do lodo foi mantida entre 6 e
8 dias em todo o período dos testes, variando
apenas a concentração de sulfato.
O IVL nos dois reatores mantiveram-se entre
50 a 100 mL/g, o que pode ser verificado através da figura 2.
Na literatura especializada não foram encontradas menções quanto à interferência de altas
concentrações de sulfato na remoção de matéria
carbonácea no sistema de lodos ativados, a EPA
(1987) cita que concentrações de sulfeto entre
25 a 30 mg/L inibem a remoção carbonácea.
A concentração de sulfeto total foi monitorada
no interior dos reatores aerados e apresentaram
400
Reator 1
Reator 2
350
IVL - ml/g
300
250
200
150
100
50
11/07/01.
22/06/01.
28/05/01.
09/05/01.
20/04/01.
29/03/01.
12/03/01.
19/02/01.
02/02/01.
17/01/01.
29/12/00.
13/12/00.
28/11/00.
09/11/00.
24/10/00.
0
03/10/00.
5.1. Remoção de sulfato no sistema de
decantação primária.
Utilizou-se um sistema por bateladas para
simular o decantador primário. O tempo de
detenção adotado foi de 02 horas. A remoção
média de sólidos em suspensão totais (SST) foi
de 56% comprovando que o tempo de detenção
adotado foi suficiente para manter a mesma eficiência dos decantadores primários reais.
No período de Junho/00 a Dezembro/00,
o sistema de decantação primária 1 foi alimentado com uma concentração média de 517
mg SO4-2/L, apresentando uma remoção média
de 1,9%. Neste mesmo período, o sistema de
decantação primária 2 foi alimentado com uma
concentração média de 1.014 mg SO4-2/L apresentando uma remoção média de 2,2%. No
período de fevereiro/01 a maio/01, o sistema
de decantação primária 1 foi alimentado com
uma concentração média de 1.715 mg SO4-2/L,
apresentando uma remoção média de 3,5%.
Neste mesmo período, o sistema de decantação
primária 2 foi alimentado com uma concentração média de 2.210 mg SO4-2/L, apresentando
uma remoção média de 4,5%.
Observou-se que a remoção de sulfato no
sistema de decantação primária é pequena, e
que em muitos resultados não foi observada
qualquer remoção. O baixo índice de remoção
era esperado, visto que o sulfato de potássio e o
sulfato de sódio são solúveis.
A determinação da concentração de sulfato
pelo método turbidimétrico tem como princípio
a reação entre o sulfato e o cloreto de bário,
formando o sulfato de bário que é insolúvel.
Contudo, o sulfato de bário mostra tendência
acentuada a arrastar outros sais e, dependendo da
natureza do sal co-precipitado, o erro dos resultados pode ser positivo ou negativo. Ocorre a co-
Figura 2 - Índice volumétrico do lodo (IVL) dos reatores aerados 1 e 2
Saneas / janeiro 2002 – 7
Pesquisa&Desenvolvimento
Tabela 1 - Remoção de DQO nos reatores aerados 1 e 2
Reator 1
Reator 2
Mês
Afluente Efluente Remoção
mg/L
mg/L
Afluente Efluente Remoção
mg/L
mg/L
Out/00
Nov/00
Dez/00
Jan/01
Fev/01
Mar/01
Abr/01
Mai/01
Jun/01
Jul/01
572,6
750,6
424,2
502,8
592,5
628,4
769,2
700,6
837,5
743,9
550,5
742,1
480,9
519,6
613,0
663,0
761,7
644,5
776,4
661,1
98,8
85,0
70,0
93,7
60,7
68,7
82,1
82,1
223,3
95,6
82 %
88 %
76 %
81 %
89 %
88 %
89 %
88 %
72 %
87 %
101,3
94,6
69,6
100,5
57,3
74,5
95,0
90,1
196,7
91,6
82 %
87 %
79 %
81 %
90 %
88 %
87 %
86 %
76 %
86 %
valores variando entre 8 e 9 mg/L, respectivamente, para os reatores aerados 1 e 2.
Monitorou-se a eficiência de remoção de DQO
e DBO5 nos dois reatores aerados. As amostras
dos efluentes foram filtradas antes da realização
das análises (papel de filtro rápido) para remoção
de possíveis sólidos em suspensão.
Na tabela 1 reportam-se as concentrações
médias de DQO nos afluentes e efluentes dos
reatores e a respectiva remoção.
O aumento da concentração de DQO no
efluente e a conseqüente diminuição na remoção nos dois reatores no mês de junho/01 pode
ser atribuída ao aumento da concentração de sulfato na alimentação dos reatores. Neste período,
os reatores aerados mantinham uma concentração de sólidos em suspensão totais voláteis estáveis, porém, houve um aumento da perda de
sólidos pelo efluente do decantador secundário. A
perda de SSV dos dois reatores aerados deveu-se
a desfloculação do floco. Este fenômeno também
foi observado pelos pesquisadores ALEM SOBRINHO, et.al. (2000), que realizaram pesquisa
visando uma adaptação natural da biomassa de
lodos ativados a altas concentrações de fenóis.
140,0
Efl. reator 1
Efl. reator 2
5 mg NH4/L
Nitr. amoniaca (mg/L)
120,0
100,0
Conc. Sulfatos:
R1 = 2.486 mg/L
R2 - 2.781 mg/L
Conc. Sulfatos:
R1 = 592 mg/L
R2 - 1.045 mg/L
80,0
60,0
Conc. Sulfatos:
R1 = 1.585 mg/L
R2 - 2.071 mg/L
40,0
20,0
19/07/01.
05/07/01.
19/06/01.
17/05/01.
08/05/01.
24/04/01.
10/04/01.
27/03/01.
14/03/01.
22/02/01.
14/02/01.
06/02/01.
26/01/01.
17/01/01.
09/01/01.
26/12/00.
14/12/00.
06/12/00.
22/11/00.
03/11/00.
19/10/00.
03/10/00.
0,0
Figura 3 - Concentração de nitrogênio amoniacal nos efluentes dos
reatores aerados 1 e 2
8 – Saneas / janeiro 2002
No presente estudo, após um período de
aproximadamente 20 dias, os dois sistemas
voltaram à normalidade apresentando uma
DQO no efluente final de aproximadamente 60
mg/L, valor compatível com a DQO média no
efluente final medida entre outubro a maio/01
de 79,3 mg/L e 84,1 mg/L respectivamente para
os reatores aerados 1 e 2.
O monitoramento realizado para verificar a
eficiência na remoção da DBO5 mostrou que
a remoção foi praticamente a mesma nos dois
reatores aerados.
Embora o sistema não tenha sido operado
visando a nitrificação, monitorou-se as concentrações de nitrogênio amoniacal nos afluentes e efluentes dos sistemas de lodos ativados
para verificar se as concentrações de sulfato
poderiam alterar o processo de nitrificação.
Segundo METCALF & EDDY (1.991) concentrações de 500 mg SO4-2/L inibem o processo
de nitrificação. Provavelmente, esta limitação
deve-se aos estudos que consideram as bactérias nitrificadoras mais sensíveis aos elementos
tóxicos do que as bactérias que participam do
processo de remoção carbonácea.
Nos afluentes aos reatores aerados, a concentração média de nitrogênio amoniacal esteve entre
20 e 50 mg/L. Pode-se considerar que os dois reatores foram alimentados com a mesma carga. Na
figura 3, mostram-se as variações da concentração de nitrogênio amoniacal nos efluentes dos reatores aerados. Considerando a concentração de
nitrogênio amoniacal de 5,0 mg/L como referência, observa-se que em vários períodos, independentemente da concentração de sulfato, o processo
de nitrificação ocorreu em níveis elevados.
A explicação para as grandes variações
observadas deve-se a quantidade insuficiente
de alcalinidade presente no esgoto afluente aos
reatores aerados. Como o sistema não foi operado visando a nitrificação, não houve a suplementação de alcalinidade. A deficiência na
quantidade de alcalinidade provoca a diminuição no valor de pH do lodo biológico, fazendo
com que a atividade das bactérias nitrificantes
diminua a um valor mínimo.
Os digestores anaeróbios foram alimentados
com lodo contendo sulfato nas seguintes concentrações médias:
– Digestor anaeróbio 1: out/00 a jan/01 - 401
mg SO4-2/L; fev a mai/01 - 1.280 mg SO4-2/L;
2.403 mg SO4-2/L.
– Digestor anaeróbio 2: out/00 a jan/01 - 602
mg SO4-2/L; fev a mai/01 - 1.638 mg SO4-2/L;
2.427 mg SO4-2/L.
Pesquisa&Desenvolvimento
6. Conclusões
· As altas concentrações de sulfato não afetaram a sedimentabilidade do lodo biológico,
50%
45%
40%
36%
Remoção de DQO
35%
30%
29%
25%
20%
Digestor anaeróbio 1
15%
Remoção mínima - ETE Suzano
10%
Digestor anaeróbio 2
Remoção média - ETE Suzano
5%
0%
nov/00
dez/00
jan/01
fev/01
mar/01
abr/01
mai/01
jun/01
jul/01
Figura 4 - Comparação entre a destruição de sólidos voláteis nos digestores
anaeróbios 1 e 2 com o digestor anaeróbio da ETE Suzano
50%
45%
40%
Destruição de sólidos voláteis
O pH nos lodos digeridos oscilou entre 6,7 a
8,3, enquanto alcalinidade e acidez não revelaram desequilíbrio, pelo contrário, a quantidade
de alcalinidade aumentou com o aumento na
concentração de sulfato.
O digestor anaeróbio 1 foi alimentado com
lodo com concentração média de ST e STV, respectivamente de 20.433 mg/L e 11.642 mg/L,
enquanto o digestor anaeróbio 2 apresentou
concentrações de ST e STV, respectivamente,
de 22.094 mg/L e 12.152 mg/L.
A taxa de destruição de voláteis para os dois
digestores é mostrada na figura 4, onde se pode
comparar com a destruição dos voláteis no
digestor da ETE Suzano/Sabesp.
O aumento da destruição de voláteis no mês
de março/01 pode ser atribuído ao aumento na
concentração de sulfatos no lodo de alimentação.
Na sulfetogênese os compostos de enxofre são
utilizados como aceptores de elétrons para oxidação dos compostos orgânicos, assim o aumento
na concentração de sulfato proporcionou as condições ideais para as bactérias sulforredutoras.
Os resultados obtidos nos meses de fevereiro e
março/01 estão em concordância com McCARTNEY e OLESZKIEWICZ (1993) apud BARBER
e STUCKEY (2000) que descobriram que a concentração de sulfato era importante quando a
taxa limitante era de aceptores de elétrons. OVERMEIRE et al. (1994) apud BARBER e STUCKEY
(2000), em estudo de modelagem matemática,
concluíram que os aceptores de elétrons foram à
taxa limitante durante a redução do sulfato.
O baixo rendimento observado nos dois
digestores anaeróbios a partir de abril/01 está
relacionado com o aumento na concentração
de sulfeto e a relação DQO/SO4-2.
Para verificar a influência de elevada concentração de sulfato na remoção de DQO, comparar-se-á os resultados obtidos na operação
dos dois reatores em escala de laboratório com
os resultados de desempenho do digestor anaeróbio no 1 da ETE Suzano. Na figura 5 mostra-se a remoção de DQO.
A queda no desempenho dos digestores anaeróbios 1 e 2 em relação à destruição de STV
e remoção de DQO foram observadas a partir
de abril e maio/01. Neste período a razão entre
DQO/SO4-2 para os dois digestores anaeróbios
ficou entre 11 e 16.
35%
32%
30%
27%
25%
20%
Digestor Anaeróbio 1
15%
Remoção mínima - ETE Suz
10%
Digestor Anaeróbio 2
Remoção média - ETE Suzano
5%
0%
nov/00
dez/00
jan/01
fev/01
mar/01
abr/01
mai/01
jun/01
jul/01
Figura 5 - Remoção de DQO nos digestores anaeróbios 1 e 2
que se manteve entre 50 e 100 mL/g.
· A remoção de DQO e DBO5 não é afetada
pela presença de altas concentrações de sulfato,
desde que mantidas as condições aeróbias nos
tanques de aeração.
· O sulfato não altera a microbiologia do lodo
biológico e tampouco é condição suficiente para
o desenvolvimento de bactérias filamentosas.
· O processo de nitrificação não foi inibido
por concentrações de sulfato de até 2.800 mg/L.
· A concentração de sulfato no lodo de alimentação dos digestores é formada por, aproximadamente, 80% da concentração do sulfato
no esgoto afluente.
· A inibição do sistema anaeróbio deve ser
verificada pela avaliação dos seguintes pontos:
Redução na produção de biogás; Queda na
remoção de DQO; Queda na destruição de
sólidos voláteis.
· A concentração máxima de sulfato que
uma estação de tratamento de esgotos por
lodos ativados operando na faixa convencional
e tratando o lodo em excesso através da digestão anaeróbia pode receber, sem afetar os seus
processos, é de 1.000 mg SO4-2/L.
Saneas / janeiro 2002 – 9
CAPA
O stress da água e
o futuro dos mananciais
Odair Marcos Faria
Estrangulados por ocupações irregulares,
mananciais da RMSP vivem momentos dramáticos
Matéria de Capa
Carga poluidora difusa
A
Região Metropolitana de São Paulo - RMSP
- com 17,5 milhões de habitantes, vive
hoje uma inegável situação de stress hídrico. A
diferença entre oferta e demanda de água já
não é mais uma equação de resultado confortável. Ao contrário, olhos aflitos em todos os
setores acompanham com apreensão o desfecho desta história, que, a depender do empenho de seus personagens, pode ter um final
trágico, com previsões de escassez crônica de
água em 15 anos, segundo os mais pessimistas.
São Paulo é a maior capital do Hemisfério
Sul. Seu entorno, com outros 38 municípios da
Região Metropolitana, faz crescer ainda mais a
importância e, na mesma medida, o risco concentrado nesta parte do País. A capital paulista
concentra 15% do PIB (Produto Interno Bruto)
e 6% da população do Brasil, num turbilhão de
incessante atividade cultural, industrial, comercial e tecnológica, como em poucos lugares.
10 – Saneas / janeiro 2002
Tantos superlativos também se fazem sentir
do lado negativo. Segundo dados da Secretaria
da Habitação e Desenvolvimento Urbano/PMSP
existem no município de São Paulo, na área da
Bacia do Guarapiranga, 176 favelas, com 22.355
famílias e 121.164 pessoas. Além de São Paulo,
os municípios de Embu, Embu-Guaçú e Itapecerica também apresentam sérios problemas de
favelamento dentro das áreas de mananciais.
É neste palco de potenciais e problemas que
se desenrola o drama da “cidade que não pára”.
Cada vez mais estudiosos e técnicos, políticos e
militantes, buscam referência no mundo para
debater o assunto. A má notícia é que o colapso
dos recursos hídricos não é um problema local.
A boa é que existe saída. Ainda.
Stress da água - O conceito de “stress
hídrico” (postulado por Malin Falkenmark)
está baseado nas necessidades mínimas de água
per capita, para manter uma qualidade de vida
adequada em regiões moderadamente desenvolvidas situadas em zonas áridas.
Em muitas partes do Globo, como o Oriente
Médio, a situação de stress da água resulta, invariavelmente, em conflitos ríspidos entre Estados. O governo do Egito, por exemplo, disse
com todas as letras que se a Etiópia retirar
mais uma gota d’água do Rio Nilo, o ato seria
interpretado como uma declaração formal de
guerra. Leve-se em conta que 80% das águas
deste rio vêm da Etiópia e tem-se um cenário
de barril de pólvora na região.
Em todo Oriente Médio e no norte do continente africano existem situações semelhantes
com risco de conflito iminente. Na Cisjordânia,
os palestinos têm acesso a não mais que 80 litros
de água por dia, enquanto os eternos inimigos
israelenses podem usar 250 litros por pessoa/dia.
Em Israel, 70% da água usada na agricultura é
“residual”, ou seja, reaproveitada depois de já ter
servido casas e indústrias, o que eleva a chance
de contaminação dos elementos. Da água potável do país, 30% é residual. Neste país, mais
especificamente na Faixa de Gaza, o mapa da
água, da geologia e dos conflitos se sobrepõem.
Num mundo em que apenas 1% da água
superficial, em estado líquido, é própria para
consumo, não é delírio projetar a realidade de
Israel para outros cantos. Só na África, são 11
os países que têm dificuldades com a água. No
Oriente Médio, são nove. A situação também
é desconfortável no México, Hungria, Índia,
China, Tailândia e Estados Unidos.
Água com preço
A
ANA (Agência Nacional de
Águas) e o CEIVAP (Comitê
para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul) cobrarão,
a partir de junho de 2002, uma tarifa
pela utilização das águas daquela
bacia. A medida atinge 180 cidades
e cerca de 8 mil indústrias em São
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O valor da cobrança foi calculado
pelo Comitê e deve ser próximo de 1
centavo de Real por m³ de água retirada da bacia do rio Paraíba do Sul.
A decisão de instituir a cobrança
foi tomada pelo CEIVAP, do qual
fazem parte empresas como a CSN
Odair Marcos Faria
Matéria de Capa
Ocupação irregular nas margens de córrego em Cumbica
(Companhia Siderúrgica Nacional)
e concessionárias de saneamento
estaduais e municipais, e tem por
objetivo financiar a recuperação do
Rio Paraíba do Sul. A expectativa
é de uma arrecadação em torno de
R$ 14 milhões por ano.
A Constituição de 1988 previu
a instituição de um sistema nacional de gerenciamento de recursos
hídricos e que culminou com a
aprovação, em 1997, da legislação
de recursos hídricos e a criação da
ANA, em 2000.
A legislação brasileira foi inspirada pela européia e adota como
unidade territorial de gestão a
bacia hidrográfica. Mas o modelo
brasileiro é mais complexo, pois
adapta-se ao regime federativo em
que os rios podem ser tanto de
domínio da União como dos Estados. Os rios estaduais são aqueles
que não atravessam fronteiras e os
da União, aqueles que passam por
mais de um Estado, caso do rio
Paraíba do Sul.
Hoje, as empresas de saneamento
do País não pagam pelo uso da água.
O que o consumidor paga é o serviço de captação, adução, tratamento
e distribuição da água e, em alguns
casos, pela coleta e tratamento de
esgotos. A tarifa mais alta será a das
empresas que despejam dejetos nos
rios e das concessionárias de saneamento que deixarem de tratar os
esgotos antes de lançá-los nos rios.
Saneas / janeiro 2002 – 11
Matéria de Capa
As ações do Poder Público
De que forma o Estado e os Municípios atuam na gestão dos mananciais da RMSP, e os projetos
de lei que tramitam na Assembléia Legislativa de São Paulo. Veja as entrevista a seguir:
Rui Assis Brasil
Secretário Adjunto da Secretaria
Estadual de Recursos Hídricos,
Saneamento e Obras
■
Dentro dos Projetos de Leis Específicas que estão sendo preparados
para envio à Assembléia Legislativa, como se dará a divisão de
responsabilidades na gestão dos
mananciais entre os órgãos e companhias ligadas à Secretaria de
Recursos Hídricos e demais organismos, como Secretaria do Meio
Ambiente, CETESB e prefeituras?
O futuro sistema de gestão para
as áreas de mananciais já está previsto na Lei Estadual 9.866/97, e será
vinculado ao Sistema Estadual de
Gerenciamento de Recursos Hídricos. Assim, deverá ser constituído
pelo Comitê ou Sub-Comitê de
Bacia, pelo órgão técnico e pelas
demais organizações da administração pública que têm responsabilidades legais sobre o território
a ser gerido. O Comitê ou SubComitê é o grande fórum de discussão do sistema de gestão, local
de debate e, eventualmente de deliberação, sobre matérias de interesse público comum e relevante.
Sua composição é tripartite, com
igual número de representantes do
Governo do Estado, das prefeituras municipais e das organizações
civis. Chamo a atenção, particularmente, para o fato de o Comitê
ter a responsabilidade de aprovar,
previamente ao envio à Assembléia Legislativa, o chamado PDPA
- Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental da Bacia, que é
um documento norteador da ação
pública estadual e municipal no território. O órgão técnico do sistema
deverá ser, por sua vez, a Agência
12 – Saneas / janeiro 2002
de Bacia, já prevista quando da lei
que instituiu o Sistema Estadual de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, mas que agora passa a ter, e
isto merece especial destaque, algumas funções também relacionadas ao
uso e ocupação do solo. Finalmente,
são mantidas onde já estavam funções importantes como a de licenciamento ambiental. Observo que
as leis específicas devem seguir este
padrão, que lhes é anterior, podendo,
no entanto, detalhar alguns pontos
no sentido de permitir maior capacidade operacional do sistema. Em
particular, o anteprojeto de lei para
a bacia do Guarapiranga estabelece
critérios para separar empreendimentos de natureza mais local, que
passariam a ser licenciados pelas Prefeituras Municipais, e de natureza
regional, que continuariam a cargo
da Secretaria de Meio Ambiente do
Governo do Estado.
Rodolfo Costa e Silva
Deputado Estadual (PSDB), Presidente
da Comissão de Meio Ambiente e Saneamento da Assembléia Legislativa/SP
■
Qual é a interrelação entre os projetos de lei em tramitação na Assembléia Legislativa de interesse para
a gestão dos mananciais da Região
Metropolitana de São Paulo?
A Lei da Cobrança do Uso da Água,
as Leis Específicas das Sub-bacias e
a Regulamentação do Art.53 tratam
todas da mesma questão, ou seja,
das condições de uso e ocupação
do solo em áreas de mananciais. A
Lei 1172 é a Lei de Proteção aos
Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo, com abrangência limitada a essa região. Essa lei
está em processo de substituição
pela nova legislação de mananciais,
a Lei 9866/97, proposta pelo Governador Mário Covas e aprovada pela
Assembléia Legislativa. Essa nova lei
tem abrangência estadual e estabelece critérios gerais para as ações nas
áreas pertencentes às bacias hidrográficas de corpos d´água utilizados
como manancial. Ao contrário da
Lei 1172, que detalhava as condições
e critérios de uso e ocupação do
solo comuns a todos os mananciais
da RMSP, a Lei 9866 determina que
para cada bacia ou sub-bacia utilizada como manancial seja proposta
pelo respectivo Comitê de Bacia e
aprovada pela Assembléia Legislativa
uma lei específica, com o detalhamento dos parâmetros urbanísticos e
impactos na qualidade da água considerados para aquele manancial. A
partir de uma moldura geral, a própria Lei 9866, cada manancial deverá
ter sua lei específica.
Qual o cronograma da tramitação
e aprovação desses projetos?
A elaboração das leis é um processo
de maturação longo na medida em
que envolve a participação dos três
segmentos que compõem o sistema
de gestão de recursos hídricos no
Estado: Governo Estadual, Municípios e Sociedade Civil. Por isso, no
sentido de possibilitar o atendimento
de demandas da sociedade, antes
mesmo da aprovação da lei específica, é que foi proposta a alteração da
regulamentação do artigo 53 da Lei
1172, cujos critérios só serão substituídos após a aprovação pela Assembléia Legislativa das leis específicas.
Já a cobrança pelo uso da água, que
está andando em paralelo, refere-se
a todas as bacias do Estado, sejam
ou não utilizadas como mananciais
para consumo humano.
Odair Marcos Faria
Matéria de Capa
Paulo Teixeira
Secretário Municipal
da PMSP
■
de
Habitação
Como a Prefeitura de São Paulo vê sua
participação, e a dos outros agentes
públicos, no gerenciamento dos mananciais que abastecem a Capital?
A Prefeitura de São Paulo vem contribuindo na política de preservação dos
mananciais por meio de diversas frentes:
• Reorganização do sistema integrado
de fiscalização;
• Elaboração de leis específicas das
Áreas de Proteção e Recuperação dos
Mananciais - APRMS;
• Execução de obras de recuperação
(investimento de 190 milhões de dólares entre 1994 e 2001), por meio da
Secretaria da Habitação e Desenvolvimento Urbano - SEHAB;
• Captação de novos recursos para a
continuidade das obras de recuperação das bacias da Guarapiranga e
Billings, por meio do Projeto Alto
Tietê (investimentos de 167 milhões
de dólares a serem efetuados pela Prefeitura nos próximos 4 anos);
• Contenção de novos loteamentos;
• Desenvolvimento de programa de
inclusão, como o “Começar de Novo”
e o “Bolsa Trabalho”, junto á população moradora - já implantados no
distrito de Grajaú e previsto para o
Jardim Ângela e Parelheiros (início
de 2002);
• Educação ambiental associada ao programa de obras e programas sociais;
• Cadastro de propriedades fundiárias
da zona rural e elaboração pela Secretaria do Meio Ambiente;
• Recuperação dos espaços públicos
e manutenção da infra-estrutura
urbana por meio das Administrações
Regionais;
• Atendimento emergencial à população em áreas de risco.
Mais perto dos olhos, aqui no Brasil, já
é evidente que os moradores da capital de
São Paulo, e cada vez mais também das cidades próximas, estão incorporando ao vocabulário cotidiano palavras antes distantes, como
falta d’água, rodízio, racionamento, preocupação pela contaminação e privatização.
Na Região Metropolitana de São Paulo, a
disponibilidade hídrica é muito baixa. São 200
m³/habitante/ano, o que caracteriza uma situação de stress hídrico. Na prática, a população
sente estes conceitos técnicos em racionamento
e falta d’água.
Nos palanques, auditórios e plenários da
Assembléia Legislativa correm projetos que
também tratam do tema, procuram antecipar-se
um ao outro para tutelar os recursos hídricos.
Enfim, os problemas de São Paulo são do tamanho de sua importância para o País e o Mundo.
Saturação, poluição, descaso ou incompetência. O quadro negro que se apresenta é composto de todos estes problemas, mas o desfecho
da história pode ser, no mínimo, menos trágico.
Ainda que os governos municipais e o poder
estadual discordem sobre questões estruturais,
que existam debates acalorados sobre a privatização, cobrança pelo uso da água e uso do
solo, os ventos que sopram podem trazer soluções. Afinal, grande parte da briga que envolve
os mananciais da Região Metropolitana é resultante da disputa por legislar sobre o assunto, e
não por eximir-se da responsabilidade.
No esforço de
recuperar o
Guarapiranga,
foram gastos
em sete anos,
cerca de US$
400 milhões.
Represa
agoniza em
conseqüência
da ocupação
clandestina e
da poluição
Saneas / janeiro 2002 – 13
Matéria de Capa
O anti-exemplo - Guarapiranga é referência
em desastre ecológico já transformada em
modelo de “o que não se fazer com um manancial” e, por isso mesmo, é peça-chave na definição das políticas do futuro para o setor.
Localizada ao sul da Região Metropolitana
de São Paulo, a represa responde por 20% da
água consumida pelo Sistema Metropolitano,
cerca de 11 m³/s. Trata-se de uma bacia relativamente pequena, com cerca de 700 km², mas
de fundamental importância.
Cálculos das mais diversas fontes convergem
para o mesmo número de moradores irregulares na Guarapiranga. Ao todo são 180 favelas, com mais de 1,6 milhão de habitantes entre
Billings e Guarapiranga, num crescimento da
ordem de 9 a 12 mil novas ocupações por ano.
Longe de ser apenas um número frio, estas
estimativas dão conta de uma rede complicada,
tecida à base de muito sofrimento humano,
desamparo e descaso, com os mesmos fios que
tecem a contaminação do manancial.
Dos 10 distritos policiais de São Paulo, os 5
mais violentos, com maior índice de criminalidade estão na região dos mananciais. Segundo
o ex-secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Estado de São Paulo, Antônio
Carlos de Mendes Thame, quando de sua participação no Seminário Internacional “Mananciais da Grande São Paulo”, em 5 de outubro do
ano passado, no Parlatino, isso passou a acontecer “no momento em que se considerou que
eram invasões ilegais e que, portanto, não se
podia lá chegar e fazer as políticas públicas
Artigo 53 - Discórdia
T
odas as idéias, opiniões, discursos e sugestões valem pouco
sem passar pelo processo de formalização legal. É na Assembléia
Legislativa do Estado que decide-se
a legislação para os mananciais.
As atenções estão em três principais leis. A primeira delas, a Lei
1172/76, é de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de
São Paulo, com abrangência limitada a essa região. Ela pecava por ser
genérica, na medida em que ditava
a todas as bacias as mesmas leis.
Sendo assim, a Lei 1172/76 foi
substituída pela nova legislação
de mananciais, por proposta de
projeto de lei de iniciativa do
Governador Mário Covas, em 1997,
transformada na Lei 9.866/97. A
grande novidade é acabar com a
idéia de que todas as bacias e
mananciais podem ser regidos por
uma legislação única que, por natureza, não dá conta da complexidade
de cada sistema em particular.
A Lei 9.866/97 estabelece, então,
a formação de comitês, com a participação do Estado, Municípios
e Sociedade Civil, incumbidos de
deliberar sobre cada bacia ou subbacia. “Cada manancial deverá ter
sua lei específica”, como explica o
14 – Saneas / janeiro 2002
deputado Rodolfo Costa e Silva,
presidente da Comissão de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da
Assembléia Legislativa.
Há, no entanto, mais confusões
do que os olhos podem ver. Costa e
Silva lembra que“a elaboração das leis
é um processo negociado, na medida
em que envolve a participação dos
três segmentos que compõem o sistema de gestão de recursos hídricos
no Estado: Municípios, Sociedade
Civil e Governo Estadual”.
Regularização - Os projetos de
leis específicas para as regiões de
mananciais estavam em fase final de
redação nos sub-comitês, quando
o Governo Estadual encaminhou à
Assembléia Legislativa, através da
Secretaria do Meio Ambiente, projeto de regulamentação do artigo
53 da Lei 1172/76 possibilitando
a regularização de imóveis em
regiões de mananciais condicionada à compra de áreas não contígüas a serem preservadas, como
forma de compensação ambiental.
A grande diferença entre o
projeto dos sub-comitês e o do
Governo do Estado é justamente a
compensação de danos ambientais
por compra de terrenos destinados
à preservação, em outras áreas. O
ponto convergente das duas propostas é a obrigatoriedade da ligação de esgoto nestas propriedades.
Deixando de lado o consenso
em torno da necessidade do afastamento e tratamento dos esgotos
gerados, sobram argumentos contra
e a favor da compensação ambiental.
“Somente no Município de São Paulo
existem 40 mil famílias em favelas
em áreas de mananciais. Como essas
pessoas poderiam pagar por outro
terreno e ter a propriedade de barracos?”, questiona Ana Lúcia Ancona,
coordenadora do Programa Alto
Tietê - Guarapiranga Billings, na Prefeitura de São Paulo.
O ex-secretário estadual de Meio
Ambiente, Ricardo Trípoli, justifica a regulamentação do artigo 53
com a demora na elaboração das
leis específicas de cada manancial,
como determinava a lei 9866/97.
Ancona retruca, justificando a
demora. Segundo ela, a minuta
do projeto para Guarapiranga está
pronta desde agosto passado,
dependendo apenas da conclusão
do mapeamento das áreas de intervenção propostas: restritas à ocupação, de ocupação dirigida e de
recuperação ambiental.
Matéria de Capa
Campinas
Sorocaba
Vale do Paraíba
RMSP
Santos
Vale do Ribeira
de saneamento, colocar água, esgoto ou energia elétrica, ou quando chegaram esses melhoramentos, chegaram com muito esforço”. O
secretário também reconhece que “houve uma
lassidão no passado com relação a presença
de políticas ativas do Estado, uma omissão até
nessa questão de ter locais para lazer, policiamento, ter a presença efetiva do Estado, sem
o que, se cria uma inversão de valores e se
cria, acima de tudo, uma sociedade com valores paralelos que redunda na violência e na
degradação da família”.
O quadro de degradação da represa de Guarapiranga é mundialmente famoso. A tentativa de
recuperar a represa, no entanto, é que é contada
em versões divergentes, a depender do locutor.
O plano consumiu em sete anos US$
190 milhões, só para execução de obras de
recuperação, através da Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano
(Sehab), mais US$ 94 milhões através da
Sabesp e US$ 119 milhões do Banco Mundial, em forma de empréstimo ao Governo
do Estado de São Paulo.
A implementação do Programa estava a cargo
da Unidade de Gerenciamento (UGP-Guarapiranga), instalada junto à Secretaria de Estado
dos Recursos Hídricos, Saneamento e Obras
(SRHSO), e de cinco agentes executores: Sabesp,
Prefeitura de São Paulo, Companhia de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Estado de
São Paulo (CDHU), Eletropaulo e Secretaria de
Estado do Meio Ambiente (SMA). Trata-se do
primeiro programa, com gestão compartilhada,
financiado em todo o mundo pelo Banco Mundial de recuperação de manancial.
A recuperação e manutenção dos recursos hídricos
das bacias em torno da RMSP tem especial valor
estratégico para o futuro do Estado de São
Paulo. Para lá estão migrando empreendimentos
industriais intensivos em consumo de água
Perspectivas - A Região Metropolitana de São
Paulo vive, evidentemente, em stress hídrico
e, diante da situação urgente e preocupante,
há quem diga que os programas de recuperação destes mananciais deveriam ser esquecidos.
Seja qual for a conta, recuperar um manancial é
sempre mais barato, inclusive do ponto de vista
ecológico, do que condená-lo a ser definitivamente um depósito de lixo, enquanto busca-se
um novo espaço para exploração predatória.
Embora a RMSP apresente um quadro, em
termos de recursos hídricos no curto e médio
prazos, mais dramático, ampliar nossa área
de análise para as bacias e macrorregiões em
torno dela (veja mapa acima) possibilita identificar situações que exigem, desde já, uma visão
prospectiva de longo prazo visando a sustentabilidade hídrica e econômica das regiões do
Vale do Paraíba do Sul, Campinas/Piracicaba,
Sorocaba, Baixada Santista e Vale do Ribeira.
A recuperação e manutenção dos recursos
hídricos destas bacias tem especial valor estratégico para o futuro do Estado de São Paulo,
sendo que para elas (menos a do Vale do
Ribeira e Baixada Santista), estão migrando
os empreendimentos industriais intensivos em
consumo de água.
Este panorama reforça a imagem do Vale
do Ribeira como o grande potencial hídrico,
nesta macrorregião, e de menor desenvolvimento social em todo o Estado de São Paulo.
Como contribuição à reflexão sobre o
tema, essencial para as futuras gerações de
paulistas e brasileiros, Saneas trará, em seu
próximo número, informações acerca desta
macrorregião.
■
Saneas / janeiro 2002 – 15
P&D
ARTIGOS TÉCNICOS
Reúso, controle da recepção de
efluentes industriais e gestão integrada
do sistema de esgotos da RMSP
Eng. Nelson L. R. Nucci Engª. Ana Maria Valsecchi Artigos Técnicos
1. Introdução
Neste artigo, a gestão do sistema de esgotos da
RMSP é abordada sob dois enfoques diversos.
No primeiro, de natureza essencialmente
técnica, apresentam-se os resultados de estudos e projetos desenvolvidos pela JNS para a
Sabesp e que respondem a novas necessidades
de gestão do sistema de esgotos metropolitano,
respectivamente:
- o reúso das águas provenientes do tratamento de esgotos na ETE Barueri;
- o pré-tratamento de efluentes industriais
em Vila Leopoldina previamente ao seu encaminhamento para a ETE de Barueri.
O segundo é uma reflexão sobre as novas
necessidades da gestão do sistema em face da
crescente diversidade de objetivos que a ela se
impõe. Esta reflexão foi se delineando ao longo
da elaboração dos trabalhos referidos. Está
em estágio incipiente, mas suficiente para instigar a busca de respostas que ainda não estão
suficientemente formuladas, especialmente em
seus desdobramentos não técnicos.
2. URA-BAR - Instalações para
recuperação da água para reúso a
partir da ETE de Barueri (1)
2.1 Os esgotos afluentes à ETE
A ETE Barueri, tendo hoje capacidade nominal de 9,5 m³/s recebe os esgotos provenientes
de bacias de esgotamento com ocupação diversificada que inclui a industrial perfazendo
vazão de cerca de 9,0 m³/s. O tratamento compreende: tratamento preliminar, através de gradeamento e desarenação; decantação primária
em tanques retangulares; aeração por ar difuso
em dois conjuntos de tanques diferentes; clarificação final em decantadores circulares com
extração de lodos por sifonamento; tratamento
de lodos por adensamento por gravidade para
lodos primários e por flotação para lodos
secundários; digestão anaeróbia e desidratação
mecânica dos lodos produzidos.
No Quadro 1 estão sumarizados as concentrações previstas afluentes à URA-BAR, fruto
do levantamento da qualidade do afluente à
ETE Barueri.
2.2 Critérios e parâmetros de projeto
da URA-BAR
Para o desenvolvimento do estudo de alternativas técnicas para unidade de recuperação de
água URA-BAR foram estabelecidas as seguintes metas:
- a água deverá ser adequada a usos industriais, especialmente o resfriamento em sistemas semi-abertos;
Quadro 1
Características qualitativas do afluente à URA-BAR
Parâmetros
Alcalinidade Total (CaCO3)
Condutividade (mS/cm)
DQO
Fósforo Total (P)
Nitrogênio Amoniacal (N)
Nitrogênio Total Kjeldhal (N)
pH
Sólidos Suspensos Totais
Temperatura (ºC )
NMP Coli Total (org./100 ml)
NMP Coli Fecal (org./100 ml)
130 - 200
350 - 600
270 - 700
4 - 10
16 - 40
22 - 55
6,9 - 7,1
200 - 300
20 - 25
1E08
1E07
Unidades em mg/L, exceto quando indicado
de outra forma.
Diretor da JNS Engenharia, Consultoria e Gerenciamento S/C Ltda
Engenheira da JNS
16 – Saneas / janeiro 2002
Valores de Projeto
Artigos Técnicos
Quadro 2 : Padrões de qualidade para a água recuperada - URA-BAR
Parâmetros
Alcalinidade Total (CaCO3)
Alumínio (Al)
Bicarbonato (CaCO3)
Cálcio (Ca)
Cloretos (Cl)
Cor (uC)
DQO
Detergentes (MBAS)
Dureza Total (CaCO3)
Ferro Total (Fe)
Fosfato Total (P)
Magnésio (Mg)
Manganês (Mn)
Nitratos (N)
Nitrogênio Amoniacal (N)
Óleos e graxas
pH
Sílica (SiO2)
Sólidos Dissolvidos Totais
Sólidos Suspensos Totais
Sulfatos (SO4)
Turbidez (NTU)
NMP Coli Total (org./100ml)
Água recuperada
URA-Bar
Papel e
Celulose
Cimento
Química
Resfriamento
125
0,1
24
50
100
10
75
1
100
0,1
1,0
0,5
0,5
5
1,0
1
7-9
35
500
5
100
2
2,2
–
–
–
20
200
10
–
–
100
0,1
–
12
0,05
–
–
–
6 - 10
50
–
10
–
–
–
400
–
–
–
250
–
–
–
–
2,5
–
–
0,5
–
–
–
6,5 - 8,5
35
600
500
250
–
–
125
–
128
68
500
20
–
–
250
0,1
–
19
0,1
5
–
–
6,2 - 8,3
50
1000
5
100
–
–
350
0,1
24
50
500
–
75
1
650
0,5
1,0
0,5
0,5
–
1,0
1
7-9
50
500
100
200
–
–
Unidades em mg/L exceto quando anotado de forma diversa.
- as características qualitativas da
água recuperada deverão permitir
o uso não potável irrestrito, sem
riscos para a saúde pública.
Este posicionamento permite o
estabelecimento de parâmetros para
a qualidade da água desejada a
partir da experiência internacional.
O Quadro 2 resume as características qualitativas propostas como
desejáveis para a água recuperada
visando usos industriais.
Para modular as instalações de
reúso, tendo em conta os estudos de
mercado de demanda, foi adotada a
vazão média de 100 L/s.
O controle da vazão derivada
para as instalações de reúso está previsto para ser feito no bombeamento
do efluente parcialmente tratado na
ETE Barueri, com a possibilidade de
operar com até 125 L/s, por períodos não superiores a 3 horas.
No tocante aos padrões para água
industrial foram estabelecidos como
metas valores que podem ser obtidos pela aplicação da combinação
de processos biológicos e físico-quí-
micos de largo emprego na produção de água não - potável para usos
diversos, tais como: resfriamento
em sistemas semi-abertos, lavagem
de pisos etc.
Estes valores são reproduzidos no
Quadro 3 apresentado ao lado.
2.3 Dimensionamento das
unidades de processo
A URA-BAR será implantada na
ETE Barueri, em terreno contíguo ao
conjunto Elevatória Final - Grades Caixas de Areia.
Foi projetada para tratar esgoto
captado no canal afluente aos
Decantadores Primários, dispensando a adição de fonte externa de
carbono para completar o processo
de nitrificação/desnitrificação.
O esgoto captado será recalcado
para a URA constituída das seguintes unidades:
Reator Biológico: lodos ativados com
zona anóxica primária objetivando
a remoção conjunta de carbono
orgânico e nitrogênio, este último
Quadro 3
Padrões de qualidade da água industrial
Parâmetros
Valores máx.
Alcalinidade Total (CaCO3)
100
Alumínio (Al)
0,1
Cálcio (Ca)
20
Cloretos (Cl)
130
Cloro Total
4
Condutividade (m/cm)
600
Cor (uC)
5
DQO
20
Detergentes (MBAS)
0,5
Dureza Total (CaCO3)
60
Ferro Total (Fe)
0,1
Fósforo Total (P)
0,1
Manganês (Mn)
0,03
Nitratos (N)
5
Nitrogênio Amoniacal (N)
1
Nitrogênio Total Kjeldhal (N)
2
Óleos e graxas
0,2
Ph
6,5 - 6,9
Sílica Total (SiO2)
15
Sólidos Dissolvidos Totais
500
Sólidos Suspensos Totais
2
Sulfatos (SO4)
30
Sulfetos (S)
0
Temperatura (ºC)
20 -25
Turbidez (NTU)
1
Zinco (Zn)
0,1
NMP Coli Total (org./100 ml)
2
NMP Coli Fecal (org./100 ml)
0
Unidades em mg/L, exceto quando
indicado de outra forma.
Saneas / janeiro 2002 – 17
Artigos Técnicos
por nitrificação - desnitrificação
biológicas. Eventualmente, o reator
poderá ser operado com zona anóxica secundária, pela interrupção da
aeração no último trecho do tanque,
que poderá manter-se misturado
empregando misturador submersível ali posicionado.
Separação de sólidos por flotação por
ar dissolvido: flotador de alta taxa,
operando com relações ar/sólidos
elevadas e produzindo um lodo flotado com mais de 1,5% de sólidos e
efluente clarificado com menos que
50 mg/L de sólidos suspensos.
Gradeamento fino do lodo recirculado
Descarte de lodo em excesso
Processos físico - químicos: o esgoto
será submetido a tratamento físicoquímico constituído por processos
de coagulação - floculação - sedimentação, empregando coagulante
contendo alumínio, particularmente
o cloreto de alumínio ou o policloreto de alumínio (PAC).
Filtração em meio granular e desinfecção final: filtros auto-lavantes de dupla
camada (antracito e areia), seguidos
de desinfecção por cloração.
2.4 Custos
O valor total estimado de investimento para a implantação da Unidade de Reúso de Barueri foi de
R$ 5.383.842,67 equivalente a US$
1.889.067,60.
Os custos operacionais foram
estimados e, prevê-se um custo final
da água disponibilizada para reúso
na URA-BAR de 0,35 US$/m³ a 0,67
US$/m³.
3. PTVL - Estação de
pré-tratamento de efluentes
industrias de Vila Leopoldina (2)
O projeto da Estação de PréTratamento de Efluentes Líquidos
Industriais na ETE Vila Leopoldina,
18 – Saneas / janeiro 2002
desenvolvido pela JNS em consórcio
com as empresas OPMAN e LAA,
teve como objetivo principal a proteção aos processos de tratamento
da ETE Barueri. Daí decorreu a
necessidade de estimar a magnitude das cargas tóxicas combinadas
que podem ser admitidas nesta estação sem causar problemas operacionais.
O primeiro passo foi a identificação do mercado potencial. Procurou-se então, através de uma análise
da situação do parque industrial
na RMSP, enfocando os aspectos e
estruturas que influenciam esse segmento, vislumbrar o cenário atual
e de tendência futura de modo a
suportar decisões técnicas e econômicas que embasaram a viabilidade
do projeto.
Os passos seguintes foram a
determinação das cargas máximas
admissíveis na ETE Barueri e sua
comparação com o mercado produtor de efluentes industriais a
serem pré-tratados. A ferramenta
empregada para avaliação das cargas
admissíveis no Sistema Barueri foi o
modelo matemático TOXCHEM +
desenvolvido pela ENVIROMEGA
INC., Canadá. Através dele puderam ser avaliados os destinos de
substâncias químicas em sistemas de
transporte de esgotos e estações de
tratamento, considerando a ação de
mecanismos de volatilização, biodegradação e adsorção de sólidos.
Para determinação das cargas
admissíveis foram obedecidas etapas
abaixo descritas.
a) Seleção dos poluentes a serem
controlados. Neste processo de seleção foram consideradas as seguintes
diretrizes:
– os poluentes selecionados deveriam
estar entre os prioritários com maior
ocorrência em efluentes industriais,
segundo pesquisa abrangente realizada pela USEPA e constar do art.
21 da portaria CONAMA ou do art.
19-A do Decreto Estadual 8468/76;
– estes poluentes deveriam apresentar
altos potenciais de inibição para pro-
cessos biológicos aeróbios e/ou anaeróbios em operação na ETE Barueri.
b) Estabelecimento de valores numéricos para limites de concentrações
dos poluentes selecionados, com base
na literatura técnica (limites de
inibição de processos biológicos) e
na legislação pertinente (Decreto
8468/76, Portaria CONAMA 20, NBR
10004), que fixa os padrões de emissão para efluentes líquidos e para os
sólidos gerados nas ETE’s.
c) Operação interativa do modelo
Toxchem, fazendo crescer a concentração de cada poluente no afluente
a ETE, até ser atingido o limite mais
restritivo entre os estabelecidos.
Nos casos de cádmio. cromo, benzeno e fenol o limite mais restritivo
foi relativo à qualidade do lodo produzido. Nos demais casos o limite foi
ditado pela inibição dos processos
biológicos, aeróbio ou anaeróbio.
As concentrações máximas assim
determinadas foram utilizadas para
cálculo das cargas máximas admissíveis na ETE Barueri.
O mercado produtor foi avaliado
em termos de cargas recebidas via
sistema coletor e via transporte por
caminhões até o PTVL. Estas foram
cotejadas com as cargas admissíveis
considerando três diferentes cenários
de vazões tratadas em Barueri, respectivamente 7,0, 9,5 e 12,0 m³/s.
No quadro 4 são resumidas e
quantificadas as hipóteses adotadas
para a montagem dos cenários.
A carga média efluente do PTVL
(Cept) ficou restrita ao valor teto de
carga de cada um dos poluentes selecionados que pode ser lançado no
Sistema Barueri sem que seja ultrapassado o valor da carga admissível
ou o limite fixado pelo art. 19a.
Nos três cenários organizados a
Cept foi estimada de duas maneiras:
a) Para os poluentes cianeto, cromo
hexavalente, mercúrio, prata e óleos
e graxas, a carga é calculada pelo
produto do volume médio afluente
Artigos Técnicos
Quadro 4 - Resumo das hipóteses adotadas para organização dos cenários
Carga admissivel
Carga de rede
Carga caminhões
Curto prazo
Médio prazo
Longo prazo
Q=7,0 m³/s
100% Crede
30% Ccam
Q=9,5 m³/s
100% Crede
60% Ccam
Q=12,0 m³/s
100% Crede
100% Ccam
Onde, Q = vazão média total afluente a ETE Barueri; Crede = carga industrial total
que poderá vir a ser lançada no Sistema Barueri por indústrias ligadas à rede; Ccam
= carga transportada por caminhões, gerada pelo mercado potencial identificado
na RMSP.
ao PTVL pelas concentrações limites impostas no artigo 19 para
estas substâncias. Assume-se assim
o PTVL como uma fonte de poluição convencional. ligada ao Sistema
de Esgotos e obrigada aos limites
impostos pela lei.
Quadro 5 - Limites impostos pelo
Decreto 8468/76, art. 19a
Parâmetro
Cianeto
Cromo Hexavalente
Mercúrio
Prata
Óleos e graxas
limite (mg/L)
0,2
1,5
1,5
1,5
150
b) Para os demais poluentes selecionados a carga efluente do PTVL
(Cept) foi estimada como :
Cept = Cadm -Crede
onde, Cadm = carga admissível na ETE
Barueri; Crede = carga de rede afluente
a ETE Barueri.
As cargas Cept assim resultantes
estão subordinadas à capacidade
de recebimento que a ETE Barueri
tem, acima da carga recebida via
sistema coletor.
Comparando-se, em cada cenário,
a Cept e as Ccam constata-se que:
• as cargas de óleos e graxas transportadas por caminhões superam em muito as cargas efluentes
do PTVL em todos os cenários;
• as cargas de fenol transportadas
por caminhões superam as cargas
efluentes do PTVL em todos os
cenários, em razão do limite rigo-
roso imposto à carga admissível
na ETE;
• no cenário de longo prazo a carga
de benzeno transportada por caminhão é superior a carga Cept;
• no caso dos demais metais e
compostos orgânicos as cargas
efluentes são superiores às cargas
transportadas por caminhões, em
todos os cenários.
Estes resultados conduziram as
medidas de pré-tratamento que
deverão ser previstas no PTVL para
reduzir as Ccam ao valor teto definido Cept.
As alternativas selecionadas para
aplicação no sistema de pré-tratamento PTVL visam essencialmente:
- reduzir as cargas poluidoras transportadas por caminhões (Ccam)
ao valor teto definido como carga
efluente do PTVL (Cept);
- condicionar e dar destino adequado aos resíduos sólidos gerados nas operações e processos de
pré-tratamento;
- minimizar o impacto da implantação e operação do sistema sobre
o meio ambiente.
As operações e processos unitários fundamentais para estes objetivos são a equalização dos despejos,
a remoção de óleos e graxas, o tratamento de substâncias orgânicas tóxicas e o tratamento dos lodos gerados
nos processos de pré-tratamento.
As principais características das
operações unitárias do projeto estão
resumidas no quadro 6.
Quadro 6 - Principais características
das operações unitárias do projeto
Discriminação
dos Parâmetros
Cenário de
Longo Prazo
1. Tanque de equalização
Volume útil (m³)
Número de misturadores
8.000
4
2. Mistura Rápida
Misturador estático em linha
Gx t (adm.)
1.000
3. Floculação
Tempo de detenção (min)
Volume necessário (m³)
Número de tanques
Dimensões em planta:
diâmetro (m)
Altura útil (m)
Volume unitário
resultante (m³)
Número de
misturador/tanque
Número total
de misturadores
14
17,0
2
2,20
2,20
8,50
1
2,00
4. Flotadores
Tipo: Flotador por ar dissolvido de
alta taxa
Número de unidades
3+1
Vazão por unidade (m³/h)
25
Dimensões em planta (m)
5,50
Área de cada flotador (m²)
24
5. Tanque de Aeração-Lodos Ativados
por Batelada
Número de unidades
4
Volume por batelada (m³)
912
Dimensões em planta (m)
23
Área de cada tanque
de aeração (m²)
401
Área total (m²)
1.605
Profundidade útil (m)
4
Volume unitário (m³)
1.605
Volume total (m³)
6.418
6 Desaguamento Mecânico do Lodo
Volume útil do tanque de
acumulaçao de lodo(m³) 200,00
Volume do tanque de
condicionamento (m³) 10,00
Dimensões em planta (m) 2,20x2,20
Altura útil (m)
2,20
7. Centrífuga:
Número de centrifugas
2
Saneas / janeiro 2002 – 19
Artigos Técnicos
4. A diversificação dos
objetivos e as novas
exigências na gestão
O sistema de esgotos da cidade de
São Paulo inicia-se com o Século XX.
Durante cerca de cinqüenta anos
limitou-se às redes de esgoto. Cerca
de duas décadas seguiram-se em
que o emissário Ponte PequenaVila Leopoldina constituiu-se no
único complemento de porte dessa
rede com a função de interligá-la
à recém-instalada ETE com tratamento primário de Vila Leopoldina.
No começo da década de setenta
concluía-se a ETE de Pinheiros que
também tratava seus esgotos a nível
primário e dava-se início à construção dos grandes interceptores. Só
na década de oitenta começaram
a operar as ETEs com tratamento
secundário anteriormente sonhadas
por quem implantou a ETE Pedro
de Jesus Netto, com a função de preparar e treinar operadores de tratamento de esgotos.
Esta descrição esquemática da
evolução do sistema de esgotos visa
identificar uma contínua ampliação
dos objetivos a que tacitamente (ou
mesmo até explicitamente) o sistema esteve subordinado.
No primeiro meio século, ele
serviu para remover da casa e do
trabalho as águas servidas e assim,
reduzir os riscos de saúde e os
incômodos da sua presença. O objetivo predominantemente atendido
foi higiênico-local.
No segundo momento, emissários,
interceptores e ETE’s ampliaram o
âmbito dos objetivos para começar a
atender às então novas exigências de
preservação dos cursos d’água receptores dos esgotos afastados. O objetivo passou a incluir preocupações
ambientais, além das de higiene.
Entre o primeiro e o segundo
momento, o sistema de esgotos
passou a depender de cuidados mais
diversificados e mais complexos.
No primeiro momento, as exigências técnicas iam pouco além das de
um projeto de engenharia bem feito
20 – Saneas / janeiro 2002
e de uma obra bem executada. Até
então, os parâmetros hidráulicos e
construtivos eram os determinantes
considerados para o sucesso do sistema. O usuário não fazia exigências
adicionais. A operação do sistema
era quase exclusivamente uma dádiva
da gravidade. A sua manutenção só
era pensada quanto ao não-colapso
estrutural dos dutos e ao não-colapso
eletro-mecânico de estações de bombeamento. A operação e manutenção
dos sistemas visando a manter sua
capacidade de veicular vazões (entupimento e obstruções) ou a prevenção de ataques químicos e biológicos
que comprometessem suas estruturas, não era prática comum. O emissário Ponte Pequena-Vila Leopoldina,
por assoreamento, foi totalmente obstruído, por ataque químico-biológico
provocados por emanação de gases
dos esgotos, desabou.
O aprendizado foi útil. Limpeza
e desassoreamento preventivo dos
coletores principais e dos interceptores começaram a ser rotina no
segundo momento. Serviu também
para estabelecer os primeiros critérios e parâmetros de recepção de
efluentes industriais que pudessem
pôr em risco as estruturas de coleta e
afastamento. Pouco depois essa preocupação de proteção estendeu-se
aos processos biológicos do tratamento secundário. Com defasagem
bem maior do que a aceitável, o
aprendizado, pouco a pouco, estendeu-se às vertentes não técnicas
da gestão como a organização e
o suporte econômico-financeiro e
administrativo dos serviços.
Mais adiante, os usuários passaram a fazer exigências sobre o
desempenho sanitário-ambiental do
sistema. Pela primeira vez, e surpreendentemente, moradores de uma
bacia de esgotamento sanitário situada na zona norte da Capital vieram
em caravana (meados da década de
oitenta) reclamar da Sabesp contra
as obras de esgoto. Desta vez, não
por sua inexistência - as obras da
rede estavam por iniciar-se - mas
por sua insuficiência: não estava pre-
vista a execução do coletor-tronco
exigido pelos moradores.
São dessa mesma época as primeiras participações da comunidade (não mais se podia restringir
o grupo dos interessados apenas aos
usuários do sistema) na discussão
de localização das ETEs.
Desde fins dos anos oitenta, evidenciando os desejados avanços da
política e da consciência ambiental
em nosso país, as comunidades passaram a ter oficialmente reconhecida a importância de sua ação, agora
apoiada nas audiências públicas, nas
avaliações de impacto ambiental e
nos conselhos ambientais na qual ela
se faz presente.
Hoje, depende-se cada vez mais de
uma ampla gama de cuidados para
tornar aceitável pela comunidade a
localização de ETEs e de instalações
de tratamento e disposição de seus
lodos. Dentre eles, estão as preocupações usuais recentes com a proteção do ambiente das ETEs e dos
corpos receptores de seus efluentes
no caso cada vez mais comum em
que estas tratam efluentes não domicílios em proporções significativas.
As ações comunitárias ambientais em face dos sistemas de esgotos
sanitários ainda hoje são predominantemente reativas: aceitam ou
não aceitam tal ou qual intervenção
proposta ou a aceitam mediante
modificações. Entretanto, a partir
do aprendizado que exercitam, em
breve deverão, cada vez mais, avançar
para duas outras: controle geral do
desempenho do sistema e cobrança
de novas respostas ao desafio da sustentabilidade ambiental.
Com as exigências de sustentabilidade ambiental é forçoso mudar-se
a percepção do serviço e do sistema
de esgotos. Cada vez menos se falará
em disposição final (seja dos lodos
ou dos efluentes tratados) e cada
vez mais se deverá entender o serviço de esgotos como responsável
pelo conjunto de processos destinados à reciclagem da água e dos
demais componentes que constituem o esgoto.
Artigos Técnicos
PROBLEMAS
CORRELATOS
ATIVIDADES
E FUNÇÕES
Através da exploração do reúso natureza distinta de três fases da REFERÊNCIAS
dos efluentes das ETEs, a Sabesp já gestão, respectivamente dos insu- (1) Serviços de Engenharia para Desenvolvimento da Unidade de Recuperação de
vem se alinhando com a sustentabi- mos, dos processos e dos “produtos”.
Água da ETE Barueri - URA-BAR lidade ambiental. O mesmo espírito É também uma tentativa de ressaltar
JNS Engenharia, Consultoria e Gerenesteve presente na busca de alterna- a necessidade da gestão integrada
ciamento S/C Ltda.
tivas para o encaminhamento dos em fase das interdependências exis- - RELATÓRIO 2 Concepção das Alternativas de Processos da Unidade de Recutentes entre as três fases.
lodos das ETEs da RMSP.
peração de Água
Reflexões como as mencionadas
Pode-se dizer que hoje são bem
- RELATÓRIO 4 Projeto Básico - Fase 2
conhecidos e tecnicamente domi- padecem de várias limitações e vícios.
da Unidade de Recuperação de Água
nados os parâmetros de qualidade São ainda muito incipientes. Algu- (2) Estudos de Viabilidade e Projeto de Estados esgotos que comprometem ou mas das constatações podem estar
ção de Pré-Tratamento de Efluentes Líquidos Industriais na ETE da Vila Leopoldina
as estruturas do sistema ou os pro- exarcebadas pelas dificuldades quase
- Consórcio JNS Engenharia, Consultoria
cessos de tratamento utilizados nas sempre não-técnicas no desenvolvie Gerenciamento S/C Ltda., OPMAN
ETEs e, por conseqüência, os corpos mento e implementação dos projeEngenharia, Lineu Alonso & Associados
tos descritos na primeira parte deste - RELATÓRIO R13 - Serviços de Estabereceptores.
Entretanto, este conhecimento artigo. Embora não sendo unipeslecimento das Características Físicas das
Instalações de Processo
técnico isoladamente não é sufi- soais, pois são compartilhadas pela
Theory,
Design And Operation of
ciente. Nem mesmo o são as medi- equipe técnica que trabalhou nos
Nutrient Removal Activated Sludge Prodas importantes como as de prever projetos, ainda dependem de mais
cesses - G.A. Ekama, G.v.R. Marais,
as instalações do PTVL anterior- ampla massa crítica de reflexão.
I.P.Siebritz, Universidade da Cidade do
Por entendermos que este órgão
mente descritas, com a finalidade
Cabo, África do Sul,1984.
de prevenir danos por alterações no da AESABESP é terreno fértil para - Activated Sludge System Simulation Programs-, P.L.Dold, M.C. Wentzel, A.E Billing,
regime de qualidade dos esgotos que alcançar-se essa massa crítica foi que
G.A.Ekama, G.v.R. Marais, Water Research
chegam à rede e às ETEs. Neste caso, nos encorajamos a trazê-las para
Group, Department of Civil Engineering,
o problema perdurará enquanto discussão.
University of Cape Town, 1991.
A partir delas, podem começar a - Design Manual for Dissolved Air Flotacontinuarem existindo vulnerabilition in Activated Sludge, John Bratby,
dades no controle do recebimento nascer os ajustes de gestão que reduUniversity of Cape Town, 1975.
zirão os riscos de frustrar expectade efluentes perigosos na rede.
- Hidráulica da filtração com taxa decliEm outros casos haverá outras tivas e objetivos da comunidade e
nante, Luis di Bernardo, Revista DAE
vulnerabilidades, todas elas trazi- que são também de todos nós.
46,146 Setembro 1986.
das pela amplitude de
objetivos, atividades e
funções do novo sisGESTÃO INTEGRADA DO SISTEMA DE ESGOTOS
tema de esgotos amGESTÃO DOS PROCESSOS
GESTÃO DOS PRODUTOS
GESTÃO DOS INSUMOS
bientalmente sustenEFLUENTES SANITÁRIOS
tável. A maior parte
COLETA E INTERCEPTAÇÃO
delas - até pela menor
atenção habitualmenEFLUENTES
PRÉ
TRATAMENTO DOS ESGOTOS
INDUSTRIAIS
TRATAMENTO
te dada às dimensões
não técnicas da gesÁGUA DEVOLVIDA
DISPOSIÇÃO DOS
AO ECOSSISTEMA
EFLUENTES
tão - e mais uma vez,
AQUÁTICO
LÍQUIDOS
provavelmente, ocorTRATAMENTO
rendo por insufiÁGUA
PARA
DO REÚSO
REÚSO
ciências de instrumentos administratiTRATAMENTO
RESÍDUO
E DISPOSIÇÃO
vo-organizacionais,
NÃO RECICLÁVEL
DOS LODOS
de comunicação social, econômico-fiTRATAMENTO
PRODUTOS
DOS LODOS
DO LODO
nanceiros e de apoio
PARA REÚSO
jurídico-legal.
- Legais, institucionais e técnicos no controle
- Desafio da sustentabilidade ambiental
- Áreas para sediar unidades de tratamento;
O quadro ao lado
dos pré-tratamentos individualizados
- Áreas para sediar a disposição de resíduos não
impactos ambientais
Áreas
para
sediar
unidades
de
prérecicláveis
- Vulnerabilidade dos processos às deficiências
é uma tentativa de
tratamento centralizado; impactos
- Capacidade e agilidade para desenvolver o
do controle de efluentes industriais
ambientais
mercado para os produtos
resumir, de forma
- Recuperação de custos por via tarifária e
- Vulnerabilidade da qualidade dos produtos às
- Comunicação social / ambiental
viabilização econômico-financeira
esquemática e apenas
insuficiências da gestão dos insumos e do
- Comunicação social / ambiental
processos
exemplificativa,
a
Saneas / janeiro 2002 – 21
ARTIGOS TÉCNICOS
Um novo sistema produtor de água
para a zona norte da RMSP
Arq. Dora Heinrici Sistema Baixo Juqueri deverá garantir o aproveitamento de novas
vazões e relativa autonomia operacional do setor de abastecimento
norte da metrópole.
Artigos Técnicos
O
Sistema Integrado de Abastecimento de
Água da RMSP foi concebido em 1976, esse
sistema compreenderia, além do aproveitamento
de recursos hídricos da bacia do Alto Tietê, a
reversão de vazões das bacias dos rios Piracicaba,
Ribeira e da Baixada Santista , configurando um
sistema composto por Sistemas Produtores articulados por um Sistema Adutor, com estações
elevatórias e centros de reservação.
Continuariam sendo atendidos por sistemas
isolados, os núcleos não conurbados, como Mairiporã, na zona norte, Arujá e Santa Isabel, na
zona nordeste, Salesópolis e Guararema, na zona
leste, Rio Grande da Serra, na zona sudeste,
Juquitiba e São Lourenço, na zona sudoeste e
Vargem Grande na zona oeste.
Profundas alterações ocorridas, desde então,
no comportamento das demandas, no quadro
institucional e nas políticas públicas associadas
aos recursos hídricos e ao saneamento ambiental,
assim como nas condições de desenvolvimento
econômico e social do país exigiram revisões das
concepções e obras previstas inicialmente.
No tocante às demandas, houve uma significativa redução do ritmo de crescimento
populacional na região, com relação às projeções adotadas no dimensionamento do sistema:
enquanto havia sido prevista uma população
de aproximadamente 21 milhões de habitantes
na RMSP no ano 2000, a população registrada
nessa data foi de apenas 17 milhões de pessoas.
Por outro lado, verificaram-se mudanças no
perfil do consumo: apesar da prevista redução do
número médio de pessoas por domicílio, o consumo por economia cresceu muito além das estimativas iniciais.
Houve também uma significativa modificação
nas tendências de expansão territorial da metrópole e da conseqüente distribuição territorial das
demandas de água. Enquanto as previsões apontavam para um crescimento preponderante na
direção leste da metrópole, o maior dinamismo
de crescimento populacional foi registrado nos
vetores oeste, sudoeste e norte.
No que concerne ao quadro institucional,
além das alterações diretamente relacionadas à
nova ordem constitucional estabelecida a partir de 88, especialmente no tocante à descentralização do poder público e, conseqüentemente,
da distribuição de competências, houve alterações estruturais no gerenciamento da coisa
pública, onde os setores de recursos hídricos,
saneamento e meio ambiente tomaram a dianteira na democratização do processo decisório
sobre questões de interesse coletivo. Por um
lado, amadureceram-se, no processo de discussão pública em que foram incorporados
interlocutores de formação diversificada, as
concepções preservacionistas do meio ambiente. Por outro lado, abriram-se canais institucionais para a participação de representantes de
diferentes segmentos sociais e regionais na defesa de seus legítimos interesses.
Em decorrência dessas modificações estruturais no processo decisório, foram revistas posições cristalizadas referentes à reversão de bacias.
No tocante às alterações ocorridas no quadro
sócio-econômico, foram relevantes alguns desdobramentos sobre a região e sobre o desempenho do Poder Público na prestação de serviços
de interesse coletivo. Por um lado, a prolongada
crise que se iniciou no final da década de 70,
condenou os grandes projetos ou retardou sua
implementação. Foram reduzidos também os
investimentos em manutenção da infra-estrutura implantada, não tendo sido, em consequência, atingidas as metas previstas, a exemplo
do controle de perdas.
Coordenadora de Meio Ambiente da Maubertec Engenharia e Projetos Ltda.
E-mail [email protected]
22 – Saneas / janeiro 2002
Artigos Técnicos
Desta forma, a implementação dos planos de abastecimento de água, dentre outros,
apresentou atrasos que causaram déficits crescentes de
atendimento, agravados pela
escassez de água decorrente da
prolongada estiagem dos últimos anos.
Alterações mais recentes na
economia mundial tiveram
efeitos também na reestruturação das relações internas, na
revisão do papel do Estado
e na gestão da coisa pública,
havendo tendência à expansão
do processo de privatização,
inclusive para setores de prestação de serviços de interesse
coletivo. A reestruturação da
Sabesp nesse contexto, enfatizou a descentralização, dando
maior autonomia às unidades regionais, com
ganhos no tratamento das questões específicas
de cada setor e na aproximação do consumidor às instâncias encarregadas da prestação dos
serviços.
Entretanto, em zonas conurbadas como a
RMSP e de disputa pelo uso de recursos escassos como na bacia do Alto Tietê, continua
necessário e indispensável o enfoque regional
e o estabelecimento de canais de coordenação
dos interesses específicos de cada setor e dos
projetos voltados ao seu atendimento.
É com esse espírito que a Sabesp desenvolveu o Plano Metropolitano de Águas em
1.996, o qual foi amplamente discutido e aprovado nas instâncias competentes do Sistema de
Gerenciamento dos Recursos Hídricos e junto
à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, conforme exposto mais adiante.
Nesse contexto, foram enfocadas, dentre
outras, as necessárias revisões do plano de
abastecimento dos municípios da zona norte
da RMSP, que apresentaram um crescimento
populacional e das demandas muito além das
previsões iniciais e que, em conseqüência,
vinham apresentando déficits significativos no
atendimento, gerenciado pela Sabesp através
da implantação de rodízios.
A proposta formulada consiste da implantação de novo Sistema Produtor, o Sistema Baixo
Juqueri, que deverá garantir o aproveitamento de
novas vazões e relativa autonomia operacional do
setor de abastecimento norte da metrópole.
O Plano Metropolitano de Águas
O Sistema Integrado, responsável por 99%
da produção de água da RMSP, é composto
hoje, por 8 Sistemas Produtores que são interligados através do Sistema Adutor.
Em 1996, o Sistema Integrado atendia a uma
população da ordem de 17 milhões de habitantes, além de cerca de 400 mil estabelecimentos comerciais e industriais, totalizando uma
demanda de 59 m³/s.
A vazão regularizada nos sistemas produtores do Sistema Integrado totalizava 54,6 m³/s e
sua capacidade instalada de tratamento era de
59,7 m³/s.
A produção média anual do Sistema Integrado era maior que a capacidade dos mananciais, havendo alto risco de esvaziamento das
represas. Ainda assim, existia déficit no atendimento que era administrado através de operações de rodízio do atendimento por bairros.
Os municípios da zona norte, achavam-se
sujeitos a rodízios intermitentes.
Esta situação foi diagnosticada pela Sabesp
verificando-se que, de uma forma geral, o Sistema Integrado apresentava os seguintes problemas:
· Déficit na disponibilidade de mananciais;
· As ETAs funcionavam no limite de suas capacidades;
· O sistema adutor apresentava baixa capacidade
de transferência de vazões entre sistemas;
· Havia limitações de veiculação de vazões devido
Figura 1
Área de
influência dos
sistemas
produtores da
RMSP
Saneas / janeiro 2002 – 23
Artigos Técnicos
planos elaborados pela Sabesp,
como a Revisão e Atualização
do SAM 75 e os Programas
de Perdas e Racionalização do
Uso da Água, e pelo DAEE,
como o Hidroplan.
O PMA estabeleceu as
seguintes metas de curto
prazo:
·atingiratendimentode100%
da demanda até o ano 1998;
· reduzir os índices de perdas
físicas de 22% em 1995 para
18,4% em 2.000;
·reduziroconsumo“percapita”
através da racionalização do uso
da água, de 236 L/s em 1995
para 225 L/s em 2.000.
Para atingir essas metas,
o PMA foi equacionado de
forma a atuar em três frentes
Figura 2
Sistema de
rodízio em
1996
à insuficiência de diâmetro das adutoras ou à
capacidade de recalque das elevatórias;
· Havia deficiência de reservação setorial;
· A setorização incompleta na maioria das regiões introduzia derivações em marcha nas
adutoras.
No caso específico dos municípios abastecidos
pelo Sistema Cantareira, sub-sistema Alça-Oeste/
Extremo Norte, a Sabesp diagnosticou limitação
de vazões no “Booster” e Estação Elevatória Brasilândia, e deficiências mais agudas em Francisco
Morato, face ao diâmetro insuficiente da adutora
no trecho a partir de Franco da Rocha.
Para fazer frente a esta situação, o Governo
do Estado, através da Sabesp, elaborou em
1996 o Programa Metropolitano de Água a ser
implementado no período 1996/99, cujos objetivos gerais eram:
• Otimizar o desenvolvimento das estruturas
existentes;
• Eliminar a necessidade dos rodízios;
• Preservar e aumentar a capacidade dos
mananciais;
• Reduzir os riscos de operação dos mananciais;
• Aumentar a capacidade de produção de água
potável.
Este programa, de caráter emergencial, foi
equacionado com base no referencial de médio
e longo prazo proporcionado pelos diferentes
24 – Saneas / janeiro 2002
principais:
· Mananciais: aproveitando a capacidade ociosa
dos recursos hídricos da bacia, reduzindo os
riscos de esvaziamento dos reservatórios;
· Tratamento: aumentando a capacidade produtiva através do melhor aproveitamento e
ampliação das ETAs existentes e implantação de novas ETAs;
· Distribuição: eliminando os pontos críticos
do sistema adutor e aumentando a capacidade de reservação.
No que concerne ao Sistema Cantareira,
sub-sistema Alça Oeste/Norte, foi proposta a
implementação do Sistema Produtor Juqueri,
para aproveitar o potencial remanescente do
rio Juqueri a jusante do reservatório Paiva
Castro. Esse sistema, com capacidade estimada
em 1 m³/s, compreenderia a implantação das
estruturas de captação, de uma nova ETA e de
adutora de água tratada, devendo ser concluído durante o ano 1999.
A aprovação e o
licenciamento do projeto
Com vistas à implementação do PMA, a
Sabesp submeteu-o inicialmente à apreciação
das instâncias competentes para a sua aprovação, ou seja, ao Comitê de Bacia do Alto Tietê,
e para o seu licenciamento ambiental, ou seja,
ao CONSEMA.
Artigos Técnicos
O primeiro passo foi a apresentação do PMA
à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, através do Daia - Departamento de Avaliação de
Impactos Ambientais, em agosto de 1996. Nessa
reunião ficou acordada a sistemática de licenciamento a ser adotada para sua implementação.
Em seguida, foi apresentado o PMA ao Consema, em reunião realizada em data de 12/11/96,
o qual deliberou (Deliberação Consema 35/96)
recomendando o encaminhamento do PMA à
Comissão Especial de Saneamento Ambiental CESA para análise e acompanhamento, e aprovou a Moção Consema 03/96, apoiando a proposta da Sabesp.
Em data de 11/11/96, o PMA foi apresentado também ao Comitê de Bacia do Alto Tietê
que deliberou sobre o assunto fazendo, dentre
outras, as seguintes recomendações relativas a
ações de curto prazo (até o ano 2.000):
“implantar o Programa Metropolitano de Água,
que inclui : ...
- aproveitamento do potencial remanescente
do rio Juqueri, a jusante da barragem
de Paiva Castro para atender às necessidades dos municípios do extremo norte da
RMSP;
- ampliação e melhoria do desempenho operacional das ETAs existentes e implantação
das ETAs dos novos sistemas produtores
Taquacetuba e Juqueri; ...”
Finalmente, a Deliberação Consema 17/97
de 28/05/97 aprovou o PMA no que tange às
intervenções previstas nos Sistemas adutor e distribuidor,
bem como a implantação dos
projetos relativos às obras previstas no PMA para ampliar
a produção de água, exceção
feita ao projeto de reversão do
Juquitiba, condicionando-o a
discussões futuras no âmbito
do CESA, o que foi feito e
instruiu a Deliberação Consema 23/97 de 23/07/97 que,
com condicionantes específicas, também a aprovou.
Respaldada pela aprovação
do PMA nas instâncias competentes, a Sabesp deu início
ao desenvolvimento dos projetos nele previstos em 1997. O
Projeto do Sistema Produtor
Baixo Juqueri foi iniciado com
algum atraso, no ano 2.000.
O Sistema Produtor Baixo Juqueri
Os estudos de concepção do Sistema Produtor Baixo Juqueri, equacionado inicialmente
com vistas a utilizar as vazões remanescentes
do rio Juqueri a jusante do reservatório Paiva
Castro, permitiram identificar a oportunidade
de aproveitamento de novos mananciais com a
possibilidade de incrementar as vazões do sistema em cerca de 400 L/s, em média.
Trata-se do córrego Moenda e do ribeirão
Itaim, afluentes do rio Juqueri.
Na medida em que estes afluentes deságuam
a jusante do reservatório Paiva Castro e a montante das áreas urbanizadas do município de
Franco da Rocha, é possível, com uma tomada
d’água no rio Juqueri, aproveitar as vazões dos
três mananciais.
A bacia do córrego Moenda, afluente da
margem esquerda do rio Juqueri, acha-se
situada no interior do Parque Estadual do
Juqueri, o que lhe confere condições privilegiadas de controle da ocupação e conseqüente
conservação da qualidade do manancial.
A bacia do ribeirão Itaim, afluente da
margem direita do rio Juqueri, se desenvolve em
compartimentos de ocupação rural dos municípios de Franco da Rocha e Mairiporã, onde
predominam sítios de recreio com grande percentual de remanescentes de cobertura vegetal
arbórea que garante a realimentação do freático e boas condições de preservação da qualidade do manancial.
Figura 3
Proposta do
Plano
Metropolitano
de Água
Saneas / janeiro 2002 – 25
Artigos Técnicos
Figura 4
Localização do
empreendimento
Nesta bacia, a Sabesp mantém pequeno
aproveitamento, o Sistema Produtor da 4ª
Colônia, cujas amostras de qualidade da água
bruta mostram, de fato, parâmetros adequados
à utilização para abastecimento humano.
Entretanto, esta bacia apresenta duas frentes vulneráveis à pressão da ocupação urbana:
uma correspondente a vetor de expansão de
Figura 5 - Uso do solo
26 – Saneas / janeiro 2002
assentamento irregular de Franco da Rocha,
ao longo da rua Pretória, junto à ETA da 4ª
Colônia, e outro nas cabeceiras do rio Itaim,
no município de Mairiporã, correspondente ao
vetor de expansão do núcleo Terra Preta, ao
longo da estrada do Mato Dentro.
A preservação dessa bacia constitui requisito fundamental não só para o aproveitamento proposto como
para a própria manutenção do sistema existente da 4ª Colônia.
O momento não
poderia ser mais oportuno para implementar
os instrumentos necessários à preservação
desta bacia. De fato,
o processo de revisão
da legislação de proteção aos mananciais
está em pleno desenvolvimento,
permitindo a inclusão desta
bacia e a definição de
diretrizes para a sua
ocupação, no âmbito
dos estudos que deverão subsidiar a formulação da lei específica
das bacias da zona
norte da RMSP.
ARTIGOS TÉCNICOS
OPINIÃO
Gestão dos processos de controle da
qualidade da água e do esgoto em
empresas de saneamento
Engª. Silvana C. C. S. de Franco Eng. José Benedito de Almeida RESUMO
O artigo mostra uma solução de alta tecnologia desenvolvida e implantada em diversas cidades do Brasil para realizar
a gestão das tarefas operacionais e gerenciais das áreas responsáveis pelo controle da qualidade da água e do esgoto,
em empresas de saneamento. Aborda a problemática do controle da qualidade da água tratada e distribuída em atendimento às regulamentações governamentais. De forma análoga, é abordada a questão do monitoramento do esgoto
coletado e tratado, e que também exige um controle de qualidade.
Artigos Técnicos
1. Introdução
Os grandes centros urbanos podem ser considerados gigantescos não somente pelas suas
construções visíveis mas também pela imensa
malha subterrânea que possuem, ou seja, redes
de infra-estrutura urbana, invisíveis, que suportam a existência de todos nós, cidadãos que as
habitamos.
Para que as metrópoles sobrevivam, o funcionamento eficaz desta malha subterrânea
passa a ter uma grande importância e sua
gestão adequada é condição para manter a continuidade e a qualidade dos serviços por elas
prestados.
As atividades das empresas de saneamento,
responsáveis pela administração das redes de
distribuição de água e de coleta de esgotos,
geram impactos na economia, na qualidade de
vida, na saúde pública, no meio ambiente. Por
isto, faz parte dessas atividades a busca da qualidade de seus produtos e serviços aliada à eficiência dos seus processos.
Na utilização de modernas técnicas de gestão
- aplicáveis tanto para a avaliação da utilização
dos recursos hídricos como para a produção
e distribuição de água tratada ou coleta e tra-
tamento de esgotos - são considerados indicadores críticos de desempenho: a qualidade, os
custos, a eficiência e a produtividade. Para isso,
a gestão tem-se beneficiado do avanço da tecnologia da informação contando, por exemplo,
com os Sistemas de Automação, como facilitadores dessa gestão. Desse modo, o presente trabalho aborda uma aplicação de alta tecnologia
voltada ao atendimento destes objetivos.
A Problemática da Qualidade da
Água e do Esgoto
A água distribuída deve apresentar características que possam ser traduzidas em expressões como saudável, potável, própria para o
consumo, entre outras. Estas características
associadas a conceitos mensuráveis, resultam
no padrão de qualidade da água para consumo
humano, ou seja, no Padrão de Potabilidade.
Quanto ao Esgoto coletado, é indispensável
o controle dos componentes químicos existentes nas várias etapas do processo. No esgoto
bruto, busca-se a determinação da quantidade
de compostos (físicos, químicos e orgânicos)
permitindo ajustar os processos de tratamento.
Já no esgoto tratado, a busca é pelo estabelecimento e acompanhamento de vários indi-
Doutora em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Gerente
da Divisão de Desenvolvimento de Sistemas Informatizados da Distribuição / Metropolitana
da Sabesp - Cia. De Saneamento Básico do Estado de São Paulo ([email protected]).
Doutor em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Diretor da
empresa UNICORP Informática Industrial S/C Ltda, Professor e Coordenador do Curso de Tecnologia de
Processamento de Dados do Instituto Leonardo Da Vinci ([email protected])
Saneas / janeiro 2002 – 27
Artigos Técnicos
LCS
1
Programação
de Amostras
1
1
1
1
Laboratórios
de Análises
Gerência
Atendimento
1
1
1
1
1
Recepção
de Amostras
1
1
Cadastro
de Pontos
Coleta de
Amostras
1
1
Realização
das Análises
Administração
Laboratório
de Esgoto
Laboratório
Bacteriológico
de Esgoto
Figura 1
Modelo de
negócios
Laboratório
Físico-Químico
de Esgoto
cadores da qualidade, a fim de atingir maior
eficiência no processo de tratamento.
No Brasil, o Padrão de Potabilidade da Água
atualmente em vigor está contido na Portaria
36/MS-90 de 19/01/1990 (em processo de substituição pela Portaria 1469), do Ministério da
Saúde, cujo cumprimento é efetuado através
do acompanhamento contínuo das amostras
de água.
Este acompanhamento tem sua dimensão
definida quando se analisa as quantidades e
periodicidade das tarefas envolvidas no processo. Para exemplificar estes volumes, pode-se
citar o caso da Sabesp que tem as seguintes
características (dados de dezembro de 2.001):
Produção: 85 mil litros de água tratada por
segundo;
Tratamento de Esgoto: 305 estações
Reservatórios: 1.332;
Capacidade de Armazenamento: 2,5 bilhões de
litros de água;
Empregados: 18 mil.
População Atendida na RMSP: 14 milhões de
habitantes
28 – Saneas / janeiro 2002
Expedição
de Laudos
Laboratório
de Água
Laboratório
Bacteriológico
de Água
Laboratório
Físico-Químico
de Água
Redes de distribuição na RMSP: 42 mil km de
tubulações subterrâneas e 31 mil km de ramais
domiciliares;
Apenas na RMSP tem-se a realização de
coletas em mais de 22.000 pontos amostrais.
Estes pontos estão distribuídos numa área de
aproximadamente 8.000 km², nos vários sistemas de abastecimento da região.
Laboratórios de Controle Sanitário
Para controlar a qualidade da água distribuída e do esgoto coletado, em atendimento
às regulamentações existentes, as empresas de
saneamento possuem laboratórios de análises
físico-químicas e bacteriológicas, denominados Laboratórios de Controle Sanitário (LCS),
onde são executadas as principais macro-atividades:
Coleta de Amostras: Coletar amostras em recipientes adequados e em volumes suficientes para
a realização das análises, com amostragem uniformemente distribuída ao longo da área geográfica atendida, baseada em critério estatístico.
Artigos Técnicos
COLORÍMETRO
TURBIDÍMETRO
FLUORÍMETRO
Sistema NetControl
Gerência / Supervisão
Controle da Qualidade
ISO 9002
PHMETRO
ESPECTROFOTÔMETRO
Análises e Providências: Determinar a concentração de elementos químicos e organismos,
nas diversas amostras coletadas e, no caso de
anomalias, tomar as medidas cabíveis e imediatas para correção.
Tratamento Estatístico: Tratar estatisticamente os
resultados das análises, apresentando as tendências no período e as anomalias encontradas.
Relatórios: Apresentar periodicamente ao órgão
regulador os relatórios sobre o cumprimento
das disposições contidas na legislação correspondente.
No caso da RMSP, a administração dos resultados das análises, é processo altamente estratégico na empresa e de operacionalização bastante
complexa, que fica a cargo dos LCSs. Tem-se,
como volumes típicos nestas áreas, a coleta de
mais de 8.000 amostras por mês (coletas diárias) e como, para cada amostra realizam-se
em média 5 análises, a geração de, aproximadamente, 500.000 resultados por ano.
2. Apresentação da Solução
Para definição da solução tecnológica que
pudesse dar suporte às necessidades operacionais e gerenciais apontadas anteriormente, foi necessário o estabelecimento do
Modelo de Negócios dos LCSs.
A partir do estabelecimento do Modelo,
pode ser feita a especificação do sistema e, conseqüentemente, sua implantação.
O Modelo de Negócios e o Sistema
No Modelo de Negócios apresentado (Figura
1), os processos estão distribuídos em quatro
módulos, cada um responsável pelos seguintes
processos: Programação de Amostras, Laboratórios de Análises, Atendimento e Gestão.
O Sistema de Gestão dos Laboratórios opera
sobre uma plataforma Cliente/Servidor utilizando um Sistema de Gerenciamento de Banco
de Dados de última geração e ambiente gráfico.
É um sistema distribuído, modular e multiusuário. A arquitetura do sistema computacional permite a sua operação em ambientes de
rede local e rede corporativa, o que possibilita
sua utilização em empresas de saneamento que
estão divididas geograficamente em grandes
áreas, sem limite do número de municípios
atendidos. Os principais módulos que formam
o sistema são:
• Cadastro: permite a parametrização do sistema, onde são cadastradas as análises, pontos
de coleta, regras dos processos de análise, regulamentações, equipamentos, usuários, etc;
• Programação de Coleta: planejamento das
coletas, geração e distribuição das amostras
Saneas / janeiro 2002 – 29
Artigos Técnicos
para os laboratórios. As amostras são controladas com código de barras, data, hora, instrumento, metodologia e o responsável pelas
análises.
• UniLab: efetua o gerenciamento dos processos
de execução das análises programadas. Trata-se
de uma ferramenta de bancada que realiza cálculos e utiliza algoritmos para determinação dos
resultados das análises. Possui interfaces e protocolos de comunicação com dezenas de tipos
de instrumentos de análise, eliminando a digitação dos dados dos processos, ou seja, efetua a
coleta automática dos resultados das análises;
• Supervisão: permite o gerenciamento de
todas as atividades dos laboratórios, inclusive
o acompanhamento dos processos e a liberação dos dados para laudos técnicos e relatórios. Monitora a qualidade da água através
do acompanhamento qualitativo e quantitativo das análises ao longo da rede de distribuição através da utilização de mapeamento
eletrônico. As estações de supervisão permitem
observar e controlar, em tempo real, todas as
atividades dos laboratórios, aumentando a eficiência e a produtividade da empresa.
• Gerador de Relatórios: permite a criação de
relatórios gerenciais, estatísticas e laudos técnicos. Gera o relatório mensal por município e
por sistema de abastecimento, em atendimentos às exigências dos órgãos de regulamentação
do setor de saneamento.
• 36 (trinta e seis) instrumentos de laboratório
físico, químico e biológico;
• 10 (dez) Personal Digital Assitant utilizado
nos trabalhos de campo;
• Utilizado e operado por aproximadamente 50
profissionais (químicos, biólogos, engenheiros,
técnicos e agentes coletores), distribuídos em 5
laboratórios e em um centro de gerenciamento
da qualidade;
• Desenvolvido, implantado e assistido por
aproximadamente10 profissionais da área da
Tecnologia da Informação;
• Suporta o controle da qualidade da água
de uma rede de distribuição que atende a 35
municípios.
4. Conclusões
Após a implantação deste sistema em empresas de saneamento (Sabesp e EMBASA), puderam ser tiradas algumas conclusões de caráter
genérico, como:
• o Modelo de Negócios pode ser utilizado
por qualquer empresa do setor de saneamento
básico para a automação dos seus laboratórios
de controle sanitário e garante que o sistema
implantado atende aos requisitos de rastreabilidade da ISO9002, facilitando os trabalhos de
preparação para o recebimento e a manutenção desta importante certificação;
3. Resultados
O Sistema de Gestão implantado na RMSP,
região atendida pela Sabesp, é um sistema corporativo, de grande complexidade e abrangência, utilizando uma infra-estrutura formada
por 6 Redes Locais e uma WAN (Wide Area
Network) cobrindo as regiões: Sul, Norte, Leste,
Oeste e Centro. As principais características,
aproximadas, do sistema são:
• 6 (seis) servidores de Banco de Dados de
última geração (SGBD-Oracle 9i, Windows
2000 Server, multiprocessado, sistema automático de back-up, etc.);
• 35 (trinta e cinco) microcomputadores (estações de trabalho) com Windows 2000 Profissional;
30 – Saneas / janeiro 2002
• a eliminação de entrada manual dos resultados das análises reapresentou uma sensível
melhoria na confiabilidade dos processos de
análise;
• a sistematização e operacionalização de tarefas deu mais agilidade ao fluxo de informações, atendendo de forma eficiente os processos
empresariais, além de prover respostas às solicitações e auditorias dos órgãos regulamentadores do setor num menor período de tempo;
• a criação e manutenção de uma Base de Dados
histórica permitiu a obtenção de indicadores
estatísticos, que puderam dar suporte às decisões
no planejamento operacional, nas ações preventivas e corretivas na rede e nos processos de captação, tratamento e distribuição das empresas.
ARTIGOS TÉCNICOS
Sabesp conquista mercado nacional
com tecnologia de automatização
Eng. Wilton Silva Carneiro
P
Artigos Técnicos
lanejado e desenvolvido por técnicos da
Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo - Sabesp, o Aqualog foi
implantado inicialmente em junho de 1996, no
município de Tapiraí / SP, surgindo então a
primeira estação de tratamento de água inteligente do Brasil.
Depois de testada e aprovada, a tecnologia
Aqualog foi adotada com sucesso em todas as
estações de tratamento de água da Unidade
de Negócio da Sabesp na região do Vale do
Ribeira.
Hoje, 480 mil pessoas já são diretamente
beneficiadas com a água tratada pela tecnologia
Aqualog, presente nos municípios do Vale do Ribeira, operados pela Sabesp, e na cidade
de Jaraguá do Sul, Santa Catarina, nas três estações de tratamento do Serviço Autônomo
Municipal de Água e Esgoto
(SAMAE), que atendem a 140
mil habitantes.
Em breve, porém, o número
de beneficiados será muito
maior, pois o Aqualog encontra-se em fase final de implantação nos sistemas produtores
de água de Dourados (Sanesul), no Mato Grosso do Sul;
do Laboratório Farmacêutico
Teuto Brasileiro, em Anápolis,
Goiás, e do município paulista de Aparecida (SAE), além
de outras 17 estações de
tratamento de água da própria Sabesp, localizadas na
Região Metropolitana de São
Paulo: Bragança Paulista, Joanópolis, Juqueri, Mairiporã,
Nazaré Paulista, Pedra Preta,
Pinhalzinho, Piracaia, Socorro,
Vargem Paulista, Aldeia da
Serra, Bacuri, Colinas de
Anhanguera, Santana do Parnaíba, São Pedro, Sapiatã e
Sorocamirim.
Na área de tratamento de
esgotos, o Aqualog está sendo
adotado em duas estações da
Figura 1 - ETA da Sabesp, totalmente automatizada, no município de
Sabesp, nos municípios litorâCajati - Vale do Ribeira
Superintedente da UN Vale do Ribeira
Saneas / janeiro 2002 – 31
Artigos Técnicos
mente da automatização, desenvolvendo projetos adequados a cada cliente, implantando
a tecnologia , ministrando treinamentos, testando equipamentos e aperfeiçoando o programa, que não pára de evoluir.
A lógica da água
Figura 2 - Equipamentos de automação.
neos de Caraguatatuba (ETE Martins de Sá) e
Ubatuba (ETE Toninhas).
O crescente interesse pelo Aqualog - que
também já recebeu visitas de técnicos dos Estados Unidos, da Europa e da América Latina
- levou a Vice Presidência Litoral da Sabesp
a constituir, na Unidade de Negócio Vale do
Ribeira, uma equipe para cuidar exclusiva-
Redução do consumo de produtos químicos
ETA - Registro (Sulfato de Alumínio)
(g/m³)
26
22
22
18
16
14
10
Operação manual
32 – Saneas / janeiro 2002
Operação automática
O Aqualog é um conjunto de softwares,
computadores, controladores lógicos programáveis e periféricos, que possibilitam a operação com máxima eficiência dos sistemas
produtores de água e de tratamento de esgotos
sanitários e/ou industriais de maneira totalmente automatizada e desassistida localmente.
Os sistemas automatizados com a tecnologia Aqualog possuem inteligência artificial
que permite a tomada de decisões automaticamente, ajustando-se de acordo com as necessidades, para a obtenção da melhor performance
e de excelência em qualidade.
Atuando no sistema como um todo, o Aqualog controla as dosagens de produtos químicos,
aciona automaticamente válvulas e monitora
reservatórios, além de disponibilizar tabelas
e gráficos de tendências que proporcionam o
aperfeiçoamento das rotinas de controle.
Nos sistemas produtores, mesmo havendo
alterações bruscas na qualidade da água bruta,
o Aqualog ajusta automaticamente a estação
de tratamento, fazendo com que os parâmetros estabelecidos para cloro, flúor, pH e
turbidez sejam eficazmente obtidos. No tratamento de esgotos, os ajustes automáticos controlam os parâmetros de carbono orgânico
total (TOC), demanda bioquímica de oxigênio
(DBO), demanda química de oxigênio (DQO),
pH, potencial de hidrogênio, oxigênio dissolvido (OD), potencial de óxido e redução ou
potencial Redox, condutividade específica, turbidez, temperatura, cloro e nível do lodo no
reator aeróbio.
Minuto a minuto, analisadores em processo, instalados em pontos estratégicos dos
sistemas produtores de água ou de tratamento
de esgotos, fazem as análises para todos os
parâmetros, digitalmente e eletronicamente,
enviando sinais para o Controlador Lógico
Programável (CLP). Este, por sua vez, emite
comandos eletrônicos aos atuadores em processo, a fim de que sejam feitos os ajustes.
Caso seja conveniente, o sistema pode ser programado para que as análises sejam realizadas
a cada segundo. Já em sistemas manuais, as
Artigos Técnicos
Redução do consumo de energia elétrica
ETA - Pariquera-Açu
170
kWh/mês por unidade de consumo
mesmas análises têm de ser feitas por operadores, e somente a cada hora.
Como o Aqualog permite que os sistemas
produtores ou de tratamento de esgotos trabalhem sem assistência local, um único Centro
de Controle Operacional (CCO) pode acompanhar e monitorar vários sistemas ao mesmo
tempo, independentemente de sua localização.
Os pacotes de dados são transmitidos ao CCO
por telefone, rádio modem ou satélite, com a
finalidade de gerar relatórios, que podem ser
personalizados conforme as necessidades de
cada um.
No CCO, várias telas do supervisório mostram todas as fases do processo em cada estação
de tratamento de água ou esgotos. As estações
não precisam permanecer on-line com o CCO,
uma vez que possuem inteligência própria, que
lhes permite tomar as decisões necessárias de
maneira automática. As conexões com o CCO
são feitas de tempo em tempo, de acordo com a
configuração desejada, para o recebimento de
pacotes de dados do último período.
O Aqualog possui também uma completa
rotina de alarmes. Caso ocorra um eventual
problema em alguma estação monitorada pelo
CCO, este imediatamente receberá o alarme
correspondente, com informações sobre o tipo
de anormalidade, o local exato onde ocorreu
e página do manual com a descrição detalhada. Assim, uma equipe operacional poderá
dirigir-se à estação onde ocorreu o problema,
sabendo exatamente o que precisa ser feito para
resolvê-lo.
160,75
160
150
140
130
121,46
120
110
100
Operação manual
Operação automática
Evolução da Qualidade da Água (IQA)
ETA - Registro
100%
100%
90%
87%
80%
70%
Operação manual
Operação automática
Redução de custos
Além da qualidade final da água tratada ou
do efluente, a precisão proporcionada pela tecnologia Aqualog é determinante para a economia de energia elétrica e dos produtos químicos
utilizados no processo.
Na Estação de Tratamento de Água do município de Registro (Vale do Ribeira), por exemplo, onde o Aqualog foi implantado em 1997,
a automatização significou economia de 27,3%
em sulfato de alumínio. Quando a ETA era operada manualmente, o consumo do produto por
metro cúbico de água era de 22 gramas. Com a
operação automática caiu para 16 gramas.
Uma outra ETA, a de Pariquera-Açu (Vale
do Ribeira), obteve redução expressiva no
consumo de energia elétrica: 24,3%. Na
época de operação manual, o sistema gastava
Evolução da Qualidade da Água (IQA)
Sistemas Automatizados do
Vale do Ribeira - SP
99%
100%
90%
80%
79%
70%
Operação manual
Operação automática
Saneas / janeiro 2002 – 33
Artigos Técnicos
estabelecidas nos últimos anos, destacando-se
especialmente a margem operacional, que
passou de 34% negativos, em 1995, para 11%
positivos, em 2000.
Qualidade
Figura 3 - Funcionário da Sabesp trabalhando na automação de ETA
em Jaraguá do Sul (SC)
160,75 kWh/mês por unidade de consumo de
água tratada, e com a automatização passou a
consumir 121,46 kWh/mês.
Em relação à mão-de-obra, a automatização
com a tecnologia Aqualog significou racionalização de 72,6% nas ETAs operadas pela Unidade de Negócio Vale do Ribeira da Sabesp,
reduzindo de 62 para apenas 17 o número de
operadores. Dos 45 profissionais excedentes, 10
se aposentaram e não foram repostos, 32 foram
remanejados para outras atividades e apenas 3
foram demitidos.
Na Unidade Vale do Ribeira da Sabesp,
aliás, o Aqualog foi um dos instrumentos fundamentais para o cumprimento das metas
Figura 4 - Tela de computador mostrando o sistema Aqualog.
34 – Saneas / janeiro 2002
A melhoria da qualidade da água produzida
e dos efluentes resultantes de sistemas automatizados com a tecnologia Aqualog é indiscutível.
Segundo as análises realizadas pelo setor de
Controle Sanitário da Unidade de Negócio Vale
do Ribeira da Sabesp, o Índice de Qualidade
da Água (IQA) chegou a 100% na esmagadora
maioria dos sistemas automatizados da região.
Na ETA da cidade de Registro, responsável
pela produção de água tratada para o abastecimento de 53.505 habitantes (censo IBGE
2000), a evolução do IQA foi de 13 pontos
percentuais, passando de 87%, no período de
operação manual, para 93%, no período de
transição, e, finalmente, 100%, com a automatização total.
Exportando tecnologia
A criação do Aqualog transformou a Sabesp,
empresa ligada à Secretaria de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Governo do Estado
de São Paulo, em “exportadora” de tecnologia.
No ano 2000, pela primeira vez em sua história, a empresa participou de licitação para
vender o sistema a uma outra operadora de
saneamento básico.
O primeiro cliente externo foi o Serviço
Autônomo Municipal de Água e Esgotos
(SAMAE) de Jaraguá do Sul (SC), que já automatizou o tratamento de água naquela cidade
com a tecnologia Aqualog.
Após esse contrato, foram surgindo outros e,
frequentemente, a Unidade de Negócio Vale do
Ribeira da Sabesp tem recebido visitas de técnicos
do Brasil e do exterior, interessados em conhecer
de perto a tecnologia de automatização.
O lançamento oficial do Aqualog no mercado nacional, entretanto, só aconteceu no mês
de setembro de 2001, durante o 21º Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, realizado em João Pessoa, na Paraíba, em
paralelo à 4ª Fitabes (Feira Internacional de
Tecnologia de Saneamento Ambiental). O produto foi o destaque do estande da Sabesp na
Fitabes.
OPINIÃO
MEIO
AMBIENTE
Monitoramento em tempo real
da qualidade da água
dos mananciais da RMSP
Quim. Armando Perez Flores Biol. Edvaldo Sorrini Meio Ambiente
1. Introdução
De toda a água produzida pela Companhia
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo Sabesp na Região Metropolitana de São Paulo RMSP, 99,5% são provenientes de reservatórios
superficiais, que em grande parte se localizam
em áreas que estão sendo atingidas pela mancha
urbana dessa região. A despeito das restrições
impostas pela Lei de Proteção de Mananciais,
a ocupação das bacias de contribuição desses
reservatórios vem ocorrendo, via de regra, de
forma descontrolada, comprometendo seriamente a qualidade das suas águas. Neste cenário, a Sabesp vem buscando investir em novas
tecnologias para monitoramento da qualidade
das águas de seus mananciais, de forma a obter
respostas rápidas e confiáveis, visando a evitar
que possíveis variações bruscas na qualidade da
águas nas represas possam impactar o tratamento e atingir o consumidor final.
2. Monitoramento da qualidade da
água na RMSP
Dentro deste contexto, a Sabesp introduziu, nos seus programas de monitoramento da
qualidade da água, os reservatórios de abastecimento da RMSP.
Neste monitoramento as freqüências com
que são amostrados os mananciais vão de duas
vezes por semana, no caso do controle das
algas, até trimestrais. O monitoramento mais
abrangente, aquele que fornece dados mais
completos sobre qualidade da água, entretanto, é feito com uma freqüência máxima
mensal. Em alguns casos, naqueles em que
o reservatório é protegido e, portanto, com
uma água de qualidade boa e estável, essa freqüência permite um controle eficaz. Naqueles,
entretanto, em que a qualidade da água está
comprometida e, portanto, sujeita a variações
que podem trazer problemas para o tratamento, essa freqüência se revela insuficiente,
muito aquém do que seria o ideal para se ter
um acompanhamento das oscilações de qualidade da água, que muitas vezes prenunciam
problemas e que, portanto, devem ser detectados a tempo.
Um fator que agrava essa limitação do
monitoramento, diz respeito ao fato de que
as amostragens são feitas sempre no período
diurno, pela dificuldade de se coletar amostras, que exigem o uso de barco, à noite. Dessa
forma, oscilações que ocorrem no período
noturno (as variações nictemerais) não são
detectadas. E essas variações podem, às vezes,
ocasionar oscilações significativas na qualidade da água.
Bacharel em Química pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Prof.º Carlos Pasquale. Especialização
em Engenharia de Saneamento Básico pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Gerente da Divisão de Monitoramento e Informações Ambientais da Produção da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp.- E-mail: [email protected]
Bacharel em Biologia pela Universidade Mackenzie. Especialização em Saneamento Ambiental pela
Universidade Mackenzie e Especializando em Gestão Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo. Biólogo na Divisão de Monitoramento e Informações Ambientais da Produção
da Sabesp.
Saneas / janeiro 2002 – 35
Meio Ambiente
Descrição geral
do sistema
3. Necessidade de
monitoramento contínuo
Um reservatório, embora constituído por
uma massa considerável de água, pode, como
já foi dito, sofrer oscilações bruscas de qualidade da água, em função de fenômenos como a
inversão térmica, a ressolubilização de substâncias presentes nos sedimentos do fundo, variações nictemerais, etc.
Em muitos casos, essas alterações podem
afetar seriamente a qualidade da água, e se
manifestam em alguns dias. É necessário, portanto, que o monitoramento tenha capacidade
de detectar essas alterações, para que o tratamento da água não seja, ou seja, minimamente,
afetado.
Existem indicadores que permitem avaliar
a situação potencial de alterações na qualidade
da água num reservatório. É o caso, por exemplo, do Oxigênio Dissolvido (OD), que está
relacionado com a ressolubilização de substâncias a partir do sedimento de fundo. Baixos
teores, ou ausência, de OD no fundo podem
acarretar esse fenômeno de ressolubilização.
36 – Saneas / janeiro 2002
Um monitoramento contínuo do teor de OD
no fundo, então, permite detectar situações
potenciais de alteração na qualidade da água,
a tempo de prevenir a área de tratamento ou,
se houver essa possibilidade, tomar medidas de
reaeração artificial no fundo.
Fica clara, portanto, a necessidade de se
monitorar esses parâmetros de forma contínua,
ou no mínimo, com uma freqüência horária.
Com isso, dois importantes benefícios poderão
ser conseguidos:
• fenômenos que provocam alterações bruscas na qualidade da água poderão ser detectados a tempo de prevenir o tratamento;
• amplia-se significativamente o conhecimento sobre o comportamento do reservatório, em termos da qualidade da água,
permitindo dirigir melhor o monitoramento
de rotina (não contínuo) para períodos e
áreas críticas, o que poderá resultar numa
redução da quantidade de amostras, e, portanto, numa redução equivalente nos custos
desse monitoramento.
Meio Ambiente
Esse tipo de monitoramento permite aumentar significativamente a eficiência dos Sistemas
de Vigilância, e em conseqüência, reduzir os
riscos sanitários, quando a água é utilizada para
abastecimento, ou riscos ambientais, no caso
mais geral.
SONDAS
MULTIPARÂMETRO
4. Monitoramento em tempo real da
qualidade da água dos mananciais
da RMSP
No caso da Sabesp, este projeto consiste em
um sistema de monitoramento de dados de
qualidade de água, em tempo real, em pontos
pré-determinados em reservatórios que abastecem a RMSP.
Este sistema é constituído essencialmente,
de estações remotas e unidades de recepção
de dados. As estações remotas são compostas
de módulos de coletas de dados, programa de
coleta de dados, módulos de armazenagem de
dados, módulos de alimentação e suporte de
energia, módulos de comunicação de dados e
de sensores de aquisição de dados.
Figura 2
quantidade de
sondas
instaladas
4. Potencial de Oxi-redução
5. Oxigênio Dissolvido
6. Temperatura
A quantidade de sondas de qualidade instaladas no sistema varia de acordo com a profundidade do local monitorado, variando de
três (superfície, meio e fundo), até uma única
sonda para locais de pouca profundidade (vide
figura 2).
7. Conclusões
5. Mananciais monitorados
Estão sendo monitorados atualmente através
deste sistema, cinco represas utilizadas pela Sabesp
para captação e tratamento de água, a saber:
-
represa Guarapiranga com duas bóias
represa Billings com três bóias
represa Rio Grande com duas bóias
represa Taiaçupeba com duas bóias
represa Jundiaí com uma bóia
No total são 10 locais monitorados. Considerando-se as várias profundidades, dependendo
de cada ponto onde está localizada a unidade
remota, temos 17 pontos monitorados.
6. Parâmetros de qualidade
monitorados
São medidos diretamente no local, através
de uma sonda multiparâmetro, com os seguintes sensores instalados:
1. pH
2. Turbidez
3. Condutividade
Este sistema tem se apresentado até o
momento, como uma excelente ferramenta de
vigilância dos mananciais. É importante observar que seu objetivo, não é a precisão dos
resultados, mas as variações significativas que
podem ocorrer, de forma a indicar que alguma
anomalia está ocorrendo no reservatório. A
Sabesp, juntamente com a empresa que implantou o sistema, tem feito grandes esforços para
corrigir eventuais problemas técnicos e operacionais encontrados.
Aspectos importantes a serem observados
neste tipo de sistema são, o procedimento de
calibração e substituição dos sensores, e a analise de consistência dos dados gerados.
A intenção da Sabesp é ampliar este sistema
de monitoramento para os demais mananciais
da RMSP, visando a aprimorar sua vigilância.
Referências bibliográficas
1. Relatório Resumo Monitoramento em Tempo Real,
Divisão de Monitoramento e Informações Ambientais, Sabesp, 2000.
2. Relatórios Mensais Monitoramento em Tempo Real,
Divisão de Monitoramento e Informações Ambientais, Sabesp, 2000/2001.
Saneas / janeiro 2002 – 37
A SABESP INOVA
Projeto de reúso de efluentes
sanitários para uso agrícola
Colaboradores do projeto:
Eng. Luis Paulo de Almeida Neto
Eng. Roque Passos Pivelli O projeto de reúso em Lins (SP) tem por objetivo
testar vários processos de desinfecção, avaliar as
condições sanitárias das plantas e do solo.
reúso implantado em Lins subdivide-se em
dois subprojetos: subprojeto 1 - Desinfecção
de efluentes de sistema de Lagoas de estabilização; subprojeto 2 - Aplicação de efluentes de
sistema de lagoas de estabilização desinfetados
em fertirrigação.
O subprojeto 1 tem os seguintes objetivos:
• Avaliar as características dos esgotos à
entrada e à saída do sistema de lagoas de
estabilização;
Inovação
Figura 1
Lagoa
Facultativa 1
A
Sabesp, empresa ligada à Secretaria de
Recursos Hídricos, Saneamento e Obras
do Governo do Estado de São Paulo, atua
em 366 municípios, divididos em Unidades de
Negócio, sendo que seis destas atuam no interior do Estado de São Paulo.
A vice-presidência Interior, através da Unidade de Negócio Baixo Tietê e Grande, com
sede em Lins (440 km de São Paulo) implantou um campo experimental coordenado pelo
Dr. Professor Roque Passos Piveli (USP), com
objetivo geral de utilizar os efluentes sanitários tratados para uso agrícola. O projeto de
• Avaliar os efeitos das dosagens, dos tempos
de contato, das características físico-químicas dos efluentes e de condições operacionais específicas dos sistemas de desinfecção
por radiação ultravioleta, ozônio e cloro,
sobre a atividade de organismos indicadores
e sobre a concentração de matéria orgânica
dos esgotos;
• Comparar a resistência de coliformes fecais,
aeromonas, colifagos, Clostridium perfringens, cistos de Giárdia e ovos de Ascaris
lumbricóides à ação dos diversos agentes
desinfetantes empregados.
A metodologia utilizada:
• Controle físico-químico e biológico dos esgotos ao longo do sistema de lagoas de estabilização: Análises de amostras compostas dos
esgotos à entrada e à saída das lagoas, cole-
Gerente do Departamento de Desenvolvimento Operacional - ITO Lins na Unidade de Negócio do
Baixo Tietê e Grande - IT; engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP - São Paulo, especialização
em engenharia sanitária e ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP - São Paulo.
Professor da Escola Politécnica da USP - São Paulo; engenheiro civil e doutor em engenharia
hidráulica e sanitária pela Escola Politécnica da USP - São Paulo
38 – Saneas / janeiro 2002
A Sabesp Inova
tadas com freqüência quinzenal. Parâmetros
analisados: DBO5,20 e DQO (total e filtrada),
nitrogênio total e a moniacal, nitrato, fosfato
total e solúvel, série de sólidos, pH, temperatura, cor e turbidez, E. coli, Aeromonas,
colifagos, Clostridium perfringens, cistos de
Giárdia e ovos de Ascaris lumbricóides.
• Ensaios em escala de laboratório e piloto de
desinfecção com hipoclorito de sódio, radiação ultravioleta e ozônio.
• Estudo de dosagens e tempos de contato, com
controle (quinzenal) físico-químico (DBO5,20
e DQO, nitrogênio amoniacal, série de sólidos, pH, cor e turbidez) e biológico (E. coli,
Aeromonas, colifagos, Clostridium perfringens, cistos de Giárdia e ovos de Ascaris lumbricóides), dos efluentes desinfetados.
O subprojeto 2 apresenta os
seguintes objetivos:
• Estudar um sistema de produção de milho,
pupunha e café, aplicando-se os esgotos
desinfetados em sistema de irrigação por
gotejamento;
• Equacionar os problemas no sistema de irrigação decorrentes da utilização de esgoto
tratado, avaliando-se o grau de comprometimento operacional;
• Avaliar a ocorrência de problemas fitossanitários decorrentes da utilização de esgotos;
pio de Lins, SP. A área total do projeto é de
15.000 m², as áreas total e útil do sistema de
irrigação são 12.000 m² e 8.648 m² (descontando-se a área dos terraços, feitos para evitar
erosão do solo), respectivamente. O sistema é
utilizado na execução de um projeto de pesquisa enviado ao PROSAB/CNPq.
2. Descrição do Sistema de Irrigação
O esquema ilustrativo do sistema de irrigação utilizado, as tubulações de gotejadores,
tubulações para condução de água às parcelas,
e estação de desinfecção, filtragem e bombeamento (detalhes na Figura 3).
• Avaliar a viabilidade das técnicas e procedimentos propostos por meio de análise de
desenvolvimento das plantas, produtividade
e qualidade da produção para as suas respectivas e diversas finalidades.
CLORO UV
1. Descrição Geral
A
Este memorial trata dos detalhes de um projeto de sistema de irrigação, implantado em
área utilizada para aplicação de águas residuárias em agricultura irrigada, após serem tratadas (lagoa de estabilização) e desinfetadas
por três diferentes processos (ozônio, radiação
ultravioleta e cloro), descrevendo os dois experimentos conduzidos na área.
O sistema de irrigação foi implantado em
área pertencente à Cia. de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo (Sabesp), no municí-
Figura 2
Vista da área
cultivada
D
A
D
A
D
ESGOTO NÃO
DESINFECTADO
O
Z
Ô
N
I
O
U
V
C
L
O
R
O
Figura 3 - Estação de desinfecção e bombeamento (Esquema ilustrativo)
Saneas / janeiro 2002 – 39
A Sabesp Inova
- Tubos de PVC, linha azul para condução
de água até a área irrigada, com diâmetros de
50 mm e vazão máxima de 0,7 m³.h-1, para as
parcelas com tratamentos por radiação ultravioleta e ozônio, e diâmetro de três polegadas
(75 mm) e vazão máxima de 9,9 m³.h-1, para as
parcelas que utilizam águas residuárias desinfetadas com cloro ou não desinfetadas;
- Tubos de polietileno preto, com gotejadores inseridos, para aplicação de água à área irrigada; diâmetro de 16 mm e vazão de 0,345
m³.h-1; linhas espaçadas de 1,0 m entre si.
d) Gotejadores:
- tipo in line, autocompensantes (vazão
constante, mesmo se houver modificação da
pressão da água na tubulação), com vazão de
2,3 L/h, espaçados de 0,6 m entre si.
Figura 4
Cultivo do
milho
2.1. Componentes do sistema de irrigação
O sistema é do tipo irrigação localizada por
gotejamento, constituído pelos seguintes itens:
a) Estação de bombeamento:
- moto-bomba com potência de 3 cv (2,21
kW), para aplicação de águas residuárias nãodesinfetadas ou desinfetadas com cloro;
- moto-bomba de 1 cv para aplicação de águas residuárias desinfetadas com radiação ultravioleta;
- moto-bomba de 1 cv para aplicação de águas
residuárias desinfetadas com ozônio.
Obs.: A aplicação de água potável será feita sem
bombeamento, aproveitando-se a pressão existente na rede urbana de abastecimento.
b) Cabedal de controle:
- Sistema de filtragem, composto por um filtro
de discos de poliuretano e um filtro de areia
para cada conjunto moto-bomba;
- Sistema elétrico, composto por chaves de partida, dispositivos de segurança e de automação;
- Sistema para injeção de fertilizantes (fertirrigação).
c) Tubulação:
- Tubos de fibrocimento com diâmetro de
100 mm para condução de água da lagoa facultativa à estação de desinfecção e bombeamento,
com máximo valor de vazão igual a 18 m³.h-1;
Tubos de PVC branco diâmetro de 25 mm
para condução de água potável até a área experimental, com vazão máxima de 0,7 m³.h-1;
40 – Saneas / janeiro 2002
2.2. Operação do sistema de irrigação:
O sistema de irrigação aplica uma lâmina
d’água de 4,26 mm/h (L/m²/h). Considerando-se uma necessidade máxima de água das
culturas igual a 7 mm/dia e um turno de rega
de dois dias, deve-se aplicar, no máximo, 14
mm (L/m²) a cada irrigação. Considerando-se a
lâmina instantânea aplicada pelo sistema (4,26
mm/h) e sua eficiência de aplicação (90%), o
tempo máximo de aplicação de água em cada
setor será de 3h 40 min.
As parcelas experimentais que recebem águas
residuárias desinfetadas com radiação ultravioleta e ozônio têm sistemas de bombeamento e
condução de água independentes, a fim de evitar
a contaminação com agentes patogênicos presentes nas águas residuárias não-desinfetadas. Já
nas parcelas em que se aplicam águas residuárias desinfetadas com cloro ou não-desinfetadas, utiliza-se apenas um sistema de irrigação.
Para evitar a contaminação da parcela com o
tratamento de cloração, a operação do sistema
de irrigação deve ser feita de tal forma que, ao
final de um ciclo de irrigação com águas residuárias não-desinfetadas, a tubulação fique cheia
de águas residuárias tratadas com cloro.
Na parcela em que se aplica água potável não
haverá sistema de bombeamento e, portanto, a
aplicação será feita utilizando-se a pressão da
própria rede de abastecimento urbano.
Cada sistema de irrigação (água potável,
águas residuárias não-desinfetadas ou cloradas,
águas residuárias c/ ozônio e águas residuárias
c/ ultravioleta), operará de forma independente, podendo-se irrigar várias parcelas experimentais ao mesmo tempo.
A Sabesp Inova
3. Descrição dos Experimentos
Serão conduzidos dois experimentos simultaneamente, a fim de se estudar os diferentes
aspectos envolvidos na aplicação de águas residuárias em cultivos agrícolas.
3.1. Primeiro experimento
O primeiro experimento será dividido em
duas fases, com a sucessão das culturas do
milho (cultura anual) e da pupunha (cultura
perene). Na primeira fase será implantada a
cultura do milho, no período de agosto/2001 a
janeiro/2002 (5 meses). Após o término da primeira fase será implantada a cultura da pupunha, uma palmácea utilizada para produção de
palmito, em substituição às palmeiras Juçara e
Açaí, que estão ameaçadas de extinção.
Serão estudados os efeitos dos diferentes tratamentos de águas residuárias sobre as culturas do milho e da pupunha, verificando-se os
aspectos agronômicos (desenvolvimento, produtividade, produção de matéria fresca e seca,
sintomas de desequilíbrio nutricional e doenças), e sanitários (contaminação por agentes
patogênicos de origem biológica e mineral).
Os tratamentos serão:
a)Água potável - testemunha para se verificar os
efeitos nutricionais, contaminantes, e salinizantes do efluente aplicado nos demais tratamentos. A parcela experimental é constituída por
seis linhas de gotejadores, com 90 m de comprimento cada, numa área total de 486 m²;
b)Efluente não desinfetado - utilizado em dois
tratamentos: um em que utiliza o efluente considerando-o apenas como reposição de água
(irrigação), e outro que o utiliza como fonte
de nutrição de plantas (fertirrigação); efluente
desinfetado - três tipos de desinfecção, cloração, radiação ultravioleta e ozônio.
3.2. Segundo experimento
No segundo experimento será estudado o
desenvolvimento da cultura do cafeeiro submetido à aplicação de efluente não-desinfetado,
com duas funções: reposição de água (irrigação)
e fornecimento de nutrientes (fertirrigação). Os
ensaios da cultura do café são conduzidos pelos
técnicos da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) de Lins. O plantio foi realizado no início de setembro de 2001, num total
de 1.500 mudas sendo utilizadas as seguintes
variedades: OBATÃ-750 pés e IAPAR 59 com
750 pés. No plantio utilizou-se 100 gramas de
superfosfato simples, com espaçamento de 2,70
x 0,70 metros. O sistema de irrigação é por gotejamento (4 litros/hora) e a freqüência de irrigação é determinada pelo tensiômetro.
Para a cultura do cafeeiro é necessário um
período experimental mínimo de quatro anos
para se obter resultados conclusivos. Desta forma,
neste experimento serão verificados apenas os
caracteres agronômicos relativos ao desenvolvimento da cultura, tais como o acúmulo de matéria fresca e seca nas plantas, o desenvolvimento
do sistema radicular e da parte aérea, a ocorrência
de sintomas de deficiência e fitotoxicidade (intoxicação das plantas por excesso de nutrientes ou
outros compostos minerais ou orgânicos).
As avaliações serão iniciadas a partir de
dezembro/2001 e a irrigação realizada com
efluente sanitário tratado.
Figura 5
Cultivo do café
3.3. Terceiro experimento
Neste experimento será estudado o desenvolvimento do Tifiton (forrageira utilizada para
produção do feno). A área foi preparada e o
plantio realizado no mês de novembro.
4. Conclusão
O Projeto de Reúso de Efluente Sanitário
Tratado contribuirá para determinação de
parâmetros seguros, para sua utilização em fertirrigação. O aval de instituições de pesquisa
poderá colaborar para o estabelecimento de
critérios técnicos que permitirão recomendar o
uso dos efluentes na agricultura, contribuindo,
desta forma, para o desenvolvimento sustentável de municípios que adotaram o sistema de
tratamento através de lagoas de estabilização.
Saneas / janeiro 2002 – 41
ENTREVISTA
RMSP: uma nova vocação?
Com 10% da população brasileira, a Região Metropolitana de São Paulo
conhece período de desconcentração industrial, mas pode voltar a inchar,
reconcentrando as áreas de informação tecnológica. A previsão foi feita pelo
economista Clélio Campolina Diniz durante o Seminário Internacional
“Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo”, realizado no Parlatino,
em São Paulo, em 5 de outubro de 2001.
Entrevista
Professor e diretor da Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Clélio
Campolina Diniz é referência obrigatória quando o assunto é desenvolvimento regional. Conhecido e respeitado
no meio acadêmico, Campolina é considerado um dos pensadores mais originais na matéria. Ele defende que a
cidade de São Paulo está reduzindo
o seu crescimento em relação à área
metropolitana, mas que, por outro lado,
está surgindo no seu entorno um conjunto de grandes metrópoles, dentre
Quais as razões dessa reversão de concentração econômica ?
Em primeiro lugar, começaram a surgir a
partir da grande concentração da década de
70, as deseconomias de aglomeração, refletindo
os custos decorrentes da congestão urbana, o
aumento relativo de salários e, inclusive, as
questões de controle ambiental. Então, esse é
o primeiro fenômeno da reversão de polarização, que é um conceito teórico e empiricamente analisado no mundo inteiro, ou seja, há
concentração até um certo limite e, a partir
desse limite surgem economias de aglomeração em outras regiões e perdas das economias
de aglomeração nas regiões concentradas. Portanto, estabelecidas tais ocorrências, haveria a
tendência lógica de desconcentrar. Em segundo
lugar, a importância dos investimentos diretos
produtivos nas chamadas estatais, ou em termos
de incentivos fiscais em algumas regiões, e
ainda, o desenvolvimento da infra-estrutura,
principalmente transportes, telecomunicações
e energia elétrica, foi importante para um
processo de desconcentração econômica no
Brasil. Em terceiro lugar, os recursos naturais
42 – Saneas / janeiro 2002
as quais, Guarulhos, Osasco e o ABC.
A causa, de acordo com Campolina,
que também é professor do Centro de
Desenvolvimento e Planejamento Regional, organismo ligado a UFMG, é o
fenômeno surgido nas três últimas décadas no Brasil, denominado “reversão
da concentração econômica” ou “reversão da polarização”, caracterizado pela
redução, em cerca de 50%, do peso
da área metropolitana de São Paulo na
produção industrial do país. Na entrevista a seguir, ele explica o significado
desses conceitos.
continuavam sendo um elemento decisivo nos
padrões locacionais de um conjunto de indústrias. Todos os bens intermediários, a metalurgia, cimento, fertilizantes, tudo isso estava
muito dependente de bases de recursos naturais
e, portanto, pela dotação de recursos naturais
muitas empresas desconcentraram geograficamente suas atividades. E por último, um elemento importante foi a unificação do mercado
nacional. O Brasil era muito isolado. O desenvolvimento da infra-estrutura foi decisivo na
unificação do mercado brasileiro e, por uma
lógica de competição, as empresas também
se moveram no espaço para ocupar os mercados ou para fazer investimentos produtivos na
frente.
Que futuro o senhor enxerga para São Paulo
e sua região metropolitana?
Eu diria que São Paulo é uma cidade mundial, mas não é nesse contexto uma cidade
global. Enquanto uma cidade mundial, numa
economia importante como é a economia brasileira, a sua reestruturação produtiva amplia a
importância de São Paulo, não como centro de
Entrevista
produção industrial estrito senso,
mas como centro urbano e prestador de serviço e como centro
polarizador da economia brasileira.
Dados recentes levantados sobre a
indústria da informática no Brasil
mostraram que São Paulo continua
ampliando a sua importância relativa nesses conjuntos de atividades
mais intensivas em conhecimento.
Então, a minha primeira consideração geral é de que São Paulo
foi e continua sendo o grande
centro econômico do Brasil, tende a
ampliar cada vez mais a sua importância como polarização dos serviços, centro do comando econômico
de atividades de valor agregado
maior e porta de entrada das relações econômicas internacionais. A
área metropolitana de São Paulo
continua ganhando 250 mil habitantes por ano. Apesar de necessário, o Rodoanel vai contribuir para
concentrar ainda mais. Esse é o
paradoxo, essa é a dialética das relações: a melhor infra-estrutura tenta
resolver o problema da concentração, mas a melhoria da infra-estrutura traz mais concentração.
Frente a esse paradoxo como
melhorar as condições de vida nas
grandes cidades?
Um desafio central para o Brasil
é retomar o planejamento, não
como panacéia, não com planejamento compreensivo de tudo, mas
como indicador e balizador da ação
pública e orientação do setor privado, de ordenamento ou reordenamento do território, no qual se
inserem as áreas metropolitanas. Há
espaço no Brasil, ainda há estoque
de população rural, ainda existem
fortes processos migratórios entre
cidades médias e pequenas para
cidades grandes e, assim, ainda
se poderia fazer alguma coisa em
termos de reordenamento do espaço
produtivo para melhorar as condições de vida das grandes cidades.
Como o senhor analisa o comportamento do setor industrial nesse
processo de desconcentração?
O primeiro movimento é a desconcentração das indústrias produtoras de bens de consumo
generalizado, de baixa sofisticação
tecnológica, alimentos, calçados,
vestimentas, etc, principalmente
para o Nordeste. O segundo, a
indústria se desconcentra da área
metropolitana de São Paulo, mas se
reaglomera no macroespaço ao Sul
de Belo Horizonte. O terceiro seria o
das indústrias intensivas em conhecimento. Há aqui um desafio, isto é,
a possibilidade de darmos um salto
tecnológico. Nós temos uma elite
intelectual, uma elite empresarial,
um mercado de tamanho significativo e, consequentemente, há espaço
para o crescimento de um conjunto de atividades intensivas em
conhecimento. Para essas atividades
o fator locacional decisivo é a disponibilidade de recursos humanos
qualificados, recursos laboratoriais,
integração produtiva com as atividades sofisticadas e, portanto, isto
estaria num conjunto de cidades
limitadas, que são algumas metrópoles da região Centro-Sul ou
cidades médias dotadas de infraestrutura científica como, São
Carlos, Campinas e São José dos
Campos, que têm tido sucesso do
ponto de vista das atividades intensivas em conhecimento. Então, estes
três movimentos da indústria, em
síntese, mostram uma reconcentração macroespacial e uma tendência
de reforçar as indústrias do conhecimento nas cidades dotadas de maior
infra-estrutura de conhecimento e,
portanto, São Paulo poderia voltar
a reconcentrar as atividades mais
intensivas em conhecimento.
Isso quer dizer que a pressão sobre
São Paulo vai continuar?
Sim, principalmente devido a três
transformações contemporâneas e
suas implicações. A primeira é a
abertura externa. O Brasil tinha uma
economia muito fechada, a economia brasileira foi aberta a partir de
1990 e não poderá mais ser fechada,
portanto, a nossa inserção internacional é uma variável essencial a
considerar e só pode ser feita por
aquelas localidades que adquirem
capacidade de competição internacional. Se o Brasil conseguir dar um
salto em termos de exportação, a
região que vai conseguir exportar
só pode ser a região mais desenvolvida. A outra transformação é a
decorrente das privatizações. Através da privatização da infra-estrutura, ela será melhorada nas regiões
onde existe mais densidade econômica e, portanto, retorno econômico. Isto tende a aumentar a
defasagem da infra-estrutura entre
as regiões brasileiras. E a terceira
transformação diz respeito às
mudanças tecnológicas e reestruturação produtiva. No mundo inteiro
está sendo reduzida a importância
das atividades produtoras de bens e
aumentando a importância das atividades produtoras de serviços. Nos
países hoje industrializados, 70% do
PIB, da ocupação, já estão neste conjunto de atividades. Então, tudo isso
mostra que se o Brasil conseguir dar
um salto produtivo na reestruturação, na modernização, haveria uma
tendência de mais reconcentração
econômica. A Região Metropolitana
de São Paulo tem 10% da população brasileira e, em média, tem 20%
a 30% das qualificações apropriadas ao que chamamos de áreas tecnológicas. A literatura internacional
tenta separar as áreas chamadas
de formação tecnológica produtiva.
São as engenharias, biologias, as
informáticas, as químicas, em geral,
são as áreas de informação tecnológica. Vamos concluir que tudo isso
está nas regiões onde existe a maior
concentração econômica, a maior
concentração da infra-estrutura de
pesquisa e infra-estrutura acadêmica universitária. Então, tudo isso
levaria a uma reconcentração nesses
macroespaços, São Paulo com seus
apêndices, Campinas por um lado,
São José dos Campos por outro,
e toda a rede universitária no seu
entorno.
■
Saneas / janeiro 2002 – 43
EMPREENDIMENTO & GESTÃO
P&D
Diagnóstico do Sistema Produtor
Metropolitano: Investimentos
Realizados e Benefícios Auferidos
2. Investimentos Realizados.
A RMSP, com aproximadamente 17 milhões
de habitantes, distribuídos em 39 municípios
(10% da população do Brasil) por estar localizada próxima às nascentes do Rio Tietê, apresenta uma disponibilidade hídrica, per capita,
de 201 m³/hab./ano, muito baixa (2000m³/hab./
ano recomendado pela OMS), implicando que,
nos períodos de forte estiagem, o abastecimento público, industrial e a irrigação podem
sofrer riscos relevantes de escassez.
Nossos mananciais de boa qualidade estão
distantes e até em outras bacias hidrográficas,
enquanto os mananciais próximos sofrem com
ocupação urbana desordenada que afeta a qualidade da água, além de outros em regiões de
conflitos ambientais. Tudo isto para atender a
dois tipos de cidade: a formal – com infra-estrutura consolidada, menor crescimento populacional, renda per capita maior, consumo
elevado, enfim, a chamada cidade da cidadania, e a informal – com infra-estrutura deficiente, maior crescimento populacional, renda
per capita menor, consumo médio per capita
menor, muito desperdício e ocupação urbana
nas áreas de mananciais.
Não pode ser esquecido que nossa Região
Metropolitana, além do crescimento desordenado
e explosivo, teve a implantação do maior parque
industrial da América Latina, sem as medidas
ambientais recomendáveis para tal e sobre um
sistema de mananciais priorizados, desde o início
do século, para geração de energia elétrica.
A Região Metropolitana, devidamente institucionalizada, obriga que o gerenciamento do
abastecimento de água seja efetuado como um
todo, adotando-se soluções integradas para os
diversos municípios que a compõem.
Nesse contexto, por contar com uma empresa
de saneamento básico economicamente forte e
tecnicamente competente, a escassez tem sido
eficazmente administrada na região.
O abastecimento da RMSP caracterizou-se,
até 1995, por um círculo vicioso, com a execução
de várias obras, desde o século passado, sempre
com o registro de déficit, considerando-se que a
oferta sempre correu atrás da demanda.
Os diversos “Planos Diretores de Abastecimento da RMSP” privilegiaram alternativas
diferentes, utilização de vários mananciais, e
quase nunca, conclusão das obras necessárias.
Em 1967 foram iniciadas as obras do grande
sistema atual Cantareira que permitiu a transferência de água da bacia do Piracicaba para a
RMSP e que hoje responde pelo abastecimento
de quase 50 % da sua população, com pouco
mais de 30.000 litros por segundo.
Antes dele, tivemos as diversas etapas do
Guarapiranga, Rio Claro, Alto e Baixo Cotia e
Rio Grande.
Por último, entrou em operação o Sistema
Produtor Alto Tietê que em sua última etapa,
em andamento, utilizará as bacias regularizadas do Biritiba e Paraitinga, totalizando aproximadamente 12m³/s.
Com tudo isto, no período de 1989 a 1992
passamos por
PMA – Involução do Rodízio
situação crí6
5,2
tica de abas5
tecimento,
4
mantendo em
2,3
3
rodízio apro2
1,0
ximadamente
1
0
10 milhões de
0
Verão
95/96
Verão
96/97
Verão
97/98
set/98
habitantes.
Entre
1995
Evolução da Regularidade do Abastecimento
e 1996, as limi95,5
100
tações quanto
93,9
93,2
92,9
95
a capacidade
88,0
86,6
90
dos manan85
ciais em re80
lação às de75
mandas exigi96
97
98
99
2000
2001
Vice-presidente de Produção da Região Metropolitana da Sabesp
44 – Saneas / janeiro 2002
População (em milhões)
1. Introdução.
IRA (%)
Empreendimento & Gestão
Eng. Antonio Marsiglia Netto Empreendimento & Gestão
das pelo sistema implicaram na realização de
rodízios permanentes, atingindo aproximadamente 5 milhões de habitantes e ainda outros 2 milhões
com intermitência no abastecimento.
Em 1996, com duração prevista de 3 anos, a
programação de 80 empreendimentos e investimentos de cerca de R$700 milhões, a Sabesp
implantou o PMA (Programa Metropolitano
de Água) que propunha:
• Otimizar o desenvolvimento das estruturas
existentes;
• Eliminar a necessidade de rodízios;
• Preservar e aumentar a capacidade dos
mananciais;
• Reduzir os riscos de operação dos mananciais;
• Aumentar a capacidade de produção de água
para abastecimento, e
• Elevar o índice de atendimento da RMSP
para 100%.
Paralelamente, iniciaram-se os programas
de conservação de água, como, por exemplo, o
Programa de Redução de Perdas e o Programa
de Uso Racional da Água (PURA).
Reforço do Sistema Produtor Guarapiranga
com a reversão do braço do Taquacetuba, novo
aporte para o Sistema Alto Tietê (incorporação
de novas barragens), ampliação, adequação e otimização nas ETA’s dos Sistemas Guarapiranga,
Alto Tietê, Rio Grande e Alto Cotia, ampliação
do sistema adutor e de reservação permitiram ao
Governo do Estado, em setembro de 1998, cumprir as metas de seu programa que visava a universalização do abastecimento de água.
3. Benefícios Auferidos.
No primeiro ano (1999), após a implantação da primeira etapa do PMA, o índice de
Regularidade do Abastecimento (IRA) apresentou sua melhor performance atingindo o
valor médio anual de 95,5%, o mais alto desde
1986, quando ele foi criado.
Graças ao PMA e a parte do Programa Guarapiranga que implantou a 1ª etapa do tratamento avançado do Sistema ABV, a Sabesp
conseguiu em 2001 superar a pior estiagem
(bianual) dos últimos 65 anos sem ter recorrido
ao racionamento nos seus mais importantes sistemas produtores (Cantareira, Guarapiranga,
Alto Tietê e Rio Claro) que beneficiou pelo
menos 17,7 milhões de pessoas em termos de
saúde e bem-estar.
Reversão do
braço
Taquacetuba
da Billings para
a represa
Guarapiranga
4. Perspectivas
A fim de se manter os resultados obtidos e de
fazer frente ao crescimento populacional (cerca
de 1 milhão a mais de pessoas a serem supridas
a cada 4 anos) a Sabesp está desenvolvendo a
2ª etapa do Programa Metropolitano de Água PMA II, com investimentos previstos da ordem
de R$1,5 bilhões. Também é essencial a implementação do Programa de Saneamento Ambiental dos Mananciais do Alto Tietê, nos moldes
do Programa Guarapiranga, porém, abrangendo
todos os mananciais da RMSP.
Este programa, cuja primeira etapa foi
orçada em cerca de US$540 milhões, encontra-se atualmente em análise na esfera federal
visando a obtenção de aval para solicitação de
empréstimo junto ao Banco Mundial.
I. Programa Metropolitano de Água II (PMA II)
Previstos investimentos de R$ 1,5 bilhão, em empreendimentos
do PMA II, no período de 2002 a 2006
(antecipação de investimentos para 5 anos).
Empreendimentos:
• mananciais + 5,4 m³/s (de 63,1 para 68,5 m³/s).
• produção + 9,2 m³/s (de 67,7 para 76,9 m³/s).
• 60 km de adutoras (diâmetros de Ø 900 mm a Ø 2500 mm).
• 90.000 m³ de reservação
• 3.500 km de rede e setorização.
Nota: Inclui o Programa de Perdas.
II. Programa de Saneamento Ambienal dos Mananciais da RMSP
Previstos investimentos de US$ 1,43 bilhão em 12 anos, com
financiamento BIRD. A 1ª etapa (4 anos), em negociação, prevê
investimentos de US$ 542 milhões (Billings - 314 milhões,
Guarapiranga - 201 milhões e Alto Tietê e outros - 27 milhões)
Saneas / janeiro 2002 – 45
HISTÓRIA DO SANEAMENTO
Fatos da história do abastecimento
de água de São Paulo
Eng. Mario Izumi Saito
História do Saneamento
Um dos reservatórios de acumulação construído pela
Companhia Cantareira e Esgotos, ainda existente no
Clube da Cantareira da Associação Sabesp, utilizada
para a prática de pesca esportiva.
D
esde os primórdios da povoação, o abastecimento de
água à população paulistana foi
sempre deficiente e precário.
A rápida expansão da economia paulista na segunda metade
do século XIX, particularmente
após o último quarto do século,
demarca novo momento na história do abastecimento de água
na cidade de São Paulo.
Em 1863, o governo da Província comissionou o engenheiro
James Brunless, de Londres, para
estudar um plano geral de abastecimento e também de esgotos
que solucionasse definitivamente
os problemas da falta de água
e das ameaças de epidemia pela
falta de higiene, que pairava sobre
a população paulistana.
Assim, James Brunless, auxiliado pelos engenheiros Hooper
e Daniel Makinson Fox, elabora
a planta topográfica da cidade,
traçando o projeto do respectivo
abastecimento de água e rede
de esgotos. Os estudos desenvolvidos concluíram que a solu-
46 – Saneas / janeiro 2002
ção viria da região da Serra da
Cantareira, por sua proximidade
com a cidade e pela excelente
qualidade de suas águas.
Em 1877, organiza-se a “Companhia Cantareira e Esgotos”, uma
empresa privada, com o propósito
de explorar os serviços de água
e esgotos na Capital pela aquisição do privilégio concedido a
Daniel Makinson Fox e seus associados, constituídos pelos capitalistas coronel Antonio Proost
Rodovalho e major Benedito
Antonio da Silva. Engenheiros
ingleses são contratados pela
Companhia Cantareira para
desenvolver o projeto e Henry
Batson Joyner é contratado, em
Londres, como superintendente
da Companhia.
Iniciados os trabalhos, a equipe
de Joyner realiza um preciosíssimo
levantamento de campo e elabora
a Planta Cadastral da Cidade de
São Paulo. Constrói-se dois grandes reservatórios de acumulação
para represamento das águas dos
mananciais da Serra da Cantareira,
com capacidade de 50 milhões
de litros, considerados enormes
na época. Constrói-se também o
reservatório da Consolação e uma
adutora de 30 centímetros de
diâmetro, interligando o manancial da Cantareira com o reservatório da Consolação. Em 1882, as
águas da Cantareira já abastecem
a cidade de São Paulo.
A população da cidade crescia
rapidamente e, em 1890, atingia
a marca dos 70 mil habitantes. A
Companhia Cantareira se mostrava
impotente para manter os serviços
e precisava ampliar o sistema.
Como a Companhia Cantareira não dispunha de recursos
financeiros suficientes para aten-
der a crescente demanda dos
serviços, o Governo do Estado,
através da Lei Estadual 92 de
28/08/1892, declarou sem efeito o
contrato de concessão que havia
firmado e resolveu encampá-la. A
primitiva sociedade foi transformada em órgão da administração
do Estado, sob a denominação de
Repartição de Águas e Esgotos RAE. Foi a primeira estatização
que se deu em São Paulo.
A Serra da Cantareira, até fins
do século XIX, era uma região
de fazendas de café, chá, cana
de açúcar e chácara de hortifrutigranjeiros. Parte da mata que
existe hoje, tinha sido derrubada
para dar lugar à agricultura.
O nome “Cantareira” foi dado
à serra pelos tropeiros que faziam
o comércio entre São Paulo e
outras regiões do país, nos séculos XVI e XVII, por causa da
grande quantidade de nascentes e
córregos encontrados na região.
Naquela época era costume armazenar água em jarros chamados
cântaros, e chamavam-se “Cantareira” o local onde os cântaros
eram guardados.
O Estado, visando a captação
e proteção das nascentes para
abastecimento da cidade, adquiriu
inúmeras áreas, desapropriando
várias fazendas na serra, a partir de
1890, compondo a superfície atual
do Parque Estadual da Cantareira,
totalizando uma área de 7.916,2
hectares. Essas compras foram
orientadas pela RAE - Repartição
de Águas e Esgotos. Com a desapropriação, a área foi decretada
“Reserva Florestal do Estado” e, em
1963, esta Reserva Florestal foi elevada à categoria de parque, recebendo a denominação de “Parque
Estadual da Cantareira”.
História do Saneamento
Passando para as mãos do
Estado, as obras de abastecimento
de água começaram a tomar
vulto. A serra era longe e a subida,
extenuante. Naquela época, não
se conhecia automóvel e as carroças para chegar até lá levavam
horas e horas, tornando o serviço
muito oneroso. Foi, então, que se
aventou a idéia de construir uma
linha de trens para o transporte
de materiais para as obras.
Este foi o motivo da implantação do Tramway da Cantareira,
uma estrada de ferro, ligando
a Capital e a Serra da Cantareira, para transportar materiais
de construção e equipamentos
destinados à ampliação do sistema de produção e adução de
água para a cidade que, posteriormente, se transformaria em
trem suburbano.
Uma linha de baixo custo,
que além de servir para a construção e conservação dos serviços de água, viria prestar
serviços aos agricultores da zona
percorrida, em benefício do
abastecimento da cidade de
gêneros alimentícios, lenha e
pedra de construção.
Estudos para a escolha do
melhor traçado foram realizados, sendo indicada a estação
do Pari como ponto de partida
para melhor combinação com
a Estrada de Ferro Inglesa, que
trazia tubos, tijolos, ferro, cimento
etc. de Santos para o armazém
do Pari, onde seria baldeado para
o trenzinho da Cantareira, que o
levaria ao local das obras. Como
ponto final foi indicado o local
dos antigos reservatórios de acumulação (atual Clube da Cantareira da Associação Sabesp).
Os materiais e equipamentos
utilizados na construção eram
importados (quase tudo), principalmente, da Inglaterra. Por
exemplo: o cimento vinha da
Inglaterra acondicionado em
tonéis de madeira.
Em 1893, a população já ascen-
dia 126 mil habitantes e em 1900,
240 mil habitantes. A RAE mobiliza novos mananciais e constrói,
em 1904, a Casa da Bomba para
bombeamento das águas do córrego Engordador e, em 1907,
inaugura-se a barragem para
represamento das águas desse
manancial. Imediatamente, iniciam-se novas obras objetivando
o aproveitamento dos mananciais
do Cabuçú e Barrocada, terminados em 1910.
A mobilização desses novos
mananciais, Engordador, Barrocada e Cabuçú, exigiu a construção do ramal ferroviário
“Tramway da Cantareira”, utilizado para transportar materiais
e equipamentos utilizados na
construção de adutoras, casa de
bombas, barragens, etc.
A administração do “Tramway” que era da RAE foi transferida para a Inspetoria de Estradas
de Ferro e Navegação e, em 1964,
o trenzinho é desativado.
Os reservatórios de acumulação da Cantareira alimentados
também pelas sobras da caixa
de junção e dos mananciais do
Guaraú e Engordador (na fase
inicial de operação do sistema,
por bombeamento), formavam o
Sistema Cantareira Antigo.
O Sistema Cabuçú era outro
complexo produtor, que aduzia
águas do rio de mesmo nome,
dos córregos Barrocada e Engordador (por gravidade para a adutora do Cabuçú). Em 1954, na
parte terminal da adutora do
Cabuçú, em Santana, foi construída uma Estação de Tratamento de Água, com capacidade
de 500 L/s, onde toda água desse
sistema passa a ser tratada.
O Sistema Cantareira Antigo
e o Sistema Cabuçú abasteceram
partes das cidades de São Paulo
e de Guarulhos até meados da
década de 1970, quando entra em
operação o Novo Sistema Cantareira, um dos maiores conjuntos
produtores de água no mundo.
Placa inaugural dos reservatórios em 1882
Trenzinho da Cantareira
Traçado da linha da Tramway Cantareira.
Sistemas Cantareira Antigo e Cabuçú.
Saneas / janeiro 2002 – 47
Novidades
Novidades
Bancada Móvel para
verificação de
hidrômetro no cliente
Q
uando a Sabesp retira um hidrômetro antigo
- colocando em seu lugar um outro de tecnologia mais moderna - a medição melhora muito,
gerando às vezes reclamações por parte dos clientes. Para atendê-los de forma ágil e no próprio local,
foi desenvolvida uma bancada móvel montada em
um veículo que permite que se faça uma verificação
metrológica do hidrômetro na presença do cliente
obedecendo aos parâmetros definidos na Portaria
INMETRO 246/00. Este equipamento tem capacidade para verificar hidrômetros de todas as classes
metrológicas (A, B e C) e de capacidades de 1,5m³/h,
3,0m³/h, 5,0m³/h, 7,0m³/h e 10m³/h sem utilizar
água nem energia elétrica do cliente. Vale ressaltar
que o Departamento de Medidores - MPM - já
possui patente referente ao equipamento e desencadeou a aprovação do procedimento de verificação
metrológica junto ao INMETRO.
Por que cobrar pelo uso
de um bem público?
P
ublicado em 2000, antes da
criação da Agência Nacional
de Água - ANA, o livro “A
cobrança pelo uso da água”,
coordenado pelo então Secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Estado de
São Paulo, Antonio Carlos de
Mendes Thame, aborda os diferentes aspectos que envolvem a
cobrança pelo uso da água, abrangendo desde os fundamentos jurídicos aos impactos que
a medida causaria nos setores agrícola e industrial. Com
artigos competentes, a publicação cumpre o objetivo a
que se propôs: torna transparentes conceitos e premissas, além de esclarecer dúvidas sobre um projeto que
já tem data marcada para se concretizar no Estado
de São Paulo. A partir de junho, quem retirar água
da bacia do Rio Paraíba do Sul vai pagar por isso.
O assunto estará, cada vez mais, inserido na pauta
dos grandes temas nacionais. (R$ 25,00 no site http://
www.aguaonline.com.br/livro2/formulario2.htm)
48 – Saneas / janeiro 2002
Parceria Infalível!
Biossólidos na Agricultura
O
bra muito importante para
o momento que atravessamos, pois permite uma visão sistêmica da questão da utilização
do biossólido, desde o tratamento
dos esgotos e geração do lodo,
até a engenharia da aplicação
dos biossólidos em áreas agrícolas, passando pelos aspectos da
legislação e da certificação, dentre
outros.
Traz no seu conteúdo e na sua
forma o resultado eficiente e eficaz de uma parceria infalível, que é o trabalho conjunto das Universidades com as áreas operacionais do saneamento
básico. É a “Engenharia Operacional do Saneamento” sendo lapidada pelas Universidades, as Universidades dando sentido prático às suas atividades,
resultando num produto de altíssima qualidade,
com o fundamental embasamento teórico, e o mais
importante, um material prático e de consulta fácil.
Reconhecimento
Reconhecimento
Homenagem da AESABESP
a uma verdadeira SELEÇÃO
F
aça um teste. Se você tem mais de 15 anos
de Sabesp, dificilmente deixará de concordar com esta homenagem. Se tiver dúvidas, recorra à publicação “Homenageados
AESABESP - 1987 - 2000” e poderá constatar
que a homenagem é justa.
Esta foto é a prova cabal de que o
tesouro maior de uma instituição são seus
funcionários.
Esta seleção valorosa, cada um a seu modo,
na sua posição dentro de campo, certamente
contribuiu para o bem-estar do nosso povo.
Saneas / janeiro 2002 – 49
Cafezinho
Cafezinho
Aconteceu de verdade !
O diretor de uma grande empresa recebe um funcionário
em sua sala que dizia ter uma mensagem urgente:
– Sr. Diretor aconteceu um acidente horrível. Caiu um
caminhão cheio de Xileno no rio que abastece nossa cidade.
O diretor estarrecido prontamente questiona:
– Havia algum brasileiro entre eles?
Vertical
1. Processo em que lagos, rios, baías
e estuários vão sendo aterrados pelos
solos e outros sedimentos neles depositados pelas águas das enxurradas,
ou por outros processos.
2. Último estágio da erosão.
3. Mistura de gases cuja composição depende da forma como foi
obtida. De modo geral sua composição é variável e é expressa em
função dos componentes que aparecem em maior proporção
4. Técnica de elaborar mistura fermentada de restos de seres vivos,
muito rica em húmus e microorganismos, que serve para, uma vez
aplicada ao solo, melhorar a sua
fertilidade.
6. Relatório de Impacto do Meio
Ambiente
8. Totalidade das espécies vegetais que compreende a vegetação
de uma determinada região, sem
qualquer expressão de importância individual.
11. Estudo de Impacto Ambiental
13. Resíduo líquido proveniente de
resíduos sólidos (lixo), particularmente
quando dispostos no solo, como por
exemplo, nos aterros sanitários
14. É o componente não vivo do
meio ambiente. Inclui as condições
físicas e químicas do meio.
18. Local onde o lixo residencial
urbano é depositado, com pré-requisitos de ordem sanitária e ambiental.
19. Fração orgânica coloidal, estável, existente no solo, que resulta
da decomposição de restos vegetais e animais.
Horizontal
5. Processo pelo qual a camada
superficial do solo ou parte do
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solo é retirada pelo impacto de
gotas de chuva, ventos e ondas,
sendo transportada e depositada
em outro lugar.
7. Organização Não Governamental
9. Conjunto de seres vivos que habitam um determinado ambiente ecológico, em estreita correspondência
com as características físicas, químicas e biológicas deste ambiente.
10. Conjunto integrado de fatores
físicos, químicos e bióticos, que
caracterizam um determinado lugar,
estendendo-se por um determinado
espaço de dimensões variáveis.
12. Todo corpo d’água utilizado
Solução das palavras-cruzadas no próximo número
50 – Saneas / janeiro 2002
3
para o abastecimento público de
água para consumo
15. Conjunto de animais que habitam determinada região
16. Ciência que estuda a relação
dos seres vivos entre si e com o
ambiente físico
17. Quantidade de matéria orgânica presente num dado momento
numa determinada área, e que
pode ser expressa em peso, volume,
área ou número
20. Conjunto equilibrado de animais
e de plantas de uma comunidade
21. Ato de extrair madeira e minerais das florestas e jazidas, respectivamente
AESABESP
Agradecimentos
Américo de Oliveira Sampaio
Edison Airoldi
Edson Santana Borges
Gilberto Alves Martins
José Lavrador Filho
José Yazo Gondo
Luis Shintate
Luiz Yushigue Narimatsu
Marcelo Kenji Miki
Marli Meireles R. Hellmeister
Odair Marcos Faria
Paulo Massato Yoshimoto
Ricardo Araujo
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