UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR A FANTASIA E A REALIDADE NA PRODUÇÃO TEXTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL PROFESSOR ORIENTADOR NELSOM MAGALHÃES DISCENTE JANE BRAGA MOREIRA MELO TURMA – T:NN102 Niterói, 2005 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho acadêmico monográfico à minha família, que me aturou em todas as dificuldades da minha T.P.M. (tensão pré-monográfica) e durante as minhas insônias pré-textuais. Dedico também ao corpo docente do curso de PósGraduação e aos alunos do Colégio Salesiano Santa Rosa que colaboraram para a realização deste trabalho. Finalmente, dedico aos meus pais, Jayme José Moreira (In memoriam) e Joanna Braga Moreira, meus primeiros professores na universidade da vida. EPÍGRAFE Esta monografia tem o objetivo de entender e reconhecer a mensagem que nos é passada pelos jovens nas suas produções textuais. E como o jovem é o futuro, é preciso acreditar e ajudar. “Não existe alguém que nunca teve um professor na vida, assim como não há ninguém que nunca tenha tido um aluno. Se existem analfabetos, provavelmente não é por vontade dos professores. Se existem letrados, é porque um dia tiveram seus professores. Se existem Prêmios Nobel, é porque alunos superaram seus professores. Se existem grandes sábios, é porque transcenderam suas funções de professores. Quanto mais se aprende, mais se quer ensinar. Quanto mais se ensina, mais se quer aprender. (IÇAMI ,TIBA Quem ama, aprende) Resumo Quando se levantam hipóteses, elas naturalmente passam a requerer confirmação ou contestação. É preciso averiguar, interpretar, coletar, provar. O objetivo deste trabalho é, através da visão psicopedagógica, confirmar que a fantasia e a realidade se entrelaçam como fios numa rede. A produção escrita dos aprendentes (alunos de 8ª série do Ensino Fundamental) explicita que todo ser humano pode interagir, dando pistas, através das palavras. A leitura, entendimento e percepção destes sinais enviados para nós, professores e/ou psicopedagogos, serão de muito valor para ajudá-los, ouvi-los e encaminhá-los. Ao identificar e analisar o que foi sinalizado (conflito, queixa, desilusão, problemas de aprendizagem e familiares), o professor terá o poder para acionar a cura, a solução. Fica bem claro que as mensagens são passadas pelos aprendentes nas suas produções escritas e podem ser decodificadas assim como um sorriso, ou um choro, ou um canto de pássaro, ou um pedido de socorro. Como a escrita é marca, ao escrever o adolescente revela-se, partilha os segredos, as verdades, as fantasias e as realidades. SUMÁRIO Dedicatória Epígrafe Resumo Introdução 1. A luta pelo significado 1.1.Conceituando o significado 1.2. A vida interior 1.3. A vida exterior 2. Fantasia e realidade 2.1.Conceituando fantasia e realidade 2.2. A escola e a vida 2.3. A construção do texto 3. Os caminhos do conhecimento 3.1. Conceituando o conhecimento 3.2. O conhecimento da verdade: A reconstrução do texto 3.3. Transcendendo a adolescência Conclusão Referências Anexo A Anexo B Anexo C Anexo D Anexo E Anexo F Anexo G Anexo H Introdução Durante a minha experiência profissional tenho observado a produção textual dos meus alunos. Graduada em Letras, leciono há trinta anos no ensino médio e fundamental e venho percebendo durante a realização de textos solicitados nas aulas de redação que nem tudo que é escrito pelos alunos é irreal ou fantasioso. Parando para pensar, veio à minha mente a estorinha de Jack, o estripador. Ele queria porque queria conhecer o ser humano, seu corpo, sua alma. Ele queria conhecer o sentido do SER HUMANO. Sabe o que ele fazia? Saía à noite à procura de espécimens humanos. Encontrava-os, levava-os para seu escuro castelo e matava-os. Em seu castelo, munido de afiados facões e cortantes machados, ia separando cada parte das pessoas capturadas. Cortava-lhes a cabeça e dela arrancava os miolos, dividia cada miolo, um por um, para ver de que eram compostos. Ia colocando cada parte e cada parte da parte numa enorme bancada de mármore branco. Observava-as uma por uma separadamente. Tinha até um método científico de observação pois ele havia feito um curso de pós-graduação em pesquisa numa conceituada universidade de um país de primeiro mundo. Depois era a vez do tronco, dos membros, das pernas, dos pés. Levou anos capturando corpos inteiros e dividindo suas partes e as partes de suas partes. Ao final de cada operação feita em cada corpo, punha-se de longe, olhando, observando as partes expostas na bancada de mármore. Ficava intrigado: nem mais os corpos conseguia reconhecer; a alma, essa sequer foi vista. Nunca. Só via partes que eram tão partidas que, às vezes, nem sabia se as tinha tirado da cabeça, do tronco ou dos membros. Tudo aquilo só se tornou um amontoado de carne cortada, esfaqueada, estripada. Como nunca usei esta estratégia e sabendo a que produção escrita pode ser contaminada pela visão de mundo dos seus autores, posso e pretendo mostrar que a visão psicopedagógica enriquece a observação destes textos que não são neutros para quem os produz ou lê. Sabendo que a psicopedagogia pretende explicar também que na fabricação do problema de aprendizagem como sintoma intervêm questões que dizem respeito à significação inconsciente do conhecer e do aprender e ao posicionamento diante do oculto, fica enfatizado também que a exploração e compreensão destes textos produzidos pelo aprendente podem ajudar a reconhecer sua alma de aprendente/ensinante, o que Jack, o estripador não conseguiu das suas vítimas mutiladas. Nesse momento, em que o aluno imprime o seu próprio pensamento e saber, registrado na própria palavra, a visão psicopedagógica encontra pistas que podem ser inconscientes ou não, mas são pistas sobre os processos de apropriação e autoria de pensamento. O trabalho psicopedagógico junto com a produção textual será menos enigmático pois pode-se identificar, antecipar e pesquisar o que já foi registrado na palavra. “... Uma pedra lançada em um pântano provoca ondas na superfície da água, envolvendo em seu movimento, com distâncias e efeitos diversos, os golfões, as taboas{(planta aquática)} e o barquinho de papel. Objetos que estavam ali por conta própria, na sua paz ou no seu sono, são como que chamados para a vida, obrigados a reagir , a se relacionar. Outros movimentos invisíveis propagam-se na profundidade, em todas as direções, enquanto a pedra se precipita agitando algas, assustando peixes, causando sempre novas alterações moleculares. Quando toca o fundo, revolve a areia, encontra objetos ali esquecidos, desenterrando alguns e recobrindo outros. Em um tempo brevíssimo, inúmeros eventos sucedemse, sem que possamos registrá-los Da mesma forma, uma palavra escolhida ao acaso, e lançada à mente, produz ondas de superfície e de profundidade, provoca uma série infinita de reações em cadeia, agitando em sua queda sons e imagens, analogia e recordações, significados e sonhos, em um movimento que toca a experiência e a memória, a fantasia e o inconsciente, e que se complica pelo fato de que essa mente não assiste passiva à representação, mas nela intervêm continuamente, para aceitar e rejeitar, relacionar e censurar, construir e destruir.” (Rodari,.1982, 14). Retornando a Jack, que não conseguiu conhecer a alma humana e que não foi tão eficaz com seus facões e machados, poderemos através de uma folha de papel em branco, um lápis, uma idéia, e muita realidade/experiência verificar que o sujeito oferece a sua história, o seu conhecimento através da linguagem escrita. 1. A luta pelo significado 1.1. Conceituando o significado Observo, através de textos produzidos, que a grande maioria dos adolescentes ao iniciar a produção textual diz que não tem nada na cabeça, está sem idéia para escrever. Falo para eles que para escrever é importante ler, até bula de remédios vale. A literatura traz informação, emoção, desenvolve a mente e a personalidade, estimula e sempre acrescenta algo a nossas vidas. Através de textos, dos contos de fadas, das crônicas e das poesias o jovem encontrará soluções para enfrentar a vida que a cada dia que passa torna-se mais tumultuada. Nessa mistura de sentimentos, contradições, culpas, fracassos, incompreensões e mistério o jovem busca se conhecer e aprender a seguir o caminho que lhe parece assustador. O que se lê só terá significado se acrescentar algo a sua vida, conhecimento/aprender, assim como uma pedra que jogada no rio trará outras que construirão e definirão os sentimentos, os significados que trarão as soluções. No ato de ler, antes da relação entre leitor e autor, existe outra fundamental: entre leitor virtual, aquele imaginado pelo autor no ato da escrita e leitor real, que na escola se identifica com o aluno cujo texto eu tento compreender. A relação será entre o dito e o não-dito, pois o aprendente é o produtor de sua história que depende de sua vida, de sua classe social, seus hábitos, códigos e de imagens que ele faz das coisas do mundo. Sabemos que todo discurso nasce em outro (sua matéria-prima) e aponta para outro (seu futuro discursivo):, que o sujeito (aprendente) não é a fonte exclusiva do seu dizer: que a linguagem é incompleta: que, quando se lê, considera-se não apenas o que está dito, mas também o que está implícito pois é ai que se sustenta o que está dito. Baseado nos fatos expostos, os textos produzidos pelos adolescentes são polissêmicos e todos os sentidos são possíveis, dependendo da história de quem os escreve. O professor de Redação tem um compromisso com o entendimento do que está escrito também nas entrelinhas, pois a linguagem não pode perder a sua natureza de ação entre interlocutores (escritor-leitor) podendo ver que há uma relação instaurada entre sujeitos (professor e autor), mediados pela interação ensino-aprendizagem. A materialidade lingüística do texto(palavras, frases) é apenas um aspecto. O mais importante é procurar intenções, não-ditos, implícitos, pressuposições, conhecimento de mundo e afetividade do aluno escritor. “O eixo para se ajudar a escrever e ler deve estar na pessoa que forma as palavras”, pois é ela quem outorga significados, significados, significações e dá sentido. O eixo está neste ser humano que aprende colocando em jogos seu organismos, seu corpo, sua inteligência, seu desejo inconsciente, seu querer, isto é, uma máquina desejante – imaginativa - pensante”.(Fernandez 2001,151) 1.2. A vida interior Escrever é eleger, decidir, mostrar-se (Fernandez.) Escrever é marcar. A palavra está ligada ao corpo. Pode-se remeter ao ato de expulsar urina e fezes, a fazer sair a saliva e o esperma. Escrever vem e sai como a sucção do leite materno. Escrever é um fluxo que tem como ponto de partida o interior, o psíquico, a matéria orgânica de qual é feita o indivíduo. A atividade do pensamento na produção escrita está relacionada como os fios de uma teia de aranha. Não sendo invisível e sendo sempre ligados à vida interior de quem a escreve. Os significados atravessam a pele, saem na ponta do lápis e se transformam em palavras. O ser humano precisa de alimento para viver assim como precisa de sonhos e sentimentos para escrever. Escrever é revelar-se, deixar sair o segredo, partilhar as verdades, as dúvidas, as fantasias e as realidades. Recorrendo a Freud que mencionava uma “fonte somática” do afeto citando o seio materno como primeiro objeto erótico da criança e que o amor se engendra sustentado na necessidade de nutrição satisfeita, podemos relacionar vida interior à produção de textos. Haverá prazer de escrever se houver prazer ao se alimentar neste seio . Haverá relação/conexão com sua máquina desejante – imaginativa - pensante se houve afeto neste mesmo ato de sucção que gerou o alimento que hoje, pode tornar-se palavra escrita. Como sabemos que todo ser tem aspectos físicos, biológicos, mentais, psicológicos, culturais e sociais diferentes, também sabemos que sua produção escrita será reflexo dessa miscelância, dessa multidimensão que compõe sua vida. O olhar diferenciador pressupõe o conhecimento de vidas interiores díspares que conduzem à produções escritas únicas e marcadas pelo toque individual do aprendente escritor. “Por isso escrevo e escreverei: para instigar o meu leitor imaginário – substituto dos amigos imaginários da infância? – a buscar em si e compartir comigo tantas inquietações quanto ao que estamos fazendo com o tempo que nos é dado.” (LUFT, Lia – 2003 - capa) O nosso amadurecimento psíquico e social acompanha o nosso amadurecimento lingüístico. Através do exercício da linguagem, nos afirmamos não só como pessoas, mas como cidadãos, num processo contínuo de busca da liberdade. O caráter privado da fala seria a utilização que cada indivíduo faz da língua. É o aspecto individual da linguagem humana. a língua é o lado público e coletivo da linguagem humana, ao passo que a fala/escrita é seu lado privado e individual. Sendo um bem privado, é um ato individual. Cada falante (aprendente) pode usá-la como bem lhe aprouver dentro das regras preestabelecidas pelo contrato coletivo ajustado com os demais falantes. Constatamos que apesar da grande invasão das imagens no mundo da comunicação, ainda somos uma civilização da escrita. Os antigos romanos já diziam: “verba volant: scripta manent”, isto é, as palavras voam, aquilo que está escrito permanece. Solicitamos aos alunos de 8ª série do Colégio Salesiano Santa Rosa que criassem uma história que apresentasse algum tipo de conflito. A faixa etária é de 14 anos, os nomes foram omitidos e não foram feitas correções ortográficas. Os textos estão no ANEXO A. 1.3. A vida exterior Sabemos que há aspectos de fora do texto (extralingüísticos) que determinam a sua produção. O conhecimento da língua é apenas uma parte do necessário para a compreensão do que se lê e escreve. Não é só o trabalho de se juntar as palavras e frases que darão o resultado final na elaboração de uma redação. No momento em que o aprendente lê um livro ou uma crônica e a ele é solicitado que a reescreva, mudando o final, o início, ou o meio, neste momento, ele poderá identificar-se com um dos protagonistas do texto e passará a agir como ele próprio, na sua vida real. As situações da sua vida exterior entrarão na composição do que lhe foi solicitado e é nessa exterorização que poderemos tomar conhecimento dos seus problemas mais íntimos e reais. A catarse será um processo transformador através das palavras colocadas no texto, carregadas de significados e determinantes para que juntemos os fatos à solução. A externalização pode ser o único caminho pelo qual o adolescente parece mostrar controle ou descontrole desta ou daquela situação, sempre através dos textos (produzidos) escritos. Os conflitos da vida cotidiana, a violência, os relacionamentos com pais, professores e amigos são produtos da vida exterior que se refletem na palavra , no texto. O mundo, a História, a existência, o ser humano na sua dimensão cósmica tornam-se “pano de fundo” no ato de escrever. É nesse movimento de análise crítica dos conhecimentos externos que ocorrem e na transformação que eles ocasionam que surgem a idéia, a palavra, a redação. Após ouvirem a música “Tô nem aí”, propusemos a adolescentes de 8ªsérie que escrevessem dois parágrafos: Tô aí.... e Tô nem aí. A faixa etária é de 14 anos e são alunos do Colégio Salesiano Santa Rosa Os parágrafos selecionados encontram-se no ANEXO B, e os nomes foram omitidos assim como não foram feitas correções ortográficas. ANEXO A – A vida interior Eu sou X X X X estudo no Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói no Estado do Rio de Janeiro. Sou um garoto muito bagunceiro, por isso sou muito marcado na escola, então qualquer coisinha o primeiro a tomar esporro sou eu. Um dia resolvi ficar queto, mudar de comportamento, prestar atenção nas aulas etc. Só que eu percebi que não adianta muito, porque as pessoas podem estar conversando como eu, mas só eu tomo esporro. Tento melhorar só que me da raiva as pessoas fazendo coisas piores que eu, e os professores nem ligando, só que quando eu abro a boca já tomo esporro. As vezes acabo perdendo a cabeça e não penso no que faço. É isso o conflito de aluno bagunceiro.com aluno. Ciúme Naquele dia ensolarado, exatamente numa manhã de domingo, Manuela e João resolveram ir à praia com os amigos. Manuela, uma adolescente que sente muitos ciúmes do namorado, já foi avisando para ele ficar do lado dela na areia ou em qualquer outro lugar. João, apavorado com o que a namorada podia fazer, logo falou que ficaria só com ela e não com os amigos. Mas aconteceu exatamente o contrário, João chegou na praia e deixou Manuela para trás com a amiga dela. Já foi tirando a camisa e correu para a água com dois amigos. De repente, quando Manuela chegou na praia e viu que seu namorado estava com os amigos conversando com umas meninas na água. Pronto! Manuela fez um escândalo e correu para a água para tirar satisfação. Então, João que já não aguentava mais essa crise de ciúmes deu um fora em Manuela e disse que ela não manda na vida dele e que ele poderia ficar com quem ele quisesse. Furioso, Manuela terminou tudo com João, e este super contente com a notícia, ficou com os amigos na praia, deixou Manuela sozinha e arrumou outra namorada lá mesmo. Um Casal Perfeito Carla, era uma mulher muito bonita. Tinha cabelos negros e longos, olhos verdes e corpo escultural. Era o sonho de qualquer homem, mas apenas um tinha essa sorte. O nome dele é Rafael. Ele também é muito bonito. Todos diziam que eles faziam um casal perfeito. Eles eram noivos, já moravam juntos em uma casa na Barra da Tijuca e não tinham filhos, mas pretendiam ter três. Sempre saiam juntos. Os dois tinham um ótimo humor, eram sempre alegres, sorridentes, uma ótima companhia para qualquer programa. Eles não brigavam por nada, afinal não tinham nenhum motivo para desconfianças. O amor deles era maior do que essas besteiras. Um dia, quando Rafael chegou do trabalho, viu Carla chorando. Nervoso, ele perguntou o que havia acontecido. Carla falou que nunca esperava isso dele e que nunca mais queria vê-lo, jogando com força a aliança no chão. Rafael não sabia o que fazer, afinal ele não havia feito nada. Carla jogou as roupas dele na cama até que ele conseguiu acalma-la um pouco. Ela contou que uma amiga lhe enviou fotos por email dele com outra mulher. Ele examinou as fotos e percebeu que tudo aquilo foi feito através de uma montagem. Ele mostrou para ela que tudo era uma farça. Arrependida, Carla pediu desculpas e arrumou toda a bagunça que havia feito. Ela prometeu que nunca mais o acusaria sem antes conversar. Depois disso, eles voltaram a ser um casal perfeito, porém com uma amizade a menos. ANEXO B – A vida exterior Tô nem aí... para minha madrasta, pro meu ex, para os que não gostam de mim, para o Bush . Tô aí... para os meus estudos, para os meus amigos, para minha família, para quem eu gosto e para os que me amam. Tô nem aí... para os amigos falso, para a minha casa, para o colégio, para o futuro... Tô aí... para meus amigo, para sair, me divertir, curtir a vida, curtir o presente... Tô nem aí... para o que as pessoas dizem Tô aí... para as pessoas que querem o meu bem Tô nem aí... pras drogas Tô aí... pra diversão pros estudos pro surf pra praia pros problemas pras noitadas pras brincadeiras Tô nem aí... pro que os outros pensam de mim, pra falsidade, tristeza, para o mundo, inveja, inimigos, dinheiro... Tô aí... pra família, para os amigos, para viver, para aproveitar tudo, de bom, esquecer tudo de ruim, errar, acertar, praia, para as mulheres... Tô nem aí... para quem não gosta de mim, para pessoas mal-educadas, para as pessoas que falam mal de mim, para as políticas, para os EUA, para o que pensam de mim(+/-). Tô aí... para o estudo, para a vida, para ser feliz, para me divertir, para ser eu mesma, para beijo na boca, para curtir, para descobrir os mistérios da vida, para dar amor a quem precisa, para fazer mais e mais amigos, para ”tudo’, para pizza, lazanha... Tô nem aí... para o B quero o esquecer! Não vou sofrer por ele Não tô nem aí para a chuva! Tô aí... para o showzinho do F.D. que vai ser hoje e estou muito aí para o show. E para minha família, amigos e estudo. Tô nem aí... pra chatice, homonxualidade, depressão, baixo astral, drogas, inveja, egoísmo e angústia. Tô aí... pra música, mulheres, instrumentos, amigos, alegria, diversão, comédia e arte. Tô nem aí... para o tédio, para as pessoas chatas para drogas. Tô aí... para pegar onda, ir para praia, ouvir música boa e aproveitar a vida. Tô nem aí... para o que as pessoas falam de mim, só quero me divertir, tô nem aí para os outros garotos, tenho um namorado que amo, tô nem aí para as pessoas falsas, por que tenho amizades verdadeiras e puras, tô nem aí para a vida, porque tenho tudo que quero... 2 Fantasia ou Realidade 2.1. Conceituando fantasia e realidade Existe a fantasia. Existe a realidade. A palavra se constrói e se entrelaça entre ambas. Qual é o limite da realidade? Onde está a fantasia? Quase todos os textos lidos pelos alunos são atribuídos a um autor e os textos escritos pelos alunos na escola, a partir de uma proposta dada pelo professor têm origem neles, alguém que, num momento qualquer de sua vida, pára e escreve sobre algo que o estimula, ou lhe interessa, ou o preocupa. Quando o(s) alunos(s) escreve(m), tudo que escreve(m) sai única e exclusivamente dele(s)? Ou estes textos têm relação com outros textos já escritos? Ou, naquele momento, naquele texto, aproveitando a deixa, aparecem os conflitos, as desilusões, as queixas, os problemas? Sabemos que a palavra libera e tem valor. Ser criativo é saber usar a imaginação, enriquecendo e revelando ao passar pelos caminhos da fantasia o que na verdade pode ser a realidade e não o sonho. A entrada na realidade será realizada através da fantasia, porque é muito mais fácil “fazer de conta”, sem qualquer controle externo, sem noção temporal, mas cheia de significados facilmente identificáveis. Sem estar consciente disso, o adolescente pode contar através de outro personagem suas aflições, dúvidas, tristezas, frustrações. A lógica pode estar na fantasia ou na realidade. O texto pode ser escrito com intenção de revelar através da fantasia o que perturba um adolescente, assim como pode estar impregnado de realidade refletindo a verdade nua e crua. Podemos pressupor que a verdade pode ser relativa e que em vários momentos a escrita é uma constante para organizar os referenciais da própria sobrevivência. Neste momento entram as próprias vivências e as necessidades do momento, aí entra a realidade. Os alunos estimulados a escrever com liberdade o que estão pensando e de acordo com o exposto, aparecem a intencionalidade, a situcionalidade, a intertextualidade e a informatividade. Após a leitura do livro “O diário de Tati” de Heloísa Perissé, solicitamos aos alunos de 8ªsérie que reescrevessem a última página do livro lido. Os textos selecionados estão no ANEXO C, e não foram feitas correções ortográficas, sendo os nomes omitidos. 2.2. A escola e a vida Vimos nascer o tema fantástico- a primeira inspiração para uma estória – através de uma única palavra. Tudo não passou, porém, de uma ilusão de ótica. Na realidade, não basta um pólo elétrico pra provocar uma faísca, são precisos dois. Uma única palavra “age”. (“Sopre-o. E o nome age...” disse Montale) apenas quando encontra uma outra que a provoca, que a obriga a sair do seu cotidiano binário e se redescobrir em novos significados. Não há vida onde não há luta. Isto está intrinsecamente ligado ao fato de que a imaginação não é uma faculdade qualquer, separada da mente: é a própria mente, na sua interação, a qual, solicitada por uma atividade mais que por outra, serve-se sempre, dos mesmos procedimentos. E a mente nasce na luta e não na paz. Henry Wallon escreveu em seu livro Le origini del pensiere nel bambino, que o pensamento forma-se em dupla. a idéia de ‘mole’ não se forma nem antes nem depois da idéia de ‘duro’, mas contemporaneamente, em um encontra quando: ”O elemento fundamental do pensamento é esta estrutura binária, não apenas os elementos que a compõe. a dupla, os pares, são anteriores ao elemento isolado.”.(Rodari, ,1982, 21) Práticas atuais, presentes em muitas escolas, elas nada mais são do que idéias defendidas e aplicadas pelo educador Célestin Freinet desde os anos 20 do século passado, na França. ‘Ele propunha uma mudança da escola, que considerava teórica, desligada da vida.’ explica Marisa Del Cioppo Elias, professora do Departamento de Tecnologia da Educação da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ‘Sua sala de aula era prazerosa e bastante ativa. O trabalho é o grande motor de sua pedagogia.’ A partir do momento em que o aluno vive na escola o que está acontecendo fora dela, está havendo aprendizagem. Se aproximamos os alunos dos conhecimentos da comunidade elas podem transformá- los e, assim modificar a sociedade em que vive. Ao ler um livro e recriá- lo, apresentando-o ao seu colega, o produto deste trabalho é a socialização, um trabalho de cidadania, é a pedagogia do êxito. (ANEXO C) 2.3. Construção do Texto O adolescente, atravessa um momento extremamente conturbado de sua vida pois à puberdade física corresponde o início de uma fase intelectual nova. Segundo Piaget, a partir de doze anos de idade as crianças estão entrando na etapa do raciocínio operatório e do pensamento abstrato. Essa fase também apresenta o desenvolvimento da linguagem conceitual e socializada. Este processo de evolução, contudo, não é igual para todos e sabemos que além das características mencionadas, durante a adolescência o indivíduo tende à dispersão, à fantasia e ao egocentrismo. A construção do texto deve ser feita de forma crítica e transformadora. Após a leitura de “As mentiras que os homens contam” de Luís Fernando Veríssimo e o “Diário de Tati” de Heloísa Périssé, propusemos aos alunos da 8ª série do colégio Salesiano Santa Rosa a criação de textos baseados nos livros lidos. A faixa etária desses aprendentes é de 14 anos. Os textos selecionado encontram-se no ANEXO D e não foram feitas correções ortográficas e/ou de coesão textuais, assim como os nomes foram omitidos. O importante é o relato da idéia e a contribuição dos aprendentes para a comprovação de que realidade e fantasia formam uma rede, uma interligação e que o olhar psicopedagógico poderá sempre interferir e ajudar nesta interação entre a experiência (realidade) e a fantasia (criação). O material recolhido é riquíssimo e contribui para a análise de problemas familiares, comportamentais e escolares. Jack, o Estripador queria conhecer o sentido do SER HUMANO multilando-os, dividindo-os, observando-os mortos, separados em partes mínimas, intrigado com aquele amontoado de carnes. Enquanto isso, com a produção dos textos e com a leitura mais atenta podemos entender a alma humana, principalmente a dos nossos adolescentes que a todo momento nos dão “pistas”, sinalizando como faróis nas ilhas desconhecidas, nos portos do subterrâneo do conhecimento humano. 3 Os Caminhos do Conhecimento 3.1. Conceituando o conhecimento Neste processo de criação e autoria do conhecimento, através da produção textual, há possibilidade de se realizar um diagnóstico psicopedagógico e interpretar a mensagem do aprendente. Podemos encontrar as razões, as motivações psicológicas, os significados emocionais, a função de divertimento e a linguagem simbólica do inconsciente que aparecem na produção textual do aprendente. “Em psicopedagogia, não falamos tanto dos conhecimentos, mas do conhecer. A informação (que está fora do sujeito) transforma-se em conhecimento quando o sujeito chega a conhecê-la.” ...A informação é sempre um dado terminado, recortado e recortável, separável da pessoa que o produziu. Em troca, o conhecer é um processo que, embora seja consciente e transmissível através principalmente de conceitos (conhecimentos), tem suas fronteiras menos definidas. Pode diferenciar-se das pessoas que o produziram, mas mantém uma relação possível ou pelo menos indicativa de seus autores. ...Quando transmitimos um conhecimento, para nós é uma construção mas enquanto o transmitimos, ele se transforma em um signo, o qual aparece como informação. A partir daí, o aprendente precisará construir o conhecimento. Para fazer essa produção de conhecimento a partir da informação que o ensinante lhe dá, precisa recorrer ao seu próprio saber que será o que vai dar sentido àquela informação. A construção de conhecimento inclui todo esse procedimento, e a essa construção própria eu chamo aprender”. (Fernández, 2001, 72) O saber em jogo “A inteligência não se constrói no vazio: ela se nutre da experiência de prazer pela autoria. Por sua vez, nas próprias experiências de aprendizagem, o sujeito vai construindo a autoria de pensamento e o reconhecimento de que é capaz de transformar a realidade e a si mesmo. É sobre a dramática do sujeito, com o suporte das significações, que a inteligência trabalha” (Fernández. 2001, 82) “O pensamento não é autônomo; ao contrário, é por suas ligações com o desejo(e daí com o outro) e por tal relação com os limites do real que é necessário e urgente ao sujeito situar-se como o autor de seu pensar. Sendo assim, poderá ir deixando de ser objeto do desejo do outro para ser sujeito de seu próprio desejo, ou, melhor ainda, para reconhecer-se como sujeito desejante. Quando digo reconhecer-se, estou sublinhando dois aspectos: a atividade do pensamento e a necessária conexão com os limites da realidade que delimitam o espaço em que pensar tornou-se necessário e, ao mesmo tempo possível. É nesse limite que vai trabalhar o pensar... Dessa forma, a intervenção do psicopedagogo, na maioria dos tratamentos psicopedagógicos, busca proporcionar(na transferência com e frente ao objeto de conhecimento e com e frente ao psicopedagogo) um espaço onde esse reconhecimento seja possível” (Fernández ,2001, 90) Durante uma aula de Redação, propôs-se a alunos de 8ª série do Colégio Salesiano Santa Rosa que trouxessem uma foto qualquer (pessoas, animais, paisagens) e que relatassem o que aconteceu naquele dia, as emoções sentidas, o porquê do foto, quem eram as pessoas da foto. Foram selecionadas algumas redações que se encontram no ANEXO E. Os nomes foram omitidos e não foram feitas as correções ortográficas e/ou de coesão textual. 3.2. O Conhecimento da Verdade: a reconstrução do texto. Por falar em fantasia e em verdade, lembrei- me da fábula dos cegos e do elefante. Eram cinco cegos que não conheciam o elefante, e um dia foram apresentados a ele. Um dos cegos apalpou as patas e concluiu: o animal se assemelha a grossas colunas. Outro tomou a tromba e pensou ser ele semelhante a uma cobra, sinuosa e flexível. O terceiro, pegando a cauda, imaginou o elefante como um chicote, fino e com fios na extremidade. Já o quarto, tateando as presas, imaginou-o como um bastão maciço. O último cego, ao apalpar as orelhas do animal, ponderou que ele mais parecia um leque maleável. Como eram cegos, perceberam o elefante através de outros elementos de percepção. A realidade para eles era a imaginação, a comparação, a fantasia, a criatividade. Ao buscar a resposta através da coerência e da consistência, montaram raciocínios para chegar a uma conclusão. Assim como os cegos, quanto mais buscamos conhecer, mais concluímos que permanecemos numa imensidão de inexplicabilidade. Chamamos Realidade ao que tem sentido para nossa consciência. A lógica pode estar na fantasia ou na realidade? “A mente de uma criancinha contém um conjunto de impressões, com freqüência mal ordenadas e apenas parcialmente integradas, que se expande rapidamente: alguns aspectos da realidade vistos corretamente, mas muito mais elementos completamente dominados pela fantasia. a fantasia preenche as enormes lacunas na compreensão de uma criança que são devidas à maturidade de seu pensamento e à sua falta de informação pertinente. Outras distorções são conseqüência de pressões externas que levam a falsas interpretações das percepções infantis.” (Bettelheim, 2003, .77) “O conto de fadas, a partir de seu começo mundano e simples, arremessa-se em situações fantásticas. Mas por maiores que sejam os desvios – à diferença da mente não instruída da criança, ou de um sonho – o processo da estória não se perde. Tendo levado a criança numa viagem a um mundo fabuloso, no final o conto devolve a criança à realidade, da forma mais reasseguradora possível. Isto lhe ensina o que mais necessita saber neste estágio de desenvolvimento: que não é prejudicial permitir que a fantasia nos domine um pouco, desde que não permaneçamos presos a ela permanentemente. No final da estória o herói retorna à realidade – uma realidade feliz, mas destituída de mágica.” (Bettelheim, 2003, 79) Nossos adolescentes não são como os cegos, mas registram através das palavras as pistas sobre os processos de apropriação e autoria de pensamento. Ao montar/desmontar raciocínios redescobrem através da fantasia a sua realidade, a sua experiência de vida. A produção textual carrega todo o processo evolutivo, perceptivo, real ou imaginário que o aprendente transporta para o papel. Nessa re(criação) do mundo o adolescente se liberta e se renova, expondo-se nos seus relatos únicos por onde se revelam os segredos, as dúvidas, as verdades e as fantasias. “A psicopedagoogia clínica dirige-se a um sujeito aprendente, assim como a psicanálise dirige-se a um sujeito desejante e a epistemologia genética a um sujeito cognoscente. O nodal de sua visão não se dirige à inteligência, mas à articulação entre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, numa interrelação que constitui o terreno onde a ensinagem – aprendizagem acontece.” (Fernández, 2001, 146) Após a leitura do livro “As mentiras que os homens contam”, propusemos a alunos da 8ª série do Colégio Salesiano Santa Rosa a criação de textos baseados no livro lido. A faixa etária desses aprendentes é de 14 anos. Os textos selecionados encontram-se no ANEXO F. Os nomes dos alunos foram omitidos e não foram feitas correções ortográficas e/ou coesão textual. 3.3. Transcendendo a adolescência com a ajuda da fantasia. A psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final. A preocupação maior da psicopedagogia é o ser que aprende, o ser cognoscente, e o seu objetivo geral é desenvolver e trabalhar esse ser de forma que seja potencializado como uma pessoa autora, construtora da sua história, de conhecimentos, e adequadamente inserida em um contexto social. O psicopedagogo é um profissional, com outro referencial, com outro conhecimento e com outro olhar. A psicopedagogia, hoje, é entendida num contexto de interdisciplinaridade, sem, contudo, perder de vista que os diferentes níveis de realidades são acessíveis ao conhecimento humano graças à existência de diferentes níveis de percepção, que se acham em correspondência biunívoca com os níveis de realidade... sem jamais esgotá- la completamente. “A mente é uma só. Sua criatividade pode ser cultivada em muitas direções. As fábulas (escutadas ou inventadas) não são “tudo” que concerne à criança. O livre uso de todas as possibilidades da língua não representa senão uma das direções em que a criatividade pode expandir-se.” (Rodari, 1982,139) “A gênese do escrever – e seu sentido – remontam a gênese do falar: mostrar a própria palavra e, nesse mostrar- enunciar, reconstruí-la (reconstruir o pensamento e o desejo), primeiro, na devolução especular e depois na simbólica, cujo sentido ocorre a partir da escuta que o outro aposta. Lacan diz algo assim como que a voz se ouve, o significante se escuta e o que se lê do que se escuta é o significado. Do mesmo modo, em relação à leitura, poderíamos dizer que as letras são visitas, as palavras são olhadas, e o que se pode ler é o significado. Este significado vai se construindo e reconstruindo cada vez que alguém lê o que está escrito, tenha sido escrito por ele ou por outro. As letras são desenhadas; só as palavras se escrevem. (Fernández. 2001, 150,151.) Será que aquele que lê mais, escreve melhor? Será que aquele que fantasia mais, produz um texto mais interessante? Está claro que precisamos desenvolver nos nossos alunos o hábito da leitura. O amor à leitura tem em comum o prazer. “Esse movimento dinâmico é, para Paulo Freire, um dos aspectos centrais no processo de alfabetização. Podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra é antecedida não só pela leitura de mundo, mas por uma certa forma de escrevê-lo ou de reescrevê-lo – de transformá-lo a partir de nossa prática consciente. Através da leitura, portanto, reconhecemos parte da humanidade e não seres isolados, somos capazes de tecer a própria individualidade a partir do e com o outro. Por isso a importância das palavras “grávidas de mundo” utilizadas por Paulo Freire no processo de alfabetização, e a íntima relação que esse processo estabelece com a cidadania” (Gurgel, 2002,210) “É compreensível então que, quando solicitada a mencionar alguns de seus contos de fadas prediletos, raramente a criança escolha algum conto moderno. Muitos dos novos contos têm finais tristes, que não conseguem prover o escape e o consolo que os eventos amedrontadores no conto de fadas fazem necessários, para fortificar a criança no seu defrontamento com as intempéries de sua vida. Sem estas conclusões encorajadoras, a criança, depois de ouvir a estória, se sentiria sem nenhuma esperança verdadeira de se desvencilhar dos desesperos de sua vida” (Bettelheim 2003,177) Após a leitura do livro “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, solicitamos aos alunos da 8ª série do Colégio Salesiano Santa Rosa que criassem um personagem capitão da areia de Niterói e o entrevistasse. Pedimos também que criasse outro personagem e, contasse a sua história, como menino(a) de rua de Niterói, assim como os personagens do livro lido. A faixa etária dos alunos é de 14 anos e os textos e entrevistas selecionados encontram-se no ANEXO G. Os nomes dos aprendentes foram omitidos e não foram feitas correções ortográficas e/ou coesão textual. Conclusão Segundo várias teorias, só é considerado livre o ser humano autônomo, capaz de pensar por si mesmo – dando respostas originais ao mundo e a si próprio. O significado etimológico da palavra pensar vem do latim “pendere” (ficar em suspenso, suspender, estar ou ficar pendente ou pendurado). O pensamento faz com que nos familiarizemos com o mundo, buscando compreender o significado dos objetos e das pessoas, das relações entre uns e outros, das relações entre o aprendente e o ensinante. Diante do real, que sabemos existir, mas que se oculta muitas vezes além de nossas percepções e do nosso pensamento, sentimos estranhamento. Buscamos, então, a fantasia, e através dela, em dados momentos de nossa vida, mesmo não nos dando conta, entramos e saímos dos processos criativos. Além do impulsos do consciente, o impulso elementar e a força vital para criar se originam nas áreas ocultas do ser. Ao fazer as pesquisas para a realização deste trabalho, lendo e relendo os textos dos meus alunos, descobri os fios que se entrelaçam e se tecem entre acertos e erros, tristezas e alegrias, dúvidas e sofrimentos, problemas e soluções. Toda teoria é uma visão. Toda aprendizagem implica aquisição de uma visão nova. Toda palavra, cada texto pode vir impregnado de fantasia e realidade. Revelar a significância deles, não é tarefa das mais fáceis, pois nenhum caminho é lógico na medida que montar um quebra-cabeça leva tempo, sensibilidade, imaginação e paciência. Relembrando o Jack, lá do início, que não chegou à conclusão alguma ao despedaçar suas vítimas, acreditamos que a visão psicopedagógica na avaliação da produção de textos nos ajudará a redescobrir uma idéia, um saber, um conhecer que o sujeito aprendente está nos oferecendo através da linguagem escrita. Referências ¨ BAJARD, Elie. Ler e Dizer Compreensão e comunicação do texto escrito. 3ª ed. Cortez Editora, São Paulo, S.P., 1994. ¨ BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos contos de fadas. 17ª ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, R.J., 2003. ¨ FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprimorada. Artmed Editora, Porto Alegre, R.S.,1991. ¨ ___________. A Mulher Escondida na Professora – 2 reimpressão. Artmed, Porto Alegre, R.S., 2001. ¨ ___________. O saber em Jogo. Artmed, Porto Alegre, R.S., 2001. ¨ ___________. Os Idioma do aprendente. Artmed Editora, Porto Alegre, R.S., 2001. ¨ ___________. Psicopedagogia em Psicodrama: morando no brincar. 2ªed. Editora Vozes, Petrópolis, RJ,2002. ¨ LUFT, Lya. Perdas & Ganhos. 10ª ed. Rio de Janeiro, RJ, 2003. ¨ RICHE, Rosa. Oficina da Palavra: ler e escreve bem para viver melhor. 3ªed. ,São Paulo, S.P.. FTD, 1990. ¨ RODARI, Gianni. Gramática da fantasia. São Paulo, S.P., Summus, 1982. ¨ TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo, S.P., Editora Scipione, 1997. ¨ TIBA, Içami. Quem Ama, Educa! 30ª ed. Editora Gente, São Paulo, S.P., 2002. ¨ VALENTE, André. Aulas de Português. Perspectivas inovadoras, 5ªed. Editora Vozes, Petrópolis, R.J., 2002. ¨ VANOYE, Francis. Usos da Linguagem – problemas e técnicas na produção oral e escrita, 116 ed. Martins Fontes, São Paulo, S.P., 2002. ¨ WANDSWORTH, Barry Jr. Inteligência e Afetividades da Criança na Teorias de Piaget. 5ªed.Pioneira Thomson Learning, são Paulo, S.P., 2001. ANEXO A – A vida interior Eu sou X X X X estudo no Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói no Estado do Rio de Janeiro. Sou um garoto muito bagunceiro, por isso sou muito marcado na escola, então qualquer coisinha o primeiro a tomar esporro sou eu. Um dia resolvi ficar queto, mudar de comportamento, prestar atenção nas aulas etc. Só que eu percebi que não adianta muito, porque as pessoas podem estar conversando como eu, mas só eu tomo esporro. Tento melhorar só que me da raiva as pessoas fazendo coisas piores que eu, e os professores nem ligando, só que quando eu abro a boca já tomo esporro. As vezes acabo perdendo a cabeça e não penso no que faço. É isso o conflito de aluno bagunceiro.com aluno. Ciúme Naquele dia ensolarado, exatamente numa manhã de domingo, Manuela e João resolveram ir à praia com os amigos. Manuela, uma adolescente que sente muitos ciúmes do namorado, já foi avisando para ele ficar do lado dela na areia ou em qualquer outro lugar. João, apavorado com o que a namorada podia fazer, logo falou que ficaria só com ela e não com os amigos. Mas aconteceu exatamente o contrário, João chegou na praia e deixou Manuela para trás com a amiga dela. Já foi tirando a camisa e correu para a água com dois amigos. De repente, quando Manuela chegou na praia e viu que seu namorado estava com os amigos conversando com umas meninas na água. Pronto! Manuela fez um escândalo e correu para a água para tirar satisfação. Então, João que já não aguentava mais essa crise de ciúmes deu um fora em Manuela e disse que ela não manda na vida dele e que ele poderia ficar com quem ele quisesse. Furioso, Manuela terminou tudo com João, e este super contente com a notícia, ficou com os amigos na praia, deixou Manuela sozinha e arrumou outra namorada lá mesmo. Um Casal Perfeito Carla, era uma mulher muito bonita. Tinha cabelos negros e longos, olhos verdes e corpo escultural. Era o sonho de qualquer homem, mas apenas um tinha essa sorte. O nome dele é Rafael. Ele também é muito bonito. Todos diziam que eles faziam um casal perfeito. Eles eram noivos, já moravam juntos em uma casa na Barra da Tijuca e não tinham filhos, mas pretendiam ter três. Sempre saiam juntos. Os dois tinham um ótimo humor, eram sempre alegres, sorridentes, uma ótima companhia para qualquer programa. Eles não brigavam por nada, afinal não tinham nenhum motivo para desconfianças. O amor deles era maior do que essas besteiras. Um dia, quando Rafael chegou do trabalho, viu Carla chorando. Nervoso, ele perguntou o que havia acontecido. Carla falou que nunca esperava isso dele e que nunca mais queria vê- lo, jogando com força a aliança no chão. Rafael não sabia o que fazer, afinal ele não havia feito nada. Carla jogou as roupas dele na cama até que ele conseguiu acalma- la um pouco. Ela contou que uma amiga lhe enviou fotos por email dele com outra mulher. Ele examinou as fotos e percebeu que tudo aquilo foi feito através de uma montagem. Ele mostrou para ela que tudo era uma farça. Arrependida, Carla pediu desculpas e arrumou toda a bagunça que havia feito. Ela prometeu que nunca mais o acusaria sem antes conversar. Depois disso, eles voltaram a ser um casal perfeito, porém com uma amizade a menos. ANEXO B – A vida exterior Tô nem aí... para minha madrasta, pro meu ex, para os que não gostam de mim, para o Bush . Tô aí... para os meus estudos, para os meus amigos, para minha família, para quem eu gosto e para os que me amam. Tô nem aí... para os amigos falso, para a minha casa, para o colégio, para o futuro... Tô aí... para meus amigo, para sair, me divertir, curtir a vida, curtir o presente... Tô nem aí... para o que as pessoas dizem Tô aí... para as pessoas que querem o meu bem Tô nem aí... pras drogas Tô aí... pra diversão pros estudos pro surf pros problemas pra praia pras noitadas pras brincadeiras Tô nem aí... pro que os outros pensam de mim, pra falsidade, tristeza, para o mundo, inveja, inimigos, dinheiro... Tô aí... pra família, para os amigos, para viver, para aproveitar tudo, de bom, esquecer tudo de ruim, errar, acertar, praia, para as mulheres... Tô nem aí... para quem não gosta de mim, para pessoas mal-educadas, para as pessoas que falam mal de mim, para as políticas, para os EUA, para o que pensam de mim(+/-). Tô aí... para o estudo, para a vida, para ser feliz, para me divertir, para ser eu mesma, para beijo na boca, para curtir, para descobrir os mistérios da vida, para dar amor a quem precisa, para fazer mais e mais amigos, para ”tudo’, para pizza, lazanha... Tô nem aí... para o B quero o esquecer! Não vou sofrer por ele Não tô nem aí para a chuva! Tô aí... para o showzinho do F.D. que vai ser hoje e estou muito aí para o show. E para minha família, amigos e estudo. Tô nem aí... pra chatice, homonxualidade, depressão, baixo astral, drogas, inveja, egoísmo e angústia. Tô aí... pra música, mulheres, instrumentos, amigos, alegria, diversão, comédia e arte. Tô nem aí... para o tédio, para as pessoas chatas para drogas. Tô aí... para pegar onda, ir para praia, ouvir música boa e aproveitar a vida. Tô nem aí... para o que as pessoas falam de mim, só quero me divertir, tô nem aí para os outros garotos, tenho um namorado que amo, tô nem aí para as pessoas falsas, por que tenho amizades verdadeiras e puras, tô nem aí para a vida, porque tenho tudo que quero... ANEXO C – Conceituando fantasia e realidade 30 De Abril, Quarta-feira Di, não estou mais ficando com o Maurinho. Terminei tudo com ele e descobri que bom mesmo é curtir minha adolescência. Estou suuupeerrrr atrasada! Tô terminando de me arrumar, porque vou sair pra dançar com minhas amigas. Quando encontrar um tempo, te conto todos os babados, rolos e lances descolados. Não pensa que estou te deixando de lado não, Di. Você nunca traiu minha confiança. TE AMO, DI. Final - 30 de abril, quarta-feira Po Dí, tipo assim, foi mal, foi mal mesmo por esse tempão sem trocar umas idéias com você, Dí na verdade o que tá pegando é que minha mãe tá de rolo com um inglês, o velho é chato pra caramba, todo caretão, mas é cheio da grana. Tô gostando da Inglaterra e mesmo se não tivesse gostando teria que aprender a gostar, eu tô é com saudades do Murinho, mas meu novo pai prometeu que meus amigos vão poder passar as férias aqui em casa. Dí, falo sério, meu irmão, filho do inglês é tudo de bom e tem cada amigo, tipo assim, muito gato. Mas pode deixar que eu não vou deixar, eu nunca vou te esquecer de sempre te contar os babados. Por falar nisso tem uma mocréia na minha sala que ninguém merece, vive mandando ko sobre mim pra galera e se acha, na verdade aquela garota é uma invejosa só porque todos os gatos estão na minha. Sabe Dí, noite passada estava malzona, mal mesmo, tipo assim, devorei uma panela de brigadeiro, fala sério, devo ter engordado uns 100 quilos, estava com saudades das minhas amigas, nossos segredos, nossas confusões, nossas baladas, aí Dí, já tô ficando emocionada de novo. Vamos mudar de assunto. Aqui o pessoal é muito parado, tô tentando descolar uma reve para o finde. Aqui os gatinhos são todos brancos com os olhos claros, são todos muito parecidos, não rola nenhum mais Brasil, um Alexandre Pires da vida, fala sério. Por falar em gatos lembrei do Maurinho, aqui ele ia fazer o maior sucesso, o meu mano postiço é super gente boa, já até peguei uns amigos dele, super maneiros também, minhas amigas agora querem vir para minha casa todos os dias. Às vezes, quando não tenho nada para fazer, vamos para a sala de vídeo e assistimos filme, ele é tão maneiro. Aí, Dí, será que eu tô gostando do meu irmão? Só faltava essa, perdi o Maurinho, minhas amigas, a minha vida praticamente, comecei tudo do zero e ainda do gostando do meu irmão? E pior de tudo ele me vê como uma irmãzinha mais nova, a amiguinha dele. Sabe Dí, tô pensando aqui se eu gosto mesmo dele tenho que ir a luta, ah, e eu li na revista, no meu horóscopo que esse é o mês da conquista. Vou partir pra cima se colar, colou e se não colar parto pra outra. Sabe Dí devemos sempre assumir os nossos sentimentos e aceitar as consequências, ok? Hoje dia 30/04/2013 estou aqui vestida de noiva indo casar com o homem da minha vida. Quando eu estava saindo do quarto bateu uma saudade da minha adolescência, resolvi mexer em todas as minhas coisas do passado e acabei encontrando o meu diário, quer dizer, o “Dí”. Cara eu encontrei tantas coisas, tantas cartinhas de namorados, pô acho que vou guardar isso para sempre estou recordando de tantas travessuras que eu já fiz... a mais maneira foi aquela viagem muito louca que resolvemos dar uma de “No Limite” em busca de nossa própria comida e acabamos comendo só manga foi muito engraçado. Cara lembra daquela Camila que eu odiava? Então hoje ela é a minha melhor amiga e inclusive será madrinha do meu casamento, como as coisas mudam!!! Sabe com quem eu vou casar “Di”? Com o primo do Maurinho, como o mundo é pequeno... quando eu era adolescente era apaixonada por esse menino(Maurinho), agora por muita coincidência ireime casar com o primo dele. Ihh “Di”, caraca acabei perdendo a hora tenho que ir para o meu casamento pô eu Tô tão nervosa... Depois quando eu chegar da minha “lua de mel” pode deixar que eu te conto os mínimos detalhes, quer dizer nem todos né!? FUIII ANEXO D – A construção do texto O Anel Certo dia, Ana foi à casa de seu namorado, fazer uma surpresa. Ela chegou e Diego, seu namorado, ficou surpreso em vê- la. Ela entrou foi para o quarto dele, quando a mãe de Diego pede a ele para trocar uma lâmpada queimada. Ana como é curiosa começou a mexer nas coisas de Diego. Depois de tanto mexer ela encontrou um cartão e um anel, achando ser para ela começou a beijar e abraçar Diego. Diego não entendendo, perguntou o que havia acontecido. Ela disse que foi o anel mas lindo que já ganhou, mas ela não sabia que o anel não era pra ela. Como Diego não podia falar que era para outra garota ele deu pra ela. Anoiteceu, Ana foi pra casa, e no dia seguinte Ana chama Diego pra ir a uma festa, mas ele diz que sua avó está doente, que não vai dar. Ana então vai à festa, ela dança, conversa etc. Começa a tocar uma música que ela e Diego dizem ser deles, com saudades dele e preocupada com a avó ela liga para o celular dele, e quando ele atende, ela escuta a mesma música e uma barulheira imensa. Quando ela olhou pra trás estava Diego com a mesma garota pra quem ele ia dar o anel. Como dizem: “Mentira tem perna curta”. A Viagem Fábio namora Patrícia há dois anos, ele gosta muito dela, só que ele é muito festeiro, vive saindo e conta várias mentiras. Ele mora em Niterói, e ela no Rio de Janeiro, isso facilita (e muito) as mentiras. E o pior, a família entra nas mentiras, a irmã, o pai, a mãe mente e Patrícia acredita. Fábio estava fazendo um curso para trabalhar em cruzeiros, o salário era bom ele iria conhecer 12 países! O lado ruim era que ele tinha que passar sete meses trabalhando direto, Natal, Ano Novo, Feriado, Aniversário e etc... Patrícia ficou muito triste, pois seriam muitos meses sem se ver. Porém ela reconheceu que era uma grande oportunidade de trabalho, e que Fábio não poderia perde- la. ele viajou e a única forma de Fábio se comunicar com a família e com Patrícia era através de e-mails. Ele mandou um e- mail para Patrícia dizendo que só votava em agosto, em 17 de junho, Fabio desembarca. Ele mentiu, pois marcou de viajar com os amigos, chegou à noite, e na tarde do dia seguinte, viajou. Votou no domingo, e na segunda feira foi fazer uma surpresa no seu trabalho. Ela acha que ele foi romântico, ele acha que foi esperto, eles continuam juntos e felizes! Recuperação Nos dias de hoje, seria quase impossível sobreviver sem as mentiras do dia-a-dia. Todas as pessoas mentem, por menos que seja a mentira, e quem disser que consegue viver sem mentir, está mentindo. Porém essa historinha é sobre quando a mentira passa do limite. Paulinho era um garoto comum, um estudante comum, que levava uma vida estudantil comum e que cursava a 8ª série do ensino fundamental. Sempre contou algumas mentiras sobre seu desempenho em algumas matérias, mas nada comparado ao que acontecia agora. Assim quem recebeu seu boletim, constatou que havia ficado em recuperação em português. E agora? Ele que nunca fora o melhor dos alunos, mas que sempre se salvara na última hora, havia ficado pela primeira vez em recuperação. A notícia cairia como uma bomba em casa, e Paulinho perderia uma série de privilégios, e isso ele não poderia deixar de forma alguma acontecer. E então resolveu dar seu jeito. Para a mãe, ele disse que o colégio estava com problemas na impressão dos boletins e que a entrega ficaria adiada por pelo menos um mês. Para o colégio, ele falsificou a assinatura da mãe, e falsificou muito bem, já que perdera horas treinando a rubrica. Então começaram as aulas de recuperação. A mãe de Paulinho achava que o filho havia começado a ir mais ao colégio fora do turno de aula para jogar bola, ou conversar com os amigos, ou fazer trabalhos, conforme foi passado a ela pelo filho. Cada dia era uma história. Os comunicados passados a mãe de Paulinho, nunca eram entregues pelo garoto a ela, era mais fácil dizer a mãe nunca lembrava de assinar. O menino chegou até a imitar a voz da mãe quando ligaram do colégio querendo falar com ela. A história toda inventada por Paulinho não estava perfeita, mas estava indo bem e ele seria capaz de mantê- la até a recuperar sua nota. apesar da história estar colando, mentira tem perna curta, e com uma coisa ele não contava. O fator azar. A mãe do menino estava enrolada com a mensalidade do colégio. Então, apara resolver logo o problema foi à escola de Paulinho pagar de uma vez, pessoalmente. No colégio , ela cruzou com a assistente de turma, que lhe informou sobre a situação. Ela se mostrou surpresa, pois não sabia de nada e iría falar com o garoto em casa. Quando chegou em casa, Paulinho não teve escapatória. Ouviu tudo que havia evitado e ainda perdeu todas as suas mordomias e mais um pouco. No final de tudo, Paulinho ficou pior do que houvesse dito a verdade. Ele não falou uma mentira boba que qualquer um falaria, ele foi criando uma situação fictícia em cima de outra, que foi o que acabou o comprometendo. ANEXO E – Conceituando o conhecimento Recordar é viver... Nesta foto, eu tinha apenas três anos. Este lugar em que apareço é a minha ex-escola. Era época de festa junina e nós tínhamos que ir vestidas a carater. Esse dia foi inesquecível, pois foi a primeira vez que dancei quadrilha e foi também minha primeira festa junina. Eu estava muito feliz. Sinto muita saudade dessa época, fez muitas amigas e adorava ir as aulas. Até os dias de hoje, sinto muita falta das minhas amigas que nunca mais vi e também do Colégio São Vicente de Paulo, onde estudei até a sétima série. Essa época era muito divertida; não tinha nenhuma responsabilidade e brincava muito. O tempo passa! Uma viagem ao mundo do cinema Este foi um dia muito especial! Nesta foto, estou com meus amigos em um concerto na UFF. O título do concerto era “Banda Sinfônica visita o mundo do cinema”. O concerto foi feito com muito trabalho e muita dedicação. Nós ficamos dois meses ensaiando as músicas para o concerto, mas não foram poucas músicas, foram muitas. As músicas foram Lost in Space, Selections from E T, A Disney Espetacular, Titanic, Jurassick Park, Riders march, Italiana e Star Wars. No concerto tinhamos iluminação e as imagens dos filmes das músicas . Foi muito bom! Durante o concerto, um senhor fez um retrato meu, somente me olhando. Não é incrível?! Depois do concerto teve um churrasco dos músicos lá no salesianos. Eu cheguei no churrasco à tarde, mas aproveitei muito bem. Meus amigos e eu jogamos volei e futebol, não esquecemos de comer! O ruim foi que algumas pessoas que não são muito bem vindas foram ao churrasco e isto me deixou muito chateada, mas não estragou o dia. Quando o churrasco estava acabando, nós fomos para a portaria e ficamos conversando. À noite, xxxxx e eu fomos embora juntas. Este foi um dos melhores dias deste ano e da minha vida também. O Melhor Ano Esta foto é praticamente a única lembrança do melhor ano escolar de muitas das pessoas que estudaram nessa turma. A nossa turma foi completada por algumas pessoas que vieram de outras turmas. Desdo início do ano a turma já era alegre, feliz e unida. Ela era uma turma normal, mas todos que conviviam com ela a amavam. Nós éramos bagunceiros, não deixavamos nenhum professor dar aula, só Marquinhos que também entrava nas brincadeiras. Tinha na turma todos os tipos de alunos, os bagunceiros, os nerds, os amantes e até os pagodeiros que sentavam-se ao meu lado e cantaram Os Travessos todos os dias. Mas no final como a turma era divertida e falante demais os professores resolveram separarnos e na 7ª série, uns saíram do colégio, outros, alias todos foram para turmas separadas e eu fui para a 7ªE que hoje é a 8ª E, mas me tiraram mais uma vez da turma em que eu estava e vim para na 8ª A. Todas as pessoas que estudaram na 6ª C, e que falam comigo até hoje, pensam a mesma coisa do que , eu, aquilo foi a melhor turma em que eu já estudei até hoje. ANEXO F – O conhecimento da verdade: a reconstrução do texto Mentira sobre dever de casa! Uma das mentiras que as escolas contam é a tarefa para casa. De onde eles tiraram que o aluno tem que fazer tarefa de casa? Onde isso está escrito? Se já não bastasse ter que fazer dever de aula, ficar dentro de uma mesma sala o ano todo para assistir uma longa e dura aula que no meu ponto de vista deveria durar no máximo 20 minutinhos, mas não, eles maltratam a gente. Imagine ficar mais de 50 minutos dentro de uma sala tendo que ficar ouvindo uma professora chata falando sobre uma matéria que não vai me adiantar de nada quando eu crescer. Até quando nós vamos ter que agüentar isso? Alguém tem que tomar uma atitude. Mas voltando o assunto tarefa de casa precisamos fazer com que as escolas parem de mentir, imagine obrigar uma criança a fazer um dever de casa, enquanto a criança podia brincar e além do mais se a criança não fizer a tarefa de casa ela fica com ponto negativo, leva comunicação. É por isso que esse mundo está assim, eles falam que os jovens são o “futuro do nosso país” só que os jovem crescem revoltados por causa do “dever de casa”, mas por enquanto nós vamos ter que continuar com essa tarefa de casa, porém pode ter certeza que um dia nós ainda vamos nos livrar da terrível “tarefa de casa”. O olho mais que a barriga Quando minha mãe era pequena, sempre passava as férias com seus irmãos na cidade Norte-Fluminense de Natividade. A avó dela morava lá e era excelente cozinheira. Eles ficavam em um sítio onde andavam a cavalo, tomavam banho de rio, brincavam com os bichos que lá habitavam e se deliciavam com o cardápio da avó. Apesar de magra, minha mãe era uma criança muito gulosa. Durante a viagem de volta, um gostoso lanche fora preparado para ser comido no piquenique em Teresópolis, no caminho de volta. Certa vez, a avó da minha mãe preparou uma lata de quibes douradinhos. Acomodou-os no porta- malas do carro e seguiram viagem. No início, minha mãe dormiu um pouco mas depois, segundo ela, as coisas começaram a ficar monótonas e a fome bateu. Logo, ela pediu algo para comer à sua mãe que, por sua vez, mandou-a esperar até chegarem ao tal parque de Teresópolis. Aos pouquinhos, minha mãe foi comendo os quibes sem que ninguém percebesse. Ela foi se empolgando e quando enfiou a mão na lata para pegar mais um, percebeu que havia acabado. Enfim chegaram no local do piquenique e todos descobriram que os quibes haviam sido roubados e, minha mãe, esperta, ficou calada. Todos desconfiaram dela incluindo seu pai, que a obrigou a comer quibe numa lanchonete próxima. ela não agüentou, confessou o “crime” e todos ficaram furiosos. As mentiras que as filhas contam Uma certa noite Bianca queria ir para uma festa com o seu namorado, só que sua mãe não havia deixado. Ela fez de tudo para ver se sua mãe deixava mas isso só a irritou mais. Então ela se arrumou toda e falou para sua mãe que ia na casa do seu namorado e já voltava. Quando chegou lá seu namorado já estava pronto só esperando ela e seus amigos. Então assim que os amigos dele chegaram, eles foram para a festa e a mãe dela não sabia de nada. Quando deu 10:30 da noite, a mãe de Bianca ligou para a casa do namorado da filha para pedir a ela que voltasse para casa, mas a mãe do namorado de Bianca atendeu e disse que eles foram para uma festa. Enquanto isso, Bianca se divertia lá na boate. Dançava, cantava, bebia, fumava... Quando já passavam das 4:30 da manhã, ela saiu da boate muito bêbada, e foi pra casa. Chegou em casa às 5 horas da manhã, e encontrou sua mãe super preocupada, sem dormir por causa da filha e quis saber onde ela estava. Bianca explicou que queria ir a festa e como sua mãe não tinha deixado, ela foi escondida. A mãe dela lhe deu uma bronca, a deixou de castigo e a proibiu de sair com o namorado por um bom tempo. ANEXO G – Transcendendo a adolescência com a ajuda da fantasia. Ainda há esperança Felicidade ainda habita as favelas. Maria José, de dez anos de idade, se diz uma menina feliz. ela vende bala nos sinais do Rio de Janeiro. Não se diz marginalizada, se sente como qualquer outra criança, que ainda pode brincar sem ser interrompida. Tem várias amigas, brica com elas todos os dias. Vê televisão como qualquer outra criança. Disse-me que tinha vários motivos para ser feliz, como por exemplo, a esperança que ainda habita o coração dela, e principalmente a vida que ela leva, que apesar de difícil, é digna. Ela quer ser professora, e me contou que quer atuar com as crianças carentes, e que lá no morro aonde ela mora as professoras pararam de dar aula, pois certa vez enquanto estavam em aula, começou um tiroteio entre a polícia e os traficantes, e que os traficantes invadiram o colégio e fizeram todos ficarem quietos senão seria “bala na lata”. Percebi que Maria, ou melhor Zezé, como gostava de ser chamada, ficou triste enquanto relatou- me aquele caso. Perguntei a ela o que seria e ela disse que naquele dia sua professora foi morta pelos traficantes, e que ela sabe que o sonho dela é ser professora lá no morro, ela terá que enfrentar isso, e que sabe que também pode morrer. É bom saber que ainda existem crianças como Zezé, que apesar de todo o pesadelo diário que ela enfrenta, ainda tem esperança, felicidade e vontade de viver. Chico e sua família Nós entrevistamos um garoto que se chama Chico e tem 13 anos. Ele mora num barraco, com sua mãe e seu irmão de 3 anos. Seu pai está preso por ter sido pego com drogas. Chico já usou drogas, duas vezes, por influência de “amigos”. Ele disse que não se interessa muito por drogas. Chico vende balas, cada saco custa R$0,70. O dinheiro que ele ganha com a venda das balas ajuda a família porém sua mãe também trabalha. Ela é empregada doméstica, recebe R$180,00 por mês. Com o total de dinheiro, sua mãe compra om pouco de comida, paga as contas, e tenta sustentar a família. Chico diz ser uma pessoa feliz, pois muita gente não tem o que comer, onde morar, nem o mais importante de tudo: uma família. Mas ele vai aproveitar a vida, quando seu pai sair da cadeia, transformando uma família incompleta em uma família completa, uma família que estará disposta a enfrentar qualquer problema. A História de Wellington Agora eu vou contar a história de Wellington, que é um menino de rua de quatorze anos que vende balas na rua. Wellington mora no morro do Cavalão, em São Francisco. Wellington tem três irmãs. Os quatro sofrem muito em casa. Se não venderem todas as balas, apanham muito e são obrigados a compensarem no dia seguinte. Wellington não estuda, teve que parar na segunda série quando o seu pai ficou desempregado e a necessidade de dinheiro aumentou. Ele é revoltado com a situação do país. Viu sua mãe ser morta e diz que quando crescer irá fazer justiça ao criminoso com as próprias mãos. Ele já foi preso por estar guardando drogas para um traficante, que disse que droga era uma coisa boa. Como ele recusou, o traficante obrigou-o a guardá- las ameaçando-o de morte e Wellington foi preso pela polícia e levado para a delegacia. Ele teve sorte de ser um menor de idade e não ser preso, mas o pai de Wellington ficou furioso e o espancou. Wellington prometeu nunca se meter em confusões. Os planos que Wellington tem para o futuro são, primeiramente, voltar a estudar. Depois, ele quer fazer o vestibular e se formar em medicina. Wellington diz que não gosta de ver pessoas doentes, por isso quer virar médico e salvar muitas vidas, mesmo que ele não receba muito por isso. Narrativa 2 Meu nome é Thatiellen, tenho 11 anos, moro no “Lixão”, nossa casa é feita de papelão e de objetos que encontramos aqui; moro com meus pais e mais três irmãos: Thomas (17 anos), Thatiane (7 anos) e Thaianne (5 anos). Eu e Thomas não estudamos, pois não temos tempo, mas minhas irmãs mais novas: Thaianne e Thatianne estudam numa escola aqui perto. As pessoas têm muito preconceito com a gente, elas pensam que nós escolhemos ser assim. Meus pais fazem tudo para que nós sejamos felizes, mas mesmo assim o dinheiro que ganhamos aqui mal dá para comer. Nós todos aqui em casa nos damos muito bem! O único problema é o meu irmão que bebe muito e as vezes cheira cola, minha mãe é muito triste por causa disso, ela vive doente. Não sei se sou totalmente feliz, pois amo meu irmão e ele tem nos deixado muito tristes, mas eu tenho uma família boa, nós tentamos ser felizes. Meu maior sonho é que meu irmão volte a ser legal e alegre como era antes, ter uma casa grande, ser professora, ter muitos filhos e casar com um homem muito rico. ANEXO H