II — SEGUNDA-FEIRA, 31 de dezembro de 2001, e TERÇA-FEIRA, 1O de janeiro de 2002 RETROSPECTIVA CORREIO DO POVO POLÍTICA Acusações levam à renúncia de três senadores FOTOS AE / CP MEMÓRIA Simone Iglesias s renúncias dos senadores Antônio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e José Roberto Arruda, a cassação de Luiz Estêvão e a violação do painel de votações do Senado movimentaram o Congresso Nacional durante todo o primeiro semestre de 2001. O discurso de 20 páginas que simbolizou a maior derrota dos 47 anos da carreira política do veterano e poderoso ex-senador baiano Antonio Carlos Magalhães (ACM) não continha em seu texto a frase “renuncio ao mandato de senador”. Ela foi dita de improviso, na tribuna, no mesmo tom rancoroso e irônico com que ACM discursou, por uma hora e cinco minutos, para o plenário lotado. Mesmo derrotado, preservou seu estilo, resistindo a reconhecer que a renúncia era irreversível. Deixou de lado o tom humilde adotado antes da renúncia e alfinetou adversários, criticou o governo e garantiu que voltará ao Senado ou irá além dele. “Não pensem que estão decidindo meu destino. Quem decide meu destino é a Bahia”, ressaltou. Por ironia, ACM, uma das figuras mais temidas da política brasileira, caiu por motivo A Jader e ACM deixam o cargo esdrúxulo: acusou a senadora Heloísa Helena, do PT, de ter votado contra a cassação do senador Luiz Estevão. “Eu tenho a lista de todos os que votaram”, confessou ACM em conversa gravada com procuradores da República. A violação do painel eletrônico do Senado no dia da votação que cassou o mandato de Luiz Estevão motivou o processo que levou Antonio Carlos à renúncia. Arruda, que também preferiu pedir o afastamento para não sofrer processo de cassação de mandato, teve de renunciar por colaborar com a violação do painel do Senado, cometendo crime de decoro parlamentar. Com um plenário quase vazio, o Senado assistiu ao discurso de Arruda. Ele confessou que por “vaidade, arrogância e poder” solicitou, a pedido de ACM, a lista da votação secreta que cassou Luiz Estevão. Menos dramática foi a saída de Jader. Sem estardalhaço, sua assessoria entregou a carta de renúncia ao presidente do Senado, Ramez Tebet (que assumiu quando Jader resolveu deixar o cargo), depois de um telefonema. O documento, sucinto e sem explicações, Universitários protestam contra ACM foi lido em sessão plenária e arquivado. Morte de Mário Covas comove o Brasil Depois de lutar durante dois anos contra um câncer que começou na bexiga, Mário Covas, ex-governador de São Paulo, morreu em 6 de março por falência múltipla de órgãos, no Instituto do Coração de São Paulo, onde estava internado desde 25 de fevereiro. O esforço do governador no enfrentamento da doença comoveu todo o país. Guerreiro por natureza e um dos políticos mais influentes da história recente brasileira, Covas participou de três momentos cruciais da política nacional nas últimas décadas. Em 1968, com a ditadura militar instalada, Covas obteve a última vitória da palavra contra a força no Congresso Nacional. Apenas com a sua oratória, o então deputado de 38 anos, que liderava a bancada do MDB, reverteu votação que parecia perdida e salvou o mandato do colega Márcio Moreira Alves. Quase 20 anos depois, outro pronunciamento do já senador Mário Covas mudou mais uma vez os rumos da política. Após discurso histórico, conquistou a liderança do PMDB na Constituinte, em 1987, ao enfrentar Ulysses Guimarães e interesses da administração de José Sarney. Em 1989, voltou à tribuna para explicar a sua plataforma de candidato à Presidência da República. Prometia traçar “a linha divisória da alternativa entre a direita autoritária e a esquerda populista para uma visão mais moderna da política”. Em seu programa de governo, antecipou temas 2001 Covas foi um dos mais influentes políticos da história recente que ainda hoje estão na agenda política: “O Brasil não precisa apenas de choque fiscal. Precisa também de choque de capitalismo e de livre iniciativa, sujeito a riscos e não apenas a prêmios”. Ou então: “Existe soberania somente quando há uma população com condições para sobreviver com dignidade”. AFP / CP MEMÓRIA Roseana surpreende candidatos O quadro eleitoral à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso deu uma guinada com o inesperado surgimento da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, do PFL, a partir de propaganda institucional do parRICARDO GIUSTI / CP MEMÓRIA tido para testar a imagem da filha do ex-presidente José Sarney. Desde que passou a ser incluída nas pesquisas, não parou mais de crescer percentualmente, superando o potencial candidato tucano, o ministro da Saúde, José Serra; o governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho; e Ciro Gomes. Hoje, Roseana se consolidou na segunda colocação e as pesquisas prevêem que, em um segundo turno, superaria o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. O crescimento do prestígio eleitoral de Roseana, no último quadrimestre de 2001, produziu um conjunto de incertezas entre os partidos aliados. Se Roseana concordar em disputar a eleição, o apelo de ser mãe, avó e mulher de saúde frágil poderá parecer Roseana cresce nas pesquisas ao Planalto atraente ao eleitorado. POSSES E DENÚNCIAS Tarso toma posse — Dia 1O/1. Tarso Genro assume a Prefeitura de Porto Alegre sendo cobrado pela oposição de administrar a Capital apenas até as eleições ao governo do Estado. Mulher chefia a Corregedoria-Geral — Dia 18/1. Pela primeira vez, uma mulher assume a chefia da Corregedoria-Geral da União. A autora da façanha é a paulista Anadyr de Mendonça Rodrigues, de 65 anos. Senado e Câmara elegem líderes — Dia 14/2. Jader Barbalho é eleito presidente do Senado e Aécio Neves, da Câmara dos Deputados. José Brizola na Lotergs — Dia 14/2. José Vicente Brizola, filho do presidente do PDT, Leonel Brizola, assume diretoria da Loteria do Estado a convite do governo Olívio Dutra. A contratação foi encarada pelos tra- Marta balhistas como punhalada no partido. Gravação de conversa causa crise — Dia 22/2. A divulgação de uma conversa do senador Antonio Carlos Magalhães com três procuradores da República, que gravaram o encontro, abre uma crise. Na conversa, ACM faz denúncias e tentou atingir o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas, segundo os procuradores, o senador não tem provas. “Eu tenho a lista de todo mundo que votou”, diz ACM, referindo-se à votação secreta da cassação do mandato do senador Luiz Estevão. FHC rompe com ACM — Dia 23/2. O presidente Fernando Henrique rompe aliança com Antonio Carlos Magalhães e demite os dois ministros nomeados por indicação dele: Waldeck Ornélas (Previdência) e Rodolpho Tourinho (Minas e Energia). Procurador destrói fita — Dia 23/2. O procurador Luiz Francisco de Souza confirma que gravou a conversa que ele e dois colegas tiveram com ACM, mas se complica ao explicar o destino que deu às fitas. Morre o ex-deputado Carrion Júnior — Dia 24/2. O monomotor pilotado por Francisco Carrion Júnior cai no interior de Encruzilhada do Sul. Também morreram sua mulher, Cláudia Bahia, e a filha Júlia, de 1 ano. Marta e Eduardo Suplicy se separam — Dia 17/4. Casal modelo da política brasileira, a rou que chamou Regina em casa na véspera prefeita paulista Marta e o senador Eduardo da cassação de Estevão e ligou para ela após Suplicy anunciam o fim da união de 36 anos. a votação. Regina disse que Arruda fez apeO motivo é o namoro de Marta com o seu nas um contato. ACM negou ter autorizado o coordenador de campanha, o franco-argenti- uso de seu nome, como afirmara Arruda. no Luiz Favre. Pedida cassação de ACM — Dia 9/5. O relator Ex-diretora depõe — Dia 19/4. A ex-diretora da investigação sobre a fraude do painel do do Prodasen Regina Borges conta como o pai- Senado, Saturnino Braga, pediu a cassação nel de votação da sessão que cassou dos mandatos de ACM e Arruda. o senador Luiz Estevão foi violado. Juracy Magalhães — Dia 13/5. Morre ex-governador da Bahia e ex-miArruda confessa — Dia 23/4, Arrunistro Juracy Magalhães, 95 anos, da confessa que solicitou a Regina de falência múltipla de órgãos. Borges, a pedido de ACM, a lista da Aprovado pedido de cassação — Dia votação da sessão de cassação do 23/5. Por 13 votos a dois, o Consesenador Luiz Estevão. lho de Ética aprovou o pedido de Senador deixa o PSDB — Dia 25/4. cassação de Arruda e ACM. Arruda se desfilia do PSDB. Arruda deixa o Senado — Dia 25/5. Reaberto inquérito — Dia 3/5. O Carrion Júnior José Roberto Arruda renuncia no Conselho Superior do Ministério Público do Pará reabriu o Caso Banpará. Segun- plenário do Senado. do o Banco Central, parte do dinheiro desvia- ACM renuncia — Dia 31/5. ACM renuncia. Essa era a única forma de evitar a cassação. do foi para uma conta de Jader Barbalho. Senadores se contradizem — Dia 4/5. É feita Nega Diaba — Em 20/6. Morre a 2ª suplente a acareação entre ACM, Arruda e a ex-direto- de vereadora da bancada do PTB em Porto ra do Prodasen Regina Borges. Arruda decla- Alegre, Teresa Franco, a Nega Diaba.