“PROGRAMA DE RESIDÊNCIA TÉCNICA EM ENGENHARIA RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO
UNIVERSIDADE E MERCADO DE TRABALHO NA PUCRS”
Eduardo Giugliani, M. Sc., Diretor Faculdade de Engenharia PUCRS
Silvia Kalil, M. Sc., Professora Depto. Eng. Civil FENG/PUCRS
Sérgio Brião Jardim, Coordenador Depto. Eng. Civil FENG/PUCRS
Felipe Brasil Viegas, Coordenador Setor Estágio FENG/PUCRS
Nilson V. Fernandes, M. Sc., Coordenador Depto. Eng. Mecânica/Mecatrônica FENG/PUCRS
Fernando Soares dos Reis, Dr., Coordenador Depto. Eng. Elétrica FENG/PUCRS
José Nicoletti Filho, M. Sc. , Coordenador Depto. Eng. Química FENG/PUCRS
RESUMO
Relata-se, neste trabalho, a implantação de um programa de residência técnica para
Engenheiros recém formados nos cursos da PUCRS, pioneiramente na área de Engenharia
Civil e em fase de expansão para os demais cursos do segmento. Neste processo os
treinandos cumprem um programa de trabalho com duração média de 01(um) ano atuando
em uma empresa de Engenharia selecionada, com supervisão de um profissional da
contratante e orientação de um professor da Universidade. A meta é facilitar a integração
dos novos graduados ao mercado de trabalho, ampliar a interface das comunidades
acadêmica e profissional e aproximar o perfil de formação dos estudantes às necessidades
do setor . Ao longo do desenvolvimento cumpre-se um programa de atividades, ajustado
entre os envolvidos. O aluno apresenta seminários rotineiros de acompanhamento, recebe
cursos de aperfeiçoamento ministrados pela Universidade e, ao final, apresenta um relatório
de conclusão. Ao longo do período o egresso recebe uma bolsa, custeada pela Empresa
contratante. As demais despesas do projeto são mantidas pela Universidade e instituições
associadas. O projeto tem recebido apoio e incentivo de vários órgãos de classe.
1. HISTÓRICO
A implantação de um Programa de Residência Técnica para o segmento de Engenharia têm
origem nas atividades do Programa de Qualidade e Produtividade na Construção CivilRS(PQPCC/RS) criado em 1992 pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio
Grande do Sul (SINDUSCON/RS), contando com a participação das empresas do setor,
órgãos públicos de pesquisa e as principais Universidades gaúchas. Dentro do PQPCC/RS,
implantaram-se vários subprogramas temáticos, incluindo-se um específico para tratar da
Formação Profissional, cuja coordenação, à época, ficou ao encargo do Departamento de
Engenharia Civil da PUCRS. Foi dentro deste grupo de trabalho que surgiu a proposta de
implantação de um programa de treinamento em Engenharia Civil, capaz de diminuir a
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distância entre o perfil de formação dos egressos dos cursos de Engenharia na área e as
exigências específicas do mercado de trabalho.
Assim, oriundo de um processo de melhoria de qualidade setorial e concebido num
programa que aproximava, justamente, a comunidade acadêmica e o mercado empresarial,
implantou-se na PUCRS um programa piloto, entre Outubro/1994 e Outubro/1995,
atendendo um perfil de Engenheiros, recém formados, para atuação na área de
gerenciamento na construção civil. Participaram dessa primeira edição 4(quatro) alunos,
cumprindo com amplo sucesso o programa em distintas empresas selecionadas. Na
concepção pioneira do modo gerencial do treinamento, foram importantes as propostas
apresentadas por Saldanha(ref. 1) em sua dissertação de mestrado. A adoção de um roteiro
de atividades, ajustado entre a Universidade e as Empresas; a sistemática de
acompanhamento do aluno, por ambos as partes; a exigência de seminários para verificação
da evolução do processo de formação e a programação de cursos de aperfeiçoamento,
ajustados para as necessidades dos treinandos e suas empresas, foram bases fundamentais
para o sucesso da primeira edição e constituem-se em pontos chaves do projeto até este
momento.
Desde então, o projeto ganhou espaço próprio dentro da Faculdade de Engenharia da
PUCRS no Departamento de Engenharia Civil, dissociando-se do PQPCC/RS - que
cumprira um papel de estimulador e proponente da iniciativa, gerando um importante
retorno para o segmento, que deve ser registrado como uma ação de sucesso daquele
processo, mais amplo, de qualidade setorial - e cobrando novos desafios que passavam pela
consolidação e sistematização da idéia, com a viabilização financeira do custeio do
programa, o estabelecimento de parcerias para divulgação e sensibilização de novas
empresas participantes e a motivação aos alunos para aderirem com confiança à proposta.
Nesse contexto, foram realizadas mais três edições, concluindo-se a última delas em meados
de 1999 e preparando-se uma nova etapa para o ano em curso. Neste momento, trata-se em
paralelo de expandir o projeto para os demais segmentos da Engenharia, uma vez que até
aqui a experiência vem sendo desenvolvida com a área de Engenharia Civil, onde a idéia
surgiu, como apresentamos.
2. OBJETIVOS
A proposta de implantação de um programa de residência técnica em Engenharia busca
cumprir os seguintes objetivos:
- Minimizar a dicotomia existente entre a formação teórica e prática dos
Engenheiros, oportunizando o exercício profissional, vinculando os conhecimentos
acadêmicos e práticos;
- Aprimorar a formação dos egressos dos cursos de Engenharia, aproximando-os
do perfil exigido pelo mercado de trabalho;
- Oportunizar aos recém formados a adaptação à carreira num processo apoiado
pela Universidade e Empresa contratante;
- Distinguir os cursos de Engenharia da PUCRS pela oferta de profissionais
mais adaptados às exigências do setor;
- Aproximar a Faculdade de Engenharia da PUCRS, as Instituições de Classe e a
comunidade empresarial permitindo uma maior permeabilidade de exigências e anseios
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recíprocos, obtendo-se ganhos diretos pelo desenvolvimento de projetos comuns,
permanente atualização de currículos, aproximação das empresas às tecnologias
disponíveis na Universidade e vice-versa, etc.
- Qualificar a oferta de Engenheiros oferecidos ao mercado.
Dentro deste escopo o trabalho vem sendo conduzido no sentido de atenderem-se as metas
traçadas, reunindo quatro segmentos com interesses convergentes, a saber:
- UNIVERSIDADE: Cuja meta é qualificar a formação oferecida e aproximarse do mercado
- EMPRESAS E SEUS ÓRGÃOS REPRESENTATIVOS: Que buscam mão de
obra mais qualificada, com menor investimento em treinamento e retorno mais ágil
na produção. Ao mesmo tempo aumentam a interface com as Universidades
- ESTUDANTES: Que tem a oportunidade de acessar o mercado de trabalho
em condições sustentadas, diferenciando-se dos demais concorrentes, recebendo
formação complementar e percebendo uma remuneração ao longo do período
- ENTIDADES DE CLASSE: Cujo papel é atuarem institucionalmente para
aprimoramento do setor e tem no programa um instrumento eficiente para
contribuírem ao aperfeiçoamento do meio profissional;
3. OPERACIONALIZAÇÃO
O Programa de Residência Técnica em Engenharia consiste na realização, ao longo de um
ano acadêmico, de um treinamento para alunos egressos dos cursos de Engenharia da
PUCRS, atuando como bolsistas contratados dentro de uma Empresa do setor. Nesse
período o recém graduado atua como se fosse um membro do quadro funcional da
contratante, cumprindo jornada em período integral e participando das atividades rotineiras
da Empresa. Sua atuação como Engenheiro na Empresa é delineada por um programa de
atividades, estabelecido em comum acordo com a contratante, Faculdade de Engenharia e o
próprio treinando. Este programa vai sendo ajustado e monitorado ao longo da evolução
buscando maximizar as condições de aprendizagem do residente, valorizar a sua
contribuição dentro da Empresa e aproximar sua contribuição aquela desejada para um
profissional já familiarizado com as tarefas. O Engenheiro, cumprindo a residência, recebe
mensalmente uma bolsa auxílio que é custeada pela Empresa contratante, sendo repassada
ao estudante via Universidade, formalizando-se a plena vinculação com a Instituição,
através de seu efetivo monitoramento e evitando-se a vinculação trabalhista, nesta fase de
treinamento.
O adequado funcionamento do sistema baseia-se em alguns pontos fundamentais dentre os
quais destacam-se a clara definição de um elemento de vinculação com a Universidade, o
que se faz através do orientador – definido pela Escola – que atua como tutor e facilitador
de acesso ao suporte disponibilizado ao treinando. Outro elemento básico é o
estabelecimento de um supervisor, dentro da Empresa contratante, que funciona como
contato imediato e referencial para o treinando em seu ambiente de trabalho. Independente
da escala hierárquica da Empresa, a qual se busca integrar o residente - tanto quanto
possível, no contexto - é indispensável que se tenha no supervisor um ponto de referência,
capaz de dirimir dúvidas, contribuir para a ambientação e, sobretudo, monitorar o efetivo
cumprimento do plano de atividades ajustado para o programa, disseminando a idéia junto
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aos demais funcionários que interagem na Empresa. Nesse ponto há que se ter claro, que o
sucesso do programa depende muito da efetiva compreensão que os profissionais da
contratante, tenham sobre o funcionamento do processo implantado. A capacidade de
treinar um novo profissional, a confiança em atribuir responsabilidades crescentes ao
residente na medida de sua evolução e a necessidade de que se ofereçam oportunidades para
que o egresso possa atuar em diferentes segmentos, ganhando assim uma visão ampla sobre
o funcionamento do negócio, são fatores que contribuem decisivamente para o
aproveitamento da residência.
Na seqüência destacamos as principais fases e papéis envolvidos no Programa de Residência
Técnica em Engenharia:
ENGENHEIRO RESIDENTE: É o aluno recém – formado em Engenharia, nos cursos da
PUCRS, que cumpre um treinamento, com duração de um ano acadêmico, junto a uma
Empresa do setor. Nesse período deve desempenhar tarefas compatíveis com sua formação,
cumprindo jornada de trabalho e atendendo um programa de atividades que orienta sua
evolução e aprendizagem no processo. Além disso , recebe ao longo do período um
conjunto de cursos de aperfeiçoamento – preferencialmente em horários fora do seu
expediente na Empresas. Seu desempenho é avaliado em reuniões com o supervisor na
Empresa, em contatos semanais com o Orientador na Universidade, na apresentação de três
seminários ao longo do ano e na entrega de um relatório final. Ao longo da residência o
egresso recebe uma bolsa mensal superior a equivalente federal para alunos de mestrado,
repassada pela Empresa através da Universidade, não tendo vínculo empregatício. No final
do processo a Empresa tem a opção de contratar ou não o residente.
ORIENTADOR: Profissional vinculado à Faculdade de Engenharia da PUCRS –
preferencialmente um professor – cujo papel é atuar como um vínculo entre o residente e a
instituição. Dentre suas responsabilidades está o permanente acompanhamento das
atividades do aluno na Empresa, o estabelecimento, em comum acordo com os demais
interessados, do plano de atividades, o encaminhamento do aluno aos demais professores e
recursos da Universidade para solução de dificuldades do residente, a mediação junto com o
Supervisor para superação de problemas encontrados no processo, o apoio na preparação
dos seminários e relatório final, bem como participar na avaliação final do desempenho do
treinando. Os orientadores atuam como gerenciadores do treinamento, contribuindo para
que o residente consiga uma visão globalizada do processo, desenvolvam espírito crítico e
busquem recursos para preencher suas lacunas.
SUPERVISOR: Profissional vinculado à Empresa contratante que atuará como um
articulador do processo dentro do ambiente de trabalho. O supervisor funciona como
efetivo elo de ligação da Empresa com o programa. Exige-se dele pleno conhecimento e
compreensão dos objetivos, participação na elaboração do plano de atividades, participação
nos seminários de acompanhamento e disponibilidade para reuniões de ajuste com os
orientadores e a coordenação do projeto. Dentro de suas responsabilidades destaca-se,
também, a capacidade de contribuir para inserção do aluno na Empresa, a divulgação e a
busca do comprometimento da Empresa com as metas da residência, facilitando ao
treinando seu aprendizado, identificação de dificuldades e sua integração às especificidades
de cada setor da corporação.
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COORDENAÇÃO: O gerenciamento geral, o estabelecimento de convênios que garantam o
aporte de recursos e a aproximação com o mercado de trabalho, atraindo Empresas e seus
órgãos associativos para participarem do programa são atividades permanentes do setor de
coordenação, mantido junto a Universidade. Este setor atua agregando contribuições dos
demais órgãos mantenedores e apoiadores do processo, desenvolvendo, em paralelo, ações
de planejamento para expansão e consolidação da Residência Técnica. A participação em
feiras, a organização de materiais de divulgação e a realização de seminários junto ao
mercado de trabalho são exigências constantes para assegurar a continuidade do programa,
que se somam ao trabalho administrativo, inerente ao processo, sob responsabilidade da
coordenação. O perfil de coordenação estabelecido inclui uma gerencia geral para a
faculdade de Engenharia e um coordenador em cada curso efetivamente implantado. Os
recursos de secretaria aproveitam a estrutura disponível na Escola evitando-se o acréscimo
de despesa pelo acúmulo de pessoal.
PROCESSO DE SELEÇÃO: O processo de seleção divide-se em duas fases. Uma primeira
desenvolvida pela Universidade contempla a identificação de candidatos com perfil
adequado a participarem do programa de residência técnica. Dentre um conjunto de
candidatos inscritos, uma comissão reunindo a coordenação e equipe de orientadores
seleciona os alunos que podem prosseguir no processo observando itens como: currículo
escolar, estágios durante a graduação, entrevista de triagem e, quando necessário,
resultados de uma prova de conhecimentos técnicos. Aspectos como a clara compreensão
dos objetivos do programa e a disponibilidade para comprometer-se com essas metas,
capacidade de expressão e lógica, padrão de desempenho acadêmico são referenciais
considerados nesta etapa. Num segundo momento os currículos dos candidatos préselecionados são submetidos às Empresas identificadas, que desenvolverão um processo de
seleção final, similar ao adotado para escolha de funcionários nos segmentos de recursos
humanos, chegando a opção final. Deve-se destacar que o conjunto de Empresas que
aderem ao programa é, também, alvo de uma seleção, visando identificar claro
comprometimento com as metas e responsabilidades do projeto, afastando eventuais
oportunistas que buscam simplesmente uma fonte de mão de obra barata.
SEMINÁRIOS DE ACOMPANHAMENTO: Os seminários de acompanhamento são
eventos que reúnem o grupo de Engenheiros residentes, os orientadores e supervisores das
Empresas, realizados trimestralmente, onde os treinandos apresentam um relato
descrevendo o andamento de seu trabalho, suas dificuldades e avanços. A grande meta
destes seminários é permitir o monitoramento da evolução da residência, viabilizando,
também, a troca de experiências, soluções adotadas e a integração entre os profissionais da
Universidade e o grupo de supervisores que atuam no mercado. Ao longo do tempo, estas
ocasiões revelaram-se grandes momentos de conhecimento, debates e identificação de
problemas comuns entre corporações atuantes no meio. Em paralelo, exige-se dos alunos
em treinamento a capacidade de prepararem apresentações – tradicional dificuldade dos
egressos de curso de Engenharia – utilizando softwares adequados, observando as
limitações de tempo e superando o impacto de expor um tema em público. Dentre os
compromissos assumidos pelas Empresas ao aderirem ao programa inclui-se a obrigação de
liberar os residentes para prepararem e participarem dos seminários, contribuindo para o
resultado da apresentação.
CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO: Um conjunto de aproximadamente 100 horas / aula
em cursos de aperfeiçoamento é oferecido aos residentes. O perfil dos cursos é definido em
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função das necessidades do grupo de residentes, priorizando-se tópicos que complementem
a formação clássica em Engenharia. Assim tópicos aplicados em computação, noções em
gerenciamento e gestão incluem a programação ajustada em cada nova edição
RELATÓRIO FINAL: O relatório final é o documento escrito, entregue no final da
residência e que dá fechamento ao processo, incluindo a descrição completa de todo o
treinamento e a evolução do residente no cumprimento do programa.
INSTITUIÇÃO MANTENEDORA E GERENCIADORA: A Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS – atua como gerenciadora do programa de
residência técnica, através da Faculdade de Engenharia, responsabilizando-se por todo o
trabalho organizacional e legal da atividade, uma vez que os residentes atuam como alunos
matriculados na Universidade, em caráter especial, comprometendo-se a instituição a
ministrar os cursos de aperfeiçoamento e acompanhar todo o processo através de seus
orientadores e coordenadores. As empresas e instituições associadas ao programa celebram
convênios e contratos com a Universidade, assumindo os compromissos inerentes ao
projeto, inclusive o repasse mensal das bolsas destinadas aos alunos, em treinamento. Ao
mesmo tempo, a PUCRS atua como mantenedora do programa, associada com outras
conveniadas, na medida que participa no rateio dos demais custos do projeto.
INSTITUIÇÕES MANTENEDORAS: Denominam-se instituições mantenedoras aquelas
que participam do custeio do programa de residência técnica, ao mesmo tempo que
contribuem para divulgação e organização do projeto. Ao longo deste período temos
contado com a decisiva participação do CREA/RS e do SENAI/RS, que contribuem de
maneira importante no aporte de recursos para manutenção do projeto. A compreensão e a
sensibilização destes órgãos é fundamental, observando-se que o volume de recursos
exigido pelo processo é significativo, correspondendo a remuneração dos orientadores na
razão de 4 horas/aula semanais, a oferta dos cursos de aperfeiçoamento, as despesas com
material acadêmico, a organização dos seminários, material de divulgação e custos
administrativos.
INSTITUIÇÕES APOIADORAS: Denominam-se instituições apoiadoras ao conjunto de
órgãos que, embora não participem do custeio do projeto, atuam conveniadas organizando
segmentos do mercado de trabalho, divulgando o projeto e sensibilizando empresas para a
importância da adesão ao processo. Pela facilidade de acesso aos seus associados e a
possibilidade de reunirem organizadamente uma série de exigências comuns, as instituições
apoiadoras cumprem também um papel importante no processo, viabilizando o perfeito
ajuste de metas do programa com o mercado. Há que se observar que sem a participação
das Empresas o projeto fracassa pela ausência do cliente contratante! Temos tido
participações consolidadas do SINDUSCON/RS, pioneiro no projeto como já exposto aqui,
da AGEOS(Associação Gaúcha da Empresas de Obras de Saneamento) e do SICEPOT,
sindicato que reúne as empresas associadas ao mercado de construção pesada.
4. RESULTADOS
A implantação de um projeto pioneiro é sempre trabalho marcado pela incerteza e
necessidade de sensibilizar a comunidade interna e externa ao meio acadêmico. Tal fato é
particularmente agravado quando a proposta, por sua estratégia, exige importante nível de
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investimento. A exigência de um orientador com dedicação semanal para tutoriamento por
residente e a oferta de cursos que complementem a formação de graduação, naturalmente
oneram a proposta. Por outro lado, a tradição de inconstância e o alto nível teórico das
propostas de parceria entre o meio acadêmico e as empresas do mercado de trabalho, criam
dificuldades adicionais quando trata-se de buscar adesão para participação em um projeto
com duração de um ano e contratação de um profissional sem experiência – ainda que com
valores inferiores ao mercado, se consideradas as leis sociais – para atuação dentro do
quadro funcional da Empresa. A adesão ao programa dos órgãos associativos das
Empresas, como o SINDUSCON, a AGEOS e o SICEPOT, contribuíram decisivamente
para a consolidação da parceria entre a Universidade e o mercado de trabalho, pelo poder
de mobilização e a disseminação de testemunhos favoráveis entre os empresários. Em outro
ponto, a percepção de órgãos como o CREA/RS e o SENAI/RS, que dispõe de recursos
específicos para investimento no aprimoramento da formação de mão de obra, tem
possibilitado a viabilidade financeira ao projeto. Neste ponto uma ampla transparência
orçamentária e o rigoroso acompanhamento da aplicação das verbas garantem a eficaz
utilização dos recursos investidos. A implantação efetiva do programa que caminha em sua
V Edição, assegurando-se a renovação das parcerias, ao longo deste período já é
considerado um resultado muito favorável. A efetiva consolidação da proposta era um
primeiro desafio.
Um segundo aspecto que permite-nos avaliar os resultados obtidos até o momento dá conta
de que cerca de 50% dos alunos que concluíram o programa de residência receberam
convites para permanecerem nas Empresas e que uma outra parcela significativa manifesta
interesse pela contratação e informa que só não a efetiva por dificuldades financeiras
inerentes a situação de crise no mercado de Engenharia. Este fato foi particularmente
sensível nesta última edição, quando a crise tornou-se mais intensa. Note-se que várias das
empresas associadas ao projeto tem dirigido-se formalmente à coordenação do programa,
manifestando sua satisfação com o programa e lamentando, quando não tem condições de
manter o profissional treinado. Por outro lado, raros são os casos de treinamento
interrompido por insatisfação do residente ou da Empresa, testemunhando uma
correspondência das expectativas envolvidas.
No encerramento da última edição com 12 residentes em treinamento, o SINDUSCON/RS
realizou pesquisa junto as Empresas contratantes, medindo o grau de satisfação das
participantes. O resultado obtido aponta para um índice de aprovação de aproximadamente
90%. Estes índices tem sido utilizados, inclusive, para recomendação ao SENAI/RS pela
manutenção do apoio financeiro ao projeto, observado o cumprimento das metas propostas.
Finalmente, devemos indicar que os relatos obtidos nos seminários de acompanhamento
quer pelos residentes, como pelos orientadores e supervisores, demonstram significativo
grau de aprovação com a iniciativa. Um resultado perceptível, deste esforço, é o alto
interesse manifestado pelos alunos na graduação, preocupados em conhecer o programa e
buscando informações sobre as exigências para aderirem ao projeto.
5. PERSPECTIVAS E DIFICULDADES
Dentre as principais perspectivas do projeto destaca-se a intenção de ampliar o programa
para as demais áreas da Engenharia, ao mesmo tempo que se mantém o processo em
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andamento na Engenharia Civil. A implantação nos demais segmentos da Engenharia deverá
cumprir um cronograma gradual, como feito na fase pioneira, permitindo a assimilação da
cultura entre alunos, professores e a comunidade empresarial.
As contribuições colhidas até o momento, resultado da interface com o mercado de
trabalho, serão incorporadas ao processo de revisão curricular em curso na Faculdade de
Engenharia da PUCRS, representando efetiva realimentação do processo de formação de
nossos profissionais.
As principais dificuldades para viabilização do futuro do projeto estão ligadas ao
investimento necessário em cada edição. Estes custos estão diretamente associados ao
número de alunos em treinamento. A ampliação da quantidade de residentes exige,
naturalmente, maiores aportes de recurso, que devem ser buscados junto aos parceiros
externos, observados os limites da Universidade para projetos dessa natureza. Num
momento de intensa recessão, em que pese a consolidação do projeto e os bons resultados
obtidos, os recursos são mais escassos e exigem maiores esforços da coordenação no
sentido de encontrar caminhos que viabilizem a continuidade do programa. A ampliação do
número de instituições mantenedoras e inclusão de uma pequena contribuição das empresas
contratantes para colaborarem no custeio do programa são algumas das alternativas
analisadas.
Um outro aspecto complicador, neste momento de crise, aponta para o fato de que as
empresas de Engenharia, vivem um momento delicado, dispensando mão de obra. Nesta
situação, ainda que apoiem a proposta como uma boa alternativa para formação de pessoal,
as empresas não são receptivas a contratação de novos profissionais, mesmo na condição de
bolsistas temporários. Assim são escassas as vagas disponíveis para alocação de residentes.
6. REFERÊNCIAS
[1] SALDANHA, BRENO F., Análise da Atuação do Engenheiro Civil no Gerenciamento
do Processo Construtivo: Disciplinas Envolvidas e o Desenvolvimento de Jogos de
Treinamento. Porto Alegre, CPGEC, UFRGS, 1991, 190p Dissertação de Mestrado
[2] GIUGLIANI, EDUARDO et ali, Programa de Treinamento em Engenharia Civil,
International Symposium on Continuing Engineering Education for Technology
Development, WFEO/World Federation on Engineering Organizations, Rio de Janeiro,
Outubro, 1996, 4p
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Download

programa de residência técnica em engenharia – relato