COLÉGIO FRANCO -BRASILEIRO NOME: PROFESSOR(A): N°: ANO: TURMA: DATA: / / 2014 Exercícios de Recuperação A Menina sem Palavra A menina não palavreava. Nenhuma vogal lhe saía, seus lábios se ocupavam só em sons que não somavam dois nem quatro. Era uma língua só dela, um dialecto pessoal e intransmixível? Por muito que se aplicassem, os pais não conseguiam percepção da menina. Quando lembrava as palavras ela esquecia o pensamento. Quando construía o raciocínio perdia o idioma. Não é que fosse muda. Falava em língua que nem há nesta atual humanidade. Havia quem pensasse que ela cantasse. Que se diga, sua voz era bela de encantar. Mesmo sem entender nada as pessoas ficavam presas na entonação. E era tão tocante que havia sempre quem chorasse. Seu pai muito lhe dedicava afeição e aflição. Uma noite lhe apertou as mãozinhas e implorou, certo que falava sozinho: - Fala comigo, filha! - Os olhos dele deslizaram. A menina beijou a lágrima. Gostoseou aquela água salgada e disse: - mar- ... O pai espantou-se de boca e orelha. Ela falara? Deu um pulo e sacudiu os ombros da filha. - _Vês, tu falas, ela fala, ela fala!- Gritava para que se ouvisse. - _Disse mar, ela disse mar- , repetia o pai pelos aposentos. Acorreram os familiares e se debruçaram sobre ela. Mas mais nenhum som entendível se anunciou. O pai não se conformou. Pensou e repensou e elaborou um plano. Levou a filha para onde havia mar e mar depois do mar. Se havia sido a única palavra que ela articulara em toda a sua vida seria, então, no mar que se descortinaria a razão da inabilidade. A menina chegou àquela azulação e seu peito se definhou. Sentou-se na areia, joelhos interferindo na paisagem. E lágrimas interferindo nos joelhos. O mundo que ela pretendera infinito era, afinal, pequeno? Ali ficou simulando pedra, sem som nem tom. O pai pedia que ela voltasse, era preciso regressarem, o mar subia em ameaça. - Venha, minha filha! Mas a miúda estava tão imóvel que nem se dizia parada. Parecia a águia que nem sobe nem desce: simplesmente, se perde do chão. Toda a terra entra no olho da águia. E a retina da ave se converte no mais vasto céu. O pai se admirava, feito tonto: por que razão minha filha me faz recordar a águia? - Vamos filha! Caso senão as ondas nos vão engolir. O pai rodopiava em seu redor, se culpando do estado da menina. Dançou, cantou, pulou. Tudo para a distrair. Depois, decidiu as vias do facto: meteu mãos nas axilas dela e puxou-a. Mas peso tão toneloso jamais se viu. A miúda ganhara raiz, afloração de rocha? Desistido e cansado, se sentou ao lado dela. Quem sabe cala, quem não sabe fica calado? O mar enchia a noite de silêncios, as ondas pareciam já se enrolar no peito assustado do homem. Foi quando lhe ocorreu: sua filha só podia ser salva por uma história! E logo ali lhe inventou uma, assim: Era uma vez uma menina que pediu ao pai que fosse apanhar a lua para ela. O pai meteu-se num barco e remou para longe. Quando chegou à dobra do horizonte pôs-se em bicos de sonhos para alcançar as alturas. Segurou o astro com as duas mãos, com mil cuidados. O planeta era leve como uma baloa. Quando ele puxou para arrancar aquele fruto do céu se escutou um rebentamundo. A lua se cintilhaçou em mil estrelinhações. O mar se encrispou, o barco se afundou, engolido num abismo. A praia se cobriu de prata, flocos de luar cobriram o areal. A menina se pôs a andar ao contrário de todas as direções, para lá e para além, recolhendo os pedaços lunares. Olhou o horizonte e chamou: - Pai! Então, se abriu uma fenda funda, a ferida de nascença da própria terra. Dos lábios dessa cicatriz se derramava sangue. A água sangrava? O sangue se aguava? E foi assim. Essa foi uma vez. Chegado a este ponto, o pai perdeu voz e se calou. A história tinha perdido fio e meada dentro da sua cabeça. Ou seria o frio da água já cobrindo os pés dele, as pernas de sua filha? E ele, em desespero: Agora, é que nunca. A menina, nesse repente, se ergueu e avançou por dentro das ondas. O pai a seguiu, temedroso. Viu a filha apontar o mar. Então ele vislumbrou, em toda extensão do oceano, uma fenda profunda. O pai se espantou com aquela inesperada fratura, espelho fantástico da história que ele acabara de inventar. Um medo fundo lhe estranhou as entranhas. Seria naquele abismo que eles ambos se escoariam? Filha, venha para trás. Se atrase, filha, por favor... Ao invés de recuar a menina se adentrou mais no mar. Depois, parou e passou a mão pela água. A ferida líquida se fechou, instantânea. E o mar se refez, um. A menina voltou atrás, pegou na mão do pai e o conduziu de rumo a casa. No cimo, a lua se recompunha. Viu, pai? Eu acabei a sua história! E os dois, iluaminados, se extinguiram no quarto de onde nunca haviam saído. Mia Couto 01- Retire do segundo período do texto a expressão usada para indicar a inexpressividade dos sons que a menina produzia. __________________________________________________________________________________ 02- Apresente o sentido da reação do pai na seguinte expressão: ―O pai espantou-se de boca e orelha‖ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 03- O autor cria novas palavras a partir de duas outras já existentes na língua portuguesa. a- Retire dois exemplos dessa prática do autor e indique quais palavras foram utilizadas para compôlas. _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ b- Que interpretação pode ser dada as palavras selecionadas no item anterior. _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 4- Apresente a oração que ratifica a afirmativa abaixo: A menina não se intimidou diante mar. __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 5- O pai, em determinado momento, profere a seguinte frase: ―Agora, é que nunca.‖ O que motivou-o a fazer tal afirmativa? __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 6- Observe atentamente a capa do livro, nela há algumas palavras aleatoriamente dispostas em destaque. Estabeleça uma relação pertinente entre a disposição dessas palavras e a personagem feminina do conto ―A menina sem palavras‖. 7- O termo em negrito equivale sintaticamente a qual das orações abaixo presente nos períodos abaixo? ―Mas a miúda estava tão imóvel‖ abcde- A verdade é que a miúda estava imóvel. O pai afirmava que a miúda permanecia imóvel. Convém que a menina fique imóvel. O certo era a menina ficar imóvel. Estava certa de que a menina estava imóvel. 8- Analise a predicação dois verbos do período abaixo e verifique se eles se assemelham ou se diferenciam. Justifique sua resposta de forma completa. ―Acorreram os familiares e se debruçaram sobre ela.‖ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 9- Leia atentamente o discurso do Autor MIA COUTO acerca do reencantamento do mundo. Texto 2 ― Há vários processos que desencantam o mundo. Um deles é esse modelo de sociedade que nós criamos: as coisas têm valor por aquilo que podem render, por aquilo que podem dar lucro. Há também outras coisas sutis que confirmam esse desencantamento. O nosso discurso se tornou hegemônico. A aproximação que devemos ter com as criaturas são sempre racionalistas. Por exemplo, o que fazemos cotidianamente com nossos filhos e netos. Esse meninos trazem uma espécie de tentação, um encantamento, e quando olham para uma nuvem, eles querem saber como essa nuvem é uma história, como essa nuvem é um ser encantado. Se nós lhes perguntarmos o que é, eles responderão às coisas mais extraordinárias. Infelizmente nós temos a tendência de corrigir e dizer: ― Não! A nuvem não é isso, a nuvem é o vapor d’água que se forma...‖ Então não tem graça nenhuma, é uma coisa estéril. Essas crianças que teriam a possibilidade de um reencantamento do mundo, ficam formatadas e condicionadas a dizer que esse outro discurso (do encantamento) não vale. No mundo de hoje, a poesia não serve, porque não rende...‖ a- Explique com suas palavras o que são os ―processos que desencantam o mundo‖ de acordo com Mia Couto. _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ b- Esses processos mencionados no item anterior ocorrem no conto que acabamos de ler nessa prova? Justifique. _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 10- Analise os dois períodos abaixo: ―eles querem saber como essa nuvem é uma história‖ Eles querem escrever uma bela história como um bom escritor. III- a- Em qual dos períodos acima há uma oração substantiva? Copie-a. __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ b- Justifique a sua escolha. __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ c- Como se classifica essa oração? _________________________________________________________________________________ 11- Assinale a alternativa em que há o uso incorreto da vírgula: abcd- Se nós lhes perguntamos, eles respondem imediatamente. Eles sempre perguntam, quando vamos viajar. Quando queremos ajuda, pedimos a nossa imaginação. Durante a aula, eles sempre querem usar a imaginação. 12- Justifique o erro da questão anterior, apresentando argumentos sintáticos. __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Leia os dois textos abaixo e responda ao que se pede: Texto 3 Pronominais Dê-me o cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso, camarada Me dá um cigarro. Oswald de Andrade Texto 4 A vida não chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha de boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil Ao passo que nós O que fazemos É macaquear A sintaxe lusíada. Manuel Bandeira 13- No texto 4, Manuel Bandeira faz uma crítica. Qual o alvo dessa crítica? __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 14- Em relação à crítica realizada, como o texto 3 pode ilustrá-la? Justifique sua resposta. __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 15- Identifique o complemento e o sujeito do verbo dizer na segunda estrofe. Sujeito: _______________________________________________ Complemento: __________________________________________ 16- Podemos, muitas vezes, não saber o significado das palavras, mas, dominadas, as regras de acentuação é possível acentuá-las corretamente. Analise a palavra abaixo, fique atento a sílaba tônica que está grifada, e indique se são acentuadas ou não. Justifique sua resposta. a- mujangue - ____________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ b- pacatez - _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 17- Observe as duas palavras destacadas no quadro abaixo. Ambas possuem ditongos abertos, então por que uma é acentuada e a outra não? Jiboia - dói __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 18- Veja se há erro ou não na classificação à direita das palavras à esquerda. Assinale-o se houver. a- Ratificar / retificar - Parônimos. b- Lima (fruta) / lima (objeto) – Homônimos c- Seção /sessão / cessão - Homófonas. d- Infligir / infrigir – Homógrafos 19- Leia este trecho de notícia sobre a fuga de um oficial da Polícia Militar que havia sido preso, acusado de participação em um crime. No texto acima, o redator confundiu-se e grafou de modo errado duas palavras. a) Identifique as palavras que ele empregou incorretamente. b) Como você explicaria o engano do redator? Justifique sua resposta. ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ c) Segundo o texto, não foi identificado o objeto usado pelo policial para fugir. Mantida a palavra que o redator empregou erradamente, que objeto se imagina que o fugitivo tenha usado? Justifique. __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ d) Tal como o texto se apresenta, ele permite imaginar uma situação, no mínimo, engraçada. Qual seria essa situação? __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 20- Cada palavra tem sua forma própria, que envolve o uso correto de letras e sinais diacríticos (acento, til, etc). Fonte comum de erro quanto a esse aspecto são chamadas de parônimas, palavras que têm formas semelhantes, mas significados diferentes. Provavelmente por falha no processo de digitação, o texto abaixo, publicado em um jornal, apresenta um problema desse tipo. a)Que palavra foi empregada indevidamente? b) Que palavra deveria ter sido empregada? c) Que passagem do texto nos leva a confirmar a inadequação? Justifique. __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 21- ―Se você não ―arrumar‖ a porta, não poderá ―fechá-la‖, havendo o ―perigo próximo‖ de um assalto.‖ As palavras destacadas podem ser substituídas por: a- concertar — serrá-la — eminente b- consertar — serrá-la — iminente c- consertar — cerrá-la — eminente d- consertar — cerrá-la — iminente e- concertar – cerrá-la - eminente 22- Considere estas frases: 1 . A hora da verdade está ....... . Aproveite-a. 2. Os familiares estão de acordo com a ...... dos bens. 3. É hora de.. ....o fogo, pois o frio está próximo. 4. O fato passou ...... até o momento. 5. Os faltosos foram pegos em ....... . A alternativa que preenche corretamente as lacunas acima é: (0,4) a) eminente — sessão — acendermos — desapercebido — fragrante. b) eminente — cessão — ascendermos —despercebido — fragrante. c) iminente — sessão — acendermos — desapercebido — flagrante. d) iminente – seção – acendermos – despercebido – flagrante. e) iminente — cessão — acendermos — despercebido — flagrante. 23- (T J‐GO) Assinale a alternativa em que o hífen, conforme o novo Acordo, está sendo usado corretamente: a) Ele fez sua auto‐crítica ontem. b) Ela é muito mal‐educada. c) Ele tomou um belo ponta‐pé. d) Fui ao super‐mercado, mas não entrei. e) Os raios infra‐vermelhos ajudam em lesões. 24- (ESAG‐TRE‐PR) Assinale a alternativa errada quanto ao emprego do hífen: a) Pelo interfone ele comunicou bem‐humorado que faria uma superalimentação. b) Nas circunvizinhanças há uma casa malassombrada. c) Depois de comer a sobrecoxa, tomou um antiácido. d) Nossos antepassados realizaram vários anteprojetos. e) O autodidata fez uma autoanálise. 25- (T J‐DF) Assinale a alternativa incorreta quanto ao emprego do hífen, respeitando‐se o novo Acordo. a) O semi‐analfabeto desenhou um semicírculo. b) O meia‐direita fez um gol de sem‐pulo na semifinal do campeonato. c) Era um sem‐vergonha, pois andava seminu. d) O recém‐chegado veio de além‐mar. e) O vice‐reitor está em estado pós‐operatório. 26- (ITA) Segundo o novo Acordo, entre as palavras pão duro (avarento), copo de leite (planta) e pé de moleque (doce) o hífen é obrigatório: a) em nenhuma delas. b) na segunda palavra. c) na terceira palavra. d) em todas as palavras. e) na primeira e na segunda palavra. Gabarito 01- ―não somovam nem dois nem quatro‖ 02- O pai ficou surpreso com a reação da filha e expressou todo esse sentimento por meio de uma largo sorriso. 03- A- 1- intransmixível- (intransmissível – mixar) 2- Toneloso – (tonelada – penoso) 3- Iluaminados (enluarado- iluminado) B- 1- Palavras que não se transmitem e não se misturam/combinam 2- Pesava muito, como se fosse uma tonelada. 3- Iluminado pela lua. 04- ―A menina, nesse repente, se ergueu e avançou por dentro das ondas.‖ (dentre outras) 05- Ele percebeu que tinha chegado a um ponto sem volta, algo importante iria acontecer. Tinha que seguir em frente, independente do resultado daquele momento. 06- Assim como as palavras estão dispostas aleatoriamente na capa do livro, também estão dispostas da mesma forma no imaginário da menina no início do conto. 07- Letra C 08- Eles se diferenciam, visto que o primeiro é um verbo intransitivo, enquanto o segundo é um verbo transitivo direto. 09- O processo de desencantamento do mundo refere-se à falta de imaginação, o fato de cercearmos a criatividade. Uma grande parte das pessoas só conseguem enxergar somente óbvio. 10- Ere a- Em I. ―eles querem saber como essa nuvem é uma história‖ b- O verbo saber da primeira oração exige um complemento configurado pela oração ―como essa nuvem é uma história. c- O.S.S. objetiva direta 11- Letra C 12- Não podemos separar a oração principal do seu complemento (OSSOD) 13- Ele critica o fato de copiarmos o português lusitano. Nesse texto especificamente ao uso do pronome oblíquo átono. 14- ―Dê-me um cigarro. ― Nesse verso, há um uso correto da gramática normativa, entretanto, o brasileiro raramente utiliza essa construção frasal, pois, no Brasil, o comum é utilizarmos o pronome antes do verbo. 15- Sujeito – a gramática Complemento – dê-me um cigarro 16a- Essa palavra é acentuada por ser uma oxítona terminada em e. b- Essa palavra não é acentuada, pois não acentuamos oxítona terminada em z. 17- Só é acentuada dói, pois acentuamos os ditongos abertos das monossílabas e oxítonas. Dessa forma, não acentuamos jiboia por ser uma paroxítona. 18- Há erro em D 19a- Cerradas e cerrar b- Ele confundiu com seus homônimos homófonos: serradas e serrar c- Da forma como está redigido o texto, provavelmente foi utilizada uma chave, já que cerrar significa fechar e para fechar uma cela utiliza-se uma chave. d- O preso trancou-se na cela e, talvez, em um passe de mágica sumiu de lá. 20a- Discriminação b- Descriminação c- ―isto é, sua legalização‖ 21- Letra D. 22- Letra E. 23- Letra B 24- Letra B 25- Letra A 26- Letra E