SOROPREVALÊNCIA DA TOXOPLASMOSE EM CÃES PROVENIENTES DO CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS – PR SOROPREVALENCE OF TOXOPLASMOSIS IN DOGS FROM ZOONOSIS CONTROL CENTER OF SÃO JOSE DOS PINHAIS – PR Jonatas Campos de Almeida1, Michele Salmon Frehse2, Roberta Lemos Freire3, Italmar Teodorico Navarro3, Alexander Welker Biondo4, Marcelo Beltrão Molento4. RESUMO O presente estudo objetivou determinar a soroprevalência da toxoplasmose em cães provenientes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São José dos Pinhais, Paraná, Brasil. Foram analisadas 344 amostras de soro dos cães utilizando-se a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) para a detecção de anticorpos (IgG) anti- Toxoplasma gondii, considerando-se positivos os títulos ≥16. Optou-se também por realizar a comparação entre a RIFI (≥16), considerada teste padrão, e o Teste de Aglutinação Modificada (MAT) em dois pontos de corte: ≥16 e ≥64. Das 344 amostras, 162 (47,09%) foram positivas à RIFI (≥16) e 126 (36,62%) ao MAT, em ambos a diluições de pontos de corte. Para a comparação entre as duas técnicas realizou-se a concordância de kappa e os cálculos de sensibilidade (SE) e especificidade (ES). Foram obtidos os coeficientes de k=0,42 e 0,49 para os respectivos pontos de corte no MAT, 1:16 e 1:64, determinando uma concordância moderada. Os valores de SE e ES foram: 58,6% e 83,0% para MAT ≥16 e 62,3% e 86,3% para MAT ≥64. A soroprevalência encontrada em cães oriundos do CCZ de São José dos Pinhais, pela técnica de RIFI, demonstrou que o T. gondii está presente na população de cães e errantes ou semi-domiciliados, podendo atuar como indicadores da disseminação ambiental deste parasita. Palavras chave: Toxoplasma gondii, canídeos, diagnóstico, MAT, RIFI, prevalência. ABSTRACT This study aimed to determine the seroprevalence of toxoplasmosis in dogs from Zoonosis Control Center (CCZ) of São José dos Pinhais, Parana State, Brazil. We analyzed 344 serum samples of dogs using the Indirect Immunofluorescence (IFA) for detection of antibodies (IgG) anti-Toxoplasma gondii, considering positive ≥ 16 titers. It was decided also to perform the comparison between the IFA (≥ 16), considered the standard test, and the Modified Agglutination Test (MAT) in two cut-offs: ≥ 16 and ≥64. Of the 344 samples, 162 (47.09%) were positive to IFA (≥ 16) and 126 (36.62%) to MAT in both dilutions of the cut-off points. To compare the two techniques was performed kappa concordance and the calculations of sensitivity (SE) and specificity (ES). We obtained the coefficients k = 0.42 and 0.49 for the respective cut-offs points in MAT 1:16 and 1:64, determining a moderate concordance. The SE and ES values were 58.6% and 83.0% for MAT ≥16 and 62.3% and 86.3% for MAT ≥ 64. The seroprevalence in dogs from the CCZ of São José dos Pinhais, by the IFA, showed that T. gondii is the present in the population of stray or semi-domiciled dogs, can act as indicators of environmental spread of this parasite. Key Words: Toxoplasma gondii, canines, diagnosis, MAT, IFA, prevalence _______________________ 1 Médico Veterinário Residente – Lab. de Zoonoses e Saúde Pública- Universidade Estadual de Londrina-PR. Doutoranda em Ciência Animal – Lab. de Zoonoses e Saúde Pública- Universidade Estadual de Londrina-PR. 3 Docente – Dpto. de Medicina Veterinária Preventiva - Universidade Estadual de Londrina-PR. 4 Docente – Dpto. de Medicina Veterinária - Universidade Federal do Paraná-PR Laboratório de Zoonoses, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Centro de Ciências Agrárias, UEL, Caixa Postal 6001, CEP:86051-990, e-mail:[email protected] 2 O Toxoplasma gondii é um parasita intracelular obrigatório que infecta o homem, animais domésticos, selvagens e as aves e encontra-se amplamente distribuído no mundo (DUBEY, 1993; FIALHO, 2009). Os felídeos são os hospedeiros definitivos e os únicos que eliminam oocistos pelas fezes. No ambiente, os oocistos sofrem esporulação e tornam-se infectantes em 01 a 05 dias (DUBEY et al., 1995). A transmissão para seres humanos e animais pode ocorrer pela via transplacentária (taquizoítas), carnivorismo (cistos) e ingestão de água e alimentos contaminados (oocistos) (DUBEY, 1993). Os sinais clínicos em cães são incomuns e quando ocorrem envolvem os sistemas neuromuscular, respiratório e gastrintestinal. Em cadelas gestantes, após inoculação experimental de Toxoplasma gondii, foram observados abortamento e morte fetal (BRESCIANI et al., 2008). O presente estudo teve como objetivos determinar a soroprevalência da toxoplasmose em cães, pela Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) e realizar a comparação entre a RIFI e o Teste de Aglutinação Modificada (MAT). Foram analisadas amostras de soro de 344 animais semidomiciliados ou errantes recolhidos pelo Centro de Controle de Zoonoses de São José dos Pinhais, Paraná, Brasil. As duas técnicas sorológicas realizadas para detecção de anticorpos (IgG) anti-Toxoplasma gondii foram: a RIFI, segundo Camargo et al. (1974), como teste padrão e adotando-se o ponto de corte ≥ 16; e o MAT, conforme descrito por Desmonts e Remington (1980), com os pontos de corte ≥16 e ≥64. Para avaliar a concordância entre os resultados obtidos no MAT comparativamente à RIFI, bem como definir o ponto de corte mais apropriado para o uso do MAT como ferramenta diagnóstica, calculou-se o coeficiente kappa (k), a sensibilidade e a especificidade. Das 344 amostras de soro canino, 162 (47,09%) foram positivas à RIFI (≥16) e 126 (36,62%) ao MAT, em ambos a diluições de pontos de corte. As soroprevalências encontradas na RIFI para os títulos negativo, 16, 64, 256, 1024 e 4096 foram 52,90%, 29,06%, 13,08%, 4,36%, 0,58% e 0%, respectivamente. Na comparação entre as técnicas foram obtidos os coeficientes de k=0,42 e 0,49 para os respectivos pontos de corte no MAT, 1:16 e 1:64, o que determinou uma concordância moderada. Os valores de sensibilidade e especificidade foram: 58,6% e 83,0% para MAT ≥16 e 62,3% e 86,3% para MAT ≥64. Analisando-se os dados, o ponto de corte sugerido para foi de 1:64 para o MAT comparativamente à RIFI. A especificidade do MAT foi maior que a sensibilidade, sugerindo que este poderia ser melhor utilizado para a confirmação de diagnóstico em testes sequenciais. Souza et al. (2003) adotando o MAT (ponto de corte 1:25) para examinar a presença de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em cães de zona rural do Estado do Paraná e da zona urbana da cidade de São Paulo, encontraram uma prevalência de toxoplasmose de 21,3% nos cães rurais e de 34,3% nos animais da zona urbana. Marques et al. (2009) através do MAT (ponto de corte 1:25) obtiveram uma freqüência de animais sororreagentes ao teste de detecção de anticorpos de 47,61% em cães. Já Langoni et al. (2006) encontraram uma soroprevalência entre cães da cidade de Botucatu-SP igual a 33,1%. Os cães geralmente infectam-se com o T. gondii através da ingestão de carne crua ou mal cozida contendo cistos teciduais ou alimentos e água contaminados com oocistos. A infecção dentro de uma população canina significa que a área envolvida representa um nicho ecológico para o parasita e um potencial de risco para os seres humanos (CABRAL et al., 1998). Estudos de soroprevalência em cães podem servir como uma alternativa para estimar a disseminação do T. gondii em análises epidemiológicas, uma vez os cães são expostos a todas as formas de transmissão do parasita em água, alimentos e outras fontes ambientais. A ingestão de alimentos similares e água por cães pode ser compreendida como uma população sem hábitos de higiene ou de filtragem de água e, portanto, plenamente exposta ao risco de infecção pelo T. gondii (MEIRELES et al., 2004). Com base nos dados apresentados de prevalência, obtidos através da RIFI, conclui-se que estudos da soroprevalência de Toxoplasma gondii em cães semi-domiciliados ou errantes podem ser usados como indicadores epidemiológicos indiretos da disseminação ambiental desse parasita. 2 REFERÊNCIAS BENETH, G.; SHKAP,V., SAVITSKY, I et al. The prevalence of antibodies to Toxoplasma gondii in dogs in Israel. Israel J Vet Med, v. 51, n.1, p. 31-33, 1996. BRESCIANI, K.D.S.; COSTA, A.J.; NAVARRO, I.T.; TONIOLLO, G.H.; SAKAMOTO, C.A.M.; ARANTES,T.P.; GENNARI, S.M. Toxoplasmose canina: aspectos clínicos e patológicos. Semina:Ciências Agrárias, Londrina, v.29, n.1, p. 189-202, 2008. CABRAL, D. D.; SILVA, D. A. O.; MINEO, J. R.; FERREIRA, F.A.; DURAN, F. P. Frequency of anti- Toxoplasma gondii antibodies in apparently healthy dogs of the city of Uberlândia-MG. Brazil. J. Vet. Parasitol. v. 7, p. 87-90, 1998. DUBEY,J.P. Toxoplasma, Neospora, Sarcocystis and other tissue cyst forming of human and animals. 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