1 Análise de documentos/fontes Analisar um documento iconográfico: cartaz de propaganda “Ein Volk Ein Reich Ein Führer” – cartaz do Partido Nacional-Socialista alemão, 1938. Regras de análise Identificar o documento: – Natureza (cartaz de propaganda política, cartaz de intervenção social, anúncio publicitário comercial, cultural...); NTEHA12EMP-CONT-P1 © Porto Editora – Dimensão (se a legenda fornecer indicações); – Título/Tema; – Data/Local de produção; – Autor e/ou Comanditário; – Destinatários. Identificar o contexto histórico no momento da sua produção. Discriminar os elementos representados e as suas inter-relações: – Conteúdo (personagens principais e secundárias – suas atitudes; símbolos e slogans incluídos); – Forma (tamanho e disposição dos diversos elementos – lugar do texto e das imagens; caracteres gráficos e cores utilizadas). Interpretar/descodificar o documento, realçando a mensagem principal. NTEHA12EMP-CONT-P1 © O cartaz constitui um tipo específico de documento iconográfico cujo objetivo é transmitir, de forma clara e direta, uma mensagem capaz de influenciar a opinião pública. Para isso, utiliza símbolos facilmente identificáveis e inclui, muitas vezes, palavras, frases ou slogans que facilitam a compreensão da mensagem. Por vezes, o cartaz recorre à caricatura como forma de, humoristicamente, denunciar uma situação específica. 2 Questões 1. Apresente o documento. 2. Contextualize o assunto do documento. 3. Descreva os elementos contidos no cartaz. 4. Interprete a mensagem que o cartaz transmite. Comentário NTEHA12EMP-CONT-P1 © Porto NTEHA12EMP-CONT-P1 © Editora 1. O documento apresentado é um cartaz de propaganda política do Partido Nacional-Socialista alemão, produzido em 1938, para circular no território da Alemanha e da Áustria. Tem como título “Ein Volk Ein Reich Ein Führer” (Um Povo, um Império, um Chefe) e foi concebido pela propaganda nazi para mobilizar a opinião pública alemã, austríaca e, eventualmente, internacional, para a justeza e legitimidade da integração do território da Áustria no Reich alemão, que se verificou a 13 de março de 1938. A temática a que o cartaz alude é, pois, a do expansionismo da Alemanha hitleriana ou nazi e, em particular, a da união da Alemanha com a Áustria (Anschluss). 2. Contrariando as cláusulas do Tratado de Versalhes, o programa do Partido Nacional-Socialista alemão (1920) reivindicava a “constituição de uma Grande Alemanha, reunindo todos os Alemães na base do direito dos povos a disporem de si próprios”. Alguns anos depois, Adolf Hitler escrevia o “Mein Kampf”, no qual explanava os ideais antidemocráticos, racistas e imperialistas do nazismo. Na referida obra, os alemães surgem como os genuínos representantes de uma raça superior – a “raça ariana” –, que necessita de um maior “espaço vital” – Lebensraum –, devendo, por isso, expandir-se e dominar o mundo, se necessário à custa da submissão e eliminação das “raças” ditas inferiores. Designado chanceler da Alemanha em 1933, Hitler tratou de aplicar os ambiciosos projetos do partido nazi que fundara. Num registo de cariz histórico e imperialista, proclamou a fundação do III Reich, ao qual vaticinou uma duração de mil anos(1). O alargamento das fronteiras do Reich começou com a reunião de todos os alemães numa Grande Alemanha. Com habilidade, e não sem violência, os nazis procederam à ocupação da Áustria, um Estado habitado por alemães que fizera parte do I Reich. Assim, ao mesmo tempo que os ideais nazis colhiam adeptos na Áustria – não esqueçamos a origem austríaca de Adolf Hitler –, as autoridades do país eram pressionadas no sentido da integração. Em inícios de março de 1938, o chanceler Schuschnigg anunciou para o dia 13 um plebiscito, em que o povo austríaco se pronunciaria a favor ou contra a “manutenção da independência”. (1) O I Reich alemão fora o Sacro Império Romano-Germânico, fundado por Otão I em 962 e que terminou, em 1805, com a derrota da Áustria por Napoleão. Já o II Reich teve uma duração mais breve. Foi proclamado em 1871 pelo imperador Guilherme I, soberano da Prússia, que, com a ajuda do chanceler Bismarck, unificou os estados da Alemanha do Norte e do Sul, com exceção da Áustria. Este II Reich terminou em 1918, com a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. 3 Os termos do plebiscito desagradaram profundamente a Hitler que, sem perda de tempo, instigou os nazis austríacos a destituírem o chanceler Schuschnigg. O golpe de Estado teve lugar a 11 de março e, no dia seguinte, a Wehrmacht entrou na Áustria. A 13 de março, o Reich proclamou ao mundo a Anschluss (união da Alemanha e da Áustria) que, em inícios de abril, seria ratificada por um plebiscito profundamente manipulador, em que 99,7% dos austríacos se manifestaram a favor da integração. Boletim de voto entregue aos austríacos para plebiscitar a Anschluss. Nele se perguntava:”Concorda com a reunificação da Áustria com o Império Alemão realizada em 13 de março de 1938 e vota pelo partido do nosso chefe Adolf Hitler?”. Veja-se o tamanho relativo dos círculos reservados ao SIM (Ja) e ao NÃO (Nein). 3. O cartaz apresenta, como pano de fundo, o mapa da Alemanha e da Áustria, com as suas principais cidades e alguns dos rios que as atravessam (Óder, Danúbio, Reno, Elba, no sentido dos ponteiros do relógio). A nordeste, encontra-se o território da Prússia Oriental, que o Tratado de Versalhes isolou da restante Alemanha. Os territórios da Alemanha e da Áustria possuem a mesma coloração, pelo que o mapa parece representar um único país, que se destaca de um fundo homogéneo, azul-forte. Nenhum outro país merece a representação neste cartaz. Inscrita no centro do mapa, apresenta-se a fotografia, de perfil, do rosto de A. Hitler, que olha com firmeza e serenidade para o Leste europeu. Na parte superior do mapa, erguem-se a águia e a cruz suástica, símbolos adotados pelo nazismo. A águia, símbolo por excelência dos impérios (romano, napoleónico, austro-húngaro, alemão, russo), lembra as ambições imperialistas nazis. A suástica, que se encontra disseminada na Europa e na Ásia desde tempos recuados, é identificada, por alguns, como uma alegoria do Sol e, por outros, com o “martelo de Thor”, deus da Escandinávia, considerado o berço da pretensa “raça ariana”. Na parte inferior do cartaz, figuram a data da Anschluss (13 de março de 1938) e o slogan “Ein Volk Ein Reich Ein Führer”, a lembrar que alemães e austríacos constituem um mesmo povo que, chefiado por NTEHA12EMP-CONT-P1 © Porto Editora Hitler, dominava um império. 4. Do cartaz extrai-se uma mensagem imediata que é a de propagandear/inculcar no observador a ideia de que alemães e austríacos constituem o mesmo povo. Daí se impor e justificar a união dos respetivos países, que se concretizou com a Anschluss de 13 de março de 1938 e que o cartaz comemora. Num segundo nível de interpretação, é possível vislumbrar os princípios nazis da superioridade do povo alemão, do culto do chefe e do expansionismo territorial. Conjugando os elementos figurados com os escritos, Hitler afigura-se o chefe (Führer), que cuida da Nação/Povo alemão (Volk) e lhe restitui a sua vocação de grandeza, ao fundar o Reich, ao unir os alemães e ao prometer-lhes o “espaço vital” do Leste europeu. Prenunciavam-se as conquistas dos Sudetas e restante Checoslováquia, da Polónia e de regiões da URSS, que vieram, efetivamente, a verificar-se entre 1938 e 1941.