Homilia para o 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM
26/01/2014
“O povo que estava nas trevas
viu uma grande luz, para os
habitantes da região sombria da
morte uma luz surgiu”
Leituras: Isaías 8, 2.3b-9,3; Salmo 26; Primeira Carta de São Paulo Apóstolo aos Corintios 1, 10-13.17;
Mateus 4, 12-23.
COR LITÚRGICA: VERDE
Animador: Nesta Eucaristia recordamos o chamado feito aos primeiros discípulos. Mas o chamado
de Jesus não é só para Pedro e André, Tiago e João, mas para todos nós. Todos somos chamados a
deixar tudo para seguir Jesus, anunciar a Boa Nova e fazer gestos de salvação. Somos também
chamados a nos converter, porque o Reino de Deus deve ser construído. Todos nós somos
“pescadores” para tirar nossos irmãos e irmãs das ameaças do mal e da morte.
1. Situando-nos brevemente
O mistério pascal, que hoje celebramos, permite-nos acompanhar Jesus no início de sua missão, na
Galileia e sermos chamados à conversão e à missão.
Junto aos doentes, aos sofredores e aos mais pobres, Jesus anuncia a chegada do Reino de Deus,
chama os primeiros discípulos, cura e alivia as enfermidades do povo. Na visão de Mateus, ele
realiza a profecia de Isaías, proclamada no Natal – O povo que andava nas trevas viu uma grande
luz – e repetida para nós, hoje, na primeira leitura.
Conhecendo nossa fraqueza e possibilidade, ele renova seu chamado a cada um de nós e nos
propõe a conversão ao Reino, para que em seu Nome, possamos frutificar em boas obras, rezamos
na oração inicial.
2. Recordando a Palavra
Após a provação sofrida no deserto, após João Batista ser preso na Judeia, Jesus retirou-se para a
Galileia, estabelecendo-se em Cafarnaum, à beira do lago. Esta é a mesma região citada por Isaías,
terra de Zabulon e Neftali, caminho do mar. A mudança de Jesus da Judeia para a Galileia é
explicada à luz das Escrituras pelo evangelho de Mateus. No fato de Jesus ter se mudado de
Nazaré para Cafarnaum, Mateus vê a realização última e definitiva da profecia de Isaías.
No tempo de Isaías, por volta de 732 antes de Cristo, o povo dessa região estava aterrorizado pelas
deportações do império assírio. A política de domínio assírio consistia em deportar o povo
dominado, misturando em uma mesma região, povos de diferentes culturas, idiomas e religiões.
Foi esse modo de domínio que tornou a Galileia uma região tida como paganizada.
A palavra ‘galileia’ significa distrito. O jugo que pesava sobre o povo era o domínio assírio. No
entanto, nas trevas dessa situação de infelicidade, opressão, cativeiro e morte, brilha uma luz de
esperança, talvez com o aparecimento de uma liderança que possa trazer a libertação para o povo.
Luz é salvação, é a aparição da glória de Deus, comparada ao nascer do sol.
A Galileia das nações, periferia do mundo, terra desprezada, considerada pagã, será o cenário da
ação e da revelação luminosa de Jesus. A intenção não é apenas localizar o lugar, mas o significado
profético do ministério de Jesus desde o início. Da Galileia das nações, Jesus dirige-se ao povo
ameaçado pelas trevas do sofrimento. A profecia é realizada.
Jesus, nessa região especifica, realiza o plano de Deus e inaugura seu ministério, proclamando
solenemente: “Convertam-se! O Reinado de Deus chegou!” Há uma nova consciência e pessoas
simples são transformadas. Ao redor do Lago da Galileia, pescadores são convocados e o chamado
de Jesus é categórico.
O seguimento deve ser imediato e incondicional. Do serviço, ofício humano, do contato com as
forças hostis do mar que não garantem o êxito da tarefa diária, ao serviço do Reino de Deus, ao
seguimento e fidelidade ao Senhor, garantido pela própria fidelidade de Deus. Ao redor de Jesus,
forma-se a pequena comunidade de base: Simão Pedro, André, Tiago e João.
A carta aos coríntios também fala do seguimento, não de Paulo, Apolo ou Cefas, mas do
crucificado/ressuscitado, o Messias e sua proposta de vida. Não pode haver discórdia a
comunidade cristã devido à preferência por este ou aquele pregador ou missionário. O centro é
Jesus Cristo, é a ele que seguimos e Cristo não está dividido. A luz de Cristo é mais forte que as
trevas das divisões humanas.
O Salmo 26(27) é uma oração de confiança no perigo. Ainda que surjam novas dificuldades,
continuaremos a sentir a ajuda do Senhor, mesmo que os adversários sejam um exército. A única
coisa que o salmista pede é habitar na casa do Senhor, viver na suavidade de sua presença e que
Deus não lhe esconda seu rosto.
Santo Agostinho escreve sobre este salmo: “O Senhor nosso Deus fala-nos e nos consola. Digna-se
falar em vez de nós e falar-nos a nós, para mostrar que não é apenas nosso Criador, mas que
também habita em nós... o Senhor é minha luz e salvação: aquém hei de temer? Ele ilumina-me:
afastam-se as trevas. Ele salva-me: desapareça a fraqueza. Caminhando seguro na luz, a quem
temerei?” (Saltério litúrgico. Salmos e Cânticos da Liturgia das Horas. Secretariado Nacional de
Liturgia G.C. Gráfica de Coimbra. LDA. 4º edição, 2005, p. 155-156).
3. Atualizando a Palavra
Jesus começa sua missão entre os mais desprezados, os que são considerados pecadores. A luz que
resplandeceu no Natal é para todos, não apenas para os puros, os eleitos, os melhores. Pelo
contrário, a preferência de Jesus é mesmo para os que são tidos como menores.
Dessa opção, nasce a espiritualidade cristã do seguimento, não de uma doutrina perfeita, mas de
uma pessoa e seu projeto, Jesus. Seguir Jesus é entrara em sua escola, a favor de quem se
encontra na periferia do mundo, como disse o papa Francisco em sua viagem ao Brasil.
Na Bíblia, o mar é sinônimo do mal, da escuridão, algo caótico e forças contrárias à vida. A missão
dos seguidores de Jesus é tirar as pessoas dessa situação e levá-las para a luz. O chamado de Jesus
se estende até nós. Deixemos com generosidade tudo para entrar nessa caminhada.
Seguir Jesus parece uma loucura, a loucura da cruz. Seguimento que não cria divisões, mas abraça
com amor e compreensão, tudo o que é humano e que promove a dignidade de filhos e filhas de
Deus. Pertencemos a Cristo que pertence a Deus. Também nós somos chamados a anunciar o
evangelho sem nos determos em competições e disputas sobre quem é maior.
Podemos nos deixar iluminar hoje também pelas palavras de ordem do Papa Francisco, quando
esteve entre nós na Jornada Mundial da Juventude. Muitas vezes, ele repetiu que devemos viver a
misericórdia. A misericórdia adquire o sentido amplo de ”serviço”, “diálogo”, “proximidade”,
“encontro”, “simplicidade” e “transparência”.
Muitas vezes, o papa repetiu que é preciso “sair de si” e ir para as “periferias existenciais”. Falando
aos bispos do CELAM, disse palavras que são programáticas para nós, para todos os cristãos, não
só para os bispos. São exigências feitas por Cristo para todos seus seguidores: “ame a pobreza, a
pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e
austeridade de vida” (CNBB. PAPA FRANCISCO, mensagens e homilias – JMJ 2013. Brasília: Ed.
CNBB, 2013, p. 96).
O projeto de Jesus, sua pregação, tem seu início oficial na Galileia das nações, entre os mais
espezinhados, maltratados, pecadores, pobres em todo o sentido. Galileia das nações, periferia
social, geográfica, existencial, lugar descartável, de gente descartável, considerada estorvo ao
desenvolvimento global nas analises econômicas. É lá que devemos ir para ver o Senhor e
permanecer com Ele em seu projeto de salvação e libertação total.
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
A Palavra do Senhor hoje nos move a dar graças ao Pai, porque, pelo Batismo, fomos inundados na
luz de Cristo. Com ele entregamos ao Pai nossa vida. Com filhos e filhas da luz, somos chamados
para, continuamente, vencer, pela conversão constante, as trevas e a dureza que envolvem nossa
vida e a vida dos irmãos.
Renovando hoje seu chamado, o Senhor nos revigora com seu Espírito, pela comunhão fraterna,
por sua Palavra e com o sacramento de seu Corpo e Sangue, para que, mais disponíveis,
prestativos e alegres, abandonemos também “nossas redes” para sermos pescadores de gente em
vista do Reino.
Oração dos fiéis:
Presidente: Imersos na luz de Cristo, pelo batismo, nos tornamos filhos da luz. Por isso elevemos
ao Pai nossas preces.
1. Senhor, que enviastes Teu Filho Jesus como luz para iluminar o povo que vivia na escuridão,
fazei que a Igreja possa iluminar nossa sociedade com a palavra e o testemunho. Peçamos:
Todos: Senhor, seja sempre a nossa luz.
2. Senhor, que sois a proteção de nossa vida, dai aos nossos governantes coragem para iluminar
todos aqueles e aquelas que vivem na escuridão da exclusão e da marginalização. Peçamos:
3. Senhor, ajude na conversão de nossa comunidade para que o nosso testemunho alivie as
enfermidades das pessoas, provocadas pelas trevas do erro. Peçamos:
4. Senhor, ficai sempre conosco para que possamos ter um testemunho vivo de fraternidade.
Peçamos:
5. Senhor, ajudai nossos dizimistas, que com a sua ajuda material, são testemunho de desta luz
que vem de Ti. Peçamos.
(Outras intenções)
Presidente: Enviai Senhor, o vosso Espírito de verdade, para que tua Palavra converta nosso
coração e renove nossa existência. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
III. LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente: Ó Deus, acolhei com bondade as oferendas que vos apresentamos para que sejam
santificadas e nos tragam a salvação. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
ORAÇÃO APÓS A COMUNHÃO:
Presidente: Concedei-nos, Deus todo-poderoso, que, tendo recebido a graça de uma nova vida,
sempre nos gloriemos dos vossos dons. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
BÊNÇÃO E DESPEDIDA:
Presid.: O Senhor esteja convosco.
Todos: Ele está no meio de nós.
Presidente: Que o Senhor os guie no trabalho do anúncio da Palavra de seu Filho, cobrindo-os com
sua bênção.
Todos: Amém.
Presidente: (despede a todos).
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