10/27/09 10:16 AM Page 1 Pictures of the Future / Primavera 2009 CAPA VERSO.qxd:PoF Titel_1_2007_end.qxd www.siemens.com/pof Pictures of the Future A Revista de Pesquisa e Inovação | Primavera 2009 www.siemens.com/pof Publisher: Siemens AG Corporate Communications (CC) and Corporate Technology (CT) Wittelsbacherplatz 2, 80333 Munich Contato com o publisher: Dr. Ulrich Eberl (CC), Arthur F. Pease (CT) [email protected] (Tel. +49 89 636 33246) [email protected] (Tel. +49 89 636 48824) Escritório Editorial: Dr. Ulrich Eberl (ue) (Edito Chefe) Arthur F. Pease (afp) (Editor Executivo, Edição em Inglês) Florian Martini (fm) (Editor) Sebastian Webel (sw) Outros autores neste número: Dr. Norbert Aschenbrenner (na), Bernhard Bartsch, Christian Buck, Anette Freise, Andrea Hoferichter, Ute Kehse, Andreas Kleinschmidt, Friederike von der Kuhlen (fk), Klaudia Kunze, Stephanie Lackerschmid, Dr. Michael Lang, Katrin Nikolaus, Bernd Müller, Dr. Brigitte Röthlein, Dr. Jeanne Rubner, Kirstin Schliekau, Tim Schröder, Rolf Sterbak, Dr. Sylvia Trage, Dra. Evdoxia Tsakiridou, Thomas Veser, Julia Wetjen, Nikola Wohllaib Pictures of the Future, Acuson, MicroScan Walkway, LabPro, Dulux e outros nomes são marcas registradas da Siemens AG ou empresas afiliadas. Outros produtos e nomes de empresas mencionados nesta publicação podem ser marcas registradas de suas respectivas empresas. Nem todos os produtos médicos mencionados nesta edição estão disponíveis comercialmente nos Estados Unidos. Alguns são equipamentos em análise ou estão sob desenvolvimento e precisam ser aprovados ou revistos pelo FDA e sua disponibilidade futura nos EUA não pode ser assegurada. O conteúdo editorial contido nas reportagens desta publicação não necessariamente reflete a opinião do publisher. Esta revista contém afirmações baseadas em perspectivas futuras e sua precisão não pode ser assegurada pela Siemens. Pictures of the Future é publicada duas vezes por ano. A reprodução de artigos, integral ou em partes, depende de permissão da redação. Isso também se aplica à disposição em base de dados eletrônica ou na Internet. Edição em português: Comunicação Corporativa (CC) da Siemens no Brasil Revisão e edição de texto: LetraDelta Editora e Comunicação Editoração: 2:d Comunicação e design Impresso no Brasil pela Margraf Editora e Indústrias Gráficas Ltda. Tiragem desta edição: 3 mil exemplares Este impresso foi produzido pela MARGRAF, com papel oriundo de floresta certificada e outras fontes controladas, o que demonstra nossa preocupação e responsabilidade com o meio ambiente. © 2009 by Siemens AG. Todos os direitos reservados. Siemens Aktiengesellschaft Número do pedido: A19100-F-P132-X-7600 ISSN 1618-5498 Planejamento do Ciclo de Vida / Vigias Digitais / Inovações para Novos Mercados Edição de fotos: Judith Egelhof, Irene Kern, Jürgen Winzeck, Publicis Publishing, Munich Fotos: Patrick Barth, Kurt Bauer, Daniel Gebhart, Jan Greune, Simon Katzer, Thomas Klink, George Moore, Uwe Mühlhäusser, Bernd Müller, Volker Steger, Jürgen Winzeck Internet (www.siemens.com/pof): Volkmar Dimpfl Informações Históricas: Dr. Frank Wittendorfer, Siemens Corporate Archives Endereço de Base de Dados: Susan Süß, Publicis Erlangen Layout / Litografia: Rigobert Ratschke, Büro Seufferle, Stuttgart Ilustrações: Natascha Römer, Weinstadt Gráficos: Jochen Haller, Büro Seufferle, Stuttgart Planejamento do ciclo de vida do produto Produtos que utilizam menos recursos, das matérias-primas à reciclagem Vigias digitais Inovações que melhoram a segurança, dos detectores inteligentes aos RFIDs Soluções acessíveis Tecnologias robustas, eficientes em termos de energia, para os mercados em desenvolvimento PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 2 Pictures of the Future | Editorial H á cerca de 125 anos, Werner von Siemens dizia: “Não venderei o futuro pensando no lucro de curto prazo”. Atualmente, usamos o termo “sustentabilidade” para descrever essa atitude. E o princípio de pensar no longo prazo torna-se cada vez mais importante, não só no sistema mundial de finanças e negócios, mas também em relação aos efeitos que nossas ações – ou a falta delas – acarretam no meio ambiente e no clima. No caso, proteção climática e crescimento econômico não são, de forma alguma, conceitos excludentes. Pelo contrário, nos próximos anos, as tecnologias ambientais fortalecerão o desenvolvimento econômico, pois essas tecnologias com frequência geram ga- Observando o panorama geral Barbara Kux é membro da Diretoria Executiva da Siemens, líder da Administração da Cadeia de Suprimentos e Diretora de Sustentabilidade da Siemens AG Capa: No mundo, 1,6 bilhão de pessoas vivem o escuro da noite ou são forçadas a usar perigosas e caras lamparinas a querosene. Mas para os pescadores do Lago Vitória, no Quênia, a iluminação limpa e acessível já está disponível, graças às lanternas da Osram movidas a bateria, que podem ser recarregadas em postos de energia movidos a luz solar. 2 Pictures of the future – Primavera 2009 nhos de eficiência. As inovações neste setor tendem a economizar recursos, consequentemente cortando custos. Neste número de Pictures of the Future, mostramos até que ponto essa abordagem é eficaz e apresentamos vários exemplos impressionantes de eficiência. Lâmpadas econômicas, por exemplo, duram quinze vezes mais do que lâmpadas incandescentes normais com a mesma densidade de fluxo luminoso, porém consumindo aproximadamente um quinto da eletricidade. Dessa forma, os custos mais elevados de compra são recuperados em 800 horas. Além disso, graças ao menor consumo de eletricidade, há menos produção de dióxido de carbono. Na verdade, a quantidade economizada por lâmpada é mais alta do que a de dióxido de carbono que uma árvore absorve em igual período. Na Siemens, as avaliações dos ciclos de vida tornaram-se ferramentas inestimáveis, utilizadas para determinar, por exemplo, que mais de 90% do impacto ambiental dos eletrodomésticos ocorre durante o funcionamento. O transporte e a reciclagem são fatores praticamente insignificantes e mesmo a produção acrescenta somente alguns pontos percentuais. Aplicando esse conhecimento, os engenheiros desenvolveram uma bomba de aquecimento para secador que consome 40% menos eletricidade do que o limite exigido pela designação europeia Classe A – tornando-a uma nova campeã mundial em eficiência energética. A Siemens está realizando estudos semelhantes a respeito de locomotivas. Os resultados demonstram que um aumento de 10% no preço de compra acarreta boa relação custo/benefício se o consumo de energia das locomotivas puder ser reduzido em apenas dois pontos percentuais. O mesmo se aplica a motores que economizam energia. Aqui, o preço de compra representa menos de 3% dos custos totais, enquanto a eletricidade é responsável por 95% dos custos durante a vida útil da locomotiva. Alguns motores se pagam em menos de dois anos, algumas vezes até em um ano. Pensar no longo prazo também vale muito a pena quando se trata de edifícios e até de cidades inteiras. Um estudo mostrando como Munique poderia se tornar livre do CO2, por exemplo, revela que os custos adicionais para aumentar a eficiência energética da maioria dos edifícios seriam da ordem de € 200 ao ano, por habitante. No entanto, no final, as medidas produziriam economias de pelo menos € 1.200 por habitante ao ano – sem mencionar a redução anual de três milhões de toneladas de CO2 para toda a cidade. Algumas melhorias nem demandam tantos investimentos para serem iniciadas – apenas a capacidade de enxergar o panorama geral como um todo e todos os seus aspectos interrelacionados. Os especialistas no departamento de Gerenciamento da Vida Útil no Setor Energy da Siemens, por exemplo, atualizam as usinas elétricas fazendo a sintonia fina de vários parâmetros, inclusive a vazão do fluxo da bomba e temperaturas da água de alimentação, bem como ajustando os sistemas de controle, o que reduz o tempo necessário para dar partida nas usinas em mais de 50% – uma otimização que se paga sozinha após apenas um ano. A Siemens também está desenvolvendo de maneira similar muitas soluções inteligentes para atender as necessidades dos clientes em países em desenvolvimento e mercados emergentes – inclusive lâmpadas econômicas que são alimentadas por energia solar para as regiões da África situadas longe da rede elétrica; um sistema de tratamento de esgoto baseado em baixíssimo custo para a Índia e equipamentos que contribuem para a produção de combustível a partir da cana-de-açúcar no Brasil. Tais exemplos confirmam algo fundamental quando se trata de soluções inteligentes: pessoas que entendem não somente as possibilidades da tecnologia moderna, como também as exigências dos diferentes mercados. Ou, como o filósofo chinês Kuan Chung Tzu escreveu há 2.300 anos: “Se você está planejando por um ano, plante grãos. Se está planejando para uma década, árvores. Se está planejando para a vida inteira, eduque as pessoas”. Esta é a essência do princípio de sustentabilidade. PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 3 Pictures of the Future Índice Planejamento do Ciclo de Vida Vigias Digitais 1 6 Lâmpadas Que venham as economias! 20 Criptografia Quântica Código do Silêncio 1 9 Avaliações Holísticas Produtos de pó a pó 24 Detecção de Bactérias Fechando o cerco em torno dos inimigos mortais 12 Sistema Ferroviário Trens providenciais 14 Otimização de Usinas Elétricas Oh! Que reforma! 26 Detectores de Fumaça Onde há fumaça, há... 1 Inovações para Novos Mercados 34 Tendências Explorando novas fontes de esperança 37 Biomassa no Brasil Doce economia 40 Postos de Energia na África Iluminação inesgotável para o Lago Vitória 44 Mobilidade Ecossistema elétrico 17 Fabricação Produção em alta velocidade 19 Fatos e Previsões Eficiência energética se paga sozinha Seções 4 Curtas Novidades dos laboratórios da Siemens 30 Crise Econômica e Oportunidades Motores do crescimento de amanhã 31 Entrevista: Ottmar Edenhofer Proteção climática: não é opcional0 33 Entrevista: Ernst Ulrich von Weizsäcker Eficiência e civilização 39 Entrevista: José Goldemberg Etanol brasileiro – energia solar líquida 50 EUA Economizando energia Pictures of the future – Primavera 2009 3 PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 4 Pictures of the Future | Curtas Água potável segura O s pesquisadores da Siemens Corporate Technology desenvolveram um sistema totalmente automático para testar água potável em relação a substâncias tóxicas. Um modelo de demonstração em laboratório pode analisar amostras de água a cada quinze minutos e detectar mais de 100 toxinas. No centro do sistema, está um biosensor que mede a atividade de enzimas especiais. O sinal é transmitido eletronicamente, por isso o sistema torna-se rápido, altamente sensível e robusto. O sistema de teste para água potável pode detectar mais de 100 toxinas. Os trens Velaro fabricados para a Rússia permanecem aconchegantes, mesmo sob condições extremas de teste. Frio? De jeito nenhum! O mais recente trem de alta velocidade da família Velaro passou nos testes de resistência na Rússia com sucesso. Antes da entrega ao cliente, os especialistas da Siemens testaram-no em um túnel de vento, em Viena. O trem deverá ligar Moscou e São Petersburgo a partir do final de 2009 e terá sempre de suportar condições inclementes de tempo. Para garantir isso na prática, foram simuladas violentas tempestades de neve nas instalações de testes Rail Tec Arsenal (RTA), em Viena. Durante os testes, as condições de tempestade atingiram velocidades de até 250 km/h e temperaturas externas que chegaram a – 40ºC. Os engenheiros da Siemens prepararam o primeiro trem de alta velocidade da Rússia para suportar tais condições incorporando materiais especiais à base de aço e plástico, lubrificantes especiais, projeto refinado e funções auxiliares de segurança para os sistemas de acionamento e comutação, a fim de garantir o perfeito funcionamento do trem sob as mais adversas temperaturas. Além de demonstrar a funcionalidade do trem na neve e no gelo, os testes demonstraram que os passageiros farão uma viagem confortável. Graças ao uso de isolamento térmico aperfeiçoado, os usuários permanecem aquecidos apesar do frio intenso. na/sw Espera agradável N o Terminal 2 do Aeroporto de Munique, os passageiros têm a opção de entrar em cabines futuristas para uma “soneca”, o que ajuda a tornar a espera algo mais agradável. Elas são equipadas com sofá, mesa e acesso à internet. A iluminação certa para as cabines é fornecida por um conceito sofisticado da Osram que gera diferentes cores e níveis de luminosidade. De acordo com a preferência do usuário, é possível escolher uma luz azulada para trabalhar ou outra, avermelhada e morna, para relaxar. As cabines de “soneca” do aeroporto são equipadas com módulos de iluminação LED da Osram. 4 Pictures of the future – Primavera 2009 PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 5 Aparelho diferenciado de ultrassom O ACUSON SC2000 é o primeiro sistema de ultrassom que gera um volume completo de imagens do coração em tempo real, a partir de um único batimento cardíaco. Com uma taxa de informações de 40 volumes por segundo e a uma profundidade de 16 cm, substitui as técnicas convencionais que exigiam quatro ou mais batimentos cardíacos para alinhavar um volume. Tornada possível pela tecnologia de resfriamento ativo no transdutor, O ACUSON SC2000 reconhece os a aquisição do volume total do principais marcos anatômicos. sistema tem o potencial de melhorar a confiança no diagnóstico e reduzir a duração dos exames. O novo sistema beneficia pacientes com arritmia e os que não conseguem prender a respiração ou ficar quietos o tempo suficiente. Utilizando software inteligente e base de dados especializada, o SC2000 reconhece os principais padrões e marcos anatômicos e possibilita medições automáticas. Capturando carbono A Siemens e a empresa de energia alemã E.ON estão construindo uma instalação piloto para sequestro de dióxido de carbono (CO2) em uma termelétrica movida a carvão próxima a Hanau, na Alemanha. As empresas testarão o procedimento chamado de “captura pós-combustão”, projetado para misturar gás de combustão com uma solução que absorve cerca de 90% do CO2 contido no gás. O produto desse procedimento é então emitido na atmosfera com uma quantidade mínima residual de CO2. Testada em laboratório, a tecnologia é especialmente adequada para a modernização de termelétricas convencionais. Design do conceito de uma termelétrica movida a carvão com sistema piloto de sequestro de CO2. Equipe vencedora P A equipe da Pictures of the Future (em pé, da esquerda para a direita): Jürgen Winzeck (editor); Rolf Seufferle, Rigo Ratschke (layout); Florian Martini (redator-chefe); Sebastian Webel (editor). Sentados: Irene Kern (editora); Natascha Römer (ilustrações) Arthur F. Pease (publisher e redator-chefe da edição em inglês); Judith Egelhof (editora), Dr. Ulrich Eberl (redator-chefe e publisher). ictures of the Future recentemente recebeu dois dos mais importantes prêmios na categoria “Revistas” em um concurso organizado pela Sociedade de Comunicações Técnicas (STC) – uma organização profissional para escritores, editores, ilustradores, gerentes e educadores técnicos. Com aproximadamente 18.000 membros em 2008, a STC é a maior organização profissional em sua categoria. Os prêmios foram entregues em uma cerimônia realizada em Washington D.C. e a principal publicação da Siemens (circulação de 100.000 exemplares) não só ganhou o prêmio de alto nível “Distinção”, mas também foi escolhida para o prêmio “Melhor do Show”, o que significa que a revista foi considerada superior a todas as outras inscritas no concurso, por sua qualidade, conceito, execução e apresentação. Comentando a respeito da publicação, um dos jurados frisou: “Estou impressionado que a tradução do alemão possa ser tão boa, considerando todas as limitações. É um enorme esforço e foi executada de maneira fantástica”. Outro jurado acrescentou: “Esse periódico apresenta com sucesso material altamente técnico, equilibrando os detalhes com uma perspectiva geral e um sentido de elemento humano entre todas as tecnologias”. Pictures of the future – Primavera 2009 5 PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 6 Planejamento do ciclo de vida | Lâmpadas Abordagens holísticas para solucionar problemas As empresas que planejam lançar produtos da forma mais rápida e flexível possível, ao mesmo tempo em que maximizam a qualidade e minimizam os custos, deveriam rever de maneira abrangente o ciclo de vida desses produtos. O PLM (sigla em inglês para gerenciamento do ciclo de vida do produto) analisa detalhadamente toda a cadeia – da ideia à reciclagem. “Temos de tornar a cadeia mais eficiente, injetando especialização técnica no processo e integrando-o de maneira prática”, explica Steffen Grünwaldt, gerente de Projetos para o PLM Technology Center na Siemens Corporate Technology (CT), em Munique, na Alemanha. O PLM Technology Center, fundado em outubro de 2008, empenha-se para alcançar esse objetivo, aproximando a especialização dos vários departamentos da CT – incluindo otimização de processo e produção, design, gerenciamento de materiais, elaboração de software e projeto da fábrica, além da integração dos serviços de fornecedores. “O objetivo fundamental é apoiar os setores da Siemens para que possam fabricar produtos que atendem às demandas do mercado da maneira mais rápida possível”, diz Grünwaldt. “Trabalhamos com um pool de especialistas de várias disciplinas de toda a Siemens, em um ambiente de desenvolvimento ideal para a integração mecatrônica dos produtos planejados”. Estações de trabalho ligadas em rede ajudam a atingir isso, como também as modernas salas de reunião, base de dados e simulações em 3D de linhas inteiras de produção. Para Grünwaldt e sua equipe, a utilização holística do pool de especialistas é extremamente importante. “Com nosso PLM Technology Center, podemos evitar a visão afunilada, pois o objetivo é assegurar que os produtos não sejam mais vistos da perspectiva de um único departamento, mas que a cadeia inteira de valor agregado seja examinada em relação ao seu potencial de otimização”, explica. O PLM Technology Center funciona de maneira muito simples, segundo Grünwaldt. “Vamos imaginar que o Setor Energy da Siemens recebe um pedido de informação sobre manutenção a respeito de uma turbina em região remota, e que os especialistas do setor sabem que terão dificuldade em atender à solicitação, pois seria muito difícil e dispendioso enviar um engenheiro para lá ou treinar as pessoas no local. É neste tipo de cenário que a abordagem holística do processo de consultoria entra”, explica. “Por um lado, os especialistas da CT elaborariam uma versão sofisticada de manutenção remota com o setor da Siemens. Por outro lado, a equipe do projeto analisaria as questões que não foram cobertas na descrição original do problema, mas poderiam contribuir de maneira eficaz para a solução. No caso das turbinas, poderia ser uma recomendação para aperfeiçoar o projeto e os materiais em termos de robustez, para que a turbina provavelmente precisasse de menos reparos e manutenção. “O suporte remoto, portanto, poderá ser a pergunta original, mas fatores totalmente diferentes podem contribuir para outra solução economicamente sustentável”, diz Grünwaldt. Além de fornecer solução e serviços de consultoria de processo, orientado para solução e aplicação, o PLM Technology Center também ajuda na implementação e no lançamento no mercado de ideias inovadoras. Por exemplo, o centro apoia a pesquisa em eletromobilidade - em outras palavras, o desenvolvimento de veículos movidos a eletricidade e sua integração na infraestrutura correspondente. No momento, o centro ainda é “um bebê”. Os primeiros projetos pilotos tiveram início na segunda metade de 2009. Outros centros tecnológicos PLM já estão em projeto para localidades da Siemens em Princeton, Nova Jersey e Pequim, na China. Karsten Schliekau 6 Pictures of the future – Primavera 2009 Pesquisadores que estudaram os ciclos de vida de várias lâmpadas da Osram, uma empresa do Grupo Siemens, descobriram que seu balanço ambiental é determinado quase de forma exclusiva por sua eficiência e vida útil. N os últimos meses, a jovem engenheira Malgorzata Kroban visitou os centros de fabricação de vidro da Osram, onde cilindros e tubos são feitos a partir de um grande número de materiais derretidos em gigantescos fornos quentes. Kroban viu com os próprios olhos os corpos das lâmpadas serem revestidos com fósforo, preenchidos com gases, equipados com circuitos elétricos e fixados a peças plásticas. Ela falou com gerentes de fábrica, pesquisadores, desenvolvedores e examinou minuciosamente diversas bases de dados. Seu objetivo – que foi PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 7 Fabricação de lâmpadas fluorescentes. A maior parte da energia consumida durante o ciclo de vida da lâmpada vem do funcionamento, enquanto a produção (imagens menores) exige uma proporção relativamente pequena de energia. “Assim, se pudermos aumentar a eficiência da luminosidade delas em apenas 1% ou 2%, atingiremos mais do que se cobríssemos todas as nossas grandes chaminés e não mais liberássemos dióxido de carbono na atmosfera com sua produção”. Os aumentos desejados de eficiência são obtidos por meio de refinamentos abrangentes que limitam a tolerância durante a produção, a fim de minimizar o impacto ambiental da lâmpada. Em breve, por exemplo, será viável preencher as lâmpadas apenas com a quantidade de gás necessária para acendê-las da maneira mais eficiente. A adoção de tais medidas pode aumentar em cerca de 20% a eficiência da luminosidade dos atuais sistemas de iluminação comum. Quando menos é mais. Os desenvolvedores da Osram também utilizam as análises de ciclo de vida para identificar aquelas partes do processo da produção em que os recursos podem ser conservados, e os resíduos futuros, evitados. Por exemplo, os estudos de Kroban demonstram que, em alguns casos, o consumo de energia tem como ser reduzido se usarmos menos material. O tubo fluorescente T5 da Osram, que é tão fino quanto um dedo, teve desempenho muito melhor em termos de eficiência energética do que o tubo T8 habi- Que venham as economias! também o tema de sua tese de doutorado na Universidade de Tecnologia de Brandenburg, em Cottbus, na Alemanha – foi elaborar um balanço ambiental para lâmpadas fluorescentes e diversos outros sistemas de iluminação da Osram. “Esta tese marcou a primeira vez que o ciclo de vida completo da lâmpada foi examinado de perto – desde as operações de uma pedreira e extração dos materiais para o vidro até a reciclagem e as instalações de disposição”, diz Christian Merz, especialista em sustentabilidade da Osram. Portanto, foi uma complexa tarefa de detetive. Todos os detalhes tiveram de ser identificados e registrados. Os resultados da pesquisa completa feita por Kroban tornaram algo muito claro: “O balanço ambiental para lâmpadas é determinado em grande parte por seu consumo de energia durante o funcionamento”, diz ela. Conforme Kroban descobriu, somente 1% a 2% do total do consumo de energia da lâmpada é atribuível à sua produção. “É por isso que a eficiência durante o funcionamento é a alavanca mais eficaz para tornar as lâmpadas mais benéficas para o meio ambiente”, disse Merz. tualmente utilizado, tão grosso quanto um cabo de vassoura. O modelo “mais magro” realmente consome cerca de 40% menos energia ao mesmo tempo em que apresenta o mesmo nível de luminosidade. A Osram e o Centro de Pesquisa em Energia de Munique começaram a reunir dados sobre o consumo de energia das lâmpadas há 20 anos e, desde então, fazem constantes atualizações. De acordo com esses dados, a simples mudança para soluções modernas de iluminação permitirá economizar cerca de 900 bilhões de quilowatts-hora, ou um terço Pictures of the future – Primavera 2009 7 PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 8 Planejamento do ciclo de vida | Lâmpadas da eletricidade atualmente utilizada para iluminação. Tendo em vista a combinação energética atual para produção de eletricidade, isso seria equivalente a uma redução de 450 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono por ano. “Você teria de plantar 450 mil km2 de floresta – uma área quase do tamanho da Suécia – para alcançar o mesmo efeito”, diz Merz, para quem banir as lâmpadas incandescentes é uma boa ideia. “Já temos lâmpadas em estoque para substitui-las”, diz Comparando vidas úteis. Como comparação, os cientistas da Osram examinaram o consumo de energia e a vida útil de diversos tipos de lâmpadas. Entre as fontes de iluminação que foram comparadas estavam uma lâmpada incandescente de 75 watts e uma Osram Dulux EL Longa Vida de 15 watts, Uma lâmpada econômica dura quinze vezes mais do que uma convencional – e economiza um megawatt-hora de eletricidade. econômica – ambas com praticamente a mesma luminosidade. Os pesquisadores descobriram que há uma enorme diferença no consumo de energia, não só devido ao fato de O consumo de energia da DULUX EL e as emissões de CO2 são mais de 80% inferiores aos das lâmpadas comuns, com mais de 15.000 horas de vida útil. 9.723 MJ de energia primária utilizada que a lâmpada que poupa energia pode converter mais eletricidade em iluminação do que calor, mas também porque a lâmpada que poupa energia funciona até quinze vezes mais do que a incandescente. O consumo coletivo -2.906 MJ -7.934 MJ de energia de quinze lâmpadas é, portanto, cinco vezes mais elevado do que uma única lâmpada econômica que queima por exatamente o mesmo tempo. Inversamente, uma lâmpada econômica economiza um total de um megawatt-hora de eletricidade durante o mesmo período de vida útil – meia tonelada a menos de emissões de CO2 – que uma lâmpada convencional. “Isto é mais do que uma árvore absorve durante o mesmo período”, diz Merz. O modesto consumo de energia das lâmpadas fluorescentes se paga após 800 horas de funcionamento – economizando € 250 para seus proprietários durante sua vida útil inteira. 6.817 MJ 1.789 MJ 599,4 kg CO2 420,2 kg CO2 15 x Lâmpadas de 60 W (1.000 h cada) 110,3 kg CO2 7,5 x HALÓGENA POUPADORA DE ENERGIA DE 42 W (2.000 h cada) 1x DULUX EL LONGA VIDA de 11 W (15.000 h) -30% CO2 -81% CO2 Produção 0,18 kg CO2/lâmpada x 15 = 2,7 kg CO2 Produção 0,33 kg CO2/lâmpada x 7,5 = 2,5 kg CO2 Produção 0,87 kg CO2/lâmpada x 1= 0,87 kg CO2 Uso 39,78 kg CO2/lâmpada x 15 = 596,7 kg CO2 Uso 55,7 kg CO2/lâmpada x 7,5 = 417,7 kg CO2 Uso 109,4 kg CO2/lâmpada x 1 = 109,4 kg CO2 Total: 599,4 kg CO2 Total: 420,2 kg CO2 Total: 110,3 kg CO2 Fonte: OSRAM 8 Pictures of the future – Primavera 2009 Além disso, por serem lâmpadas duradouras que poupam energia – quando examinadas no contexto da vida útil – consomem menos energia durante a produção. Isso porque embora a produção de uma delas requeira cinco vezes mais energia do que a utilizada em uma convencional, seria necessário produzir quinze lâmpadas para atingir uma luminosidade total similar. Mas as lâmpadas econômicas apresentam um problema ambiental: elas contêm mercúrio. “Sem o mercúrio, a eficiência da luminosidade seria dois terços mais baixa”, diz Merz, explicando por que a Osram ainda necessita usar o metal tóxico e pesado. As lâmpadas, porém, contêm apenas um décimo do mercúrio das fluorescentes há 30 anos. “Isso é PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 9 | Avaliações Holísticas menos mercúrio do que uma termelétrica movida a carvão libera quando produz eletricidade utilizada por uma lâmpada convencional durante sua vida útil”, comenta Merz. De qualquer forma, o mercúrio terá de ser eliminado das lâmpadas. De fato, já existe uma lâmpada fluorescente para farol de carros no mercado conhecida como “Xenarc sem Hg” que emprega um composto de potássio e iodo e produz iluminação suficiente sem mercúrio. A tese de Kroban serve como alicerce para outros balanços ambientais a serem preparados pela Osram para novos produtos. “Nosso objetivo é comercializar somente produtos que são menos agressivos ao meio ambiente do que seus antecessores”, diz Merz. Com isso em mente, a empresa está preparando um balanço ambiental para diodos emissores de luz (LEDs). Essas lâmpadas do tamanho da cabeça de um alfinete competem com as fluorescentes em termos de eficiência e o uso de novos materiais deverá aumentar bastante sua eficiência em termos de luminosidade. Ao mesmo tempo, a lâmpada desenvolvida com base nos critérios ambientais é sapatos) e estudar seu conteúdo, para avaliar o quanto respeitavam o meio ambiente. Entre as perguntas a serem respondidas pela equipe estavam as seguintes: Quais recursos foram utilizados na produção de bobinas, resistores, circuitos e capacitores? Quanta energia primária foi utilizada no processo? Quais emissões e resíduos foram produzidos durante a fabricação, o transporte, o funcionamento e o descarte? Os especialistas da CT começaram preparando a declaração de materiais e projetando o modelo de avaliação do ciclo de vida que foi baseado em dados revelados durante a pesquisa. O resultado demonstrou que as emissões importantes para o clima ocorriam principalmente durante a fase de uso do ciclo de vida dos aparelhos de proteção. No final dos anos 1990, a questão do impacto ambiental do produto durante todo o seu ciclo de vida ainda era um assunto exótico, ob- Produtos de Pó a Pó Cada vez mais empresas avaliam o impacto ambiental de seus produtos e processos de produção. Um método reconhecido para isso é a avaliação do ciclo de vida, na qual dados importantes do ponto de vista ambiental são coletados e visualizados durante toda a existência do produto – desde matérias-primas até reciclagem. A Siemens apresentou pela primeira vez sua avaliação do ciclo de vida que foca no processo de produção do ferro gusa. inútil se ninguém a compra. “É por isso que sempre temos de determinar o quanto uma lâmpada atrai os consumidores”, explica Merz. Esse estudo poderia levar a alteração do formato das lâmpadas para, por exemplo, adequa-las à preferência dos consumidores, mesmo se um design diferente ofereça uma solução tecnologicamente superior. Também é importante que as lâmpadas tenham uma função de dimmer e possam ser integradas facilmente aos sistemas existentes de iluminação. É claro que também devem emitir uma luz agradável de aparência natural. No final das contas, a iluminação ambientalmente saudável deve criar um efeito relaxante. Andrea Hoferichter oi uma empresa de energia elétrica na Itália que começou o processo. Buscando informações para sua documentação de reciclagem, a empresa solicitou à Siemens em 2005 dados sobre as substâncias contidas em seus aparelhos Siprotec, de proteção à energia. Os aparelhos Siprotec evitam que linhas de alta tensão e equipamentos de terminal sejam danificados, no caso de excesso de tensão ou quedas de raios. “Isso foi o início da avaliação do ciclo de vida da família de aparelhos Siprotec”, diz Frank Walachowicz, da Siemens Corporate Technology (CT), em Berlim. Walachowicz e sua equipe de especialistas em materiais receberam a solicitação para desmontar os aparelhos Siprotec (do tamanho de uma caixa de F jeto de interesse de universidades e institutos de pesquisa. O primeiro método simplificado de medição de emissões relevantes para o clima foi apresentado no início de 2000. Desde então, as avaliações progrediram para uma ferramenta holística de coleta, documentação e representação gráfica de dados relevantes para o meio ambiente. A avaliação do ciclo de vida pode ser preparada para um único produto. Também pode se referir ao processo de transporte ou ser adaptada para a fábrica. “Quando ingressei na CT, em 1991, o software era muito limitado em termos de sua capacidade de processar informações. Nem era possível modelar sequências de processo e fluxos de materiais para produtos, linhas de produção ou locais. Você tinha muito trabalho para Pictures of the future – Primavera 2009 9 PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 10 As avaliações do ciclo de vida são preparadas para Planejamento do ciclo de vida | Avaliações Holísticas vários tipos de produto, desde aparelhos pequenos para proteção da energia até o processo Corex/Finex para a proteção de ferro gusa (à direita). 10 Pictures of the future – Primavera 2009 Avaliação do Ciclo de Vida de Processos por Região Normalização CML não-ponderada EU-25 China Brasil Alto forno convencional Alto forno convencional Alto forno convencional COREX COREX FINEX FINEX FINEX COREX 0 Fonte: Siemens dar entrada dos dados em uma planilha Excel”, recorda-se Walachowicz. No entanto, atualmente sua equipe tem ferramentas melhores à disposição, como o software comercial do tipo GaBi (um acrônimo baseado nas palavras em alemão para equilíbrio holístico), com a qual se podem preparar abrangentes balanços do ciclo de vida. O GaBi também ajuda a equipe da CT com o gerenciamento de grandes volumes de dados e modelagem dos ciclos de vida de produtos. “Uma vez que os modelos são criados, pensamos em como os aperfeiçoá-los. Por exemplo, tentamos torná-los mais eficientes em termos de energia e menos dispendiosos em termos de recursos”, explica Walachowicz. Embora o GaBi retire muito trabalho de suas mãos, os especialistas da CT gostam dele e passam cerca de 80% do tempo no trabalho buscando informações sobre materiais ou substâncias componentes. Um dos primeiros pedidos para preparar uma avaliação abrangente do ciclo do produto foi recebido em 2005, da antiga Divisão de Comunicações da Siemens, que queria a avaliação de uma família de sistemas telefônicos. Isso foi seguido de pedidos semelhantes sobre telefones móveis e aparelhos médicos. “No entanto, foi com o pedido da Itália sobre os aparelhos de proteção à energia que começou a tendência de determinar o impacto ambiental dos produtos”, diz Walachowicz. A reduzida disponibilidade de recursos como água e energia está forçando empresas do mundo inteiro a trabalhar com a perspectiva do longo prazo. As avaliações de ciclo de vida as ajudam a intensificar seus esforços para proteger o meio ambiente, ao mesmo tempo em que aplicam esses esforços sobre alicerces objetivos. Por que Corex/Finex corta emissões. Em 2008, a Divisão Industry Solutions da Siemens pediu a Walachowicz e sua equipe para avaliar o Corex e o Finex, dois processos inovadores para a produção de ferro gusa. A tecnologia Corex (Pictures of the Future, 2006) foi desenvolvida pela VAI, subsidiária austríaca da Siemens que atualmente faz parte do Setor Industry Solutions, e é especialmente reputada como uma protetora do meio ambiente. Os processos convencionais de alto forno, coque e sinter são necessários para produzir ferro gusa a partir do minério de ferro. Uma fábrica Corex, por outro lado, pode operar com carvão mineral comum. Finex é um refinamento de Corex. Aqui, o ferro gusa é produzido a partir dos finos de minério (material granulado) em uma única etapa do processo. Nem a fábrica de coque nem a usina de sinterização são necessárias com o Corex/Finex. As mesmas tecnologias em diferentes locais causam diferentes impactos ambientais. Corex, por exemplo, pode ajudar a reduzir a acidificação na China porque o gás produzido durante o processo pode ser utilizado para gerar eletricidade, eliminando a necessidade de queimar carvão rico em enxofre. Consumo de recursos (Abióticos) Potencial de acidificação Nevoeiro enfumaçado do verão (smog): formação próxima ao solo de oxidantes, como ozônio Eutrofização (enriquecimento de nutrientes) Gases de efeito estufa PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 Desta forma, não só o consumo dos recursos é mais baixo como os custos de investimento e produção também diminuem em relação ao alto forno convencional. A Universidade Técnica da Dinamarca, a Universidade Técnica de Berlim e a Universidade de Leoben, na Áustria, também participaram da elaboração da avaliação do ciclo de vida. “A Siemens contribuiu com a especialização na fabricação de aço e as universidades contribuíram com os alicerces para a avaliação do ciclo de vida”, diz Walachowicz. Os cientistas compararam o processo do Corex/Finex com o tradicional de um alto forno e mediram o impacto na água, no ar e no solo. Todas as etapas foram avaliadas, desde a mineração e o preparo das matérias-primas até os processos de fabricação e procedimentos como tirar o pó, escovar e dessulfurar. “Há enormes diferenças, especialmente em relação às emissões. O processo do alto forno produz muito mais dióxido de enxofre por tonelada métrica de ferro gusa do que o Corex e 10:17 AM Page 11 valor energético é produzido durante a produção de ferro gusa e tem como substituir as sequências convencionais do processo na geração de energia. Em um usina de ciclo combinado, o gás pode ser convertido em energia elétrica para ajudar a cobrir as necessidades da própria usina. “O processo Corex ajuda a reduzir as emissões de CO2 em até 30%, mas isso não é tudo. Também oferece a vantagem de não contribuir para a acidificação do meio ambiente. Isso é especialmente benéfico para a China, pois as termelétricas movidas a carvão naquele país queimam o carvão mineral retirado das minas locais, caracterizado por alto conteúdo de enxofre”, diz Walachowicz. A Siemens determinou o uso de tecnologias e materiais que melhorem a eficiência em todos os seus produtos e evitem as emissões de CO2. Este é um dos motivos pelos quais os Setores da Siemens estão tão interessados na especialização desenvolvida por Walachowicz e sua equipe. A companhia investiu durante anos, e de maneira contínua, muito esforço para refinar seu próprio sistema de gerenciamento ambiental, o que inclui a norma SN 36 350, da própria empresa, para “projeto ambientalmente compatível de produtos e usinas/fábricas”. Esta norma ajuda os engenheiros de desenvolvimento da Siemens a cumprirem a declaração ambiental que é exigida pelo governo da Alemanha. Ainda mais importante, na visão de Walachowicz, é levar em consideração o impacto ambiental durante o processo de desenvolvimento antes da construção da fábrica/usina e do processo de fabricação do produto em si – uma tarefa para a qual as avaliações do ciclo de vida são perfeitamente adequadas. As avaliações ambientais também impulsionam a concorrência para os progressos que mais respeitam o meio ambiente. “As avaliações do ciclo de vida permitem que as unidades de negócio da Siemens mostrem a seus clientes que são muito melhores do que os concorrentes”, diz Walachowicz. Evdoxia Tsakiridou Impacto Ambiental da Produção de Ferro Gusa Alto forno convencional & VAiron COREX FINEX -35 % -31 % Normalização CML não ponderada -2 % Corex/Finex: importantes reduções no consumo de recursos, acidificação e formação de ozônio Fonte: Siemens o Finex. As emissões de pó e óxidos de nitrogênio são reduzidas de maneira semelhante. E a água residual após Corex/Finex contém menos amônia, fenóis e sulfitos”, diz Wofgang Grill, da Siemens VAI. Grill, um expert do departamento de Tecnologia da Redução na VAI, tem trabalhado no processo Corex nos últimos cinco anos. Ele chama a atenção para o fato de que uma das grandes vantagens é que os produtores de aço têm como utilizar o gás produzido durante o processo Corex para acionar as turbinas e assim gerar eletricidade para uso próprio. “Embora a produção de aço continue associada ao consumo de energia e recursos, bem como às emissões de CO2, Corex e Finex têm uma avaliação de ciclo de vida muito melhor do que o processo de alto forno.” “O Corex/Finex é especialmente vantajoso em países onde o carvão rico em enxofre é utilizado para gerar eletricidade”, conclui Walachowicz. Isso ocorre porque o gás de alto Alto forno convencional Consumo de recursos (abióticos) Potencial de acidificação Nevoeiro enfumaçado de verão (smog): formação de oxidantes próxima ao solo, como ozônio Eutrofização (enriquecimento de nutrientes em corpos de água) Gases de efeito estufa CML é o método de normalizar diversos impactos ambientais e torná-los comparáveis. Região EU-25 Pictures of the future – Primavera 2009 11 PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 12 Planejamento do ciclo de vida | Sistemas ferroviários sumo de energia durante a fabricação. Mas Leitel chama a atenção que, após poucos anos em funcionamento, a alta eficiência do transformador e a leveza do alumínio compensam os custos de energia. Esses conflitos são parte da rotina de Leitel. Além de realizar avaliações de ciclo de vida (LCAs), seu trabalho na fábrica de locomotivas de Allach, próxima a Munique, é garantir a coordenação com os clientes ao elaborar as especificações técnicas de suas locomotivas de acordo com suas necessidades. A combinação desses dois objetivos se provou uma boa ideia. “Os clientes simplesmente querem uma boa locomotiva que atenda às mais elevadas normas ambientais”, diz. Além disso, as análises de ciclo de vida são com frequência um pré-requisito para fazer parte de processos de licitação. LCAs rápidos. Munique tem sido uma localidade de produção de locomotivas desde 1841 – em uma época com o nome de KraussMaffei, cujo logotipo ainda adorna a fachada da (ala) da fábrica que a Siemens assumiu em Trens providenciais As locomotivas atuais devem ter o menor consumo de energia possível – não apenas quando estão em funcionamento, mas também durante a produção e na eventual reciclagem. As avaliações do ciclo de vida ajudam a selecionar os projetos mais compatíveis do ponto de vista ambiental. A ala de montagem está cheia de locomotivas, algumas delas sem os tetos, outras sem as cabines de controle. Algumas estão montadas em plataformas temporárias que as fazem parecer que estão flutuando no ar. Martin Leitel, responsável pelas avaliações do ciclo de vida das locomotivas para a Siemens Mobility em Allach, na Alemanha, aponta para uma locomotiva amarela sem teto. “Aquela vai para a Austrália”, ele diz, país onde as operadoras de serviços sobre trilhos recentemente começaram a dar mais prioridade à conservação de energia. De fato, o modelo será a primeira locomotiva elétrica no continente australiano a ser equipada com sistema de recuperação de energia. O sistema coleta a 12 Pictures of the future – Primavera 2009 energia gerada pelos freios de trens cheios de carvão, em trechos de decida, e que estão viajando do interior do país para a costa. Ela então alimenta a energia na malha para ser utilizada em trens vazios na subida. Outra locomotiva, Leitel explica, é para uma empresa concessionária na Europa. Ela está equipada com um transformador que atinge a máxima eficiência porque foi construído usando mais cobre do que o normal, o que também a torna mais pesada do que as unidades semelhantes. A fim de compensar o peso adicional do transformador, as outras peças da locomotiva têm de ser mais leves e este é o motivo de o teto ser feito de alumínio. Naturalmente, tudo isso resulta em mais con- 1999. Porém, muita coisa mudou ao longo dos anos. Enquanto as locomotivas a vapor soltam no ar enormes quantidades de fuligem e dióxido de carbono, suas versões modernas estão sujeitas a rigorosas regulamentações ambientais. Não são só as emissões causadas pelo funcionamento dessas potentes locomotivas que necessitam ser baixas; o impacto ambiental em todo o ciclo de vida também precisa ser mantido ao mínimo, o que começa com o processo de fabricação e continua durante toda a vida útil do produto até seu descarte, o que em breve será responsabilidade legal do fabricante. Consequentemente, os desenvolvedores agora têm de planejar a reciclagem do maior número possível de componentes. PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 13 Em uma fábrica de locomotivas em Allach, na Alemanha, os esforços para maximizar a compatibilidade e a flexibilidade ambiental dos produtos incluem, entre outras ações, o uso de luzes de sinalização com LED. Para assegurar que as análises associadas – também conhecidas como balanços de material – permaneçam exatas, Leitel conta com uma base de dados abrangente contendo milhares de números de peças e informações sobre os materiais utilizados em cada componente. Essa base de dados revela, por exemplo, que a porta esquerda da cabine de controle da locomotiva pesa 87,1 kg, incluindo 68,1 kg de alumínio, 6,6 de vidro e 4,2 de elastômeros, com o restante do peso distribuído em outros materiais, inclusive aço e itens de isolamento. Apenas alguns cliques do mouse são suficientes para avaliar as montagens específicas ou as classes de material e determinar sua proporção no peso total. Outra base de dados lista o consumo de energia primária e emissões de dióxido de carbono associados com cada material, bem como as diferenças regionais. Por exemplo, um painel de alumínio fabricado na Islândia, país que utiliza muita energia renovável, tem valor de CO2 muito mais baixo do que um da China, onde a maior parte da eletricidade é gerada por termelétricas de carvão. A análise do material não chega até o último parafuso, o que demandaria muito esforço e despesa. “Fazemos uma estimativa geral do consumo de energia e emissões dos pequenos componentes”, explica Leitel. A análise, enfim, produz gráficos que mostram onde o consumo de energia é mais elevado. Com os trens de frete, fica bem claro que ele resulta do funcionamento da própria locomotiva. Durante sua vida útil de cerca de 30 anos, uma locomotiva na Europa emite entre 200 mil a 400 mil toneladas métricas de CO2, dependendo do tipo em uso. No entanto, a produção da locomotiva resulta em apenas 250 toneladas métricas de emissões de CO2 e a fase de reciclagem gera economias de 100 toneladas métricas de CO2 porque mais de 95% dos materiais em uma locomotiva moderna são recicláveis. Esses materiais – em sua maior parte metais e itens de resfriamento – são reutilizados, o que previne as emissões de CO2 que seriam produzidas se os materiais tivessem sido fabricados do zero. Análise dos materiais. Leitel acredita que o processo de análise dos materiais possa ser aprimorado. “Estamos revendo toda a gama de materiais utilizada atualmente”, afirma. A ideia exemplar de sua tese de doutorado na Universidade Técnica de Viena. Neste documento, Struckl calculou até o último detalhe do equilíbrio energético do sistema de metrô de Oslo – provavelmente o mais eficiente metrô em termos de conservação de recursos. Quando Struckl ingressou na Siemens, em 2003, ainda não era possível comercializar os aspectos ambientais de produtos mas, atualmente, os LCAs são uma parte normal do processo de licitação. Os custos do ciclo de vida têm a ver com custos, mas as avaliações do ciclo de vida Uma base de dados lista consumo de energia primária e emissões de dióxido de carbono associadas a diferentes materiais. é utilizar baterias que não contenham metais pesados assim como itens de resfriamento feitos de materiais biodegradáveis – e, em geral, assegurar que os novos projetos tenham mais peças recicláveis, evitando ao máximo o uso de compostos. “O ideal seria afrouxar alguns parafusos e fazer a locomotiva se desfazer em conjuntos de materiais não misturados”, exemplifica Leitel. No entanto, nem toda tendência é tão boa quanto parece. Embora a construção leve com plásticos e compostos reduza o consumo de energia operacional, ela apresenta problemas de reciclagem, o que significa que não é necessariamente boa para o meio ambiente. Além disso, uma locomotiva não deve ser muito leve porque tem de puxar um trem com 20 a 30 vezes o seu próprio peso. Quando perguntado se todo o esforço ambiental implantado atualmente, em última análise, se pagará sob a forma de pedidos, Leitel disse que ele tem certeza que sim, mas alerta que o “mercado de locomotivas é sensível ao preço, portanto o preço de venda ainda é, com frequência, decisivo”. Porém os clientes estão bem conscientes do fato de que o preço de compra da locomotiva é somente cerca de 15% do custo de energizá-la durante toda a sua vida útil. “Portanto, uma tabela de preços 10% mais alta para uma locomotiva ainda se paga para o cliente se a eficiência energética estiver dois pontos percentuais melhor do que a da concorrência”, diz Leitel. Metrô reciclável. Esta discussão é familiar para o Dr. Walter Struckl, que trabalha na Siemens Mobility em Viena, onde são fabricados os trens do metrô, vagões de estrada de ferro e bondes. O mercado para esses produtos é extremamente sensível a preços e as inovações de economia de energia têm de se pagar em dois ou três anos. Struckl abre um tratam das preocupações ambientais. As pessoas tendem a confundir as duas coisas, disse Struckl – mas elas não são contraditórias, tendo em vista que a maior eficiência energética em geral acarreta um efeito rápido e positivo nos custos do ciclo de vida. No sistema de metrô de Oslo, 84% de seus materiais podem ser reciclados; o restante é queimado e explora-se a energia resultante. Não há muito a melhorar aqui porque os vagões são conectados com ferrolhos do tipo engate e alça em vez de cola, por exemplo, o que torna mais fácil desarmá-los. A LCA, no entanto, ainda pode ser aperfeiçoada. Os especialistas estimam que mais 30% em economia energética será obtido em operações reais e que os custos associados seriam recuperados em um ano, segundo Struckl – mesmo que o sistema já consuma cerca de um terço a menos de energia que seu antecessor, a maior parte graças a aquecimento mais eficiente e isolamento mais eficaz. Mobilidade no contexto. Struckl chama a atenção para as generalizações, explicando que não existe LCA “boa” ou “má”. Números absolutos como esses de emissões de CO2 não revelam muito em si. Em vez disso, cada cenário de aplicação precisa ser estudado com cuidado, no contexto, a fim de serem desenvolvidas medidas ótimas. Os trens do metrô de Oslo, por exemplo, produzem somente 827 toneladas métricas de CO2 durante seus 30 anos de vida útil – um número baixo devido ao fato de 99% da eletricidade da Noruega ser gerada por hidrelétricas. Por outro lado, os mesmos trens emitiriam 47.900 toneladas métricas de equivalentes de CO2 se operados na República Tcheca porque a maior parte da eletricidade daquele país é produzida por termelétricas movidas a carvão. Mas diferentemente dos trens de Oslo, os de Praga trafegam a maior parte do tempo no Pictures of the future – Primavera 2009 13 PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd Planejamento do ciclo de vida 10/27/09 10:17 AM Page 14 | Otimização de usinas elétricas Engenheiros na fábrica da Siemens em Mülheim, perto de Dusseldorf, Alemanha, desenvolveram várias soluções para melhorar a performance e a eficiência das usinas elétricas. subsolo e os invernos são mais quentes, significando que seus trens necessitam de menos calor e que o investimento para melhorar o isolamento não se pagaria de qualquer forma. O que daria dividendos, diz Stuckl, seria uma unidade de acionamento mais eficiente como o truque de guia (bogie), com seus motores elétricos sem engrenagem permanentemente excitados, do qual a Siemens está testando um protótipo (Pictures of the Future, 2007). As locomotivas da Siemens são projetadas para serem eficientes – por exemplo, ao devolver para a malha a energia dos freios gerada quando o trem viaja em descidas. O objetivo de Struckl é tirar o foco concentrado na LCA de montagens individuais e concentrá-lo no sistema de mobilidade como um todo. A Siemens oferece dispositivos que armazenam a energia dos freios nos trens ou em unidades estacionárias nas linhas férreas. A empresa também fornece tecnologias eficientes para a produção de eletricidade em usinas elétricas e o transporte delas para a linha férrea, bem como sistemas de gerenciamento do tráfego que interligam de maneira inteligente o transporte ferroviário com o rodoviário. O conceito da Siemens de Mobilidade Completa atraiu muito interesse na feira InnoTrans de Berlim, em setembro de 2008. Hoje em dia, empresas na Noruega recebem bônus em dinheiro para cada quilowatthora preservado; e outros países planejam introduzir os sistemas de negociação de emissões para o setor de transporte. “Quando as empresas de transporte também começarem a arcar com o custo das emissões de CO2, muitas delas se interessarão rapidamente por nossas inovações”, prevê Struckl. Bernd Müller 14 Pictures of the future – Primavera 2009 Oh! Que reforma! Leva quase uma década para planejar e construir uma usina elétrica, mas em poucos anos de comissionamento, a maioria já não atende aos mais atualizados padrões tecnológicos. Em muitos casos, substituição de peças e ajustes no sistema de controle ajudam as usinas a se modernizarem, economizando energia e reduzindo significativamente as emissões de CO2. A Siemens é líder nesse tipo de solução. PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 15 Q uando uma usina elétrica funciona em plena capacidade gera muita energia, quase sempre na forma de eletricidade. Em outras vezes, quando o apetite da grade por energia é mais baixo, a usina opera na sua capacidade parcial. Mas as usinas elétricas apresentam desempenho melhor quando operadas a um ritmo relativamente uniforme. Nenhuma turbina a base agora precisam ser atualizadas. Há ainda outro motivo urgente para modernizar turbinas, caldeiras e geradores existentes: como o custo do gás e do petróleo fica cada vez mais alto ao longo do tempo, as operadoras buscam melhorar a eficiência de suas usinas elétricas. E, à medida que investem em melhorias de eficiência, elas e seus clientes se beneficiam das gás ou caldeira movida a carvão, por exemplo, consegue atingir a plena potência em segundos. Dependendo do tipo de usina, alcançar a plena produção pode demandar de dez minutos a algumas horas. Cada vez mais, as empresas de eletricidade precisam ter a capacidade de aumentar a geração em curto prazo, pois o aumento do uso de fontes renováveis de energia leva a mais flutuações na capacidade. Como o vento e o Sol são fatores variáveis, as usinas solares e eólicas alimentam a energia na malha em bases irregulares. Assim, as horas de escuridão ou os períodos de calmaria no mar precisam ser cobertos por usinas elétricas com base convencional. Isso, por sua vez, significa que tais usinas precisam funcionar de maneira mais flexível do que antes para compensar as variações de carga e evitar os apagões. As instalações mais antigas, especificamente, têm problemas para amortecer tais mudanças rápidas na carga. Considerando a tendência crescente do uso de fontes de energia renovável, muitas usinas com carga emissões reduzidas de CO2 por quilowatt de energia produzida. O máximo de informações. De acordo com as estimativas da Associação Alemã das Indústrias de Água e Energia (BDEW), um quarto da capacidade total de geração da Alemanha, de 130 gigawatts, precisa ser substituído em função da questão ambiental e também porque muitas usinas já têm três ou quatro décadas. Segundo a BDEW, isso exigirá investimentos da ordem de 40 bilhões de euros até 2020. Ao mesmo tempo, a BDEW calcula que será necessária a colossal soma de US$ 16 trilhões até 2030 para expandir e modernizar a infraestrutura mundial de energia. Destes, cerca de US$ 10 trilhões serão destinados a sistemas de suprimento de energia. A modernização e a atualização das usinas é uma linha importante de negócios para o Setor Energy da Siemens. Em Mülheim an der Ruhr, Alemanha, é tarefa de Ralf Hendricks e de seus colegas da unidade de Lifetime Management converter termelétricas de ciclo combinado (CCPPs), que são operadas a carga base, em máquinas de corrida. Em nome de um cliente no Reino Unido, por exemplo, eles recentemente atualizaram uma CCPP sem ter de substituir nenhum componente. O primeiro passo foi uma visita de inspeção às instalações para determinar suas condições, como prérequisito para elaborar um pacote de medidas projetadas para a demanda do cliente. Depois disso, a equipe de especialistas de Mülheim e Erlangen viajou para a Inglaterra por três dias para aperfeiçoar todos os parâmetros da termelétrica de 400 megawatts, modificando, por exemplo, a rampa de cargas das turbinas a vapor e a gás e ajustando os índices de pressão à caldeira. Com isso, a carga total pôde ser alcançada com o máximo de velocidade. “O aperfeiçoamento da tecnologia de controle de laço aberto e fechado nos levou a conseguir melhores resultados na usina”, confirma Hendricks. Como resultado, o tempo decorrido é de somente uma hora do momento em que a turbina a gás é ligada até ela chegar à plena carga – e sem a necessidade de novos equipamentos. Em apenas metade do tempo que levaria anteriormente, a termelétrica está à plena carga e gerando sua produção total de 400 megawatts. Essas melhorias se pagam, em geral, depois de dois anos, quando a operadora recupera os custos da atualização. Porém, as economias de custo são realizadas não só quando a CCPP está em funcionamento: a utilização da técnica de resfriamento forçado reduz o tempo necessário para resfriar a turbina a vapor. O segredo é resfriar ativamente o equipamento, extraindo o ar da ala da turbina. “Em vez de ter de esperar 160 horas para a turbina esfriar antes de poder ser desligada, agora leva somente 60 horas”, diz Hendricks. uma diferença de quatro dias e uma economia importante quando uma operadora está esperando para começar uma inspeção de rotina e manutenção. As fornecedoras de energia podem confiar nessa técnica e economizar muitos milhões para cada reforma, com custos mínimos de investimento. Megawatts eficientes. Além de encurtar os tempos de partida e desligamento, as melhorias também podem ser feitas em outras áreas. Por exemplo, a atualização de componentes individuais não só aumenta a vida útil da termelétrica como também melhora sua eficiência e reduz as emissões de CO2. Frequentemente há também esforço para extrair maior desempenho das turbinas sem consumir mais combustível, aumentando, assim, a capacidade de geração sem onerar ainda mais o meio ambiente. A eficácia da Pictures of the future – Primavera 2009 15 PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 16 A eficiência da usina elétrica pode ser melhorada Planejamento do ciclo de vida | Otimização de usinas elétricas atualizando-se os sistemas de instrumentação operacional e controle. Melhorar os componentes individuais também aumenta a eficiência. turbina depende muito de suas paletas e área de fluxo. E, neste caso, os grandes avanços obtidos por simulações em 3D no computador, nos últimos 20 anos, deram origem ao desenvolvimento de paletas de turbinas com baixíssima resistência de fluxo. Por último, mas não menos importante, temos ainda o gerador que converte o movimento giratório da turbina em energia elétrica, onde um gerador tem uma eficiência de quase 100%. No entanto, ele tem de ser projetado para os outros componentes e em geral envelhece mais depressa. Em usinas mais antigas, as paletas das turbinas têm de ser substituídas, ou porque o material fica quebradiço e há o perigo de a turbina falhar ou para tornar a turbina mais eficiente. “Obviamente, temos de verificar se o gerador existente conseguirá dar conta do aumento de performance”, diz Anastassios Dimitriadis, do Setor Energy da Siemens em Mülheim. Se necessário, será instalado um novo rotor ou bobinas rebobinadas. para mais eficiência em termos de custo e proteção ambiental”, diz Nikolaus Schmidt, da Eon Energie em Hanover. Para Schmidt, Mehrum é um grande exemplo de projeto bem-sucedido de eficiência energética, como também a termelétrica movida a carvão de Farge, próxima a Bremen. Lá, a eficiência subiu três pontos percentuais, atingindo 42%. Ao todo, ele estima que a atualização em Mehrum e Farge resultou na criação de 200 “megawatts ecológicos” de capacidade adicional de geração. Para a Eon, significará redução de emissões de CO2 de quase um milhão de toneladas métricas até 2010. “De maneira inevitável, a situação da tecnologia no setor energético tende a caminhar mais lentamente do que os mais recentes progressos tecnológicos”, frisa Thomas Sattel- mayer, professor de Termodinâmica na Universidade Técnica de Munique. Por isso, cada nova termelétrica que entra em funcionamento já está, de certo modo, desatualizada. “Portanto, faz sentido atualizar a eficiência ao se realizar a manutenção rotineira”, diz Sattelmayer, porta-voz da “Kraftwerk 21”, uma aliança de pesquisa energética da Baviera. Sattelmayer vê enormes oportunidades de negócio no aperfeiçoamento das termelétricas. Sejam quais forem os resultados de tal previsão, o interesse do governo na redução das emissões de CO2 das termelétricas certamente coincide com os objetivos das empresas prestadoras de serviços públicos, que querem operar usinas mais eficientes – o que influenciará no aumento de projetos de atualização de termelétricas nos próximos anos. Jeanne Rubner Tempos de Partida para Operação a Plena Carga Saída (produção) (%) 16 Pictures of the future – Primavera 2009 100 80 60 Quase 100% de saída após 40% do tempo anteriormente necessário Ignição de turbina a gás Termelétrica atualizada Termelétrica padrão 40 20 0 40 Tempo (%) 100 Fonte: Siemens Aumentando a saída. Ao longo dos anos, a Siemens aumentou o desempenho de muitas usinas elétricas. Na termelétrica nuclear de Forsmark, na Suécia, por exemplo, todas as peças internas das turbinas de baixa pressão foram recentemente substituídas, o que não só aumentou a capacidade das instalações em 30 megawatts – ou quase 3% de sua capacidade total de 1.200 megawatts – mas também aumentou sua vida útil. O mesmo se aplica a termelétricas movidas a carvão. Utilizando tecnologia da Siemens, a produção da instalação Mehrum, de 690 megawatts, que está situada a leste de Hanover, no norte da Alemanha, foi aumentada em 38 megawatts, aumentando a eficiência de 38,5% para 40,4%. “A modernização é uma importante etapa PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 17 | Fabricação Produção em alta velocidade O novo Sistema de Produção da Siemens é o primeiro mecanismo que engloba toda a empresa com o objetivo de aperfeiçoar a produção. Em um dos locais, o sistema levou a uma redução de 90% nos prazos de processamento de produção, bem como a uma maior qualidade e produtividade. pasmo quando vi o que o Sistema de “ Fiquei Produção da Siemens significaria para nós”, diz Wolfgang Machate, diretor de Produção na Messgerätewerk Berlim, na Alemanha, (MWB), parte da Divisão Automation, do Setor Energy da Siemens. A MWB fabrica dispositivos digitais de proteção da família Siprotec, que evitam danos às linhas de alta tensão e aos equipamentos de terminais no caso de excesso de tensão ou queda de raios. Assim como Machate, os outros 400 colaboradores da fábrica ficaram deslumbrados. “Todos nós estávamos tão acostumados às imperfeições nos nossos métodos de trabalho que ficamos cegos a elas”, diz Machate. “Agora, vemos as coisas sob uma luz diferente e podemos identificar desperdício e potenciais melhorias.” Machate não está se referindo aos tempos de produção das máquinas, nem aludindo ao uso de materiais. Ele se refere, por exemplo, aos inventários de equipamentos totalmente montados, que costumavam juntar pó na ala de produção, ou ao fato de que colaboradores tinham de caminhar longas distâncias para pegar os materiais e perder tempo durante os testes funcionais, ou ainda que eles interrompiam repetidas vezes suas tarefas e, após cada passo do processo, o produto acabava em um contêiner onde aguardava o próximo trabalhador para a realização do passo seguinte. Portanto, o tempo era constantemente desperdiçado. Atualmente, tudo na MWB é diferente, onde o Sistema de Produção da Siemens (SPS) foi introduzido no primeiro semestre de 2008. Embora o conceito seja conhecido há tempos, o segredo do seu sucesso é implementá-lo sistematicamente sempre. “Nossa estratégia com o SPS é projetar e executar todos os processos, levando em consideração se eles acrescentam valor”, afirma Bernd Müssig, do departamento de Corporate Supply Chain Management and Procurement (CSP) – braço do Comitê Global de Fabricação que representa todas as divisões da Siemens. O Comitê Global de Fabricação iniciou o novo sistema de produção em 2005 e é responsável pelo seu desenvolvimento. No SPS, quaisquer processos que beneficiem o cliente agregam valor. “É por isso que definimos como desperdício os períodos em que o produto não está em andamento porque os colaboradores estão ocupados reorganizando, separando e esperando itens. Não se espera que o cliente pague pelo que é rejeitado ou pelo armazenamento do produto”, diz Müssig. Eliminando desperdício. Machate se lembra bem de quando os representantes da organização de Corporate Supply Chain Management and Procurement (CSP) visitaram a fábrica a fim de encontrar mais espaço para expandir a produção. Foi somente por esse motivo que os especialistas da CSP em projetos de fábrica foram chamados. “Eles queriam me mostrar como poderíamos ganhar mais espaço mesmo sem um anexo e, ao mesmo tempo, aumentar a qualidade e a produtividade”, diz Machate. “De início, não entendi. Não deveria ser uma surpresa para mim ver a divisão de Energy Automation, controladora da MWB, encontrar muitas formas de melhorar as operações da subsidiária, pois ela estava muitos anos à frente de seus concorrentes e tinha orgulho dos aumentos na lucratividade e na participação de mercado”, diz ele. “A primeira dica – eliminar desperdícios – não foi entendida imediatamente. Todos se perguntavam o que poderia ser melhorado. A sessão de treinamento sobre ‘aprender a ver’ revelou então o desperdício que ocorria em toda parte”, relata Machate. Ele ficou em pé na ala de produção dentro de um círculo marcado com giz. Durante uma hora, simplesmente observou. Isso abriu seus olhos. “De repente fiquei surpreso ao ver os estoques espalhados por toda parte. Se não estivessem ali, haveria mais espaço disponível. Também me chamou atenção o fato de que os trabalhadores tinham de ficar parados, esperando pelas coisas. Isso atende ao cliente?”, questiona Machate, um veterano que está há mais de 30 anos na Siemens. Depois da sessão de treinamento, as coisas andaram muito rápido. Em poucas semanas, os colaboradores reorganizaram suas áreas de trabalho. Antes, analisaram todo o processo de produção e redesenharam totalmente suas estações de trabalho, simulandoas em modelos de papelão. Conforme o faziam, mudavam a sequência das etapas do processo. As linhas de produção, onde anteri- Pictures of the future – Primavera 2009 17 PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Planejamento do ciclo de vida | Fabricação Page 18 O Sistema de Produção da Siemens está melhorando os processos com as células de trabalho no formato de U adotadas, por exemplo, na fábrica de Messgerätewerk, em Berlim (à esquerda), e nas fábricas que produzem turbinas eólicas e industriais. ormente se sentavam em paralelo, separados por grandes espaços, foram convertidas em células com formato de U. Desde 2008, eles têm trabalhado em conjunto nessas áreas em formato de U, em um grupo permanente. Com esse arranjo, todas as etapas do trabalho são sincronizadas e os materiais exigidos estão prontamente disponíveis, bem como as ferramentas e os equipamentos de teste. Quando os colaboradores terminam um turno, eles passam os produtos inacabados para os colegas que entram, as etapas são concluídas sem perda de tempo até que fiquem prontos e embalados. Fluxo Contínuo. Assim, a fábrica deixou de trabalhar com produção em lotes e passou a se concentrar no “fluxo contínuo de uma peça”. Anteriormente, um pedido de 50 peças, por exemplo, passava por um processo e aguardava o passo seguinte; agora, cada peça individual segue pela cadeia inteira de processo sem nenhuma parada intermediária. “Nossos processos agora são mais sincronizados e mais bem ajustados uns aos outros”, diz Machate, destacando que a produtividade já aumentou 20% na MWB e que o tempo de duração do processo foi reduzido em 90%. No passado, levava quatro dias para um produto ser produzido, totalmente embalado e transportado para o depósito. Hoje, leva uma hora. O número de peças inacabadas foi reduzido em 95% e o índice de rejeição, em 25%. Além disso, o SPS liberou 18 Pictures of the future – Primavera 2009 cerca de 1.200 metros quadrados de espaço na fábrica MWB, chegando a uma economia de 30%. Atualmente, a produção enxuta está renascendo. Contudo, Müssig admite que nesse campo a Toyota ainda é imbatível. Até agora, nenhuma outra empresa de tecnologia conseguiu introduzir um sistema uniforme e integrado de produção. De fato, para a maioria das empresas, o conceito de “enxuta” significa pouco mais do que um programa adicional que vise a cortar custos. Na Siemens, porém, o objetivo é tornar o dos para desenvolver especialistas de SPS. “Um importante elemento é a comunicação. Começamos com os tomadores de decisão do nível mais elevado. Eles têm de acreditar no SPS e dar exemplo. Essa é a única maneira de conseguirem envolver as equipes”, diz Müssig. Até 2010, 80% de todas as fábricas da Siemens terão adotado o SPS – o que significa muito trabalho para a equipe de Müssig – afinal, a empresa possui aproximadamente 300 localidades de produção em 40 países. No momento, cerca de 10% das fábricas da empresa estão instalando o sistema. Antes, eram necessários quatro dias para um produto ser produzido e embalado. Agora, leva apenas uma hora. “enxuto” parte da cultura corporativa. Seu sistema de produção não deverá, portanto, ser visto como um conjunto modular de componentes ou conceitos prontos, impostos aos centros de produção de fora para dentro. “Os princípios do SPS são sempre os mesmos, mas a solução é diferente para cada fábrica”, diz Müssig. “O bom disso tudo é que pode ser adotado imediatamente. Você tem como redesenhar a sua produção no dia seguinte”, diz. O SPS inclui sessões de treinamento para todos os colaboradores envolvidos em produção e para os departamentos relacionados, tais como compras e desenvolvimento. Há também programas de treinamento designa- No entanto, este é só o começo da transformação em empresa enxuta. “O próximo desafio é ficar com menos gordura em outras áreas, como logística, contabilidade e compras, por exemplo”, diz Müssig. Os responsáveis na MWB veem as coisas do mesmo jeito. “Lançamos os alicerces para a produção. Os próximos da fila são processamento de pedidos, as unidades de planejamento de tecnologia e nosso departamento de operações”, diz Machate. Perguntado sobre o que acontecerá com os 1.200 metros quadrados de “espaço extra”, ele não hesita nem um momento antes de responder: “Serão usados para novos produtos”. Evdoxia Tsakiridou PoF PRIMEIRA PARTE A.qxd:PoF 002-003.qxd 10/27/09 10:17 AM Page 19 | Fatos e Previsões Eficiência energética se paga sozinha O s produtos com bom custo/benefício ajudam a separar o crescimento econômico do consumo de energia. Enquanto o volume do mercado global para produtos e soluções eficientes em energia chegou a € 450 bilhões em 2005, esse número poderia subir para cerca de € 900 bilhões em 2020, segundo a consultoria Roland Berger. Não se levaram em conta os efeitos da atual crise econômica, no entanto diversos novos programas de estímulo focados na aplicação de soluções eficientes sugerem um futuro promissor para o setor de energia. Entre os impulsionadores do crescimento estão os motores que poupam energia. O Instituto Alemão do Cobre afirma que o uso de motores de alta eficiência para acionar bombas d’água de refrigeração a plena capacidade de 8 mil horas/ano pode reduzir os custos de energia em € 405, se esse motor substituir o padrão de 30 kw. Considerando os custos de € 1.650 por motor de alta eficiência e € 1.300 por motor padrão, a amortização do custo adicional do motor que poupa energia é de somente 9 meses e meio. Combinados a conversores de frequência, esses motores reduzem a quantidade de energia usada pelos sistemas de bombeamento – 4% do consumo global de eletricidade, segundo a Comissão da União Europeia. Um mercado importante para esse segmento é a Índia, onde os negócios com bombas e compressores para utilização no setor da construção, projetos de infraestrutura, agricultura e indústria de processamento crescem rapidamente. O volume do setor, segundo a Associação de Fabricantes de Bombas da Índia (IPMA), aumentou a uma taxa anual de 12% a 15% entre 2003 e 2006, quando alcançou cerca de € 1,8 bilhão. Outro importante mercado são os EUA, com grande potencial para os produtos com boa relação custo/benefício. Um estudo da Associação de Energia Solar dos EUA mostra que o mercado para aparelhos eletrodomésticos, lâmpadas, equipamentos para computador e prédios (inclusive janelas e portas) foi de € 150 bilhões em 2006 e deverá dobrar em 2030. Os avanços aqui se devem principalmente a edifícios eficientes em termos energéticos, mas há também demanda por lâmpadas que poupam energia – desde as de descarga de gás de alta pressão até LEDs. Medidas para aumentar a eficiência energética em edifícios e residências também se pagam na Alemanha, onde, por exemplo, o isolamento do teto de um porão em casas de uma só família custa aproximadamente € 2.000 e reduz os custos do aquecimento a € 150 por ano. Combinado com o subsídio do programa do governo para reforma de prédios, este investimento se pagará sozinho em cerca de dez anos – ou até antes, se os preços de petróleo e gás subirem. Um refrigerador A++ de alta eficiência é € 50 mais caro do que um de menos eficiência, mas poupará ao usuário € 11 ao ano. O investimento em lâmpadas que economizam energia também se paga, pois seus custos mais elevados de aquisição, quando comparados com as lâmpadas convencionais incandescentes, são amortizados em apenas 240 horas de funcionamento. Hoje, cerca de 3,7 bilhões de lâmpadas incandescentes são utilizadas na Europa, contra 500 milhões de lâmpadas que economizam energia. Sylvia Trage Mercado Global para Tecnologias Ambientais: Um trilhão de euros Crescimento absoluto do volume anual de mercado de 2005 a 2020 (em bilhões de €) CAGR 2005–2020 Principais tecnologias Eficiência energética 450 5% Tecnologia de medição e controle, motores elétricos Gerenciamento sustentável da água 290 6% Tratamento descentralizado da água Geração de energia 190 7% Fontes de energia renovável, geração de energia limpa Mobilidade sustentável 5% Sistemas alternativos de acionamento, motores limpos 90 8% Biocombustíveis, bioplásticos Sistemas fechados, resíduos, reciclagem 20 3% Processos automatizados de separação de materiais Fonte: Roland Berger 170 Recursos naturais e eficiência dos materiais Períodos de amortização de soluções eficientes em termos de energia Período de amortização para o custo adicional (com economia de energia) Lâmpadas que poupam energia x lâmpadas incandescentes com a mesma luminosidade 800 horas em funcionamento Troca das lâmpadas incandescentes dos semáforos por LEDs Cerca de 5 anos Motor que economiza energia controlado pela velocidade x motores convencionais 0,5–2 anos Refrigerador A++ x aparelho em uma categoria de eficiência mais baixa 4–5 anos Secador BlueTherm comparado à eficiência de um secador categoria “B”* Cerca de 3,9 anos Renovação de prédios baseada na eficiência energética mediante medidas técnicas Soluções eficientes em termos de energia para veículos sobre trilhos 2–3 anos Otimização do sistema de controle em uma termelétrica de ciclo combinado** *Baseado em uma família de quatro pessoas utilizando secador 229 vezes ao ano Fonte: Pesquisa própria 5–10 anos Cerca de 1 ano **Baseado em 50 partidas por ano e € 80 por megawatt Pictures of the Future future –| Spring Primavera 2009 2009 31 19 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:19 AM Page 52 Vigias digitais | Criptografia quântica Detectores medem a polarização dos fótons gerados por laser e um criptochip utiliza essas medições para criar novos códigos criptográficos não joga dados com o universo”, disse “Deus Albert Einstein certa vez, criticando a física quântica. Mas foi Einstein que ajudou a lançar a teoria da física mais bem-sucedida do século XX, com o documento sobre quanta leves (fótons), recebendo o Nobel, em 1905. Hoje, sabemos que Deus “joga dados” sim, no sentido de que determinados fenômenos da física quântica não podem ser previstos; em vez disso, eles só se tornam reais no momento em que são mensurados. Einstein também estava errado sobre o emaranhado peculiar das partículas leves – o que ele descartou como “ação arrepiante à distância”, em 1935, é um fenômeno real. Especialmente quando são criados pares gêmeos de fótons, um fóton sempre sabe o estado do outro – sem nenhum atraso no tempo e por qualquer distância, mesmo a do universo inteiro. Esse comportamento incomum que tanto irritou Einstein é idealmente adequado para a criptografia de dados. Os físicos que trabalham nesse campo exploram o emaranhado de dois fótons e o fato de que seu estado só pode ser determinado no momento em que são mensurados. Se tais fótons estão sendo enviados através de linhas de fibra óptica a fim de trocar chaves de criptografia, qualquer um que esteja “escutando” tem como apanhar os dados. No entanto, as leis da física garantem que a escuta clandestina não passará despercebida, porque se um dos fótons for mensurado por um terceiro, o transmissor e o receptor verão isso imediatamente no estado do par/gêmeo. Então, eles poderão tomar medidas Código do Silêncio Em um projeto da União Europeia, a Siemens e parceiros mostraram que a criptografia quântica impenetrável já está pronta para ser amplamente utilizada. para fazer com que os bits e bytes se tornem incompreensíveis para o hacker. Embora os sistemas comerciais de criptografia quântica sejam utilizados há vários anos, seu sucesso foi retardado pelo fato de que até recentemente eles permitiam somente conexões ponto a ponto entre duas partes, além dos altos custos e de limitações técnicas. Como os fótons se perdem ao atravessar as 20 Pictures of the future – Primavera 2009 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:19 AM Page 53 | Entrevista linhas de fibra óptica, o alcance do sistema também estava limitado a apenas alguns quilômetros. O que estava faltando era uma autoridade superordenadora que passasse o código por diversas conexões e controles ponto a ponto para dispositivos de criptografia quântica ligados a uma rede. Em outubro de 2008, parceiros em um projeto da União Europeia conhecido como SECOQC (Comunicação Segura baseada em Criptografia Quântica) apresentaram a primeira de tais redes em uma conferência em Viena. Consistindo de sete participantes, a rede consegue passar a chave quântica de nó a nó e ela pode ser expandida para incluir qualquer número de conexões. Entre os parceiros do projeto estavam a Universidade de Viena e a Siemens IT Solutions and Services da Áustria, esta última fornecendo a infraestrutura da rede. O projeto foi gerido pelos Centros Austríacos de Pesquisa (ARC). Pares emaranhados. A rede criptográfica do projeto utilizou dispositivos disponíveis comercialmente, cujo funcionamento está baseado em diferentes tecnologias de criptografia quântica. Sua eficácia, no entanto, é limitada. Os dispositivos que utilizam trocas de fase de fótons como uma propriedade quântica, por exemplo, são susceptíveis a mensurações imprecisas. É por isso que contou pela primeira vez com um sistema de geração de fótons emaranhados, que foram desenvolvidos por Anton Zeilinger, professor da Universidade de Viena, considerado um pioneiro dos novos fenômenos quânticos (veja entrevista na pág. 22). Zeilinger causou sensação quando “fez passar” propriedades específicas de um fóton para outro, na década de 1990. Em sua abordagem de criptografia, ele usa a “ação amedrontadora à distância” que ocorre entre partículas gêmeas, e que sua equipe gerou Como surgiu o projeto SECOQC? Monyk: Nosso objetivo era liberar a criptografia quântica de seu isolamento acadêmico e tomar medidas decisivas para sua aplicação real. Embora já existam soluções comerciais, elas só são adequadas para conexões ponto a ponto. Nosso criptochip, porém, possibilita a criação de redes com muitos participantes em grandes distâncias. Seu criptochip está pronto para o mercado? Monyk: Sim, e podemos oferecê-lo imediatamente a € 100.000 por unidade. O sistema ainda é muito caro, pois é feito à mão e tem de ser calibrado em um processo meticuloso. Precisamos tornar o hardware mais compacto Criptografia quântica acessível Christian Monyk, 43, dos Centros Austríacos de Pesquisa (ARC), é responsável pelo projeto SECOQC. Seus parceiros são a Universidade Técnica de Graz e a Siemens. Nesta entrevista, Monyk fala sobre as aplicações da criptografia quântica. em um cristal mediante uso de um laser, antes de enviar as partículas por duas linhas de fibra óptica. Sua direção de oscilação, conhecida como “polarização”, é inicialmente incerta. Somente quando um fóton é mensurado que ele possui uma polarização específica. Neste ponto, a unidade de informações, o bit, assume o valor de zero ou um. Como se fosse algo telepático, o segundo fóton registra isso e assume exata- e num produto fácil de ser fabricado com custos abaixo de €10.000. Quais serão os seus clientes? Monyk: O setor financeiro demonstrou grande interesse; os bancos poderiam usar o sistema para dar segurança à transmissão de dados entre as agências e a matriz. Agências públicas, hospitais, a polícia e os militares também estão interessados. E o consumidor médio? Monyk: A certa altura, ele irá gerar interesse entre as pessoas físicas, quando as residências tiverem conexões de fibra óptica. É fácil imaginar a inserção do dispositivo com USB de criptografia quântica em um computador, independente de sua potência. Entrevista a Bernd Müller mente o mesmo valor. Caso um hacker tente escutar em qualquer uma das linhas de fibra de vidro, o transmissor e o receptor (designados como “Alice” e “Bob” pelos criptógrafos) notam por meio da comparação de suas mensurações. O dispositivo criptográfico cria então repetidamente novas chaves até que o hacker (“Eva”) desiste e sai da linha. A comparação dos dados de mensuração Pictures of the future – Primavera 2009 21 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:19 AM Page 54 Vigias digitais | Criptografia quântica pode ocorrer em linhas não seguras, como internet e linha telefônica, e até a transmissão dos dados codificados, usando a chave quântica, possibilita que, mesmo sendo interceptados, não forneçam a quem “escuta” clandestinamente nenhuma informação valiosa. A equipe de Zeilinger provou isso em 2004, quando transferiu € 3.000 do Banco da Áustria para a Prefeitura de Viena, a uma distância de 1,5 quilômetro. O projeto SECOQC simplifica esse efeito físico, que antes demandava muitos e complexos equipamentos, em um sistema que cabe no gabinete de um PC. Este contém os componentes ópticos para gerar os fótons utilizando laser, os detectores que determinam a direção da polarização e um criptochip que utiliza medições da | Entrevista grande volume de dados por um longo período. A mudança frequente das chaves aumenta a segurança. De maneira ideal, a máquina de criptografar deve gerar uma nova chave do mesmo comprimento para cada pacote de dados de 128 bits, porque é impossível romper esse “acolchoado de uma só vez” – mesmo se uma das chaves do código for quebrada, os hackers só conseguiriam um pedacinho dos dados e levariam meses para quebrar cada chave. O criptochip da ARC leva a criptografia a uma dimensão nova nesse sentido. Ele gera uma nova chave quântica cinco a dez vezes por segundo e cada chave pode ser do comprimento de 256 ou 512 bits. Então, após enviar essas chaves, ele simplesmente destrói o registro dela. “Também Computador O sistema SECOQC muda suas chaves quânticas diversas vezes por segundo. Cada chave chega a ter o comprimento de 512 bits. luz para criar continuamente novas chaves e trocá-las por meio da linha de fibra óptica. O mesmo gabinete também contém o computador que utiliza as chaves quânticas para codificar os dados reais com algoritmos criptográficos. Os dados então correm no formato criptografado pela internet a uma velocidade de vários gigabits por segundo. As chaves têm geralmente o comprimento de 128 bits. “É suficientemente seguro e factível com recursos limitados”, diz Johannes Wolkerstorfer, da Universidade de Tecnologia de Graz, que colabora com a ARC e com a Siemens no desenvolvimento do hardware e no software da máquina criptográfica – uma interface fácil de usar –, como parte do projeto “Criptografia Quântica no Chip”. O comprimento de 128 bits corresponde a 1038 diferentes possibilidades que um hacker teria para ultrapassá-la, o mesmo que procurar um átomo específico entre dez bilhões de pessoas. Chaves Quânticas. Ainda assim, mesmo a criptografia a 128 bits pode ocasionalmente ser quebrada com a ajuda de análise estatística dos dados criptografados. É por isso que jamais deve ser usada uma mesma chave para criptografar 22 Pictures of the future – Primavera 2009 poderíamos trocar as chaves com mais frequência, empilhando-as”, diz Christian Monyk, da ARC, que coordena o projeto SECOQC. “Participamos desse projeto para adquirir novos conhecimentos sobre as aplicações da criptografia quântica, diz Robert Jonas, chefe de Security Solutions and Services na Siemens IT Solutions and Services. Ele salienta que a Siemens se vê como fornecedora de sistemas que assessora os clientes e cria pacotes de soluções englobando hardware, software e infraestrutura. O desenvolvimento do hardware nunca fez parte dos objetivos da empresa. Assim, a Siemens está interessada não só no hardware desenvolvido na ARC, pelo grupo de pesquisa de Anton Zeilinger e pela Universidade de Tecnologia de Graz; outros componentes que já estão comercialmente disponíveis, inclusive os da idQantique, de Genebra, e MagiQ, de Nova York, também são adequados para essas aplicações. Portanto, Jonas está otimista. “Assim que o sistema atrair maior interesse, e clientes como bancos e organizações militares começarem a pedi-los, o custo dos componentes do hardware cairá e nossas soluções comerciais se tornarão mais atraentes. Estamos prontos para esse dia”, diz Jonas. Bernd Müller Anton Zeilinger, 63, é professor da Universidade de Viena e do Instituto para Óptica Quântica e Informações Quânticas da Academia de Ciências da Áustria. Considerado pioneiro da física quântica, Zeilinger eletrizou a imaginação dos fãs de ficção científica em 1990 ao teletransportar fótons. Ele também participou de conversas filosóficas com o Dalai Lama sobre física quântica e a natureza do tempo e do espaço. Entre outras coisas, seu trabalho atual foca nas aplicações de sistemas de criptografia de dados e geradores de números aleatórios. PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:19 AM Page 55 A física quântica já tem cem anos, no entanto parece que suas aplicações práticas somente agora estão se tornando realidade. Zeilinger: Não é verdade, pois toda a tecnologia de semicondutores está baseada na física quântica e os lasers também seriam impensáveis sem ela. gêmeos na velocidade de dez milhões por segundo. Usamos cerca de doze chaves por segundo no projeto com ARC e isso representa uma dimensão completamente nova em comparação com os procedimentos convencionais nos quais as chaves são trocadas em uma linha sem segurança e possivelmente usadas por anos a fio. Determinados fenômenos tratados em nosso trabalho, como o emaranhamento dos fótons, não eram nem estudados ou aplicados há alguns anos. Qual o motivo? Zeilinger: É verdade que os estudos a respeito do emaranhamento dos fótons não Há aplicações para a física quântica que estejam prontas para o mercado? Zeilinger: Sim, a geração de números aleatórios, por exemplo, que são necessários para sistemas de jogos online, determina tipos de algoritmos de otimização e para cálculo de integrais em proble- quântico em seu telefone celular começaram a surgir até os anos 1970, embora Erwin Schrödinger tenha descrito o fenômeno já em 1935, época em que Albert Einstein estava examinando a “ação arrepiante à distância”, como ele se referia a ela. O fenômeno ficou esquecido por várias décadas porque os cientistas consideraram-no uma questão para os filósofos e não para os físicos. Não fui levado a sério quando comecei a trabalhar na questão com alguns colegas nos anos 1970 e só 30 pessoas estiveram presentes à primeira conferência realizada sobre o tema. Hoje, há uma conferência a cada mês com a participação de centenas de pesquisadores. Há um renascimento do interesse pelas questões fundamentais da física quântica e diversas aplicações inteiramente novas estão surgindo desde 1990, inclusive a criptografia quântica. Quais são os benefícios de usar a física quântica para ajudar a criptografar dados? Zeilinger: Torna a criptografia totalmente segura, porque você percebe imediatamente se há alguém tentando espionar na linha de fibra óptica que é utilizada para trocas de chaves. Isto não é um tipo de truque tecnológico; é um aspecto fundamental da física. No projeto que trabalhamos nos Centros de Pesquisa da Áustria, no qual a Siemens também está envolvida, usávamos fótons emaranhados para transmitir as chaves. Um fóton sempre sabe o estado do outro, portanto se um for mensurado por um hacker podemos imediatamente ver isso na leitura da medição para o seu gêmeo. Agora podemos gerar fótons mas matemáticos. Hoje, tais números aleatórios são gerados por computadores estabelecendo-se um valor de partida para o programa e deixando que ele funcione por um determinado período. Se as circunstâncias forem as mesmas, no entanto, você acabará com os mesmos números e é por isso que estes são chamados de números “pseudo-randômicos”. Alguém que trabalhe em um centro de informática e entenda como um determinado processo funciona tem como usar o conhecimento para acertar em cheio em sites de jogos online. Por outro lado, nós geramos verdadeiros números aleatórios atirando fótons em um espelho semitransparente e medindo quando as partículas de luz passam através ou são refletidas. Este é um processo totalmente aleatório que não pode ser previsto. Desenvolvemos um gerador pronto para o mercado que cria bilhões de números aleatórios por segundo e já estamos conversando com empresas que querem fabricá-lo e vendê-lo. Contudo, em geral, a física quântica está atualmente no mesmo estágio de aplicação que vimos com os semicondutores e lasers quando ainda estavam na sua infância. Por isso digo que, inicialmente, os inventores não perceberam quantas coisas diferentes poderiam ser feitas com suas invenções. Os cientistas, porém, parecem ter uma ideia muito firme do que pode ser alcançado com computadores quânticos, embora entendam que levará muito tempo para fazê-lo. Zeilinger: Há uma grande corrida em andamento com os computadores quânticos. Quando um computador quântico for de fato construído e funcionar adequadamente, ele estará sozinho em uma categoria, verdadeiramente sem precedentes. O recurso excepcional desse computador é que ele poderá processar diversas operações de maneira simultânea e não em sucessão, porque explorará a sobreposição mecânica quântica dos átomos. O que pode ser feito com tamanho poder da computação? Zeilinger: Uma das aplicações seria o algoritmo de Shore para desdobramento dos grandes números primos, o que é um componente necessário do processo de quebrar um código criptografado. Isto seria a contrapartida da criptografia quântica – porém, seria útil para quebrar os códigos convencionais de hoje, não aqueles gerados pela criptografia quântica. Outra aplicação envolveria a pesquisa de nome em uma base de dados não classificada, por exemplo. Quando você usa algoritmos convencionais, você eventualmente terá de pesquisar a base de dados toda, se não tiver sorte, o que significaria um milhão de etapas de computação para um milhão de entradas. Um computador quântico com apenas oito bits quânticos, em comparação, tem como fazer o trabalho em menos de quatro mil etapas. Alguns de seus colegas duvidam de que algum dia chegará a existir um computador quântico. Eles dizem que os fenômenos no mundo quântico simplesmente não podem ser transferidos para o mundo macroscópico. Zeilinger: Tenho certeza absoluta de que chegaremos a ver os computadores quânticos. Não há obstáculos inerentes à física que impediriam isso. De acordo com a Lei de Moore, o número de transistores que pode ser colocado em um chip dobra a cada 18 meses. Portanto, você também poderia dizer que o número de elétrons necessários para armazenar um bit é reduzido à metade a cada 18 meses. Se você projetar isso, saberá que em vinte anos somente um átomo será necessário para armazenar um bit – e com isso teremos o computador quântico. Temos muito trabalho a fazer, é claro, porque ainda não conseguimos controlar os complexos sistemas quânticos. No entanto, é somente uma questão de tempo até que cheguemos lá e algum dia cada telefone celular conterá este computador quântico. Entrevista a Bernd Müller Pictures of the future – Primavera 2009 23 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 Vigias digitais | Detecção de bactérias 10:19 AM Page 56 O sistema MicroScan da Siemens (abaixo) identifica bactérias e a sua suscetibilidade a antibióticos. As pesquisas caminham rapidamente no desenvolvimento da tecnologia laboratórioem-um-chip (à direita), que vai acelerar os diagnósticos. Fechando o cerco em torno dos inimigos mortais Cada vez mais bactérias desenvolvem resistência a antibióticos – uma complicação grave para pacientes internados em estado crítico. A Siemens desenvolve processos que identificam com rapidez bactérias altamente resistentes. Os pesquisadores também estão desenvolvendo e testando novos métodos promissores, baseados na genética e em alvos protéicos. 24 Pictures of the future – Primavera 2009 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 Q uando Alexander Fleming descobriu a penicilina em 1928, ele alcançou um marco na medicina. O antibiótico deu à humanidade sua primeira arma eficaz no combate a patógenos bacterianos. Infelizmente, este sucesso não durou muito. Em 1961, apareceu a primeira bactéria resistente a todos os princípios ativos do grupo da penicilina: Staphylococcus aureus (S. aureus) ou abreviadamente MRSA, resistente à meticilina. Desde então, a MRSA se espalhou rapidamente, em especial dentro de hospitais. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, a parcela de MRSA nas infecções totais em unidades de terapia intensiva subiu nos EUA de 2%, em 1974, para 64%, em 2004. Das 292 mil infecções estimadas, causadas anualmente em hospitais por S. aureus, cerca de 126.000 ocorrem por causa da MRSA. Dessas, 19.000 são fatais. Como essas bactérias se multiplicam exponencialmente, antibióticos eficazes têm de ser administrados o mais rápido possível. Por exemplo, se houver suspeita de que o paciente está com uma infecção, devido à baixa resistência de seu organismo, a equipe do hospital tira uma amostra que é analisada no laboratório de diagnósticos para determinar que antibióticos serão mais eficazes para combatê-la e qual a sua concentração. Tradicionalmente, os laboratórios de microbiologia fazem uma série de procedimentos bioquímicos de identificação juntamente com testes de difusão de disco para determinar o perfil de susceptibilidade antimicrobiana das bac- 10:19 AM Page 57 térias. No entanto, esses procedimentos demandam muito pessoal e esta é a razão do sucesso dos novos processos automáticos para identificar microorganismos e determinar sua susceptibilidade aos tratamentos. Os sistemas MicroScan da Siemens combinam essas metodologias para testes de identificação isolada e susceptibilidade antimicrobiana em um painel de testes; utilizam testes de susceptibilidade baseados em crescimento direto. Os painéis de teste têm diversos “poços” para conter os meios de cultura, produtos bioquímicos e antibióticos em várias concentrações. Uma vez preparados anteriormente com uma cultura isolada do organismo, em uma determinada concentração, os painéis são colocados dentro de um instrumento MicroScan Walk Away para processamento. Ali, o isolado bacteriano é incubado com identificação de substratos e outros materiais. O software do sistema interpreta as concentrações bacterianas medidas e analisa o teste para detectar quaisquer reações atípicas ou desconhecidas. Os resultados são então analisados por um médico para verificar se a terapia atual do paciente é apropriada ou não, possibilitando a administração imediata de antibióticos eficazes de acordo com o teste. “Oferecemos uma gama de placas diferentes, incluindo diversas para uso na identificação rápida do isolado, com os principais resultados antimicrobianos, no prazo de apenas quatro horas e meia”, comenta Laura Jackson, gerente de Produtos Globais na MicroScan. “O período de incubação para susceptibilidade pode ser automaticamente prorrogado para 16 horas quando houver necessidade de informações sobre resistência absolutamente precisas. Neste caso, o sistema oferece o mesmo grau de precisão que os testes manuais. Este grau de precisão foi comprovado por comparações diretas de isolados clínicos, como o S. aureus.” Até 1997, os médicos que se viam frente a casos de infecção por MRSA contavam com a vancomicina. Todavia, naquele ano, a primeira cepa de S. aureus com susceptibilidade reduzida a este poderoso antibiótico apareceu em Tóquio. O sistema MicroScan é o primeiro totalmente automático a ser aprovado pela FDA dos EUA que pode identificar o S. aureus (VRSA) resistente a vancomicina. Quebrando a resistência bacteriana. Para assegurar que os patógenos que sofreram mutação possam ser rápida e confiavelmente reconhecidos e diagnosticados, os cientistas da Siemens Corporate Research (SCR) em Princeton, Nova Jersey, agora focam sua pesquisa em novos métodos de identificação, que têm como alvo o material genético das bactérias e proteínas. Juntos, Gayle Wittenberg, seus colegas na SCR e o departamento de Power and Sensor Systems da Siemens Corporate Technology (CT), em Erlangen na Alemanha, trabalham para desenvolver esse processo. Diferente do sistema MicroScan, que usa diretamente uma amostra para determinar quais concentrações de antibiótico são eficazes, a abordagem SCR conta com um método rápido para analisar material genético. Feito isto, os pesquisadores buscam um antibiótico eficaz, usando os dados genéticos armazenados em computador. “A vantagem de nossa abordagem é que não só podemos desenvolver testes rápidos, fornecendo o resultado em uma hora, mas também desenvolvemos a estrutura que nos permitirá criar rapidamente novos testes de diagnóstico, com base na sequência genética do patógeno”, explica Wittenberg. O sistema ainda está em desenvolvimento. Wittenberg quer realizar testes rápidos com a tecnologia de laboratório em um chip. Com essa tecnologia, uma gota de saliva ou sangue, por exemplo, é colocada em uma placa móvel de exame equipada com um laboratório microscópico de diagnósticos. Aqui, as bactérias são automaticamente abertas e o material genético decifrado utiliza o método de reação em cadeia de polimerase (PCR). Este método multiplica o DNA in vitro (fora de um organismo vivo). Por fim, os componentes individuais do DNA são detectados utilizando um biochip especial. Como seu design facilitará o uso e funcionamento, o sistema de laboratório em um chip não é destinado à utilização em laboratórios, mas nas salas de tratamento. A tecnologia permitirá que os médicos e a enfermagem retirem sangue do paciente, façam a análise e recebam o resultado de um computador associado em minutos – sem a necessidade de laboratórios externos. Além de ser adequado para hospitais, o sistema também é uma solução para aplicações na indústria de alimentos, onde os produtos são testados para contaminação microbiana. Graças à velocidade da análise e a natureza móvel do laboratório em um chip, o sistema também poderá ser usado para chegar a áreas estéreis, como salas de cirurgia – ou mesmo para fornecer um alerta no início de epidemias e criar defesas contra o bioterrorismo. Wittenberg e sua equipe planejam o próximo passo: incluir a identificação das bactérias sem basear-se somente em seu material genético, mas também em suas proteínas. No entanto, eles ainda têm de desenvolver as moléculas marcadoras que serão necessárias nesse processo. O sucesso aqui permitirá a identificação mais rápida e simples das bactérias. “O foco nas proteínas além dos genes nos ajudará a identificar os biomarcadores ligados diretamente ao mecanismo de resistência aos fármacos. Eles deverão ser menos sensíveis à evolução constante dos organismos”, explica Wittenberg. Michael Lang Pictures of the future – Primavera 2009 25 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:19 AM Page 58 Vigias digitais | Detectores de fumaça Seja qual for a fonte de perigo – solda, fogo em brasa ou em chamas (abaixo) – os detectores da Siemens sabem quando soar o alarme. Markus Späni monitora sinais no Laboratório de Incêndios (à direita). Onde há fumaça, há... Detectores de fumaça que distinguem automaticamente alarmes falsos de incêndios perigosos, câmeras que transmitem imagens do incêndio em tempo real e extintores que apagam as chamas em segundos – no Laboratório de Incêndios da Siemens Building Technologies, em Zug, na Suíça, são demonstradas as mais recentes inovações no combate a incêndios. 26 Pictures of the future – Primavera 2009 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd P 10/27/09 edaços de lenha em uma placa de metal quente começam a queimar, primeiro em tênue fumaça que vai se tornando cada vez mais volumosa. Depois de três ou quatro minutos, uma coluna de fumaça branca se forma acima dos pedaços de madeira em brasa. No entanto, o ar no restante da sala está claro – e é assim, ardendo sem chama, que os incêndios devastadores e perigosos geralmente começam. A cena reproduz o momento crucial, em um teste com oito tipos diferentes de detectores de fumaça instalados no teto da sala. Quando cada um deles fará soar o alarme? “A maioria dos grandes incêndios começa assim”, diz Markus Späni, responsável pelo Laboratório de Incêndios da Siemens Building Technologies (BT), em Zug, na Suíça. “Esses incêndios inicialmente produzem pouca fumaça. Além disso, as temperaturas também não sobem muito”. No laboratório, os sistemas de detecção de incêndio são desenvolvidos, testados e demonstrados pelos pesquisadores e engenheiros da BT. Enquanto os pedaços de lenha continuam a 10:19 AM Page 59 soltar fumaça em uma placa aquecida a 500ºC, as curvas mostradas no monitor revelam quais dos detectores reconheceram o perigo. Diversos detectores ópticos da Siemens já soaram os alarmes. Porém, um detector de fumaça por ionização – durante muitos anos o mais utilizado – ainda não notou nada. Os detectores de ionização usam uma fonte dispersa para caminhos precisos. Se não houver fumaça, a luz baterá nas paredes do labirinto, onde será completamente absorvida, mas se os raios de luz encontrarem partículas de fumaça, a luz será difundida e alguns raios baterão em células fotoelétricas integradas na unidade. O fogo em brasa produz fumaça de tom claro contendo partículas grandes que podem ser mais Diferente dos detectores de ionização, os dispositivos ópticos detectam o fogo incandescente já no seu início. fraca de radiação para ionizar o ar, tornando-o condutivo. A condutividade do ar diminui se os íons colidirem com partículas de fumaça, fazendo com que o detector soe um alarme se medir a corrente mais baixa. “Este sistema funciona muito bem quando há incêndio com chamas, mas quando uma substância está incandescendo, o número de partículas de fumaça é tão baixo que o detector não as notará até algum bem detectadas por um sistema de dispersador dianteiro do que traseiro. O oposto exato é verdade em incêndios com chama, que geram partículas menores e escuras. Neste caso, o dispersador traseiro emite um sinal mais forte do que o dianteiro. Um processador no detector analisa todos esses dados, calcula o tipo de incêndio que mais provavelmente está ocorrendo e então soa o alarme correspondente. tempo depois que uma unidade óptica o fizer”, explica Späni. Por outro lado, os sinais produzidos por detectores ópticos, e que claramente aparecem no monitor, indicam o perigo trazido pela fumaça tênue bem no estágio inicial. Os detectores utilizados no sistema de proteção contra incêndio Sinteso S-Line da Siemens são especialmente rápidos e confiáveis, por serem equipados com dois sensores ópticos, em vez de um, como anteriormente, e por terem dois sensores de temperatura. “Não existem detectores como esses no mercado atual”, diz Späni. As unidades funcionam de acordo com o princípio de dispersadores ópticos que vão para frente e para trás. Dentro do receptáculo de cada unidade, há um labirinto com muitas paredes de plástico. O labirinto guia a luz Reconhecendo a fumaça inofensiva. A capacidade de os detectores distinguirem entre os tipos de fumaça tornou-se possível graças à tecnologia da análise avançada do sinal (ASA), desenvolvida pela Siemens. O software ASA faz com que o processador no detector converta os sinais registrados pela célula fotoelétrica e pelos sensores de temperatura em valores matemáticos. Algoritmos especialmente desenvolvidos comparam os valores do sinal com níveis de valores predefinidos e a análise resultante permite que o sistema diferencie entre um incêndio real, para o qual o alarme precisa ser disparado, o vapor inofensivo de cocção e até a fumaça da solda. “Cada detector está equipado com tecnologia ASA e pode ser calibrado com precisão para o ambiente onde será utilizado”, explica Späni. Um bom exemplo da importância de tal recur- Pictures of the future – Primavera 2009 27 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:19 AM Page 60 Vigias digitais | Detectores de fumaça so é oferecido pelas aplicações industriais, onde fumaça ou vapor inofensivo se forma com frequência e geralmente faz com que os detectores convencionais disparem o alarme. “Não é o caso com detectores com múltiplos sensores equipados com o software ASA”, diz Späni. “Eles reconhecem que a fumaça da solda não pode ser incêndio devido aos intervalos típicos do processo de solda, significando que a fumaça resultante não se forma continuamente”. Para assegurar essa funcionalidade, os conjuntos de parâmetros no detector precisam ser 5 3 1 Duas fontes de luz infravermelha (dispersores frontal e traseiro) 2 Na ausência de fumaça, a luz será totalmente absorvida pelas paredes. As partículas de fumaça, por sua vez, dispersam os raios de luz que batem na célula fotoelétrica. 3 O posicionamento das fontes de luz e a dispersão frontal ou traseira ajudam o sistema a distinguir entre partículas de fumaça claras ou escuras. 4 Um labirinto patenteado preciso e sofisticado direciona a luz para caminhos especiais a fim de evitar que soem alarmes falsos devido a reflexões coincidentes. 5 Dois sensores de medição de temperatura 6 Sensor para medição de concentrações de monóxido de carbono. 1 6 4 De fato, tais instalações não podem mais funcionar com segurança sem essa tecnologia de ponta. Em decorrência disso, novos detectores de fumaça têm de ser integrados nos sistemas de segurança de alto desempenho. Com essa finalidade, a Siemens desenvolveu seus sistemas centrais de detecção de incêndio, que são projetados modularmente e equipados com interfaces padrão. Esses sistemas podem ser expandidos a qualquer tempo para acomodar novas alas de prédios ou para modernização de equipamentos antigos. Os sistemas monitoram de maneira indepen- 2 1 5 Os detectores Sinteso distinguem entre luz e fogo e medem as concentrações de CO. não estavam alinhadas umas com as outras. Isto significa que as câmeras não foram programadas para registrar automaticamente imagens da área onde o alarme soou. Com isto em mente, a Siemens desenvolveu um sistema combinado que automaticamente transmite imagens ao vivo da área afetada por um incêndio, para que sejam analisadas imediatamente ou mais tarde. Elas fornecem informações valiosas sobre as causas do incêndio, bem como a situação em tempo real que os bombeiros e pessoal de resgate confrontaram no local. O Sinteso pode ser adaptado às necessidades específicas do local. alinhados com precisão com os tipos de incêndio esperados em determinada instalação, bem como os dados sobre as atividades que poderão disparar um alarme falso. Se os sinais medidos do sensor não permitirem uma conclusão definitiva, mesmo assim o sistema comunicará ao centro de controle que há possibilidade de uma situação perigosa estar em processo de desenvolvimento. dente todos os dispositivos de detecção e avaliam seus dados. Diversos sistemas podem ser ligados em rede e operados localmente ou por meio de um centro de controle. Os sistemas também têm um recurso exclusivo de backup de emergência que, mesmo no caso de total falha do processador principal, possibilita que eles registrem e disparem quaisquer alarmes iniciados por um detector, notifiquem o corpo de Células eletroquímicas permitem o registro de monóxido de carbono tóxico, mesmo quando não há cheiro. Arranha-céus mais seguros. Os detectores com vários sensores podem fazer até mais, pois estão equipados com células eletroquímicas que possibilitam registrar a presença de monóxido de carbono (CO), que é invisível e sem cheiro, portanto especialmente perigoso. Respirar o CO apenas algumas vezes pode ser suficiente para matar. Este tipo de envenenamento é a causa número um de mortes em incêndios. Graças aos detectores com multissensores de CO e outros recursos técnicos, a Siemens está passando para uma nova dimensão em proteção contra incêndio para hotéis e shopping centers. 28 Pictures of the future – Primavera 2009 bombeiros e tomem medidas para garantir a evacuação do prédio. Isso possibilita a utilização do Sinteso até em grandes áreas, como aeroportos e shopping centers – por exemplo, o Westfield, de Londres, o maior shopping center da Europa, que é monitorado por um sistema Sinteso. O projeto modular do Sinteso possibilita que os centros de controle sejam continuamente atualizados com a mais recente tecnologia, incluindo uma combinação de sistemas de vídeo e detecção de incêndios – mas até recentemente as funções de sistema de vigilância por vídeo e detecção de incêndio Mistura de nitrogênio e água. Os incêndios são geralmente apagados por sistemas de sprinklers. A ideia é resfriar objetos inflamáveis e prevenir que o fogo se alastre rapidamente. “No entanto, esta técnica não é adequada para instalações como arquivos, museus e bibliotecas devido aos estragos que a água pode causar, destruindo seus valiosos documentos, livros e pinturas”, destaca Thomas Mann, responsável pelo Centro de Competência de Extintores na Siemens BT em Zug. Para este locais, um método alternativo é abafar o fogo enchendo a área afetada com um gás não inflamável que retira o oxigênio da sala. Quando o componente de oxigênio no ar cai abaixo de um determinado nível, as chamas automaticamente se apagam. Vários sistemas de extinção de incêndio baseados em gases naturais funcionam dessa maneira. A Siemens propôs uma solução que combina gás e água e ao mesmo tempo mantém cada um deles em um nível mínimo. E graças a seus componentes, o sistema respeita o meio ambiente e é seguro para seres humanos. Conhecido como sistema de extinção Sinorix H2O Gas, ele usa nitrogênio para abaixar as concentrações de oxigênio enquanto emite uma névoa que reduz a temperatura ambiente e abaixa o ponto de luz PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd para os objetos no recinto. Os dois agentes de extinção fluem através da mesma rede de tubos e bicos, por meio da qual o nitrogênio lança a água de uma forma que assegura fluxo consistente e moderado. É necessária somente uma pequena quantidade de água para resfriar significativamente os dispositivos ou superfícies superaquecidos, oferecendo assim mais proteção além do efeito de retardante de chama. Além disso, a névoa reduz o perigo de nova ignição. Para ser alcançada a maior eficácia possível, a mistura de nitrogênio e água precisa ser ali- 10/27/09 10:19 AM Page 61 Curtas Os usuários da Internet podem tomar algu- PESSOAS: mas medidas simples para tornar mais difícil a Criptografia quântica: vida dos contraventores online com a utiliza- Robert Jonas, PSE ção da criptografia. A Siemens e seus par- [email protected] ceiros recentemente demonstraram em um Detecção de bactérias: projeto da União Europeia que a criptografia Laura Jackson, Setor de Healthcare quântica inviolável já está pronta para ser [email protected] lançada no Mercado (Págs 20 a 26 ). Gayle Wittenberg, SCR [email protected] No campo da tecnologia médica, a confia- Detectores de fumaça: bilidade e a disponibilidade são dois dos fa- Markus Späni, Industry tores mais importantes – por exemplo, [email protected] quando se trata de sistemas para identificar Dr. Thomas Mann, Industry rapidamente bactérias altamente resistentes. [email protected] Tais sistemas podem fornecer informações Prof. Anton Zeilinger importantes sobre a eficácia dos antibióticos [email protected] (Págs. 24 e 25). A Siemens também se especializou em soluções de segurança patrimonial que nada Livros históricos permaneceram secos depois que o tem a ver com a Internet. Os exemplos in- Sinorix apagou um incêndio. cluem detectores de fumaça que automatica- nhada com precisão às propriedades específicas e aos riscos de incêndio esperados na área em questão. Para isso, a Siemens desenvolveu um programa que calcula as dimensões necessárias para os tubos e esguichos para áreas diversas de aplicação, bem como as distâncias envolvidas e o tempo que levará para se espalhar pelas áreas afetadas. Tanto o dispositivo de extinguir quanto o programa de cálculo foram avaliados pela Associação Alemã de Seguros de Imóveis (VdS) como o único sistema combinado de água e gás para apagar incêndios em recintos internos. O Sinorix H2O Gas também foi premiado por sua inovação na Feira de Segurança de 2008, em Essen, na Alemanha. Essas excelentes referências desempenharam um papel importante para convencer as autoridades de segurança da Real Biblioteca da Dinamarca, em Copenhagen, a escolherem o Sinorix para suas necessidades de proteção contra incêndios e a proteção de seus valiosos livros e documentos. “Eles trouxeram alguns livros históricos e valiosos com eles, demonstramos como o procedimento Sinorix para apagar incêndios não faria nenhum dano permanente a eles”, relata Mann. Na verdade, a umidade dos livros foi tão insignificante que eles nem tiveram de ser postos para secar. Katrin Nikolaus mesmo do inodoro e tóxico monóxido de car- mente reconhecem alarmes falsos até bono (Págs. 26 a 29). Pictures of the future – Primavera 2009 29 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:20 AM Page 62 Pictures of the Future | Crise econômica e oportunidades Motores do crescimento de À medida que os tempos ficam mais difíceis, cresce a tentação para cortar os custos e relaxar as normas de combate ao aquecimento global. Porém, os investimentos em mais sustentabilidade beneficiam não só a proteção ambiental como também a economia. S ão tempos difíceis para o clima. A crise econômica domina a agenda política e interfere nas discussões dos gases de efeito estufa e eficiência energética. Na Alemanha, os jornais trazem manchetes como “Proteção ambiental parada” e “Proteção ambiental em risco”. Alguns políticos concordam nesse aspecto e defendem a suspensão de programas de proteção climática já definidos, pelo menos até que a economia se recupere. A proteção ambiental é um luxo para tempos melhores? “Não”, diz Ottmar Edenhofer, economista-chefe do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Ambiental (PIK), em entrevista à Pictures of the Future. “Qualquer um que a advogue desta forma não entende os fundamentos de economia”, diz. A recessão global exige a intervenção governamental e isso pode ser direcionado em parte para a proteção climática. 30 Pictures of the future – Primavera 2009 “No curto prazo, os programas de proteção climática estimulam a economia. No longo prazo, eles promovem a disseminação de novas tecnologias”, completa. Esta visão é compartilhada por Nobuo Tanaka, que lidera a Agência Internacional de Energia (IEA), em Paris. “Se os governos estão gastando dinheiro em pacotes de estímulo à economia, por que não promover as energias renováveis?”, ele perguntou no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Segundo ele, tais investimentos dão apoio à economia no curto prazo e são também sustentáveis. No entanto, no momento, os preços em queda das matérias-primas e os direitos de emissão estão reduzindo a pressão para descobrir alternativas sustentáveis para a oferta de energia. “Os preços baixos incentivam o desperdício”, disse o especialista em meio ambiente Ernst Ulrich von Weizsäcker à Pictures of the Future. Ele acredita que alguns países estão abordando o assunto com menos senso de urgência. “No entanto, os chineses estão atentos e tornaram a eficiência energética um objetivo nacional”. Nos EUA também o novo governo voltou a dar atenção às questões ambientais. O presidente Barack Obama quer se tornar um líder global na redução de gases de efeito estufa. Seu plano “Nova Energia para a América” pretende colocar um milhão de carros híbridos nas vias dos EUA até 2015 e assegurar que o país obtenha um quarto de sua energia de fontes renováveis até 2025. Cerca de 10% do pacote de estímulo do governo dos EUA – em torno de US$ 83 bilhões – serão investidos na expansão e modernização da infraestrutura energética do país. Além disso, um sistema nacional de troca de emissões ajudará a cortar os gases de efeito PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 Investimentos em tecnologias limpas – da geração e transmissão de energia eficiente e renovável a 10:20 AM Page 63 | Entrevista edifícios verdes e captura e sequestro de CO2 – podem ajudar a superar a crise econômica. Enfrentamos duas crises ao mesmo tempo: a econômica e a climática. É apenas coincidência ou o senhor vê um paralelo? Edenhofer: Definitivamente há um paralelo. Ambas são crises de sustentabilidade e esta pode ser formulada como um imperativo: aja de tal maneira que você não destrua as fundações do seu próprio negócio. amanhã estufa em 80% até 2050. Em termos de investimento privado, somente nos primeiros três trimestres de 2008 as empresas de capital de investimento americanas investiram US$ 4,3 bilhões em empresas de tecnologia limpa. E com investimentos nas áreas de energia renovável e eficiência energética projetados para alcançar US$150 bilhões nos próximos dez anos, pelo menos cinco milhões de empregos deverão ser criados nestas e em outras áreas. Tudo isso faz muito sentido na economia porque essas medidas reduzirão a dependência de importação de energia e redução dos custos associados em vários bilhões de dólares ao ano – medidas que pagarão dividendos sempre crescentes conforme a economia mundial torne a crescer e os preços de petróleo recomecem a subir. Christian Buck As pessoas foram muito gananciosas? Edenhofer: Talvez, mas o fator mais importante foi que o setor bancário mundial estava regulado de maneira inadequada, assim não havia como parar a ganância. A ênfase no valor para o acionista tornou os investidores focados nos resultados no curto prazo. Para os EUA, Por que a proteção climática não é opcional? Professor Ottmar Edenhofer, 47, é vicediretor e economista-chefe do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto do Clima e também professor de Economia da Mudança Climática na Universidade Técnica de Berlim. Desde setembro de 2008, tem sido um dos presidentes do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC). Nos próximos sete anos, liderará o Grupo de Trabalho III do IPCC, que trata das medidas para frear as mudanças climáticas. Edenhofer está especialmente interessado na influência das mudanças tecnológicas sobre os custos e estratégias de proteção ao clima e nos instrumentos políticos que são utilizados para moldar a proteção climática e a política energética. especialmente, houve ainda o problema de o Federal Reserve Bank, por meio de sua política de dinheiro barato, ter transferido a bolha do pontocom para a do crédito hipotecário. Tudo isso destruiu as fundações da economia. E, na crise climática, estamos destruindo alicerces de nossa existência. A miopia humana é a fonte de ambas as crises? Edenhofer: Acho que seria mais correto chamá-la de miopia institucional. O sistema não permite horizontes de longo prazo – esse é o ponto crucial. Cada gerente tem de satisfazer as demandas do mercado de capitais e de seus acionistas. A meu ver, é ingenuidade acreditar que o problema possa ser curado apelando apenas para o senso de ética das pessoas. Os que elaboram políticas querem uma nova estrutura para o mercado financeiro global. Quais regulamentos terão de ser estabelecidos para assegurar melhor tratamento do clima? Edenhofer: Precisamos de um limite máximo para as emissões globais e de um sistema de troca com dois pré-requisitos básicos. Primeiro, um acordo entre as nações em relação ao corte das emissões dos gases de efeito estufa para 50% dos níveis de 1990 até 2050. Assim, há uma probabilidade de 80% de que o aquecimento global seja limitado a 2ºC. A negociação das emissões limita o CO2 onde a prevenção é mais eficaz em termos de custo. Em segundo lugar, também necessitamos de um conceito sobre o que é justo. Temos de distribuir direitos Pictures of the future – Primavera 2009 31 PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:20 AM Page 64 Pictures of the Future | Crise econômica e oportunidades de emissão entre os países de maneira igualitária. Uma proposta justa foi feita nesse sentido. Até 2050, os direitos deveriam ser redistribuídos de tal maneira que todas as pessoas da Terra tivessem os mesmos direitos de emissão – por exemplo, duas toneladas por pessoa ao ano. Os países em desenvolvimento vão aceitar isso? Até agora, a poluição tem sido causada principalmente pelos países ricos – 19 toneladas por pessoa ao ano nos EUA e oito, na União Europeia. A China já está na faixa de duas ou três toneladas e a Índia chegou a 1,5 tonelada por pessoa. Edenhofer: Continuará existindo bastante conflito e desacordo sobre a alocação, porque os países em desenvolvimento também querem levar em conta as emissões históricas. O que é mais importante, no entanto, é que concordamos que temos somente uma quantidade limitada de capacidade na atmosfera para mais CO2 e ele tem de ser alocado de maneira razoavelmente justa. Depois disso, temos de atingir uma economia global livre de carbono. Se desenvolvermos as inovações necessárias para que isso aconteça, também podemos resolver o conflito da alocação de forma muito mais fácil. Isto significa que temos de começar a viver mais modestamente? Edenhofer: Somente se o crescimento econômico não puder ser separado das emissões. Para a separação ocorrer, no entanto, os mecanismos de preço terão de estabelecer os incentivos certos – e para isso foi criado o comércio de emissões. Nenhuma moderação nova, em outras palavras? Edenhofer: Ninguém deverá ser proibido de exercer mais moderação. Mas acho que a economia global tem como continuar a crescer a uma taxa de 2% a 3% ao ano, pois não há motivo para as economias serem dependentes do aumento de energia para crescerem. Nos últimos 150 anos, a produtividade no trabalho subiu mais rápido do que a energética. Agora, temos de reverter esse relacionamento. Que tipo de progresso tecnológico necessitamos para conseguir uma economia livre de CO2? Edenhofer: Mais eficiência energética, captura e armazenamento de CO2, promoção de energias renováveis, expansão moderada da energia nuclear e o desenvolvimento de usinas nucleares mais avançadas. 32 Pictures of the future – Primavera 2009 pectivas são boas. Isso poderia ser um sinal para a Índia, a China e outros. Temos de envolver as grandes economias emergentes porque elas têm como limitar as emissões de CO2 de maneira muito mais eficaz em termos de custo/benefício do que o Ocidente, onde a maioria das termelétricas já atingiu um alto padrão de eficiência. A usina de Yuhuan na China atingiu eficiência recorde usando turbinas Siemens. O senhor acha que podemos nos livrar da crise econômica com investimentos na proteção climática? Edenhofer: Podemos, sim. O importante é como impulsionamos a economia com investimentos que também fazem sentido no longo prazo. É por isso que precisamos de um sistema de comércio de emissões que envie sinal claro de preço para o CO2 – um sinal para todos os setores que produzem gases de efeito estufa; não só o setor de eletricidade e as indústrias que fazem uso intensivo da energia, mas, acima de tudo, prédios e veículos. Há muitas opções aqui que não custam nada e de fato geram receita mediante a economia de energia. O comércio das emissões está funcionando nas áreas em que foi estabelecido? Edenhofer: Não estamos em má forma nesse sentido. As emissões com certeza cairão no setor energético. Mas há um problema de sustentabilidade aqui também. Os investidores precisam de um sinal de que as emissões têm de continuar a cair após 2020. A meu ver, esta é a responsabilidade da conferência de Copenhagen em dezembro de 2009. A discussão da proteção climática envolve conceitos similares àqueles do setor financeiro, como certificados por exemplo. Esses sistemas são similares na estrutura? Edenhofer: Sim. A certa altura, também precisaremos de um banco central para a proteção climática. Essa instituição regulará o mercado dos certificados de CO2 e evitará bolhas especulativas, similar ao que o banco central faz no setor financeiro. Em termos de comércio de emissões globais, os EUA e a Europa poderão assumir a liderança na criação de um mercado de carbono transatlântico do tipo proposto pela União Europeia em janeiro de 2009. As pers- Como as nações do BRIC poderão ser persuadidas a tomar parte nisso? No final das contas, elas ainda têm muito a atingir economicamente. Edenhofer: China e Índia estão bem conscientes que no futuro elas serão não só a maior fonte de emissões, mas também as que mais sofrerão com as mudanças climáticas. Muitas de suas maiores cidades estão localizadas na costa, onde a subida dos níveis do mar poderia ser muito perigosa. Além disso, esses países necessitam de novas tecnologias para fazer frente à sua grande dependência do carvão. Em relação a isso, estamos diretamente no meio do renascimento global do carvão. À luz disso, deverá ser possível montar um bom pacote – com termelétricas que capturam CO2, que é então armazenado, por exemplo. Como membro do IPCC, o senhor tem experiência de primeira mão com as políticas globais de proteção ao clima. É realista pensar que a comunidade das nações concordará com um plano eficaz? Edenhofer: Não podemos nos dar ao luxo de uma catástrofe. Se se tornar possível ver e sentir a mudança climática, será muito tarde. Nos próximos dez anos, temos de chegar a um acordo que envolva pelo menos os seis países que produzem a maior quantidade de emissões de gases de efeito estufa. Talvez, as chances de desenvolver uma resposta sensata não sejam muito grandes. Quando, porém, somos confrontados com desafios históricos, devemos nos perguntar não sobre as probabilidades, mas sobre as necessidades. Resumindo, a proteção climática não é algo opcional... Edenhofer: Exatamente. Seria como dizer que queremos uma economia de mercado, mas os preços não podem expressar a escassez das mercadorias somente quando é conveniente. Foi este tipo de pensamento que levou ao colapso a economia soviética, onde sempre havia um motivo para continuar com os subsídios. Devido à distorção dos preços no longo prazo, o sistema estava fadado a ruir. A capacidade de nossa atmosfera de armazenar CO2 também é uma mercadoria limitada. A proteção ambiental, portanto, não é opcional. Entrevista a Christian Buck PoF SEGUNDA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:20 AM Page 65 | Entrevista A Siemens acredita que investir na proteção climática é promover o crescimento. Outros discordam. Isso é algo a que só teremos acesso quando a economia estiver forte? Weizsäcker: Esta é a impressão que alguns estão passando. Esse pensamento tem suas raízes no regulamento sobre emissão de poluentes, no qual somente os países ricos podem se dar ao luxo da proteção ambiental. Mas, no caso da proteção climática, os problemas são causados em sua maioria pelos ricos. Eles consomem mais energia, comem mais carne e voam mais. A crise econômica oferece uma grande oportunidade para reverter esse curso e, ao mesmo tempo, criar empregos. mais eficiente em termos de energia com medidas simples, mas enquanto a energia for barata, isso não acontecerá. Poderemos tornar a energia mais cara em pequenos passos por meio dos impostos e certificados de emissão, em paralelo com o aumento da eficiência energética. Isso é justo em termos sociais e faz a eficiência ser mais lucrativa. Os investidores poderão fazer planos de longo prazo. Os hábitos mudarão e possivelmente até nosso relacionamento com o automóvel. Poderá haver mais compartilhamento de carros em vez de proprietários, por exemplo. Os preços das matérias-primas estão caindo devido à crise. Isso poderá fazer com que países como a China se tornem menos Por que maior eficiência levará a uma civilização mais avançada? O professor Ernst Ulrich von Weizsäcker, 69, é físico e biólogo. Ele foi professor de universidades alemãs, diretor do Centro para Ciências e Tecnologia da ONU, em Nova York, presidente do Instituto do Clima, Meio Ambiente e Energia de Wuppertal e membro do Budestag da Alemanha para o SPD. Mais recentemente, o professor von Weizsäcker foi diretor da Escola de Ciências Ambientais e Administração Donal Bren da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Ele é considerado uma liderança do desenvolvimento sustentável. O senhor espera que os EUA assumam um papel de liderança na proteção climática? Weizsäcker: Os EUA estão mais receptivos à proteção climática do que comumente se pensa. Alguns estados estão envolvidos há anos e muitas empresas estão bem mais à frente que os políticos. O governo federal está seguindo o mesmo caminho. O plano de salvação de Obama para a indústria automobilística enfatizou muito o meio ambiente. Um grande passo na direção certa. Por que a Europa tem uma vantagem aqui? Weizsäcker: Na Europa, as pessoas obtêm um bom padrão de vida por meio da proteção ambiental e da eficiência energética. É aí que reside o futuro, no meu ponto de vista; isso está se tornando o ritmo do progresso tecnológico. Energia e água são escassas. Temos de aprender a usar ambas de maneira muito mais eficiente. Especialmente, o usuário final. Então, tudo bem se a energia e a água se tornarem mais caras. O Japão mostrou como fazer isso nos anos 1980, quando a eletricidade e a gasolina eram muito caras. Depois de seus programas de modernização, o país estava duas vezes mais eficiente que a Austrália ou os EUA na ocasião da Conferência de Kyoto, em 1997, apresentando duas vezes mais prosperidade por quilowatt/hora. A maior eficiência energética é a chave para combater a mudança climática? Weizsäcker: Sim. Atualmente, podemos obter dez vezes mais luz de um quilowatt/hora do que alguns anos atrás. Os edifícios são mantidos aquecidos com um décimo da energia utilizada antes. A Alemanha tem como se tornar cada vez preocupados com a eficiência energética? Weizsäcker: Sim, preços baixos estimulam o desperdício, novamente. Mas os chineses estão em alerta e tornaram a eficiência energética um objetivo nacional em seu 11º Plano Quinquenal. Como o senhor classifica os programas de estímulo econômico em relação à proteção ambiental? Weizsäcker: Os governos alemão e norte-americano agiram de maneira bastante sensata. O foco inicial era salvar as instituições de crédito. Ao mesmo tempo, Obama passou a empurrar a indústria automobilística para ser mais eficiente, e ele quer gastar bilhões em energias renováveis. As considerações ambientais podem ajudar a superar a desorientação da economia. O senhor está otimista com relação ao futuro? Weizsäcker: Sim, desde que os países-chave, como EUA e China, adotem o caminho do respeito ao clima. Acredito que estamos numa nova onda de Kondratiev de longo prazo – com uma mudança de paradigma para a eficiência energética e inovações e investimentos associados. Nossos carros, casas e aparelhos domésticos desperdiçam e estão desatualizados. A sociedade do futuro será mais eficiente e mais elegante que a de hoje, as pessoas usarão computadores que não desperdiçam energia e são tão eficientes quanto o cérebro humano, o que não levará a uma queda na qualidade de vida. Pelo contrário, eu nos vejo entrando em uma nova época de civilização avançada. Entrevista a Christian Buck Pictures of the future – Primavera 2009 33 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:23 AM Page 80 Inovações para novos mercados | Tendências Na Índia, a Osram, subsidiária da Siemens, e o Instituto de Energia e Recursos fornecem lâmpadas movidas à bateria por custo inferior às de querosene. As lâmpadas são recarregadas em postos de energia solar. Explorando novas fontes de esperança A Siemens está testando novas tecnologias que ajudarão as economias em desenvolvimento e os cidadãos mais pobres a melhorarem sua situação para um futuro mais produtivo. Exemplos prontos para serem utilizados incluem geradores que transformam as cascas do coco em eletricidade, estações de tratamento de esgotos com energia própria, que converterão os efluentes em água potável, e uma visão do amanhã que transformará produtos confiáveis e acessíveis em alavancas para uma vida melhor. D ezenas de soluções que se enquadram na definição de SMART – simples, de fácil manutenção, confiável, chegando ao mercado na hora certa – estão atualmente no “forno” de inovações da Siemens. Vão desde o módulo de processamento de imagens para um sistema de raios-X que será 75% mais barato que seu antecessor, até “centrais de energia” movidas a energia solar para carregar lanternas e telefones celulares no Quênia (pág. 40); de software desenvolvido na China para analisar a situação do trânsito de uma cidade até turbinas projetadas especialmente para combustão de gás, produzido a partir da biomassa de cana-de-açúcar no Brasil (pág. 37). Proporcionando tecnologias que ajudam as economias em desenvolvimento e as pessoas de baixa renda ao redor do mundo a avançarem para um futuro mais produtivo, a Siemens está explorando o que o autor pioneiro C. K. Prahalad chamou de “A fortuna no fundo da pirâmide”. 34 Pictures of the future – Primavera 2009 “Todas as empresas de grande porte estão desenvolvendo estratégias para satisfazer as necessidades dos que estão na parte inferior da pirâmide”, diz Bowonder, reitor do Centro de Treinamento em Administração da Tata, em Pune, na Índia, e especialista de renome mundial em gestão de tecnologia e inovação. “Essas pessoas não devem ser descartadas porque são pobres. Pelo contrário, nossa pesquisa demonstrou que, até 2025, o poder anual de compra das 650 milhões de pessoas mais pobres da Índia triplicará para mais de um trilhão de dólares”. Lanternas que mudam vidas. “É uma situação trágica que, ainda hoje, existam pessoas vivendo literalmente no escuro”, comenta Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernnamental sobre Mudança Climática e diretor-geral do Instituto de Energia e Recursos de Nova Deli. “Em vista disso, lançamos um programa chamado “Iluminando um Bilhão de Vidas”, no qual a Siemens está envolvida por meio da Osram. “Aqui, estamos tratando do problema de 1,6 bilhão de pessoas ao redor do mundo que não têm acesso à eletricidade da rede”. O programa, segundo explica, desenvolveu uma lanterna solar e um posto para carregar no vilarejo, movido a energia solar, onde as pessoas podem levar suas lâmpadas para serem carregadas durante o dia e alugá-las por alguns centavos à noite. “As lanternas oferecem enormes benefícios porque permitem que mais pessoas trabalhem ou estudem depois que escurece e contribui para o bem-estar econômico de seus vilarejos”, diz Pachauri. Não só a luz está chegando para muitos vilarejos sem rede elétrica. A energia está a caminho também. Os engenheiros do Centro de Inovação em Energia Renovável da Corporate Technology (CT) da Siemens, em Bangalore, na Índia, estão desenvolvendo o que será uma termelétrica portátil. Já operando de forma muito Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:23 AM Page 81 Pesquisadores da Siemens em Bangalore desenvolveram um sistema de tratamento de esgotos que remove até 99% dos poluentes dos efluentes sem usar fonte de energia externa. eficiente que atende até as exigências de emissão dos EUA, a usina necessita de cerca de 35 kg de cabaças de coco por hora para gerar eletricidade suficiente para um vilarejo indiano típico com 50 a 100 famílias. “Nosso processo de combustão por oxidação parcial produz um gás de monóxido de hidrogênio e carbono alimentado no motor de combustão interno de reciprocidade que gera de 25 a 300 kW de eletricidade”, explica Peeush Kumar, responsável pelo desenvolvimento de sistemas de energia na CT Índia. “O que é sem similar em nossa solução é que, graças à nova tecnologia de precipitador eletrostático, em desenvolvimento em Munique, basta um pouco de água para a refrigeração. E, além disso, ela produz cinza de carbono que pode ser convertida em carvão ativado para purificação local da água e tem até como se tornar uma fonte significativa de receita, se vendida externamente”. bem como um sistema de filtração que o captura”, diz Richard Woodling, encarregado do desenvolvimento de tecnologia no centro de P&D global da WT, em Cingapura. “O sistema pode ter seu tamanho reduzido às necessidades de um fazendeiro e tem como processar 1.000 litros por menos de um centavo”, diz ele. Uma vez capturado, o arsênico é precipitado do filtro e unido ao cimento, podendo assim ser retirado de maneira permanente do meio ambiente. Enquanto isso, em Bangalore, os pesquisadores da CT desenvolvem um sistema de tratamento de esgotos que já é capaz de separar 95% das substâncias orgânicas e até 99% de poluentes, como nitrogênio e fosfatos, dos efluentes sem nenhuma fonte de energia externa. “A maioria das instalações para tratamento de esgotos apresenta necessidades muito elevadas de energia porque conta com aeradores poderosos para suportar as bactérias que metabolizam a matéria orgânica”, explica o enge- Um saca-rolhas que purifica a água. Se há algo ainda mais essencial do que eletricidade e energia é a água limpa e segura. Em Cingapura, a Siemens estabeleceu sua sede mundial para Pesquisa & Desenvolvimento de tecnologias da água, em 2007. A empresa também é uma das principais fornecedoras na “Central de Água” da cidade-estado, tendo um centro dedicado ao desenvolvimento de soluções acessíveis para tratamento de água da unidade Water Technologies (WT). Ali, a Siemens trabalha para desenvolver novos materiais que isolam contaminantes perigosos, como o arsênico, que aparece naturalmente em concentrações tóxicas em grandes áreas do norte da Índia, leste de Bangladesh e sudoeste dos Estados Unidos. “Tendo em vista o perigo do envenenamento por arsênico em muitas partes do mundo, desenvolvemos e testamos uma partícula que absorve o arsênico nheiro sênior de Pesquisas, Anal Chavan. “Mas com nosso sistema sem similar, os microorganismos especialmente adaptados produzem eles próprios o oxigênio.” Com formato similar a um saca-rolha, o sistema de tratamento é energizado pela força do mas com organismos diferentes – tem como ser adaptada para tratar água contaminada com resíduos de produtos químicos ou de petróleo”. A CT da Índia atualmente trabalha com a Siemens Water Technologies para identificar um vilarejo para uma instalação-piloto. “Trata-se de Um novo sistema de filtração purifica até 1.000 litros de água por menos de meio centavo. efluente à medida que cai em cascata para baixo. Dessa forma, vira-se o “saca-rolha”, expondo a água à sua área de superfície, a qual está colonizada com bactérias. “E mais”, acrescenta Zubin Varghese, responsável pelo departamento de inovações inteligentes da CT da Índia, “a mesma tecnologia – um exemplo perfeito de tecnologia SMART”, diz Varghese. “Pode ser expandida para qualquer tamanho desejado, levada por caminhão até o vilarejo e com tratamento mínimo adicional – possivelmente baseado no carvão ativado de nosso sistema de gasificação de coco – transformando água utilizada em água potável.” Pictures of the future – Primavera 2009 35 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:23 AM Page 82 Inovações para novos mercados | Tendências Uma termelétrica que cabe na carroceria de um caminhão produz energia suficiente, a partir de cascas de coco, para um vilarejo inteiro. As cinzas resultantes são usadas para purificar a água. Estetoscópio que reconhece corações. Iluminação, energia, águas límpidas – os componentes tecnológicos para oferecer de maneira acessível esses itens indispensáveis a centenas de milhões dos mais desvalidos do planeta estão tomando forma. Mas há mais. Na Índia, onde quase 85% da população não tem acesso à assistência médica, o governo está aumentando seu orçamento para a saúde para quase 2% do PIB (US$ 20 bilhões). E há também tecnologias em andamento projetadas para melhorar os serviços básicos de saúde. Por exemplo, a fim de assegurar que 30 milhões de bebês venham ao mundo com segurança todos os anos na Índia, dos quais 30% – cerca de 27.000 por dia – estão em risco, a Siemens está desenvolvendo o Monitor de Batimentos Cardíacos Fetais (FHRM) que simplifica de maneira ampla o diagnóstico – e acelera potencialmente o tratamento da gravidez de risco. “Isto será um produto fantástico porque não há saúde rural na Índia. “Se não o fizer, é sinal de problema”. E, em casos como esses, o aparelho disparará um alarme para chamar o médico para a cabeceira da mãe. ” nada como ele no mercado”, comenta Ragavan, responsável pelo Setor de Healthcare na Índia, que cresceu 25% em 2008. Algo como um estetoscópio digital, o monitor – atualmente um protótipo funcional – está equipado com eletrônica e algoritmos sofisticados, desenvolvidos pela CT da Índia, que resultam em um aparelho barato capaz de distinguir o som do coração do feto do som do coração da mãe. Combinado com uma cinta, um módulo sem fio, um sensor acústico e um sensor de contração de músculo baseado em acelerômetro, o aparelho oferecerá o potencial de monitoramento contínuo nas alas das maternidades. “Conforme a contração chega ao fim, o batimento cardíaco do feto precisa voltar ao normal”, explica o engenheiro de Pesquisa Archana Kalyansundar, responsável pelas tecnologias de mínimo possível de energia, mas têm como funcionar mais próximos uns dos outros, maximizando a capacidade de transportar passageiros”, diz ele. De maneira semelhante, no setor de distribuição elétrica a tecnologia da Siemens tornou possível aumentar a capacidade de transmissão das linhas de força existentes em até 25%, reduzindo as perdas com transmissão e as emissões associadas de CO2. “Graças a Pesquisa & Desenvolvimento nos sistemas de controle e aos aparelhos inteligentes que monitoram continuamente as linhas de força, agora detemos uma participação de 100% do mercado da Índia para os chamados sistemas de transmissão flexíveis em corrente alternada”, diz Ajay Kumar Dixit, vice-presidente do Setor Energy da Siemens para o Sul da Ásia e responsável por inovação de produto na Índia. 36 Pictures of the future – Primavera 2009 Linhas de força para cortar as emissões de carbono. A demanda por soluções robustas e que proporcionam economias operacionais de longo prazo está crescendo no mundo em desenvolvimento. A Siemens está apresentando soluções que atendem essas necessidades. “Há uma enorme demanda por sistemas que podem melhorar a eficiência energética”, diz Paranjape, responsável pelo Setor Industry na Índia. Ele salienta, por exemplo, que sua organização – que emprega cerca de 3.500 pessoas – está fornecendo sistemas elétricos completos para os novos trens pedidos pela rede de transporte público de Mumbai. “Graças à nossa tecnologia de freios regeneradores e à eficiência de nossos motores e sistema de controle, os trens usam o De serviços básicos até infraestruturas de grande porte, a demanda por melhor qualidade e preços menores continuará crescendo. Mas, como poderemos chegar a mais eficiência? Uma possibilidade é a chamada “Cidade do Futuro”, um gerador de cenários desenvolvido pela Siemens e pela Universidade de Cingapura. “Esta é a primeira solução na qual a Siemens está mostrando de maneira interativa suas respostas para as cidades”, diz Klaus Heidinger, vice-presidente sênior de Administração de Cidades na IT Solutions and Services da Siemens, em Cingapura. “O sistema deixa que os usuários vejam de que maneira serviços como transporte e geração de energia são conectados. É uma excelente forma de entender a complexidade – e eventualmente o próximo passo na descoberta de sinergias que melhoram ainda mais os serviços e ao mesmo tempo diminuem os custos”. Arthur F. Pease Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:23 AM Page 83 | Biomassa no Brasil Doce Economia Cerca de 40% dos veículos automotores no Brasil são movidos a etanol. Este número deve subir para 60% nos próximos cinco anos, o que reduziria a dependência do petróleo e o peso sobre o meio ambiente. A Siemens está fazendo a sua parte, fornecendo tecnologia que economiza energia na conversão do açúcar em combustível. A poluição do ar é algo tão corriqueiro em São Paulo que parece incorporada à cidade. Mas Paulo Costa, que trabalha em Jundiaí, cerca de 60 km ao norte de São Paulo, como gerente de Vendas e Marketing para Turbinas Industriais a Vapor da Siemens, não quer se acostumar à poluição. Quando viaja para a cidade, ele ajuda a assegurar que ela não aumente – dirigindo um veículo de combustível flex que ele passou a usar há alguns anos. Vários estudos sugerem que esses carros emitem menos poluentes do que os veículos movidos a gasolina convencional. “Se os milhões de carros que transitam nas vias da cidade todos os dias queimassem gasolina, a qualidade do ar em São Paulo provavelmente seria muito pior”, diz Costa. Cada vez mais brasileiros estão passando para os veículos de combustível flex altamente eficientes, movidos por álcool, gasolina ou uma mistura de ambos. O saldo do CO2 dos motores flexíveis é especialmente favorável ao Brasil, onde o biocombustível de etanol é feito da cana-de-açúcar – e a quantidade de CO2 li- berada é equivalente à quantidade absorvida por meio da fotossíntese antes da colheita. “O etanol já responde por 50% do combustível queimado pelos veículos a motor no Brasil e essa proporção deverá aumentar”, diz Costa. Um dos fatores que torna o combustível atraente é o fato de a energia armazenada como etanol vir, em última análise, do Sol. Ainda assim, às vezes as pessoas esquecem que a produção do etanol também precisa de energia, embora uma grande parte seja obtida da própria cana. O uso de processos mais eficientes reduz a quantidade de energia necessária e a tecnologia da Siemens ajuda exatamente nisso. “Quando o Brasil lançou seu programa de etanol, em 1975, as usinas de açúcar que produziam álcool apenas queimavam os resíduos fibrosos do bagaço da cana atrás de suas fábricas”, recorda Costa. “Mas o bagaço também contém muita energia”. É por isso que as termelétricas movidas a biomassa, com produção entre 25 e 70 MW, agora usam o bagaço para gerar eletricidade e vapor para outros processos industriais. Consequentemente, a energia absoluta pro- Pictures of the future – Primavera 2009 37 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:23 AM Page 84 Inovações para novos mercados | Biomassa no Brasil A cana é convertida em etanol nas destilarias brasileiras. Para aumentar a eficiência energética do processo, os resíduos do bagaço são usados para gerar energia com as turbinas da Siemens (abaixo). duzida pela usina de açúcar aumentou dez vezes nos últimos dez anos. As empresas brasileiras são muito específicas sobre o que querem das turbinas utilizadas em suas termelétricas movidas a biomassa. “Em geral, nossos clientes são sensíveis a preços”, comenta Costa. “Isso significa que o equilíbrio entre o custo do investimento inicial e os ganhos de eficiência durante a vida do equipamento é ligeiramente diferente nesse mercado específico.” Em resposta, a Siemens adaptou um de seus modelos europeus bem-sucedidos de turbina às exigências do mercado brasileiro, criando uma nova versão da turbina a vapor SST300. “Uma equipe de engenheiros da Siemens trabalhando na Alemanha e no Brasil passou meses alterando o modelo para garantir que as demandas específicas dos clientes brasileiros seriam atendidas de maneira mais eficaz e que a unidade pudesse ser fabricada usando os materiais e as instalações disponíveis no Brasil”, acrescenta Costa. O preço da turbina modificada é cerca de 30% menor do que o do modelo original, tornando-a mais acessível para as usinas de açúcar em todo o Brasil. Por exemplo, o projeto da válvula de ex- 38 Pictures of the future – Primavera 2009 tração foi modificado para alcançar pressões mais elevadas de até 32 bar. E o tamanho compacto da unidade reduz os custos de maneira substancial. Esses benefícios atraíram Marcos Mônaco, diretor industrial da Usina Santa Cruz. porque a concorrência no setor se tornou muito mais intensa nos últimos anos. E ainda, a grande queda nos preços do petróleo cru nos últimos meses tornou mais difícil a produção do etanol da cana a preços competitivos. “Mas, ao melhorar Eletricidade e vapor para processos de refino são fornecidos por termelétricas movidas à biomassa de cana-de-açúcar. “Nossa decisão de comprar as turbinas da Siemens se deve à performance e disponibilidade do equipamento, que atendia nossas especificações e condições de projeto. Acabamos encomendando três unidades”, diz ele. A Usina Santa Cruz é uma das 25 maiores usinas de cana-de-açúcar em funcionamento no Brasil. Sua produção de aproximadamente quatro milhões de toneladas de cana é processada após cada colheita e assegura considerável vantagem competitiva em termos de eficiência – uma importante consideração nossa eficiência, as turbinas da Siemens estão nos ajudando a sobreviver nesse ambiente desafiador”, diz Mônaco. As vantagens oferecidas pelas turbinas já se espalharam, motivo pelo qual atualmente elas estão sendo instaladas em outros países latinoamericanos, inclusive no Peru, na Argentina, na Colômbia e no México. Esse fato novo garante que ainda mais energia do Sol encontrará seu caminho para os tanques de combustível dos automóveis. Andreas Kleinschmidt Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:23 AM Page 85 | Entrevista Como o Sr. chegou à ideia de estudar o combustível etanol na década de 1970, quando ainda era um tópico obscuro? Goldemberg: Eu trabalhava como professor no Instituto de Física da Universidade de São Paulo na época e um colega do departamento de economia agrícola, que estava estudando os combustíveis do álcool, me pediu para ajudá-lo. Todos sabiam que a substituição da gasolina pelo etanol era tecnicamente viável, o problema era que até aquela altura ninguém tinha calculado o equilíbrio energético exato. O fato é que precisamos de energia para produzir etanol, porque você precisa de energia para as sementes, fertilizantes, colheita, transporte e destilação. A perguntachave, portanto, era se faria sentido produzir de um clima com suficiente precipitação pluviométrica e muito Sol. Qual é o tamanho do mercado do combustível etanol brasileiro atualmente? Goldemberg: Produzimos cerca de 22 bilhões de litros de etanol ao ano em uma área total de aproximadamente 9,9 milhões de acres. Cerca de um quarto de todos os carros no Brasil, inclusive todos os novos, têm como funcionar com etanol. O mercado brasileiro para o etanol pode triplicar em volume até 2020. Outros países, como Índia, África do Sul, Colômbia e muitas nações do Caribe, também têm as condições necessárias para chegar a bons resultados semelhantes. enormen Investitionen baut Chongqing Etanol brasileiro –Mit energia solar líquida eine konkurrenzfähige Industrie auf. O Brasil lançou seu programa de etanol em 1975. Desde então, o álcool tem servido cada vez mais para substituir o dispendioso petróleo importado. Três anos após o lançamento do programa do etanol brasileiro, o físico José Goldemberg, 80, começou a calcular seu valor adicional econômico e ecológico. Suas descobertas atraíram grande interesse mundial e ajudaram a atingir um avanço para o combustível no Brasil e em outros países. Goldemberg, que também trabalhou com o Ministro da Energia dos EUA, Steven Chu, foi nomeado pela revista Time como um dos “Heróis do Meio Ambiente”. Em 2008, recebeu o Prêmio Planeta Azul da Fundação Vidros Asahi, do Japão. etanol ou não. Meus estudos mostravam claramente que cada unidade da energia combustível fóssil utilizada para produzir etanol da cana-deaçúcar produziria dez vezes mais energia originalmente despendida. A razão para isso é simples: a cana captura e armazena energia solar e a converte em açúcar, de onde o etanol é obtido. Portanto, de certa maneira, o combustível brasileiro feito do álcool é um tipo de energia solar. Assim, as pessoas que enchem o tanque com etanol em vez de gasolina não estão produzindo mais emissões de CO2? Goldemberg: Sim, é quase isso. A produção do etanol de cana necessita de uma determinada quantidade de energia, que por sua vez leva a emissões extras de CO2. No entanto, o uso do etanol em vez dos combustíveis fósseis pode resultar em uma redução de emissões como um todo de até 90% por unidade de energia. Isto também se aplica ao etanol produzido em outros lugares, ou de plantas diferentes? Goldemberg: Infelizmente, isto só se aplica até um determinado ponto. A maior parte do etanol produzido nos EUA, por exemplo, vem do milho. O equilíbrio energético como um todo, neste caso, é muito menos positivo. Isso porque as plantas, em si, contêm menos energia do que a cana-de-açúcar – e também porque são utilizadas mais máquinas nos EUA para o plantio e a colheita e você precisa de energia de combustíveis fósseis para fazer funcionar todos esses equipamentos. É claro que isso afeta o equilíbrio do CO2. Também custa o dobro para produzir etanol nos EUA em comparação com o Brasil e os custos de produção na Europa são de fato quatro vezes mais elevados. Aqui no Brasil, temos o benefício O etanol chegará algum dia a substituir a gasolina? Goldemberg: O etanol nos ajuda a fazer com que nossas reservas de petróleo durem mais e também desacelerar as mudanças climáticas. De acordo com meus cálculos, o etanol substituirá 10% do consumo global de gasolina até 2020. A produção do etanol a partir da cana não leva à monocultura e ao desmatamento? Goldemberg: A cana-de-açúcar no Brasil é cultivada longe da floresta tropical amazônica, portanto a ideia de que seu cultivo destrói um grande número de árvores é um mito. O aspecto da monocultura acarreta algumas preocupações, no entanto. Como ocupei o cargo de ministro do Meio Ambiente, estou ciente desses problemas. Não obstante, nossa política ativa de proteção ambiental está produzindo resultados muito bons atualmente. A monocultura foi banida em determinados corredores, o que levou a um aumento da biodiversidade – e não apenas localmente. A cana-de-açúcar também produz a cachaça, usada para fazer caipirinhas. Não parece um enorme desperdício queimar etanol de cana em automóveis? Goldemberg: Um décimo de um litro de cachaça por dia é mais do que suficiente para a maioria das pessoas. Os carros, por sua vez, são “grandes bebedores”, consumindo em média dez litros de álcool por dia. Ainda assim, a demanda por combustível não levou as destilarias de cachaça à falência. Isso não vai acontecer porque nós, brasileiros, gostamos muito da nossa bebida nacional. Entrevista a Andreas Kleinschmidt Pictures of the future – Primavera 2009 39 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:23 AM Page 86 Inovações para novos mercados | Postos de energia na África Iluminação inesgotável para o Lago Vitória Às margens do Lago Vitória, no Quênia, muitas pessoas pescam e iluminam suas casas com lâmpadas de querosene há várias gerações. Esse combustível, porém, é uma séria ameaça à saúde e ao meio ambiente. Foi por isso que a subsidiária Osram, da Siemens, implementou um projeto piloto que oferece lâmpadas que economizam energia e proporcionam iluminação segura, mesmo longe da rede de energia. 40 Pictures of the Future | Primavera 2009 C ai a noite no Lago Vitória e a água fica escura. É aí que começa o dia de trabalho de Pottas Aboy e seus três colegas. Os quatro pescadores quenianos remam seu barco para dentro do maior lago da África e continuam até que a terra firme seja visível somente como um traço no horizonte. Eles então colocam com cuidado um bote na água, contendo uma bateria azul; em cima dela, uma lâmpada que poupa energia balança de um suporte feito de galhos. A água parece verde escura à Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:23 AM Page 87 Há várias gerações, os pescadores do Lago Vitória usam lanternas para atrair peixes pela luz. Agora eles utilizam lâmpadas da Osram, que economizam energia. tão grande quanto a Irlanda. Equipados com suas novas lâmpadas elétricas, Aboy e seus três colegas são pioneiros entre os cerca de 175.000 pescadores da região do Lago Vitória. Embora seja verdade que eles têm usado a luz como isca há gerações, a fonte eram lâmpadas de querosene. Segundo o Fundo Global da Natureza (GNF), uma organização de auxílio ao desenvolvimento, essa tradição tinha consequências fatais: altamente inflamável, o querosene tinha causado sérias queimaduras em muitos pescadores, além de vazar, poluir o lago e produzir gases de efeito estufa. O querosene queimado nas lâmpadas usadas ao redor do lago produz cerca de 50.000 toneladas de CO2 por ano, segundo a GNF. Mesmo assim, tem sido muito difícil para as pessoas da região quebrarem a tradição, especialmente tendo em vista o fato de que a maioria das 30 milhões de pessoas que vivem ao redor do Lago Vitória não tem acesso à eletricidade. Assim, elas não têm outra opção além de usar esse combustível tóxico para pescar e também para iluminar suas casas. As coisas começaram a mudar em abril de 2008, quando a Osram e a GNF passaram a oferecer uma alternativa de fonte de iluminação limpa e segura às pessoas na região, na estrutura de um projeto conhecido como “Ume me Kwa Wote” (Energia para Todos). luz da lâmpada. “A luz atrai principalmente as omenas, um tipo de sardinha”, explica Aboy, que dá uma pequena sacudida no bote caseiro e observa enquanto ele desaparece lentamente na escuridão do lago. “Agora, esperamos até que haja peixe suficiente em torno da luz do bote. Depois disso, jogaremos uma rede ao redor do bote e o puxaremos rapidamente”, diz. Aboy olha para a noite, onde a única coisa que ainda é visível é um pequeno foco de luz – flutuando em um lago Postos autossuficientes para carregar. Essa alternativa foi viabilizada pelos Energy Hubs (Centros de Energia), pequenos postos para recarga elétrica movidos por células solares montadas em telhados, que tornam os hubs completamente independentes das redes de energia. “As pessoas na região podem alugar nossas baterias que poupam energia em um desses centros, bem como recarregar suas baterias no mesmo local”, explica Jochen Berner, gerente da Osram para esse projeto. “Juntamente com as lâmpadas, também fornecemos água potável purificada e serviço de recarga de telefones móveis”, diz. A Osram já construiu quatro Centros de Energia – três no Quênia, operados pela empresa parceira Thames Electrical, e um na vizinha Uganda, pela Dembe Trading. O diretor-chefe de Sustentabilidade da Osram, Wolfgang Gregor, comenta: “No momento, estamos negociando com o Banco Mundial e parceiros industriais para expandir o projeto, cujo objetivo é construir cerca de outros cem Energy Hubs na África e vinte na Ásia”. Um dos Energy Hubs está localizado na cidade de Mbita (população de 15.000) na margem oriental do Lago Vitória. O prédio Pictures of the Future | Primavera 2009 41 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:23 AM Page 88 Inovações para novos mercados | Postos de energia na África Pessoas que não têm acesso à rede elétrica podem alugar as lâmpadas da Osram que poupam energia nos Energy Hubs da empresa e obter água potável limpa. A eletricidade é proporcionada por células solares montadas no telhado. branco e laranja em tijolos que abriga o centro está cercado de casebres em ferro ondulado. Entre as estruturas, algumas galinhas ciscam na poeira. Aqui, o mundo parece tirar uma soneca no opressivo calor do meio-dia. Mas há muita atividade ocorrendo atrás das paredes do centro local, com seus 42 painéis solares bombeando constantemente a energia da luz do Sol tropical para as baterias das lâmpadas que economizam energia, com produção de até 10 quilowatts. Leva aproximadamente três horas para carregar as baterias e cada uma delas pesa 42 Pictures of the Future | Primavera 2009 cinco quilos. Quando totalmente recarregadas, elas iluminam as lâmpadas da Osram de 11 watts que economizam energia por até 12 horas. “É mais do que o suficiente para a pesca noturna, mas o principal benefício de nossas lâmpadas é seu baixo preço”, diz Berner. Ele explica que, para alugar uma lâmpada, é preciso deixar um depósito de cerca de 2.000 shillings quenianos – cerca de € 20. É muito dinheiro para pessoas cuja renda mensal é de somente € 35. Por outro lado, recarregar a bateria ou trocá-la no centro custa somente 100 shillings, ou € 1. “Trabalhamos com instituições locais especializadas em microcrédito para garantir às pessoas o acesso às lâmpadas”, diz Berner. “No entanto, o depósito custa quase o preço de uma lanterna nova de querosene, com a diferença de que nossos clientes recebem seu dinheiro de volta quando não mais precisam da lâmpada.” Berner enfatiza ainda que a taxa para recarregar no Energy Hub é relativamente barata quando se considera que o pescador usa cerca de 1,5 litro de querosene por noite, ao custo de aproximadamente 150 shillings. “Conosco, o cliente só paga 100 shillings por Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd noite, economizando 30%”. Além disso, os clientes têm como usar as baterias para fazer funcionar outros aparelhos, como celulares e rádios. Inicialmente, a equipe da Osram teve muito trabalho de persuasão para executar o projeto “Contamos com cerca de 600 clientes usando as lâmpadas em nossos três centros quenianos e 150 deles são pescadores”, diz Berner. 10/27/09 10:23 AM Page 89 Água potável extremamente pura. Os Energy Hubs também fornecem água potável – graças em parte aos esforços de Otieno e de seus dois colegas, que foram bem-sucedidos em convencer o pessoal local sobre os benefícios da água pura para a saúde. Cada vez mais pessoas vêm até a pequena torneira em frente do centro para encher seus jarros com água, pagando dois shillings o litro. Trata-se de um investimento na boa saúde, acredita Otieno, porque muitos dos moradores do vilarejo reti- processar até 3.000 litros de água por dia com a unidade”, comenta Otieno, “e a qualidade da água é superior à oferecida em nossos poços públicos”. Otieno está convencido que os centros de energia autossuficientes com seu serviço integrado de purificação da água têm um futuro brilhante no Quênia, competindo contra o uso do querosene. No entanto, um novo concorrente está tentando cativar os clientes dos Energy Hubs: linhas de alta tensão já Luz na casa de Mama Austin. Embora as lâmpadas limpas e claras tivessem sido originalmente desenvolvidas para uso dos pescadores, elas agora estão sendo utilizadas cada vez mais nos lares locais. No vilarejo de Nyandiwa, cerca de 50 quilômetros ao sul de Mbita, por exemplo, as lâmpadas são encontradas em uma loja, com todos os tipos de mercadoria, dirigida por Mama Austin. Em uma das paredes, há um pôster do Presidente dos EUA, Barack Obama, cuja avó vive nas proximidades. Uma única lâmpada Osram pende do teto da loja. “Eu tinha de fechar a loja ao escurecer”, diz Mama Austin. “Agora, acendo a lâmpada e mantenho-a aberta até as nove – e os negócios estão melhores em função disso”, diz. A luz brilhante agrada clientes e crianças. “Elas vêm de noitinha para estudar sem arruinar sua vista ou ter de ram sua água do Lago Vitória e a bebem sem a ferver – embora lavem suas roupas no lago e o usem como um vaso sanitário. “É por isso que temos epidemia de cólera todos os anos e a falta de cuidados médicos adequados torna isso um gigantesco problema”, diz Otieno. “A água da Osram, por outro lado, é pura – fato que se espalhou por todo o vilarejo”. A água é segura graças à unidade sofisticada de tratamento que transforma a água da chuva coletada em um tanque próximo ao chegaram a alguns vilarejos e são uma ameaça às perspectivas dos pioneiros em energia. Berner não parece preocupado. “Só a conexão elétrica custa 32.000 shillings e você tem de pagar as contas pela energia que usar”, diz ele. Praticamente ninguém pode se dar a esse luxo, acredita Berner, acrescentando que mesmo as pessoas que têm ligações elétricas usarão as confiáveis lâmpadas da Osram como alternativa de segurança. “Se a rede falhar por algumas horas todo dia”, ele frisa. inalar fumaça das lâmpadas de querosene”, acrescenta Mama Austin. “As lâmpadas de querosene são responsáveis por doenças do pulmão e pela maioria dos incêndios no vilarejo”, conta Otieno, que gerencia um Energy Hub em Nyandiwa. “Uma vez, três casas pegaram fogo em um único mês. Quando isso acontece, as pessoas ficam literalmente sem nada”, diz. Ele acredita no sucesso do projeto e faz com que as pessoas se conscientizem dos benefícios para a saúde trazidos pelas lâmpadas da Osram. centro em água potável muito pura. A unidade, que é acionada por células solares instaladas no telhado, filtra as grandes partículas e em seguida passa a água por um filtro de carbono ativado que une todas as substâncias químicas e neutraliza os odores. A água é então encaminhada para um microfiltro que remove as menores substâncias. Depois disso, a atenção da unidade se volta para quaisquer bactérias ou vírus remanescentes, expostos a uma lâmpada de esterilização ultravioleta de 11 watts que desinfeta a água. “Se a chuva permitir, temos como Para Pottas Aboy e seus três colegas pescadores, é hora de começar a agir no lago novamente. Eles remam até a pequena luz que veem dançando nas ondas à distância. Os mosquitos aparecem à medida que eles chegam ao bote, mas os homens não prestam atenção, jogam a rede e começam a puxá-la. A água sob a rede começa a borbulhar conforme a luz da lâmpada ilumina um denso cardume de peixes, fazendo com que pareçam peças de um tesouro de prata. O dia de trabalho de Aboy começou. Florian Martini Uma recarga no centro de energia produz 12 horas de iluminação e custa 30% menos do que o querosene. Pictures of the Future | Primavera 2009 43 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:24 AM Page 90 Inovações para novos mercados | Mobilidade Técnicos convertem um Porsche em carro elétrico com tecnologia Siemens. O isopor ocupa o espaço que mais tarde será ocupado pelo motor e o bloco da bateria (à direita). Surge uma nova visão de mobilidade, na qual os veículos proporcionam transporte limpo e armazenam o excesso de energia das fontes renováveis. Novos sistemas de acionamento, tecnologias de baterias, cobrança e rede inteligente formam o cenário para o ecossistema de energia e transporte. Ecossistema elétrico I magine milhões de veículos elétricos estacionados em muitas garagens, cada um tirando energia de uma rede elétrica e também devolvendo parte de sua energia armazenada para a rede durante a demanda de pico de energia. Isto será possível com baterias bidirecionais que podem ser carregadas ou utilizadas como fonte de energia. Essa visão da mobilidade elétrica, que surgiu como resultado da convergência de diversos fatores, deverá transformar a indústria automotiva nos próximos anos. Enquanto cada vez mais pessoas querem ter mobilidade, o consumo de energia cresce, em especial nos países emergentes, como Índia e China. No passado, essas demandas eram atendidas principalmente com a utilização de combustíveis fósseis. No entanto, os recursos fósseis se tornam escassos e suas emissões de CO2 aceleram as mudanças climáticas. Cada vez mais fornecedores de energia utilizam as fontes renováveis, sem CO2, como a eólica e a solar, mas sua produtividade depende do clima. Conforme a parcela de eletricidade de tais fontes aumenta, cresce também a necessidade de desenvolver instalações intermediárias de armazenamento, cuja energia possa ser explorada quase que imediatamente. Uma ideia é usar baterias em carros elétricos, as quais, dependendo da demanda por energia e preço, podem ser recarregadas ou devolver energia para a rede elétrica. Quando houver excesso de eletricidade, como costuma acontecer durante a noite ou em períodos de condições atmosféricas com vento, os preços seriam reduzidos, tornando 44 Pictures of the future – Primavera 2009 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:24 AM Page 91 atraente recarregá-las nessas ocasiões. Do contrário, quando os ventos estiverem calmos ou se houve muito gasto de eletricidade durante o dia, o preço se elevaria, estimulando muitos proprietários de veículos a venderem sua eletricidade de volta para a rede, com lucro. Muitos carros ficam ociosos a maior parte do dia, o que significa que poderiam estar continuamente conectados à rede elétrica, a partir das vagas de estacionamento, garagens de seus escritórios ou de suas residências. A determinação flexível dos preços da eletricidade, de acordo com a oferta e a demanda, energético. Hoje, ela custa mais de € 10.000. No entanto, há outras opções para essas termelétricas móveis além de serem financiadas por meio da receita com eletricidade. Os proprietários de veículos não precisariam necessariamente comprar a bateria. Em vez disso, ela poderia ser alugada de um fornecedor de energia. Em outras palavras, uma empresa de energia descentralizaria sua capacidade de armazenamento energético e financiaria a bateria por meio do “uso secundário” desta última. Seja qual for a forma que os carros elétricos assumam, e o papel que irão desempe- ministro do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, observou que os carros elétricos, atuando como unidades de armazenamento tipo “colchão”, estabeleceriam uma ligação importante com as fontes de energia renovável. “Esse acontecimento será importante na Alemanha”, diz Gabriel, pois o país planeja aumentar a cota de fontes de energia renovável em seu complexo elétrico dos atuais 15% para 40% até 2020. O secretário de Economia e Tecnologia, Dagmar Wöhrl, acrescenta que é essencial para as empresas de serviços públicos trabalharem em cooperação com a indústria automobilís- também eliminaria qualquer problema associado com muitos veículos tentando recarregar ao mesmo tempo, o que, é claro, causaria a subida desenfreada dos preços. nhar no complexo elétrico, qualquer conceito futuro necessitará incorporar os stakeholders mais importantes: produtores de eletricidade, fabricantes de automóveis, fornecedores e governos, cujas políticas devem abrir caminho para a necessária mudança de paradigma. Na Alemanha, o primeiro passo foi dado em novembro de 2008, quando os Ministros tica, pois serão necessários investimentos abrangentes em P&D, especialmente nos campos de armazenamento de energia, engenharia de veículos e integração à rede elétrica. Tais alianças já estão em vigor. Por exemplo, Daimler e Volkswagen estão trabalhando com grandes fornecedores de energia da Alemanha, como Vattenfall, RWE e Evonik. Além Carros que geram renda. A regra básica é que deve haver cerca de 300 veículos elétricos como unidades potenciais de armazenamento de energia para cada turbina eólica, com produção de pico de três megawatts. A existência de carros com unidades de armazenamento móvel teria dupla utilidade. Presumindo-se que as baterias dos veículos seriam carregadas e descarregadas em vários ciclos, as empresas de suprimento de energia teriam uma alternativa contra o eventual excedente de energia das fontes renováveis, enquanto os donos dos veículos teriam uma fonte de renda para amortizar os custos relativamente altos das baterias. No futuro, as baterias continuarão sendo um dos componentes mais caros dos carros elétricos. Alcançar um raio de 100 quilômetros com um carro de médio porte atualmente requer uma bateria com aproximadamente 15 quilowatts/hora de conteúdo Ao armazenar energia que pode ser devolvida à rede, os carros elétricos funcionarão como reserva para a energia eólica e solar. da Economia e Tecnologia (BMWi); do Transporte, Edifícios e Assuntos Urbanos (BMVBS); do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU); e da Educação e Pesquisa (BMBF) realizaram a Conferência Nacional Estratégica sobre Mobilidade Elétrica. A conferência reuniu fornecedores de energia, como E.ON, RWE e Evonik; fabricantes de automóveis e fornecedores como Volkswagen, Daimler, Continental e Bosch; empresas elétricas e eletrônicas como a Siemens e diversos institutos de pesquisa. O disso, a VW recentemente começou a trabalhar com a Toshiba no desenvolvimento de tecnologia de baterias. Nos próximos três anos, poderá ser empregado um total de € 500 milhões em pesquisa da mobilidade, dentro da estrutura dos programas de estímulo do governo alemão. As atividades incluiriam o desenvolvimento de infraestrutura adequada e todos os aspectos da tecnologia do veículo elétrico. O objetivo é tornar a Alemanha o mercado líder em mobilidade elétrica. Pictures of the future – Primavera 2009 45 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:24 AM Page 92 Inovações para novos mercados | Mobilidade Aliança da bateria. A Alemanha já está liderando o caminho quando se trata de componentes de mobilidade elétrica para fornecimento de energia ou fabricação de automóveis elétricos. O país projeta as usinas elétricas mais eficientes – convencionais, eólicas ou termossolares – e também desenvolve sistemas para baixa perda na transmissão de energia a grandes distâncias. A Alemanha segue como líder em motores elétricos e sistemas de eletrônica embarcada para veículos. Já em relação à tecnologia de baterias, a maior parte dos novos avanços ocorre na China e na Coréia. A Alemanha responde somente por cerca de 1% das baterias de lítio-ion. Mesmo assim, o país produziu alguns novos avanços nesta área: uma equipe de três cientistas da subsidiária Evonik’s LiTec foi indicada para o Prêmio do Futuro da Alemanha, há dois anos. A equipe desenvolveu um separador para baterias de lítio-ion que evita curto-circuito, tornando as unidades de alto desempenho mais confiáveis, o que é muito importante porque as células de lítio-ion são consideradas as únicas baterias capazes de carregar carros elétricos. Basicamente, são as únicas baterias que fornecem a densidade de potência necessária para o transporte automotivo. Assim, o BMBF estabeleceu uma aliança de “Bateria de Lítio-ion” que permitirá à Alemanha recuperar o atraso na área. Ao mesmo tempo, o BMWi lançou um programa de pesquisa sobre “Tecnologia da Mobilidade e do Transporte” para desenvolver sistemas de acionadores com tecnologia de ponta. Além dos híbridos, o foco está nos novos sistemas de eletrônica de energia para automóveis. Um bom veículo elétrico necessita de bateria com conteúdo energético de 42 quilowatts/hora para alcançar uma autonomia de aproximadamente 300 quilômetros. Em outras palavras, um nível de consumo de energia de 15 quilowatts/hora por 100 quilômetros, presumindo que a tensão normal de 230 volts e corrente de 16 amps levaria em média 12 horas para carregar totalmente essa bateria. “A 400 volts e 25 amps, o motorista recarregaria em apenas duas horas”, diz Gernot Spiegelberg, que lidera a equipe de mobilidade elétrica na Siemens Corporate Technology. Toda residência alemã tem um potencial de 400 volts – tensão usada por uma conexão de corrente trifásica. “A única coisa que falta agora é uma interface adequada entre os veículos e a rede”, ele acrescenta. A equipe de Spiegelberg, que trabalha em estreita colaboração com os Setores Energy e A cadeia de valor da mobilidade elétrica toma forma 1 4 2 5 3 1 Fornecedores de energia integram todas as formas de energia, desde a fóssil até a renovável, por isso as redes inteligentes de energia precisam ser flexíveis e robustas. 2 Infraestrutura composta de postos para carregar baterias e dispositivos para emitir faturas em edifícios públicos e em grandes estacionamentos. 3 As baterias nos carros elétricos não só armazenam eletricidade como a devolvem para a rede, se necessário. Telefones celulares conectados à internet são utilizados para mostrar os principais parâmetros sobre a medição inteligente. 4 A eletricidade é negociada como as ações; cada motorista de veículo elétrico escolhe quando comprar ou vender, conforme o preço atual. 5 O carro elétrico viabiliza novos conceitos de veículo com sistemas de assistência por acionamento eletrônico que oferecem conforto, entretenimento e segurança adicionais. Os fornecedores de serviços podem utilizar padrões abrangentes para reunir e colocar no mercado pacotes elétricos de mobilidade. Nesse cenário, os motoristas não compram carro e sim pagam pela quilometragem que utilizam. 46 Pictures of the future – Primavera 2009 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:24 AM Page 93 Um Porsche é transformado: (a partir da esquerda) o motor elétrico é parafusado aos blocos da bateria; o módulo resultante é integrado ao chassi e as baterias são montadas na parte traseira. Industry da Siemens, é o centro de competência de P&D sobre mobilidade elétrica da empresa. O foco da equipe se concentra nas exigências dos sistemas para veículos elétricos e o projeto de uma infraestrutura de malha energética de mobilidade. Os engenheiros da Siemens estão examinando, entre outras coisas, as opções de geração e distribuição de energia, sistemas de gerenciamento de transporte e energia, medição inteligente, eletrônica, software, sensores de energia e, é claro, acionadores elétricos e recuperação e armazenamento de energia. Além de servirem como unidades de armazenamento, os acionadores elétricos também se tornam uma parte importante do portfólio ambiental da Siemens, pois utilizam energia de maneira mais eficiente do que os motores a combustão. “Acredito que, só na Alemanha, há um potencial para 4,5 milhões de veículos elétricos nas ruas e estradas até 2020”, diz Spiegelberg. “Todos eles podem obter sua energia da rede existente. E essa é apenas uma estimativa conservadora, pois metade desses veículos seria acrescentada como segundo carro das famílias, a maioria deles nunca viaja mais do que 70 km por dia”. Assim, um em cada dez veículos na Alemanha não mais utilizaria gasolina. Vendendo milhas em vez de carros. A Alemanha é um país que busca novos conceitos de mobilidade elétrica; as ideias também estão sendo geradas e adotadas nos EUA, Austrália, Israel e Dinamarca, além de outros países. Na Califórnia, um novo empreendimento chamado Better Place trata de toda a cadeia de valor para um sistema moderno de mobilidade com base em fontes de energia renovável. Lançado há dois anos, o Better Place trabalha na criação de uma infraestrutura abrangente para o funcionamento de veículos elétricos. Seguindo o conceito adotado pela telefonia móvel, o Better Place planeja fornecer a seus clientes carros com descontos – ou até de graça – mediante pagamento do número de quilômetros percorridos. Aqui, os postos de bateria, projetados como postos de gasolina, possibilitariam que as baterias com pouca energia pudessem ser rapidamente trocadas por outras totalmente carregadas. O Better Place celebrou parceria com a Renault-Nissan e planeja trabalhar com as empresas de serviço público de energia para estabelecer infraestruturas energéticas em mazenamento que pode ser carregada tanto internamente por um gerador e/ou explorando a recuperação da energia de frenagem, como externamente em uma tomada convencional de 230 volts. No modo puramente elétrico, o carro pode percorrer 110 quilômetros, acima da média necessária para um dia da maioria dos que vão e voltam do trabalho. A BYD, cuja matriz está situada em Shenzhen, na província chinesa de Guangdong, Até 2020, só na Alemanha, haverá 4,5 milhões de veículos elétricos. diversos países. Os primeiros sistemas de carro elétrico deverão estar em funcionamento até 2011. As empresas alemãs também reconheceram o potencial de mercado oferecido pelos veículos elétricos e trabalham com afinco para desenvolver soluções adequadas. A Daimler, por exemplo, estuda formar uma aliança com a fornecedora de energia RWE que padronizaria os postos de carregamento de baterias. Abu Dhabi, o grande acionista da Daimler, está bancando a transição acelerada dos motores a combustão para sistemas de acionamento alternativos e se preparando para a “era pós-petróleo”. Da mesma forma, a BMW e a Volkswagen trabalham com empresas de energia visando, entre outras coisas, determinar a infraestrutura necessária para as diferentes exigências de mobilidade e disseminar amplamente os veículos elétricos. Entretanto, a revolução do automóvel elétrico deverá ocorrer na Ásia, pois atores totalmente novos se juntam às empresas tradicionais fabricantes de automóveis naquele continente. No Salão do Automóvel de Genebra de 2008, por exemplo, o “F3DM”, um veículo híbrido de ligar na tomada, foi apresentado pela BYD (sigla para Build Your Dream – Construa seu sonho). O carro possui um pequeno motor de combustão (capacidade para um litro), sistema completo de acionamento elétrico e unidade de bateria/ar- foi fundada em 1995 e é uma das vinte maiores empresas da China, com 120.000 colaboradores. Graças à especialização chinesa na área de baterias de Iítio-ion, que vem de décadas de experiência com telefones celulares e computadores, a BYD é uma das poucas fabricantes de veículos no mundo que pode desenvolver e produzir de maneira independente a tecnologia de baterias necessária para os veículos elétricos modernos. A empresa prevê lançar em breve o BYD e6, um carro totalmente elétrico com autonomia para 290 quilômetros. Fantástica eficiência do poço para o volante. Além da tecnologia de armazenamento de energia, a caixa de câmbio é, para os desenvolvedores, uma das principais tecnologias em mobilidade elétrica. Elas podem ser projetadas de maneira muito mais simples para os carros elétricos do que no caso de carros com motores a gasolina ou a diesel, porque não são necessários transmissão, diferencial nem eixo propulsor – uma situação semelhante à de 100 anos atrás, quando os pioneiros do carro elétrico construíram veículos a motor com Wheel hub, uma máquina geralmente instalada no volante. Mas, diferente dos sistemas mecânicos do passado, os sistemas de acionamento do futuro terão cérebro. Os sistemas eletrônicos inteligentes gerenciaram os componentes, Pictures of the future – Primavera 2009 47 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:24 AM Page 94 Inovações para novos mercados | Mobilidade procedimentos de carga e descarga, bem como os processos de recuperação da energia de frenagem. E tudo isso será projetado para assegurar que a eficiência em energia, e assim a sabedoria ambiental dos carros elétricos, seja muito mais alta do que os valores atingíveis pelos motores a combustão. A eficiência do poço para o volante (da fonte de energia ao funcionamento) de um bom veículo elétrico hoje é de mais de 70% – com base nas fontes de energia renovável –, enquanto a maior parte dos motores de combustão tem eficiência de 20%. Mesmo que a energia para os carros elétricos não seja gerada de fontes renováveis, como o vento e o Sol, o nível das emissões de CO2 de tais veículos ainda é muito mais baixo do que o de qualquer motor a combustão. Isso ocorre porque as usinas elétricas do complexo global de eletricidade emitem cerca de 600 g de CO2 por quilowatt/hora, o que corresponde a 90 g para cada quilômetro percorrido com carro elétrico. Isso é muito menos Medindo em torno de um metro de altura e 4,28 de comprimento, o “iChange” está equipado com um motor elétrico de 150 quilowatts/hora da Siemens Drive Technologies que permite acelerá-lo de 0 a 100 km/h em apenas 4,2 segundos. A velocidade máxima do carro é de 220 km/h. No entanto, quando totalmente carregado e funcionando a plena carga, o veículo tem autonomia para apenas 90 quilômetros. As baterias de lítio-ion do carro, produzidas pela alemã Gaia, são recarregadas em cerca de três horas em uma tomada elétrica convencional. Em outubro de 2008, Alois Ruf, empresa especializada em modificar Porsches, apresentou um Porsche elétrico que planeja desenvolver com Spiegelberg. “Para o protótipo em Genebra, usamos um sistema integrado consistindo de motor e gerador, eletrônica de energia e interface com uma conexão de bateria”, explica Spiegelberg. O Porsche elétrico apresentado em Gene- Os motores elétricos são quase quatro vezes mais eficientes que os de combustão. do que os 120 a 160 g de CO2 emitidos por quilômetro, por um automóvel típico médio com motor a combustão. Elétrico de alta velocidade. Spiegelberg, que é um especialista reconhecido na área de sistemas de acionadores elétricos, foi fundamental para equipar dois protótipos de veículo com caixa de câmbio elétrica da Siemens. “No Salão do Automóvel em Genebra, em março, apresentamos nossos sistemas de acionamento no carro-conceito ‘iChange’, construído pela Rinspeed, e o ‘eRuf Greenster’, um veículo produzido pela alemã Alois Ruf”, disse ele. A Rinspeed, empresa suíça presidida pelo visionário Frank Rinderknecht, é bem conhecida por seus carros de conceito futurista. bra pela RUF Automobile GmbH contém uma versão preliminar do inovador sistema eDrive da Siemens Corporate Technology. O protótipo tem um motor central com uma produção de 270 quilowatts/hora e torque de 950 metros/newton. Quando pilotado de maneira moderada, tem autonomia para aproximadamente 200 km. A Ruf planeja fabricar um pequeno lote de modelos sucessores que empregarão o conceito de motor dual. Batizado como “eRuf”, será o primeiro carro elétrico no mundo com conexão de energia bidirecional, o que permitirá que seja recarregado em uma hora em uma tomada elétrica de 380 volts – sem o circuito elétrico extra geralmente necessário para recarregar. O sistema bidirecional também permitirá alimentar a energia de volta à rede pela mesma Dicionário dos veículos do futuro O termo “mobilidade elétrica” geralmente se refere ao transporte pessoal em veículos acionados por motor elétrico e/ou equipados com baterias que armazenam quantidade significativa de energia. São classificados da seguinte forma: HEV = Veículo Híbrido: combinação de acionamento elétrico e motor a combustão PHEV = Veículo Elétrico Híbrido com Tomada: veículo híbrido com conectividade à rede de energia BEV = Veículo Elétrico a Bateria: puramente elétrico FCV = Veículo com Célula de Combustível: produz a sua própria eletricidade por meio de processo químico. Muitos veículos híbridos já estão disponíveis no mercado e a produção em série de veículos totalmente elétricos será lançada em breve. 48 Pictures of the future – Primavera 2009 tomada. Os primeiros carros estarão nas ruas em 2010. “Embora os carros elétricos sejam maravilhosos e possantes, não podemos esquecer que os veículos em si são apenas um elo a mais na cadeia da mobilidade elétrica”, diz Manfried Kruska, cujo trabalho no Setor Energy da Siemens foca na mobilidade elétrica da perspectiva infraestrutural. Há ainda muito a fazer aqui. Por exemplo: As malhas de energia têm de reagir correta e rapidamente às flutuações com o suprimento de eletricidade por fontes de energia renovável, como eólica e solar. Será necessário definir os padrões relacionados à tensão de carregamento da eletrônica de potência e uma decisão precisará ser tomada – se os processos de recarregamento devem ser controlados por um sistema instalado no veículo ou em posto de carregamento. Os componentes para operações bidirecionais e cobrança flexível da eletricidade ainda necessitam ser desenvolvidos caso os carros de passageiros sejam utilizados como meio de armazenamento de eletricidade. Todos esses aspectos têm de ser parte da rede inteligente do futuro. Automóveis se juntam à rede. A Siemens conta com anos de experiência e uma fantástica especialização em todos os aspectos da cadeia de suprimento de energia. Desta forma, ela é idealmente adequada para ajudar a projetar o sistema de mobilidade elétrica do futuro – desde peças para veículos até componentes da rede de energia. Na Conferência Nacional Estratégica sobre Mobilidade Elétrica, ocorrida em Berlim, em 2008, Tobias Wittmann, do Setor Energy da Siemens, apresentou um programa de software conhecido como “Cenário Veículo até a Rede”. O software, que simula a interação entre sistemas de energia centralizada e distribuída, demonstra o papel que os carros elétricos desempenharão tanto como consumidores de energia quanto como suas fontes. Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:24 AM Page 95 A fabricante Ruf apresentou seu eCar e o sistema integrado de mobilidade, geração e eletrônica da Siemens no Salão de Genebra. O sistema do iChange (à direita) também é da Siemens. Ele ilustra como os veículos poderão retirar e armazenar eletricidade barata durante a noite e vender a energia de volta para a rede com lucro durante o dia. O Setor Energy da Siemens estabeleceu uma parceria de pesquisa para esse sistema em fevereiro de 2009, quando assinou acordo para se juntar a um consórcio internacional na Dinamarca, conhecido como projeto EDISON – sigla para Electric Vehicles in a Distributed and Integrated Market Using Sustainable Energy and Open Networks – que tem por objetivo padronizar as tecnologias dos equipamentos de armazenamento de energia elétrica e carregamento e descarregamento para veículos híbridos elétricos. “Nosso trabalho é estudar o potencial para conectar os veículos elétricos na rede pública”, diz Sven Holthusen, responsável pelas atividades da Siemens no consórcio. Neste projeto, a Siemens coordena e apresenta as tecnologias-chave, como as que são necessárias para os postos de carregamento e sistemas associados de controle que assegurem uma ótima utilização da capacidade das baterias. No âmago de todo o conjunto está a eletrônica de potência e os sistemas de comunicação para gerenciar o carregamento das baterias e a alimentação da rede. Tudo isso se encaixa, de maneira inteligente, com os planos da Dinamarca, que prevê que 50% de sua eletricidade será gerada pelo vento até 2020. Consequentemente, o país vê o desenvolvimento de soluções para armazenamento do excesso de eletricidade como crucial. “Se não utilizarmos a opção de armazenar a energia eólica, será necessário instalar seis vezes mais a produção normal a fim de assegurar um suprimento de energia suficiente e constante”, explica Spiegelberg. elétrica das baterias tiver de ser usada como a chamada “energia reguladora” nos horários de pico. A energia reguladora se refere àquela que a operadora da rede de energia tem de fornecer para compensar as flutuações de frequência na rede, que aumentam quando a energia está sendo utilizada acima da média que as termelétricas com carga base são capazes de suprir. A energia reguladora então tem de ser suprida rapidamente das termelétricas movidas a gás natural, estações hidrelétricas de armazenamento bombeado, termelétricas ou unidades de armazenamento de energia. “Trata-se de um desafio para o qual estamos bem equipados”, diz Kruska. “Já temos a maioria dos componentes, sistemas e soluções necessárias para estabelecer uma infraestrutura para conectar os veículos elétricos à rede de energia. Nosso know-how cobre chaves de comutação, inversores e tecnologia de controle. Também temos especialização em projetos de rede, soluções para acoplamento de rede e trans- formadores para a rede local.” Embora muita coisa aqui pareça novidade, as inovações da Siemens datam de muitos anos. Na verdade, o carro elétrico é mais velho do que o veículo com motor a combustão, inventado por Carl Benz em 1885/86. “A determinação pioneira de nossos engenheiros para estabelecer a mobilidade elétrica tem uma tradição que remonta há mais de 100 anos”, disse o CEO da Siemens, Peter Löscher, na Assembleia Ordinária de Acionistas da empresa, em janeiro de 2009. Afinal de contas, foi em 1882 que Werner von Siemens apresentou o primeiro veículo elétrico, denominado Elektromote. Hoje, os veículos elétricos têm maior chance de se popularizar do que naquela ocasião – pelo menos, em termos de transporte urbano. No entanto, o que não mudou é o espírito pioneiro com o qual os pesquisadores e desenvolvedores da Siemens estão trabalhando para alcançar avanços importantes para os veículos elétricos. Klaudia Kunze De volta para o futuro Em 29 de abril de 1882, Werner von Siemens dirigiu o Elektromote – um vagão movido a eletricidade – através de uma linha férrea de teste de 540 m, em Halensee, perto de Berlim. Foi o primeiro veículo elétrico e o primeiro trolley bus do mundo. Em 1905, foi a vez do Electric Victoria, que trafegou em Berlim como um táxi e veículo de entregas, à velocidade máxima de 24 km/h. Embora esses veículos estivessem bem à frente do seu tempo, a baixa capacidade de suas baterias e sua autonomia não tinham como competir com os motores de combustão interna. Isso durou mais de 100 anos e a regra que permanece mesmo hoje é a de que um litro de gasolina equaciona nove kW/h. Uma bateria de lítio-ion com esse tipo de conteúdo pesa cerca de 100 kg. Ainda assim, um carro elétrico viaja cerca de 60 km com essa energia, enquanto os veículos movidos à gasolina têm uma autonomia de 10 a 20 km. Esta maior autonomia ocorre porque os motores elétricos são quase quatro vezes mais eficientes do que os motores a combustão. As baterias de lítio-ion, usadas em telefones celulares, palmtops e notebooks, Termelétricas móveis. A conexão de veículos elétricos com a rede de energia apresenta um desafio especial, já que grandes quantidades de energia terão de fluir de maneira rápida em ambas as direções se a energia armazenam energia de alta performance três vezes mais do que as baterias convencionais de níquel-cádmio do mesmo peso. No entanto, uma bateria de € 10.000 de lítio-ion seria necessária para fornecer energia a um carro de passageiros que desenvolve 15 kW/h por 100 km. Quando houver produção em massa, os preços serão mais acessíveis. Pictures of the future – Primavera 2009 49 Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:24 AM Page 96 Inovações para novos mercados | Economizando energia nos EUA Futuro promissor para a energia eólica A geração de energia eólica é uma tecnologia relativamente nova. Foi somente em 1979 que a primeira turbina eólica – produzindo 22 quilowatts – entrou em serviço na Dinamarca. Atualmente, essas unidades de geração com emissão zero de CO2 produzem mais de 100 vezes aquela energia, além de alcançar eficiência máxima de 45%. Por isso, ninguém deve ficar surpreso que o negócio de turbinas eólicas esteja em franca expansão, especialmente com a ameaça das mudanças climáticas e a escassez geral de recursos pela qual passa o mundo. A energia do vento também está se tornando com 2008, a empresa obteve contratos para instalação de 1.500 MW de produção. Os pedidos incluem 130 unidades, cada uma com saída de 2,3 MW, para dois parques eólicos no Estado de Washington e 141 unidades do mesmo tamanho para o Complexo Eólico do Biglow Canyon, no Oregon. A saída total dessas unidades combinadas é suficiente para abastecer 180.000 lares norte-americanos com eletricidade que respeita o meio ambiente. Em setembro de 2007, a Siemens iniciou as atividades da primeira fábrica de pás para rotor, em Fort Madison, no estado de Iowa, a fim de Água limpa para cidades em crescimento A s estações de tratamento de água necessitam filtrar uma variedade de substâncias da água suja, inclusive germes, toxinas relacionadas à agricultura e metais pesados, como o chumbo. Um dos procedimentos mais eficazes no tratamento da água, e que dispensa o uso de aditivos químicos, envolve o uso de filtros de membrana que estão sendo desenvolvidos nos EUA. As fibras muito finas dos filtros retêm vírus, bactérias e pequenas partículas quando a água poluída passa por eles a alta pressão. Filtros de membrana: água limpa, sem produtos químicos Nos EUA, a Siemens fabrica pás de rotor e instalou turbinas com um total de produção de mais de 2.700 MW. rapidez mais popular nos EUA – inclusive porque o novo governo do país estabeleceu para si o objetivo de aumentar sua parcela de fontes de energia renovável na rede de eletricidade dos EUA até 2025. Em comparação, a parcela de eletricidade de tais fontes foi de somente 2,5% em 2007, segundo a Administração de Informações de Energia dos EUA. Não obstante, as condições necessárias para essa enorme mudança estão em vigor. Os EUA já são o maior mercado do mundo de energia eólica – e a Siemens é uma das principais fornecedoras desse mercado. A Siemens instalou mais de 2.700 megawatts (MW) nos EUA até hoje; só no exercício de 50 Pictures of the future – Primavera 2009 atender a demanda crescente do país por energia eólica. Desde então, a fábrica vem produzindo cerca de 600 pás de rotor ao ano para o mercado dos EUA. Cada uma dessas pás tem 45 metros de comprimento e pesa 12 toneladas. A fábrica já atingiu o limite de sua capacidade de produção, que deverá ser duplicada. Recentemente, a Siemens também comissionou a construção de um novo centro de pesquisa e desenvolvimento em Boulder, no Colorado. O trabalho de centro focará na melhoria da aerodinâmica, propriedades estáticas e confiabilidade das turbinas eólicas da Siemens, consolidando ainda mais a liderança da empresa no setor de energia eólica nos EUA. Sw Ocupando o primeiro lugar em instalações de tratamento de água e águas servidas nos EUA, a Siemens já instalou naquele país mais de 1.650 sistemas de membrana. Um desses sistemas pode ser visto em Waxahachie, no Texas. Enfrentando o crescimento rápido da população, a cidade inaugurou recentemente uma estação de tratamento de água contendo quatro unidades de filtragem da Siemens. A instalação processa 77,6 milhões de litros de água por dia, com planos de aumentar para mais de 300 milhões de litros por dia nas próximas décadas. Outra cidade que se prepara para um crescimento projetado com a tecnologia da Siemens é Scotsdale, no Arizona. Ali, a Siemens expandiu a instalação de tratamento de água e a equipou com tecnologia de membrana. A estação agora purifica 190 milhões de litros de água por dia, em comparação com sua capacidade diária anterior de 76,5 milhões de litros. Devido ao seu projeto modular, os filtros de água da Siemens podem ser usados em escalas muito pequenas também. Um exemplo disso é a solução portátil de tratamento de água conhecida como SkyHydrant, que purifica 10.000 litros de água potável por dia. O sistema é usado principalmente em áreas onde as pessoas não têm acesso à água potável limpa – como em partes do Quênia, em regiões da China e em Bangladesh, que foram Sw devastadas por desastres naturais. Port TERCEIRA PARTE A.qxd:PoF 023-026.qxd 10/27/09 10:24 AM Page 97 Edifícios verdes economizam muito dinheiro O s edifícios são responsáveis por cerca de 40% de todo o consumo de energia no mundo e seu consumo de energia e calor é responsável por aproximadamente 21% de todas as emissões de gases de efeito estufa. A moderna tecnologia, porém, caminha para mudar esse panorama, reduzindo o consumo de energia em cerca de 30% – sem sacrificar o conforto. Até agora, a Siemens, uma das empresas líderes nessa área, usou suas soluções de energia eficiente e que respeitam o meio ambiente para otimizar mais de 6.500 edifícios em todo o mundo, conseguindo economias totais de energia de cerca de € 2 bilhões, com redução de 1,2 milhão de toneladas de emissões anuais de CO2. A maioria desses edifícios está no EUA. Em um deles, o Centro de Saúde St. Elizabeth, em Youngstown, Ohio, os sistemas eficientes de ventilação e iluminação estão fornecendo uma atmosfera que leva ao bem-estar desde 2002. O hospital também cobre a maior parte de suas necessidades de energia por meio de uma usina especial de incineração de resíduos. Nos primeiros quatro anos, os ope- radores do hospital economizaram mais de US$ 5 milhões em custos de energia, o que os levou a receberem, juntamente com a Siemens, em 2006, o Prêmio “Excelência em Energia”, um reconhecimento conferido pelo Governador daquele Estado. Em Las Vegas, Nevada, a Siemens está equipando um gigantesco empreendimento imobiliário com tecnologia que beneficia o meio ambiente. A cadeia de hotéis MGM Mirage está construindo o City Center, um complexo com 5.500 quartos, teatro, centro de conferências, shopping center e até sua própria termelétrica. Quando esta “cidade dentro da cidade” se abrir, as instalações combinadas de calor e energia da Siemens, os sistemas de iluminação, de tratamento de água e de automação e motores – como compressores para sistemas de ar condicionado – garantirão uma estadia confortável para os visitantes, como também atenderão às rigorosas exigências de eficiência do Conselho de Edifícios Ecológicos dos EUA (U.S. Green Building Council), uma organização dedicada à sustentabilidade. A Siemens também desempenha um pa- O St. Elizabeth economiza mais de um milhão de dólares por ano. pel-chave em outro empreendimento, em Houston, Texas, onde a prefeitura local vai modernizar seus prédios públicos. O planejamento desse empreendimento de várias fases exige que a Siemens analise inicialmente o potencial de otimização das 271 estruturas em questão e determine quais soluções poderão ser empregadas para atualizá-las. O projeto também poderá gerar enormes economias. Os especialistas esperam não só benefícios para o meio ambiente, mas também reduções de custos da ordem de vários milhões de dólares. Sw Conjugando transporte público e orientação de tráfego Um em cada três bondes e sistemas leves sobre trilhos da América do Norte é da Siemens. Esses sistemas ajudam a melhorar o trânsito e reduzir as emissões de CO2. O transporte é responsável por aproximadamente 14% das emissões anuais de gases de efeito estufa – e uma considerável parte delas é causada pelos congestionamentos no trânsito. Só nos EUA, eles geram aproximadamente 25 milhões de toneladas métricas de emissões de dióxido de carbono por ano. As soluções avançadas de transporte propiciam um alívio – e a Divisão Mobility da Siemens é uma das líderes de mercado em matéria de soluções, nos EUA. Ao longo dos últimos anos, a empresa tem demonstrado os benefícios oferecidos por redes locais de transporte público – e hoje, um em cada três bondes e sistemas leves sobre trilhos na América do Norte é construído pela Siemens. Em Los Angeles, San Diego, Houston e Denver esses sistemas ajudam a tirar os automóveis das ruas e ao mesmo tempo reduzir o ônus sobre o meio ambiente. No entanto, eles representam uma de várias opções disponíveis para reduzir de maneira significativa o trânsito nas ruas e estradas. O objetivo de longo prazo da Divisão Mobility é reunir e utilizar eficazmente todas as informações relacionadas ao tráfego. O primeiro passo aqui já foi tomado, com uma em cada seis cidades nos EUA utilizando o sistema de orientação de tráfego da Siemens. No futuro, os transportes por carro e trem serão alinhados de maneira mais eficaz um com o outro mediante o uso de soluções adicionais, como sistemas de informações sobre transporte público. Tudo isso ajudará a reduzir Sw ainda mais as emissões de CO2. Pictures of the future – Primavera 2009 51 10/27/09 10:16 AM Page 1 Pictures of the Future / Primavera 2009 CAPA VERSO.qxd:PoF Titel_1_2007_end.qxd www.siemens.com/pof Pictures of the Future A Revista de Pesquisa e Inovação | Primavera 2009 www.siemens.com/pof Publisher: Siemens AG Corporate Communications (CC) and Corporate Technology (CT) Wittelsbacherplatz 2, 80333 Munich Contato com o publisher: Dr. Ulrich Eberl (CC), Arthur F. Pease (CT) [email protected] (Tel. +49 89 636 33246) [email protected] (Tel. +49 89 636 48824) Escritório Editorial: Dr. Ulrich Eberl (ue) (Edito Chefe) Arthur F. Pease (afp) (Editor Executivo, Edição em Inglês) Florian Martini (fm) (Editor) Sebastian Webel (sw) Outros autores neste número: Dr. Norbert Aschenbrenner (na), Bernhard Bartsch, Christian Buck, Anette Freise, Andrea Hoferichter, Ute Kehse, Andreas Kleinschmidt, Friederike von der Kuhlen (fk), Klaudia Kunze, Stephanie Lackerschmid, Dr. Michael Lang, Katrin Nikolaus, Bernd Müller, Dr. Brigitte Röthlein, Dr. Jeanne Rubner, Kirstin Schliekau, Tim Schröder, Rolf Sterbak, Dr. Sylvia Trage, Dra. Evdoxia Tsakiridou, Thomas Veser, Julia Wetjen, Nikola Wohllaib Pictures of the Future, Acuson, MicroScan Walkway, LabPro, Dulux e outros nomes são marcas registradas da Siemens AG ou empresas afiliadas. Outros produtos e nomes de empresas mencionados nesta publicação podem ser marcas registradas de suas respectivas empresas. Nem todos os produtos médicos mencionados nesta edição estão disponíveis comercialmente nos Estados Unidos. Alguns são equipamentos em análise ou estão sob desenvolvimento e precisam ser aprovados ou revistos pelo FDA e sua disponibilidade futura nos EUA não pode ser assegurada. O conteúdo editorial contido nas reportagens desta publicação não necessariamente reflete a opinião do publisher. Esta revista contém afirmações baseadas em perspectivas futuras e sua precisão não pode ser assegurada pela Siemens. Pictures of the Future é publicada duas vezes por ano. A reprodução de artigos, integral ou em partes, depende de permissão da redação. Isso também se aplica à disposição em base de dados eletrônica ou na Internet. Edição em português: Comunicação Corporativa (CC) da Siemens no Brasil Revisão e edição de texto: LetraDelta Editora e Comunicação Editoração: 2:d Comunicação e design Impresso no Brasil pela Margraf Editora e Indústrias Gráficas Ltda. Tiragem desta edição: 3 mil exemplares Este impresso foi produzido pela MARGRAF, com papel oriundo de floresta certificada e outras fontes controladas, o que demonstra nossa preocupação e responsabilidade com o meio ambiente. © 2009 by Siemens AG. Todos os direitos reservados. Siemens Aktiengesellschaft Número do pedido: A19100-F-P132-X-7600 ISSN 1618-5498 Planejamento do Ciclo de Vida / Vigias Digitais / Inovações para Novos Mercados Edição de fotos: Judith Egelhof, Irene Kern, Jürgen Winzeck, Publicis Publishing, Munich Fotos: Patrick Barth, Kurt Bauer, Daniel Gebhart, Jan Greune, Simon Katzer, Thomas Klink, George Moore, Uwe Mühlhäusser, Bernd Müller, Volker Steger, Jürgen Winzeck Internet (www.siemens.com/pof): Volkmar Dimpfl Informações Históricas: Dr. Frank Wittendorfer, Siemens Corporate Archives Endereço de Base de Dados: Susan Süß, Publicis Erlangen Layout / Litografia: Rigobert Ratschke, Büro Seufferle, Stuttgart Ilustrações: Natascha Römer, Weinstadt Gráficos: Jochen Haller, Büro Seufferle, Stuttgart Planejamento do ciclo de vida do produto Produtos que utilizam menos recursos, das matérias-primas à reciclagem Vigias digitais Inovações que melhoram a segurança, dos detectores inteligentes aos RFIDs Soluções acessíveis Tecnologias robustas, eficientes em termos de energia, para os mercados em desenvolvimento