PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA Diogo Tubertini Maciel ESTUDO DOS PROCESSOS DE ROSCAMENTO POR LAMINAÇÃO E USINAGEM NA LIGA DE TITÂNIO TI-6AL-4V São João del-Rei, 2013 Diogo Tubertini Maciel ESTUDO DOS PROCESSOS DE ROSCAMENTO POR LAMINAÇÃO E USINAGEM NA LIGA DE TITÂNIO TI-6AL-4V Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Universidade Federal de São João del-Rei como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica Área de Concentração: Materiais e Processos de Fabricação Orientador: Prof. Dr. Lincoln Cardoso Brandão São João del-Rei, 2013 Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processamento Técnico da Divisão de Biblioteca da UFSJ M152e Maciel, Diogo Tubertini Estudo dos processos de roscamento por laminação e usinagem na liga de titânio Ti-6AI4V[manuscrito] / Diogo Tubertini Maciel . – 2013. 82f. ; il. Orientador: Lincoln Cardoso Brandão Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de São João del-Rei. Departamento de Engenharia Mecânica. Referências: f. 83-89. 1. Ligas de titânio - Teses. 2. Roscas – engenharia mecânica - Teses. 3. Titânio – ligas Teses. I. Brandão, Lincoln Cardoso (orientador) II. Universidade Federal de São João Del- Rei. Departamento de Engenharia Mecânica. III. Título PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ESTUDO DOS PROCESSOS DE ROSCAMENTO POR LAMINAÇÃO E USINAGEM NA LIGA DE TITÂNIO TI-6AL-4V São João del-Rei, 18 de março de 2013 Dedico este trabalho aos meus pais, Jorge e Celeida, à minha esposa Eliza e à minha família. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, primeiramente, pois a ele todo poder e toda glória, por estar sempre presente em minha vida e pela capacidade de sempre buscar novos conhecimentos. Aos meus eternos professores, Jorge Alberto Maciel e Jorge Maciel, por todo conhecimento transmitido ao professor. À minha mãe, Celeida. Sem você, isto não seria possível. Ao professor Dr. Lincoln Cardoso Brandão, pela oportunidade e paciência e todo conhecimento adquirido. Serei sempre grato a você. Aos professores e amigos da UFSJ, por todo ensinamento e aprendizado ao longo destes anos. Em especial, ao Camilo, Monica, Alessandra e professor Dr. Frederico. À minha amada esposa Eliza, pela paciência, carinho, incentivo, apoio e compreensão em todos os momentos deste trabalho. Ao meu irmão Rodrigo, pelo apoio e incentivo ao longo deste percurso. O meu muito obrigado! A todos os meus familiares, que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho. Ao amigo Sergio, pelo apoio, ajuda e ensinamentos. Muito obrigado! Sem você, este trabalho não seria o mesmo. Agradeço muito aos meus colegas de Mestrado. Foi muito bom este caminho e crescimento junto com todos vocês, em especial aos amigos Caíque, Sandro Silva, Everaldo, Everton, Vinícius, Rodrigo Borba, Alessandro e Bonato. A Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – FAPEMIG pelo apoio financeiro no projeto de pesquisa APQ-04467-10. Enfim, agradeço a todos que, de alguma forma, contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste sonho. Resumo MACIEL, D.T. Estudo dos processos de roscamento por laminação e usinagem de rosca na liga de Titânio Ti-6Al-4V. 2013. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de São João del-Rei, São João del-Rei, 2013. Este estudo identifica os processos de roscamento externo, usinagem e laminação, suas variáveis de influência, melhor método de fabricação, limitações de processo, análise de dureza e perfil de rosca. O foco se deu na laminação de roscas, na liga Titânio Ti-6Al-4V, por meio de sistema de cabeçote axial três rolos acoplado diretamente à máquina. A liga selecionada tem grande utilização na área médica, odontológica e aeroespacial. O estudo foi executado por meio de ensaio experimental em corpo de prova com rosca métrica M12 x 1,5mm e utilizada a ANOVA para comparação dos resultados. O estudo mostrou que, para uma boa formação da rosca, são necessárias velocidades específicas de deformação que garantam a inércia de deformação devido ao alto índice de reposição elástica demonstrado pelo processo de laminação e usinagem. O comportamento dos veios de fabricação do material se comportou como previsto e pode ser demonstrado por meio de ensaio de dureza e micrografia, onde ocorreu adensamento dos veios à base da crista. Palavras-Chave: Roscamento por Conformação, Laminação de Rosca, Liga Ti-6Al-4V, Rosca em Titânio. Abstract MACIEL, D.T. Study of the tapping processes by forming and machining in the Titanium Ti-6Al-4V alloy. 2013. M.Sc. Thesis (Thesis) – Federal University of São João del-Rei, São João del-Rei, 2013. The tapping of titanium alloys is a subject of great interest to researchers/scientists in academia and industry, especially in the aerospace and biomechanics sector. Nowadays, almost all industrial products have threaded parts. Threads are manufactured to join mechanical components, facilitating assembly and disassembly. In some cases, threads are responsible for transmitting movement with accuracy and efficiency. This study examined external tapping processes by machining and forming, their variables of influence, the best methods for the manufacturing processes, the gaps of the processes, and it compared the hardness of the thread profiles. The main focus was the forming of Ti-6Al-4V titanium alloy threads using an axial head with 3 rollers mounted directly on the machine tool. The use of the selected alloy is widespread in the medical, dental and aerospace industries. The study was carried out using work pieces with metric thread M12x1,5 mm and employed analysis of variance to compare results. The study showed that for a good forming of the thread specific velocities are needed, guaranteeing the inertia of deformation. This occurred due to the high elastic recovery rate that was observed in the forming and machining processes. The behavior of the grains of the material was proven to be differentiated being verified in the tests of hardness and micrograph that occurred the hardening of grains in the base of the thread. Key-words: Forming tapping, Threads, Ti-6Al-4V Titanium alloy, Hardening. Lista de Figuras Figura 2-1- Esquema representativo da alotropia do titânio. .............................................. 7 Figura 2-2 - Diagrama de fase do titânio e do oxigênio. ........................................................ 9 Figura 2-3 - Diagrama de fases do titânio. ........................................................................... 11 Figura 2-4 - Composição das ligas de titânio. ...................................................................... 12 Figura 2-5 - Diagrama de fases parcial da liga Ti-6Al-4V. ................................................. 15 Figura 2-6 - Interação entre o titânio e os fluidos corporais. ............................................. 17 Figura 2-7 - Formação da camada de dióxido de titânio e hidroxiapatita sobre biomaterial à base de titânio. ................................................................................................. 18 Figura 2-8 - Movimentos relativos entre a peça e ferramenta. .......................................... 19 Figura 2-9 - Torneamento de superfícies cilíndricas externas e internas. ......................... 20 Figura 2-10 - Torneamento de superfícies cônicas externas e internas. ............................ 20 Figura 2-11 - Roscar superfícies externas e internas........................................................... 20 Figura 2-12 - Perfilar superfícies. ......................................................................................... 20 Figura 2-13 - Sistema de fresamento..................................................................................... 21 Figura 2-14 - Exemplo de rosca externa. .............................................................................. 22 Figura 2-15 - Porca e Parafuso. ............................................................................................. 23 Figura 2-16 - Tipos de filetes e aplicação. ............................................................................. 23 Figura 2-17 - Dimensões básicas da rosca ISO. ................................................................... 24 Figura 2-18 - Demonstrativo de jogo de macho manual. .................................................... 25 Figura 2-19 - Demonstração de filetes do jogo de macho três peças. ................................. 25 Figura 2-20 - Tipos de macho máquina. ............................................................................... 26 Figura 2-21 - Detalhe do processo de fresamento de roscas: (a) Fresamento com aresta monocortante, (b) Fresamento com arestas multicortante e (c) Fresamento com ferramenta circular helicoidal. .............................................................................................. 27 Figura 2-22 - Processo de roscamento externo. ................................................................... 27 Figura 2-23 - Cossinete ou tarraxa com sistema fechado.................................................... 28 Figura 2-24 - Cossinete ou tarraxa com sistema de regulagem da folga; ou seja, aberto. .................................................................................................................................................. 28 Figura 2-25 - Porta-cossinete ou desandador. ...................................................................... 29 Figura 2-26 - Cossinete manual bipartido. ........................................................................... 29 Figura 2-27 - Cabeçote de pentes expansível. ...................................................................... 30 Figura 2-28 - Mudanças na microestrutura causadas pela laminação. ............................ 31 Figura 2-29 - Exemplos de Machos Laminadores. .............................................................. 31 Figura 2-30 - Tipos de sistemas de laminação de rosca em máquinas operatrizes. ......... 33 Figura 2-31 - Laminação de roscas com encosto plano. ..................................................... 34 Figura 2-32 - Máquina laminadora de rosca. ...................................................................... 35 Figura 2-33 - Laminação de roscas com um cilindro de roscamento e um segmento de apoio. ....................................................................................................................................... 35 Figura 3-1 - Microestrutura da liga Ti-6Al-4V (MEV com ampliação de 250x).............. 38 Figura 3-2 - Torno CNC sinitron BNC 2260X. ................................................................... 39 Figura 3-3 - Suporte e inserto intercambiável fixado na torre da máquina. .................... 39 Figura 3-4 - Cabeçote Laminador Fette modelo F2. ........................................................... 40 Figura 3-5 - Micrômetro Externo Digimess com intervalo de medição de 0-25mm. ....... 40 Figura 3-6 - Sistema de medição ótico. ................................................................................. 40 Figura 3-7 - Microscópio eletrônico de varredura HITACHI modelo TM3000. ............. 41 Figura 3-8 - Microscópio ótico Olympus.............................................................................. 41 Figura 3-9 - Microdurômetro................................................................................................ 42 Figura 3-10 - Demonstrativo de corpo de prova. ................................................................ 42 Figura 3-11 - Comando Fanuc 0i. ......................................................................................... 43 Figura 3-12 - Detalhe do processo de roscamento por usinagem. ..................................... 44 Figura 3-13 - Sistema de laminação de rosca axial. ............................................................ 45 Figura 3-14 - Detalhe da medição da altura do filete.......................................................... 46 Figura 3-15 - Esquema da medição no início, meio e fim das roscas. ............................... 47 Figura 3-16 - Modelo Geral de um processo ou sistema. .................................................... 48 Figura 3-17 - Espaço 3-Dimensional do Planejamento Experimental. Alguns DOE são muito bem estruturados, enquanto outros são apenas uma nuvem de pontos. A escolha do método estatístico depende do número de amostras e do tipo de investigação. .......... 53 Figura 3-18 - Posição de medição da microdureza. ............................................................ 55 Figura 4-1 - Resíduos para a média do diâmetro interno do perfil de rosca conformado: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. ........................................................................................ 58 Figura 4-2 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para o diâmetro do perfil de rosca conformado. .................................................................................................................. 59 Figura 4-3 - Interação para a variável resposta diâmetro do perfil da rosca conformado. .................................................................................................................................................. 61 Figura 4-4 - Resíduos para a média do diâmetro do perfil de rosca conformado: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. ........................................................................................ 63 Figura 4-5 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para o diâmetro do perfil de rosca conformado. .................................................................................................................. 64 Figura 4-6 - Efeito principal do fator velocidade de deformação ...................................... 64 Figura 4-7 - Efeito principal do fator posição de medição .................................................. 65 Figura 4-8 - Efeito principal do fator diâmetro sobre altura do filete H. ......................... 66 Figura 4-9 - Resíduos para a média do diâmetro externo do perfil de rosca usinada: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. ........................................................................................ 68 Figura 4-10 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para validação do modelo da análise de variância – diâmetro externo do perfil usinado. ................................................ 68 Figura 4-11 - Efeito principal do fator velocidade de usinagem sobre o diâmetro externo do perfil de rosca usinado. ..................................................................................................... 69 Figura 4-12 - Gráfico de efeito principal do fator experimental posição de medição. ..... 69 Figura 4-13 - Resíduos para a média da altura do filete H rosca usinada: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. ........................................................................................ 71 Figura 4-14 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para validação do modelo da análise de variância – altura do filete H rosca usinada. ...................................................... 71 Figura 4-15 - Efeitos principais da velocidade de corte sobre a média ............................. 72 Figura 4-16 - Resíduos para a média do diâmetro do perfil de rosca conformado: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. ........................................................................................ 73 Figura 4-17 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para validação do modelo da análise de variância – microindentação rosca conformada. ............................................... 74 Figura 4-18 - Interação velocidade de deformação x diâmetro inicial para a média da microindentação. .................................................................................................................... 75 Figura 4-19 - Interação velocidade de deformação x posição de medição para a média das microindentações. ............................................................................................................ 76 Figura 4-20 - Resíduos para a média do diâmetro do perfil de rosca conformado: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. ........................................................................................ 77 Figura 4-21 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para validação do modelo da análise de variância – microindentação rosca usinada. ...................................................... 78 Figura 4-22 - Efeito principal da posição de medição sobre a média das microdurezas. 79 Figura 4-23 - Fotografia de microscópio ótico amostra conformada. ............................... 80 Figura 4-24 - Fotografia de microscópio ótico amostra usinada. ...................................... 80 Lista de Tabelas Tabela 2-1 - Propriedades físicas e químicas do titânio. ....................................................... 7 Tabela 2-2 - Teores da composição do Ti pela norma ASTM F67. .................................... 10 Tabela 2-3 - Classificação ASTM do titânio e suas ligas. .................................................... 14 Tabela 2-4 - Composição química da liga Ti-6Al-4V. ......................................................... 16 Tabela 3-1 - Dimensões básicas para rosca M12. ................................................................ 37 Tabela 3-2 - Composição química da Liga Ti-6Al-4V utilizada nos experimentos. ......... 38 Tabela 3-3 - Parâmetros experimentais do processo de roscamento por usinagem. ........ 44 Tabela 3-4 - Dimensões para laminação de rosca M12. ...................................................... 45 Tabela 3-5 - Parâmetros experimentais do processo de roscamento por conformação. .. 46 Tabela 3-6 - Arranjo experimental do planejamento fatorial completo 3³ para o processo de roscamento por conformação. .......................................................................................... 51 Tabela 3-7 - Arranjo experimental do planejamento fatorial completo 3² para o processo de roscamento por usinagem. ................................................................................................ 52 Tabela 3-8 - Parâmetros para microindentação. ................................................................. 54 Tabela 3-9 - Parâmetros para microindentação para o processo de roscamento por usinagem. ................................................................................................................................. 55 Tabela 4-1 - Dados de medição rosca conformada. ............................................................. 57 Tabela 4-2 - Análise de variância para o diâmetro do perfil de rosca conformado. ........ 60 Tabela 4-3 - Análise de variância para a altura do filete H. ............................................... 62 Tabela 4-4 - Dados de medição rosca usinada. .................................................................... 66 Tabela 4-5 - Análise de variância para o diâmetro externo do perfil de rosca usinado. .. 67 Tabela 4-6 - Análise de variância para a altura do filete H. ............................................... 70 Tabela 4-7 - Análise de variância para a média das microindentações. ............................ 73 Tabela 4-8 - Análise de variância para a média das microindentações. ............................ 77 Lista de Abreviaturas e Siglas ABNT = Associação Brasileira de Normas Técnicas Adm = Adimensional AISI = American Iron and Steel Institute (Instituto Americano de Ferro e Aço) ANOVA = Análise de Variância ap = Profundidade de usinagem da ferramenta [mm] d1 = Diâmetro interno da rosca [mm] d2 = Diâmetro da haste de fixação [mm] DOE = Design of Experiment (Delineamento de Experimento) HB = Dureza Rockell na escala B ISO = International Organization for Standardization (Organização Internacional para Padronização) MEV = Microscópio Eletrônico de Varredura P-valor = Probabilidade que a amostra pode ser retirada de uma população Sumário CAPÍTULO 1 .................................................................................................................... 1 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1 CAPÍTULO 2 .................................................................................................................... 5 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 5 2.1 Titânio ...................................................................................................................... 5 2.1.1 Histórico ........................................................................................................ 5 2.1.2 Microestrutura ............................................................................................... 6 2.1.3 Titânio comercialmente puro ........................................................................ 9 2.1.4 Ligas de titânio ............................................................................................ 10 2.1.5 Ti-6Al-4V .................................................................................................... 15 2.1.6 Propriedades e aplicações do titânio e suas ligas ........................................ 17 2.2 Fabricação mecânica .............................................................................................. 18 2.2.1 Torneamento................................................................................................ 19 2.2.2 Fresamento .................................................................................................. 20 2.3 Processos de roscamento ........................................................................................ 21 2.3.1 Roscas.......................................................................................................... 22 2.3.2 Nomenclatura e dimensionamento de roscas .............................................. 24 2.3.3 Usinagem de roscas ..................................................................................... 25 2.3.4 Laminação de roscas ................................................................................... 30 CAPÍTULO 3 .................................................................................................................. 37 3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 37 3.1 A rosca.................................................................................................................... 37 3.2 O Material .............................................................................................................. 38 3.3 Máquinas e Equipamentos ..................................................................................... 38 3.4 Corpo de Prova ....................................................................................................... 42 3.5 Descritivo ............................................................................................................... 43 3.6 Experimento ........................................................................................................... 47 CAPÍTULO 4 .................................................................................................................. 57 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 57 4.1 Roscamento por conformação ................................................................................ 57 4.1.1 Diâmetro do Perfil de rosca conformada..................................................... 58 4.1.2 Diferença de altura do filete de rosca (H) ................................................... 62 4.2 Roscamento por usinagem ..................................................................................... 66 4.2.1 Diâmetro externo do Perfil de rosca usinado .............................................. 66 4.2.2 Altura do filete H ........................................................................................ 70 4.3 Microindentação no roscamento por conformação................................................ 72 4.4 Microindentação no roscamento por usinagem ..................................................... 76 4.5 Análise da microestrutura ...................................................................................... 79 CAPÍTULO 5 ................................................................................................................. 81 5 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 81 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 83 1 CAPÍTULO 1 1 INTRODUÇÃO O roscamento das ligas de titânio é um tópico de grande interesse de pesquisadores/cientistas dos setores acadêmico e industrial, principalmente aqueles das áreas aeroespacial e biomecânica. Hoje, dificilmente, existe produto industrial que não tenha uma parte roscada. As roscas, em sua maioria, são fabricadas para unir componentes mecânicos, facilitando montagens e desmontagens. Em alguns casos, apresentam-se como responsáveis pela transmissão de movimentos com precisão e potência. O titânio e suas ligas são materiais não-ferrosos aplicados com frequência na produção de componentes de turbinas, tais como: eixos, discos e palhetas, e na fuselagem de aviões devido ao baixo peso, à elevada resistência mecânica e à excelente resistência à corrosão. As ligas de titânio são ainda utilizadas em ambientes onde as temperaturas podem variar de 600 ºC a abaixo de 0 ºC. Todas as ligas de materiais metálicos não-ferrosos têm enorme potencial para a produção de roscas usinadas e conformadas. Por isso, a elevada ductibilidade dessas ligas proporciona a produção de roscas conformadas com a mesma qualidade das roscas usinadas. A Ti-6Al-4V é a liga mais comum na indústria aeroespacial, em especial a aeronáutica, sendo também utilizada nas indústrias naval, petroquímica e química e na biomedicina. Em estruturas de fuselagem de avião, as ligas de titânio operam em temperaturas acima de 130 ºC, valor máximo para trabalhos das ligas de alumínio. Entretanto, outras características inerentes a ligas de titânio, tais como: tendência de reagir quimicamente com a maioria dos materiais de ferramentas de corte a temperaturas superiores a 500 ºC, formação de cavacos segmentados, grande tendência de encruamento durante a usinagem, baixo módulo de elasticidade e baixa condutividade térmica (37 e 86% menor que a condutividade térmica da liga de níquel Inconel 718 e aço AISI 1045, respectivamente), as caracterizam como sendo materiais de difícil corte ou de baixa usinabilidade (SILVA et al., 2004). A reduzida área de contato cavacoferramenta, o desenvolvimento de elevadas temperaturas de corte, as elevadas tensões na ponta da ferramenta e as elevadas forças durante a usinagem das ligas de titânio promovem a deformação plástica e/ou aceleram o desgaste da ferramenta. Diante desse cenário, as velocidades de corte têm que ser reduzidas. Em alguns casos, as ferramentas de corte 2 apresentam lascamento e/ou fratura súbita devido à tendência do titânio em soldar-se à ponta da ferramenta (EZUGWU; WANG, 1997). Devido à complexidade dos setores produtivos e considerando o número de estações de trabalho no chão de fábrica ou de processos específicos dentro de cada estação, a inserção de pequenas modificações em linhas de fabricação pode significar um aumento substancial de produção que influenciará de forma satisfatória a operacionalização dos custos (CARVALHO, 2011). Dentre as operações de roscamento das indústrias metal-mecânicas, pode-se distinguir duas grandes classes de trabalho com os metais: os processos de usinagem e os processos de conformação. As operações de usinagem conferem à peça a forma, ou dimensão, ou acabamento, com a remoção de cavaco, enquanto nos processos de conformação há a constância do material que passa por alterações em sua forma mediante a deformação plástica. Esse é um processo ainda pouco usado nas empresas que fabricam componentes roscados e executam essa operação na própria máquina operatriz. A laminação de roscas tem grande vantagem sobre processos similares devido ao fato de não produzir cavacos e, por isso, não necessitar de processos de reciclagem específicos. Entretanto, manuais específicos e conceitos técnicos com informações precisas sobre esse processo ainda são grandes lacunas para sua efetiva aplicação em todos os materiais utilizados em produtos manufaturados (CARVALHO, 2011). Durante o processo de roscamento, ocorrem dois fenômenos simultâneos: uma parte do material, interna ao filete de rosca, tenta retornar à sua condição inicial devido ao regime elástico durante a deformação; e outra parcela do material, mais externa, encrua, gerando um aumento da força de deformação durante o trabalho. Considerando que o material usinado é um material plástico perfeito, pode haver alguma deformação elástica envolvida no processo. A temperatura obtida na zona de fluxo e a alta taxa de tensão podem afetar o comportamento do material durante o corte devido aos elevados valores das taxas de tensão durante a usinagem, não existindo nenhum modo de testar um material sob tais condições, pois o comportamento fundamental do material é desconhecido. Entretanto, para a maioria dos materiais maleáveis durante o corte, pode se considerar uma deformação elástica, que sugere um contato da superfície usinada com a face lateral da ferramenta. Isso significa que a ferramenta precisa penetrar em uma profundidade específica dentro do material antes de começar a cortá-lo, ou seja, existe uma profundidade mínima que dependerá de muitos fatores, mas, principalmente, das propriedades do material. Para valores menores do que esse 3 mínimo, o material não cortará; será apenas deformado elasticamente (DA SILVA; SOUZA; DA SILVA, 2011). Desse modo, considerando todas as peculiaridades e dificuldades encontradas no roscamento de titânio, a conformação e a usinagem das ligas de titânio, em especial a liga Ti6Al-4V, devem possuir propriedades adicionais que venham satisfazer aos requisitos de resistência a elevadas temperaturas de corte, elevadas tensões e baixa tendência de reagir quimicamente com baixa taxa de desgaste aos cabeçotes laminadores. A escolha correta da atmosfera de usinagem, bem como as condições de laminação e usinagem compatíveis com a operação em questão são fatores que devem ser levados em conta. 4 5 CAPÍTULO 2 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Titânio 2.1.1 Histórico O titânio puro é o quarto metal estrutural mais abundante na litosfera, sendo encontrando em todas as rochas cristalinas. É considerado um importante elemento de liga em aços. No entanto, seu custo de extração é elevado devido à sua alta reatividade (NOORT, 1987). De acordo com Froes, Eylon e Bomberger (1985), a energia necessária para a obtenção de titânio puro é 16 vezes maior que a utilizada para a produção da mesma massa de aço e 1,7 vezes para a de alumínio, já que o titânio puro é um metal branco, brilhante e apresenta baixa densidade e boa ductilidade em estado sólido. O elemento titânio foi descoberto em 1791 pelo reverendo inglês William Gregor quando investigava a areia magnética (“menachanite”) existente em Menachan, na Cornualha, a qual denominou de “menachin”. Vários anos depois, o químico alemão M. H. Klaploth redescobriu o elemento, que supunha ser uma terra nova, no rutilo. Nomeou-o do latim Titans: o primeiro filho da terra e da mitologia grega, filho mitológico do Céu (Uranus) e da Terra (Gaia), personificações das forças da natureza. O metal na forma pura só foi produzido em 1910 por Matthew A. Hunter, aquecendo TiCl4 com sódio à temperatura de 700-800 ºC em ambiente com gás argônio. O TiO2 obtido pela reação do tetlacloreto de titânio (TiCl4) com água forma uma enorme quantidade de fumaça branca (BARSKDALE, 1997). Por isso, durante a Primeira Guerra Mundial, o dióxido de titânio (TiO2) foi utilizado como técnica de camuflagem e ficou conhecido como cortina de fumaça. As principais fontes minerais de titânio são a ilmenita (titanato de ferro), contendo de 50 a 70% de TiO2; os concentrados de leucoxeno (até 78% de TiO2); e o rutilo, que contém até 98% de TiO2 (FROES et al., 1985). As maiores reservas do mineral rutilo, uma das fontes mais viáveis para a obtenção de titânio, estão localizadas na costa leste da Austrália e em Serra Leoa. 6 2.1.2 Microestrutura O arranjo estrutural dos átomos está diretamente relacionado com as propriedades dos materiais. Alguns exemplos de arranjos podem ser citados: estruturas cristalinas, amorfas e moleculares. A estrutura molecular é constituída de moléculas que podem ser definidas como sendo um número limitado de átomos fortemente ligados entre si, mas de forma que as forças de atração entre um molécula e as demais sejam relativamente fracas. Esses agrupamentos atômicos, que são eletricamente neutros, agem como se fossem uma unidade, pois as atrações intramoleculares (geralmente ligações covalentes) são fortes, enquanto as intermoleculares são originadas por forças de Van der Waals (ligações fracas) (MAHAN, 1986). Muitos dos materiais de interesse estrutural em engenharia apresentam uma estrutura cristalina. Os metais, grande parte dos cerâmicos e certos polímeros cristalizam-se quando se solidificam. Já uma substância pode ser considerada cristalina quando os átomos que a constituem estão dispostos segundo um rede tridimensional bem definida e que se repete de forma tridimensional por uma grande distância. São sete os sistemas cristalinos que incluem todos as possíveis geometrias de divisão do espaço por superfícies planas contínuas. Destes, os de maior importância para os metais são o cúbico e o hexagonal. Os átomos podem ser agrupados dentro do sistema cúbico em três tipos de retículo: cúbico simples (CS), cúbico de corpo centrado (CCC) e cúbico de faces centradas (CFC). No sistema hexagonal, em dois diferentes tipos de retículos: hexagonal simples (HS) e hexagonal compacto (HC) (VAN VLACK, 1973). Uma das características que fazem do titânio um material interessante é a possibilidade de transformação alotrópica. O titânio puro apresenta estrutura cristalina hexagonal compacta (HC), denominada fase (α), em uma faixa de temperatura que se inicia na temperatura ambiente e vai até 882,5 ºC. Dessa temperatura até 1.672 ºC, o titânio exibe uma estrutura cúbica de corpo centrado (CCC), denominada fase β, conforme Figura 2-1. 7 Figura 2-1- Esquema representativo da alotropia do titânio. Fonte: Shackelford (2005). O estado de oxidação mais estável do titânio é +4, existindo compostos com valência +2 ou +3. Ele é classificado como um elemento de transição com o último nível eletrônico incompleto (1s² 2s² 2p6 3s² 3 p6 4s² 3d²), com grande afinidade atômica pelos elementos hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio, todos formadores de soluções sólidas intersticiais. Tabela 2-1 - Propriedades físicas e químicas do titânio. Propriedades Ti Número atômico 22 Peso atômico 47,90 Densidade a 20 ºC, g/cm³ 4,43 Volume atômico, cm³ 10,81 Ponto de fusão, ºC 1668 Ponto de ebulição, ºC 3260 Potencial de ionização, eV 6,83 Eletronegatividade 1,6 Potenciais padrões, εº, volts: M + 2H2O ↔ MO2 + 4H+ + 4e 0,86 M ↔ M4+ + 4e M ↔ M2+ + 2e 1,63 Raio iônico, M4+ 0,68 Raio metálico (coordenação 12) 1,47 Fonte: ASTM (1988). 8 O titânio é um elemento muito reativo a altas temperaturas, queimando na presença de oxigênio; por isso requer um atmosfera inerte para seu processamento. O oxigênio pode se difundir no titânio, fragilizando o metal. Com isso, pouco reativo em temperatura ambiente, o titânio aquecido sofre a ação dos elementos não-metálicos e forma compostos estáveis, rígidos e refratários, como o nitreto (TiN), o carbeto (TiC) e os boretos (TiB e TiB2). Devido ao fato de o seu diâmetro atômico ser muito pequeno, o hidrogênio apresenta elevada difusibilidade. Desse modo, é facilmente absorvido pelas estruturas cristalinas, inclusive em temperaturas baixas. O resfriamento lento de 400 ºC até a temperatura ambiente favorece a precipitação sob a forma de hidretos de titânio que reduzem significativamente a tenacidade e a ductilidade. A sua interação com o titânio gera uma simples transformação eutetoide de fase alfa + hidreto, formada diretamente da fase beta. Assim, um forte efeito estabilizador sobre o campo da fase beta resulta no decréscimo da temperatura de transformação da fase alfa para beta de 882 ºC para a temperatura eutetoide de 300 ºC. A presença de nitrogênio e oxigênio também provoca a redução na tenacidade, alterando as propriedades mecânicas do metal de transição. Em uma análise molecular, observa-se a formação de estruturas aciculares, conhecidas como estruturas de Widmanstätten. Essas estruturas são caracterizadas por um padrão geométrico resultante de uma nova fase formada em certo plano cristalográfico relativa à estrutura do sólido. A adição nitrogênio + oxigênio promove a estabilização da fase Ti-α e a formação de um peritético L+α → β. O carbono é outro elemento que favorece a redução da ductilidade e a tenacidade. Entretanto, em teores de até 0,3%, pode formar carbetos que resultam no aumento da resistência mecânica. O hidrogênio, o nitrogênio e o carbono têm grande solubilidade na estrutura hexagonal compacta (fase α) e na estrutura cúbica de corpo centrado (fase β). Esses elementos formam uma solução sólida intersticial com o titânio e ajudam a estabilizar a fase α (DONACHIE JR, 1988). Um diagrama de fase parcial de titânio e oxigênio é mostrado na Figura 2-2. O oxigênio permanece em solução sólida intersticial até o limite de solubilidade, aproximadamente 33% em peso. Desse modo, o metal apresenta uma única fase. 9 Figura 2-2 - Diagrama de fase do titânio e do oxigênio. Fonte: Codaro, Vilche e Guastaldi (1994). Os elementos de transição, tais como molibdênio, nióbio e vanádio, atuam como estabilizadores da fase β (ZHANG; HENRICH, 1992). Os elementos alumínio e ferro, por outro lado, são estabilizadores da fase α (NOORT, 1987; WORTHINGTON; LANG; LAVELLE, 1994). 2.1.3 Titânio comercialmente puro O titânio comercialmente puro é descrito como fisiologicamente inerte e toxicamente benigno. Trata-se, na realidade, de uma liga de titânio e oxigênio e apresenta teores de pureza que estão entre 98 e 99,5%. De acordo com a especificação britânica, para uso em implantes cirúrgicos, o conteúdo de oxigênio deve ser menor que 0,5%. Nessa forma, a liga tem estrutura hexagonal compacta em temperatura ambiente. Suas propriedades físicas podem variar de acordo com a quantidade de impurezas e de elementos residuais ao processo de purificação, tais como: oxigênio (O), ferro (Fe), nitrogênio (N), carbono (C) e hidrogênio (H) (PABLER; MANN, 1991). As impurezas determinam a classificação dos quatro tipos de titânio denominados comercialmente puros (WANG; FENTON, 1996). A Tabela 2-2 exibe a variação dos teores de nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, carbono e ferro pela norma ASTM F27. 10 Tabela 2-2 - Teores da composição do Ti pela norma ASTM F67. ASTM F67 – Composição máxima (%) p/p Categoria Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Max. Max. Max. Max. Elementos 0,015 Hidrogênio Nitrogênio 0,03 0,03 0,05 0,05 0,08 Carbono Oxigênio 0,18 0,25 0,35 0,4 Ferro 0,2 0,3 0,3 0,5 Titânio Balanço Fonte: ASTM (1988). Elementos como oxigênio, ferro, nitrogênio, carbono e hidrogênio têm maior solubilidade no sistema hexagonal compacto fase (α) do que no reticulado cúbico de corpo centrado da fase (β). Esses elementos adicionados ao titânio formam soluções sólidas intersticiais e ajudam a estabilizar a fase alfa. Entretanto, consideráveis mudanças em algumas propriedades mecânicas ocorrerão apesar das pequenas frações percentuais de O, Fe, N, C e H presentes no “titânio puro”. Isso porque esses elementos passam a ocupar áreas dentro do arranjo cristalino intersticial e causam desalojamento parcial dos átomos de titânio, reduzindo os eventuais deslizamentos dos átomos quando sujeitos a forças externas, aumentando, dessa forma, a resistência a possíveis deformações plásticas (WANG; FENTON, 1996). 2.1.4 Ligas de titânio A cinética de transformação de fases do titânio está diretamente relacionada às propriedades metalúrgicas e mecânicas do material. Para alterar a temperatura de transformação de fases, são adicionados ao titânio alguns elementos estabilizadores chamados alfa e beta, o que pode ser visualizado na Figura 2-3. Os elementos alfa estabilizadores, quando adicionados, aumentam a temperatura de transformação da fase α para β. Alguns desses elementos são o alumínio, o gálio e o estanho, e, geralmente, elementos intersticiais que não fazem parte do grupo de transição, como o hidrogênio, o carbono, o nitrogênio e o oxigênio. Por outro lado, os elementos estabilizadores beta diminuem a temperatura de 11 transição, como o vanádio, o molibdênio, o cromo, o cobre, o ferro, o nióbio e outros metais nobres. Assim, a manipulação das fases presentes por meio de adições de elementos de liga e de tratamentos termomecânicos constitui a base para o desenvolvimento de diversas ligas com diferentes propriedades (WEISS; SEMIATIN, 1998). As ligas de titânio em seu estado bruto de fusão exibem grãos beta (β), relativamente grandes, regiões com finas estruturas lamelares dentro dos grãos e, consequentemente, modestas propriedades mecânicas (MARKOVSKY, 1995). A aplicação de tratamentos térmicos rápidos reverte a estrutura das ligas de titânio, causando uma mudança no arranjo das fases dentro dos grãos beta; portanto, um aumento na resistência mecânica. A quebra da estrutura bruta de fusão por meio de tratamentos térmicos rápidos, e subsequente aumento de resistência mecânica, resulta na formação de martensita, proveniente de resfriamentos rápidos a partir do campo α + β. Manero, Gil e Planell (2000) afirmam que a transformação da martensita está diretamente ligada a diversas reações que dependem da estrutura martensítica e da composição química da liga. Figura 2-3 - Diagrama de fases do titânio. Fonte: Autoria Própria. Nas ligas de titânio, entre as regiões que compõem a fase α e a fase β, existe uma região bifásica chamada (α + β). As ligas são excelentes para aplicações a baixas temperaturas. Além disso, oferecem nível moderado de resistência mecânica, boa soldabilidade, tenacidade e resistência à fluência. São ligas não tratáveis termicamente e a morfologia da microestrutura 12 depende da taxa de resfriamento e da composição química. As ligas (α + β) são uma combinação de fases coexistindo em equilíbrio à temperatura ambiente. Essas ligas podem ter suas propriedades controladas por tratamentos térmicos, os quais são usados para o ajuste da microestrutura por meio da fase β. Essa fase pode ficar retida, transformar-se em estruturas martensíticas, αm, ou transformar-se alotropicamente em α. Figura 2-4 - Composição das ligas de titânio. Fonte: Autoria Própria. As ligas de titânio alfa são especialmente formadas por titânio puro e ligas com elementos estabilizadores α, que apresentam apenas fase α à temperatura ambiente. Essas ligas apresentam alta resistência à fluência e são adequadas para trabalhar a elevadas temperaturas, uma vez que as fases metaestáveis não se mantêm após o resfriamento a partir de altas temperaturas, não sendo possíveis grandes modificações na microestrutura e nas propriedades mecânicas quando tratamentos térmicos a altas temperaturas são realizados. Como a fase α não está sujeita à transição dúctil-frágil, essas ligas têm um bom comportamento para tratamentos a temperaturas muito baixas. Em relação às propriedades mecânicas e metalúrgicas, as ligas α exibem alto módulo de elasticidade, boa tenacidade à 13 fratura e baixa forjabilidade devido à estrutura cristalina do tipo hexagonal compacta (BALAZIC et al., 2007). As ligas de titânio beta são obtidas quando grande quantidade de elemento estabilizador-β é adicionada, diminuindo a temperatura de transformação alotrópica (transição α/β) do titânio. Ligas de titânio β são muito frágeis em temperaturas criogênicas e não são adequadas para aplicação em elevadas temperaturas por possuírem baixa resistência à fluência (BALAZIC et al., 2007). O desenvolvimento das ligas de titânio tem sido conduzido principalmente pelas indústrias aeroespaciais e militares devido à sua relação resistência/peso, resistência à corrosão e fadiga e a preservação das propriedades mecânicas em elevadas temperaturas. Ligas de titânio apresentam resistência comparável com as ligas de aço, e possuem apenas 60% do valor da densidade do aço inoxidável. A Tabela 2-3 apresenta algumas características do titânio e suas ligas. 14 Tabela 2-3 - Classificação ASTM do titânio e suas ligas. Fonte: Melo (2003). 15 2.1.5 Ti-6Al-4V A presença das fases α + β à temperatura ambiente nas ligas de titânio propicia propriedades mecânicas superiores em relação ao metal puro. Uma parcela de aproximadamente 70% da produção mundial das ligas de titânio está dirigida à confecção dessas ligas, em especial a liga Ti-6Al-4V, que reúne boas propriedades mecânicas e biocompatibilidade, abarcando enorme área de pesquisas e aplicações, particularmente nos setores aeroespaciais e médicos. Com a adição de pequenas quantidades de alumínio (Al) e vanádio (V) ao titânio puro, obtém-se um substancial aumento da resistência mecânica, principalmente a resistência à fratura, ao limite de escoamento, à dureza e ao alongamento. O alumínio é um estabilizador da fase α e o vanádio um estabilizador da fase β. Assim, em temperatura ambiente, uma estrutura bifásica de grãos de alfa e beta está presente (PARR; GARDNER; TOTH, 1985). A Figura 2-5 exibe um diagrama de fase parcial para o processo de formação da fase α e da fase β para a liga de Ti-6Al-4V. Observa-se que, até a concentração de aproximadamente 6,4% de alumínio, existem apenas as fases α e β. Figura 2-5 - Diagrama de fases parcial da liga Ti-6Al-4V. Fonte: Worthington (1994). A Norma ASTM F136 estabelece a faixa de concentração do Al, V, Fe e outros elementos para a liga Ti-6Al-4V, como apresentado na Tabela 2-4. 16 Tabela 2-4 - Composição química da liga Ti-6Al-4V. Fonte: ASTM (1988). A liga de Ti-6Al-4V apresenta grande similaridade com as ligas à base Ni-Cr e Co-Cr. Entretanto, a liga de titânio apresenta menor densidade, o que acarreta a redução do peso da peça protética e aumenta o conforto do portador (BAUER et al., 2006; THOMAS; LECHNER; MORI, 1997). Em relação ao titânio puro, a liga Ti-6Al-4V apresenta quase o dobro de resistência mecânica à tração e à dureza (AOKI et al., 2004). Inúmeros estudos demonstram o excelente desempenho mecânico dessa liga quando comparada ao titânio puro e a ligas experimentais, como os trabalhos de KOIKE et al., 2005; LIN JU; CHERN LIN, 2005; ROCHA et al., 2005; e KIKUCHI et al., 2003. Embora a liga Ti-6Al-4V seja muito utilizada, o óxido de vanádio e alumínio formado sobre a liga é considerado tóxico por muitos pesquisadores. Como esse óxido é termodinamicamente instável, há discussões sobre sua toxicidade quando presente no organismo. Segundo Okazaki e Gotoh (2005), ele pode irritar o sistema respiratório, chegando até mesmo a comprometer o funcionamento dos pulmões. Com o desgaste da liga no organismo, íons de vanádio e de alumínio podem ser liberados. Eles são apontados como elementos de alta toxicidade, sendo o alumínio associado ao mal de Alzheimer. Os íons também podem ocasionar descamação da mucosa do trato respiratório e ainda prejudicar a produção sanguínea. A exposição da liga por muito tempo 17 aos fluidos corpóreos reduz a resistência à corrosão e pode agravar os processos malignos ao redor do material implantado (FRIEDMAN; VERNAN, 1983). Após o implante dentário fabricado à base de titânio ser implantado no paciente, o material imediatamente reage com os fluidos corporais, que consistem em moléculas de água, íons dissolvidos e proteínas, como apresentado na Figura 2-6. Figura 2-6 - Interação entre o titânio e os fluidos corporais. Fonte: Balazic et al. (2007). 2.1.6 Propriedades e aplicações do titânio e suas ligas O titânio foi introduzido no campo médico no início dos anos 1940, com a publicação de um artigo por Boothe e Daventport (1942) sobre a reação do osso para múltiplos implantes metálicos. Eles implantaram vários metais (titânio, aço inoxidável e liga cromo-cobalto) no fêmur de ratos, não ocorrendo reação adversa significativa. Já o uso do titânio e suas ligas como biomaterial teve iníciou na década de 1950, substituindo os aços inoxidáveis, devido às suas excelentes propriedades mecânicas e à boa resistência à corrosão com produtos de corrosão inertes. Além disso, o titânio e suas ligas apresentam módulo de elasticidade de 110 GPa, o mais próximo ao osso (11 GPa) quando comparado com outros materiais. O interesse e a evolução da utilização de implantes para recuperação de indivíduos lesionados intensificou-se durante o período das grandes guerras mundiais, impulsionando as pesquisas de materiais biocompatíveis que implicaram a realização de testes em animais a partir de 1940. 18 O titânio é reconhecido como um dos materiais mais biocompatíveis devido à formação de uma camada de óxido de titânio estável em sua superfície. Essa camada é capaz de formar uma superfície rica em fosfato de cálcio, como apresentado na Figura 2-7, muito similar à hidroxiapatita (fosfato de cálcio cristalino), responsável também pela prevenção à corrosão. Todas essas características somadas tornam o Ti biocompatível. Figura 2-7 - Formação da camada de dióxido de titânio e hidroxiapatita sobre biomaterial à base de titânio. Fonte: Balazic et al. (2007). A característica de resistência à corrosão favorece o uso das ligas para fabricação de componentes navais, dutos e trocadores de calor para a indústria química nas plataformas de exploração petrolífera, entre outros. Em relação à/ao resistência/peso e à resistência a elevadas temperaturas, as ligas de titânio podem ser empregadas em componentes das turbinas e em partes estruturais das aeronaves e dos veículos de combate militares. 2.2 Fabricação mecânica Os processos de fabricação mecânica se baseiam em um princípio de produção dos mais antigos existentes, usado pelo homem desde a mais remota antiguidade, quando servia para a fabricação de vasilhas de cerâmica. Esse princípio serve-se da rotação da peça sobre seu próprio eixo para a produção de superfícies cilíndricas ou cônicas. Mas, apesar de muito antigo, pode-se dizer que ele só foi efetivamente usado para o trabalho de metais no começo deste século. A partir de então, tornou-se um dos processos mais completos de fabricação mecânica, uma vez que permite conseguir perfis cilíndricos e cônicos necessários aos produtos da indústria mecânica. 19 2.2.1 Torneamento Segundo o SENAI (CATTO, 2004), o processo de torneamento se baseia no movimento da peça em torno de seu próprio eixo. O torneamento é uma operação de usinagem que permite trabalhar peças cilíndricas movidas por um movimento uniforme de rotação em torno de um eixo fixo. São trabalhos executados com máquinas-ferramenta e acontecem mediante a retirada progressiva do cavaco da peça a ser trabalhada. Esse cavaco é cortado por uma ferramenta de um só gume cortante, que deve ter uma dureza superior à do material a ser cortado. No torneamento, a ferramenta penetra na peça, cujo movimento rotativo uniforme ao redor do seu eixo permite o corte contínuo e regular do material. A força necessária para retirar o cavaco é feita sobre a peça, enquanto a ferramenta, firmemente presa ao portaferramenta, contrabalança à reação dessa força. No processo de torneamento, são três os movimentos relativos entre a peça e a ferramenta (CATTO, 2004): Movimento de corte: é o movimento principal que permite cortar o material. O movimento é rotativo e realizado pelo eixo árvore onde é fixada a peça. Movimento de avanço: é o movimento que desloca a ferramenta ao longo da superfície da peça. Movimento de penetração: é o movimento que determina a profundidade de corte ao empurrar a ferramenta em direção ao interior da peça e, assim, regular a profundidade do passe e a espessura do cavaco. Figura 2-8 - Movimentos relativos entre a peça e ferramenta. Fonte: Catto (2004). 20 Variando os movimentos, a posição e o formato da ferramenta, é possível usinar várias formas em diferentes operações. Figura 2-9 - Torneamento de superfícies cilíndricas externas e internas. Fonte: Catto (2004). Figura 2-10 - Torneamento de superfícies cônicas externas e internas. Fonte: Catto (2004). Figura 2-11 - Roscar superfícies externas e internas. Fonte: Catto (2004). Figura 2-12 - Perfilar superfícies. Fonte: Catto (2004). 2.2.2 Fresamento Formas variadas é um fator que complica o processo de usinagem. Mas, devido às maquinas de fresamento, fresadoras, ferramentas e dispositivos especiais, é possível usinar vários tipos de superfícies e formatos de peça. 21 Segundo o SENAI (CATTO, 2004), o fresamento é um processo de usinagem mecânica, feito por fresadoras e ferramentas especiais, chamadas fresas. O fresamento consiste na retirada do excesso de metal ou sobremetal da superfície de uma peça, a fim de dar a esta uma forma e acabamento desejados. No fresamento, a remoção do sobremetal da peça é feita pela combinação de dois movimentos efetuados ao mesmo tempo. Um dos movimentos é o de rotação da ferramenta, a fresa. Outro é o movimento da mesa da máquina, na qual é fixada a peça a ser usinada. O movimento da mesa da máquina ou movimento de avanço que leva a peça até a fresa é que torna possível a operação de usinagem (Figura 2-13). Figura 2-13 - Sistema de fresamento. Fonte: Catto (2004). 2.3 Processos de roscamento A usinagem é um processo que está sempre na vanguarda do desenvolvimento tecnológico. A evolução e o desenvolvimento dos mais diversos tipos de produtos, como: peças de alta precisão, motores, estruturas metálicas e até microcomponentes, passam pelo processo de usinagem. Considerando a sua forma mais ampla, não existe na indústria moderna um dispositivo, por mais complexo que seja, que não tenha passado por um processo de usinagem. Entretanto, a usinagem não está apenas preparada para fazer máquinas funcionarem. O processo está a serviço também do funcionamento correto do corpo humano, seja por meio de próteses e implantes para substituir ossos e cartilagens, seja por meio de aparelhos que auxiliam as complexas cirurgias do coração. Devido à simplicidade que apresenta, o torneamento foi um dos primeiros processos modernos desenvolvidos pelo homem. Anteriores ao torneamento, processos como o 22 forjamento e a fundição apresentavam grande aplicação na fabricação de componentes industriais e de uso doméstico. Portanto, havia elevado domínio e conhecimento por parte dos artífices, porém a qualidade dos produtos era inferior à daqueles produzidos pelo torneamento. Dessa forma, seguindo uma linha evolutiva com pequena variação cronológica, processos como a furação, o fresamento e o roscamento surgiram praticamente simultâneos ao torneamento. Todos esses processos apresentam dinâmicas de trabalho variadas com parâmetros de processos específicos e que influenciam diretamente na qualidade dos produtos. Entretanto, esses processos têm em comum a classificação como processos com remoção de cavaco (CARVALHO, 2011). 2.3.1 Roscas Segundo Gordo e Ferreira (2000), é denominado rosca um conjunto de filetes em torno de uma superfície cilíndrica. Figura 2-14 - Exemplo de rosca externa. Fonte: Gordo e Ferreira (2000). As roscas podem ser internas ou externas. Exemplos clássicos seriam o parafuso e a porca. Essa diferença permite que elas se acoplem fixando algum item desejado. 23 Figura 2-15 - Porca e Parafuso. Fonte: Gordo e Ferreira (2000). Os tipos de roscas se alteram em seus perfis de filete e cada tipo é indicado para uma aplicação específica. Essa mesma rosca pode ter seus filetes direito ou esquerdo, sendo que, à direita, o aperto se dá no sentido horário e, à esquerda, no anti-horário. Figura 2-16 - Tipos de filetes e aplicação. Fonte: Gordo e Ferreira (2000). 24 2.3.2 Nomenclatura e dimensionamento de roscas Independente da sua aplicação, as roscas têm os mesmos elementos, variando apenas os formatos e as dimensões. Os símbolos utilizados, conforme a norma ABNT (2004), que especifica as dimensões básicas para rosca métrica ISO de uso geral, são: D - Diâmetro maior da rosca interna no perfil básico (diâmetro nominal); D - Diâmetro maior da rosca externa no perfil básico (diâmetro nominal); D1 - Diâmetro menor da rosca interna no perfil básico; d1 - Diâmetro maior da rosca externa no perfil básico; D2 - Diâmetro de flanco da rosca interna no perfil básico; d2 - Diâmetro de flanco da rosca externa no perfil básico; H - Altura do triângulo fundamental; e P - Passo Figura 2-17 - Dimensões básicas da rosca ISO. Fonte: ABNT (2004). Para o cálculo das dimensões básicas segundo a norma ABNT NBR 724 (2004), que especifica as dimensões básicas para A rosca métrica ISO de uso geral, seguem-se as seguintes equações: D2 = D – 2 x 3/8 H = D – 0,649 5*P d2 = d – 2 x 3/8 H = d – 0,649 5*P D1 = D – 2 x 5/8 H = D – 1,082 5*P d1 = d – 2 x 5/8 H = d – 1,082 5*P 25 2.3.3 Usinagem de roscas Os machos para roscar manualmente são geralmente mais curtos e apresentados em jogos de duas peças (para roscas finas) ou três peças (para roscas normais) com variações na entrada da rosca e no diâmetro efetivo. Figura 2-18 - Demonstrativo de jogo de macho manual. Fonte: Catto (2004). O primeiro tem a parte filetada (roscada) em forma de cone. O segundo tem os primeiros filetes em forma de cone e os restantes em forma de cilindro. O terceiro é todo cilíndrico na parte filetada. Os dois primeiros são para desbaste e o terceiro é para acabamento. Figura 2-19 - Demonstração de filetes do jogo de macho três peças. Fonte: Catto (2004). 26 Os machos para roscar à máquina são apresentados em uma peça e têm seu comprimento normalmente maior que o macho manual. Esses machos são caracterizados por: Sistema de rosca desejada. Ex.: Métrica, Whitworth. Aplicação (tipo de furo). Ex.: Passante, Cego. Passo medido pelo sistema. Ex.: Fios por pegada, distância de um filete ao outro. Diâmetro externo ou nominal e sua classificação de folga. Diâmetro da Haste. Sentido da Rosca. Os machos podem ser classificados quanto ao seu tipo de canal, ranhuras, sistema de refrigeração e tipo de usinagem. Figura 2-20 - Tipos de macho máquina. Fonte: Adaptado de Catto (2004). O fresamento por interpolação também é uma das formas de fabricação de roscas internas e externas. As ferramentas utilizadas podem já conter o passo e o comprimento da rosca desejado. Logo, o sistema permite a execução de todos os filetes da rosca com somente 27 uma volta. Ou seja, uma só passada da ferramenta (Figura 2-21c) de aresta única ou monocortante (Figura 2-21a) também executa o movimento por interpolação. Porém, é necessário o avanço, conforme o passo da rosca desejado, e um número de voltas ou passos maior do que um. Para roscas internas, o diâmetro da fresa sempre deve ser inferior ao diâmetro da rosca. Já para o roscamento externo, isso não é necessário. Figura 2-21 - Detalhe do processo de fresamento de roscas: (a) Fresamento com aresta monocortante, (b) Fresamento com arestas multicortante e (c) Fresamento com ferramenta circular helicoidal. Fonte: Araújo et al. (2004). Figura 2-22 - Processo de roscamento externo. Fonte: Ferraresi (1990). O operação inversa no sistema manual utilizado é a ferramenta chamada cossinete ou tarraxa. Essa ferramenta, assim como os machos, tem a finalidade de assegurar um perfeito 28 acoplamento e intercambialidade de peças fabricadas em série. É uma ferramenta de corte feita de aço especial com um furo central filetado semelhante ao de uma porca. Possui três ou mais furos que auxiliam na saída dos cavacos. Pode apresentar um corte radial de abertura, que permite regular a profundidade de corte. Isso é feito por meio de um parafuso instalado na fenda ou por meio dos parafusos de regulagem do porta-cossinete. Se esses parafusos não forem bem apertados, podem produzir erros no passo, porque os dentes cortam irregularmente. No mercado, são encontrados cossinetes com entrada corrigida, ou seja, helicoidal, para roscamento em materiais de cavaco longo e para aços em geral, facilitando a saída do cavaco no sentido contrário ao do avanço da ferramenta. Isso evita o engripamento por acúmulo de cavacos nos furos. Existem também cossinetes sem entrada corrigida para materiais que apresentam cavacos curtos e quebradiços, como o latão. Para trabalhos de obtenção de roscas iguais e normalizadas, deve-se usar cossinetes rígidos ou fechados que não permitam a regulagem da “folga” da rosca. Figura 2-23 - Cossinete ou tarraxa com sistema fechado. Fonte: Catto (2004). Figura 2-24 - Cossinete ou tarraxa com sistema de regulagem da folga; ou seja, aberto. 29 Fonte: Catto (2004). Para o uso manual da tarraxa ou cossinete, necessita-se do acoplamento em uma ferramenta (Figura 2-25). Figura 2-25 - Porta-cossinete ou desandador. Fonte: Catto (2004). Outro sistema utilizado para roscamento manual é o cossinete bipartido. Trata-se de uma variação dessa ferramenta, onde é formado por duas placas com formato especial e apenas duas arestas cortantes (Figura 2-26). Ele é utilizado amplamente na fabricação de roscas em tubos de plástico, ferro galvanizado e cobre. Figura 2-26 - Cossinete manual bipartido. Fonte: Catto (2004). Segundo o SENAI (CATTO, 2004), outra variação seria o cossinete de pente, usado no roscamento com tornos revólveres e rosqueadeiras automáticas. Os pentes são montados em cabeçotes com quatro ranhuras e aperto concêntrico e simultâneo, assegurando, assim, a regulagem do diâmetro e a abertura brusca no fim do trabalho, a fim de liberar o pente sem voltar a ferramenta. Nas rosqueadeiras, para cada cabeçote, existe um carrinho que avança e recua a peça e que tem sistema próprio para aplicação de fluido de corte (Figura 2-27). 30 Figura 2-27 - Cabeçote de pentes expansível. Fonte: Catto (2004). 2.3.4 Laminação de roscas No processo de laminação de roscas a frio sem cavacos, o material da peça de trabalho é submetido a uma pressão além de seu ponto de deformação e, então, é deformado plasticamente; ou seja, permanentemente. Segundo Emuge (2010), a laminação de roscas faz parte do processo de estampagem. A rosca interna é gerada por meio da impressão de uma sequência helicoidal de dentes de rosca no orifício de rosca previamente preparado, o que permite laminar o perfil desejado mediante a aplicação de pressão. Para ferramentas, o macho de laminação dispõe de uma redução de guia para entrada e uma peça de guia cilíndrica para fixação. A hélice da rosca estende-se por ambas as peças. Se for observada a seção transversal da ferramenta, pode-se apreciar uma forma poligonal que forma um ângulo reto com o eixo da ferramenta. Essa forma poligonal cria arestas de laminação responsáveis pelo perfil de rosca efetivo. A parte de um macho de laminação que serve de guia está desenhada em forma de redução de guia, onde o diâmetro da linha da rosca helicoidal aumenta constantemente. No processo de laminação, a redução de guia gera a rosca com ajuda das arestas de laminação, que entram na peça de trabalho de forma sucessiva e na direção radial, criando a rosca. Durante esse processo, o material da peça de trabalho “flui” pelos flancos das roscas, partindo das cristas das roscas e chegando até a zona de menor diâmetro de rosca. Isso permite criar uns flancos de superfícies lisas e, na zona de menor diâmetro, o típico “adensamento” (Figura 2-28). 31 Figura 2-28 - Mudanças na microestrutura causadas pela laminação. Fonte: Emuge (2010). Segundo Emuge (2010), para os modelos de machos para laminação de roscas, têm-se os exemplos da Figura 2-29. Figura 2-29 - Exemplos de Machos Laminadores. Fonte: Emuge (2010). 32 Segundo Detroit (2006), estas são algumas vantagens da Rosca Laminada: Alta precisão; Maior resistência das roscas à tração; Sem remoção de cavacos; Economia de material; Tempos de usinagem e ciclos reduzidos; Alta qualidade de acabamento superficial. Os sistemas de laminação de rosca acoplados a maquinas operatrizes, tais como tornos, centro de usinagem e centros de torneamento, gozam das mesmas vantagens dos sistemas dedicados para laminação de rosca. Segundo Fette (2012), o processo de laminação de rosca, além de economia de tempo-máquina, garante um melhor acabamento e repetibilidade no processo, sem geração de cavaco ou formação de arestas cortantes. Nos sistemas exemplificados na Figura 2-30, Fette (2012) mostra a aplicação do sistema para cada tipo de peça a ser rosqueada por laminação. 33 Figura 2-30 - Tipos de sistemas de laminação de rosca em máquinas operatrizes. Fonte: Fette (2012). 34 A laminação de roscas por placas planas (Figura 2-31) mostra que, neste caso, aplicamse duas placas. Já no perfil da rosca a ser laminada, onde uma fica parada, a outra se movimenta linearmente, paralela a outra placa, onde a peça é colocada entre as placas. Pelo movimento de avanço, vão conformando, assim, os filetes de roscas à medida que a peça gira. Figura 2-31 - Laminação de roscas com encosto plano. Fonte: Carvalho (2011). Já a laminação de rosca com cilindros paralelos trata-se de dois cilindros com o perfil dos filetes da rosca girando de forma sincronizada, onde a peça passa entre os cilindros apoiada em uma régua (Figura 2-32). As peças podem ser passantes, no caso de barras roscadas, em que a distância entre os rolos é fixa; ou de mergulho, onde os cabeçotes se afastam, sendo possível a fabricação de peças com “cabeça”. 35 Figura 2-32 - Máquina laminadora de rosca. Fonte: Atlasmaq (www.atlasmaq.com.br). Segundo Carvalho (2011), para o processo de laminação de rosca com cilindro e segmento de roscamento, comprime-se o material entre até três elementos de roscamento fixos e reguláveis com zona de saída de curvatura determinando um segmento de roscamento, o qual gira e guia a peça contra o cilindro de laminação. Esse princípio (Figura 2-33) é utilizado na fabricação de grandes lotes de peças, amplamente utilizado na indústria de fixação, para a fabricação de parafusos. Figura 2-33 - Laminação de roscas com um cilindro de roscamento e um segmento de apoio. Fonte: Carvalho (2011). 36 Segundo Fromentin (2006), as características da superfície do fio dependem dos parâmetros da operação de rosqueamento, pelo qual tem de ser tomada em consideração na abordagem de design ou forma da peça quando esse processo é escolhido. Então, é necessaria a elaboração de suportes ou gabatiros de acordo com a forma da peça. No entanto, a laminação é o processo de fabricação de roscas que mais se destaca entre os demais devido à taxa pequena de fabricação. Para Helman e Cetlin (2003), a laminação cria um encruamento na superfície do material, aumentando a dureza superficial e melhorando a resistência do produto final. A rosca e o parafuso tiveram sua origem em torno do ano 400 a.C. No final do século XV, Leonardo da Vinci fez vários desenhos de projetos de máquinas para se fabricarem parafusos com roscas. Porém, o primeiro equipamento concreto para esse propósito foi inventado em 1568 pelo matemático francês Jacques Besson. Hoje, o parafuso e a rosca estão presentes em praticamente tudo no nosso dia a dia (INSTITUTO TECNOLÓGICO DE FIXAÇÃO, 2009). Devido à grande utilização das roscas, a indústria tem buscado formas mais produtivas e mais seguras para a fabricação desses componentes. Os processos mais utilizados são aqueles com remoção de cavaco (usinagem) e por conformação mecânica (laminação). A laminação de roscas consiste em submeter a peça sob uma pressão causada por rolos laminadores ou pentes planos, que podem ser utilizados em máquinas específicas ou em tornos de usinagem. Entre algumas características que diferenciam a rosca usinada das roscas convencionais, pode-se destacar que, na rosca usinada, o filete é gerado pela retirada do material por meio de ferramentas de corte feitas de aço rápido ou metal duro. Essas ferramentas têm o ciclo de vida pequeno, o que pode gerar roscas fora do especificado. Na laminação, o material é compactado por rolos laminadores ou pelos pentes planos, o que permite um melhor acabamento superficial e diminui o atrito da rosca no momento de aplicar o torque. Mas a laminação também pode causar falhas de fabricação, como na formação dos filetes de roscas e dos filetes duplos. Dependendo do material a ser laminado, pode, ainda, gerar tensões internas. 37 CAPÍTULO 3 3 MATERIAIS E MÉTODOS O experimento baseou-se no processo de industrialização ou fabricação da rosca externa M12 x 1,5 mm de passo, por meio dos processos de usinagem por aresta monocortante, que preveem a retirada de cavaco e a laminação por cabeçote laminador axial de três rolos montado em torno CNC. O experimento basicamente se constituiu do processo de fabricação de filetes pelo método de conformação com cabeçote laminador em máquina operatriz e usinagem por aresta única de corte, ou seja, a fabricação de roscas externas por meio de dois princípios, a saber: a usinagem por aresta monocortante, que provê a retirada de material, e o processo de laminação, que promove a formação dos filetes pelo escoamento do material, sem formação de cavaco. Os dois processos foram realizados em um equipamento CNC, onde, no caso do processo de conformação, foi empregado um sistema de cabeçotes laminadores axial de três rolos. 3.1 A rosca Para este estudo, foi selecionada a rosca métrica M12 no passo de 1,5 mm, conforme Tabela da ABNT NBR ISO 724 Rosca métrica ISO de uso geral – Dimensões básicas. Essa escolha se deu devido à disponibilidade de ferramentas na medida e por se tratar de uma medida intermediária para linha automotiva. Tabela 3-1 - Dimensões básicas para rosca M12. Dnominal = Passo da rosca Diâmetro de flanco Diâmetro menor [mm] [mm] [mm] D ou d p D2, d2 D1, d1 12 1,5 11,026 10,376 Dmaior [mm] Fonte: ABNT (2004). 38 3.2 O Material A liga escolhida foi a do grupo alfa-beta a Ti-6Al-4V, que apresenta composição química (Tabela 3-2) no estado homogeneizado, em formato cilíndrico, com comprimento de 15 mm e 25 mm no diâmetro em bruto de 12,7 mm. Tabela 3-2 - Composição química da Liga Ti-6Al-4V utilizada nos experimentos. Elemento Composição química [%] Al V Fe O C H N Y Ti Mínimo 5,5 3,5 0,3 0,14 0,08 0,01 0,03 50 ppm balanço Máximo 6,75 4,5 - 0,23 - - - - - Fonte: www.realum.com.br A Figura 3-1 apresenta a microestrutura da liga de titânio Ti-6Al-4V. Figura 3-1 - Microestrutura da liga Ti-6Al-4V (MEV com ampliação de 250x). Fonte: Autoria Própria 3.3 Máquinas e Equipamentos Para a execução da usinagem, foi utilizado um Torno CNC Sinitron modelo BNC 2260X conforme Figura 3-2. 39 Figura 3-2 - Torno CNC sinitron BNC 2260X. Fonte: Autoria Própria Os testes de usinagem foram realizados com um suporte Iscar com o código R166 2525, onde foi fixado um inserto Iscar código 16 ERM AG60 (Figura 3-3). Figura 3-3 - Suporte e inserto intercambiável fixado na torre da máquina. Fonte: Autoria Própria. Para a execução das rocas laminadas, foi utilizado um cabeçote laminador com três rolos da marca Fette F2 (Figura 3-4). 40 Figura 3-4 - Cabeçote Laminador Fette modelo F2. Fonte: Autoria Própria. Para a análise dimensional dos diâmetros das roscas, foi utilizado um micrômetro externo, com intervalo de medição de 0-25mm da marca Digimes (Figura 3-5). Figura 3-5 - Micrômetro Externo Digimess com intervalo de medição de 0-25mm. Fonte: Autoria Própria. Para a análise dos resultados dimensionais, foi utilizada uma câmera de medição ótica marca Insize (Figura 3-6) acoplada a um projetor de perfil para medição da altura do filete. Figura 3-6 - Sistema de medição ótico. Fonte: Autoria Própria. 41 A análise micrográfica foi realizada com um Microscópio Eletrônico de Varredura da marca HITACHI e modelo TM3000 (Figura 3-7), e um microscópio da marca Olympus e modelo BX51 (Figura 3-8). Figura 3-7 - Microscópio eletrônico de varredura HITACHI modelo TM3000. Fonte: Autoria Própria. Figura 3-8 - Microscópio ótico Olympus. Fonte: Autoria Própria. 42 Para a análise do encruamento do material devido à recuperação elástica, foi utilizado um Microdurômetro (Figura 3-9). Figura 3-9 - Microdurômetro. Fonte: autoria própria 3.4 Corpo de Prova O corpo de prova tinha dimensões de 15 mm de comprimento para as roscas usinadas e 25 mm para as roscas laminadas. Basicamente, o corpo de prova era uma haste cilíndrica da liga Ti-6Al-4V com diâmetro de 12,7 mm. A Figura 3-10 mostra um esquema em CAD do perfil a ser fabricado para as roscas laminadas e usinadas. Figura 3-10 - Demonstrativo de corpo de prova. Fonte: Autoria Própria. 43 3.5 Descritivo Para a fabricação de roscas, foi empregado o torno da Marca Sinitron modelo BNC 2260X, com torre hidráulica de oito posições, sistema de comando numérico Fanuc modelo 0i (Figura 3-11). A sincronização dos movimentos axial e rotacional baseou-se no software CNC da máquina por meio da função ativada G43, que permite o roscamento à velocidade de corte constante. Figura 3-11 - Comando Fanuc 0i. Fonte: Autoria Própria. Foi montado na torre do torno CNC um suporte da marca Iscar modelo R166 2525 e um inserto intercambiável modelo 16 ERM AG60. Testes preliminares demonstraram que a velocidade de usinagem de 38,83 m/min é o limite no processo de roscamento para a liga de Ti-6Al-4V, assegurando um acabamento aceitável livre de vibrações e alta rugosidade. Um planejamento fatorial completo (3k) foi utilizado para identificar os principais efeitos e a interação de fatores de entrada sobre as respostas “diâmetro do perfil” e “altura h” da rosca usinada, resultando em um arranjo experimental com nove combinações experimentais distintas com três réplicas. 44 Tabela 3-3 - Parâmetros experimentais do processo de roscamento por usinagem. Nível das variáveis de entrada Fatores Experimentais -1 0 +1 D Velocidade de usinagem [m/min] 19,4 29,13 38,83 E Posição de medição [Adm] Início Meio Final Fonte: Autoria Própria. Conforme a Figura 3-12, a fixação das barras a serem roscadas pelo processo de usinagem foi realizada diretamente no torno CNC, usando uma placa hidráulica de três castanhas. O comprimento de balanço foi de 15 mm e o sentido de rotação anti-horário pelo fato de a torre ser traseira e o suporte trabalhar invertido, o que ajuda na queda do cavaco por gravidade, minimizando o risco de este enrolar na peça. Após a fixação do suporte ao VDI do torno CNC, é necessária a padronização do diâmetro inicial a ser roscado de 12,00 mm. Essa medida foi controlada utilizando o micrômetro externo digital com resolução de 0,001 mm no início, no meio e no final do corpo de prova. Figura 3-12 - Detalhe do processo de roscamento por usinagem. Fonte: Autoria Própria. Para a fabricação de roscas laminadas, foi empregado um torno da Marca Sinitron modelo BNC 2260X, com torre hidráulica de oito posições, sistema de comando numérico Fanuc modelo 0i (Figura 3-11). A sincronização dos movimentos axial e rotacional baseou-se no software CNC da máquina. O dispositivo escolhido para laminar as roscas foi o sistema da Fette tipo F, FU, F-RN, K (Figura 3-13), com avanço axial contendo três rolos laminadores. 45 Figura 3-13 - Sistema de laminação de rosca axial. Fonte: Catálogo da Fette. Após a fixação da barra na máquina, foi necessária a padronização do diâmetro inicial, que também faz parte deste estudo. Ao longo de todo o perfil a ser roscado, essa medida foi controlada utilizando-se um micrômetro externo digital com resolução de 0,001 mm. Para a retirada do sobremetal, foi utilizado um suporte da marca Iscar modelo PTGNR 2525K-16 contendo um inserto Iscar TNMG 160404 6015 PN. Para determinar o diâmetro a ser laminado, foi utilizada a norma ISO DIN 13 60º tolerância de parafusos em qualidade média (Tabela 3-4). Tabela 3-4 - Dimensões para laminação de rosca M12. Rosca M12 Passo [mm] Diâmetro primitivo Diâmetro externo Mínimo Máximo Mínimo Máximo [mm] [mm] [mm] [mm] 1,5 10,854 10,994 11,732 11,968 Fonte: Autoria Própria. A Tabela 3-5 mostra os fatores e níveis experimentais investigados para o roscamento por laminação. O nível zero dos experimentos foi o diâmetro de 11 mm e a velocidade de conformação de 9,15 m/min. Os níveis experimentais foram baseados no catálogo do fornecedor para materiais não-ferrosos (EMUGE, 2010) e no estudo preliminar de Baldo et al. (2010), que investigou o roscamento por conformação na liga de alumínio. Testes preliminares demonstraram que a velocidade de conformação de 18,3 m/min é o limite para essa liga, assegurando um processo de acabamento aceitável. Um planejamento fatorial completo (3k) foi utilizado para identificar os principais efeitos e a interação de fatores de 46 entrada sobre as respostas “diâmetro do perfil” e “altura h” da rosca conformada, resultando em um arranjo experimental com 27 combinações experimentais distintas com três réplicas. Tabela 3-5 - Parâmetros experimentais do processo de roscamento por conformação. Fatores Experimentais Nível das variáveis de entrada -1 0 +1 A Velocidade de deformação [m/min] 4,6 9,15 18,3 B Posição de medição Início Meio Final C Diâmetro inicial da haste [mm] 10,85 11 11,15 Fonte: Autoria Própria. Para a análise dos resultados dimensionais da altura do filete, foi utilizada a câmera de medição ótica marca Insize com seu software para leitura por meio da imagem (Figura 3-14). Figura 3-14 - Detalhe da medição da altura do filete. Fonte: Autoria Própria. Utilizando o micrômetro digital externo, foi executada a leitura do diâmetro externo da rosca no início, no meio e no fim (Figura 3-15). 47 Figura 3-15 - Esquema da medição no início, meio e fim das roscas. Fonte: Autoria Própria. Por recomendação do fabricante das ferramentas utilizadas e informações de estudos anteriores, todo o procedimento foi realizado com emulsão contendo 8% de concentração de óleo solúvel e vazão de 20 l/min. 3.6 Experimento Experimentos são realizados por pesquisadores em praticamente todos os campos de investigação, geralmente para descobrir algo sobre um determinado processo ou sistema. Literalmente, um experimento é um teste. Mais formalmente, define-se um experimento como um teste ou uma série de testes em que as mudanças intencionais são feitas para os fatores de entrada de um processo ou sistema, de forma que se possa observar e identificar as razões para as mudanças na resposta de saída (MONTGOMERY, 2005). Em geral, os experimentos são usados para estudar o desempenho de processos e sistemas. Pode-se visualizar o processo normalmente como uma combinação de máquinas, métodos, pessoas e outros recursos, que transforma alguma entrada (geralmente, um material) em uma saída e que tem uma ou mais respostas observáveis (MONTGOMERY, 2005). O processo, ou sistema, pode ser representado pelo modelo mostrado na Figura 3-16. 48 Figura 3-16 - Modelo Geral de um processo ou sistema. Fonte: Montgomery (2005). O planejamento de experimento é constituído de um conjunto de técnicas estatísticas que proporcionam um método estruturado para planejar, executar e analisar os experimentos. Ele é usado para determinar qual a melhor combinação de variáveis para a obtenção da resposta desejada (MONTGOMERY, 1997). O DOE originou-se por volta de 1920, quando Sir Ronald A. Fisher, um cientista britânico, estudou e propôs uma abordagem mais sistemática, a fim de maximizar o conhecimento adquirido, a partir de dados experimentais. Seu objetivo principal era determinar a luz do sol melhor, a qualidade da água, a quantidade de fertilizantes e solo subjacente à condição necessária para produzir a melhor colheita (ROWLANDS; ANTONY, 2003). Antes de seus estudos, a abordagem tradicional era para testar um fator em um tempo durante a fase experimental. O primeiro fator é movido, enquanto os outros fatores se mantêm constantes. Em seguida, o próximo fator é examinado, e assim por diante. O uso original do DOE, planejado por Fischer, refere-se a métodos utilizados para obter as informações mais relevantes e significativas a partir de um banco de dados de experimentos, que fazem o menor número possível de experiências. O método proposto por Fisher, para a realização de experiências, eliminou as observações redundantes e reduziu o número de testes, a fim de proporcionar informações sobre as interações importantes entre as variáveis. A abordagem DOE tornou-se essencial para determinar e examinar o comportamento da função objetivo e identificar quais fatores são mais significativos. A influência dos fatores experimentais pode ser subdividida em diversos ramos, como: determinar que variáveis influenciam mais nos resultados, atribuir valores às variações influentes para otimizar o processo ou para minimizar a variabilidade dos resultados, além de poder minimizar a influência de variáveis não-controláveis (BUTTON, 2001). 49 O planejamento de experimento (DOE) é um Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC). Nesse delineamento, é necessária a completa homogeneidade das condições ambientais e do material experimental, sendo os tratamentos distribuídos nas parcelas de forma inteiramente casual (aleatória). O DOE possui apenas os princípios da casualização e da repetição, não possuindo controle local e, portanto, as repetições não são organizadas em blocos. Tem a vantagem de possuir grande flexibilidade quanto ao número de tratamentos e repetições, sendo dependente, entretanto, da quantidade de material e da área experimental disponível. Dessa forma, foi empregado o planejamento fatorial de experimentos, indicado quando vários fatores devem ser estudados em dois ou mais níveis e as interações entre os fatores podem ser importantes. Neste trabalho, de acordo com os objetivos, foi utilizado o modelo de planejamento fatorial de experimentos com três fatores controláveis, as variáveis de entrada, para o processo de roscamento por conformação: Velocidade de deformação: 4,60 m/min, 9,15 m/min e 18,30 m/min; Posição de medição: Início, meio e final; Diâmetro: 10,85 mm, 11 mm e 11,15 mm. As variáveis de entrada para o processo de roscamento por usinagem foram: Velocidade de usinagem: 19,40 m/min, 29,13 m/min e 38,83 m/min; O modelo estatístico linear para o processo de roscamento por conformação é dado por: ijkl =µ+ i + j + k + ( )ij + ( )ik + ( )jk + ( )ijk + (1), ijkl onde: i = 1, 2, 3 (níveis da velocidade de deformação), j = 1, 2, 3 (níveis da posição de medição), k = 1, 2, 3 (níveis do diâmetro) e l = 1, 2, 3 (número de réplicas). ijkl resposta (saída), µ é a média global das respostas de todos os tratamentos, i efeito do fator velocidade de deformação, j i e k, interação entre i, j e k, e ijkl é representa o representa o efeito da posição de medição, representa o efeito do fator diâmetro, ( )ij representa o efeito da interação entre o efeito da interação entre é a variável ( )jk é o efeito da interação entre j e k, ( ie j, k ( )ik é )ijk é o efeito da o modelo matemático do erro aleatório. O modelo estatístico linear para o processo de roscamento por usinagem é dado por: ijl =µ+ i + j + ( )ij + ijl (2), 50 onde: i = 1, 2, 3 (níveis da velocidade de usinagem), j = 1, 2, 3 (níveis da posição de medição) e l = 1, 2, 3 (número de réplicas). respostas de todos os tratamentos, ijkl i é a variável resposta (saída), µ é a média global das representa o efeito do fator velocidade de usinagem, representa o efeito da posição de medição, ( )ij representa o efeito da interação entre ijkl é ie j, j e o modelo matemático do erro aleatório. A temperatura ambiente, o tipo de material e a velocidade de retorno da ferramenta foram mantidos constantes nos testes experimentais. O planejamento fatorial adequado às condições experimentais deste trabalho é do tipo 3k, exibindo experimentos de três níveis, onde “k” corresponde ao número de fatores experimentais. A Tabela 3-6 mostra os fatores e níveis experimentais investigados para o roscamento externo por conformação, estabelecendo um planejamento fatorial completo do tipo 33 com três repetições, resultando em um arranjo experimental com 27 combinações experimentais distintas. 51 Tabela 3-6 - Arranjo experimental do planejamento fatorial completo 3³ para o processo de roscamento por conformação. Condições Experimentais Velocidade de deformação [m/min] Posição de medição Diâmetro [mm] C1 9,15 Final 10,85 C2 18,3 Início 11 C3 9,15 Início 10,85 C4 18,3 Meio 11,15 C5 18,3 Meio 11 C6 18,3 Meio 10,85 C7 9,15 Início 11,15 C8 18,3 Início 10,85 C9 4,6 Meio 11,15 C10 4,6 Meio 10,85 C11 4,6 Início 10,85 C12 4,6 Final 11,15 C13 9,15 Meio 11,15 C14 4,6 Início 11,15 C15 4,6 Início 11 C16 9,15 Final 11 C17 9,15 Final 11,15 C18 9,15 Meio 10,85 C19 4,6 Meio 11 C20 4,6 Final 10,85 C21 18,3 Final 10,85 C22 9,15 Início 11 C23 18,3 Início 11,15 C24 18,3 Final 11 C25 4,6 Final 11 C26 18,3 Final 11,15 9,15 Meio 11 C27 Fonte: Autoria Própria. 52 A Tabela 3-7 mostra os fatores e níveis experimentais investigados para o roscamento externo por usinagem, com um planejamento fatorial completo do tipo 3 2 com três réplicas, resultando em um arranjo experimental com nove combinações experimentais distintas. Tabela 3-7 - Arranjo experimental do planejamento fatorial completo 3² para o processo de roscamento por usinagem. Condições experimentais Velocidade de usinagem [m/min] Posição de medição C1 38,83 Início C2 38,83 Meio C3 19,4 Início C4 38,83 Final C5 29,13 Início C6 29,13 Final C7 19,4 Final C8 29,13 Meio 19,4 Meio C9 Fonte: Autoria Própria. Considerando a adoção de três réplicas para cada condição, o processo experimental consistiu em 81 ensaios para o roscamento por conformação e 27 ensaios para o roscamento por usinagem pelo planejamento fatorial completo, o que gera populações amostrais uniformemente distribuídas em todo espaço amostral possível (Figura 3-17). A repetição consiste na repetição da condição experimental, proporcionando a estimativa do erro experimental de uma resposta individual. A extensão desse erro é importante na decisão se existem ou não efeitos significativos que possam ser atribuídos à ação dos fatores (WERKEMA; AGUIAR, 1996). 53 Figura 3-17 - Espaço 3-Dimensional do Planejamento Experimental. Alguns DOE são muito bem estruturados, enquanto outros são apenas uma nuvem de pontos. A escolha do método estatístico depende do número de amostras e do tipo de investigação. Fonte: Esteco (2012). Levando em consideração a complexidade dos cálculos envolvidos no planejamento fatorial, o programa computacional estatístico MinitabTM versão 14 e o software modeFRONTIER® foram utilizados para a manipulação dos dados e a análise dos resultados. A técnica estatística utilizada para análise dos dados foi a Análise de Variância (ANOVA – Analysis of Variance). Na Análise de Variância, avalia-se a influência exercida por dois ou mais fatores de um processo sobre uma característica da qualidade de interesse (MONTGOMERY, 2005). A análise de variância para dois ou mais fatores permite que seja avaliada a interação entre eles. A hipótese nula (H0) é que todas as médias são iguais, enquanto a hipótese alternativa (Ha) considera que pelo menos uma média é diferente: H0: µx - µy = 0 (3) Ha: µx - µy≠ 0 (4) Na aplicação da análise de variância, pressupõe-se que as amostras são extraídas a partir de populações independentes, descritas por uma distribuição normal, e que o desvio padrão ou variações das populações são iguais: 54 Distribuição normal: utiliza-se o teste de normalidade de Anderson-Darling, exibindo um gráfico de distribuição normal e/ou um histograma de resíduos; Independência: representa-se um gráfico sequencial para os resíduos considerando a ordem de realização dos ensaios; Variância constante: apresenta-se o gráfico de resíduos versus valores ajustados. O modelo estatístico linear para o processo de roscamento por conformação para a resposta de microindentação é dado por: ijkl =µ+ i + j + k + ( )ij + ( )ik + ( )jk + ( )ijk + (5), ijkl onde: i = 1, 2, 3 (níveis da velocidade de deformação), j = 1, 2, 3 (níveis da posição de medição), k = 1, 2, 3 (níveis do diâmetro inicial) e l = 1, 2, 3 (número de réplicas). ijkl éa variável resposta (saída), µ é a média global das respostas de todos os tratamentos, i representa o efeito do fator velocidade de deformação, medição, i ( e j, k j representa o efeito da posição de representa o efeito do fator diâmetro, ( )ij representa o efeito da interação entre ( )ik é o efeito da interação entre )ijk é o efeito da interação entre i, j i e e k, e k, ijkl ( )jk é o efeito da interação entre j e k, é o modelo matemático do erro aleatório. A Tabela 3-8 mostra os fatores avaliados e os níveis investigados para a microindentação, variando apenas os níveis da posição de medição, gerando um arranjo experimental 3³ com três réplicas e resultando em 81 medições. Tabela 3-8 - Parâmetros para microindentação. Parâmetros de entrada Diâmetro [mm] Velocidade de deformação [m/min] Posição de medição Nível das variáveis de entrada -1 0 +1 10,85 11 11,15 4,60 9,15 18,30 Crista Base Meio Fonte: Autoria Própria. A Figura 3-18 exibe os níveis da posição de medição, identificando cada região em um modelo esquemático. 55 Figura 3-18 - Posição de medição da microdureza. Fonte: Autoria Própria. O modelo estatístico linear para o processo de roscamento por usinagem para a resposta de microindentação é dado por: ijl =µ+ i + j + ( )ij + (6) ijl onde: i = 1, 2, 3 (níveis da velocidade de usinagem), j = 1, 2, 3 (níveis da posição de medição) e l = 1, 2, 3 (número de réplicas). respostas de todos os tratamentos, ijkl i é a variável resposta (saída), µ é a média global das representa o efeito do fator velocidade de usinagem, representa o efeito da posição de medição, ( )ij representa o efeito da interação entre ijkl i e j, j e é o modelo matemático do erro aleatório. A Tabela 13 mostra os fatores avaliados e os níveis investigados da microindentação para o roscamento por usinagem, variando apenas os níveis da posição de medição, gerando um arranjo experimental 3² com três réplicas e resultando em 27 medições. Tabela 3-9 - Parâmetros para microindentação para o processo de roscamento por usinagem. Parâmetros de entrada Velocidade de usinagem [m/min] Posição de medição Fonte: Autoria Própria. Nível das variáveis de entrada -1 0 +1 19,40 29,13 38,83 Crista Base Meio 56 57 CAPÍTULO 4 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Roscamento por conformação Tabela 4-1 - Dados de medição rosca conformada. LAMINAÇÃO Método de medição Pos. RPM 133/ 10,85/Titânio RPM 265/ 10,85/Titânio RPM 530/ 10,85/Titânio R1/01 R2/02 R3/03 R1/04 R2/05 R3/06 R1/07 R2/08 R3/09 Micrometro I 11,198 11,360 11,335 11,197 11,371 11,349 11,398 11,375 11,383 diâmetro M 11,200 11,333 11,325 11,169 11,349 11,346 11,373 11,347 11,357 externo F 11,225 11,328 11,319 11,174 11,337 11,338 11,356 11,341 11,349 I 0,528 0,660 0,671 0,506 0,638 0,550 0,572 0,616 0,605 M 0,462 0,572 0,583 0,517 0,561 0,539 0,583 0,572 0,594 F 0,528 0,561 0,572 0,561 0,572 0,572 0,594 0,583 0,605 Retro projetor Método de medição Pos. RPM 133/ 11,00/Titânio RPM 265/ 11,00/Titânio RPM 265/ 11,00/Titânio R1/10 R2/11 R3/12 R1/13 R2/14 R3/15 R1/16 R2/17 R3/18 Micrometro I 11,541 11,587 11,618 11,575 11,293 11,597 11,593 11,624 11,590 diâmetro M 11,500 11,567 11,568 11,545 11,318 11,557 11,534 11,563 11,526 externo F 11,480 11,537 11,543 11,508 11,337 11,523 11,503 11,524 11,514 I 0,660 0,672 0,715 0,671 0,539 0,682 0,682 0,660 0,660 M 0,627 0,660 0,638 0,627 0,550 0,649 0,649 0,638 0,627 F 0,572 0,616 0,594 0,572 0,539 0,605 0,627 0,627 0,616 Retro projetor Método de medição Pos. RPM 133/ 11,15/Titânio RPM 265/ 11,15/Titânio RPM530/ 11,15/Titânio R1/19 R2/20 R3/21 R1/22 R2/23 R3/24 R1/25 R2/26 R3/27 Micrometro I 11,886 11,918 11,939 11,828 11,884 11,841 11,664 11,794 11,889 diâmetro M 11,876 11,886 11,898 11,797 11,826 11,807 11,693 11,881 11,877 externo F 11,834 11,862 11,863 11,791 11,814 11,801 11,705 11,817 11,861 I 0,858 0,825 0,847 0,770 0,825 0,781 0,737 0,803 0,836 M 0,781 0,792 0,803 0,759 0,792 0,770 0,748 0,792 0,792 F 0,759 0,748 0,759 0,748 0,748 0,737 0,715 0,770 0,748 Retro projetor Fonte: Autoria Própria. 58 4.1.1 Diâmetro do Perfil de rosca conformada. Os valores das medidas do diâmetro do perfil da rosca externa conformada variaram entre 11,283 e 11,914 mm. A Figura 4-1 apresenta os gráficos de probabilidade normal para os resíduos, gráfico de resíduos versus valores ajustados, histograma para os resíduos e resíduos versus ordem de coleta dos dados para a validação do modelo da análise de variância (ANOVA). Figura 4-1 - Resíduos para a média do diâmetro interno do perfil de rosca conformado: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. Fonte: Autoria Própria. O gráfico de probabilidade normal e o histograma avaliam a suposição de normalidade. É importante observar a existência de outliers, que são os pontos distantes da reta de regressão, podendo representar uma fonte de erro na coleta dos dados. Os pontos distribuídos uniformemente ao longo da reta e o comportamento, aproximadamente simétrico com média zero do histograma, atendem às condições de normalidade exigidas para validação do modelo da ANOVA. A Figura 4-2 mostra o teste de normalidade de Anderson-Darling para o diâmetro do perfil laminado. 59 Figura 4-2 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para o diâmetro do perfil de rosca conformado. Fonte: Autoria Própria. O “P-valor” superior a 0,05 confirma a densidade normal da variável resposta com 95% de significância. O gráfico de resíduos versus valores ajustados detecta se a variância do erro residual é constante, analisando a presença de valores extremos outliers. O gráfico de resíduos versus ordem dos dados analisa a independência dos resíduos. Os pontos em padrão aleatório, sem pontos discrepantes em relação ao conjunto de dados, comprovam a homogeneidade e a independência das amostras. A Tabela 4-1 mostra os resultados da análise de variância para a média do diâmetro do perfil de rosca conformado e os principais parâmetros para o cálculo do “P-valor”. A segunda coluna indica o número de graus de liberdade (DF – Degree of Freedom), a terceira coluna representa a soma dos quadrados sequencial (Seq SS – Sequential Square Sum) e a quarta, a soma dos quadrados ajustada (Adj SS – Adjusted Square Sum). Já quinta coluna exibe a média quadrada ajustada (Adj MS – Adjusted Mean Square), a qual é calculada dividindo a soma dos quadrados ajustada pelo número de grau de liberdade (Adj SS/DF). O parâmetro F representa a “relação-F”, calculado, dividindo-se a média quadrada ajustada de cada fator pela média quadrada ajustada do erro. Finalmente, na última coluna, são mostrados os “P-valores” que indicam a probabilidade de estes dois elementos (Adj MS fator e Adj MS error) possuírem o mesmo valor, ou seja, a probabilidade de cada fator não influenciar o diâmetro do perfil de rosca conformado. Em outras palavras, os valores de “P” indicam quais efeitos no sistema são estatisticamente significantes, baseando-se nos resultados experimentais das réplicas 1, 2 e 3. Se o “P-valor” for menor ou igual a α, é possível concluir que o efeito é significante. 60 Tabela 4-2 - Análise de variância para o diâmetro do perfil de rosca conformado. Fatores Experimentais DF Seq SS Adj SS Vel. de deformação 2 0,0351 0,0351 0,01755 3,410 0,040 Pos. de medição 2 0,02162 0,02162 0,01081 2,100 0,132 Diâmetro inicial da haste 2 3,62758 3,62758 1,81379 352,240 0,000 4 0,00031 0,00031 0,00008 0,010 1,000 4 0,07399 0,07399 0,0185 3,590 0,011 4 0,00343 0,00343 0,00086 0,170 0,954 8 0,00804 0,00804 0,00101 0,200 0,990 54 0,27806 0,27806 0,00515 Vel. de deformação*Pos. de medição Vel. de deformação* Diâmetro inicial da haste Pos. de medição* Diâmetro inicial da haste Adj MS F P Vel. de deformação*Pos. de medição*Diâmetro inicial da haste Erro Residual R² 93,3% Fonte: Autoria Própria. O valor de α de 0,05 indica o nível de significância, ou seja, a condição de 95% de probabilidade de o efeito ser significante. O valor de R² (adj) exibido na ANOVA mede a proporção da variabilidade presente nas observações da variável resposta y, que é explicada pelas variáveis preditoras presentes na equação de regressão. Quanto mais próximo de 1 (ou de 100%) for R², melhor a qualidade da equação ajustada aos dados (MONTGOMERY, 1997). Os fatores relacionados a P-valor inferior ou igual a 0,05 são considerados significativos. Os P-valores 0,040; 0,000 e 0,011, sublinhados na Tabela 4-2, mostram que os fatores principais “velocidade de deformação” e “diâmetro” e a interação “velocidade de deformação” e “diâmetro” foram influentes na medida do diâmetro do perfil da rosca conformada. O valor de R² ajustado (93,3%) indica que o ajuste do modelo foi satisfatório. O fato de um efeito não ser significativo em um experimento não implica necessariamente que esse fator particular não seja importante. Significa apenas que a resposta não é afetada por esse fator na faixa de valores pesquisada. Pode ser que um fator seja muito relevante, mas que uma variação muito pequena nos níveis não acarrete nenhum efeito na resposta (DRUMOND et al., 1993). 61 Um “efeito principal” está presente quando diferentes níveis do fator afetam a resposta diferentemente e a “interação” existe quando a variação da média da resposta depende do nível de um segundo fator. O efeito principal de um fator deve ser interpretado individualmente apenas se não há evidência de que o fator não interage com outros fatores. Quando um ou mais efeitos de interação são significativos, os fatores que interagem devem ser considerados conjuntamente (DRUMOND et al., 1993). Segundo Werkema e Aguiar (1996), se uma interação de ordem mais elevada for significativa e o efeito principal também for, não faz sentido a interpretação do efeito principal isolado, já que o fator depende do nível que está no outro fator. Dessa forma, somente a interação velocidade de deformação e diâmetro será exibida (Figura 4-3). Gráficos de interações são usados para visualização do efeito de interação de dois ou mais fatores experimentais sobre a variável resposta e a comparação da significância relativa entre os efeitos (WERKEMA; AGUIAR, 1996). A Figura 4-3 mostra a interação dos fatores velocidade de deformação e diâmetro para o diâmetro do perfil de rosca conformado. Figura 4-3 - Interação para a variável resposta diâmetro do perfil da rosca conformado. Fonte: Autoria Própria. A redução da velocidade de deformação gerou uma variação de 5% do diâmetro do perfil laminado para os diâmetros iniciais de 10,85; 11 e 11,15 mm. Já a variação dos níveis de velocidade de deformação para o processo de roscamento apresentou um comportamento distinto para cada diâmetro inicial da haste. Pode-se definir que esse comportamento foi devido à inércia de deformação: para diâmetros iniciais menores, altas velocidades promoveram diâmetros maiores e, para diâmetros maiores, menores velocidades formaram diâmetros maiores. 62 O aumento dos diâmetros do perfil da rosca conformada ocorre com a redução da velocidade de deformação à medida que o diâmetro inicial da haste de Ti-6Al-4V aumenta. A diferença percentual do diâmetro conformado entre a maior e a menor velocidade de deformação não é relevante, aproximadamente 0,75%. Observa-se que os diâmetros menores das hastes apresentam maiores perfis de rosca com o aumento da velocidade de deformação. 4.1.2 Diferença de altura do filete de rosca (H) Os valores das medidas H (altura do filete de rosca) variaram entre 0,462 e 0,858 mm. A Tabela 4-3 apresenta os resultados da análise de variância (ANOVA) para a média da variável resposta H, encontrando-se sublinhados os P-valores menores ou iguais a 0,05, considerados significativos em um nível de 95% de significância. O valor de R² ajustado de 90,77% indica que o modelo se ajustou adequadamente aos resultados da altura do filete H obtidos. Tabela 4-3 - Análise de variância para a altura do filete H. Fatores Experimentais DF Seq SS Adj SS Adj MS F P Vel. de deformação 2 0,011302 0,011302 0,005651 4,3900 0,017 Pos. de medição 2 0,033584 0,033584 0,016792 13,040 0,000 Diâmetro inicial da haste 2 0,614608 0,614608 0,307304 238,65 0,000 4 0,007493 0,007493 0,001873 1,4500 0,229 4 0,006597 0,006597 0,001649 1,2800 0,289 4 0,008784 0,008784 0,002196 1,7100 0,162 8 0,001793 0,001793 0,000224 0,1700 0,994 54 0,069535 0,069535 0,001288 Vel. de deformação*Pos. de medição Vel. de deformação* Diâmetro inicial da haste Pos. de medição* Diâmetro inicial da haste Vel. de deformação*Pos. de medição*Diâmetro inicial da haste Erro Residual R² Fonte: Autoria Própria. 90,77% 63 A Figura 4-4 apresenta os gráficos de probabilidade normal para os resíduos, gráfico de resíduos versus valores ajustados, histograma para os resíduos e resíduos versus ordem de coleta dos dados para a validação do modelo da análise de variância (ANOVA). Figura 4-4 - Resíduos para a média do diâmetro do perfil de rosca conformado: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. Fonte: Autoria Própria. Os gráficos de resíduos para a média da altura dos filetes H exibidos na Figura 4-4 apresentaram um comportamento que atende às condições de normalidade exigidas para a validação do modelo de análise de variância: Distribuição normal com média próxima a zero representada pelo gráfico de probabilidade normal dos resíduos, histograma dos resíduos e pelo P-valor superior a 0,05, exibido pelo teste de normalidade de Anderson-Darling; Variância constante (Gráfico de resíduos versus valores ajustados); Independência e homogeneidade (Gráficos resíduos versus a ordem de observação dos dados). A Figura 4-5 apresenta o teste de normalidade de Anderson-Darling para a suposição de distribuição normal para altura do filete H. 64 Figura 4-5 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para o diâmetro do perfil de rosca conformado. Fonte: Autoria Própria. A Figura 4-6 exibe o gráfico de efeito principal da velocidade de deformação sobre a altura do filete H. Os gráficos de efeitos principais apresentam uma melhor visualização dos efeitos de cada um dos fatores envolvidos na Análise de Variância (ANOVA), investigando quais variáveis controláveis possuem efeito significativo nas variáveis respostas. Como as interações não foram significativas ilustram-se os efeitos principais dos fatores experimentais. Figura 4-6 - Efeito principal do fator velocidade de deformação sobre altura do perfil H. Fonte: Autoria Própria. 65 O aumento da velocidade de deformação de 4,60 para 9,15 m/min proporcionou uma redução de 3,77% na altura do filete H, enquanto no intervalo de 9,15-18,30 m/min ocorreu um aumento de 3,71%. Observa-se que as velocidades de deformação mais baixa e mais alta apresentaram uma linearidade, com valores médios da altura do filete aproximadamente iguais. Logo, para que ocorra uma boa formação do filete e compressão do material, são necessárias velocidades de deformação médias próximas a 9,15 m/min. A posição de medição afeta diretamente a altura do perfil de rosca H. Ao alterar a faixa de medida do início para o final, a altura do filete sofre uma redução de 0,687(7) mm para 0,638(8) mm, representando um decréscimo gradual de 7,11%. Esse comportamento confirma a influência da posição de medição na média (Figura 4-7). Define-se a priori que essa diferença ocorre devido ao tempo de contato com a pressão do rolo laminador, necessário para uma boa formação e escoamento do material na formação do filete. Existem sistemas de laminação que compactam a rosca por inteiro e que devem ser utilizados nesse caso com intuito de minimizar, ou até extinguir, esse fator. Porém, deve-se levar em conta o comprimento da rosca inferior ao comprimento do rolo ou placa laminador. Figura 4-7 - Efeito principal do fator posição de medição para altura do filete de rosca H. Fonte: Autoria Própria. O aumento do diâmetro inicial proporciona um acréscimo significativo de 26,45% na altura do perfil de rosca H, conforme observado no gráfico de efeito principal exibido pela Figura 4-8. Pode-se observar que a recuperação elástica do material à compressão foi alta, formando duas retas com ângulos diferentes, sendo de 11,00 a 11,15 mm com inclinação 66 superior. O tipo de filete em forma de triângulo prevê menos material para a formação dos diâmetros superiores. Contudo, deduz-se que o uso de grandes diâmetros para promover a compactação do material não seria possível devido a uma recuperação elástica elevada do material. Figura 4-8 - Efeito principal do fator diâmetro sobre altura do filete H. Fonte: Autoria Própria. 4.2 Roscamento por usinagem Tabela 4-4 - Dados de medição rosca usinada. USINAGEM Método de medição Pos. RPM 530 Titânio RPM 1061 Titânio RPM 796 Titânio R1/01 R2/02 R3/03 R1/04 R2/05 R3/06 R1/07 R2/08 R3/09 Micrometro I 11,929 11,943 11,943 12,130 12,135 12,064 12,022 12,091 12,024 diâmetro M 11,914 11,926 11,918 12,063 12,085 12,084 12,027 12,033 12,009 externo F 11,881 11,893 11,904 11,995 12,010 11,998 11,946 11,980 11,982 I 0,990 1,001 1,034 0,989 0,979 1,023 1,045 1,044 1,055 M 0,913 1,012 1,044 1,023 0,990 1,033 1,055 1,033 1,022 F 0,968 0,990 1,000 1,001 0,989 0,990 1,033 1,012 1,034 Retro projetor Fonte: Autoria Própria. 4.2.1 Diâmetro externo do Perfil de rosca usinado Os valores das medidas do diâmetro externo do perfil de rosca usinado variaram entre 11,881 e 12,135 mm. A Tabela 4-5 apresenta os resultados da análise de variância (ANOVA) 67 para a média do diâmetro externo do perfil de rosca usinado, encontrando-se sublinhados os P-valores menores ou iguais a 0,05, que são considerados significativos em um nível de 95% de significância. Tabela 4-5 - Análise de variância para o diâmetro externo do perfil de rosca usinado. Fatores Experimentais DF Seq SS Adj SS Adj MS F P Vel. de usinagem 2 0,098935 0,098935 0,049467 107,790 0,000 Pos. de medição 2 0,027743 0,027743 0,013871 30,230 0,000 4 0,003316 0,003316 0,000829 1,810 0,172 18 0,008261 0,008261 0,000459 Vel. de usinagem * Pos. de medição Erro Residual R² 94,03% Fonte: Autoria Própria. Os gráficos de probabilidade normal para os resíduos, gráfico de resíduos versus valores ajustados, histograma para os resíduos, resíduos versus ordem de coleta dos dados (Figura 4-9) e normalização de Anderson-Darling (Figura 4-10), apresentaram um comportamento que atende às condições de normalidade exigidas para a validação do modelo de análise de variância: Distribuição normal com média próxima a zero representada pelo gráfico de probabilidade normal dos resíduos, histograma dos resíduos e pelo P-valor superior a 0,05, exibido pelo teste de normalidade de Anderson-Darling; Variância constante (Gráfico de resíduos versus valores ajustados); Independência e homogeneidade (Gráficos resíduos versus a ordem de observação dos dados). 68 Figura 4-9 - Resíduos para a média do diâmetro externo do perfil de rosca usinada: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. Fonte: Autoria Própria. Figura 4-10 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para validação do modelo da análise de variância – diâmetro externo do perfil usinado. Fonte: Autoria Própria. A Figura 4-11exibe o efeito da velocidade de usinagem no diâmetro externo do perfil de rosca usinado. Observa-se que maior nível de velocidade promove a obtenção de maiores diâmetros para o perfil de rosca usinado. O aumento da velocidade de usinagem gera um acréscimo gradual de 1,21% no diâmetro do perfil usinado. 69 Figura 4-11 - Efeito principal do fator velocidade de usinagem sobre o diâmetro externo do perfil de rosca usinado. Fonte: Autoria Própria. O aumento do diâmetro pelo uso da velocidade de corte mais alta reforça a afirmativa de alta recuperação elástica do material que, devido à rápida passagem da ferramenta, não efetuou o corte de maneira efetiva por causa da recuperação elástica do material. A posição inicial de medição exibe diâmetros externos superiores à posição do meio e final. A diferença percentual dos diâmetros externos existente entre a posição inicial e final é de aproximadamente 0,63% (Figura 4-12). Figura 4-12 - Gráfico de efeito principal do fator experimental posição de medição. Fonte: Autoria Própria. Como se pode observar no gráfico, mesmo com um pequeno balanço devido à fixação da ferramenta (que influencia na área usinada), a alta recuperação elástica do material 70 promoveu, no ponto mais próximo da placa de fixação, que corresponde à parte final da medição, valores de diâmetros menores. Dessa forma, a flexão e a alta recuperação elástica foram responsáveis por esse resultado. Com o intuito de minimizar esse fator, deve-se utilizar o contraponto auxiliar do cabeçote móvel do equipamento para proporcionar uma rigidez maior no sistema. 4.2.2 Altura do filete H Os valores experimentais para a altura do filete H variaram entre 0,913 e 1,055 mm. A Tabela 4-6 mostra os resultados da análise de variância (ANOVA) para a média desse valor, encontrando-se sublinhados os P-valores menores ou iguais a 0,05, que são considerados significativos em um nível de 95% de significância. O valor de 85,42 do R² ajustado indica que o ajuste do modelo foi satisfatório. Tabela 4-6 - Análise de variância para a altura do filete H. Fatores Experimentais DF Seq SS Adj SS Adj MS F P Vel. de usinagem 2 0,009231 0,009231 0,004616 5,92 0,011 Pos. de medição Vel. de usinagem * Pos. de medição Erro Residual 2 0,001235 0,001235 0,000617 0,79 0,468 4 0,001164 0,001164 0,000291 0,37 0,824 18 0,014026 0,014026 0,000779 R² Fonte: Autoria Própria. 85,42% A Figura 4-13 e Figura 4-14, respectivamente mostra os gráficos de probabilidade normal para os resíduos, gráfico de resíduos versus valores ajustados, histograma para os resíduos, resíduos versus ordem de coleta dos dados e teste de normalidade de AndersonDarling para a validação do modelo da Análise de Variância: Distribuição normal com média próxima a zero representada pelo gráfico de probabilidade normal dos resíduos, histograma dos resíduos e pelo P-valor superior a 0,05, exibido pelo teste de normalidade de Anderson-Darling; Variância constante (Gráfico de resíduos versus valores ajustados); Independência e homogeneidade (Gráficos resíduos versus a ordem de observação dos dados). 71 Figura 4-13 - Resíduos para a média da altura do filete H rosca usinada: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. Fonte: Autoria Própria. Figura 4-14 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para validação do modelo da análise de variância – altura do filete H rosca usinada. Fonte: Autoria Própria. A Figura 4-15 mostra o efeito da velocidade de usinagem sobre a média da altura do filete H. O nível intermediário da velocidade de usinagem 29,13 m/min apresenta maiores alturas do perfil de rosca. As diferenças percentuais das alturas dos filetes no intervalo de 72 velocidade de 19,40 a 29,13 m/min e 29,13 a 38,83 m/min são 4,08% e 3,86%, respectivamente. Figura 4-15 - Efeitos principais da velocidade de corte sobre a média da altura do filete H. Fonte: Autoria Própria. Podemos observar no gráfico que, para o corte ideal do filete, é necessária uma velocidade média próxima a 29,13 m/min, pois altas e baixas velocidades de corte promoveram alturas menores para o filete. 4.3 Microindentação no roscamento por conformação As microindentações no roscamento por conformação do titânio variaram entre 303 e 385 Hv. A Tabela 4-7 apresenta os resultados da análise de variância (ANOVA) para a média das medidas de dureza Hv, encontrando-se sublinhados os P-valores menores ou iguais a 0,05, considerados significativos em um nível de 95% de significância. O valor de R² ajustado de 83,76% indica que o modelo se ajustou adequadamente aos resultados obtidos. Observa-se que a velocidade de deformação, a posição de medição e as interações entre a velocidade de deformação com o diâmetro e a velocidade de deformação com a posição tiveram influência sobre a resposta da microindentação. 73 Tabela 4-7 - Análise de variância para a média das microindentações. Fatores Experimentais DF Seq SS Adj SS Adj MS F P Vel. de deformação 2 5842,7 5842,7 2921,3 24,50 0,000 Diâmetro inicial 2 213,1 213,1 106,5 0,89 0,415 Posição de medição 2 5746,4 5746,4 2873,2 24,09 0,000 Vel*Diâmetro 4 2447,5 2447,5 611,9 5,13 0,001 Vel*Posição 4 2036,9 2036,9 509,2 4,27 0,004 Diâmetro*Posição 4 609,4 609,4 152,3 1,28 0,290 Vel*Diâ*Pos 8 565,8 565,8 70,7 0,59 0,779 54 6440 6440 119,3 Erro Residual R² 83,76% Fonte: Autoria Própria. A Figura 4-16 apresenta os gráficos de probabilidade normal para os resíduos, gráfico de resíduos versus valores ajustados, histograma para os resíduos e resíduos versus ordem de coleta dos dados para a validação do modelo da análise de variância (ANOVA). Figura 4-16 - Resíduos para a média do diâmetro do perfil de rosca conformado: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. Fonte: Autoria Própria. A Figura 4-17 apresenta o teste de normalidade de Anderson-Darling para a distribuição normal para as microindentações. 74 Figura 4-17 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para validação do modelo da análise de variância – microindentação rosca conformada. Fonte: Autoria Própria. Os gráficos de resíduos para a média da dureza Hv exibidos na Figura 4-17 apresentaram um comportamento que atende às condições de normalidade exigidas para a validação do modelo de análise de variância: Distribuição normal com média próxima a zero representada pelo gráfico de probabilidade normal dos resíduos, histograma dos resíduos e pelo P-valor superior a 0,05, exibido pelo teste de normalidade de Anderson-Darling; Variância constante (Gráfico de resíduos versus valores ajustados); Independência e homogeneidade (Gráficos resíduos versus a ordem de observação dos dados). Segundo Werkema e Aguiar (1996), se uma interação de ordem mais elevada for significativa e o efeito principal também for, não faz sentido a interpretação do efeito principal isolado, já que o fator depende do nível que está no outro fator. Dessa forma, somente as interações velocidade de deformação e diâmetro e velocidade de deformação e posição de medição serão exibidas (Figura 4-18). A Figura 4-18 exibe a interação dos fatores velocidade de deformação e diâmetro para o diâmetro do perfil de rosca conformado. 75 Figura 4-18 - Interação velocidade de deformação x diâmetro inicial para a média da microindentação. Fonte: Autoria Própria. Observa-se que é necessária uma velocidade intermediária de deformação para que exista tempo de ocorrer a compactação do material. Assim, menores velocidades não promoveram a compactação devido à falta de inércia da compactação, e altas velocidades devido ao baixo tempo de contato e alta recuperação elástica do material também não ajudam na compactação. O aumento da velocidade de deformação gerou uma variação de 6,78; 9,48 e 2,06% da dureza Hv para os diâmetros de 10,85; 11,00 e 11,15 mm, respectivamente. A variação dos níveis de velocidade de deformação para o processo de laminação apresentou um comportamento distinto para cada diâmetro inicial da haste de titânio, apresentando um pico significativo para o diâmetro de 11 mm e velocidade de deformação de 9,15 m/min. Observa-se que, para a menor velocidade de deformação, menores diâmetros resultaram em maior dureza Hv. Entretanto, para diâmetros maiores, aconselha-se o emprego de maior rotação. Isso ocorre devido ao fato de o cabeçote laminador ser parametrizado com rotações constantes. Dessa forma, não se pode prever o mecanismo em função da velocidade de deformação. Portanto, sugere-se que a variação do diâmetro da rosca terá influência direta na rotação e, consequentemente, na velocidade de deformação. Assim, ajustes na rotação em função do diâmetro a ser roscado e da velocidade que se deseja utilizar devem ser previstos. A Figura 4-19 exibe a interação dos fatores velocidade de deformação e posição de medição para a média da microindentação Hv. 76 Figura 4-19 - Interação velocidade de deformação x posição de medição para a média das microindentações. Fonte: Autoria Própria. O aumento da velocidade de deformação resultou em uma redução de 5,06% e 3,98%, respectivamente, na dureza Hv da crista e na base da rosca. A diferença percentual das microdurezas entre a maior e a menor velocidade de deformação na região do meio foi aproximadamente 9,57%. Observa-se que as maiores durezas Hv estão na região central. Para a maior velocidade de deformação (18,30 m/min), a base da rosca foi a região com maior dureza Hv, diferentemente das velocidades de 4,60 e 9,15 m/min, demonstrando uma tendência de que maiores velocidades acarretam maiores durezas na base da rosca. Contudo, altas velocidades não foram ideais para a compactação do material e para promover a redução da dureza no meio do parafuso devido ao esforço de laminação. 4.4 Microindentação no roscamento por usinagem As microindentações no roscamento por usinagem do titânio variaram entre 303 e 385 Hv. A Tabela 4-8 apresenta os resultados da análise de variância (ANOVA) para a média das medidas de dureza Hv, encontrando-se sublinhados os P-valores menores ou iguais a 0,05, considerados significativos em um nível de 95% de significância. O valor de R² ajustado de 81,10% indica que o modelo se ajustou adequadamente aos resultados obtidos. 77 Tabela 4-8 - Análise de variância para a média das microindentações. Fatores Experimentais DF Seq SS Adj SS Adj MS F P Vel. de deformação 2 126 126 63 0,64 0,540 Diâmetro inicial 2 3174,89 3174,89 1587,44 16,05 0,000 Vel*Posição 4 1079,11 1079,11 269,78 2,73 0,062 18 1780 1780 98,89 Erro Residual R² 81,10% A Figura 4-20 apresenta os gráficos de probabilidade normal para os resíduos, gráfico de resíduos versus valores ajustados, histograma para os resíduos e resíduos versus ordem de coleta dos dados para a validação do modelo da análise de variância (ANOVA). Figura 4-20 - Resíduos para a média do diâmetro do perfil de rosca conformado: (A) Probabilidade normal, (B) Resíduos versus valores ajustados, (C) Histograma e (D) Resíduos versus ordem dos dados. Fonte: Autoria Própria. A Figura 4-21 apresenta o teste de normalidade de Anderson-Darling para a suposição de distribuição normal para as microindentações. 78 Figura 4-21 - Teste de normalidade de Anderson-Darling para validação do modelo da análise de variância – microindentação rosca usinada. Fonte: Autoria Própria. Os gráficos de resíduos para a média da dureza Hv exibidos na Figura 4-21 apresentaram um comportamento que atende às condições de normalidade exigidas para a validação do modelo de análise de variância: Distribuição normal com média próxima à zero representada pelo gráfico de probabilidade normal dos resíduos, histograma dos resíduos e pelo P-valor superior a 0,05, exibido pelo teste de normalidade de Anderson-Darling; Variância constante (Gráfico de resíduos versus valores ajustados); Independência e homogeneidade (Gráficos resíduos versus a ordem de observação dos dados). A Figura 4-22 mostra o efeito principal da posição de medição para a média da microindentação Hv para o processo de roscamento por usinagem. Observa-se que a região da crista da rosca apresentou menor dureza Hv que as regiões centrais e da base, que apresentaram aproximadamente médias similares. A diferença percentual das microdurezas entre a região da crista e a região central foi 6,68%. Acredita-se que essa diferença se deu devido ao corte e movimentação estrutural no material promovido pelo esforço de corte da ferramenta. 79 Figura 4-22 - Efeito principal da posição de medição sobre a média das microdurezas. Fonte: Autoria Própria. 4.5 Análise da microestrutura Para a análise da microestrutura do material, foi selecionada uma amostra de cada processo, usinado e conformado. A Figura 4-23 mostra a fotografia retirada por microscópio ótico da amostra conformada, diâmetro inicial 11,00 mm e 265 rpm. Observa-se a existência de adensamento da microestrutura do material, que é uma das características da rosca laminada. Segundo Emuge (2010), na rosca por laminação pode acontecer uma deformação visível da estrutura do material conforme pode ser observado na Figura 4-23. Isso ocorre devido à deformação na área do fundo da rosca, assim como na área perto do flanco da rosca, que é resultado do encruamento do material. Adicionalmente, movimenta-se um volume do material devido ao formato do raio no fundo da rosca, o que pode gerar uma concentração de tensão. Dessa forma, esse fenômeno provoca uma redução do efeito entalhadura no material laminado, aumentando, assim, a sua resistência quando submetido a cargas dinâmicas. 80 Encruamento dos grãos do material devido a laminação das roscas Figura 4-23 - Fotografia de microscópio ótico amostra conformada. Fonte: Autoria Própria. A Figura 4-24 mostra uma fotografia retirada com a ajuda de um microscópio ótico com uma amostra usinada com rotação de 796 rpm. Pode-se perceber a uniformidade da microestrutura do material. Logo, pode-se afirmar que não ocorreu adensamento da microestrutura do material para as roscas usinadas. Uniformidade dos grãos do material Figura 4-24 - Fotografia de microscópio ótico amostra usinada. Fonte: Autoria Própria. 81 CAPÍTULO 5 5 CONCLUSÕES Baseado nos dados e nas análises dos resultados realizadas neste trabalho, pode-se concluir que: - O processo de laminação de roscas, considerando-se o diâmetro e a altura do perfil “H”, mostrou que a velocidade de deformação e o diâmetro inicial da haste são os fatores que mais têm significância. Para a velocidade de deformação, existe um ponto ideal intermediário, onde a inércia de conformação provoca o melhor encruamento dos grãos e, consequentemente, uma geração de perfis mais bem formados. - O diâmetro inicial é o fator mais relevante para a formação do diâmetro. A alta recuperação elástica do material pode ser confirmada em grandes diâmetros, onde não houve redução do diâmetro da rosca. Pode-se observar também que o método aplicado para a laminação não é o ideal devido à diferença entre início, meio e fim na altura do perfil “H”. Pode-se, dessa forma, constatar o encruamento dos grãos do material e a melhoria da qualidade do perfil da rosca, o que resulta em uma rosca mais resistente. - Os dados obtidos no processo de usinagem da rosca mostraram, pela análise do diâmetro e altura do perfil de rosca, que existe uma alta recuperação elástica do material. Isso pode ser evidenciado pelo pequeno balanço do material na fixação dos corpos de prova durante o processo ser significativo para influenciar as medidas no início, meio e final da amostra. Portanto, considerando-se a diferença gerada pela velocidade de corte, deve-se usar os níveis intermediários com o intuito de usinar o perfil com melhor qualidade. Dessa forma, pode-se concluir que o processo de roscamento por laminação formou perfis de rosca com mais qualidade, o que gera um encruamento na estrutura cristalina do material, podendo, em alguns casos, aumentar sua resistência. 82 83 REFERÊNCIAS ARAÚJO, A. C.; SILVEIRA, J. L.; KAPOOR, S. 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