Portal Educar – Perspectivas de inclusão digital
docente na Rede Municipal de Ensino do Recife
Márcia Gonçalves Nogueirai (PR)
Flavia Barbosa Ferreira de Santanaii (UFPE)
Resumo:
Este resumo tem como objetivo apresentar uma análise sobre o Portal
Educar da Rede de Ensino da Cidade do Recife no que se refere a
possibilidade de uma formação continuada e inclusão digital docente a
partir de uma comunidade de prática. Como resultado inicial, afirmamos
que: o processo de transmissão de conhecimento baseado em trocas sociais
favorece uma aprendizagem contínua ao combinar práticas formais e
informais; as ferramentas disponíveis na web 2.0 possibilitam a troca de
conhecimentos entre as pessoas em larga escala favorecendo a
aprendizagem entre pares e a formação a distância; e ao promover práticas
interativas e colaborativas se está contribuindo para a formação e inclusão
digital docente.
Palavras-chave: Inclusão digital docente, Formação continuada,
Comunidade de prática.
Abstract:
This summary aims to present an analysis on the Education Portal of the
Education Network of Recife as regards the possibility of a continuing
education and digital inclusion teacher from a community of practice. As
initial result, we affirm that the process of transmission of knowledge
based on social exchange promotes continuous learning by combining
formal and informal practices, tools available on the web 2.0 enable the
exchange of knowledge between people favoring large-scale peer learning
and distance learning, and to promote interactive and collaborative
practices that are helping to train teachers and digital inclusion.
Palavras-chave: Digital Inclusion teacher, Continuing Education,Community
of Practice
Introdução
A partir do final do século XX a sociedade contemporânea vivencia um
período de grandes transformações sociais e econômicas denominada de revolução
tecnológica advindas das mudanças causadas pela globalização capitalista e,
consequentemente, intensificadas pela expansão da internet, pelos avanços
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tecnológicos e pela crise de identidade cultural do sujeito pós-moderno. Este
período ficou marcado pela universalização do acesso aos meios de comunicação e
pela formação de novas relações sociais organizadas em torno das redes,
denominada por Castells (2003) como sociedade em rede.
Este
fenômeno
tecnológico
tem
possibilitado,
além
de
grandes
transformações, uma notável evolução em diversos espaços sociais, econômicos e
educacionais com grande repercussão na modalidade a distância, por amplificar a
capacidade de comunicação, ao conectar-se e desconectar-se mundialmente em
constante compartilhamento de saberes. De acordo com Sobrinho (2005):
As novas tecnologias de alguma forma alteraram os limites espaciais,
mudaram os modos de organização econômica, estenderam e
potencializaram as formas de relações humanas, enfim, transformaram as
tradicionais percepções do mundo e as maneiras de agir sobre ele.
(SOBRINHO, 2005, p.45).
A partir deste cenário e com a democratização do acesso á informação, as
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) tornaram-se parte integrante
desta sociedade interligando pessoas ao mundo, formando uma grande teia que
ultrapassa barreiras de espaço e tempo. Neste contexto, viveu-se um momento de
transformação de nossa cultura material pelos mecanismos de um novo paradigma
tecnológico que se estrutura com base nas Tecnologias de Informação (CASTELLS,
2003).
É frente a esta uma nova realidade, determinada pela forma de
comunicação virtual, onde todos passam a ser emissores e receptores de
informações difundidas em rede e pela fronteira cultural delimitada pela era da
informação, onde de um lado estão os “imigrantes digitais” e do outro os “nativos
digitais” que a educação tem sido reformulada, provocando incessantes reflexões
sobre o papel da escola, do professor e do aluno nesta sociedade informacional.
Nessa perspectiva, a incorporação das TIC está se dando com o sentido de
abrir possibilidades para fazer, pensar e conviver que não poderiam ser
pensadas sem a presença dessas tecnologias. Como elas introduzem um
novo sistema simbólico para ser processado, (re)organizam a visão de
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mundo de seus usuários, modificam hábitos cotidianos, valores e crenças,
constituindo-se em elementos estruturantes das relações sociais, os
processos evidenciam um movimento ininterrupto de construção de cultura
e conhecimento. (BONILLA; PRETTO, 2005)
Para tanto se faz necessário políticas públicas educacionais de inclusão
digital que possibilitem tanto o acesso a informação quanto a formação de
docentes para que os mesmos se apropriem das NTICs e incorporem estes novos
recursos a sua prática pedagógica, aproximando-se mais do estudante e passando
de transmissor de conteúdos para mediador e articulador na construção do
conhecimento.
Formação continuada e Inclusão digital docente - uma relação
indispensável
Sabemos que o rápido desenvolvimento tecnológico juntamente com a
demanda pela modalidade EaD conduz ao interesse pela formação de professores. E
que as novas tecnologias de informação e comunicação também são responsáveis
por ressaltar as perspectivas atuais em termos de como se espera que ocorra o
ensino. Porém a introdução das TICs no ambiente escolar ainda é marcada pela
ênfase na instrução. Uma nova dinâmica no campo educacional é necessária, pois
existe uma busca pela criação de espaços mais autônomos, participativos e
interativos.
No campo educacional podemos citar que o uso das tecnologias é pensado
como forma de tornar o processo de ensino-aprendizagem mais eficiente e eficaz
no sentido de que a aprendizagem realmente aconteça e seja significativa.
Também há a exigência de que o aluno não pode ser passivo, uma vez que a
interação com o objeto de estudo e com o grupo é que marca sua presença.
É necessário, portanto, introduzir não só nas escolas mas, na formação dos
professores, as possibilidades que se abrem com a utilização das TICs. Segundo
Prado e Silva (2007),
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Fica evidenciada a necessidade de o professor criar estratégias que
permitam lidar ao mesmo tempo com as inovações oferecidas pelas
tecnologias e com o compromisso da escola enquanto organização
institucional.
Esses
são
alguns
desafios,
desenvolvidos
na
recontextualização, que mostram a necessidade de o processo de formação
dos educadores propiciar a reconstrução da sua prática para a incorporação
e integração das tecnologias nas atividades pedagógicas da escola (PRADO
E SILVA, 2007, p. 63)
A formação continuada dos professores é uma necessidade frente às
exigências dos dias atuais. É urgente a ideia de incorporar os avanços tecnológicos.
Mas
para
que
essas
mudanças
aconteçam,
os
professores
precisam
ter
competências e habilidades mínimas. O professor precisa organizar, planejar e
aglutinar questões que apareceram ao longo de sua prática pedagógica
sistematizando-a de forma a garantir o domínio de novos conhecimentos pelo grupo
de alunos.
O professor tem sua função ampliada. Não lhe é mais cabível usar as
tecnologias do giz e quadro, outras lhe são oferecidas. É necessário desenvolver
aptidões tecnológicas, navegar na Web e pensá-la com olhos pedagógicos e lhe dar
sentido educacional.
Na medida em que a expansão do acesso as tecnologias vai se ampliando,
começamos a observar seus efeitos sociais, ou seja, a discussão sobre a inclusão
digital docente começa a tomar outro caminho, preocupando-se agora com o uso
ou a aplicação que está sendo feita dessa tecnologia e das informações acessadas.
A escola não pode ficar aquém dessas mudanças. Belloni (1998), ao discutir a
questão da tecnologia na escola, afirma que:
... a escola da pós-modernidade terá que formar cidadão capaz de ‘ler e
escrever’ em todas as novas linguagens do universo informacional em que
está imerso (BELLONI, 1998, pp. 146-147).
Isso justifica a presença da tecnologia que traz um novo olhar sobre a
escola, que estabelece e prioriza o desenvolvimento integral do homem e sua
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inserção crítica no mundo em que se vive. Tendo como objetivo sine qua non
repensar a questão de atitudes e valores.
Sendo assim, a tecnologia na escola se faz necessária porque possibilita ao
professor integrar o aluno aos diferentes espaços onde experimentam e conhecem
a realidade, favorecendo a inserção em ambientes informais e profissionais.
Fazendo com que eles compreendam o mundo e atuem na transformação do seu
contexto.
Hoje, o paradigma emergente torna professor e aluno colaboradores na
construção do conhecimento, conforme nos diz Santos e Radike (2005):
O aluno deixa de ser receptor de informação para tornar-se responsável
pela construção de seu conhecimento, usando o computador para buscar,
selecionar, inter-relacionar informações significativas na exploração,
reflexão, representação e depuração de suas próprias idéias, segundo seu
estilo de pensamento. Professores (as) e alunos (as) desenvolvem ações em
parceria, por meio da cooperação e da interação com o contexto, com o
meio e com a cultura (SANTOS E RADIKE, 2005, p. 328).
O aprender e o aprender com o outro são essenciais. Sendo necessário
transformar as informações após reflexão e análise críticas, transformando seu
cotidiano, contexto e comunidade. Leite (2003) afirma que “vivenciar novas formas
de ensino e aprender incorporando as tecnologias requer cuidado com a formação
inicial e continuada do professor” (LEITE, 2003, p. 14).
É fundante que o professor não deve ser repassador de conteúdos e sim mais
um elemento que desencadeia mudanças no espaço escolar e social, devendo
estimular o educando ao desenvolvimento de competências para lidar com a
sociedade moderna, enfatizando a autonomia, a ética, a responsabilidade e a
pesquisa, promovendo o desenvolvimento de pensamento crítico e reflexivo. Enfim,
o educador de hoje deve agregar sua prática profissional ao seu papel social,
mediando a construção e produção do conhecimento, visando o desenvolvimento
integral do educando.
No entanto, o que se tem percebido nas formações dos docentes hoje é que
tanto a inclusão das mídias no triângulo didático quanto às discussões sobre
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formação midiatizada para o professor, são deixadas de lado. Como resposta, essas
pesquisas consideram a aprendizagem apenas como resultado da relação homemmáquina.
Um dos desafios da educação hoje é tentar construir um modelo que
possibilite abordar os processos tecnológicos como elementos da ação de formação.
Visto que o ciberespaço é um espaço de recontextualização, de criação e de
valorização. Não se trata apenas de mudar métodos e práticas educativas ou
transformar conteúdos presenciais em conteúdos virtuais. Mas sim possibilitar o
professor a reconstrução de seus procedimentos de orientação de atividades e de
avaliação bem como o estabelecimento de atividades de construção social do
sentido, considerando vínculos, interações e o olhar do outro.
O professor precisa recontextualizar seus conhecimentos e suas práticas para
que o aluno aprenda mais e melhor, isso deve começar pela mudança na sua
formação inicial e continuada. Essa formação deve ser midiatizada, para que os
professores se adaptem às novas maneiras de ensino e de aprendizagem. Deve
também oferecer propostas práticas para que o professor perceba que o
ciberespaço é mais um lugar de conhecimento, capaz de possibilitar sua
autoformação e de introduzir procedimentos inovadores para a sua formação e
atualização.
O professor deve agregar sua prática profissional ao seu papel social,
mediando a construção e produção do conhecimento, visando o desenvolvimento
integral do educando. Fazendo com que eles compreendam o mundo e atuem na
transformação do seu contexto.
No sentido de assegurar essa condição, a Prefeitura do Recife, por meio da
Secretaria
de
Educação,
Esporte
e
Lazer
-
SEEL,
lançou
o
Programa
[email protected] que faz parte de um conjunto de ações da Política Pública de
Valorização do Magistério da Rede Municipal de Ensino do Recife - RMER, que tem
como objetivo promover a inclusão digital e a formação continuada dos professores
da Rede, mediadas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).
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A proposta da criação do Projeto “Professor.com” integra a política de
valorização do magistério desenvolvida pela Prefeitura do Recife (PR), com
ações que visam proporcionar aos educadores da RMER a apropriação dos
recursos tecnológicos da informação e comunicação como instrumento nas
atividades pedagógicas, possibilitando ao educando a construção de
saberes para interagir na sociedade de forma mais crítica e humana.
(Projeto Professor.com, 2009)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996) declara em seu artigo 87º, parágrafo 3º, inciso III, que o poder
público deve “realizar programas de capacitação para todos os professores em
exercício, utilizando também, para isso, os recursos da educação a distância”, no
que se refere ao programa, propõe-se a formação e atualização dos professores de
forma que a tecnologia seja de fato incorporada no dia a dia da educação.
Perspectiva de inclusão digital docente na Prefeitura do Recife - O
Portal Educar
O Portal Educar é ambiente virtual voltado para a comunidade escolar da
RMER que oferece espaços de colaboração e (re)construção de conhecimentos de
forma interativa e dinâmica, recursos pedagógicos de apoio educacional e áreas de
compartilhamento de projetos pedagógicos dos professores e das escolas. Ele
compõe o Programa [email protected]. Este Programa foi concebido com o intuito de
introduzir as novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs) à prática
docente com a perspectiva de criação de competências no uso das tecnologias,
visando dar apoio ao processo pedagógico de ensino-aprendizagem. O programa
tem como base três eixos norteadores, a saber: a disponibilização do equipamento,
no caso, computadores portáteis de uso pessoal; acesso à internet móvel através de
convênio com empresa particular com parcela reduzida; e o lançamento do Portal
Educar como estratégia de mudança de paradigma nas concepções e práticas
educacionais colaborativas, propondo a formação docente e a socialização de
experiências e conhecimentos em rede.
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A RMER em seu Projeto Professor.com (PR, 2009) descreve como objetivo
geral do programa é:
Construir e implantar um programa de formação continuada para os
educadores da Rede Municipal de Ensino do Recife (RMER) por meio da
utilização e integração de tecnologias da informação e comunicação,
possibilitando ao educando uma formação que contemple o uso destas
tecnologias, na perspectiva da melhoria da qualidade de ensino.
(PREFEITURA DO RECIFE, 2009)
E insere como objetivos específicos:
ƒ
Garantir ao GOM1 o acesso as Tecnologias da Comunicação e
Informação, para que possa acompanhar as mudanças educacionais e
implantá-las no seu fazer pedagógico;
ƒ
Consolidar o processo de universalização do uso e da exploração dos
recursos tecnológicos na RMER para estudo, pesquisa, interação e
construção do conhecimento, contribuindo para a melhoria da qualidade de
ensino, com vistas na formação do cidadão;
ƒ
Implantar ambientes de excelência para o desenvolvimento de um
Programa de Educação a Distância, por meio da exploração e uso das
diversas Tecnologias da Informação e Comunicação, contribuindo para a
consolidação de uma cultura do uso das TICs nas atividades pedagógicas,
administrativas e outras que influenciem na melhoria da qualidade de vida
das pessoas;
ƒ
Promover a formação continuada dos educadores da RMER para o uso
dos recursos tecnológicos voltados para sua área de atuação, na
modalidade semi-presencial, numa perspectiva da formação integral do
educando;(PREFEITURA DO RECIFE, 2009)
Este programa constitui a estratégia promovida pela RMER para atender as
necessidades da sociedade atual em face das questões contemporâneas, permitindo
que, gradativamente, professores, alunos e escola possam assumir novos papéis não
somente
na
sociedade,
mas
também
na
educação
como
sujeitos
desta
transformação cultural, como destaca Porto (2007):
Nesse processo de inovação de modelo de sociedade, a educação, como
instituição que produz e reproduz a cultura, não poderá ficar à margem.
Ainda que não se goste da tecnologia, não há como negá-la, até mesmo
porque sua função social primeira é garantir espaço para inovações que
permitam aprendizagem de qualidade (PORTO, 2007, p.123).
1
GOM - Grupo Ocupacional Magistério que integra o Quadro Geral de Pessoal da Prefeitura da Cidade do Recife, no Quadro
Especial Magistério constituído pelos cargos de Professor I, distinguido em cinco (05) classes, e professor II, distinguido em
quatro (04) classes. (Lei no. 16520/1999 - Recife)
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Dentro desta perspectiva consideramos o Portal Educar como um espaço
virtual inovador por propiciar a socialização e a formação continuada dos
professores para a incorporação das TICs, tendo em vista a interface agradável, a
disponibilidade de recursos pedagógicos que visam auxiliar a prática educativa,
conforme pode ser observado na figura 1.
Figura 1: Tela de Entrada do Portal Educar 2009
Por meio de login e senha o professor tem acesso ao “Meu Espaço” (Figura
2), área restrita desenvolvida para edição de seus dados pessoais: alterar senha,
cadastrar projetos, administrar agenda pessoal e acessar os grupos de vinculação
(página Meus Grupos).
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Figura 2: Página Meu Espaço – página do professor
O Portal foi dividido em espaços classificados por eixos temáticos para
possibilitar a comunicação dialógica entre professores pertencentes ao mesmo
grupo, distribuídos da seguinte forma: educação infantil, 1º e 2º ciclos, 3º e 4º
ciclos, Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissionalizante, Educação
Especial, e Tecnologia na Educação destinado à equipe técnico-pedagógica. Estes
espaços visam à interação entre os professores, as equipes de formação continuada
e acompanhamento escolar.
A figura 3 ilustra a página do grupo de 1º e 2º ciclos, além da identificação
do professor e dos dados pertinentes ao grupo, percebe-se as ferramentas da WEB
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2.0 para a comunicação síncrona (Sala de Chat) e assíncrona (Fórum) como fator
preponderante desta nova forma de sociedade em rede, marcada pela
interatividade e por práticas colaborativas.
Figura 3: Página Meus Grupos – área de comunicação entre professores do mesmo grupo
Comunidade
de
prática
-
possibilidade
de
construção
de
conhecimento no ciberespaço
A contínua atualização e aperfeiçoamento de professores é uma necessidade
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11
diante dos desafios e das mudanças rápidas que caracterizam a sociedade
contemporânea. Para lidar com as incertezas e inseguranças que o momento traz,
essa
formação
precisa
considerar
a
prática
docente,
problematizando,
questionando, refletindo, buscando alternativas de solução e articulando a
realidade às teorias, em um constante diálogo teoria-prática.
Em se tratando de formação de professores para o uso da tecnologia, dentre
outras coisas, dependem do envolvimento e participação ativa dos professores, mas
muitas vezes essa formação é esvaziada de significados para eles quando ficam
centrados na instrumentalização. Exige-se do professor em sala de aula um novo
papel em que características como criatividade, inovação e domínio das novas
tecnologias são essenciais.
Neste sentido pensar em comunidades de prática, em ambientes virtuais, é
repensar inusitadas formas de se relacionar no ciberespaço, vencer novos desafios:
como o aprender com o outro, gerar e trocar conhecimentos e adquirir
competências em grupo utilizando-se da dinâmica informacional da cibercultura.
Como definido por Wenger (2006) as comunidades de prática são grupos de
pessoas dedicadas a um processo de aprendizagem coletiva em um mesmo domínio
e que procuram explorar novas técnicas para se auto-ajudarem. Em termos
estruturais, conforme Wenger e Snyder (2001) essas comunidades divergem das
demais comunidades (presenciais e virtuais) por três elementos:
•
O Domínio – o foco de interesse que os mantêm unidos.
•
A Comunidade – Interação e construção de relacionamentos de confiança
com objetivos em comum (domínio);
•
A Prática – compartilhamento de práticas que favoreçam a aprendizagem
dos interesses da comunidade.
Segundo Terra (2010) o termo refere-se à maneira como as pessoas
trabalham em conjunto, naturalmente, reconhecendo o poder das comunidades
informais em desenvolver a criatividade para solucionar problemas e resolver
desafios.
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Seguindo esta mesma linha Imbernóm (2010) define as “Comunidades de
Prática” como grupos formados com a finalidade de desenvolver um conhecimento
especializado, através do compartilhamento de experiências práticas comum a
todos e relaciona este conceito a um grupo de professores que firmam relações de
participação e ajuda mútua para promover trocas e reflexões sobre suas práticas.
Sob estas visões deduz-se que a criação de comunidades de prática em
ambientes virtuais possibilita que o professor vivencie a formação sem se ausentar
de suas atividades, provocando uma ruptura nas relações educativas tradicionais
com o surgimento de uma relação de troca de conhecimento, de reflexão,
autonomia e responsabilidades. Permitindo, ainda, que um trabalho de qualidade
possa ser desenvolvido. Uma vez que o saber científico e as aprendizagens formais
se transformam para chegar às salas de aulas.
Resultados Iniciais
É certo que o processo de transmissão de conhecimento baseado em trocas
sociais favorece uma aprendizagem contínua ao combinar práticas formais e
informais, através da partilha e discussão de estratégias construídas sóciohistoricamente é que as comunidades tomam decisões a partir das configurações
sociais, envolvendo um modo particular no qual aprendizagem implica uma
reflexão sobre transfomação social (WENGER, 1998).
Com a ampliação dos espaços pedagógicos da sala de aula para sistemas mais
flexíveis e oportunizados pela educação a distância, novos formatos de aprender,
e, consequentemente, de ensinar são pesquisados e aos poucos implementados, em
busca
de
soluções
que
minimizem
as
dificuldades
impressas
pela
não
presencialidade existente em seu contexto.
Diante de tal realidade, com o desenvolver da EAD novos e diferentes papéis
são atribuídos a atividade docente, que por vezes passa a ser definido em
diferentes papéis como o de tutor e o de professor e aos alunos, demandando o
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desenvolvimento de competências distintas daquelas exigidas para o ensino
presencial.
Um dos desafios da educação hoje é tentar construir um modelo que
possibilite abordar os processos tecnológicos como elementos da ação de formação.
Visto que o ciberespaço é um espaço de recontextualização, de criação e de
valorização. Não se trata apenas de mudar métodos e práticas educativas ou
transformar conteúdos presenciais em conteúdos virtuais. Mas sim possibilitar o
professor a reconstrução de seus procedimentos de orientação de atividades e de
avaliação bem como o estabelecimento de atividades de construção social do
sentido, considerando vínculos, interações e o olhar do outro.
Para estimular uma cultura de aprendizagem em rede é preciso
disponibilizar ferramentas que permitam o desenvolvimento profissional docente, o
aprender a aprender e o aprender com o outro; ao disponibilizar materiais para
pesquisa e recursos tecnológicos aos professores, bem como ao promover práticas
interativas e colaborativas se está contribuindo para a formação e inclusão digital
docente.
Refletir sobre o papel do professor na educação a distância, é importante
porque o docente seria um motivador. As ferramentas disponíveis na web 2.0
possibilitam a troca de conhecimentos entre as pessoas em larga escala
favorecendo a aprendizagem entre pares e a formação a distância. Além disso, o
papel do professor nos cursos on-line é ensinar e aprender (Ferreira & Coelho, sd):
envolvendo criatividade, afetividade e interatividade; a partir de uma perspectiva
dialógica (Freire, 2000); analisando que o aluno possui um ritmo de aprendizagem;
utilizando as diferentes ferramentas, síncronas, chats e assíncronas, e-mail, fóruns,
dentre outras contribuem para o aprendizado na perspectiva sócio-interacionista;
refletindo que a educação a distância utiliza recursos tecnológicos, mas o ensino
tradicional também pode usar as tecnologias (Ferreira & Coelho, sd).
O professor precisa recontextualizar seus conhecimentos e suas práticas para
que o aluno aprenda mais e melhor, isso deve começar pela mudança na sua
formação inicial e continuada. Essa formação deve ser midiatizada, para que os
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professores se adaptem às novas maneiras de ensino e de aprendizagem. Deve
também oferecer propostas práticas para que o professor perceba que o
ciberespaço é mais um lugar de conhecimento, capaz de possibilitar sua
autoformação e de introduzir procedimentos inovadores para a sua formação e
atualização.
Portanto, fica claro que a formação do professor na sociedade da informação
deve se preocupar em buscar reformas e outras significações. Os modos de
vivenciar esses fenômenos são muitos e diferentes respostas são possíveis. Dentre
elas está o reforço nas decisões pessoais, decisões pautadas no individual,
localizadas num único sujeito que representa o todo.
Acredita-se que o presente estudo contribui para as reflexões acerca da
criação de comunidades de prática em ambientes virtuais que visam à inclusão
digital e à formação docente como apoio as práticas pedagógicas. No entanto,
todas as reflexões propostas servem como ponto de partida para novas pesquisas
direcionadas a facilitar e incorporar as NTICs ao cotidiano do professor.
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Centro de Educação, EDUMATEC
E-mail: [email protected]
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
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