A educação artística no 1º Ciclo do Ensino Básico: Implicações curriculares Miguel Falcão Escola Superior de Educação de Lisboa Resumo A educação artística tem – ou pode ter – um papel essencial nas dimensões do desenvolvimento global e harmonioso do indivíduo, da integração social e educativa e da expressão da diversidade cultural e artística. Numa intervenção que mereceu consenso na Conferência Mundial sobre Educação Artística, realizada em Lisboa, em Março de 2006, Koïchiro Matsuura, Director-Geral da UNESCO, defendeu que, “[n]um mundo confrontado com novos problemas à escala planetária, (…) a criatividade, a imaginação e a capacidade de adaptação, competências que se desenvolvem através da educação artística, são tão importantes como as competências tecnológicas e científicas necessárias para a resolução desses problemas”. Por que razões, então, as sociedades ocidentais têm mantido tantas resistências à sua promoção e implementação? Para além de estabelecer um enquadramento genérico da educação artística no sistema de ensino português, esta comunicação analisa, em particular, a abordagem ao teatro no currículo do 1º ciclo do ensino básico (último reduto, desta área artística, de frequência obrigatória), a partir de uma constatação axial, que a regular actividade de supervisão pedagógica tem permitido confirmar: a Expressão e Educação Dramática, assim designada, é uma área curricular disciplinar (por conseguinte, de abordagem obrigatória pelos docentes e de frequência também obrigatória pelos alunos) e, todavia, como é sobejamente sabido (basta andar pelas escolas), a maioria dos docentes não a inclui na sua agenda semanal. No entanto, dois aspectos singulares tornam este nível de escolaridade realmente único: (1) o facto de o titular de turma ser o gestor do currículo e, por conseguinte, aquele que, sozinho ou coadjuvado (por docentes especialistas ou artistas), está em condições de assegurar ao seu grupo de alunos a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de competências, não apenas de maneira mais ou menos articulada, mas de forma efectivamente integrada, consonante com o processo de aquisição do conhecimento, tendencialmente globalizante, nesta faixa etária; e (2) o facto de ser de frequência obrigatória, logo universal, com objectivos, estratégias e conteúdos específicos – necessariamente distintos dos da dimensão extracurricular – que têm de ser jogados no xadrez curricular, definitivamente desvinculados do excepcional estatuto de prémio (para aqueles que revelam bom desempenho e comportamento adequado) ou de programa de festas (da “escola a tempo inteiro”). Esta comunicação pretende recensear, questionar e debater alguns tópicos relacionados com a formação inicial que, neste campo, tem sido possível realizar, no específico momento em que a ESELx prepara a abertura do Mestrado em Educação Artística, prevista para o ano lectivo de 2010/11, com duas especialidades: Teatro na Educação e Artes Plásticas na Educação. 4º Encontro de Investigação e Formação 38 Centro Interdisciplinar de Estudos Educacionais Escola Superior de Educação de Lisboa