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Caros candidatos ao concurso de ARFR:
Atendendo a pedidos, comentamos a questão 64 do concurso para preenchimento de vagas
ao cargo de Analista Administrativo do Ministério Público da União, concurso de
responsabilidade da ESAF, realizado em 1º de agosto de 2004.
Como vimos no comentário da questão 63 – já divulgado neste “site” –, trata-se de
questão de resolução demorada, que exige, então, algo que o candidato não tem para
oferecer no dia da prova: tempo.
Sendo o presente concurso para AFRF realizado nas proximidades do Natal, época em que
os corações estão plenos de sentimentos como fraternidade e amor ao próximo, é bom
vermos, também, a que fez par, naquele concurso, com a questão 63. Afinal, não convém
desperdiçarmos questões que, se aplicadas, revelarão que a banca examinadora foi tomada
por sentimentos natalinos.
Vamos à questão 64:
64- Entre as diferentes versões do mesmo texto, escolha a que representa a
melhor opção estilística.
a) A civilização que os portugueses instauraram no Brasil com a lavoura açucareira não
foi, por conseguinte, uma civilização tipicamente agrícola. Não o foi, em primeiro
lugar, porque a tanto não conduzia o gênio aventureiro que trouxe os portugueses à
América; em seguida, por causa da escassez de trabalhadores rurais, e finalmente
pela circunstância de a atividade agrícola não ocupar, então, em Portugal, posição
de primeira grandeza.
b) Não foi, conseqüentemente, uma civilização tipicamente agrícola o que instauraram
os portugueses no Brasil com a lavoura açucareira. Não o foi, em primeiro lugar,
porque a tanto não conduzia o gênio aventureiro que os trouxe à América; em seguida,
devido à escassez de trabalhadores rurais, e finalmente pela circunstância de a
atividade agrícola não ocupar, então, em Portugal, posição de primeira grandeza.
c) Não foi, por conseguinte, uma civilização tipicamente agrícola o que instauraram os
portugueses no Brasil com a lavoura açucareira. Não o foi, em primeiro lugar, porque
a tanto não conduzia o gênio aventureiro que os trouxe à América; em seguida, por
causa da escassez de trabalhadores rurais, e finalmente pela circunstância de a
atividade agrícola não ocupar, então, em Portugal, posição de primeira grandeza.
d) Não foi, por conseguinte, uma civilização tipicamente agrícola aquela
que os
portugueses instauraram no Brasil com a lavoura açucareira. Não o foi, em primeiro
lugar, porque a tanto não conduzia o gênio aventureiro que trouxe os portugueses à
América; em seguida, por causa da escassez de trabalhadores rurais, e finalmente
pela circunstância de a atividade agrícola não ocupar, então, em Portugal, posição
de primeira grandeza.
e) Não foi, portanto, uma civilização tipicamente agrícola o que instauraram os
portugueses no Brasil com a lavoura açucareira. Não o foi, primeiramente, porque a
tanto não conduzia o gênio aventureiro que os trouxe à América; por outro lado, por
causa da escassez de trabalhadores rurais, e finalmente pela circunstância de não
ocupar a atividade agrícola, então, em Portugal, posição de primeira grandeza.
Comentário
Adotaremos o mesmo método empregado para a solução da questão 63: examinar um a
um os períodos que compõem as alternativas da questão. Este procedimento possibilitará o
descarte de itens, deixando-nos com a possibilidade de obter a resposta desejada sem ler
todas as alternativas na íntegra. Como nosso grande adversário no dia da prova é o tempo,
temos de procurar, nos limites de nossas possibilidades, ser rápidos.
Vejamos, então, o primeiro período da alternativa “a”:
“A civilização que os portugueses instauraram no Brasil com a lavoura açucareira não foi, por
conseguinte, uma civilização tipicamente agrícola.” – O texto peca pelo uso repetido do substantivo
“civilização”. Como os dois vocábulos estão próximos um do outro, criou-se efeito sonoro de “eco”, já
que terminados, ambos, por “ão”. Nada além disto pode ser condenado. Mas este fato já pesa
negativamente na análise deste período inicial.
Confrontemos, agora, este primeiro período com o primeiro período da alternativa “b”:
“Não foi, conseqüentemente, uma civilização tipicamente agrícola o que instauraram os
portugueses no Brasil com a lavoura açucareira.” – No presente texto, evitou-se a repetição do
substantivo “civilização” lançando-se mão do pronome demonstrativo invariável “o”. No entanto,
ocorre, também, no período ora estudado, fato semelhante ao comentado na alternativa “a”. Desta vez
não há repetição vocabular, e sim repetição do sufixo formador de advérbios “mente”. De modo geral,
pensamos que a repetição do sufixo adverbial “mente” implica mau estilo. Nem sempre isto sucede,
entretanto. Há circunstâncias em que a repetição de tal sufixo representa vigoroso recurso expressivo,
que consiste em acentuarmos a natureza adverbial da palavras terminadas em “mente”. Nestes casos,
em geral, as palavras tornadas adverbiais surgem em sucessão. Não foi o que aconteceu neste item.
Os vocábulos “conseqüentemente” e “tipicamente”, grafadas muito próximas, provocam, também,
“eco” que deveria ter sido evitado. É ponto negativo para este texto. Por enquanto, como vimos, não
há período inicial isento de pecado estilístico.
Passemos, então, à análise do texto que representa o primeiro período da alternativa “c”:
“Não foi, por conseguinte, uma civilização tipicamente agrícola o que instauraram os
portugueses no Brasil com a lavoura açucareira.” – Não há qualquer problema estilístico neste texto.
Vemos que os dois deslizes antecedentemente mostrados nas alternativas “a” e “b” foram evitados
neste fragmento textual. Não ocorre emprego duplicado do vocábulo “civilização”, uma vez que sua
segunda ocorrência foi evitada por meio do pronome demonstrativo “o”, invariável. Tal procedimento já
fora adotado no item “b”. Notamos, além disto, a clara intenção de se evitar a repetição do sufixo
adverbial “mente” com o uso da locução “por conseguinte”. Este texto está irrepreensível. Podemos,
assim, descartar os itens “a” e “b”.
Procedamos à análise do primeiro período da alternativa “d”:
“Não foi, por conseguinte, uma civilização tipicamente agrícola aquela que os portugueses
instauraram no Brasil com a lavoura açucareira.” – Não há, também, deslizes neste texto. Na
verdade, o período ora estudado só difere do já visto na opção “c” na troca do pronome demonstrativo
“o” pelo também pronome demonstrativo “aquela” e pela anteposição do sujeito da forma verbal
“instauraram”. São dois fatos que não acarretam inconveniências estilísticas. A observação da
legitimidade desta alternativa “d” já significa a obrigatoriedade de analisarmos os segundos períodos
dos textos “c” e “d”, por enquanto.
Passemos, agora, ao item “e”, no seu primeiro período:
“Não foi, portanto, uma civilização tipicamente agrícola o que instauraram os portugueses no
Brasil com a lavoura açucareira.” – Não há deslizes no presente texto, também. Sua redação difere
da adotada na alternativa “c” apenas pela substituição da locução por “conseguinte” pela conjunção
conclusiva “portanto”. A troca é válida: o significado do texto foi preservado.
Temos, então, de observar o segundo período das alternativas “c”, “d” e “e”. As
alternativas “a” e “b”, por motivos apontados em suas análises, já estão fora de nossas
cogitações.
Passemos às análises dos segundos períodos das alternativas “c”, “d” e “e”.
Vejamos o segundo período da alternativa “c”:
“Não o foi, em primeiro lugar, porque a tanto não conduzia o gênio aventureiro que os trouxe à
América; em seguida, por causa da escassez de trabalhadores rurais, e finalmente pela circunstância
de a atividade agrícola não ocupar, então, em Portugal, posição de primeira grandeza.” – Não se
nota qualquer deslize estilístico na produção do presente período. O pronome demonstrativo “o”,
empregado em “Não o foi”, remete anaforicamente à idéia de “uma civilização tipicamente agrícola”,
evitando sua repetição. O sujeito da forma verbal “conduzia”, posposto”, é “o gênio aventureiro”. Esta
posposição enfatiza a ação verbal em detrimento de seu autor. A expressão “a tanto” – alusiva a
suposto interesse lusitano de criar “uma civilização tipicamente agrícola” –
representa a
complementação indireta da forma verbal “conduzia”, empregada com sentido de “levar a”. Seu
deslocamento para o início da oração, coloca-a em destaque: na oração “porque a tanto não conduzia
o gênio aventureiro”, o autor põe em foco a inexistência de interesse lusitano, na época, em criar, no
Brasil, “uma civilização tipicamente agrícola”. Podemos notar o emprego do pronome oblíquo átono
“os” alusivo ao substantivo “portugueses”, existente no primeiro período e, com isto, evitando seu uso
duplicado. Encontramos, ainda, uma seqüência de circunstâncias causais muito bem concatenadas
pelas expressões “em primeiro lugar”, “em seguida” e “finalmente”. O emprego da preposição “de”
separada do artigo definido “a”, pertencente ao sujeito da forma verbal “ocupar”, traduz apego ao uso
culto da língua. O texto está produzido sem infrações estilísticas.
Confrontemos o segundo período da alternativa “c” com o segundo período da alternativa
“d”:
“Não o foi, em primeiro lugar, porque a tanto não conduzia o gênio aventureiro que trouxe os
portugueses à América; em seguida, por causa da escassez de trabalhadores rurais, e finalmente
pela circunstância de a atividade agrícola não ocupar, então, em Portugal, posição de primeira
grandeza.” – Vemos com alguma facilidade que este fragmento não está tão bom quanto o
anteriormente estudado na alternativa “c”: o substantivo “portugueses”, já empregado no período
anterior, foi usado de modo duplicado. Não houve a preocupação, que vimos no segundo período da
alternativa “c”, de promover-se sua substituição por um pronome. Aliás, a única distinção entre os
segundos períodos constantes nos itens “c” e “d” está neste emprego duplicado do substantivo
“portugueses”. O restante do texto, nas duas alternativas, é exatamente igual. Está clara a intenção
de a banca examinadora pôr este fato distintivo entre os dois textos. A alternativa “d” está
descartada, portanto.
Vejamos, na seqüência de nossos estudos, o segundo período da alternativa “e”:
“Não o foi, primeiramente, porque a tanto não conduzia o gênio aventureiro que os trouxe à
América; por outro lado, por causa da escassez de trabalhadores rurais, e finalmente pela
circunstância de não ocupar a atividade agrícola, então, em Portugal, posição de primeira grandeza.”
– Como podemos comprovar, a diferença entre este texto e o encontrado na alternativa “c” está no
emprego da expressão “por outro lado”, presente neste e inexistente naquele. Este é, exatamente, o
passo que tornou a passagem contida na alternativa que ora estudamos estilisticamente reprovável. A
seqüência de circunstâncias causais que aparecem, na alternativa “c”, introduzida pelas expressões
“em primeiro lugar”, “em seguida” e “finalmente” está agora representada por “primeiramente”, “por
outro lado” e “finalmente”. Como se nota, “por outro lado” não é semanticamente indicado para ocupar
a segunda etapa de enunciação de fatos iniciada por “primeiramente” e concluída em “finalmente”. Não
há nexo semântico lógico entre “primeiramente”, “por outro lado” e “finalmente”. Esta alternativa está,
também, excluída. Restou-nos a alternativa “c” como a que está irrepreensível estilisticamente.
Resposta da questão 64): C
Como vimos, a questão 64 é mais trabalhosa do que a anteriormente estudada, de número 63.
Desta vez, tivemos de analisar três alternativas inteiras. Este modelo de questão, que, como já
salientamos no comentário da questão 63, não se repetiu em qualquer prova da mesma banca
examinadora até a presente data, é, realmente, muito trabalhoso. Nossas expectativas são de que, em
concurso para AFRF, reconhecidamente árduo não só pelas exigências quanto aos conteúdos cobrados
nas questões das diversas disciplinas, como também pela extensão das provas, não surja questão
deste tipo.
De qualquer modo, a leitura das soluções propostas para as duas questões citadas dá ao candidato
uma idéia de como deverá trabalhar caso venham a acontecer.
Boa sorte a todos!
Décio Sena.
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