“Saudades” da corrupção do guarda
Por muito tempo no Brasil o paradigma máximo de corrupção era aquela praticada pelo motorista
infrator contra o guarda de trânsito corrupto.
Essa pratica se tornou inicialmente piada, ganhou ares de esperteza e finalmente chegou ao nível da
“normalidade”, ou seja, as pessoas conversavam em rodas de bares contando cada um suas
vantagens e as diversas situações em que tinham corrompido o guarda para se livrar da multa e lesar
o Estado.
Nesse tempo vigia por aqui o regime militar, período ao fim do qual, o Presidente João Batista de
Oliveira Figueiredo – General do Exército para quem não se lembra – disse que nós os brasileiros
ainda teríamos saudades dele. Naturalmente na ocasião foi motivo de chacota por praticamente
todos.
Pois bem, o tempo passou a corrupção atingiu a maioridade, e hoje diante da impressionante
catástrofe moral que assola o país, chega-se à relutante conclusão de que Figueiredo tinha razão e
mais, dá saudades também dos tempos da corrupção do guarda.
Em 2008 um estudo realizado pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da
Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) revelou os prejuízos econômicos e sociais que a
corrupção causa ao País. O valor chega a R$ 69 bilhões de reais por ano. As denúncias de corrupção
vêm de todos os cantos do país e de todos os setores - públicos e privados. Denunciadas em parte
pela imprensa, em parte por setores privados fiscalizadores, não se havia medido ainda o tamanho
do rombo e o mais alarmante: o prejuízo que este montante de dinheiro causa em setores
fundamentais, como educação, saúde, segurança, infraestrutura, habitação e saneamento.
Segundo o levantamento, a renda per capita do País poderia ser de US$ 9 mil, 15,5% mais elevada
que o nível atual.
Segundo a pesquisa o custo médio anual da corrupção no Brasil representa de 1,38% a 2,3% do
Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, gira em torno de R$ R$ 41,5 bilhões a R$ 69,1 bilhões. Isso
em 2008, porque após a contabilização dos escândalos corruptivos do mensalão e petrolão, esses
valores devem ter explodido.
Só o diretor da Petrobrás Roberto Costa devolverá em princípio – só em princípio - mais de VINTE
E TRÊS MILHÕES DE DÓLARES.
Como se trata, segundo análise lógica de “peixe pequeno”, tem-se uma ideia do quanto esse pessoal
desviou dos cofres públicos. O pior em todo esse processo corruptivo é o exemplo.
O povo – compreendido como conjunto de habitantes – tem uma certa “dependência” das
autoridades às quais está submetido, logo se elas dão exemplos ruins e negativos, ele –povo- se
sente também autorizado e legitimado a agir da mesma forma.
Esse exemplo é um dos fatores que tem contribuído para que a corrupção grasse violentamente pelo
país em praticamente todos os níveis, matando, roubando, destruindo e inviabilizando políticas
públicas.
Se vivo fosse talvez Figueiredo mudasse seu discurso e nos dissesse com sua ironia só agora
compreendida: “vocês estão reclamando de que? Simplesmente colhem o que plantaram, e
continuam plantando”.
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“Saudades” da corrupção do guarda Por muito tempo no Brasil o