JOILSOM MÉLO LEITE
JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história
JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história
JOILSON MÉLO LEITE
Diretores
Luiz de França Leite
Vicente Jorge Espíndola Rodrigues
Diretora Executiva
Professora Mauricélia Bezerra Vidal
Diretor Acadêmico
Professor Marjony Barros Camelo
Coordenador do Curso de Jornalismo
Professora Rosângela Araújo de Souza
Professor Orientador
Rosildo R. de Brito
Aluno Concluinte
(autor)
Joilson Mélo Leite
PROJETO GRÁFICO
José Canto
DIAGRAMAÇÃO
José Canto
FOTO DE CAPA
JMLeite
L533j Leite, Joilson Mélo.
Jenipapo, a árvore que virou Vila, a Vila que virou história
/ Joilson Mélo Leite. – Caruaru : FAVIP, 2009.
(Livro-reportagem).
Orientador(a) : Rosildo R. Brito.
Trabalho de Conclusão de Curso (Jornalismo) -Faculdade do Vale do Ipojuca.
1. Jenipapo-Distrito. 2. Livro-reportagem. I. Título.
CDU 070(09.2)
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário:
Jadinilson Afonso CRB-4/1367
A todos os moradores de Jenipapo, aos meus pais,
e a todas as pessoas que contribuíram diretamente
e indiretamente nessa minha conquista.
AGRADECIMENTOS
Agradeço esse trabalho primeiramente a Deus, o qual sem ele
não estaria aqui, a minha família que com bastante esforços lutaram
para que eu concluísse o ensino superior, a todos os professores que fizeram parte da minha história enquanto estudante do ensino infantil até
a faculdade, porém um professor em especial merece destaque, Rosildo
Brito, este que é o grande responsável pela conclusão deste trabalho,
pois com sua grande sabedoria e uma paciência maior ainda, soube extrair o melhor de mim para que eu pudesse aplicar meus conhecimentos
dentro deste livro-reportagem.
Agradeço também a comunidade de Jenipapo, onde fui bem recebido, e a biblioteca municipal de Sanharó, lugar que me ofereceu subsídios para realização desta pesquisa.
É melhor tentar e falhar,
que preocupar-se e ver a vida passar;
é melhor tentar, ainda que em vão,
que sentar-se fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar,
que em dias tristes em casa me esconder.
Prefiro ser feliz, embora louco,
que em conformidade viver...
Martin Luther King
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
12
CAPÍTULO I
JENIPAPO: COMO TUDO COMEÇOU
15
CAPÍTULO II
FAMILIA SOUZA LEÃO: A REPRESENTAÇÃO DA ARISTOCRACIA EM
JENIPAPO
21
CAPÍTULO III
O BARÃO DE VILA BELA
25
CAPÍTULO IV
CASA-GRANDE: RETRATO DA ESCARVIDÃO EM JENIPAPO
29
CAPÍTULO V
A CAPELA DE SANTO ANTONIO: TESOURO ARQUITETÔNICO DE JENIPAPO 35
CAPÍTULO VI
JENIPAPO: CENÁRIO DE FILME NACIONAL
39
CAPÍTULO VII
LENDAS E MISTÉRIOS DE JENIPAPO
43
CAPÍTULO VIII
ANTÔNIO MARQUES DE LUCENA: O HERÓI JENIPAPENSE NA SEGUNDA
GUERRA MUNDIAL
47
CAPÍTULO IX
JENIPAPO HOJE
51
BIBLIOGRAFIA
57
11
JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
12
APRESENTAÇÃO
Tesouro histórico e cultural quase esquecido. Pode-se assim definir a Vila de Jenipapo, distrito do município de Sanharó (distante 197
km do Recife). Importante fonte histórica, onde “desembarcou” no início
do século XIX uma das famílias do império português mais importantes
na colonização do Brasil, os Souza Leão, o lugar registra fatos históricos
e políticos marcantes na época do Brasil colônia, os quais parecem ter
se perdido na poeira do tempo.
Centrado nessa realidade e elaborado com uma linguagem simples, a obra propõe resgatar uma parte do passado do ilustre vilarejo,
hoje esquecido na memória de muitos dos seus moradores, sobretudo,
dos mais jovens. Nele, se encontram resumidos, os principais acontecimentos que fizeram da Vila de Jenipapo, um importante marco histórico
pernambucano. Enquadrado na modalidade de livro-reportagem-retrato,
que tem como finalidade, conforme define o escritor Edvaldo Lima, descrever o perfil de um determinado lugar, o livro descreve vários dos traços históricos e culturais que caracterizam o pacato vilarejo numa narrativa linear que relata o seu surgimento até os dias atuais. Nele, também
há espaço para algumas curiosidades como, por exemplo, os mistérios
que rondam o local.
Nas páginas a seguir, o leitor irá se deparar com uma encantadora história sobre um lugar de beleza simbólica e natural e passado
glorioso, de onde só restaram apenas alguns prédios históricos de grande riqueza arquitetônica, alguns documentos, e a memória de alguns de
seus moradores mais antigos, os quais foram peças fundamentais para a
produção deste trabalho de conclusão de curso que se materializa através do livro-reportagem-retrato: “Jenipapo: a árvore que virou vila, a vila
que virou história”.
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
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CAPÍTULO I
JENIPAPO: COMO TUDO COMEÇOU
Imagem: JMLeite
Fazenda que deu origem ao distrito de Jenipapo. A construção atualmente pertence à família Fernades.
O lugar onde moro
É uma vila pequenina,
O admiro de mais
Desde quando era menina [...]
Ângela Maria de Melo Lucena
15
JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
Com exatos 203 anos de existência, a bicentenária Vila de Jenipapo surgiu nos fins do século XVIII, e está situada numa microrregião
de brejo de altitude, onde o clima, relevo, vegetação e solo são diferentes daquelas da região semi-árida circundante. As terras do brejo são
montanhosas, possui uma altitude de mais de 700 metros e índice pluviométrico acima de 800 milímetros anuais e umidade do ar mais regular
que o da região em volta. Porém, não dar pra falar de Jenipapo sem antes citar de Sanharó, pois além da Vila fazer parte distritalmente desta,
que hoje é cidade, elas se ligam através de curiosas histórias que às
enriquecem.
Enquanto distrito foi criado com a denominação de Sanharó, pela
lei municipal nº 18, de 12 de novembro de 1912, subordinado a cidade de
Pesqueira. Em divisão territorial datada de 01 de julho 1960, o município
é constituído de dois distritos: Sanharó e Jenipapo, este que é o tema
central deste livro. Já enquanto cidade, o município foi criado pela Lei
estadual n° 375 de 24 de dezembro de 1948 e publicado no Diário Oficial
no mesmo mês e ano desmembrando-se do município de Pesqueira, em
02 de janeiro de 1949.
A significação do nome Sanharó, vem do vocábulo tupi, Sanharó
- zangado excitado; espécie de abelha negra. A origem no nome é atribuída a uma versão, segundo a qual, há muito tempo, na margem do rio
Ipojuca, que banha a cidade, havia uma árvore na qual existia um enxame de abelhas denominadas Sanharó.
Segundo a tradição oral, a árvore de nome Mulungu (árvore da
família leguminosa), onde estavam as abelhas, na verdade era um pé de
caixão. Junto à árvore, havia outras como a gigantesca e milenar Baraúna que oferecia um local acolhedor, onde as pessoas que por ali passavam podiam descansar e dar água a seus animais, advinda de um grande
poço existente no rio Ipojuca, o qual banhava a cidade.
Ainda segundo a versão apresentada pelos moradores mais antigos da cidade, próximo a árvore que servia de habitat para as abelhas,
existia um casarão antigo, e nela alguns almocreves - pessoas que conduziam animais de carga ou mercadoria de uma terra pra outra - armavam suas redes nos alpendres, sempre com a permissão do proprietário
do imóvel.
Segundo o histórico de Sanharó, atualizado em 2006 pelo especialista em história Lindomar Valença Almeida, no século XV ao século
XVIII, o transporte era feito através de animais de montaria e carro de
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bois, logo, os almocreves que faziam o trajeto de Monteiro, Sumé, Princesa Isabel e outras cidades na Paraíba, com destino ao sul de Pernambuco, faziam um atalho deixando Pesqueira de um lado passando por
Sanharó, chegando aqui diziam: “Vamos descansar no Sanharó para
pudermos seguir viagem”. E de tanto repetirem a frase “vamos descansar no Sanharó”, o lugar ficou conhecido por esse nome, e assim surgiu
essa comunidade que se transformou cidade e manteve sempre o mesmo nome.
Ainda segundo o histórico da cidade, a sede do município está
situada no traçado ferroviário do NE. Pertencendo a zona fisiográfica
do Agreste Setentrional e distante 185 quilômetros da capital do Estado,
Sanharó possui uma área de 246,5 quilômetros quadrados, estando seu
território compreendido no polígono da seca. A cidade faz limite ao norte
com o município de Belo Jardim, ao sul com São bento do Una, ao leste
com Belo Jardim e ao oeste com a cidade de Pesqueira. A cidade está
situada numa microrregião de Brejo de altitude com uma vegetação de
mata serrana.
Na sua configuração atual, o município é constituído de três distritos: Distrito sede, Jenipapo, Mulungu, e um povoado, denominado Divisão. A penetração no território do atual município de Sanharó deu-se
no século XVIII por portugueses. O primeiro lugar devastado foi o atual
distrito de Jenipapo que teve início nos fins do século XVIII, como fazenda, pertencente aos ancestrais da família Souza Leão.
Onde hoje se encontra a Vila de Jenipapo era um caminho no qual
se podia andar do Recife ao Sertão Pernambucano, havia uma estrada
estreita de barro onde só dava para passar com burros. A estrada era
bastante movimentada, pois o trem naquela época ainda era um sonho
distante para aquele lugar. Todos os dias vários comerciantes passavam
por ali, a maioria vinha do Brejo da Madre de Deus com destino ao povoado de Cimbres.
No caminho, ao passar pelo local onde hoje é o distrito de Jenipapo, eles costumavam se orientar por um marco, e diziam um para o
outro: “Quem chegar primeiro espera no Jenipapo”, em referência ao
fruto do jenipapeiro, árvore rubiácea de bagas aromáticas usadas para
fazer licores e que segundo a sabedoria popular serve também na cura
de machucados.
Duarte Coelho Pereira era o dono de todas as terras do lugar. Era
o donatário de Pernambuco na época em que o Brejo da Madre de Deus
17
JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
era comarca do estado. Ele doou as terras de Jenipapo ao seu irmão,
o Major Coelho Pereira dos Santos. O patrimônio de Duarte Coelho era
enorme, pois foi um dos homens mais ricos da província de Pernambuco,
deixando ao morrer 516 escravos, ele dedicava-se a duas atividades rurais. Uma que pouco absorvia mão de obra, a criação de gado, mas outra
que necessitava de grande quantidade de escravo, que era o cultivo de
algodão. Também o Capitão-mor criava equinos, caprinos e ovinos em
grande quantidade e em varias propriedades.
Ao tentar conhecer seus terrenos em Jenipapo doado pelo seu
irmão, o Major Coelho Pereira dos Santos acabou se perdendo na mata.
Desorientado, cansado e exausto, após vários dias perdido no mato, ajoelhou-se e fez uma promessa ao santo de sua devoção Santo Antônio. Ele
teria prometido que se encontrasse o marco, onde havia a estrada que
dava para o Brejo da Madre de Deus, ali naquele lugar iria ser construída
uma capela em homenagem ao santo; e depois que encontrou o marco,
cumpriu o prometido. E foi assim que se originou a Vila de Jenipapo, que
nunca mudou de nome.
Além de fazer a capela como havia sido prometido, o Major Coelho Pereira dos Santos também quis morar no lugar. Ao achar o marco
ele seguiu seu caminho para o Brejo da Madre de Deus, e depois para
Portugal, pois queria trazer consigo sua família e já estava se preparando pra isso. Quando o Major veio morar em Jenipapo, primeiro foi
construída a casa onde morou com sua família, e só depois o alicerce
da igreja, por que para ela ser feita iria demorar muitos meses. Então
ele começou a desmatar, preparar a terra, e a madeira, juntamente com
seus escravos.
A filha mais velha do Major Coelho Pereira, Francisca, lhe deu um
desgosto, conheceu um rapaz em Brejo da Madre de Deus da família dos
Cordeiros e com ele se casou forçadamente, pois fugiu com o moço. A
filha mais nova do Major, Lúcia, conheceu um rapaz em Moreno, Domingos Francisco, e também se casou, mas essa com o consentimento dos
pais. A partir daí o major Coelho Pereira foi embora para Recife, onde
morou 40 anos, contudo doou todas sua terras, do Brejo da Madre Deus
até Serra Talhada ao pai do Barão de Vila Bela, que era casado com sua
sobrinha filha do Capitão-mor Coelho, ou simplesmente Duarte Coelho
Pereira. Porém, eles teriam que cumprir a promessa e construir a capela, então foi feito a casa grande e a igreja, a qual possui na fachada, a
inscrição 1806, tido como o ano da origem de Jenipapo.
Assim iniciou-se a vila, que cada vez mais atraia moradores. Pertencente inicialmente a cidade de Pesqueira, Jenipapo já viveu anos de
18
glória, com uma estrutura que se assemelhava a de um município. No
lugar existia cartório, escola da rede estadual de ensino, hotel e até representantes políticos. Quanto à Sanharó, conserva-se o nome que primeiramente lhe foi dado, sendo o seu fundador José Francisco Leite, em
Princípio do século XVIII, que atuou nos cartórios oficiais e de paz.
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
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CAPÍTULO II
FAMILIA SOUZA LEÃO: A REPRESENTAÇÃO
DA ARISTOCRACIA EM JENIPAPO
Imagem: JMLeite
Jazidos localizados dentro da capela de Santo Antônio, onde estão enterrados, alguns integrantes da
família Souza Leão.
[...] O meu lugar é historia
É do tempo da escravidão
Dos senhores de engenhos
Ah! Quanta recordação [...]
Ângela Maria de Melo Lucena
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
A história de Jenipapo está entrelaçada à chegada de uma das
famílias portuguesas mais nobres à Pernambuco, a família Souza Leão.
Esses foram os primeiros moradores da pacata Vila de Jenipapo onde
deixaram até hoje, uma extensa descendência e os traços de nobreza
que se vê no conjunto de arquitetura do local. Considerada uma família
extremamente extensa, só o Barão de Vila Bela – ilustre personagem
do qual se falará mais adiante - chegou a possuir 18 irmãos, sendo 13
homens e cinco mulheres. Essa informação, entretanto, é contestada por
algumas outras versões, conforme aponta a historiadora e descendente
da família, Maria de Lourdes Cysneiro de Souza Leão. Segundo ela,
alguns documentos afirmam que na realidade foram 11 irmãos, e outros
chegam a apontar um total de 20.
Para entender um pouco a chegada da família Souza Leão à Vila
de Jenipapo é preciso retroceder na linha do tempo indo a um passado
longíquo. Segundo documentos analisados, a história da nobre família
inicia-se na época em que Portugal e Espanha formavam o Reino de
Castela e Galiza. Para expulsar os Mouros que desde o século II antes
de Cristo, chegaram à região da Lusitânia, a casa dos Souza (Portugal),
se uniu à casa dos Lyons (França) dando origem aos Souza Leão, em
meados do século XIII. No ano de 1756, Domingos dos Santos Coelho de
Souza Leão, jovem com 19 anos, foi indicado para conhecer a sesmaria de
Pernambuco, como gratidão pelo seu desempenho na guerra, chegando
aqui acabou se perdendo, depois achou o caminho, porém neste lugar
depois voltou para constituir família.
Ao se instalarem em Pernambuco, os Souza Leão passaram a
ocupar diversos cargos políticos e sociais de destaque, muitos dos quais,
na Vila de Jenipapo, na sua época áurea. Dentre os condescendentes
mais ilustres, destacaram-se os seguintes:
Ernesto de Souza Leão: Nasceu em 22 de Abril de 1889 no
engenho Javunda, na cidade de Moreno - PE, e faleceu em 27 de julho
de 1929, em Jenipapo. Ocupou o cargo de Tenente. Também oriundo do
ramo Caraúna com Engenho Conceição, veio para Jenipapo através de
seu irmão Carlos, onde se dedicou a agricultura e pecuária, tornandose proprietário de várias fazendas na região. Casou-se com dona Maria
Ingracia de Mendonça, e construiu a sua casa grande na entrada da Rua
Jenipapo. O seu corpo se encontra no jazido da igreja Santo Antonio,
junto com os irmãos e alguns familiares.
Augusto de Souza Leão: Nasceu em 1830, foi deputado em
várias legislaturas à assembléia provincial e presidente da província de
22
Pernambuco em 1889. Ele era casado com a sobrinha Idalina Carlota,
uma vez que naquela época era muito comum o encesto. Irmão do Barão
de Vila Bela herdou dele não apenas o talento para política, mas também
a garra e o prestígio. Também foi Barão, só que de Cairá. Não se sabe o
ano de sua morte.
Carlos Augusto de Souza Leão: Nasceu em 13 de Abril de 1864
no Engenho Javunda, na cidade de Moreno – PE. Foi Juiz de Direito,
Senhor de Engenho, dono da casa-grande, de igreja, senzala e muitas
outras propriedades na região. Dentro da árvore genealógica foi filho do
Major Santos com dona Sinhazinha, neto de Domingos de Souza Leão
e Bisneto do Capitão-Mor Santos Coelho. Pai de Alzira de Souza Leão,
avô de Carlos Cysneiro de Souza Leão. Oriundo do ramo Caraúna com
Engenho Novo Conceição e com Guilhermina Peixoto. Faleceu em 20 de
novembro de 1930, com 66 anos em Jenipapo.
João Antonio de Souza Leão: Em 29 de Abril de 1865 no Engenho
Javunda na cidade de Moreno - PE nasce João Antônio de Souza Leão.
Foi Coronel. Também oriundo do ramo Caraúna com Engenho Novo
Conceição, veio para Jenipapo através de seu irmão Carlos, e aqui se
dedicou a agricultura e pecuária. Era dono de várias fazendas na região,
casou-se com dona Cassimira, com quem teve uma grande família. Fixou
sua residência ao lado da casa-grande. Morreu na Vila de Jenipapo em
nove de Junho de 1935 aos 70 anos de idade.
Entretanto, entre todos os descendentes da nobre família
portuguesa, o que mais se destacou deixando a sua história registrada
de forma eterna na vida da Vila de Jenipapo e também no cenário da vida
política do Brasil imperial foi Domingos de Souza Leão, o Barão de Vila
Bela.
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
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CAPÍTULO III
O BARÃO DE VILA BELA
Imagem: Divulgação
Domingos Souza Leão, o Barão de Vila Bela, político importante no desenvolvimento do Brasil
[...] Muitas historias escuto
Que nela aconteceu
Falam que o Barão de Vila Bela
Aqui na Vila nasceu [...]
Ângela Maria de Melo Lucena
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
Foi em 16 de dezembro de 1816 que nasceu o Domingos de Souza Leão. Ele foi um dos muitos descendentes a aparecer com esse nome
de Domingos, contudo foi o único que nasceu em Jenipapo, tornando-se
o seu morador mais ilustre.
O Barão de Vila Bela era filho de Tereza de Jesus Coelho Leão,
e esta por sua vez, filha do Capitão- mor Coelho. O pai do Barão é Domingos de Souza Leão, tendo o Barão recebido o mesmo nome. Relata a
história que Domingos de Souza Leão, o pai, foi cumprir a mesma formalidade pela qual o seu futuro cunhado já havia passado Francisco Xavier,
ou seja, pedir a mão em casamento de uma das filhas dos homens mais
ricos da província. Das filhas solteiras de Santos Coelho, Tereza de Jesus era a vitoriosa, a mais jovem, e foi a primeira a casar com o primeiro
Souza Leão que apareceu na região do Agreste de Pernambuco.
Em 1810 aconteceu o casamento de Tereza e Domingos, e nove
anos depois nasceram o Barão de Vila Bela, sendo este o quinto filho do
casal. Ele que como dito anteriormente foi batizado na capela de Santo
Antônio. Sua alfabetização foi iniciada numa escola, onde sua própria
mãe lecionava, em Jenipapo, lugar que viveu sua infância até os dez
anos de idade, quando se mudou para o engenho Caraúna, em Jaboatão
dos Guararapes. Lá, recebeu melhor assistência educacional indo estudar no Liceu em Recife e na Academia de Ciências Jurídicas Sociais em
Olinda, onde se diplomou em Direito.
De início, após a formatura, Domingos de Souza Leão, o futuro
Barão de Vila Bela, vai administrar o Engenho Caraúna e a Fazenda Jenipapo atendendo o seu próprio desejo e a vontade do seu pai. Era muito
preocupado com a indústria açucareira para o qual desenvolvia novas
técnicas e introduzia novos métodos inovando o sistema de fabricação
do açúcar. Segundo Caraciolo (2006, p. 57), ele foi o primeiro a instalar o
engenho a vapor na América do Sul, máquina que foi fabricado no Recife
pela fundição C. Starr & Cia e patenteada pelo engenheiro inglês Mornay, radicado em Pernambuco. Foi conselheiro de sua majestade, o imperador D. Pedro II, comendador da ordem da Rosa e de Nossa Senhora
da Conceição da Vila de Viçosa de Portugal.
A CARREIRA POLÍTICA DO BARÃO DE VILA BELA
Alguns fatos o levaram à política, principalmente os acontecimentos que antecederam a Revolução Praieira, que foi um movimento
de caráter liberal e separatista que incluiu a província de Pernambuco.
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Por influência do seu primo e cunhado conselheiro mencionado anteriormente Francisco Xavier Paes Barreto, ingressou no partido conservador.
Em 28 de fevereiro de 1821 as capitanias tornaram-se províncias, e assim permaneceram durante todo o período imperial. Seus governantesdenominados presidentes- eram nomeados diretamente pelo imperador
(de acordo com a constituição brasileira de 1824, art. 165), aconselhado
pelo partido que estivesse no poder (o Partido Liberal ou o Partido Conservador). O presidente da província não tinha mandato, podendo ser
exonerado ou pedir afastamento à revelia. Principalmente devido a esta
possibilidade concreta de falta do dirigente diretamente subordinado ao
imperador e seu ministério, eram escolhidos pela assembléia local vicepresidentes, teoricamente aptos a exercer interinamente cargo vago até
que o novo presidente fosse nomeado por carta imperial e assumisse o
cargo.
Domingos de Souza Leão candidatou-se e elegeu-se deputado
provincial nas eleições de 1841, com 406 votos. Como deputado, ele fazia parte da bancada que apoiava o Conde da Boa Vista. Em 1843, juntamente com outros deputados provincianos, formularam o pleito de
Pernambuco, de reaver a comarca de são Francisco, retirada do território pernambucano e entregue a Bahia por Dom Pedro I, como punição
imposta a Pernambuco pelos movimentos de independência de 1817 e
1824, porém, nunca foi reintegrado o território desmembrado de Pernambuco.
De 13 de janeiro a um de dezembro de 1864 e 10 de maio de 1867
a 23 de julho de 1868, Domingos de Souza Leão foi presidente da província de Pernambuco. Assumiu a presidência devido a renuncia de João
Silveira, que foi chamado para ocupar uma cadeira de deputado geral
por Santa Catarina. No dia de sua posse, o jornal partidário, do grupo
político do Barão, intitulado de “O progressista”, dava-lhe votos de boas
vindas, e também fez uma análise da situação da província.
No ano de 1868 o Barão inicia o seu segundo mandato, repetindo o
mesmo cerimonial do interior, indo à assembléia provincial, apresentando o relatório contendo os mesmo temas acrescentando apenas alguns
outros. Pela Lei provincial de 19 de maio de 1868, fundou a escola Normal, instalado-a, sendo então a primeira instituição no Brasil destinada
à preparação de professores primários, oferecendo novos rumos ao ensino Brasileiro.
Uma curiosidade importante que não pode deixar de ser dita, é o
fato do Barão de Vila Bela receber esse título tendo ele nascido em Je-
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
nipapo, porém segundo a historiadora Maria de Lourdes de Souza Leão
Cysneiro, isso aconteceu porque naquela época para poder receber o
título de Barão, o individuo tinha que ter muitas terras, gados, e uma
grande fortuna em dinheiro, então ele juntou as terras que possuía em
Jenipapo e as de Serra Talhada, que antigamente tinha o nome de Vila
Bela, razão pela qual passou a ser chamado de Barão de Vila Bela.
O Barão também chegou a ser ministro do país, no ministério dos
negócios dos estrangeiros, atualmente denominado Itamarati. Ele permaneceu pouco tempo, apenas onze meses, porém foi o bastante para
estabelecer limites entre o Brasil e a Bolívia, e estabelecer convenções
consulares com Portugal, Espanha e Itália. Domingos de Souza Leão
foi o segundo Barão de Vila Bela. O Primeiro foi Francisco de Paula M.
Tavares de Carvalho, que governou as Províncias de Mato Grosso e da
Cisplatina.
Em 18/10/1879, falece de doença cardíaca, no Rio de Janeiro, o
filho mais ilustre de Jenipapo, o Barão de Vila Bela. Preste a completar
60 anos de idade, morreu a aproximadamente duas horas da madrugada
em sua residência, e tanto no Rio de Janeiro como no Recife, a imprensa noticiou sua morte, reconhecendo sua atuação como político. Atualmente existe na cidade de Pesqueira, Agreste de Pernambuco, lugar que
Jenipapo pertencia antes de incumbir a Sanharó, uma rua denominada
Barão de Vila Bela, em homenagem a Domingos de Souza Leão, e na
mesma cidade ainda existe uma pousada também com o mesmo nome,
localizada, por coincidência, na Rua Barão de Vila Bela, no Centro da
Cidade.
Já em Jenipapo o que existe que lembra o Barão de Vila Bela, são
as edificações (capela, casa-grande), prédios estes, onde foi habitado
por Domingos de Souza Leão Juntamente com sua Família.
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CAPÍTULO IV
CASA-GRANDE: RETRATO DA ESCRAVIDÃO
EM JENIPAPO
Imagem: JMLeite
Casa-Grande de Jenipapo, onde nasceu e morou o Barão de Vila Bela
[...] Tem um belo casarão
Com uma igreja do lado
Construída pelos escravos
Isto está registrado [...]
Ângela Maria de Melo Lucena
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A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
Considerado um dos maiores símbolos patrimoniais do distrito de
Jenipapo, a casa-grande, ocupa um lugar de destaque e também de mistério, na história do lugar. Com 80 metros quadrados, 12 quartos, quatro
salas e 20 janelas, sendo dez frontal e cinco em cada lateral da construção, o casarão - como também é conhecido - não possui forro. O piso é de
madeira onde em alguns pontos da casa se percebe o desgaste do mesmo.
A casa-grande foi morada da família Souza Leão os quais mexeram
na arquitetura do prédio e por isso alguns cômodos não são totalmente
originais. Embaixo do casarão numa espécie de porão, há um grande espaço que serviu de senzala, o que se tem acesso apenas pelo lado de fora.
Hoje só resta nela o cheiro de mofo, algumas argolas e muitos morcegos
que ajudam a completar o clima sombrio do local. Impossível ficar em pé
dentro dela, porque possui um teto muito baixo, e é esse mesmo teto que
servia de piso para os donos dos escravos, como uma forma de superioridade.
Apesar de possuir provas que Jenipapo viveu no período escravista, o misterioso é que, não há na Vila, nenhum descendente de escravos,
muito embora se saiba que todo brasileiro possui no sangue, a descendência dos negros. Contudo, o que se sabe é que os primeiros negros escravos de Jenipapo vieram através de Antônio dos Santos Coelho da Silva,
no início da construção da capela e da casa-grande, que foram construídas de Pedras, barro e madeira tirada do próprio lugarejo. Além de trabalharem na edificação do casório, participavam ativamente do trabalho
agrícola, envolvendo a plantação de café, cana- de- açúcar e algodão.
Ainda de acordo com a historiadora Maria de Lourdes de Souza
Leão Cysneiro, os negros pertencentes a Santos Coelho possuíam algumas regalias: tinham direito as comemorações de suas festas, podiam
frequentar separadamente a igreja. A parte superior era reservada aos
fidalgos enquanto aos escravos só restavam assistir as celebrações abaixo, eles se divertiam usando seus instrumentos prediletos.
Quanto ao castigo, se achava necessário, pois os escravos tinham
a obrigatoriedade de desempenhar o papel para o qual haviam sido designados, caso contrário eram considerados violadores das leis vigentes,
escravos preguiçosos, porquanto merecedores das punições.
Do lado direito da casa- grande fica a igreja, unidas por um grande muro, que ainda segundo Maria de Lourdes de Souza Leão Cysneiro,
essa era uma prática comum na época, pois os sinhozinhos eram os mais
importantes e tinham que chegar primeiro a capela para assistir a missa.
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Do lado esquerdo do casarão fica a bolandeira, lugar onde se faziam os
trabalhos manuais, artesanato feito pelas escravas para as sinhazinhas,
era como um ateliê com peças feitas de linhas e triagem de algodão.
Além de ser representante de uma época de opulência, foi na casagrande que nasceu Domingos de Souza Leão, um dos personagens principais da história de Jenipapo. Atualmente a casa- grande é de propriedade
da prefeitura de Sanharó, vendida há quatro anos pelos seus herdeiros.
Mussoline Caraciolo de Souza Leão Cysneiro, um dos antigos moradores
da casa, ex-político, que lutou e representou por muitos anos Jenipapo na
Câmara municipal de Sanharó. Ele diz que a venda do casarão foi com o
propósito de vê-la como patrimônio histórico e cultural, promessa da prefeitura, até hoje ainda não cumprida.
De acordo com o projeto de Lei número 006/2005, que dispõe sobre a aquisição da casa-grande de Jenipapo, este bem foi adquirido pela
prefeitura, pelo valor de R$ 25.000, 00. Até agora o casarão não foi restaurado nem tombado como patrimônio histórico pela Fundação do Patrimônio Artístico Histórico e Cultural de Pernambuco- FUNDARPE. A Secretaria de Cultura afirma que já foi feito uma inscrição no órgão, porém
demora muito, e estão esperando que a FUNDARPE venha avaliar o prédio
para que as obras comecem.
Assim como o casarão, a capela também será restaurada e tombada como patrimônio cultural.
Imagem: JMLeite
Vista interna da casa-grande: um salão de festa onde os Souza Leão realizavam suas comemorações.
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
Imagem: JMLeite
Senzala, localizada numa espécie de porão, onde o acesso é único e exclusivamente por fora da casa-grande.
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Projeto de Lei que assegura a compra da casa-grande de Jenipapo.
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
Decreto-Lei do tombamento da casa-grande, juntamente com a capela de Santo Antônio.
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CAPÍTULO V
A CAPELA DE SANTO ANTÔNIO: TESOURO
ARQUITETÔNICO DE JENIPAPO
Imagem: JMLeite
Vista externa da Capela de Jenipapo, um dos tesouros arquitetônicos em bom estado de preservação
[...] As missas eram em latim
Não tinha eletrificação
E o padre lá do pulpite
Fazia a celebração [...]
Ângela Maria de Melo Lucena
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
Além do Casarão, Jenipapo mantém alguns outros prédios que
demonstram a riqueza arquitetônica do lugar. Construída em 1806, a
capela da Vila de Jenipapo se constitui um dos pontos turísticos visitados
por muitos turistas que vêm até Sanharó. Situada ao lado da casa-grande,
o prédio foi cenário de momentos históricos importantes a exemplo do
batismo de Domingos de Souza Leão, que futuramente receberia o título
de Barão de Vila Bela, destacando-se como um dos personagens mais
importantes na história da vida política da região.
Inspirada na arquitetura barroca, a capela apresenta hoje, os
mesmos traços arquitetônico, mantendo-se preservada. Tendo como
destaque uma pintura no teto do altar, o Desenho do escudo franciscano,
pois Santo Antônio foi da ordem dos franciscanos, e a capela foi feita em
sua homenagem para cumprir uma promessa, como foi falado no capítulo
I.
A capela ainda possui, em seu interior, na parte superior, um
coro onde os donos da igreja assistiam as missas ao contrário do público
comum que ficavam na parte do térreo. Há também um púlpito - lugar que
são proferidas as leituras da sagrada escritura. A capela de Santo Antônio
em Jenipapo é da época em que as missas eram rezadas de costas para
os presentes na celebração, pois o padre nunca dava as costas ao altar.
As três imagens principais da capela que ficam no altar-mor, são
de origem portuguesa, vindas de Portugal um Santo Antônio com traços
característicos diferentes. Ao contrário das imagens dos santos que
conhecemos atualmente, esse possuía barba e bigode. De um lado Nossa
Senhora da Penha da França e de outro Santa Terezinha do Menino Jesus.
As imagens foram esculpidas em madeira, pintadas no estilo barroco, e
feitas com folhas de ouro. Veio também com as três imagens um crucifixo
de alto valor, assim como as imagens dos santos.
Por muitos anos a capela pertenceu à família Souza Leão, no
entanto atualmente, está sobre a administração da Arquidiocese da
cidade de Pesqueira e por isso não mais é enterrado no seu interior
nenhum membro pertencente da família Souza Leão, coisa que era feita
anteriormente. Ainda há túmulos preservados dentro do local. A igreja
deixou de ser particular, e agora é pública devido a uma doação da família
para a comunidade.
Assim como a casa-grande, apesar da riqueza arquitetônica e
histórica, a pequena capela ainda não foi tombada como patrimônio
histórico, e está esperando a avaliação da FUNDARPE.
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Foi na capela que aconteceu a gravação de um filme nacional
denominado de “As três Marias,” como você verá no próximo capítulo.
Imagem: JMLeite
Vista interna da capela de Jenipapo
ORAÇÃO A SANTO ANTÔNIO
Ó grande e bem-amado
Santo António de Lisboa!
Vosso amor a Deus e ao próximo,
vosso exemplo de vida cristã,
fizeram de vós
um dos maiores Santos da Igreja.
Eu vos suplico
tomar sob vossa proteção valiosa
minhas ocupações,
empreendimentos,
e toda a minha vida.
Estou persuadido
de que nenhum mal
poderá atingir-me
enquanto estiver
sob a vossa proteção.
Protegei-me e defendei-me:
sou um pobre pecador.
Recomendai minhas necessidades
e apresentai-vos
como meu medianeiro a Jesus,
a quem tanto amais.
Por vosso mérito,
Ele aumente minha fé e caridade,
console-me nos sofrimentos,
livre-me de todo mal
e não me deixe sucumbir na tentação.
Ó Deus poderoso,
livrai-me de todo o perigo
do corpo e da alma.
Auxiliado continuamente por Vós,
possa viver cristãmente
e santamente morrer.
Amém.
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
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CAPÍTULO VI
JENIPAPO: CENÁRIO DE FILME NACIONAL
Imagem: Divulgação
Encarte do filme as três Marias que teve cenas gravadas em Jenipapo
[...] É um lugar rico em água
Tem serras maravilhosas
Há pouco foi visitado
Por pessoas bem famosas [...]
Ângela Maria de Melo Lucena
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
Era final de abril de 2001, um domingo de sol, mas em Jenipapo
não era um dia qualquer. Foi o dia em que a rotina do pacato vilarejo foi
quebrada com o trabalho de gravação de um longa-metragem, do qual
Jenipapo serviu como um dos cenários. Naquele domingo foram gravadas cenas do filme As três Marias. Na Vila, várias pessoas se amontoavam para tentar ver de perto os artistas famosos que vieram gravar o
longa-metragem.
As três Marias é um filme de 2002, do gênero drama, dirigido por
Aluízio Abranches, com direção de fotografia de Marcelo Durst e a trilha
sonora de André Abujamra. No elenco, estrelas de primeira grandeza a
exemplo de Julia Lemert, Maria Luíza Mendonça, Marieta Severo, Luiza Mariane, e Carlos Vereza. Eles e muitos outros artistas reconhecidos
nacionalmente chegaram a Jenipapo para as gravações que foram realizadas na capela de Santo Antônio em frente o casarão, e no cemitério,
onde foi filmado um enterro.
Para que as gravações ocorressem em Jenipapo, o lugar recebeu primeiramente, a visita de uma equipe de São Paulo a qual ao chegar
ao município de Pesqueira, foi aconselhada a se dirigir até a Vila face
os seus prédios históricos de boa preservação arquitetônica. Um mês
depois, toda a equipe com alguns atores chegaram a Jenipapo.
Foram dois dias de gravação, onde o elenco e a produção do
filme ficaram alojados em um clube, na Vila de Jenipapo; isso porque
a mesma não possui nenhum tipo de alojamento. O filme contou com a
participação de várias pessoas da Vila, que fizeram figuração, um dele
foi o ator Heraldo Carvalho. “Fiquei muito feliz e empolgado, pois apesar
de ter feito uma participação bem pequena, nunca tinha feito antes algo
tão magnífico com uma produção extraordinária.” Todos os figurantes
ganharam um cachê de dez reais e alguns puderam tirar fotos com os
artistas.
A gravação foi marcada por alguns episódios curiosos. Um deles,
segundo os moradores que assistiram o trabalho, foi o desafio da equipe
de filmagem mediante um cenário um tanto descaracterizado face ao
grande número de parabólicas em cima das casas, o que não se adequava bem a um filme épico. Outro problema inusitado, segundo narra Ilza
Souza Leão, responsável pela igreja, foram os pássaros dentro da capela os quais atrapalharam as filmagens devido o barulho. Outra curiosidade foi o fato de uma jovem de Jenipapo que fazia figuração na cena
do enterro, onde ela tinha que chorar, não ter conseguido desempenhar
esse papel, e o diretor Aluízio Abranches dizia: “pensa em algo ruim, faz
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de conta que é teu pai que está no caixão,” e em seguida a menina se
desmanchou em lágrimas. Porém essa história não se confirma, e acabou virando lenda.
Ângela Maria de Melo Lucena em seu poema, saudade da minha
terra, fala da passagem dos artistas famosos pelas terras de Jenipapo.
“É um lugar rico em água, tem serras maravilhosas, há pouco foi visitado
por pessoas bem famosas. Pois o filme As três Marias nos cinemas já
lançados teve algumas cenas dele que nesse lugar foi gravado. Júlia Lemert, Maria Luiza e Marieta Severo gravavam cenas do filme na estrada,
na igreja e no cemitério, este lugar é cheio de encantos e mistérios.”
O filme “As três Marias” se passa nos anos 70, em pleno sertão
pernambucano, e conta a histórias de três irmãs, todas com o nome de
Maria, que armam uma vingança, contra o ex-noivo de sua mãe, que por
ser abandonado, manda seus filhos matarem todos os homens da família
dela.
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
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CAPÍTULO VII
LENDAS E MISTÉRIOS DE JENIPAPO
Imagem: Divulgação
A lenda da botija é um dos mistérios que ronda a Vila de Jenipapo.
[...] Na frente do cemitério
O coro seco arrastando
Com um ruído estranho
Muita gente assombrando [...]
Ângela Maria de Melo Lucena
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
Assim como a maioria das cidades interioranas antigas, Jenipapo também mantém lendas e mistérios que são passadas de geração
a geração. Esse pequeno distrito pouco habitado tem alguns mistérios,
que até hoje nunca foram explicados. Um deles diz respeito a um barulho
que moradores mais antigos afirmam ouvir do alto de um lajeiro, espécie
de terreno pedregoso. Segundo narram, o barulho se assemelhava ao
arrastado de uma sandália de couro, o qual era ouvido sempre às seis
horas e ao meio dia.
Nenhum lugar é livre de histórias de espíritos, as famosas assombrações que não descansam em paz e rondam um lugar específico da
região, Jenipapo também tem a sua, onde Ângela Maria de Melo Lucena
em seu poema sobre a Vila, a intitula de baixinha do brejo. “A baixinha
lá do brejo, também a pedra do prado, dois pontos bem comentados por
serem mal-assombrado.”
A casa-grande também é um cenário de contos que são difundidos no lugar. Segundo muitos dos moradores, foram desenterradas
diversas botijas no local. Trata-se de um relato comum do interior em
várias partes do país, segundo o qual, as pessoas não depositavam seus
dinheiros em banco, mas sim, em vasos de barros que eram muitas vezes escondidos juntamente com suas jóias e objetos de ouro. Quando o
dono da botija morria sem ter gastado o dinheiro ele tinha que vim pra
dar a botija a alguém, geralmente que ele escolhia. A pessoa escolhida
tem que desenterrar a botija sozinha a meia noite no lugar indicado pelo
morto, e isso tem que durar até o nascer do sol, do contrário, a botija
desaparece e a pessoa é amaldiçoada.
Botijas e assombrações são lendas difundidas geralmente em
lugares pequenos de pouca habitação. O antropólogo Valdonilson Barbosa, fala desses mistérios que povoam os lugarejos. ”Essa é uma estratégia social de tornar viva uma dimensão simbólica de contextos locais,
a idéia de causos, algo fantasmagórico, está no contexto cultural, porque acaba sendo um meio de diálogo entre os vivos e os mortos, nesse
sentido pode-se dizer que os mortos são categorias sociais vivas”. Para
Valdonilson, o caso da botija revela claramente o diálogo que estabelecemos com essa dimensão oculta, pois segundo o mesmo, o mais importante não é a história em si da botija ou da assombração, mas o significado explícito e implícito desses casos.
Maria Augusta dos Santos Santana morou no casarão na época
que era casada com José Carlos de Souza Leão, e conta que durante um
sonho com Sinhá, mulher de Carlos Souza Leão, já falecidos, ela pediu
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que cavasse na árvore com espinhos que o que tinha lá seria dela. “Fiquei com muito medo e não fui, aí falei para o meu atual marido, que me
disse que agora não adiantava mais nada se referindo ao fato de ter que
se manter sempre segredo quando se tem um sonho com alguém que te
dar uma botija, caso contrário tudo será desfeito”.
Mesmo assim, dias depois, Maria Augusta foi até o lugar indicada, cavou, cavou, mas não encontrou nada. A lenda da botija também
diz que as pessoas que encontrarem o tesouro, não podem permanecer
mais morando no mesmo lugar. Coincidência ou não, muitas das pessoas
que se afirmam ter desenterrado botijas, não moram mais na Vila.
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A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
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CAPÍTULO VIII
ANTÔNIO MARQUES DE LUCENA:
O HERÓI JENIPAPENSE
Imagem: Divulgação
Segunda Guerra Mundial, Jenipapo também faz parte desta história.
[...] Antônio Marques o herói
Que a pátria fez honrar
Pois partiu para a Itália
Pronto para Guerrear [...]
Ângela Maria de Melo Lucena
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
A segunda guerra mundial foi um conflito bélico ocorrido no século XX, envolvendo as forças armadas de mais de setenta países, dentre
eles o Brasil, que enviou 5.000 soldados. Jenipapo também participou
desse conflito, e da Vila para a Itália partiu Antônio Marques de Lucena.
Este último sobrenome foi dado a ele na época da guerra (1944), pois
seu nome verdadeiro é Antônio Marques dos Santos.
Nascido em dez de setembro de 1921 em Jenipapo, ele foi combater na guerra aos 23 anos de idade, ainda solteiro. Para sustentar sua
mãe, mandava para casa todo o dinheiro que ganhava no exército como
soldado, conta sua filha Maria Marques de Oliveira Lucena. Antônio ficou
três anos no exército esperando ser chamado, no campo de batalha ficou apenas três meses, fazia questão de defender o Brasil. Analfabeto,
mas muito corajoso, passou muitas dificuldades na Itália por não compreender o idioma italiano.
Num dos episódios relatados pela família, certa vez, quando estava no campo de batalha juntamente com dois amigos, Antônio e eles
ultrapassaram uma placa onde dizia que não poderia seguir adiante. De
repente, escutaram umas pessoas conversando. Com muito medo, eles
se esconderam numa casa que foi bombardeada. “Os amigos gritavam,
achavam que os companheiros tinham morrido, mas quando a poeira
baixou perceberam que todos estavam bem”, relata Maria Marques, que
sempre escutava seu pai contar os acontecimentos da II Guerra Mundial.
Os soldados eram chamados de Febiano, e no Brasil, ainda no
treinamento do exército, tudo era bastante rigoroso, chegava a ser desumano a forma de tratamento para os futuros combatentes. O próprio
Antônio Marques aprendeu a nadar a “pulso”. Os combatentes tinham
como acessórios um brasão com a imagem de Duque de Caxias, patrono
do exército, uma medalha que mais parece uma espécie de broche, feita
de metal e tecido, e uma pequena placa de bronze com o nome, data de
nascimento e estado onde residiam que levavam sempre, no bolso da
camisa. Era uma forma de identificação uma vez que, se algo acontecesse durante o combate, era através desta placa que se identificava
o soldado. Antônio Marques quando chegou à Itália, a guerra já estava
acabando, no entanto o tempo que ele passou foi o bastante para deixar
enormes sequelas, pois viu de perto sangue, destruição, pessoas decapitadas e muita gente morta.
Dos 5.000 soldados brasileiros que foram para Guerra, apenas 432
voltaram com vida, dentre eles Antônio Marques de Lucena. Todos os
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combatentes foram recebidos com festa, em todo o Brasil houve várias
comemorações e homenagens. Antônio Marques assim como todos os
sobreviventes da época ganhou uma grande quantia em dinheiro. O valor era tão alto que nenhum comerciante de Jenipapo conseguiu trocar
as cédulas, tendo ele que fazer essa troca na agência dos Correios em
Pesqueira, cidade que na época a Vila pertencia.
De tanto festejar e esbanjar dinheiro, toda grana que ele havia
recebido, acabou rapidamente, e quando casou com Maria José de Oliveira Lucena, com quem teve três filhos já não tinha nada. Passou muitas
dificuldades financeiras, desesperado e sem dinheiro, mostrava sinais
de distúrbios mentais. Resolveu ir pra São Paulo no ano de 1959 tentar a
vida, e deixou sua família na Vila de Jenipapo.
A LOUCURA E A MORTE
No caminho pra São Paulo, Antônio Marques enlouqueceu e gritava, “eles estão vindo me buscar”, se referindo ao exército, fez o ônibus
parar, desceu e desapareceu na mata. Passou quinze dias para chegar
ao estado de São Paulo, na casa de seu irmão, foi de carona em carona.
Ficou um ano no sudeste, e depois regressou para Jenipapo. No Caminho de volta surtou novamente, parou o ônibus e de novo sumiu na mata,
sua mala chegou à cidade de Belo Jardim e ele demorou um pouco mais
de um mês para chegar ao seu destino. Também veio de carona e enquanto estava perdido, sua família estava super preocupada.
Alguns anos depois que desembarcou em Jenipapo, foi chamado
ao Recife, não queria ir, e insistia em dizer que o exército vinha buscá-lo,
se escondia no mato, mas acabou a contra gosto indo, e após exames
foi descoberto que a causa da sua loucura era o “Noronha da guerra”,
remédio que se dava aos combatentes para que não sentissem medo.
Aposentou-se como soldado, anos depois cabo, sargento, até chegar a segundo tenente. Após alguns anos um comandante do exército o
chamou e perguntou se ele queria voltar a ganhar como soldado para
depois de sua morte sua mulher ganhar como segundo tenente e se ela
morrer os filhos e depois os netos. Assim o fez.
Foi vítima de um derrame que o levou a ficar internado por 21
dias no Hospital Português do Recife, com as diárias pagas pelo exér-
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
cito. Acabou perdendo um dedo, e nunca soube dessa amputação, mas
teve relativas melhoras, a qual a fez retornar pra sua casa em Jenipapo.
Morreu no ano de 1998 na Vila de Jenipapo ainda devido ao derrame,
que já o tinha deixado seqüelas, pois não falava mais e fazia tudo com a
ajuda dos filhos.
“Foi um dia de tristeza, mas o funeral foi bastante bonito, chamou
muita atenção e todos choravam até mesmo quem não o conhecia”. Essas foram às palavras de Maria Marques de oliveira Lucena, em relação
ao enterro do seu pai. O funeral foi todo gravado, vieram oito ex-combatentes e apenas eles levavam o caixão. Acima dele, havia uma bandeira
do Brasil e a bandeira da casa dos veteranos da associação dos ex-combatentes. Antonio Marques de Oliveira Lucena morreu aos 72 anos de
idade.
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CAPÍTULO IX
JENIPAPO HOJE
Imagem: JMLeite
Vista atual da vila de Jenipapo
[...] É simples pequeno e pobre
Mas rico em seu passado
Precisa ser descoberto
Para ser valorizado.
Ângela Maria de Melo Lucena
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
Passados dois séculos após o seu surgimento pode-se dizer que
Jenipapo regrediu no tempo, pois foi um lugar que já teve um pouco de
tudo, farmácias, padaria, cartório, hotéis e muitos outros estabelecimentos que só existem na memória dos seus moradores. Encravada na
Serra Solidão, Jenipapo é hoje um distrito rural, e os antigos sinais de
prosperidade de um lugar onde viveram membros da aristocracia colonial pernambucana e personalidades ilustres do estado deram lugar a
decadência.
Hoje não há quem não se encante com as belezas naturais de
Jenipapo. Com seus vales e serras que mesmo no período da seca são
cobertos pelo mato verde, formando uma linda paisagem que encanta
seus moradores e visitantes.
Apesar de não apresentar um progresso urbanístico nos seus
pouco mais de 200 anos de existência, Jenipapo apresenta algumas
transformações. Uma das últimas novidades no distrito foi a reimplantação da feira aos sábados, por meio da qual se vende legumes e verduras, todos cultivados na própria Vila. A agricultura e a pecuária, aliás,
são os meios de sobrevivência da população. Ao menos daqueles que
por lá, permanecem enraizados. Lugar belo e exotérico, onde o tempo
parece ter parado. Pacata, de uma grande beleza natural e de um povo
acolhedor e simples, Jenipapo resiste às transformações da modernidade, permanecendo os traços de um lugar de uma riqueza de extrema
importância não só para Pernambuco, mas para todo o Brasil.
Assim como acontece em cada recanto do país, a política é algo
muito forte na pacata Vila. Seus moradores sempre põem nela a responsabilidade pela configuração atual em que esta se encontra. Uns alegam
ter tido melhorias, porém a maioria esmagadora acredita que Jenipapo
já viveu seus dias de glória e que hoje vive no esquecimento.
Um dos motivos para a situação é a falta de representantes no
cenário político, o que é de se estranhar, tendo em vista se tratar de um
lugar que foi moradia de um dos personagens mais ilustres da política no
país, o Barão de Vila Bela. Na última eleição, Jenipapo que possui seção
eleitoral, não conseguiu eleger nenhum candidato a vereador como nas
eleições anteriores. Talvez a palavra esquecimento soe um pouco forte
demais, porém algumas dúvidas pairam no ar. Por que só agora, depois
de tanto tempo é que tentam explorar o potencial turístico de Jenipapo?
Por que Antônio Marques de Lucena não foi valorizado e até hoje é pouco lembrado pelo povo sanharoense? São questionamentos que ficam a
52
espera de respostas.
“Jenipapo pra mim é muito importante, apesar de ser um lugarejo, não ser tão habitado, foi aqui que nasci e me criei, neste lugar onde o
Barão de vila Bela fez moradia, que com sua influência por ser de família
tradicional trouxe consigo o comércio, o cultivo de cana-de-açúcar e de
café”, opina a professora aposentada Odete Souza Leão, uma das descendentes da tradicional família que carrega em seu nome, a história do
lugar. “Contudo, pela idade que tem esse lugar deveria ser mais adiantado, porém parece ter parado no tempo e muita gente se mudou. E para
piorar, o povo mais novo não se interessa pelo lugar e os governantes
também não”, complementa Odete.
Já para aposentada Cosma Alexandrina, Jenipapo atualmente
está ainda melhor, pois segundo a mesma existe saneamento básico em
toda Vila, sem falar que é um lugar favorável e calmo. “Gosto muito de
morar aqui, pois é um dos poucos lugares tranqüilos ainda existentes”.
Jenipapo tem atualmente, segundo cadastros das agentes de
saúde, 342 famílias, porém já chegou a possuir um número maior. No
entanto, muita gente migrou pra zona urbana e para a capital do Estado,
principalmente alguns jovens à procura de melhores condições de estudos. Apesar do ótimo clima, da paisagem natural, e da grande abundância em água, o vilarejo fica numa região de difícil acesso, o que dificulta
a integração desta com outros municípios mais desenvolvidos.
Uma coisa não se pode negar, a Vila melhorou muito nos aspectos sociais. Possui creche e escola de primeira a oitava série do ensino
fundamental. Além disso, todas as ruas estão calçadas e há saneamento
básico e posto de saúde que atende também os moradores dos sítios
vizinhos.
Contudo, é importante ressaltar que o descaso não parte apenas das autoridades políticas, pois se percebe certo descaso por parte
da própria comunidade que não procura saber a história da Vila, seus
fundadores, valorizando e reconhecendo o passado do distrito. Mas há
aqueles que estão na contramão dessa realidade e buscam a restauração da memória ilustre da Vila. Ângela Maria de Melo Lucena, professora, é uma das nativas que luta constantemente para manter a história de
Jenipapo viva.
Em comemoração aos 200 anos da Vila, ela criou um poema intitulado “Saudades da minha terra”, poema esse, que até hoje não foi
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
publicado. Atualmente ela implantou um sistema de som dentro da comunidade, com o objetivo de disseminar música de boa qualidade para
a população. Ângela pretende, em breve, montar uma biblioteca pública
para atender a necessidade cultural da população.
No que diz respeito ao perfil de seus moradores, os Jenipapenses
são pessoas simples, em sua maioria, de poucos recursos financeiros.
Muitos sempre esboçam certa desconfiança com a presença de pessoas estranhas no lugar, porém, logo no primeiro contato se demonstram
hospitaleiros e dispostos a ajudar. As atividades econômicas se dividem
entre a agricultura com o cultivo de verduras e legumes, principalmente
alface e cenoura, e a pecuária com a criação de gado de corte e leiteiro, fabricando assim produtos derivados do leite. Há também a cultura
do artesanato, de onde se destaca a renda renascença. Entretanto, a
principal fonte de renda econômica provém do serviço municipal público. Boa parte dos moradores são servidores da Prefeitura Municipal de
Sanharó.
É essa a realidade vivida por Jenipapo nos dias de hoje. O vilarejo é o retrato fiel de um lugar pacato com ares de provincianismo e que
parece ter parado no tempo. Mas um pedaço do interior pernambucano
que reflete o berço de beleza e cultura, onde se cravou o brasão de um
dos mais ricos senhores de terra de Pernambuco.
É essa, portanto, a história de um lugar que se originou de uma
árvore e desta se fez brotar um tesouro histórico cultural ainda escondido em meio a serras e pedras. Um lugar mágico que se depender, ao
menos deste humilde, mas prazeroso trabalho, não ficará mais refém do
esquecimento.
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Mapa atual do distrito de Jenipapo.
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A árvore que virou Vila, a Vila que virou história.
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REFERÊNCIAS
- Biblioteca Municipal de Sanharó, Histórico de Sanharó, atualizado em
2006.
- CARACILO, Leonides. Barão de Vila Bela presidente da província de
Pernambuco. Sanharó- PE: Edição própria, 2006.
- LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas. Barueri- SP: Manole, 2009.
- LUCENA, Ângela Maria. Saudades da Minha terra. Sanharó- PE: (in
Prelo)
- SIQUEIRA Moisés Alves. Sanharó- Memórias poéticas. Sanharó- PE:
Edição Própria, 2000.
___________________ Cotidiano Antigo de Sanharó e outros Poemas.
Sanharó- PE: Edição Própria, 2002.
57
ANEXOS
58
Poema não publicado de Ângela Maria
de Melo Lucena
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JENIPAPO
A árvore que virou Vila, a Vila que virou história
“Jenipapo pra mim é uma fonte de cultura, apesar de ainda ser esquecido, é um lugar rico em água, de um clima bem natural, paisagens maravilhosas, terras de artistas embora não reconhecidos. É um documentário
na historia do Brasil e do mundo, porque nele revelam-se nomes de pessoas ilustres como o Barão de Vila Bela, que com sua família deu origem
a história do lugar, Antonio Marques de Lucena, o herói da força expedicionária brasileira, Maria Mendonça, que ajudava os pobres e doou o
terreno da escola, entre outros nomes que formam o contexto histórico
da Vila. Então Jenipapo nada mais é do que um instrumento especial
para a sociedade, só precisa ser reconhecido.”
(Ângela Maria de Melo Lucena, 44 anos, professora)
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