PROPOSTA DE TOMBAMENTO Paróquia de Nossa Senhora da Penha Recife - 2006 SUMÁRIO Apresentação 1. Declaração de Significância 2. Localização 2.1 Propriedade 3. Vínculos Legais e Normas de Proteção 4. Antecedentes Históricos 4.1 Origens da Localização 4.2 Origem da Consagração da Construção Religiosa 4.3 Cronologia dos Processos Histórico-Construtivos 4.4 Significância Histórica 5. Características Físicas da Edificação 5.1 Planta-Baixa 5.2 Fachada 5.3 Coberta 5.4 Usos 5.5 Bens Integrados 6. Patologias e danos 7. Autenticidade e Integridade da Basílica da Penha 8. Gestão da Propriedade 8.1 Caráter social da comunidade 8.2 Sustentabilidade do monumento 8.3 Atual Conservação do Monumento 9. Plano da Conservação Integrada 10. Referências Bibliográficas 11. Glossário Ficha Técnica Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI APRESENTAÇÃO Esta proposta consiste na estruturação das ações de proteção e conservação integrada da Basílica de Nossa Senhora da Penha, localizada no Bairro de São José, centro histórico da cidade do Recife. Reúne um conjunto de informações técnicas direcionadas à proteção da edificação através do instituto jurídico do tombamento. A proposta de tombamento identifica os atributos tangíveis e intangíveis significativos da edificação a serem preservados, sinalizando o atual estado de conservação (patologias e danos mais evidentes), os principais atores responsáveis pela sua conservação e meios de sustentabilidade atuais. Tem por objetivo oferecer subsídios às práticas protetivas da Basílica, de forma a instruir o pedido de tombamento, favorecendo a tomada de decisões na busca de parcerias no processo da conservação integrada. Elaborado sob os auspícios da Paróquia de Nossa Senhora da Penha, contou com a colaboração dos frades capuchinhos da Província de Nossa Senhora da Penha e da coordenadora local, Sra. Telma Liege. Merece destaque o suporte fornecido por instituições voltadas à preservação do patrimônio, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural – IPHAN/5ª SR, o Arquivo Público e o Departamento de Preservação do Patrimônio Cultural, da URB/Recife . A proposta de tombamento tem como ponto de partida a Declaração de Significância da Basílica de Nossa Senhora da Penha, padroeira da Indústria e do Comércio da cidade do Recife. Essa declaração tem o intuito de evidenciar os valores essenciais imateriais atribuídos à edificação, associados à sua estrutura física e às práticas sociais, merecedores de ações de salvaguarda e proteção, garantindo sua permanência no tempo. Assim, abre-se a possibilidade de instituir uma rotina de monitoramento da conservação, capaz de assegurar a constante medição e avaliação das mudanças, estabelecendo estratégias para melhorar o desempenho das atividades. São apresentados, inicialmente, os dados referentes à sua localização, estado de propriedade e os procedimentos normativos que legislam sobre a Basílica. Em seguida, são explorados seus aspectos históricos, arquitetônicos e culturais, os usos e os bens integrados ao monumento, discorrendo sobre as patologias e danos sofridos como um todo. A proposta permeia a estrutura de gestão existente, identificando os atores que participam das decisões e os artifícios dispostos à sustentabilidade da Basílica, lançando as bases para fundamentar as diretrizes de intervenção de conservação e restauro, de forma a minimizar possíveis perdas de valor. A petição ora apresentada propõe-se também a funcionar como um guia básico e técnico para respaldar as futuras intervenções físicas em um raro exemplar da arquitetura eclética, de influência neoclássica singular de outrora. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 1. Declaração de Significância A Basílica de Nossa Senhora da Penha, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, constitui um imponente edifício na paisagem urbana do Bairro de São José – fortemente marcada pela presença das torres sineiras altas e delgadas e da enorme cúpula do transcepto, símbolos de uma forte religiosidade – que norteou a configuração urbana do início da formação da cidade. A volumetria da Basílica destaca-se no contexto pela sua monumentalidade e singularidade que, além da pertinência como elemento arquitetônico, o partido de planta em cruz, ao gosto românico, coroa a devoção religiosa cristã tão forte na cidade do Recife. “A Basílica de Nossa Senhora da Penha merece uma emergencial ação de conservação por reunir os seguintes valores materiais e imateriais: o Registra a monumentalidade da arte religiosa, de estilo eclético com influência do neoclassicismo da segunda metade o século XIX, no bairro histórico de São José, coração da cidade do Recife; o Representa o vigor devocional e religioso, marcante dos séculos passados e que perdura até os dias atuais, sem perda de valor, recebendo semanalmente milhares de fiéis para as benções de São Felix e da Virgem; o Apresenta expressivos valores artístico e histórico, refletidos em sua concepção de planta, volumetria e bens integrados, bem como a introdução de elemento abobadado em cúpula na sua coberta, materializando o poder religioso na paisagem urbana. o É um dos mais representativos exemplares no Brasil das técnicas construtivas do primeiro período da Arquitetura eclética. Os trabalhos decorativos em estuque, particularmente nas técnicas do marmorino e escaiola, tanto no interior como no exterior, fazem-na única no Nordeste do Brasil. O conjunto desses elementos representa a permanência dos valores simbólicos e documentais singulares, testemunho insubstituível da religião, da arte e da história, merecendo o ato de preservação para conhecimento e usufruto das futuras gerações.“ Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 2. Localização A Basílica de Nossa Senhora da Penha está localizada no bairro de São José, centro histórico da Cidade do Recife, Estado de Pernambuco, Região Nordeste do Brasil (imagens 1 e 2). A cidade possui uma área de 217 km², segundo os dados do IBGE, onde a planície de aluvião do Recife possui cotas que variam de 1,00m a 10,00m. Possui clima tropical, com vegetação de influência fluvio-marinha e solo argiloso. Pertence à bacia hidrográfica do Rio Capibaribe. Imagem 1: Localização de Recife no mapa de Pernambuco. Fonte: www.guiageo.com SAO JOSÉ STO. ANTÔNIO N B. RECIFE Imagem 2: Localização da Basílica de N. Sra. da Penha no bairro de São José. FONTE: Juliana Barreto, 2001 Imagem 3: localização da Basílica da Penha. FONTE: Google Earth 2006 O bairro de São José constitui-se numa das porções mais antigas da cidade. O casario histórico e o traçado urbano holandês ainda persistem na paisagem da cidade, com ilhas de valor histórico, artístico e cultural, representativos da concepção urbana original de Recife. Atualmente, a área subjuga-se à proteção de instrumentos legais de preservação e alguns de seus monumentos situam-se tombados em esfera federal. O local, atualmente, encontra-se bem servido de vias de acesso, tanto para transportes públicos como para particulares. As ruas estreitas, provenientes do traçado antigo, são bastante peculiares no bairro, o que atualmente tem gerado conflitos de estacionamento. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Porém existem áreas restritas, como interior de lotes vazios ou sem ocupação, demarcadas para estacionamento. O bairro de São José, especialmente no entorno da Basílica, possui intenso uso comercial formal, instalado no térreo dos sobrados históricos. Essa forte influência mascate é decorrente da ocupação original do local, que tradicionalmente foi voltada para este fim. Com o passar dos anos, começaram a surgir muitas barracas de comércio informal ao longo das ruas e a feira livre, principalmente nas proximidades da basílica e no entorno do Mercado de São José, estando cada vez mais intensa. A Basílica da Penha localiza-se em frente à Praça Dom Vital, com a lateral voltada para a Rua das Calçadas (imagem 3). Essa praça possui relação direta com a edificação por ser erigida em homenagem ao antigo Arcebispo de Olinda e Recife, quando o Estado ainda era uma província. Assim, o desenho urbano tem condição de oferecer maior amplitude do campo visual e permeabilidade do monumento, porém, diante da atual situação de aglomeração do comércio informal, essa relação se estabelece conflituosa, mostrando uma edificação “sufocada”. 2.1 A Propriedade A propriedade pertence à Província de Nossa Senhora da Penha do Nordeste do Brasil - PRONEB, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Na documentação pesquisada, foi verificada a criação da Paróquia de Nossa Senhora da Penha, “levando em consideração o centro de vida religiosa que funciona no referido templo” (anexo 1), em 26/10/2005. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 3. Vínculos Legais e Normas de Proteção A situação da Basílica de Nossa Senhora da Penha, no centro histórico da cidade de Recife, condiciona-a a normas específicas quanto à preservação e intervenção do mesmo, já que é nesse local onde está reunido o valioso acervo representativo da arquitetura de outrora. Em âmbito federal, os bairros de Santo Antônio e São José encontram-se delimitados em um polígono de proteção que legisla sobre a circunvizinhança dos monumentos nacionais tombados, como meio de preservar a ambiência e visibilidade do conjunto. Esse polígono foi oficialmente reconhecido na 110ª Reunião do Conselho Consultivo do IPHAN, em agosto de 1984, em Olinda, Pernambuco (imagem 4). Então, por se tratar de uma área protegida nacionalmente, qualquer intervenção em seus bens móveis ou imóveis, deve ser submetida à apreciação e aprovação do órgão competente, no caso o IPHAN. Imagem 4: Polígono dos Bairros de Santo Antônio e São José, com destaque para os monumentos tombados e situação da Basílica da Penha. Fonte: acervo 5º SR/Iphan. Além de estar situada em área delimitada em um polígono de proteção federal, a edificação também se situa nas proximidades de bens tombados federais, no caso, o Mercado de São José, a Igreja de São Pedro e seu conjunto e a Igreja de São José do Ribamar. Assim, mesmo que a Basílica de Nossa Senhora da Penha não seja uma edificação tombada, ela se sujeita aos ditames do Decreto-Lei nº 25/1937 do IPHAN, que explicita em seu artigo 18: Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI “Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso multa de cinqüenta por cento do valor do mesmo objeto.” (IPHAN, 1994: p. XV) Em âmbito municipal, a Basílica se localiza no Setor de Preservação Rigorosa – SPR da Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural – ZEPH 10, bairros de Santo Antônio e São José, “objetivando a restauração, manutenção e/ou compatibilização com a feição do conjunto integrante do sítio, sendo permitida a demolição dos imóveis cujas características não condizem com o sítio”. (LUOS) Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 4. Antecedentes Históricos A edificação de caráter religioso exerceu grande influência na conformação urbana e na vida das cidades. Durante a metade do século XVII e início do XVIII, as igrejas tornavam-se elementos de orientação para o urbanismo barroco. As construções sacras eram marcos da perspectiva espacial, estimulando a formação de percursos, interligando seus adros e muros às ruas, travessas e becos. Neste contexto, está inserida a Basílica de Nossa Senhora da Penha, edifício marcan te no ambiente construído do Recife, chamando a atenção dos viajantes e cronistas estrangeiros desde a metade do século XVII. A “Ribeira do Peixe” estava localizada no Pátio da Penha, uma espécie de mercado que concentrava grandes aglomerações, onde o coração da cidade batia mais forte. A vida e história do bairro pulsavam no compasso do movimento de fiéis pelo interior da Igreja da Penha, ali inserida com sua ornamentada arquitetura sacra, voltada para o pátio onde borbulhava a vida mundana e comercial da cidade. 4.1 Origens da Localização A origem da localização da Igreja da Penha remonta a um pequeno oratório situado em “Fora de Porta de Santo Antônio”, correspondendo, com uma pequena diferença, ao terreno onde hoje está erguida a construção contemporânea. O orago foi instituído em 1655 pelos franciscanos capuchinhos franceses e ampliado em 16 de abril do mesmo ano, em um terreno doado por Belchior Alves Camello e sua mulher Joanna Bezerra. A doação constava de 40 braças de terra, de norte a sul, e de 24 de largo para a construção de novas instalações. A edificação primitiva fincava suas bases estruturais a 270 palmos da atual (5,94 metros). A localização antiga projetava a igreja à frente, onde hoje está situada a Praça Dom Vital, marcando a diferença dos processos construtivos da edificação. 4.2 Origem da Consagração da Construção Religiosa O pequeno Oratório da Penha, localizado em “Fora de Portas de Santo Antônio”, foi consagrado pelos freis franceses Cyrillo, Fabiano e Antônio em 1655. No mesmo ano, eles receberam a doação de um amplo terreno do casal Camello, fundando a igreja e o convento sob a invocação do Espírito Santo. Concluída a igreja, o quadro da Virgem da Penha foi introduzido, rememorando a devoção fervorosa dos habitantes no antigo oratório. Com o Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI passar do tempo, a igreja e o convento passaram a ser conhecidos pelo nome da Virgem, esquecendo-se a invocação do Espírito Santo. 4.3 Cronologia dos Processos Histórico-Construtivos ♦1655~1734 – Barroco Pouco se sabe sobre a primitiva construção da igreja construída pelos religiosos barbadinhos franceses em 1655. É muito provável que a feição estilística do antigo edifício não tenha agradado aos capuchinhos italianos, quando assumiram a tutela da igreja na década de 1730. Assim, a igreja foi reconstruída pelo bispo italiano José Fialho em 7 de março de 1734. Algumas gravuras revelam apenas o aspecto barroco de sua construção em fins do século XVIII (imagem 5). Imagem 5: Conjunto franciscano da Penha, final do século XVIII. Fonte: Goulart, 2001 A planta do conjunto apresentava forma quadrangular, sendo um lado reservado a igreja e os outros três restantes para o convento com as celas e demais usos. A igreja apresentava o frontispício franciscano típico, rematado por volutas e terminações com coruchéis. A característica da torre sineira alta na parte posterior, recuada do plano da fachada também marcou a expressão arquitetônica da Escola Franciscana desenvolvida no Nordeste do Brasil. Este gosto estilístico foi pouco compreendido pelos viajantes estrangeiros durante o século XIX, dentre eles o inglês Henry Koster (1816). Koster (1816: 39) descrevia as edificações, incluindo no mesmo patamar as igrejas, afirmando que “se esses edifícios fossem belos haveria aí um certo grau de grandeza. São porém, mui elevados para a largura que têm (...)”. Ausentando o juízo de valor da descrição de Koster, é possível perceber a marca da perspectiva arquitetônica, principalmente, das construções Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI religiosas, como a Penha, caracterizando o sentido de direção presente nas alturas elevadas do corpo da igreja e da torre. A torre sineira da Penha funcionava como mirante e ponto de orientação para as embarcações que entravam na cidade. Por essa razão, a altura elevada sacrificava a harmonia da largura do conjunto edificado, surpreendendo a visão do visitante. Vital de Oliveira (1864) em seu relatório, em meados dos oitocentos, descreve as torres das igrejas da cidade do Recife como importantes marcos de orientação para a navegação. ♦1882~2000 – Neoclássico A igreja, em fins do século XIX, sofreu um vigoroso processo de reforma construtiva, sendo totalmente demolida. Em 6 de novembro de 1870 foi assentada a primeira pedra do novo projeto, situada exatamente a 5,94 metros da antiga igreja barroca. A nova edificação ficou concluída em 22 de janeiro de 1882, sendo sagrada pelo bispo D. Antônio Cândido d`Alvarenga, permanecendo com a mesma estrutura física até hoje. O historiador Sebastião Galvão (1921: 369-370) descreveu algumas características construtivas apresentadas nas primeiras décadas do século XX: “tem 65,70 metros de comprimento com largura de 28,40 metros. A configuração do edifício é de uma cruz latina, contendo três naves com majestoso zimbório cuja chave se alteia a 43 metros de altura (então, uma façanha tecnológica no Recife – grifo nosso). Tem nessa mesma elevação uma elegante clarabóia sobre a qual se vê colocada uma colossal imagem de Nossa Senhora da Penha. Por traz do zimbório erguem-se duas esguias e belíssimas torres de 40 metros de altura, com forma quadrangular de 5,70 metros, até a elevação de 20 metros, transformando-se o resto para Imagem 6: Basílica da Penha, década de 1920 forma octógona”. Fonte: Galvão, 1921 O estilo arquitetônico da nova igreja seguiu o modelo arquitetônico da Igreja de Santa Maria Maior de Roma, então marcado pelo ecletismo de influência do neoclassicismo, perdurando essa feição até os nossos dias (imagens 6 e 7). A importância da igreja pode ser revelada na multidão que se aglomerava na entrada principal, revelando que a vida religiosa sempre foi ativa dentro e fora dos seus muros. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imagem 7: Basílica da Penha, período não identificado, provavelmente, após 1910 pelos veículos motores. Fonte: 5º SR/IPHAN 4.4 Significância Histórica As festas de Nossa Senhora da Penha, com celebração inaugural em 2 de fevereiro de 1882, continuaram firmes com o passar dos anos. Atualmente, a devoção por São Felix, aliada à presença constante dos milhares de fiéis que adentram semanalmente, fez da Basílica um importante marco da identidade religiosa do Bairro de São José. Constatado também pelo célebre velório de Frei Damião 1, importante religioso do Nordeste, em 1997. Por esses atributos, a edificação expressa toda sua significância para o patrimônio cultural imaterial, além de marcar a história dos processos construtivos da basílica. Esta história construtiva mostra a capacidade inventiva da cultura em re-significar seus símbolos arquitetônicos ao longo do tempo, imprimindo experiências de épocas que precisam ser resguardadas pelo patrimônio material. A importância de suas atividades religiosas, recentemente, permitiu, por meio do Decreto de Criação de Paróquias nº 01 folha 50v e 51F de 2005 (anexo 1), que a Basílica se tornasse paróquia. Neste sentido, cresce o desejo de toda comunidade religiosa, assim como dos técnicos e cientistas, tornar público também seus valorosos atributos histórico-culturais para as Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI instituições competentes que cuidam da proteção do patrimônio em níveis estadual e federal. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 5. Características Físicas da Edificação A implantação da Basílica de Nossa Senhora da Penha vem a ocupar a totalidade do lote, situada em uma esquina. Posteriormente, foi construída uma ordem conventual em sua vizinhança, partindo da fachada lateral direita, o que resultou em danos a alguns de seus elementos compositivos como a cimalha e os frisos. Convém salientar inicialmente sua representatividade na paisagem urbana do bairro histórico de São José. O volume da edificação, particularmente o tratamento conferido à sua coberta fazem da Basílica um monumento singular de destaque no contexto (imagens 8 a 12). Imagem 8: Panorama do Bairro de São José, 1855. Fonte: acervo Fundação Joaquim Nabuco. Imagem 9: Panorama do Bairro de São José, década de 1970. Fonte: acervo Fundação Joaquim Nabuco. Imagem 10: Panorama do Bairro de São José, em 2000. Fonte: Juliana Barreto. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imagem 11: Panorama do Bairro de São José, em 2006. Fonte: Larissa Menezes. Imagem 12: Panorama do Bairro de São José, em 2006. Fonte: Jorge Tinoco, 2006. Imagem 13: Planta da Basílica. Fonte: Paróquia da Penha. Levantamento arquitetônico por Rodrigo Cantarelli e Larissa Menezes, 2006. Diante das imagens é possível constatar a imponência da Basílica no ambiente urbano, principalmente pela marcação de suas torres e cúpula como peculiaridades do contexto urbano do bairro de São José. 5.1 Planta-Baixa A Basílica da Penha apresenta planta longitudinal com nave central e naves laterais onde são dispostas capelas. Sua concepção, inspirada no românico, com partido em cruz, revela intenção de simetria, que foi quebrada pela capela do Sagrado Coração de Jesus, instalada em seu lado esquerdo, onde sua volumetria saca na fachada (imagem 13). A construção chama atenção pelas grandes dimensões das naves, particularmente o pé-direito na linha do transcepto. Ao longo das naves, são dispostas grandes colunas revestidas em mármore róseo2 com capitéis coríntios que delimitam a nave central das laterais. Essas colunas conferem monumentalidade ao edifício por sua altura, apoiando a coberta da nave principal em abóbada de berço com janelas erguidas sobre o entablamento. As quatro pilastras, situadas entre as naves e o altar mor, apóiam a grande cúpula esférica, tendo as perxinas decoradas com pinturas de cenas bíblicas. As duas que se encontram no lado ocidental do braço da cruz têm no vazio interior, Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI escadas helicoidais de acesso aos púlpitos. Nas do braço oposto, nichos das devoções de Santa Terezinha e São Geraldo Magella. Uma discreta escada em cantaria de lioz eleva o fiel ao adro e convida-os adentrar na Basílica – o espaço encontra-se protegido com gradil em ponta de lança, guarnecido por esguios falos de lioz. A porta central da fachada principal, ladeada por dois nichos entre pilastras coríntias, é o eixo da composição inspirada no tardoneoclássico. Duas portas laterais menores assinalam a entrada às naves laterais. Um largo entablamento, que é sustentado pelo conjunto de oito pilastras coríntias, dá suporte compositivo ao tabernáculo que marca a parte superior do frontispício. O desenho da fachada era o que podia haver de mais moderno, uma novidade, dentro é ecletismo na cidade do Recife. Imagem 14: Nave lateral (Evangelho) Fonte: Jorge Tinoco, 2006 A entrada da basílica é marcada por duas colunas que dão sustentação ao coro. A visão do visitante é cortada pelo anteparo pára-ventos, bastante utilizado no passado para resguardar a iluminação interna das velas e candelabros. Sob o coro, o nártex possui um tratamento bem demarcado por duas grossas pilastras que se interpõem ao pano do frontão e onde no vazio do interior foram instaladas as escadas de aceso ao coro. As entradas pelas portas menores dão acesso direto às naves laterais. Pelo lado direito, lado do Evangelho, logo à entrada situa-se um pequeno museu, onde são abrigadas peças de Dom Vital, e, pelo lado oposto, lado da Epístola, um depósito guarda artigos religiosos para comercialização aos fiéis. As naves laterais têm em cada entrecolúnio uma Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI capela rasa com composições diferenciadas, demonstrando ser construídas em épocas e gostos distintos. O zimbório ou cúpula do transcepto possui uma riqueza de detalhes arquitetônicos (imagens 154 e 16) que o torna único em nossa região. A capela-mor situa-se imponente ao fundo no conjunto do corpo da basílica. O retábulo em madeira é o centro da composição que tem a colunata, semelhante à das naves com disposição em meio círculo, formando o deambulatório. Este é pano de fundo para uma belíssima abóbada em rico estuque com pinturas decorativas, sinalizando a suntuosidade da edificação. Imagem 16: Detalhe zimbório localizado sobre o transepto, 2006. Fonte: Larissa Menezes Imagem 15: detalhe altar-mor, 2006. Fonte: Larissa Menezes. Imagem 17: Iluminação natural na nave e transcepto, 2006. Fonte: Jorge Tinoco Na parte posterior ao altar-mor, no deambulatório, encontram-se capelas e um acesso a duas sacristias, em disposição simétrica. Cada sacristia possui uma escada helicoidal talhada na pedra, num raro exemplo de domínio da estereometria na cantaria. Essas escadas dão acesso aos intradorso dos forros e telhados. O interior da igreja é iluminado por lunetas, abertas ao longo do forro da nave, e por lanternins no fechamento das abobadas do transcepto. Os vãos recebem vitrais ora com motivos geométricos ora com passagens bíblicas. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Candelabros dourados, hoje adaptados à energia elétrica, são os únicos testemunhos das luzes tremulantes das velas do passado. Imagem 18: Candelabros da capela mor. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 As pinturas decorativas na abóbada de berço da nave e nas perchinas da cúpula esférica do transcepto são importantes trabalhos de artísticas pernambucanos, entre eles Murilo La Greca: Imagem 19: Pinturas assinadas por La Greca nos triângulos esféricos (perchinas) da cúpula do transcepto. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 5.2 Fachadas A fachada principal da Basílica tem composição bastante equilibrada e com simetria rigorosa. O corpo central apresenta-se sacado do limite da fachada, sendo demarcado por pilastras coríntias que apóiam o entablamento, cuja cimalha avança quase em beiral pela inserção rítmica de modilhões e rosáceas. A empena triangular é interrompida por um frontão superior, também marcado com pilastras coríntias, que alonga a composição, pronunciando sua verticalidade. O desenho da basílica é em estilo eclético, com influência do neoclassicismo. As grandes portas nos fechamentos dos vãos ao nível das naves (rés-do-chão) receberam almofadas de madeira talhada com cenas da vida da Virgem e de elementos florais, geometricamente estilizados. Toda ornamentação dos entablamentos, pilastras e colunas remetem ao clássico estilo Corinto com interpretação de proporções particulares ao autor do risco. Neste sentido, é provável que, a construção da Basílica tenha propiciado a especialização de um corpo de mestres-de-ofício e operários nesse novo modo de construir Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI com novos materiais de construção como o cimento armado, pois logo após no início do século XX essa técnica generalizou-se na cidade. Imagem 20: Ornamentação do frontispício. Fonte: Larissa Menezes, 2006 A fachada lateral, voltada para a Rua das Calçadas, é marcada por uma sucessão de pilastras, entronadas na linha do maciço do embasamento em pedra de cantaria cujo bocel marca ao nível rés-dochão a longitudinalidade da edificação. Semelhante à composição da fachada, um frontão sobrepõe-se na linha do entablamento para verticalizar e marcar a cruz do desenho da planta da Basílica. Arrematando o corpo da construção, na altura da cabeceira, a torre sineira muito longilínea no seu arremate em ponta de lança lembra os minaretes islâmicos. A estreita largura da rua não permite ao observador ter a visão completa da grandiosidade composição. Entretanto, o ritmo das pilastras quebra o que poderia ser a monotonia de uma grande parede estendendo-se pela calha do logradouro. É uma pena que a composição a tabernáculo que marca o braço da cruz e a torre passam despercebidas ao transeunte recifense. Imagem 21: Fachada lateral (Rua das Calçadas). Fonte: Fonte: Paróquia da Penha. Levantamento arquitetônico por Rodrigo Cantarelli e Larissa Menezes, 2006. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 5.3 Coberta A coberta da Basílica em duas águas dispõe-se num volume mais elevado, refletindo o partido em cruz da planta. Seu centro é arrematado por uma abóbada esférica revestida em metal, de tão grande proporções que se destaca no contexto do bairro histórico da cidade. Sua imponência foi até os meados do século passado um marco de referência e orientação, particularmente ao tempo que o trânsito fluvial ainda era intenso. No restante da edificação as cobertas são mais baixas e são arrematadas por platibandas altas de modo a esconder as linhas de cumeeiras. Todo o revestimento dos telhados foi substituído na década passada por telhas em fibrocimento, com graves conseqüências para sua conservação. 5.4 Usos A Basílica possui intensa atividade religiosa, com missas todos os dias, salvo nas segundas-feiras quando fecha para limpeza e manutenção. Sua capacidade de carga é em torno de 400 a 600 pessoas nas naves. Em dias de sexta-feira, o movimento da Basílica é bem mais intenso, devido à tradição da “bênção de São Félix” que, durante o dia todo, atrai a devoção de uma população em torno de 4.000 a 6.000 fiéis. O adro da Basílica, protegido por gradil em ferro, resguarda um uso mais intensivo do local pelo comércio ambulante, pois, geralmente, se apresenta fechado quando não há celebração religiosa. A grande aglomeração de feira livre e comércio informal em seu entorno imediato não chegam a degradar a edificação, mas compromete sua imagem no contexto urbano junto ao Mercado de São José. Além das missas diárias da rotina litúrgica, a Basílica é palco de outras celebrações como casamentos, batismos, confissões... O perfil da população usuária é a mais diversa possível, sendo composta de pessoas do comércio e moradores locais, de outros bairros e de turistas. Aliás, segundo informações da Paróquia, a manutenção da Basílica é viável em razão das constantes contribuições (óbolos) dos fiéis. 5.5 Elementos artísticos A Basílica merece grande atenção devido aos valores dos elementos artísticos integrados, ressaltados na Declaração de Significância. Os principais bens integrados e aplicados são: as pinturas parietais e sobre tela, a imaginária, os ornamentos em estuque, a cantaria e a talha. Com relação à pintura, destaque para os quatro painéis de Murilo La Greca localizados nos triângulos esféricos da cúpula do transcepto (img. 19) e para as composições do forro da nave. As capelas laterais, assim como o altar-mor, dispõem de pinturas nos ornamentos e sua riqueza de detalhes agrega valor ä percepção e aos sentimentos religiosos dos espaços. Ao longo das naves laterais foram distribuídas pinturas em telas, representando os Passos de Jesus na sua caminhada à Cruz. Os púlpitos frontais receberam um fino tratamento em pintura, talha dourada. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI O conjunto do altar-mor é o que apresenta maior riqueza de detalhes, tanto em relação à pintura, quanto aos ornamentos em frisos, capitéis e imaginária. O retábulo em madeira é bastante rico em detalhes artísticos, com pinturas lhes em madeira com talha dourada são encontrados. Em sua parte posterior é situada uma escada helicoidal em ferro para a manutenção do conjunto. Imagem 22: Retábulo da capela mor. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 6. Danos e patologias O Mapa de Danos trata e detalha as degradações nas estruturas e nos elementos construtivos da Basílica, apresentando as principais patologias (como) e patogenias (por que) que propiciaram os inúmeros danos. Como todas as coisas têm o seu efeito, todo efeito tem sua causa e, sendo as patologias efeitos de uma causa, o levantamento e a análise das degradações procuraram identificar as mais urgentes causas para se deter os estragos e potenciais sinistros. Foram detectadas três grandes situações emergenciais. São as seguintes, por ordem de prioridade de urgência: 1. Falência do sistema de alimentação e distribuição de energia elétrica; 2. Decadência das madeiras estruturais dos telhados da capela mor e nave; e 3. Desagregação do estuque armado nos ornatos e forros Imagens 23 e 24: Situação da rede de distribuição de energia elétrica pelo intradorso das coberturas, fixadas no madeiramento. A maioria dos fios da rede é antiga (tipo Vulcan), com mais de quatro décadas, encontrando-se ressecos e repletos de emendas inadequadas. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 Imagens 25 e 26: Estado de conservação do madeiramento da estrutura dos telhados da capela mor e nave. Peças com seções totalmente comprometidas e a maioria dos cachorros metálicos de apoio muito oxidados. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imagens 27 e 28: Oxidação das ferragens nos ornatos integrados e aplicados tem ocasionado constantes desprendimentos de pedaços que, até o presente momento, não causaram danos pessoais aos fiéis. Grandes áreas das naves encontram-se interditadas ao público para evitar acidentes. Fonte: Jorge Tinoco, 2005 As demais são também preocupantes e merecem atenção especial, mas não colocam a edificação sob risco eminente de sinistros com graves conseqüências ao patrimônio e aos fiéis usuários. 6.1 Mapa de Danos O conjunto de cinco plantas, onde se estão assinalados todos os principais danos: leves, relevantes e graves, com ocorrência nos elementos primários (estruturais), secundários, revestimentos, ornamentos etc. Foram identificadas as seguintes degradações: • mancha de umidade, degradação por ação de vegetação, corrosão/oxidação, fissuras, sujidades, vidros faltantes e quebrados, carbonização pela ação de fogo de velas, grafitismo, descolamento de pintura / manchas, reboco danificado/perda de material, tubo de drenagem inadequado, intervenções inadequadas/incorretas, esquadrias com madeiras ressecas, rede elétrica em risco, crosta negra, perdas por oxidação de ferragens, eflorescência, irregularidades na superfície, ação de insetos xilófagos (cupim); micro-flora (lodo, liquéns). Em nível da gravidade dos danos tem-se a decadência e precariedade da rede de distribuição elétrica; a umidade pelas infiltrações dos telhados que ocasionam a oxidação das ferragens da argamassa armada dos ornatos integrados, aplicados e forros; a intervenção inadequada da pintura à base de PVA que impossibilitou a transpiração das estruturas das alvenarias antigas. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imagem 29 : Sacristia do lado da Epístola (esquerda). Fonte: Jorge Tinoco, 2006 Forro sob risco de desabamento com escoramento provisório, através de estrutura metálica cedida pelo 5ª SR/ IPHAN. Imagem 30: Intradorso do zimbório da torre sineira. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 A estrutura de madeira está muito deteriorada em razão das infiltrações Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imagem 31: Torre sineira no nível do último piso. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 As estruturas onde se assenta o coroamento da torre sineira encontram-se gravemente deterioradas em razão da inserção de peças metálicas no seu interior. Intervenções anteriores com argamassas de cimento potencializaram os danos. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imagem 32: Extradorso da cúpula do transcepto. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 Desarticulação no assentamento entre o cupolim e a esfera da cúpula. Há uma brecha em torno de 10cm entre duas estruturas. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imagem 33: Telhamento inadequado das coberturas. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 Imagem 34: Capitel de pilastra da nave lateral. Fonte: Mônica Harchambois, 2005. A maioria dos capitéis das pilastras e colunas das naves central e laterais apresentam oxidações nas ferragens dos ornatos em estuque em razão da umidade e passivação do aço no elemento. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imagem 35: Forro de estuque da nave lateral direita. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 Flexão provavelmente ocasionada pelo excesso de peso pela umidade na estrutura, associada à longevidade dos materiais construtivos. Imagem 36: Sistema de distribuição de energia elétrica pelo intradorso dos telhados. Fonte: Jorge Tinoco, 2005. Um dos mais graves e urgentes problemas na edificação que a submete sob constante risco de sinistro por incêndio a partir de curo circuito Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imagem 37: Rreboco escaiola da capela mor. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 O reboco estucado na técnica escaiola apresenta danos em diversas áreas. Trata-se de um elemento construtivo representativo na declaração de significância da Basílica. Imagem 38: Trecho de reboco externo (tardoz da platibanda). Fonte: Jorge Tinoco, 2006 Aspecto do nível da erosão nos rebocos das áreas do tardoz das platibandas e frontões. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 7. Autenticidade e Integridade O principal objetivo das ações de salvaguarda conferidas ao bem cultural considerado autêntico, segundo Jokilehto (1995) 3, consiste em prolongar a vida de seus materiais e sistemas construtivos, para preservar o valor no tempo, seus efeitos de envelhecimento, como a pátina, sua história e usos, garantindo que essa autenticidade não venha a ser perdida em intervenções contemporâneas. Esse tratamento deve ter o caráter de reversibilidade, pois um bem cultural é considerado como irreprodutível. Em relação à integridade de um bem cultural, em referência ao Guia Operacional do Patrimônio Mundial (2005 apud Jokiletho 2006), esta corresponde à medida de quão total e intacto está o patrimônio cultural ou natural e seus atributos. Pode ser verificada diante da inclusão de todos os elementos necessários para expressar os notáveis valores universais e ser capaz de representar as características e processos nos quais se situa a significância do bem. 7.1 Autenticidade A noção de autenticidade de um bem cultural vem sendo defendida desde os princípios norteadores de valoração patrimonial apresentados na Carta de Veneza, em 1964. Diante da necessidade de revisão dos antigos critérios aplicados pela UNESCO para o reconhecimento do patrimônio cultural, a questão da autenticidade veio a ganhar nova ênfase, definida na Conferência de Nara (Japão, 1994) como pressuposto a ser atendido nas ações de salvaguarda. Se por um lado, os princípios que fundamentam as intervenções em bens culturais consistem em assegurar os valores atribuídos, é necessário também considerar as práticas e tradições associadas ao mesmo bem, tendo em vista alcançar a permanência e manutenção de sua autenticidade. A Basílica da Penha atende aos pressupostos de autenticidade de bem cultural pela pertinência dos materiais originais e legítimos, pois, e inclusive, seu envelhecimento no espaço temporal permanece basicamente tal como foi criado no seu tempo histórico. Seus atributos das práticas do auxílio espiritual católico também permanecem tais como ä época de sua fundação com a liturgia das missas, benções e confissões. O nível de autenticidade da Basílica pode ser mensurada sob o ponto de vista dos quatro principais aspectos, pertinentes à inclusão de um bem cultural na Lista do Patrimônio Mundial pela UNESCO: 1º - guarda a autenticidade do desenho, assegurada pela harmonia dos traços originais, como cor, textura, forma e escala; 2º - mantêm a quase totalidade dos materiais primitivos à sua construção, pois as adições não dominam sobre a estrutura antiga, prevalecendo os materiais originais, o processo de envelhecimento, como a pátina e as evidências das diferentes fases da sua história; 3º - permanece com o sistema construtivo genuíno à sua época de construção; e Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 4º - sua implantação urbana ainda é a mesma, bem como as atividades que se desenvolvem em seu entorno permanecem originais. Além desses itens, é importante verificar que, a Basílica mantém os atributos intangíveis inerentes à sua tipologia arquitetônico-construtiva, às práticas sociais dos quais lhe fazem parte, tornando essas características relevantes para aferição da sua autenticidade. Na atualidade, a autenticidade está ameaçada por danos em seus atributos históricomaterial, particularmente: o descaracterizações realizadas ao nível da cobertura pela substituição das antigas telhas cerâmicas por material em fibrocimento; o intervenções inadequadas e com técnicas indevidas nos revestimentos em escaiola e marmorino. Diante do exposto, pode-se concluir que a Basílica da Penha constitui-se representativa em seu aspecto de autenticidade, visto que faz jus aos principais atributos, validados para tal identificação. Ela apresenta-se como um testemunho histórico e arquitetônico do passado recifense, pernambucano, que conserva o partido de planta, volumetria, escala, sistema construtivo e implantação urbana, costumes religiosos e usos de celebrações que persistem no tempo, tão relevantes como o foi em sua criação! 7.2 Integridade A Basílica da Penha teve alguns de seus elementos construtivos substituídos e reparados inadequadamente na década passada, tais como: os revestimentos da cobertura – as telhas francesas foram substituídas por outras em fibrocimento, sob a justificativa de solucionar os problemas com as goteiras; alguns trechos dos rebocos em escaiola e marmorino sofreram reparos com materiais totalmente estranhos às técnicas desses tipos de estuque. Basicamente, a intervenção que mais comprometeu os princípios da integridade da edificação foi a alteração do material da cobertura. As demais tiveram características de serviços emergenciais e demonstram a ausência de um acompanhamento especializado no assunto. Por exemplo, alguns reparos mostram a ausência parcial dos elementos compositivos dos capitéis das colunas, a complementação das partes faltantes com uso de materiais desqualificados ou imitações do estilo vigente, atos de vandalismo como riscos nas capelas laterais e paredes portantes. Com referência aos aspectos intangíveis da Basílica, estão íntegras as atividades sóciofuncionais do bem, verificadas pela permanência de suas práticas sociais no tempo. A Paróquia mantém as tradições religiosas pelo calendário das atividades, sendo as principais a benção de São Félix todas às sextas-feiras e as comemorações da festa de Nossa Senhora da Penha, que em Recife se celebram a partir de 25 de setembro. Diante dessas observações e constatações in loco, parece que os aspectos tangíveis e os intangíveis da edificação sofreram perdas leves e sanáveis na sua integridade como um todo. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 8. Sistema de gestão da propriedade A administração atual da Basílica de Nossa Senhora da Penha desenvolve-se em conjunto com a gestão da ordem conventual. É a própria entidade dos Capuchinhos que gerencia a basílica e o convento anexo, bem como as unidades localizadas no bairro do Pina (Memorial de Frei Damião) e em outros municípios de Pernambuco. A gestão tem a Assembléia Geral como ente maior da Ordem dos Franciscanos Menores - OFM. As principais deliberações são tomadas em nível superior da hierarquia administrativa, cujos assuntos são registrados em ata. Das assembléias participam o Diretor Presidente ou Ministro Provincial, o vice-presidente ou vigário provincial, o tesoureiro ou ecônomo, o secretário provincial e os conselheiros ou definidores, assim denominados pela Ordem. Eles dispõem do poder de representar a instituição religiosa perante as esferas federais, estaduais, municipais e as autarquias. Todas as decisões são submetidas ao Conselho de Administração, que dispõe de poder deliberativo. Convém salientar que a Ordem em questão dispõe de um “Estatuto Social e Regimento Interno”, o qual foi publicado em 1994 no Diário Oficial. No gerenciamento da Basílica, existe uma coordenação de eventos e relações públicas, responsável pela organização de atividades que possam gerar recursos para a recuperação do edifício. O papel dessa coordenação é estabelecer contatos e negociações juntos aos órgãos de fomento, empresas, instituições, captando fontes de financiamento e parceiros para a elaboração e execução de projetos voltados à recuperação física no imóvel, assim como, na atualidade, a captação de recursos junto ao Governo Federal pelo Ministério da Cultura. Para as ações de conservação da Basílica, existe um vigário que atua como um guardião. Ele é o responsável pela observação das necessidades emergenciais e das providencias aos pequenos reparos. Para grandes intervenções, é necessária a reunião do Conselho de Administração, definindo ações estratégicas e pontuais, na medida em que se limitam as possibilidades físicas e de recursos. A coordenação existente é tratada como suficiente e seus membros, tanto como os membros do Conselho, são pessoas capacitadas, com instrução superior, como é o caso de frades engenheiros, dentistas, psicólogos e economistas dentre outros. Não foram identificados quaisquer tipos de conflitos de ordem administrativa entre os membros da Ordem que possam por em risco as tomadas de decisão para a recuperação da Basílica. A gestão é tratada de modo compartilhado, onde todos participam do processo decisório, salvo a comunidade dos fiéis, que apenas é mantida Imagem 39: Escoramento do forro da informada quanto às ações para salvaguardar a sacristia do lado da Epístola. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 edificação. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Até o momento de finalização deste plano, verifica-se a ausência de parcerias com entidades como o IPHAN ou a Prefeitura para a conservação da Basílica. Alguns apoios são esporádicos e pontuais como o empréstimo de andaimes que estão apoiando a estrutura da do forro em estuque da sacristia do lado da Epístola. 8.1 Caráter social da comunidade A comunidade que freqüenta a Basílica de N. Sra. da Penha é em sua grande maioria humilde e formada por moradores de vários bairros do Recife e alguns poucos comerciantes locais. Nos horários das celebrações das missas e louvores diários, o predomínio incide sobre a população de baixa renda. Em relação à capacidade de carga da Basílica, as naves abrigam normalmente um contingente em torno de 800 pessoas. Entretanto, em ocasiões consideradas de maior fluxo – principais celebrações do ano – esse número pode chegar a suportar até 3200 pessoas – especificamente na benção de São Félix no dia 18 de maio4. A Rádio Globo transmite todas as sextas-feiras, pela manhã, a benção de ao vivo a benção, ampliando consideravelmente o número de participação dos fiéis nas atividades devocionais da Basílica. 8.2 Sustentabilidade da Basílica A Basílica de Nossa Senhora da Penha, devido aos seus valores de autenticidade e integridade, tangíveis e intangíveis, expostos na Declaração de Significância, tem grande potencial em manter os fiéis freqüentadores assíduos, e de atrair visitantes e turistas por sua bela arquitetura e monumentalidade na paisagem urbana. A riqueza dos bens integrados e aplicados - pinturas, painéis, talha, estuque, cantaria – agregam valor à edificação, sendo excepcionais representativos da arte religiosa do final do século XIX tão marcante no bairro. Porém, se por um lado o edifício dispõe de tantos atributos físicos e imateriais agregados, por outro parece que esse seu potencial ainda não está devidamente inserido em programas de conservação do Poder Público ou recebendo adequado financiamento para sua recuperação. Verifica-se que é imprescindível a preocupação e o compromisso em níveis municipal, estadual e federal na sustentabilidade da Basílica. Atualmente, para garantir a conservação do edifício, tanto com reparos como em obras de maior porte, a Paróquia se vale das contribuições da devoção dos fiéis, motivados pelas festas religiosas, organização de rifas, sorteios, bingos e também pela venda de artigos pela sua pequena loja no interior logo à entrada do Templo. Promoções esporádicas, como a venda de camisas estampadas com as imagens sacras, conferem um bom retorno financeiro e são planejadas para suprir recursos em casos pontuais mais urgentes. Convém salientar que todas essas atividades são de caráter beneficente realizadas por voluntários e que o grande momento das arrecadações dá-se por ocasião da benção de São Félix, realizada nas sextas-feiras, por reunir grandes aglomerações. Os recursos captados nessas atividades são empregados, nas obras de recuperação do edifício prioritariamente, nas de caráter emergencial. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI A mais recente foi a realização dos serviços de escoramento emergencial da estrutura de madeira do telhado da capela mor que ameaçava desabar sine die sobre o altar. Estes serviços garantem por pouco tempo (± um ano) a estabilidade da estrutura, permanecendo a urgência para solução efetiva do problema. De acordo com Telma Liege, coordenadora de eventos da Basílica, em entrevista ao Jornal do Commércio (anexo 1), a mobilização para angariar recursos é um “trabalho de formiguinha”, mas que constitui um meio de obter bons resultados. Imagem 40: Quadro informativo das atividades para recuperação da Basílica. Fonte: Jorge Tinoco, 2006 Como compromisso com a comunidade, os investimentos realizados nas obras da Basílica são divulgados, seja através do frade celebrante na missa ou cartazes em quadros de avisos. O Museu Dom Vital, onde estão os restos mortais do venerado ex-arcebispo de Olinda e Recife Dom Vital, é um potencial para atrair mais recursos para a Basílica, porém ainda não está convenientemente explorado para despertar o interesse turístico e assim receitas nas cotas para conservação da edificação. 8.3 Estado Atual de Manutenção A conservação da Basílica é realizada pelos próprios frades da Ordem OFM. Há um sistema de divisão de tarefas, que se alternam semanalmente em comum acordo. Entre essas tarefas estão a limpeza em geral, manutenção de esquadrias, fechaduras, limpeza do mobiliário, dos ambientes, arrumação em geral e cozinha. Assim, ficam garantidas a limpeza e ordem da edificação, minimizando os conflitos de uso e operacionalização dos espaços. Pequenos serviços como eliminação de goteiras, consertos e pequenos reparos nas instalações são realizados por pessoal informal sem muita ou nenhuma qualificação para atuar numa edificação de valor cultural. Muitos desses reparos por vezes podem suscitar e agravar patologias construtivas. Na área externa, há problemas decorrentes do comércio informal de víveres no entorno do Mercado de São José pelo acúmulo diário lixo, gerando grande sujeira e mau cheiro. As barracas desse comércio ficam dispostas no largo em frente à Basílica e em sua calçada, dificultam o acesso, a visibilidade e permeabilidade do monumento, além de acarretar em barulho, dificuldade do fluxo de veículos e ainda ocupação das vagas destinadas a veículos restritos ao uso dos fiéis e visitantes. Neste sentido, sob o ponto de vista da conservação de uma edificação, problemas advindos de pressões externas, como o Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI entorno, podem dificultar uma maior aproximação das pessoas, principalmente por se tratar de uma área tradicionalmente relacionada com a feira livre e o mercado local. Entre os aspectos positivos, verifica-se a ausência de atos de vandalismo externos à Basílica, como pichações ou depredações, salvo a má-utilização do adro em horários noturnos, para necessidades fisiológicas. Não se constatam deficiências ou obstruções na drenagem de águas pluviais pelas linhas dos meio-fios nas ruas imediatas. Segundo entrevista com os frades, foi relatada a baixa incidência de visitação turística na Basílica. Um fluxo maior pode constituir um meio de obter promoção para a conservação do monumento. Provavelmente, fatores como a predominância de comércio informal no entorno e acúmulo de lixo, parecem ser as possíveis causas do afastamento do interesse turístico. Para as ações de conservação na edificação, são elaborados planos de intervenções, onde são expostas as prioridades de atuação, distribuídas no espaço temporal conveniente, porém não é seguido com rigor. Embora o planejamento seja enquadrado em um cronograma, percebe-se certa morosidade na execução das ações de médio a grande porte. Talvez, a escassez de recursos se situe como principal causa. Imagem 41: São Félix de Cantalício Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/FeliCant.html Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 9. Plano da Conservação Integrada O Plano de Conservação Integrada da Basílica de Nossa Senhora da Penha consiste na estruturação de ações técnicas direcionadas à proteção e às intervenções físicas em nível de manutenção, conservação e restauro da edificação. Tem por objetivo oferecer subsídios à instrução da proposta de tombamento e às ações de conservação e restauro. O arcabouço ora apresentado constitui um instrumento que vem a favorecer a tomada de decisões quanto à busca de parcerias, dentro das premissas da conservação integrada. Sua estruturação encontra-se enquadrada em três diretrizes gerais de direcionamento das ações: Diretrizes/Estratégias de implantação Imediato até 1 ano De 1 a 5 anos De 5 a 10 anos 1. Proteção 2. Conservação 3. Sustentabilidade 1. Proteção: Constitui o reconhecimento e atribuição do valor do monumento pelas instituições públicas competentes de proteção do patrimônio construído, através da instauração do instrumento jurídico do tombamento. Nessa etapa, será dado início a campanha para a realização das obras necessárias à implementação do Plano de Conservação, a partir das decisões sobre as prioridades de intervenções físicas na edificação. É importante frisar a importância da estratégia de captação de recursos e das pesquisas ou detalhamentos que merecerem maior aprofundamento. 2. Conservação: A ação de conservação de caráter imediato constitui a captação de recursos financeiros para a realização das obras de conservação e restauro que submetem a Basílica a altos e médios riscos de sinistros. Em seguida, serão realizadas as obras de caráter emergencial, mencionadas no capítulo de danos e patologias da edificação, e que são relacionadas às obras de reparo na coberta, principalmente do altar-mor e nave, à readequação das instalações elétricas e compatibilização dos ornatos em estuque armado. Convém ressaltar, que as ações de conservação não se restringem às acima citadas, devendo merecer atenção também os demais aspectos, como as esquadrias, ferragens, o piso, pintura, imaginária, entre outras, além de constituir uma estratégia sob permanente atenção, mesmo durante as demais etapas. 3. Sustentabilidade: O caráter de sustentabilidade das propostas define o direcionamento dos projetos a serem realizados na Basílica, de forma a promover uma conservação continuada e manutenção constante, a partir do melhoramento dos seus atributos físicos, que venham a Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI favorecer as atividades desenvolvidas no interior da edificação, voltadas à devoção e ao culto religioso. A partir da valorização de suas características essenciais, haverá uma maior atração e interesse por parte dos fiéis e visitantes. Assim, torna-se necessário, oferecer boas condições físicas para o desenvolvimento das práticas sócio-religiosas atualmente desenvolvidas, garantindo visibilidade tanto interna quanto externamente ao monumento. A revalorização do entorno imediato do edifício constitui uma estratégia essencial para garantir um maior fluxo de fiéis e visitantes, além de conferir uma maior visão do monumento. Dessa maneira, um planejamento que garanta a remoção adequada do comércio informal, bem como um estudo de viabilidade quantos às áreas destinadas ao estacionamento para a Basílica podem constituir um fator de impulso de maior visitação à basílica. Além disso, é necessário que, as ações executadas tenham possibilidade de proporcionar continuidade às práticas de arrecadação de recursos financeiros para a paróquia, como as quermesses, venda dos artigos religiosos, entre outras. Um forte atrativo existente na Basílica é o Museu Dom Vital, que convém a divulgação do seu acervo como potencial de gerar renda para a paróquia. Diante do exposto, pretende-se dar um importante passo quanto à conservação integrada da Basílica de Nossa Senhora da Penha, monumento de destaque na paisagem recifense, e que há tempo pede a devida atenção para ser reconhecida e protegida devidamente pelo diploma legais do tombamento. Nestes Termos Pede Deferimento Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 10. Referências Bibliográficas BARRETO, Juliana. Reabilitação Urbana do Pátio do Livramento. Trabalho de Graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo: UFPE, 2001. CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus Bairros. Câmara Municipal do Recife: 1998. 116 p. CECI. Plano Diretor do Conjunto Franciscano de Olinda. 2006. JOKILEHTO, Jukka. Considerations on Authenticity and Integrity in World Heritage Context. City in Time. V. JOKILEHTO, Jukka. Manual para el manejo de los Sitios Culturales del Patrimonio Mundial. Colômbia: Instituto Colombiano de Cultura – Colcultura, 1995. 149 p. LIRA, Flaviana Barreto. A autenticação e a prática preservacionista no Brasil. Projeto de Qualificação do Mestrado em Desenvolvimento Urbano na UFPE, 2006. NEGRO, Carlos Del. Escultura Ornamental Barroca do Brasil: Potadas de Igrejas de Minas Gerais. Minas Gerais: Edições Arquitetura, Vol. I. ROCHA. Edileusa da. (Org.). Guia do Recife: Arquitetura e Paisagismo. Recife: Ed. dos Autores, 2004. 268 p. UFPE / Centro de Conservação Integrada Urbana e Territorial – ZANCHETI, Sílvio Mendes (org.). Gestão do Patrimônio Cultural Integrado. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano – Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2002. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI 11. Glossário Abóbada de berço: teto curvo de secção semicircular. Adro: pátio à frente ou em torno das igrejas. Altar-mor: altar principal de uma igreja. Átrio: entrada ou vestíbulo de uma igreja. Bocel: moldura estreita, em meia-cana, que circunda a parte inferior da coluna. Nos degraus das escadas, é a parte do piso que sobressai além da prumada do espelho, formando um dente. Capela-mor: numa igreja, espaço onde se situa o altar-mor. Capitel: parte superior da coluna, pilar ou pilastra. Cimalha: moldura larga, horizontal ou encurvada e derivada do entablamento clássico, que atravessa um ou mais tramos de uma fachada, separando os pavimentos ou coroando o mais alto deles. Coríntio: é a mais ornamentada das três ordens arquitetônicas gregas. As colunas têm de 9 a 11 vezes a medida do diâmetro da base. Exemplos de templos de ordem coríntia são: Templo de Zeus (Atenas), Templo de Apolo (Olímpia) Coro: local de uma igreja onde se juntam os religiosos para rezarem e cantar durante os ofícios. Cúpula: abóbada levantada sobre uma planta centrada, curva ou poligonal. Deambulatório: é originário do latim ambulatorium e significa local para andar, deambular. Em geral define-se como uma passagem que circunda uma área central e que pode ser encontrada em diversas aplicações, todas elas, no entanto, inerentes a edifícios religiosos. Empena: trecho superior e triangular de uma parede, compreendido entre os dois planos de um telhado de duas águas. Também usado para indicar qualquer parede lateral ou flanco cego de edifício. Entablamento: membro horizontal de uma ordem clássica, apoiado nos suportes verticais e, quando completo, composto (de baixo para cima) de arquitrave, friso e cornija. Estereometria: parte da geometria que trata das medidas e cortes dos sólidos. Estuque: massa à base de cal, gesso, areia, cimento e água, usada no revestimento de paredes e de forros. Toda a argamassa de revestimento, geralmente acrescida de gesso ou pó de mármore. Também usada para se fazerem forros e ornatos. Frontão: elemento decorativo usado para arrematar ou esconder uma empena; para coroar uma parede externa, um vão ou um nicho; ou simplesmente para enfeitar determinadas partes da edificação. Frontispício: fachada principal. Fuste: Tronco da coluna entre a base e o capitel. Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Imaginária: designa-se o conjunto de esculturas sacras de uma igreja. Intradorso: o mesmo que o interior ou parte interna de uma estrutura. Lanternim: pequeno telhado sobreposto à cumeeira que proporciona a circulação do ar. Luneta: arco transversal de uma abóbada de contorno redondo, característico da arquitetura barroca. Janelinha aberta em um teto. Minarete: torre das mesquitas. É uma das mais típicas características da arquitetura muçulmana. Do alto do minarete, um funcionário, chamado muezzin, convoca o povo às orações. Modilhões: ornatos das ordens coríntia e compósita, aplicados normalmente em teto ou elementos das cornijas. Nártex: espécie de alpendre à entrada das antigas basílicas, para conter os catecúmenos, energúmenos e penitentes; pórtico. Nave: parte da igreja que se situa entre o átrio e o altar ou entre as colunas sustentadoras da abóbada. Neoclassicismo ou Neoclássico: modalidade da arquitetura e arte classicista praticada entre os meados dos séculos XVIII e XIX, principalmente na Inglaterra, França, Itália, Rússia e EUA. Perxina: triângulo esférico de sustentação das abóbadas. O mesmo que pendente esférico e trompa esférica. Púlpito: tribuna onde pregam os sacerdotes, nos templos. Retábulo: obra ornamental, em madeira ou pedra, no fundo do altar. Rosácea: figura simétrica, terminada em circunferência, e que revela analogia com a rosa. Ornato em forma de rosa desabrochada, composta por um núcleo em redor do qual se agrupam as folhas inscritas em um círculo. Tímpano: espaço triangular, liso ou ornado com esculturas, limitado pelos três lados do frontão. Transepto: nave transversal que separa, numa igreja, o coro das outras naves, formando os braços de uma cruz, nos templos construídos no estilo das basílicas primitivas. Tribuna: galeria elevada e de acesso reservado, abrindo-se, através de janelas ou balcões, para a nave ou capela-mor de uma igreja. Volumetria: análise dos volumes edificados. Zimbório: a parte que posteriormente remata ou cobre a cúpula dos edifícios; domo. Italiano, filho de camponeses, nascido Pio Giannotti, em Bozzano, Norte da Itália, no dia 5 de novembro de 1898, começou a sua formação religiosa aos 12 anos, quando foi estudar num colégio de padres. Aos 19 anos foi prestar serviço militar no Exército italiano, onde ficou até aos 22 anos, participando inclusive da Primeira Guerra Mundial. Tendo se ordenado padre aos 23 anos, dois anos mais tarde, Frei Damião diplomou-se em Teologia Dogmática, Filosofia e Direito Canônico pela Universidade Gregoriana. Antes de vir para o Brasil, lecionou e dirigiu por cinco anos vários 1 Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI conventos. Ao chegar ao Brasil em 1931, Frei Damião foi para o Convento de São Félix (Recife - PE), que acabara de ser construído e onde viveu até à sua morte. Apesar do seu carregado sotaque, muitas vezes mal compreendido, Frei Damião conquistou a simpatia dos mais pobres. Para o povo nordestino, a santidade de Frei Damião era provada por seus milagres, nunca reconhecidos pela Igreja Católica. Frei Damião era considerado sucessor de outro grande "santo brasileiro": Padre Cícero. Em 1991, o Instituto de Teologia do Recife catalogou 80 relatos de milagres que lhe foram atribuídos. Desde 1993 a saúde de Frei Damião, que tinha problemas respiratórios, começou a ficar mais debilitada, o que o levou a diversas hospitalizações até à sua morte, no dia 27 de maio de 1997 com 98 anos, depois de ter dedicado 76 anos de sua vida a peregrinar pelas regiões mais pobres do Nordeste brasileiro. Extraído do website: www.franciscodeassis.no.sapo.pt 2 Há entre os técnicos especialistas dúvidas quanto ao material das colunas ser de mármore ou marmorino. Devem ser feitas análises micro-químicas para identificação. O principal objetivo das ações de salvaguarda conferidas ao bem cultural considerado autêntico, segundo Jokilehto (1995), consiste em prolongar a vida de seus materiais e sistema construtivo, para preservar o valor no tempo, seus efeitos de envelhecimento, como a pátina, sua história e usos, garantindo que essa autenticidade não venha a ser perdida em intervenções contemporâneas. Esse tratamento deve ter o caráter de reversibilidade, pois um bem cultural é considerado como irreprodutível. 3 Santo do catolicismo nascido em Cantalice, próximo a Rieti, Apulia, Itália, o primeiro frade capuchinho a ser canonizado (1712). Filho de humildes camponeses passou a infância no duro trabalho do campo. Sobrevivendo a um grave problema de saúde, voltou-se para a oração, e aos 27 anos foi acolhido em um convento de capuchinhos em Città Ducale, Roma, na qualidade de irmão converso. Irmão leigo capuchinho foi enviado para Roma onde passou o resto da vida pedindo esmolas pelas ruas da cidade, para a manutenção de seu convento. A todos os benfeitores, respondia invariavelmente Deo gratias, que quer dizer Graças a Deus. Foi, por isso apelidado de Frei Deo Gratias. Tinha um especial amor às crianças para as quais cantava improvisadas canções e que elas mesmas popularizavam. A noite visitava os pobres, os doentes, confortando-os em suas adversidades. Nunca aprendeu a ler, mas tornou-se amigo de São Filipe Neri, de São Carlos Borromeu, e foi admirado por sua simplicidade de vida. Morreu em Roma no dia 18 de maio e, já no dia seguinte, o Papa Sixto V (1585-1590) mandou levantar sua vida para que pudesse beatificá-lo. Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/FeliCant.html 4 Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI FICHA TÉCNICA Jorge Eduardo Lucena Tinoco, arquiteto responsável técnico Juliana Cunha Barreto, arquiteta Magna Milfont, historiadora Narrimam Arruda e Silva, engenheira civil CREA n° 8.554 – D PE/FN Simone Arruda, arquiteta, especialista em restauro de bens móveis Larissa Rodrigues de Menezes, concluinte de Arquitetura Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada – CECI Paróquia de Nossa Senhora da Penha Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI