TEOREMAS DA EFICIÊNCIA DO CIRCUITO EQUIVALENTE DE THÉVENIN Ivo Barbi, Fellow, IEEE (*) RESUMO: Neste documento são apresentados dois teoremas tratando das perdas e da eficiência do circuito equivalente de Thévenin. É demonstrado analiticamente e confirmado por simulação numérica, que a eficiência do circuito equivalente de Thévenin, para qualquer rede onde ele exista, é sempre maior ou igual à eficiência do circuito real. I. INTRODUÇÃO De acordo com Teorema de Thévenin, qualquer circuito linear visto de um par de terminais pode ser representado por uma fonte de tensão (igual à tensão medida no par de terminais em circuito aberto) em série com uma impedância (igual à impedância do circuito vista do mesmo par de terminais). Esta configuração é chamada de Circuito Equivalente de Thévenin, em homenagem a Léon Charles Thévenin (1857–1926). É um conceito de grande utilidade prática na análise de circuitos, pois permite a redução de um circuito dado, a um circuito equivalente de menor complexidade, com apenas dois elementos vistos a partir de um par de terminais, onde se deseja, por exemplo, determinar as grandezas elétricas como tensão, corrente ou potência. Apesar da importância desse teorema e de sua popularidade, não há referência na literatura consultada pelo autor deste documento, sobre a eficiência do circuito equivalente, comparada com a eficiência do circuito original. No presente documento essa questão é analisada e demonstra-se que a eficiência do circuito equivalente é sempre maior ou igual à eficiência do circuito original sendo, portanto, limitada a sua equivalência. II. PROPOSIÇÃO E DEMONSTRAÇÃO DO PRIMEIRO TEOREMA (a) Seja uma rede resistiva linear, representada na Fig. 1(a) por NA, com dois terminais, “a” e “b”. Uma resistência externa R0 encontra-se conectada entre os pontos “a” e “b”. ΔP1 ΔPA ΔPT Fig. 1: (a) Rede NA formada por resistores e fontes com R0 conectado; (b) Rede NA com a resistor R0 desconectado; (c) Circuito equivalente de Thévenin da rede NA com o resistor R0 conectado. P0 representa a potência dissipada no resistor R0. Δ P1 representa a potência dissipada nas resistências internas do circuito NA, quando o resistor R0 está conectado. (b) Seja a Fig. 1(b), onde R0 é removido; desse modo a tensão entre os terminais “a” e “b”, denominada VT, é a tensão do circuito equivalente de Thévenin. Nesse caso, a potência dissipada nos resistores internos do circuito é representada por Δ PA . (c) Seja o circuito equivalente de Thévenin, representado na Fig. 1(c), onde VT representa a tensão equivalente enquanto RT representa a resistência equivalente de Thévenin. A potência dissipada em RT é representada por ΔPT . O teorema proposto é enunciado como segue. “A potência dissipada nos resistores da rede real, com o resistor de carga R0 conectado, é igual à soma da potência dissipada no resistor RT do circuito equivalente de Thévenin com R0 conectado, com a potência dissipada nos resistores internos da rede real com R0 desconectado (I0 = 0).” ___________________________________________________________ (*) Instituto de eletrônica de Potência Departamento de Engenharia Elétrica – EEL Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Esta proposição é traduzida matematicamente pela expressão (1). ΔP1 = ΔPA + ΔPT d) De acordo com o princípio da superposição podemos escrever a expressão (2), que demonstra o teorema proposto. (1) ΔP1 = ΔPA + ΔPT (2) A demonstração do teorema é apresentada a seguir. (a) Seja a Fig. 2. Segundo o Teorema da Substituição, R0 pode ser substituído por uma fonte de corrente com valor igual a I0, como está representado na Fig. 3. (b) Seja I0 = 0; o circuito para esse caso encontra-se representado na Fig. 4. A potência dissipada pela rede NA é igual a Δ PA . (c) Sejam todas as fontes internas de tensão curtocircuitadas (e as fontes internas de corrente abertas). Essa situação, para I0 ≠ 0, é mostrada nas Figs. 5 (a) e (b), que são equivalentes. Nesse caso, a resistência vista dos terminais “a” e “b” é a resistência RT de Thévenin. A potência dissipada em RT é representada por ΔPT . ΔPT ΔPT Fig. 5: Rede NA com fonte de corrente I0 conectada entre os pontos “a” e “b”. III. PROPOSIÇÃO E DEMONSTRAÇÃO DO TEOREMA DA EFICIÊNCIA DO CIRCUITO EQUIVALENTE DE THÉVENIN (Segundo Teorema) O segundo teorema, aqui denominado de Teorema da Eficiência do Circuito Equivalente de Thévenin, é assim enunciado: “A eficiência ηT do circuito equivalente de Thévenin é maior ou igual à eficiência η1 do circuito real”. A demonstração deste teorema é apresentada a seguir. Fig. 2: Rede NA com o resistor R0 conectado. Seja uma rede NA, com 2 terminais “a” e “b”, nos quais é conectado um resistor externo R0, como está representado na Fig. 6. ΔP1 Sejam as seguintes definições: P0 Fig. 3: Rede NA conectada a uma fonte I0, de acordo com o princípio da substituição. P0 → Potência entregue à carga; ΔP1 → Potência dissipada internamente; P1 → Potência entregue pelas fontes do circuito. ΔPA ΔP1 P0 Fig. 4: Rede NA com os terminais “a” e “b” abertos. Fig. 6: Rede NA com resistor R0 conectado nos terminais “a” e “b”. 2 De acordo com o princípio de conservação de energia, ηT ≥ η1 P1 = P0 + ΔP1 Fica então demonstrado que a eficiência do circuito equivalente de Thévenin é maior ou igual à eficiência do circuito real. A igualdade das eficiências ocorre quando (3) Seja o circuito equivalente mostrado na Fig.7. ΔPA (11) ΔPA = 0 . ΔPT IV. VERIFICAÇÃO NUMÉRICA DOS DOIS TEOREMAS Seja o circuito representado na Fig. 8, com os parâmetros indicados. Fig. 7: Circuito equivalente. De acordo com o primeiro Teorema apresentado, ΔP1 = ΔPA + ΔPT (4) P1 = P0 + ΔPA + ΔPT (5) Então, A eficiência do circuito real é definida pela expressão (6). η1 = P0 = P1 P0 P0 + ΔPA + ΔPT (6) Fig. 8: Circuito utilizado para a verificação numérica dos teoremas enunciados, por simulação. O circuito foi simulado numericamente e os seguintes resultados foram encontrados: A eficiência do circuito equivalente de Thévenin é definida pela expressão (7). P0 ηT = = PT P0 P0 + ΔPT (7) ⎛ P0 =⎜ η1 ⎝ P0 + ΔPT ηT η1 ⎛ P0 + ΔPA + ΔPT ⎞ ⎟ ⎝ P0 + ΔPT ⎠ =⎜ ηT η1 Desse modo: ⎞ ⎛ P0 + ΔPA + ΔPT ⎞ ⎟⋅⎜ ⎟ P0 ⎠ ⎝ ⎠ = 1+ ΔPA P0 + ΔPT (12) P0 = 116, 07 W ( entregue à carga ) (13) ΔP1 = 137,56 W ( perdida em R1 e R 2 ) (14) Em seguida, foi simulado o circuito mostrado na Fig. 9, onde RT = 16,666 Ω. Portanto: ηT P1 = 253, 6 W ( fornecida por V1 e V2 ) ΔPA ΔPT (8) (9) (10) Fig. 9: Circuito simulado numericamente. Foram obtidos os seguintes valores: 3 ΔPA = 40, 83 W (15) (perdida em R1 e R2 quando I0 = 0) ΔPT = 96, 73 W (16) P0 = 116, 67 W (17) Portanto, ΔPT + ΔPA = 96, 73 + 40,83 = 137,56 W (18) Fig. 10: Circuito de corrente alternada simulado para a verificação dos teoremas propostos. Foram empregados os seguintes os parâmetros: Portanto, ΔPT + ΔPA = ΔP1 (19) R0=10 Ω; como prevê o primeiro Teorema. A partir dos resultados obtidos na simulação, podem ser determinadas as eficiências, como segue. η1 = P0 116, 7 = = 0, 452 P1 253, 6 ηT = P0 P0 = = 0,545 PT P0 + ΔPT V1 = 200sen(377t) ; (20) (21) V2 = 40sen(377t + 100º); R1 = 2 Ω; L0 = 2 mH; R2 = 150 Ω; L1 = 5 mH; Foram encontrados os seguintes valores para as potências e o rendimento do circuito: P1 = 1685,8 W (23) P0 = 1284,9 W (24) ΔP1 = 400,8 W (25) Portanto, ηT > η1 (22) o que está de acordo com o segundo Teorema . η1 = 1284, 9 1685, 8 = 0, 762 (26) Em seguida foi simulado o circuito mostrado na Fig. 11, tendo sido encontrados os resultados apresentados a seguir. V. EXTENSÃO DOS DOIS TEOREMAS PARA CIRCUITOS DE CORRENTE ALTERNADA COM OU SEM ELEMENTOS REATIVOS Embora não tenha sido explicitamente enunciado nem demonstrado, verificou-se por simulação que ambos os teoremas são também válidos para circuitos de corrente alternada, com ou sem a presença de elementos reativos. Fig. 11: Circuito de corrente alternada simulado para a verificação dos teoremas propostos. P0 = 1284,9 W (27) Um circuito simulado, tomado como exemplo, encontra-se representado na Fig. 10. ΔPA = 145,95 W (28) 4 ΔPT = 256, 49 W (29) VII. CONCLUSÃO PT = 1541,32 W (30) O presente documento apresentou dois teoremas sobre a eficiência do circuito equivalente de Thevenin. O segundo torema, neste documento denominado Teorema da Eficiência do Circuito Equivalente de Thévenin, estabelece que tal eficiência é de fato sempre maior ou igual à eficiência do circuito real, tanto para circuitos de corrente contínua quanto para circuitos de corrente alternada. Além da demonstração matemática, o teorema proposto foi verificado através de exaustivas simulações numéricas de diferentes circuitos para diferentes combinações paramétricas. ηT = 1284, 9 1541, 32 = 0, 834 (31) Portanto, ηT > η1 , como prevê o segundo Teorema . Adicionando-se as potências, obtém-se: ΔPT + ΔPA = 145,95 + 256, 49 = 402, 44 W (32) Fica então confirmado que ΔP1 = ΔPA + ΔPT como prevê o primeiro Teorema . VI. DISCUSSÃO ADICIONAL Foi demonstrado, tanto para circuitos de corrente contínua quanto para circuitos de corrente alternada, que ΔP1 = ΔPA + ΔPT (33) onde Δ P1 → Potência perdida no circuito real. ΔPT → Potência perdida no circuito equivalente de Thévenin. De fato esta parcela da potência é perdida na componente resistiva da impedância equivalente de Thévenin. Então podemos concluir que ΔPT é uma potência que A partir dos estudos apresentados, pode-se afirmar que o circuito equivalente de Thévenin só é equivalente para a análise da tensão, corrente e potência da carga, não sendo válido para a análise das grandezas elétricas que ocorrem no circuito interno ou no circuito visto pela carga. AGRADECIMENTOS O autor agradece ao Prof. Hans Helmut Zürn, por seus comentários construtivos e por ter observado que os teoremas propostos são igualmente válidos para o circuito equivalente de Norton, dual do circuito equivalente de Thévenin; agradece também ao Prof. Enio Valmor Kassick por seus comentários criteriosos, por ter contribuído para o aperfeiçoamento do texto e por ter observado que a eficiência do circuito equivalente é igual à eficiência do circuito original, para o caso particular em que ΔPA = 0 , situação não prevista pelo autor deste documento em sua primeira reflexão. depende da carga e que se torna nula quando a corrente de carga é nula. Por outro lado, a potência Δ PA não depende da carga; é uma parcela constante, dissipada internamente pelo circuito real a vazio. Há um caso particular, que é aquele em que as perdas do circuito interno são nulas quando a carga é removida, onde a eficiência do circuito equivalente é igual à eficiência do circuito original. 5