F.6.1- Arquitetura e Urbanismo. Processos de segregação socioespacial em Manaus: gentrificação e auto-segregação. Jordana Rodrigues Freitas¹, Karina Damascena da Costa², Elizangela F. Sena de Araújo Silva³. 1. Estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amazonas - UFAM; *[email protected] 2. Estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; 3. Mestra em Sociedade e Cultura na Amazônia. Palavras Chave: Gentrificação, auto-segregação, Manaus. Introdução A reflexão sobre as ações que visam a reestruturação do espaço urbano permite a identificação de fronteiras simbólicas que hierarquizam econômica e socialmente os grupos humanos e contribuem para o estabelecimento da segregação socioespacial, mais especificamente a gentrificação e a auto-segregação. A gentrificação é compreendida como o processo de substituição da população de menor poder aquisitivo pela de classe média e alta, motivada pelas políticas públicas de reestruturação do espaço urbano aliadas à pressão da especulação imobiliária. A auto-segregação é um processo de segregação voluntária em que as pessoas, motivadas por interesses pessoais, abdicam da vida urbana para agrupar-se em condomínios fechados. Nesse contexto, o presente trabalho objetiva apontar a peculiaridade da ocorrência dos fenômenos de gentrificação e autosegregação em Manaus-AM nos últimos dez anos. Resultados e Discussão O processo de urbanização da cidade de Manaus ocorreu de forma desordenada, impulsionado pelos empreendimentos do poder publico e pelo crescimento demográfico decorrente das migrações. Pode-se ressaltar três momentos de expressiva modelagem urbana. O primeiro foi de investimentos para reestruturação do espaço urbano para tornar a cidade atrativa a imigrantes. O segundo período iniciou com a criação dos polos industrial, agropecuário e comercial na zona franca, em 1967, acelerando o fluxo migratório. O terceiro período está em andamento e compreende dois programas de reestruturação urbana e os projetos destinados à copa de 2014. O primeiro programa de reestruturação urbana convém a ser o PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus), cujas obras iniciaram em 2006 e prosseguem até hoje com as obras do PROSAMIM III. O segundo é o PROURBIS (Programa de Desenvolvimento Urbano e Inclusão Socioambiental de Manaus), destinado à promoção sustentável da melhoria da qualidade de vida da população residente em áreas de risco e de preservação ambiental. A funcionalidade na arquitetura tornou-se objeto de desejo e, com a produção dessas habitações, esse campo da subjetividade entra na ideia de “fabricação”, afinal “fabricase” habitações em séries em lugares que deveriam se reproduzir o ambiente natural. É confuso conceber as habitações produzidas em série pelo programa PROSAMIM em espaços de solos criados, que eram igarapés, que subjetivamente para muitos indivíduos traz recordações de um passado que fica na memória, transformando-se de fato em traços de um processo mental, reflexos de um espaço/tempo vivido (MESQUITA 2009). Neil Smith reconhece a importância de identificar como as relações sociais entre classes, mediadas pelas estratégias residenciais encabeçadas pela gentrificação, variam no espaço urbano de forma a reproduzir e sustentar os modos de produção e consumo capitalistas e a ordem social estabelecida. Os resultados da pesquisa permitem concluir que Manaus vem passando por transformações impactantes que estão promovendo alterações na valorização do solo urbano e dos imóveis, e que as ações que visam a reestruturação urbana estão promovendo o processo de gentrificação e impulsionando o mercado imobiliário para a produção e comercialização de condomínios fechados que estimulam o processo de auto-segregação. A metodologia adotada contempla pesquisa teórica, de natureza qualitativa, que utiliza como principais referenciais trabalhos de Neil Smith e o artigo Autosegregação e a Gestão das Cidades, de Klaus Frey e Fábio Duarte. Conclusões É percebido que o processo de gentrificação muda a rotina da população de uma cidade e define rumos de maneira indireta, e que a auto-segregação vem se tornando frequente entre a população de classe média e alta. É possível que arquitetos e urbanistas mudem esta realidade por meio da valorização de todos os espaços, fazendo-os sempre inovadores, mas sem desvalorizar um ao outro, de modo que cada grupo social se identifique com todos os locais e que ao mesmo tempo tenham sua preferência. Que os locais sejam dinâmicos para que não se tornem monótonos e sejam sempre uma novidade. O ambiente construído tornou-se o cenário de altos e baixos cíclicos no mercado imobiliário, com a existência paralela de deterioração e de superconstrução. Os dois fenômenos são produzidos pelo processo de construção na cidade sobrelações sociais capitalistas e têm subjacente a ideia de que o crescimento urbano desigual é intrínseco à natureza capitalista de desenvolvimento. Inaugura-se, assim, um novo ciclo: o da valorização/desvalorização do espaço urbano nos mercados regionais de solo, com início do processo de suburbanização. Agradecimentos Agradecemos a todos que contribuíram para a produção deste trabalho, aos nossos professores da Universidade Federal do Amazonas e, em especial, às nossas famílias e a Deus por nos encorajar e nos permitir a execução deste. ____________________________ FREY, Klaus & DUARTE, Fábio. Auto-segregação e a gestão das cidades Ciências Sociais em Perspectiva (5) 9 : 2º sem. 2006 MESQUITA, Otoni Moreira de. La Belle Vitrine: Manaus entre dois tempos (1890-1900). Manaus: Editora da UFAM, 2009. SMITH, N. (1996b), Gentrification, the frontier, and the restructuring of urban space, in S. FAINSTEIN; S. CAMPBELL (ed.), Readings in Urban Theory, Oxford, Blackwell, pp.260-277 67ª Reunião Anual da SBPC