DIÁRIO DO GRANDE ABC DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011 8 INTERNACIONAL ▼ Sob tensão, EUA tentam evitar calote País não tem dinheiro suficiente para quitar dívidas, que começam a vencer na terça-feira Manuel Balce Ceneta/AP Câmara rejeita plano do Senado e mantém impasse Evaldo Novelini Marcel Machiniski O s Estados Unidos entram na mais tensa semana econômica desde 15 de setembro de 2008, quando o banco de investimentos Lehman Brothers pediu concordata, mergulhando o mundo na pior crise financeira da história. O motivo da apreensão atual é um rombo de US$ 135 bilhões nos cofres públicos para liquidar dívidas com vencimento em agosto. A esperança do presidente Barack Obama residia no Parlamento, para onde ele gritou por socorro, pedindo que elevassem o teto da dívida pública, hoje em US$ 14,3 trilhões. A eterna rivalidade entre democratas e republicanos, no entanto, impediu que deputados e senadores entrassem em acordo. Com isso, os Estados Unidos chegam às vésperas de honrar os débitos, que começam a vencer na terça-feira, sem ter dinheiro suficiente. Estima-se que o país tenha de pagar US$ 307 bilhões em agosto, mas que vai arrecadar apenas R$ 172 bilhões. Se não obtiver autorização do Congresso para contrair empréstimos capazes de quitar os débitos nos próximos dois dias, terá O presidente Barack Obama elogiou plano elaborado por senadores, mas a matéria foi rejeitada pela Câmara de anunciar inédito calote. A originalidade da situação traz ainda mais insegurança aos mercados, inclusive ao Brasil. Economistas creem que a primeira reação ao default será a queda na nota de rating atribuída por agências de análise aos riscos de se investir nos Estados Unidos. Até hoje, a economia norte-americana, de tão sólida, nunca mereceu nota diferente de A triplo, a maior existente. “A queda poderá gerar fuga de dólares para países emergentes, como o Brasil. A curto prazo, isso pode ajudar, mas essa enxurrada de dinheiro a médio e longo prazos pode afetar o contro- le da inflação”, diz a professora de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Andrea Itiro. Ao analisar os reflexos do calote norte-americano, o professor de Relações Internacionais da Fundação Santo André, Marco Antônio Teixeira, fala em “desgraça econômica”. “Os Estados Unidos exercem um forte poder de desestabilização global se sua economia não estiver em ordem.” Qualquer desequilíbrio na economia dos Estados Unidos, hoje referência de segurança para aplicadores com gosto pelo risco, também poderá fazer com que o ouro ressurja como porto se- ▼ INTIMIDAÇÃO Morte do ex-líder rebelde líbio, Abdel-Fattah Younis, sob circunstâncias não claras, incitou movimento de conflitos Aviões da Otan atacam antenas da televisão líbia Aviões da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, bombardearam três antenas de transmissão da rede estatal de televisão da Líbia em Trípoli ontem. Várias explosões foram ouvidas em diferentes pontos da capital; pela manhã, porém, a TV líbia continuava no ar. A Otan disse que os ataques tinham o objetivo de degradar “o uso da televisão via satélite como meio de intimidar o povo líbio e incitar a violência contra ele”. A aliança não esclareceu quem estaria sendo incitado a atos de violência contra a população. “Atacar especificamente essas antenas vai reduzir a capacidade do regime de oprimir civis, ao mesmo tempo preser- guro. “Trata-se de investimento menos volátil”, atesta o professor de Relações Internacionais da FMU, Manuel Nabais da Furriela, que já trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington. Por causa das consequências imprevisíveis à economia mundial, são poucos os analistas que acreditam que os Estados Unidos não conseguirão aumentar o teto da dívida até terça-feira, medida capaz de tirar o país do sufoco. “Ainda que os republicanos queiram desgastar Obama, nenhum dos dois deseja que a situação fuja do controle”, finaliza Teixeira. ▲ vando a infraestrutura de transmissão de televisão que será necessária depois do conflito”, afirmou a Otan. O texto também diz que as transmissões do coronel Muamar Kadhafi são ‘inflamatórias’ e têm objetivo de mobilizar apoiadores. A Otan informou também que atacou nas últimas 24 horas veículos militares, instalações de radar, depósitos de munição, postos de artilharia antiaérea e centros de comando das forças de Kadafi. A aliança iniciou sua campanha de bombardeios contra a Líbia há cinco meses, ostensivamente para garantir “zona de exclusão aérea”, impedindo que a Força Aérea líbia atacasse civis. Logo depois do início das operações, porém, os governos dos prin- cipais países integrantes da Otan passaram a dizer que o conflito só seria encerrado com a derrubada de Kadhafi. Os aviões da aliança passaram a tentar matar o dirigente líbio, bombardeando barris residenciais de Trípoli. Outro conflito que rendeu intensas manifestações se deu com a morte do ex- líder rebelde líbio, Abdel-Fattah Younis em Benghazi, sob circunstâncias não muito claras. O insurgente Mohammed Agoury disse que estava presente quando integrantes de facção rebelde, conhecida como Brigada dos Mártires de 17 de Fevereiro, foi até o centro de operações de Fattah Younis, nos arredores de Benghazi, e levou o comandante, detido para interrogatório. (da AP) líder da maioria (democrata) no Senado, Harry Reid, que eleva o teto da dívida em US$ 2,2 trilhões, o que seria suficiente para permitir ao governo funcionar até 2013, e corta os gastos públicos em US$ 2,2 trilhões nos próximos dez anos. Os republicanos usaram, porém, manobra de procedimentos pela qual seriam necessários dois terços dos votos para aprovação. Foram 173 votos a favor e 246 contra. O Senado, por sua vez, inicia hoje debate sobre o projeto de Reid numa maratona de votações. (da AP) EVOLUÇÃO DA DÍVIDA Até 1980 (Antes de Ronald Reagan) Guerras e depressões econômicas 1993 - 2001 (Bill Clinton) US$ 1,4 trilhão (dividas de outros anos e orçamento superavitário 1981 - 1989 2001 - 2009 (Ronald Reagan) US$ 1,9 trilhão (defesa e (George W. Bush) US$ 6,1 trilhões (guerras, corte de impostos) desaceleração econômica/2001 e 1989 - 1993 recessão/2007 (George Bush) US$ 1,5 trilhão (Guerra do Golfo e menos arrecadação) 1981/1989 1993/2001 2009 - até hoje (Barack Obama) US$ 2,4 trilhões (estímulo ao consumo, crise e seguro desemprego) US$ 14 trilhões US$ 10 trilhões US$ 6 trilhões US$ 2 trilhões 2001/2009 Hoje Fonte: The New York Times ▼ IRAQUE Sergey Ponomarev/AP ▼ A Câmara dos Representantes dos EUA, dominada pelo Partido Republicano, rejeitou ontem, em votação simbólica, o plano do Partido Democrata para elevar o limite legal de endividamento do governo do país. O Senado, controlado pelos democratas, havia votado contra plano dos republicanos na noite de sexta-feira, de modo que persiste o impasse político que poderá levar à declaração de moratória da maior economia do mundo. A bancada republicana na Câmara colocou em votação ontem versão do projeto do ▼ Seri/Editoria de Arte ▼ MÊS SAGRADO Ofensiva norte-americana Ramadã começa na maior mata xeque e familiares amanhã parte dos países ▼ A polícia da cidade iraquiana de Balad informou que um ataque aéreo realizado na madrugada deste sábado pelas forças de ocupação norte-americanas matou um xeque tribal e dois integrantes de sua família, além de deixar sete feridos. Líderes locais qualificaram o ataque como um “massacre de civis”. O comando das forças de ocupação dos Estados Unidos disse que o objetivo da missão era matar um líder insurgente, mas as autoridades locais afirmaram que o alvo do ataque foi a residência de uma família na aldeia de Rufayat, 70 quilômetros ao Norte de Bagdá. “Um ataque com helicópteros aconteceu em Rufayat por volta da 1h (9h de sexta-feira em Brasília) contra a casa de Hamid Hassan”, disse o tenente-coronel Mohammed al-Baladawi, da polícia da cidade próxima de Balad. “Eles mataram três pessoas, inclusive o xeque, e sete ficaram feridas”, acrescentou o oficial. Segundo ele, quatro dos feridos são mulheres e todas as vítimas são da mesma família. Hamid Hassan, de 65 anos, era o líder de um ramo da tribo Rufayat. Em Bagdá, um portavoz das forças de ocupação dos Estados Unidos confirmou o ataque e minimizou a participação norte-americana, mas não deu dados sobre vítimas. “Nesta madrugada houve uma operação de contraterrorismo por parte das forças de segurança do Iraque em Balad, em busca de terroristas procurados por um mandado iraquiano. Assessores norte-americanos estavam lá a pedido do governo do Iraque, para ajudar na operação. Quando a equipe se aproximou da casa, ela foi alvo de tiros e disparou em autodefesa”, disse o coronel Berry Johnson. Já o primeiro-tenente Joseph Larrew afirmou que o alvo da operação era Firas Yasin Ahmad, “que é procurado pelas autoridades iraquianas por suspeita de envolvimento em terrorismo”. Ele não esclareceu se Ahmad foi capturado na operação, nem se o suspeito estava em Rufayat no momento do ataque. CAÇAS O primeiro-ministro do Iraque, Nouri al-Maliki, disse que seu país vai comprar 36 caças F-16 dos Estados Unidos para sua Força Aérea, porque o país precisa ser capaz de proteger sua soberania. Anteriormente, o governo iraquiano havia anunciado que pretendia comprar 16 caças F-16, mas o plano foi suspenso no começo do ano. Naquela ocasião, o governo do Iraque disse que usaria o dinheiro para subsidiar alimentos. (da AP) muçulmanos As autoridades religiosas da maior parte do Oriente Médio declararam que o mês sagrado do Ramadã começa amanhã. Durante esse mês, os muçulmanos devem se abster de comer, beber, fumar e fazer sexo entre o nascer e o pôr do Sol e dedicar os dias a fazer meditações e orações. O Islã adota calendário lunar, diferente do calendário solar adotado na maior parte do Ocidente. Pelo calendário cristão, a cada ano o Ramadã começa cerca de 11 dias mais cedo. Seu início é determinado com base no momento em que a Lua Nova é vista pela primeira vez no nono mês do calendário islâmico. É o mês em que os primeiros versos do Corão teriam sido revelados por Deus (Alá) ao profeta Maomé, em 610 DC. Comunicados oficiais divulgados ontem em Egito, Arábia Saudita, Líbano, Síria, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Kuwait, Catar e Iêmen dizem que o Ramadã deste ano começa amanhã. Em alguns países, o início do mês sagrado é determinado por observações astronômicas. O mês sagrado coincide com o auge do verão, os governos dos territórios palestinos ocupados por Israel, Cisjordânia e Gaza, decretaram que relógios sejam atrasados em uma hora, de modo a reduzir desconforto daqueles que devem se abster de beber água durante o dia todo. (da AP) ▼