1 Ricardo de Oliveira DESAFIOS, DISCUSSÕES E PERSPECTIVAS CRÔNICAS ACADÊMICAS 1 2 Desafios, Discussões e Perspectivas - [organizado por] Ricardo de Oliveira – Florianópolis, 2011. 2 3 Ricardo de Oliveira DESAFIOS E DISCURSSÕES CRÔNICAS ACADÊMICAS 3 4 Agradecimento Ao FONAPER, que de forma calorosa abriu as portas que eu pudesse divulgar os meus conhecimentos adquiridos. Aos PROFESSORES (AS), que acompanharam-me e estão me acompanhando no processo educacional. Ao meu amigo VALTER CARDOSO JUNIOR, que sempre me deu forças para que eu continuasse caminhando e produzindo as minhas crônicas acadêmicas. Aos meus FAMILIARES, que são à base de sustentação nos meu processo acadêmico, e no meu processo de tornar-me uma pessoa cada vez mais humana. 4 5 Sumário AGRADECIMENTO.............................................................................................4 INTRODUÇÃO.....................................................................................................7 1. A DIVERSIDADE RELIGIOSA NA SOCIEDADE COMTEMPORÂNEA...........................................................................................8 2. DIVERSIDADE CULTURAL RELIGIOSA DOS POVOS INDÍGENAS: PILARES DA PRÁTICA DA ÉTICA DA ALTERIDADE....................................12 3. DIVERSIDADE RELIGIOSA: ALÉM DAS MURALHAS EDUCACIONAIS?............................................................................................15 4. DIVERSIDADE RELIGIOSA: O DESENCONTRO DO OUTRO: COMO SE DÁ?....................................................................................................................19 5. DIVERSIDADE RELIGIOSA: UMA LUTA DO FONPER, LUTA DE TODOS..............................................................................................................23 6. DIVERSIDADE RELIGIOSA E ENSINO RELIGIOSO: ÉTICA, MORAL E ALTERIDADE....................................................................................................25 7. DIVERSIDADE RELIGIOSA E ESCOLA: COMO ESTABELECER UM MOMENTO DE ACOLHIMENTO A DIVERSIDAE RELIGIOSA SEM SER PROSÉLITO?....................................................................................................29 8. ENSINO RELIGIOSO: DA DIVERSIDADE Á UM ENSINO RELIGIOSO QUE ABORDA POESIA, ÉTICA E POLÍTICA...........................................................33 9. ENSINO RELIGIOSO E LIBRAS: DESAFIO ESCOLAR..............................35 10. ESSÊNCIA DO ENSINO RELIGIOSO: UMA DISCUSSÃO DO SER ANTROPOLÓGICO ATRAVÉZ DO FENÔMENO RELIGIOSO........................39 11. NUANCES DA DIVERSIDADE RELIGIOSA..............................................42 12. O PROFESSOR E SUA IDENTIDADE RELIGIOSA NO CONVÍVIO COM A DIVERSIDADE..................................................................................................45 5 6 13. POESIA NO ÂMBITO LITERÁRIO FOCADO NA DIVERSIDADE RELIGIOSA NA PERSPECTIVA DO ENSINO RELIGIOSO............................49 14. REVOLUÇÃO EDUCACIONAL: A INTERDISCIPLINARIDADE PASSA PELA COLETIVIDADE......................................................................................53 15. RITO DE PASSAGEM: “ADOLESCÊNCIA” – QUAL É O “OLHAR” DO EDUCADOR DE ER PARA O “FENÔMENO ADOLESCÊNCIA”?..................57 16. SEBORANIA AMERICANA: DO TERRORISMO A UM POSSÍVEL RESPEITO À DIVERSIDADE............................................................................61 17. LIBRAS COMO COMPONENTE CURRICULAR – INCLUSÃO E EXCLUSÃO.......................................................................................................66 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................73 6 7 Introdução Crônicas são um gênero literário, de tamanho reduzido, muito comum em jornais e em revistas, onde numa breve reflexão do assunto abordado, ganha relevância do cotidiano. Existe crônicas poéticas ou líricas, humorísticas, ensaio, descritiva, narrativa, dissertativa, reflexiva, metafísica, jornalística, historiográfica etc. Em pesquisas para ver a existência de uma crônica acadêmica, percebe-se que não há menção sobre quaisquer vestígios que possa ter da existência dessas crônicas, até o presente momento. Conforme o a concepção apresentada no inicio desta introdução, surgiu as CRÔNICAS ACADÊMICAS. Esse tipo de crônica toma forma científica de reflexão de temáticas relevantes que sejam atuais ou não, mas que possibilite um dialogo entre o interlocutor (cronista acadêmico) e o seu leitor. Aproxima-se do formato de artigo por conter estruturas semelhantes, mas tendo características próprias, que o identifica como Crônica acadêmica. Assim, este livro traz os desafios, discussões e perspectivas de temas que entrelaçam-se, perpassando pela diversidade religiosa, libras, ensino religioso, adolescência, o professor e sua identidade, poesia, ética, moram, alteridade entre outros. A sociedade precisa destas discussões para ter nosso olhar para o que está acontecendo, somente desta forma é que haverá a construção de um mundo mais humanizado, que respeite a diversidade presente no mundo, numa pluralidade de pensamentos e idéias, onde a excusão passará a dá lugar para a inclusão. 7 8 1 A DIVERSIDADE RELIGIOSA NA SOCIEDADE COMTEMPORÂNEA Se é outra noite mal dormida, não sei, só sei que vivemos em um mundo contemporâneo onde ainda se espera que a diversidade religiosa seja definitivamente respeitada e que os preconceitos e distanciamentos possam cessarem em meio a grandes “turbulências” geradas por nos mesmos, os seres humanos pensantes e ativos, por tanto, somos responsáveis por aquilo que fazemos sendo uma ação que venha uma reação esperadamente boa ou não. Viver com o diferente nunca foi fácil, porém, a grandes chances de melhorarmos a nos mesmos e a esse quadro “deplorável” que se tornou a nossa SOCIEDADE. Historicamente, “a realidade sócio-cultural brasileira heterogênea e diversificada, principalmente no campo religioso, começou a ser (re) conhecida como portadora de uma rica diversidade, marcada pela luta por reconhecimento dos povos indígenas e afro-descendentes [...]” (OLIVEIRA1; CECCHETTI2 2010, pg. 15). Os indígenas e lutando para manter a sua tradição, uma vez que a história conta e reconta à forma brusca com que os Jesuítas tentaram plantar uma cultura cristã, como nos adultos isso já era mais complexo, as crianças tornaram-se alvos para que toda a cultura cristã 1 Lilian Blanck de Oliveira – Doutora em Teologia – Área: Educação e Religião. Pedagoga e Especialista nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental e Educação Pré-Escolar. Docente no Programa de Mestrado em Educação e Desenvolvimento Regional e no Curso de Ciências da Religião – Licenciatura em Ensino Religioso da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB/SC). Líder do Grupo de Pesquisa: Ethos, Alteridade e Desenvolvimento (GPEAD). 2 Mestre em Educação pela UFSC. Especialista em Fundamentos e Metodologias do Ensino Religioso em Ciências da Religião pela FURB. Graduado em Ciências da Religião-Licenciatura em ensino religioso pela FURB. Coordenador de Programas de Formação Continuada e responsável pelo Ensino Religioso na Secretária de Educação de Santa Catarina (SED). Membro do Grupo de Pesquisa: Ethos, Alteridade e Desenvolvimento (GPEAD/FURB). Coordenador do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER) 8 9 pudesse ser inserida, deixando rastros de “crueldade”, “ignorância” e total desrespeita para com a cultura do OUTRO. Se com os índios já foi a “selvageria” dos homens que acabou uma cultura religiosa intrínseca de um povo rico em suas tradições, com os afros não seria diferente, a escravidão, a falta de importar-se com o OUTRO, fez com que fossem privados de sua religiosidade, para por imposição, exigir que se deixem de lado as crenças, para que a religião oficial (Cristianismo) pudesse prevalecer numa época em que os homens, por natureza “animal”, viessem a violar o direito do OUTRO. Imagino o quanto foi doloroso para os índios e afros, pois, me imagino naquela época, ferozmente sendo arrancado de mim as minhas crenças, valores e tradições em prol de uma imposição de “poderio”. Hoje, discretamente, ainda acontece de modo que me deixa até sem palavras para escrever tamanha atrocidade. A diversidade na sociedade contemporânea, “não é mais suficiente pensar sobre diferentes religiões, é necessário considerar como pensamos as diferentes formas de religião” (SILVA3 2004, pg. 9). Quando pensarmos de forma mais coerente na dimensão que é a realidade da palavra “COMO”, daremos o primeiro passo, para se conseguir um respeito mutuo direcionada a todas as raças, etnias, credos, visando uma sociedade mais justa e menos pensante em si mesma. A idade contemporânea vem desde a revolução francesa até os dias atuais e é neste contexto atual, que esta crônica vem seguindo caminho, mas é preciso ver o lado da história para compreendermos de certa forma, o porquê da diversidade religiosa ser tão discutida em congressos e simpósios de ensino religioso. Essas discussões, já na década de 1980, moviam a elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional visando ser “o imperativo intransferível de respeito e acolhida á diversidade religiosa no contexto social [...]” (OLIVEIRA; CECCHETTI 2010, pg. 105), sabemos o quanto o intransferível do dever ético de cada ser humano em respeitar e acolher a diversidade religiosa na sociedade é importante para o progresso e processo de uma cidadania mais equilibrada, isso não vejo acontecer na sociedade 3 Professora Doutora do Departamento de História/IFCH/UNICAMP 9 10 contemporânea, o que vejo é uma “renuncia do OUTRO”. E como acontece? E porque acontece? Questionamentos para que se abra a mente humana em tempos de guerra. A renuncia do OUTRO é um fator a ser discutido numa outra crônica, enquanto isso desafio a todos a pensarem numa resposta que possa me auxiliar na elaboração de um novo texto, onde essas perguntas são fundamentais para que possamos entender cada vez mais a diversidade religioso em na sociedade. “Vivemos num mundo em contínuo e acelerado processo de mudanças em todos os âmbitos da vida dos indivíduos e da sociedade” (SENA4; CARNIATO5 2010, pg. 177). Afinal, o ser humano não pode mudar assim como a sociedade? Sociedade é um conjunto de seres humanos regido por normas e regras, então, a mudança pode acontecer independente das normas e regras em que a sociedade impõe ao homem, sabemos que essas regras e normas impedem do homem ter a liberdade, mas sem elas, não saberíamos viver de forma pacificadora. Mudanças existem para bagunças as estruturas econômicas, sociais, religiosas de um sujeito, portanto, na sociedade contemporânea, as guerras, o desrespeito, a acolhida da diversidade religiosa, embora seja em passos curtos, tende a se modificar, chegando ao estado de vivencia pacifica e eticamente cabível no conceito de SOCIEDADE. A luta ainda não acabou, hoje se temos uma associação como o FONAPER, criado em 26 de setembro de 1995 e prestes a completar 16 anos, foi como muito esforço e dedicação em favor da DIVERSIDADE RELIGIOSA na sociedade, do ENSINO RELIGIOSO de qualidade e não de quantidade nas escolas publicas, onde hoje a educação não mais supera as expectativa de um povo que tenta lutar contra o poder que a cada dia leva um pouco do pouco que ainda lhe restam e, a que dá vazão a mais desconfiança no essência (educação) para que se tenha condições mais expressivas de se ir para frente... 4 Luzia M. de Oliveira Sena – Graduada em Teologia e Filosofia, mestranda em Ciências da Religião, pela PUC-SP. 5 Mara Inês Cardniato – Graduada e Mestre em Teologia. 10 11 Referencias OLIVEIRA, Lilian Blanck de; CECCHETTI, Elcio. Direitos Humanos e Diversidade Cultural Religiosa: Desafios e Perspectivas para a Formação Docente. In FERREIRA, Lúcia de Fátima Guerra; ZENAIDE, Maria de Nazaré Tavares; PEQUENO, Marconi (orgs). Direitos Humanos na educação superior: Subsídios para a educação em direitos humanos na pedagogia, 2010. OLIVEIRA, Lilian Blanck de; CECCHETTI, Elcio. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores de Ensino Religioso. In Diversidade religiosa e ensino religioso no Brasil: memórias, propostas e desafios – Obra comemorativa aos 15 anos do FONAPER/ [Organizado por] Adecir Pozzer et al. – São Leopoldo: Nova Harmonia, 2010. SILVA, Eliane Moura da. Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para cidadania. Revista de Estudos da Religião, N°2/ 2004, pp. 1-14. Disponível em http: pucsp.br/rever/rv2_2004/p_silva.pdf . SENA, Oliveira M. Luzia de; CARNIATO, Inês Maria. Diálogo: Educação para a Diversidade. In Diversidade religiosa e ensino religioso no Brasil: memórias, propostas e desafios – Obra comemorativa aos 15 anos do FONAPER/ [Organizado por] Adecir Pozzer et al. – São Leopoldo: Nova Harmonia, 2010. 11 12 2 DIVERSIDADE CULTURAL RELIGIOSA DOS POVOS INDÍGENAS: PILARES DA PRÁTICA DA ÉTICA DA ALTERIDADE Quando penso em Diversidade Religiosa, faço uma construção histórica no eixo temático: ”povos indígenas”, e como já é do meu fértil está atento as notícias do FONAPER, não poderia deixar de escrever está crônica homenageando a diversidade cultural religiosa dos povos indígenas que no dia 09 de agosto se celebrou a sua existência e suas ações benéficas para o mundo. A ONU vendo que os povos indígenas têm na sociedade uma importância institui em 1995 o “DIA INTERNACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS”. Sua cultura e tradição vêm historicamente deixando heranças de muita luta, conhecimento e combate contra a discriminação. Tradições ancestrais que permeiam os valores indígenas ensinando para cada um de nos os valores que devem ser preservados e não exterminados num mundo onde as coisas estão em constante transformação. “Os povos e pessoas indígenas são livres e iguais a todos os demais povos e indivíduos e têm o direito de não serem submetidos a nenhuma forma de discriminação no exercício dos seus direitos” [...] (NAÇÕES UNIDAS 2008, art.2, pg.6-7) assim como os islâmicos, judeus, afro-descendentes, os direitos são parte integrante do cidadão e no caso dos indígenas, está pautado na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas6. Hoje ainda podemos ver o quanto à intolerância vem tomando espaço, privando a liberdade de expressão, de cultuar, de ter a própria identidade. “A intolerância de qualquer natureza para com o Outro, gera a discriminação, o preconceito, o conflito, a violência e a guerra” (SILVEIRA; OLIVEIRA; KOCH; CECCHETTI, pg.6) E é assim desde os tempos remotos, mais será que ainda dá tempo para que aja uma mudança nesse quadro 6 Na integra no site: www.fonaper.com.br 12 13 contemporâneo? Tenho ainda que pequena, comigo, uma leve impressão de que a transformação do mundo está acontecendo e que essa transformação poderá surgir novas esperanças para que um dia possamos viver na construção de uma paz, sem “recusa do OUTRO”, apenas o respeito e a compreensão dos povos que tanto contribuíram e ainda contribuem para um pensar de uma “nova teoria do conceito de sociedade”. É a identidade que identifica o outro, pois é muitas vezes o rosto do OUTRO que “o EU encontra a sua própria identificação” (Idem, ibidem, pg.6) e ao encontrar essa identificação, encontra-se a “aproximação do OUTRO”, a relação de respeito, de dialogo, dando lugar ao caminhar na mesma direção, mesmo sendo diferente. A humanidade hoje é bastante pluralista, isso faz com que ela seja rica em cultura, em beleza e em história de povos como os indígenas, que pela proteção da TERRA, pela liberdade de expressão, dão inúmeras razões para ao fim da jornada que não tem prazo de validade para terminar, todos num só coro dizer que temos orgulho de ser quem somos, de dizer parte do processo de construção de uma sociedade mais justa. A ética tem princípios básicos da alteridade para se chegar ao entendimento da diversidade cultural religiosa em especial aos dos povos indígenas que é o tema desta crônica. Esses princípios estão alicerçados no respeito para com o OUTRO, nessa dinâmica da prática que tentamos aos menos exercer, percebemos que “o rosto do outro convoca, interpela e convida”. (Idem, ibidem, pg.6). Convoca-nos a abandonarmos nos egocentrismos, interpela-nos para que o diálogo conduza ao falar com o outro, ao invés de falar do outro e ai é que convida-nos a termos a “abertura da prática da ética da alteridade”. Devemos estar cientes, que para acolher e respeitar os povos indígenas ou qualquer diversidade precisamos urgentemente de quatro pilares que chamarei de “pilares da prática da ética da alteridade” que são 1) conhecer; 2) aproximação do OUTRO; 3) ouvir e 4) dialogar. O CONHECER – Compreender que sem o devido “conhecimento do outro”, não há como ter a aproximação do outro e nem dialogar, uma vez que nem chega à outra pessoa ou respeitará se não conhece a sua tradição, sua cultura, sua história, sua identidade. A APROXIMAÇÃO DO OUTRO - Ato de iniciação de uma comunicação, é meio 13 14 caminho andado para que aconteça o ouvir. O OUVIR – Ato de deixar com que o OUTRO fale da sua própria história. O DIALOGAR – É o último estágio para entender o outro, sentir e viver o outro, construção de relação humana e respeitosa, acolhedora, pacifica, valorização. A partir desses quatro pilares, iremos “entender o sentido da vida a partir das respostas elaboradas pelas tradições religiosas” (HOLANDA 2009, pg. 15), pelos povos indígenas, sem proselitismo, sem dá vazão ao preconceito, a discriminação e todas as formas “vulgares” de violência. “Os povos indígenas têm direito a que a dignidade e a diversidade de suas culturas, tradições, histórias e aspirações sejam devidamente refletidas [...]” (NAÇÕES UNIDAS 2008, art.15 par.1, pg.10) seja nas escolas públicas, seja nas associações, organizações, enfim, na sociedade em geral. Hoje, cabe-nos essa reflexão diante dos acontecimentos deste século XXI, reflexão de como estamos deixando o nosso ego falar mais forte do que o “importa-se com o OUTRO” para que não aja em tempos futuros a inexistência dos povos indígenas, mas sim, a inclusão, a preservação da CULTURA, dos VALORES, das TRADIÇÕES e, da ARTE de ser companhia existencial, para que ganhe voz por ser presença para a humanidade. Referencia NAÇÕES UNIDAS. Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas – Rio de Janeiro, 2008. SILVEIRA, Godoy Maria Rosa; OLIVEIRA, Blanck Lilian de; KOCH – Riske, Simone; CECCHETTI, Elcio. Diversidade Religiosa e Direitos Humanos. (mímeo) HOLANDA, Ribeiro Maria Ângela. Desafios e perspectivas da docência de Ensino Religioso. Diálogo – Revista de Ensino Religioso, n.54. Ano XIV mai/jun, 2009. 14 15 3 Diversidade Religiosa: Além das Muralhas Educacionais? As noites em que não dormimos, é o suficiente para escrevermos crônicas com relevância, e a pergunta que não pude deixar de fazer e que permeou toda uma discussão enriquecedora entre os acadêmicos do curso de ciências da Religião e o educador dentro de uma proposta, instigado por Miguel Arroyo em um dos seus textos intitulados de “O Subsolo comum de nossa docência”, veio trazer a razão critica da minha pergunta e que por sinal, também foi levantado na discussão em alguns momentos. Essa pergunta me deixou bastante intrigado pelo fato de ser uma pergunta simples e ao mesmo tempo desafiadora. Diversidade Religiosa: Além das muralhas educacionais? Sabemos que o ensino religioso é bem mais do que Alteridade, e que diversidade religiosa é muito além do que variação de crenças, mas será que é tão complexo a ponto de ultrapassar as muralhas da educação? E o que é Educação? É por ai que caminharemos na perspectiva de que a diversidade religiosa, papel importante na sociedade, possa de fato ir além dos âmbitos educacionais no qual estamos acostumados a olharmos com os olhos do não complexo. Esse olhar não complexo, no sentido de não enxergar além daquilo que está ao nosso alcance, não nos possibilita ter uma visão total das coisas. Se a diversidade religiosa é contemplada nas escolas, muitas vezes o meu mundo limita-se somente as escolas e não para “fora das muralhas”. Para o professor de outras áreas, mas irei me ater no profissional do ensino religioso, a “sensibilidade” de perceber as diferenças fora do contexto escolar, é tão importante, pois é esta cosmovisão que auxiliará o educado na compreensão de que a complexibilidade da diversidade religiosa da escola em que atua, é vaste no conceito em que ela aparece. Vejam! Para entender a diversidade na sala de aula, é necessário entender a cultura daquela comunidade e, entender a cultura da comunidade é entender a diversidade religiosa que carrega 15 16 consigo na própria identidade dos educandos fortes vestígios de significados, símbolos e comportamentos. “A Educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade.” (BRANDÃO 1995, pg. 10). A forma como cada educando na sua diversidade cultural religiosa vive sua experiência dentro de um âmbito educacional, é base para chegarmos à conclusão de que as invenções humanas que criam e criam instrumentos de vivencias partir da sua cultura, dá vazão para construir o conceito de “cultura da escola”. “A cultura da escola compreende o cotidiano do estabelecimento de ensino, a multiplicidade de sentido do qual ele é produto e produtor [...].” (SOUZA 2008, pg. 16). É nesse processo que a diversidade religiosa encontra-se, os alunos produzem ao mesmo tempo em que são produtores de “conhecimentos culturais” no cotidiano que não permanece só na escola, mas que transporta-se para fora do cotidiano escolar. O educador deve ter bem claro essa dimensão processual de gerar conhecimentos culturais das varias “fases da diversidade religiosa” fora, pois é essas fases que a diversidade religiosa dá-se a conhecer a partir da sua própria identidade e com isso o educador irá “reconhecer que todas as culturas, embora internamente diversas, possuem saberes e valores próprios que constituem fonte para o desenvolvimento humano” (Pozzer, Cecchetti, Koch 2009, pg.275) que transita dentro e fora das instituições em que ela faz presente. Nessa perspectiva, “sabemos, ou vamos aprendendo, que o que fica para a vida, para o desenvolvimento humano são conhecimentos que ensinamos [...]” (ARROYO 2009, pg.110) por que temos base e sensibilidade para não deixarmos sermos meros “reprodutivistas do maçante método de ensino” (repetição), mas sim um educador “diferente” no meio da diversidade religiosa que escala as muralhas para não ser um mero “recapitulo” de um conhecimento que não interfere nem mexe com a vida pessoal.” (WACHS 2010, pg.64), mas uma capítulo novo que influencia tanto o produtor quanto o que produz e vice e versa. Como um educador pode compreender a 16 17 diversidade religiosa não do seu mundo multicolorido, mas fora dele se nem ao menos “vivenciar o OUTRO”? Cada dia estou me convencendo de que não adianta olhar somente para o meu “eu”, mas para o meu “coletivo”. É o coletivo que vai dando possibilidade para que “acreditemos que é importante que cada pessoa tome consciência e assuma as tendências teóricas e saiba dialogar com a diversidade [...]” (WACHS 2010, pg.65). O dialogo é ainda a melhor arte para ver a diversidade além das muralhas educacionais, entretanto, nem sempre é uma arte fácil de ser ministrada, mais com criatividade, coletividade, podem-se driblar as “armadilhas do cotidiano escolar”. A interdisciplinaridade é o dialogar com as outras áreas, vejo que pouco acontece. Uma interação não só de aluno com educador, ou de educador para com o aluno, ou de aluno para com aluno, mas de educador para educador, onde o fato de chegar à sala dos professores e conversar não é integração, mas sim, um dialogar superficial, isso não demonstra o essencial do dialogo, assim, não há construção, não há vivencia, não há momentos onde pudesse estabelecer um “dialogo de experiências” do que a diversidade religiosa é para além das muralhas existentes, muitas vezes imaginarias, mas está lá, no contexto da escola. Para Rubem Alves, “o rosto do professor revelar ao aluno o segredo do seu olhar” e que “os educadores pertencem a mesmo classe dos poetas e dos artistas” (ALVES 2010, pp. 232,240). Não dá para negar que tudo isso é uma mistura de conhecimento, valorização e didática em perceber que o diferente não vive 24horas por dia num mundo escolar, mas que busca algo mais quando se estar interagindo com o OUTRO, na sua participação comunitária. 17 18 Referencias ALVES, Rubem. Do universo á jabuticaba/Rubem Alves. – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010. ARROYO, Miguel G. O Subsolo comum de nossa docência. In: Oficio de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis: Vozes, 2009. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. 33 ed, São Paulo: Brasiliense, 1995. POZZER, Adecir, CECCHETTI, Elcio, KOCH – Riske, Simone. Ensino Religioso em Santa Catarina: Exercícios na Perspectiva de uma Educação Intercultural in: Cultura e diversidade religiosa na América Latina: pesquisas e perspectivas pedagógicas/ Lilian Blanck de Oliveira (org.) - Blumenau: Edifurb; São Leopoldo: Nova Harmonia, 2009. SOUZA, Ana Maria Borges de. Organização escolar/ Ana Maria Borges de Souza, Terezinha Maria Cardozo. – Florianópolis: UFSC/EAD/CEB/ CFM, 2008. WACHS, Carlos Manfredo. A pessoa do professor e a religiosidade: conflitos e praticas em sala de aula in: Ensino Religioso: religiosidades e práticas educativas: VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdade EST e I Seminário Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS / [Organizado por] Manfredo Carlos Wachs et al. – São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010. 18 19 4 Diversidade Religiosa: O Desencontro do Outro Como e onde se dá? A aula de libra foi fundamental para desmitificar muitas coisas a respeito do que seria libras. É uma língua ou uma linguagem? Surdo Mudo ou Surdo? Mas a temática desta crônica não é esta, mas sim a Diversidade Religiosa: O Desencontro do Outro, tendo como subtítulo: como e onde se dá esse desencontro. Da maioria das vezes a nossa intolerância gera desconforto para o diferente que torna-se indiferente para o Outro. A condição de estar indiferente, não dá vazão para que o Outro perceba o rosto do Outro pedindo por compreensão e por respeito. E a intolerância é o principio máxima da “recusa do Outro”, impossibilitando a identificação do Outro, é “no rosto do Outro que o Eu encontra a sua própria identificação.” (SILVEIRA; OLIVEIRA; RISKE-KOCH, CECCHETTI 7p.6). È na dinâmica de tentar identificar o Outro como “espelho da nossa face” que construímos o encontro, a convivência cotidiana com a diversidade cultural religiosa. O Espelho da nossa face é muito mais do que enxergar-nos no Outro como prática da alteridade, ela perpassa por nossa valorização enquanto ser humano, que respeita a si mesmo. O desencontro se dá na escola, quando não percebemos o Outro como companheiros existenciais, nas Igrejas, na comunidade, em fim, na sociedade capitalista e mundana que faz do Outro um ser cada vez mais dependente da massa social e excludente de uma proposta de pensar por si mesmo, sendo mais um (a) na mão da sociedade que manipula sem dá voz e nem vez. “É no exercício do dialogo com o diferente que, o ser humano gesta a possibilidade 7 SILVEIRA, Rosa Maria Godoy; OLIVEIRA, Lilian Blanck; RISKE-KOCH, Simone; CECCHETTI, Elcio. Diversidade Religiosa e Direitos Humanos (mímeo). 19 20 de se flagrar também um diferente e um Outro, diante de alguém Outro” (SILVEIRA; OLIVEIRA; RISKE-KOCH; CECCHETTI p.7). Nessa perspectiva que precisamos caminharmos para que não aja um desencontro, mais sim, um encontro do Outra que quebra os paradigmas ainda existentes nesta sociedade contemporiza brasileira. Ser como o Outro é sinal de respeito e de reverência para com a alteridade. Assim, não se extinguirá toda e qualquer discriminação do Outro, construindo com o Outro uma relação de transformadora de si mesmo e do meio onde está inserido (a). O desencontro é fator excludente do Outro na medida em que não nos percebemos como o Outro e não damos condições para que aja uma inclusão dentro do contexto da sociedade. Caminhamos ainda como cegos na escuridão, sem nos darmos conta de que o Outro é importante pra mim tanto quanto sou importante para o Outro. Pensar que tolerar é simplesmente um ato de inclusão, é ser totalmente equivocado(a) a respeito da diversidade religiosa. O fato é que tolerar já não mais é suficiente, como não é suficiente “pensar sobre diferentes religiões, é necessário considerar como pensarmos as diferentes formas de religião”. (SILVA 82004, p. 9). E como pensarmos as diferentes formas de religião? Uma pergunta pertinente, mas que temos que refletir quando tratamos do desencontro do Outro na nossa convivência e atitudes. Um bom passo é quando deixamos de lado por um instante a nossa identidade religiosa e nos colocamos no lugar de cada ser humano que também possui sua identidade(s). O desencontro termina na “aproximidade do Outro” e dessa aproximidade estabelece um dialogo entre as varias experiências religiosas, respeitando a liberdade e a peculiaridade de cada sujeito, deixando ele/ela ter sua voz e sua vez. “Pensar a diversidade em sua multiplicidade de textos e contextos, presentes nas singularidades na pluralidade [...], é pauta intransferível para todo é qualquer processo [...]” (SILVEIRA; OLIVEIRA; RISKE-KOCH, p.9). 8 SILVA, Eliane Moura da. Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a Cidadania. Rever – Revista de Estudos da Religião. N° 2, 2004, pp.1-14. 20 21 E o processo se dá através do encontro e não do desencontro, através da alteridade e não da intolerância ou indiferença, da valorização e inclusão e não da desvalorização e da exclusão, do respeito e não do desrespeito, da construção da paz e não de desconstrução dela, do conviver e não do isolamento, do descobrir o lugar e não do (não) lugar da diversidade cultural religião, da afirmação e não da negação. Ao afirmar que o Outro existe e é patrimônio da humanidade, não deixamos espaços para a negação de que o Outro não tem lugar na sociedade. E qual é o lugar da diversidade religiosa? “[...] Reconhecendo que cada cultura tem em sua estruturação e em sua manutenção o substrato religioso que a caracteriza, pelo qual se fundamentam crenças, comportamentos, atitudes, valores, símbolos e referencias [...]” (CECCHETTI 92010, p.145) que rompem com o “daltonismo” existente. “Daltonismo” é sinônimo de “legitimidade do preconceito”, ou seja, o Eu sobressaindo o Outro que tenta se comunicar. A renúncia da existencial do Outro é o daltonismo ditando as regras de exclusão. O preconceito é o desencontro do Outro enquanto sujeito em busca da revelação do Transcendente e da sua própria existência. “O Outro é transcendente, mas o eu só pode responder na imanência. Não há igualdade, mas diferença. O social se institui na relação de cada um com sua diferença, porém, ao colocar-se na relação com o rosto do Outro, o eu não pode afirmar sua diferença, pois é a diferença do Outro que o constitui.” 10 (CECCHETTI 2008, p. 37) Afirmar a diferença na convivência com o Outro abolindo o desencontro que acontece em virtude da renúncia existencial do Outro, é ver-se na diferença do Outro a sua própria diferença. É na diferença de cada ser humano que encontra-se o Outro como ser transcendente. Não é mais cabível causar o desencontro, uma vez que o rosto do Outro é que constitui a minha diferença enquanto ser. 9 CECCHETTI, Elcio. O (não) lugar da diversidade religiosa na escola pública in: Ensino Religioso: religiosidades e práticas educativas: VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdade EST e I Seminário Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS/ [Organizado por] Manfredo Carlos Wachs et al. – São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010. 10 CECCHETTI, Elcio. Diversidade Cultural Religiosa na Cultura da Escola. Programa de Pós Graduação em Educação (Mestrado em Educação). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2008. 21 22 Por isso é que devemos pensar em como enxergar-se no Outro como um caminho de integração sociológico, antropológico, educacional e parte de si mesmo. Somente dessa forma “destituiremos” o “daltonismo” que gera do desencontro com o Outro que é a diversidade que faz da sociedade ser plural e laica, embora não seja na prática. Diante desta reflexão é que poderemos seguir mais adiante na concepção muito mais humano e de encontro do que gerar desumanidade e desconforto. Encontrar novas possibilidades de “envolvimento com a convivência do Outro”, fazer com que o Outro seja parte integral da minha participação na sociedade, na comunidade e no mundo, deixando-o ser quem ele é e eu sendo para o Outro quem eu realmente sou. Que oxalá, o Transcende, Allá, seja qual for o nome, ouça o canto do diferente e veja o quanto é importante o Outro na construção de um mundo melhor e que a sua existência é o motivo para derrubar o desencontro e estabelecer de forma coerente o “encontro vivencial” na busca que todos nos fazemos perante as indagações no qual “o ser humano desenvolve conhecimentos que lhe possibilitam interagir no meio e em si próprio.” (FONAPER 112009, p.31). 11 FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso/Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso – São Paulo: Mundo Mirim, 2009. 22 23 5 Diversidade Religiosa: Uma luta do Fonaper, luta de todos. Como podemos ver a luta do Fonaper (Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso)? Como um marco histórico em nossa caminhada enquanto professores de ensino religioso, enquanto estudantes de uma área de conhecimento, enquanto ser humanos. Não podemos deixar de medir esforços para que a diversidade religiosa seja diversificada nas escolas públicas, uma vez que o conhecimento é cultural e, dessa cultura, nasce o “conhecimento religioso”. Lembrar que num país que se diz ser “laico”, deveria existir o respeito pautado na alteridade, mas não é o que vemos acontecendo, na medida em que tomamos consciência de que há outras realidades presentes na escola, não podemos nos tornar “distantes”, “neutros” na presença do “outro”, ou seja, não nos é possível olhar com os olhos da “indiferença” a diversidade religiosa. A variedade de crenças é um patrimônio da humanidade que deve ser contempladas nas instituições escolares, tendo o devido cuidado por parte dos professores e da própria gestão, em proporcionar outro olhar, sem discriminação alguma, onde não é mais possível o proselitismo. Vejo a cada dia um passo a mais na construção de uma “educação respeitosa”, até por ter o Fonaper focado nesta construção de mentes que possam “reconhecer” e “valorizar” a diversidade presentes no campo escolar. A luta ainda não terminou, muitas conquistas ainda estarão por vir. “O diferente é o saber conviver” não causando intolerância, mas também a tolerância não significa somente tolerar o meu semelhante, é multo mais complexo do isso, significa que as pessoas de diferentes culturas, etnias, religiões, são companheiros de aventura existencial. Esta crônica nos vem relatando o quanto é importante a diversidade religiosa, apelo as autoridades do Estado que vejam o que diz os Direitos 23 24 Humanos, para que ajam um compreensão melhor da problemática e que não deixem de por em suas cabeceira os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER), nele terão a clareza do que é o “fenômeno religioso”. Wachs diz que “antes é preciso compreender qual o espaço que nossa religiosidade ocupa em nossas vidas [...]” 12e Silva completa dizendo que “valorizar os direitos de outras pessoas a crenças variadas e diferentes é um passo fundamental para apreciar a diversidade religiosa.” 13 O dialogo sobre a diversidade religiosa não vem de hoje, mas de leituras e debates deste a fundação do Fonaper, sendo uma constante busca por um Estado mais justo e que venha a compreender o lugar do Ensino Religioso, o lugar do outro, o lugar da humanidade, o lugar da cultura, o lugar do ser humano e sua capacidade de respeitar e de ser valorizado e de valorizar, a capacidade de ter senso critico, liberdade de pensar, de se expressar, de cultuar. A construção da paz se dar na “humildade para reconhecer que a verdade não é monopólio da própria fé religiosa ou política. E, no ER, pelo espírito de reverência ás crenças alheias (e não só pela tolerância), desencadeia – se o profundo respeito mútuo que pode conduzir à paz”. (FONAPER 2009, p. 33). 14 12 WACHS, Carlos Manfredo. A pessoa do professor e a religiosidade: conflitos e praticas em sala de aula in Ensino Religioso: religiosidades e práticas educativas: VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdade EST e I Seminário Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS / [Organizado por] Manfredo Carlos Wachs et al. – São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010. 13 SILVA, da Moura Eliane. Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a cidadania. Revista de Estudos da Religião, pg. 1 a 14, 2004. 14 FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Religioso / Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso – São Paulo: Mundo Mirim, 2009 24 25 6 Diversidade Religiosa e Ensino Religioso: Ética, Moral e Alteridade Estava reescrevendo o meu artigo, fazendo as alterações cabíveis e o que ficou no pensamento foi o suficiente para escrever esta crônica acadêmica, mas a aula de Movimentos Sociais e Movimentos Religiosos deu-me outra cutucada e nesse momento minhas duvidas em relação ao que escreveria foi sanada. Ética, Moral e Alteridade, palavras que permeiam a discussão sobre Diversidade Religiosa dentro do Ensino Religioso. Suas concepções são relevantes para que possamos trabalhar nas escolas com a pluralidade existentes ou não nelas. A face do OUTRO, nos dá a possibilidade de respeito e de alteridade, pois é no contato com o diferente que se constrói uma relação humana e aberta de dialogo, na medida em que “perceber o Outro em sua alteridade implica reconhecê-lo em sua diferença. Implica também acolhê-lo em sua realidade concreta, sócio-histórico-cultural, pois o humano depende do Outro para humanizar-se, para aprender, para construir sua própria identidade(s)” (CECHETTI15 2008, p. 34). A alteridade é posicionar no lugar do Outro, ser o Outro, conviver com o Outro e é a face do Outro que reflete a nos mesmo. É na alteridade que encontramos base para o respeito e a acolhida do individuo que não quer ser excluído da sociedade, não quer ser excluído da liberdade de expressão, mas que clama no deserto por um pouco de compreensão, por alguém que dê significado e que indique o melhor caminho para que ele possa buscar as suas próprias afirmações, a sua experiência com o Transcendente. Humanizar-se é construir-se na caminhada com o Outro, o 15 CECCHETTI, Elcio. Diversidade Cultural Religiosa na Cultura da Escola. Programa de Pós Graduação em Educação (Mestrado em Educação). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2008. 25 26 Outro que possui valores, o Outro que possui outra visão, o Outro que tem diferentes idéias e idéias é (re) conhecer o diferente e só é possível no ato de dialogar. Através deste ato, que o ser humano conhece-se a si mesmo e seu comportamento, muitas vezes de recusa do Outro passa a uma transformação ética, mais humanizada e propensa a construção da paz. A ética por sua vez, é interpretada equivocadamente, por pessoas que não vão à raiz da originalidade. As palavras gregas Ethos e Daimom entendimento correto da concepção de ética e de moral. 16 nos dão o Daimon não é demônio, mais o inverso dessa definição, pois o anjo bom, o protetor, significado da palavra Daimom remete a Ethos que não é Ética, mas sim, morada humana. A ética é parte da filosofia. A moral é a parte da vida concreta. “Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções.” (BOFF 17 2003, p.37). Princípios que são modelados no âmbito familiar, mas que também é (re) significado na própria escola que por meio do educador-mediador, vão sendo lhe apresentada outras cosmovisões de mundo, de sociedade, de comunidade, se o educador estiver totalmente a par do contexto da comunidade onde ministra. A experiência do individuo vai além das muralhas educacionais, são experiências coletivas ou individuais, uma construção de conhecimentos adquiridos que o levarão a caminhar regido pela orientação de seus próprios princípios. E através desses princípios que vem a prática dela, a moral. Seus hábitos, valores, são estabelecidos pela moral, ou seja, “uma pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados” (Idem, ibidem p.37). A ética não é móvel, mais a moral sim, essa pode mudar ao longo do tempo para o individuo, a ética é questão de princípios, é única e tem fundamentos, mas que podem ser (re) significados, mas não alterados. Assim, o ensino religioso também deve cuidar da questão ética e moral do ser humano 16 Ethos e Daimon são palavras gregas que nos permitem ter um resgate dos fundamentos da ética. BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos/Leonardo Boff. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. 17 26 27 que os encaminhará para uma construção de paz e a uma prática de alteridade. Nessa perspectiva, é que os educadores não devem ficar sem formação continua, pois é na formação que se aplica a ação. E não a como escapar das amarras da ética e da moral, pois os educandos necessitam apropriar-se de certos conceitos para que suas condutas perante a sociedade que só cria mecanismos capitalistas e formas de modelar os indivíduos a sua própria imagem. Criam meios para cada vez mais lhes induzir a caminharem conforme a própria sociedade acredita ser favorável a ela, uma alienação que insiste em podar o ser pensante, privando-lhe de ter conhecimentos e questionamentos a cerca da sociedade, da educação, da economia, da religião. Os educadores devem estar preparados para lidarem com a diversidade religiosa, mas ainda com a construção do ser humano na sua formação ética e moral. Questões como estas podem sim ser fomentadas nas discussões em sala de aula pela disciplina de ensino religioso. É na verdade, um dever contemplar na disciplina questões como a ética e a moral, além da alteridade. Respeitar o Outro é ético, portanto, um exercício da moral. Questiono-me sobre como os profissionais da educação estão conceituando ética e moral nas escolas? Qual (ais) são os instrumentos que estão usando para dialogar sobre ética e moral? Como os educandos estão reagindo a essas questões fomentadas não só na disciplina de ensino religioso, mas nas outras áreas de conhecimento nas salas de aula? Quando reescrevia o meu artigo, não havia ainda perguntas como estas para uma possível reflexão, mas escrevendo esta crônica, nitidamente fazia uma reflexão das perguntas que aos poucos iria tomando forma. Porém, tomei cuidado em expor conceitos de alteridade, ética e moral, por serem questões difíceis de serem tratadas, principalmente quando se fala em ética e moral. Muitos educadores possuem dificuldades em fomentar em sala de aula ética e moral, por isso mencionei sobre a formação continua e atualizada dos educadores. Será que nessas formações é abordada ética e moral? Se não, deveria. Um dos títulos para um congresso ou simpósio seria o titulo desta crônica: Diversidade Religiosa e Ensino Religioso: Ética, Moral e Alteridade. Sugestão que precisa ser levada em consideração os questionamentos fomentado nesta pequena reflexão, tendo em vista que ética, moral é alteridade 27 28 permeiam os processos de formação do individuo e que são temáticas que não podemos negar a eles. Desafios e perspectivas para um viver mais consciente e menos abertura para a manipuladora da sociedade em que prestamos contas. 28 29 7 Diversidade Religiosa e Escola Como estabelecer um momento de acolhimento a diversidade religiosa sem ser prosélito? “A escola é, portanto, uma instituição social e política. E, como tal, tem sua limitação, mas também é portadora de possibilidades 18 de transformação.” (BRANDENBURG 2004, p.13) Lendo as notícias do site do Fonaper, como que de costume, as crônicas surgem às vezes do nada. Mas não é do nada que fazemos reflexões. A atenção voltada a notícias em que falava da escola e os desafios frente à diversidade cultural religiosa, e como uma oração pode ocasionar caos no âmbito escolar. A escola, como Brandenburg menciona é portadora de possibilidades de transformação, a crônica traz toda reflexão em cima de temas polêmicos, atualizados. Uma pergunta intriga-me: Como estabelecer um momento de acolhimento a diversidade religiosa sem ser prosélito? A diversidade religiosa tem que ser contemplada em todas as dimensões e é dever da escola e de seus atores respeitarem a particularidade de cada ser humano que compõem a escola. Não deixar que suas crenças interfiram no andamento do processo é muito delicado e um exercício não tão fácil assim de ser executado. O bom senso é o medidor, onde nos diz quando estamos além dos limites estabelecidos, assim, não nos deixa violar os direitos humanos de cada individuo sem violar o que estabelece a LDB. Porém, a falta de conhecimento também é um dos fatores que fazem da instituição um sistema excludente das diferenças existentes no seu contexto escolar. Mas precisamos entender o que nos diz os direitos humanos e a própria LDB. Somente a luzes desses dois documentos nos varão entender o quanto é importante não nos deixarmos ser guiados por nossas identidades religiosas, afim de que não corramos o risco de estarmos cometendo certas “violências” no meio escolar. 18 BRANDENBURG, Laude Erandi. A interação pedagógico Ensino Religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2004. 29 30 “Toda pessoa tem direito á liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença [...]” (DIREITOS HUMANOS 19 2004, art.18, p.9). A liberdade é o bem precioso da diversidade religiosa, a oração feita ou qualquer tipo de liturgia característica de cada religião seja de matriz africana, seja de matriz indígena, seja de matriz semita, é uma quebra nos direitos do OUTRO. A violência é uma forma de auto-exclusão, isso corrobora de certo modo com uma carga negativista no processo de aprendizagem e na própria identidade do ser humano. Se respeitar é valorizar, então precisamos (re) significar nossos conceitos do que é para cada individuo a diversidade religiosa. “O ensino religioso, de matricula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão [...] assegurando o respeito á diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.” (LDB 20– Lei nº9. 475/97. art.33). A disciplina de ensino religioso por ser uma área do conhecimento, não pode ser usada por seus atores como “disciplina de catequese” ou algo parecido. Estamos lidando com seres humanos que buscam entender a sua existência e a revelação com o Transcendente, tendo consigo as suas referências, símbolos, significados, religiosidade. Sua peculiaridade deve ser respeitado e preservado sem foiçá-lo a se auto-excluir. Na medida em que fazemos praticas somente de nossas crenças, o Outro senti-se isolado dos restantes. Portanto, os calendários devem ser revistos e atividades que isole o Outro deve ser repensadas de maneira que, aja uma inclusão do Outro no processo de aprendizado que por direito é dele. Quanto ao educador (a), é livre para praticar as suas crenças, visto que também carregam símbolos, religiosidade, significados, mas que durante as aulas de ensino religioso nas escolas publicas, deve-se manter-se não na neutralidade, mas reservar-se de suas convicções, pois, o respeito começa quando o Outro é importante pra mim. A pergunta feita nesta crônica pode-se relembrada para que fique mais fácil para compreendermos o tamanho da 19 BRASIL. Cartilha dos Direitos Humanos. Brasília, 2004. BRASIL. Lei n° 9.475, de 22 de julho de 1997. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1997. 20 30 31 situação que vem acontecendo em inúmeros estados brasileiros e em várias escolas. Como estabelecer um momento de acolhimento a diversidade religiosa sem ser prosélito? Criando novas formas de atividades para que aja uma interação entre a diversidade cultural religiosa, sem comprometer a liberdade. Esse é o caminho em que todos nos devemos trilhar. A tolerância não é vista somente em tolerar o Outro que é diferente, mas em fazer dele um companheiro (a) de existência. Um companheiro (a) de aventura e dialogo. Se não há dialogo, então não há nada. E o nada por si só não faz o respeito e nem a integração que a escola necessita para que o aprendizado seja cada vez mais uma construção de algo concreto na vida e uma experiência saudável para ambos os lados, tanto educadores quanto os educandos que possui experiências. A guerra santa pode dá lugar ao dialogo respeitoso e a um envolvimento significativo na construção da paz. A alteridade faz parte de um processo desta construção de paz que buscamos e almejamos, cabe cada um fazer a sua parte. Vem a mente uma citação dos direitos humanos para que possamos de forma imediata refletir sobre tudo o que foi construído durante esta crônica. “A pluralidade, construída por várias raças, culturas, religiões, permite que todos sejam iguais, cada um com suas diferenças. É o que faz o Brasil, Brasil” (DIREITOS HUMANOS 2004, p.6) Se dermos exemplos, por menor que seja, por mais que a escola que é feito por nos educadores, educandos, gestores etc. tenha seus limitações, a sociedade contemporânea será uma bela sociedade e o Brasil, será pólo de “aproximação do Outro”, aos invés de “recusa do Outro”. Nada vale mais do que ver no rosto do Outro o reflexo da valorização. Porque “a juventude é como um espelho retrovisor que reflete as ambivalências e as contradições da sociedade em que vive” (NOVAES21, 2010, p.11). É o presente e o futuro, são novos educadores em processo árduo de construção, são presentes que a escola tem por obrigação apostar todas as possibilidades 21 NOVAES, Regina. Juventude e religiões: diversidade e novas possibilidades. Revista Diálogo, São Paulo, n°59, p. 8, ago/set.2010. 31 32 de aprendizado, pois serão os mestres e doutores que a sociedade precisa, onde respeitaram a diversidade religiosa e a valorização será uma revolução no Brasil que necessita urgentemente de novos “semblantes” que refletiram a justiça e a liberdade. 32 33 8 Ensino Religioso: Da Diversidade Religiosa Á Um Ensino Religioso que aborda Poesia, Ética e Política Quando penso que a realidade poderia ser outra, penso o quando cada um pode dá um pouco de si e contribuir para um ensino religioso mais qualificado. Sabemos o quanto é importante para a formação humana do individuo, onde como filósofos tendem a se perguntarem: - Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Lembro – me com carinho a época em que eu tinha como disciplina a “Religião” e por falar nela, é interessante sabermos o termo que traz o conceito de “religião”. Esse termo vem do latim “Religio” que significa religar, religar o que? O homem ao Transcendente. Hoje o ensino religioso tomou proporções enormes nas escolas públicas e a diversidade religiosa é a grande manifestação chave da abertura de mentes para um mundo cada vez mais plural, se falo de pluralismo? Penso nesse momento em multiculturalismo, a existência de muitas culturas numa determinada localidade, nesse caso o meu pensamento vai longe, mas fico somente com o estado de Santa Catarina. Se meus versos poéticos pudessem dialogar comigo neste momento, diria que o ensino religioso ajuda o individuo a respeitar as diferenças e como temos diferenças, porém, somos únicos e iguais. Mas que diferenças são essas e que igualdade estamos falando? Diferenças étnicas – raciais – religiosas e a igualdade de direitos e deveres. O direito de sermos respeitados e o dever de retornar este respeito mutuo a qual nos é dado. Não é difícil pararmos para pensar deste assunto tão pertinente nos dias de hoje e os que antecederam este dia em que vivemos numa política não muito ética, onde professores lutam por seus direitos a fim de continuarem exercendo os seus deveres? 33 34 Penso hoje num ensino religioso que aborda temas como a POESIA, ÉTICA E POLÍTICA, pois se indivíduos estão sendo levados a pensar em sua formação para um futuro muito mais próximo do que distante de suas realidades, não a como deixarmos de lado questões que os encaminharam para um exercer de cidadania muito mais coerente do que encontrar amigos em um „bar‟ logo aí na esquina... É por isso que grupos de pessoas estão discutindo e trabalhando dia – a – dia para que cada sonho, cada pedaço de chão possa ser alicerçado. O FONAPER (FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO) é uma construção de conhecimentos e práticas que tentam amenizar a doença de Santa Catarina, o mal do desrespeito, do descaso e das injustiças, nada diferente de outros Estados que conhecemos por aí... 34 35 9 Ensino Religioso e Libras Desafio Escolar Ao voltar-se os olhos para o ensino religioso, percebe-se que há a variação de diversidade religiosa presente nas salas de aula nas escolas tanto públicas quanto privadas não confessionais e até as confessionais. Porém, não podemos negar que há a existência freqüente dos sujeitos que necessitam de uma atenção não diferenciada, mas de uma atenção que vise a construção de formas de fazer esses educandos(as) terem uma compreensão do conteúdo a ser abordado nas aulas de ER. Contudo, podemos perceber que não há profissionais que entenderão das linguagens dos sinais, precisando ser orientados pelos interpretes. Sabemos que a pessoa interprete somente irá traduzir literalmente o que os educadores estão explanando. Quando se fala de libras, temos que desmistificar algumas idéias e conceitos, como por exemplo, em relação à disciplina LIBRAS, no que se refere à linguagem, ou seria língua? A concepção de Surdo Mudo, ou Surdo? A historicidade22 da caminhada das Libras é originária na língua de sinais Francesa, não universais, portanto, sedo de caráter regional, ou seja, cada pais ou região há mudanças na LS, sofrendo influencia da língua nacional. Os sinais são formados a partir das combinações da forma e do movimento das mãos e no ponto do corpo onde são feitos os sinais, assim, a LS é corporal e a sensibilidade é a chave para desempenhar um bom funcionamento da disciplina, mas a pratica é extremamente relevante, visto que esqueceremos facilmente da LS se deixarmos incansavelmente de praticá-la. “Nós não podemos deixar de reconhecer que a história do povo Surdo mostra que por muitos séculos de existência, a pedagogia, as políticas e muitos outros aspectos próprios do povo surdo têm sido organizados geralmente no ponto de vista dos sujeitos ouvintes e não dos sujeitos surdos que, quase sempre, são 22 Sobre a historicidade, ver o site do portal de Libras: http://www.libras.org.br/index.php 35 36 incógnitos como profissionais que poderiam contribuir com suas competências essenciais e de sua diferença do Ser Surdo.” 23 (PERLIN; STROBEL 2006, p.9). O desafio escolar e do ER em questão, é justamente “olhar” para o Ser Surdo, não como incógnitos (as), mas como Sujeitos, uma vez que a concepção correta é Surdo, por serem atores e não meros coadjuvantes na sociedade contemporânea, até por que os Sujeitos de alguma forma se comunicam, e se há comunicação, então não são mudos de forma que nas aulas de ER são Sujeitos em processo de aprendizagem e Sujeitos contribuintes para a diversidade. Olhar o Ser Surdo é (...) olhar a identidade surda dentro dos componentes que constituem as identidades essenciais com as quais se agenciam as dinâmicas de poder. É uma experiência na convivência do ser na diferença (apud PERLIN e MIRANDA 24 2003, p.217). E na diferença é que vemos no Outra o reflexo de nossa diferença, a experiência de estarmos interagindo como o Outro, pois o Outro é companheiro existencial. As escolas devem adaptar-se a realidade e fazer da realidade uma inclusão ao invés de exclusão, sabendo que os Sujeitos são pessoas que carregam consigo sua religiosidade, seus significados, símbolos, e vivenciais que podem acrescentar na comunidade escolar. Trabalhar as variações de dimensões do Ser Surdo, não é uma tarefa fácil para os educadores que não contemplam o Sujeito por não ter o mínimo de formação, por esse motivo, é necessário nas universidades e centos universitários estabelercer a construção formadora dos futuros educadores através da disciplina de Libras decretada e sancionada na lei n° 10.436/02 que reconhece a Libra como “meio legal de comunicação e expressão a Língua 23 PERLIN, Gladis; STROBEL, Karin. Fundamentos da Educação de Surdos. Curso de Licenciatura em Letras-Libras. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. 24 Sobre este referencial, ver PERLIN Gladis e MIRANDA WILSON. Surdos: o Narrar e a Política In Estudos Surdos – Ponto de Vista: Revista de Educação e Processos Inclusivos nº5, UFSC/ NUP/CED, Florianópolis, 2003. 36 37 Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.” (BRASIL25 2002, at.1)”. Sendo assim, uma disciplina obrigatória na formação do Sujeito que busca cada vez mais desafios para quebrar paradigmas existentes no contexto escolar onde atua. As possibilidades de entendimento entre o educador e o Ser Surdo não se limitará apenas na convivência escolar, mas como um todo, pois, também estará incluindo o Sujeito na sociedade, no qual ganhará espaço de grandes proporções em congressos nacionais ou outros espaços de discussões. Hoje, o Se Surdo está cada vez mais ganhando espaços e direitos de voz e votos, pois tenho percebido em congressos, as discussões por direitos que a sociedade, como pólo manipulador, acabam encontrando formas de negar a eles o que lhes é devido. Se respeitamos a diversidade religiosa, por que não respeitar o Ser Surdo que questiona, que luta, que na negação da sociedade, busca seu lugar? “No princípio da história de educação de surdos os sujeitos surdos eram considerados intelectualmente „inferiores‟, por isso eram trancados em asilos [...]” (BERLIN;STROBEL 2006, p.18), no entanto, a negação de direitos e de alteridade, os tornam inferiores aos demais na medida em que negamos que eles possuem a capacidade de interagirem e de aprenderem. Por isso, o ensino religioso tem pela frente o desafio de na pratica da alteridade não negar o conhecimento, mas sim, com formação, proporcionar a afirmação da capacidade de aprender o saber. Por esse motivo, libras também é uma área de conhecimento interagindo com outras áreas do conhecimento, uma vez que a transdisciplinaridade é a forma coletiva de se trabalhar em prol da educação. Valorizar o Outro é aceitar que todos fazem parte de um mundo que tenta humanizar-se na evolução que sai da “barbárie” para a “civilização” que ao olhar para a diversidade, enxerga a si mesma na construção da paz. Pensar educação é pensar na possibilidade de comungar diferentes ritos, diferentes identidades, diferentes símbolos, diferentes significados, diferentes culturas, 25 BRASIL. Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providencias . 37 38 diferentes linguagens, diferentes sonhos, diferentes canções, diferentes versos, diferentes concepções, diferentes mistérios, diferentes cosmovisões, diferentes universos, diferentes perspectivas, diferentes costumes, diferentes em tudo, mas ao mesmo tempo reflexo da nossa imagem. Ensino religioso e Libras são componentes distintos, mas com objetivos pautados na valorização do ser humano, onde a liberdade de expressão é a razão de procurar vencer desafios escolares numa sociedade capitalista, consumista e na valorização não no Sujeito, mas sim na renda de produção que beneficiará a economia que traduz o quanto a intolerância parece sobressair o respeito mutuo. O paradigma talvez seja o “como olhar” para o “como ensinar” e não “ensinar” para simplesmente “aprender”. 38 39 10 ESSÊNCIA DO ENSINO RELIGIOSO: UMA DISCUSSÃO DO SER ANTROPOLÓGICO ATRAVÉZ DO FENÔMENO RELIGIOSO Não sei quanto tempo àquelas palavras ficaram martelando na minha cabeça, provavelmente quase a noite toda, mas a verdade é que fiquei me perguntando, qual é a essência do ensino religioso? Saber que o ensino religioso é muito mais do que ALTERIDADE, isso a minha mente sã já me cutucava, mais afinal, qual é a essência? Eu que não sou bobo e nem nada, corri atrás de referencial teórico em que eu pudesse obter respostas este questionamento e até mesmo uma suporte para escrever esta crônica, se bem que ela poderá ser um artigo bem relevante. O ensino religioso é tão amplo que acabou por ser uma “área de todos, mas é, ao mesmo tempo, área de ninguém” (BRANDENBURG 2004, pg.59), pois não há uma compreensão totalitária do que seria essa disciplina, ocasionando ai uma distorção, tanto de pensamentos como da própria moneclatura que carrega uma carga pesada sem ser, pois o ensino religioso não é uma “TEOLOGIA”, não está inserida num contexto CATEQUÉTICO. Muitos profissionais ainda não tem claro em suas concepções de mundo, o que é está rica disciplina e para que serve. Mas qual é a essência do ensino religioso? Não desejo provar nada, muito menos que alguém me diga, mas sim tentar por mim mesmo entender qual é a essência do ensino religioso, quanto mais eu me aproximar do objeto de estudo, mesmo se é a verdade for verdadeira, ou se a verdade for falsa, correta ou errado, aí poderei entender o que é na raiz o ENSINO RELIGIOSO. E para chegar à raiz da questão, o objeto tem que subentendido na mente de qualquer pesquisador ou professor de ensino religioso, pois é nele que poderemos encontra a essência da própria disciplina abordada aqui. 39 40 Visto que o “conhecimento resulta das respostas oferecidas ás perguntas que o ser humano faz a si mesmo” (FONAPER 2009, pg. 41), percebe-se uma busca frenética pelo mistério: o TRANSCENDENTE. Assim, o ensino religioso prepara o caminho para que este ser que está sendo formado, possa buscar as respostas para os seus questionamentos e uma explicação plausível para a sua religiosidade, pois o ser não nasce religioso, é uma construção ao longo da sua existência seja coletiva ou impessoal. “O objeto do ensino religioso é o fenômeno religioso, e não se restringe nem se reduz á manifestação da religião [...]” (WACHS26 2010, pg. 62), ou seja, vai além das instituições religiosas, das doutrinas, mas se constitui a partir da identidade de cada ser humano, das experiências que cada um experimentou, da particularidade que está intrínseca no ser pensante e na arte de ser diferente na sua cultura, na relação com o OUTRO, nos símbolos/representações/manifestações que cada um carrega na sua trajetória existencial. Fico pensando em tudo isso, o que é o fenômeno religioso? Será que essa é essência do ensino religioso que precisamos com urgência buscar, perceber, vivenciar, trabalhar? Pode-se se entendido como fenômeno religioso “a manifestação da busca pela transcendentalidade da própria existência humana e da revelação do transcendente [...]” (Idem, Ibdem pg.62), portando temos dois elementos: 1) A busca; 2) A revelação. A busca pelo o seu EU que faz com que transcenda numa experiência única com o transcendente e dessa manifestação, a revelação do próprio “numinoso27” como mencionou Rudolf Otto 28no seu livro O SAGRADO.29 Tudo isso me faz compreender o quanto estou próximo do que seria a essência do ensino religioso e ao mesmo tempo, mais distante, pois falar dessa essência é tão complexo quanto o próprio fenômeno religioso, uma que lida com a “revelação do transcendente, seja compreendido como Transcendente, no singular ou no plural, e/ou como manifestação antropológica do que 26 Docente na Faculdade EST e no Instituto Superior de Educação Ivoti - ISEI 27 Por numinoso, Otto entende a característica essencial e exclusiva da religião “e sem ele, a religião perderia as suas características”. 28 Teólogo, filósofo e historiador alemão das religiões 29 OTTO, Rudolff (1992) O Sagrado. Sobre o Irracional na Idéia do Divino e sua Relação com o Irracional. Lisboa: Edições 70. 40 41 transcende a própria pessoa” (WACHS 2010, pg. 63). O fato é que estamos tratando do ser antropológico que tende a entender as dimensões transcendentais da revelação do Transcendente através do fenômeno religioso, cujo ensino religioso irá dá subsídios para que através do conflito (impessoal) que é um crescimento intelectual do próprio ser a ser instigado nas aulas de ensino religioso. A essência vital desta disciplina, nada mais é do o próprio objeto de estudo em minhas conclusões não finais desta crônica, assim, “nenhuma teoria sozinha explica completamente o processo humano” (FONAPER 2009, p.45), até por que o ser é uma incógnita na sua transcendência e na revelação com o Transcendente, sendo motivo de longas discussões, onde a experiência conta no decorrer da história da humanidade. Somente entenderemos o ensino religioso como tal, mediante ao fenômeno religioso e nessa perspectiva é que poderemos identificar em nos mesmos, enquanto docentes, na identidade religiosa ou não, o equilíbrio de um ensino de qualidade e no olhar dos educandos, um entender de mundo. Referencias BRANDENBURG, Laude Erandi. A Interação Pedagógica no Ensino Religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2004. FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Religioso/Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. São Paulo: Mundo Mirim, 2009. WACHS, Manfredo. A pessoa do professor e a religiosidade: conflitos e práticas em sala de aula in Ensino Religioso: religiosidades e praticas eductivas: VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdade EST e I Seminário Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS / [Organizado por] Manfredo Wachs et al – São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010. 41 42 11 NUANCES DA DIVERSIDADE RELIGIOSA Há dias em que o mundo traz na sua face um verso de sensibilidade e respeito para podermos olhar para dentro de nos mesmos e vê as belezas que é ser diferentes e ao mesmo tempo semelhantes ao OUTRO que traz consigo sua particularidade. Jamais entenderia de ALTERIDADE se não tivesse aprendido na academia e levado de dentro para fora, as nuances da diversidade religiosa. Não é fácil compreender o OUTRO, não é fácil enxergar o OUTRO e não é da natureza humana, lidar com o DIFERENTE. Lutamos o tempo todo contra nos mesmos, por quais motivos hoje, faríamos o inverso disso tudo? A guerra é somente para os mais fortes e a competição mancham a existência da construção da paz. Anos atrás pensava que a diversidade religiosa não deveria existir que não era possível estarmos juntos no mesmo espaço, ora, dois corpos nãos ocupam o mesmo espaço conforme aprendemos na Física. Onde equivocamos? Devemos muito ler e aprender a lidar com o OUTRO, até por que o mundo não é particular, somente o mundo interior, mas somos coletivos, e nessa coletividade é que não estamos sozinhos, feito ilhas sem barco para navega. Precisamos um dos outros como a poesia precisa do poeta para continuar a existir. Essa diversidade religiosa que vem da cultural são “companheiros de aventura existencial” (SILVA 302004, p.5). E lendo um texto intitulado de Ensino Confessional, laico ou interreligioso? Qual a melhor resposta? cuja os autores são Dora Icontri e Alessandro Cesar Bigheto, podemos perceber o quanto existem clássicos que com outras linguagens da época, também dialogaram sobre a mesma temática que hoje discutimos, a diversidade religiosa. Os autores colocam que educadores como COMENIUS,31 ROUSSEAU32 E PESTALOZZ 33 também 30 Professora Doutora no Departamento de História /IFCH/UNICAMP. Professor, cientista e escritor checo considerado o fundador da Didática Moderna. 32 Filósofo Teórico político, escritor e compositor autodidata suíço considerado um dos 31 42 43 vêem que a educação escolar deve despertar para “o respeito por todas as formas de religiosidade” (ICONTRI; 34BIGHETO35 2004, p.45). Por outro lado, DURKHEIM36, em seu celebre livro As Formas Elementares da Vida Religiosa37, chama a atenção para o fenômeno social quando diz que “a religião é coletiva porque a crença é coletiva”, dá um sentido de ALTERIDADE, pois, se a reflexão é de que a crença é coletiva, a religião é um conjunto dessas crenças, assim, é um fato social, uma vez que vivemos num mundo não de isolamento, mas em um mundo rico em linguagens, símbolos, representações, diversidades culturais e religiosas, onde há uma grande variedade de crenças. Umbandistas, espíritas, católicos, protestantes, luteranos, islâmicos, judaicos entre outros que permeiam o mesmo espaço em que nos encontramos. Como não pode haver valorização diante de fatos tão relevantes? “Se as pessoas não têm um bom conhecimento das características de sua própria religião ou confissão religiosa, como, então, poderão dialogar com o diferente?” (BRANDENBURG38 2004, pg. 60-61). Isso é a realidade do mundo e a resposta para a pergunta anterior, não pode haver valorização sem conhecimento da própria identidade religiosa. A partir do momento em que passamos a entender a própria identidade religiosa, então praticaremos alteridade e da pratica, respeitaremos o OUTRO. Hoje, vejo as coisas diferentes, vejo que compreendo, ainda que quase nada da minha identidade religiosa, que adquirir posturas e conhecimentos, capazes de dialogar com o diferente. Não sou especialista na discussão da DIVERSIDADE RELIGIOSA, apenas gosto da relevância que essa temática já tratou e está sendo tratada neste século XXI, mas que se eu pudesse me principais filósofos do iluminismo e precursor do romantismo. 33 Pedagogo suíço e educador pioneiro da reforma educacional 34 Dora Incontri – Jornalista, pós-doutorada em Educação na USP 35 Alessandro Cesar Bigheto – Pedagogo,mestrando em educação na Unicamp. 36 Sociólogo, Acadêmico, Antropólogo, filósofo Frances considerado um dos pais da sociologia moderna. 37 [Também publicado em São Paulo:Paulinas, 1989). 38 Professora Dra. Erandi Brandenburg – Graduada em Pedagogia pela UNISINOS, especialista em educação Infantil pela PUC/RS, é Doutora em Teologia pelo Instituto Ecumênico de Pós-Graduação da Escola Superior de Teologia/RS 43 44 especializar em alguma temática, esse, é um dos meus favoritos. Ver a diversidade religiosa como ela é, sem proselitismo, sem preconceito, sem guerra, seja nas escolas ou em outros espaços, é uma luta diária em entendermos primeiro a nos mesmos... Referências BRANDENBURG, Laude Erandi. A Interação Pedagógica no Ensino Religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2004. DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida Religiosa – O Sistema totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 1996. INCONTRI, Dora e BIGHETO, Alessandro. Ensino confessional, laico ou inter-religioso? Qual a melhor resposta?Revista de Educação CEAP, ano XII – N° 45 – Salvador, jun-ago/2004, pp.39-49. SILVA, Eliane Moura da. Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para cidadania. Revista de Estudos da Religião, N°2/ 2004, pp. 1-14. Disponível em http: pucsp.br/rever/rv2_2004/p_silva.pdf . 44 45 12 O professor e sua identidade religiosa no convívio com a diversidade Questiono-me se o/a professor (a) deve numa sala de aula expor sua identidade religiosa? Se estamos vivendo num estado aparentemente laico, parece não ter problemas em relação a essa questão, porém a linguagem deve sempre ser cuidada para não fugir da ética. A identidade religiosa é facilitadora de um contato didático e respeitoso, por isso, o/a educador (a) deve expressar sua identidade ao grupo de alunos no qual ministra. É comum na sala de aula alunos questionando o educador (a) na divulgação de sua pertença religiosa. Ficar com medo de responder a esses anseios, traz a sensação de malestar para a pessoa do professor (a), mas por outro lado, isso gera desconfiança, desconforto e não possibilita criar uma relação mais centrada do aluno. Ninguém é neutro e ninguém deixa para traz os símbolos, os significados, a cultura, a religiosidade, portanto, o receio de que não será compreendido (a), a exemplo das matrizes afro-brasileiras, é mera “falta de entendimento da própria estrutura religiosa” a qual pertence. Será que a pessoa do professor (a) não estaria impregnada de preconceito da própria identidade? “A identidade é construída e se desenvolve por meio de elementos simbólicos: ela é uma trama que se tece pelas relações do sujeito com a realidade e a cultura, numa intersecção criativa da práxis e sua interpretação”. (CECCHETTI39 2008, p.32). Assim, as relações do sujeito com a realidade não pode ser de recuo, uma vez que para que aja a abertura de dialogo, o professor (a) deve ter convicção de sua pertença, sendo que Identificar significa reconhecer algo ou alguém por meio de características que 39 CECCHETTI, Elcio. Diversidade Cultural Religiosa na Cultura da Escola. Programa de Pós Graduação em Educação (Mestrado em Educação). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2008. 45 46 determinam sua “mesmidade”, sua unidade e sua individualidade” (CECCHETTI 2008, p.32). Respeitar a individualidade de cada ser humano é dá a ele a liberdade de ser quem realmente é. O convívio com a diversidade é fator interessante para que se quebrem paradigmas quanto à recusa da identificação do sujeito, uma vez que é na pratica que o ser humano evolui e passa para um novo estagio do viver com o outro. Recordo-me dos novos professores (a) que são ACT‟s e entram na sala de aula acreditando que sua identidade será mantida no mais completo sigilo e que a neutralidade é a forma mais viável para preservar-lo (a) de uma possível relação com o outro. Mas sabemos o quanto é importante lidarmos com isso de maneira que não venha a ferir a liberdade do sujeito que ministra, e dos sujeitos que estão ali na sala de aula para dialogarem, no entanto, também não estamos imunes a questionamentos a respeito da identidade religiosa. Minha experiência teve vestígios disso, alunos que me perguntavam: - Qual é a religião do professor? O professor é católico? Neutralidade não existe, por isso é que com convicção na minha pertença é que respondi a cerca da minha identidade. A confiança dos alunos na pessoa do professor (a) passa por essa etapa de identificação, na medida em que considerar “a diversidade religiosa somente é possível quando se trabalha com a pessoa do professor, lidando com o seu imaginário religioso, com suas concepções, com seus “pré-conceitos” (WACHS 2010, p. 63) que a prática da docência torna-se mais prazerosa é mais acessível do que uma prática da docência em que a relação entre professor (a)/aluno não passa de uma “divisão de territórios”, onde a figura do educador não pode ultrapassar os limites do aprendizado do aluno. Não dá para pensar o ensino religioso como apenas uma disciplina, mais sim como ela é, uma área de conhecimento. Por isso, a centralidade no aluno e não no sistema educacional, por isso a relação de unidade, por isso, a vivencia pautado no respeito do Outro, por isso a valorização do Outro. “Isso significa que não se pode desconsiderar a experiência religiosa [...]” (WACHS 40 2010, p. 40 WACHS, Carlos Manfredo. A pessoa do professor e a religiosidade: conflitos e praticas em sala de aula in Ensino Religioso: religiosidades e práticas educativas: VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdade EST e I Seminário Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS 46 47 61) do aluno e do professor (a), tento a experiência como foco do objeto de estudo do ensino religioso, o fenômeno religioso. Nada é mais significativa do que a experiência vivenciada na vida dos sujeitos que fazem a escola acontecer. É através da experiência que o dialogo acontece e que a prática da ética da alteridade começa a ser exercida dentro e fora das muralhas educacionais. A experiência que muitas vezes é privado do sujeito, podando assim, um processo de aprendizagem eficaz e mais produtiva, é o inicio do identificar da identidade ou identidades do sujeito enquanto produtor de conhecimento. Não dá para viver escondendo a pertença, a identidade. Não é possível a “separação da experiência”, é ela que dá corpo ao dialogo inter-religioso que tanto buscamos. Ao acolhimento do Outro que tentamos praticar. A construção da paz que desejamos. “Como é possível um/a futuro/a docente ministrar os conteúdos do componente curricular do Ensino Religioso considerando o respeito à diversidade religiosa, quando ele/ela está enraizado em tradições religiosas intolerantes [...]” (WACHS 2010, p. 64), ou seja, quando ele/ela não respeitam a sua identidade religiosa? Só é possível à medida que aja uma relação de conforto com a própria identidade, é um gostar de si mesmo, fica mais fácil, só não de passar os conteúdos, mas sim, de expor também a sua identidade. O/a professor (a) deve numa sala de aula expor sua identidade religiosa? Esse foi o meu questionamento principal no inicio desta crônica. Não só pode como é essencial que isso ao longo do processo de aprendizado aconteça. Os conflitos internos dão mais abertura de pensamento do que se opor a eles e, os enfrentamentos fazem parte do universo do sujeito desde tempos remotos, então, o crescimento torna-se mais promotor de um dialogo que estabeleça uma caminhada de experiências vividas pelos sujeitos na sua formação e interação, quando eliminados os paradigmas que cercam suas identidades religiosas. / [Organizado por] Manfredo Carlos Wachs et al. – São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010. 47 48 Contudo, “a presença de diversas culturas, com suas diferentes expressões de ordem lingüística, artística, religiosa, etc., num sistema educacional [...]” (OLIVEIRA; JUNQUEIRA; ALVES; KEIM41 2007, p.110) dá vazão a valorização da identidade como parte integrante do ser humano que com suas variadas experiências, cada vez mais busca entender a sua própria existência e a revelação do Transcendente. Sendo assim, a desvalorização é um cuidado que se deve ter para que não aja uma exclusão da identidade do Outro, ocasionando um caos que poderá marcar agressivamente as dimensões do ser humano. 41 OLIVEIRA, Lilian Blanck de; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luiz Alberto Souza; KEIM, Ernesto Jacob. Ensino Religioso no Ensino Fundamental - São Paulo: Cortez, 2007. 48 49 13 POESIA NO ÂMBITO LITERÁRIO FOCADO NA DIVERSIDADE RELIGIOSA NA PERSPECTIVA DO ENSINO RELIGIOSO “A Sensibilidade é a ponte de acesso a esse universo [...] é a arte que nos convence de que o mundo em que vivemos não é o único mundo possível” (Nabor Nunes Filho) Estava pensando comigo mesmo, falado com o meu “EU” interior. Será que a arte imita a vida ou a vida imita a arte? Ainda melhor, será a poesia adentra na religião ou não há relação nenhuma entre as duas? E o no ensino religioso, há como se trabalhar poesia no âmbito literário focando na Diversidade ou é um caso impossível? Vejo que temáticas como estas dariam uma bela discurso em um congresso, porém, é preciso compreender, ter leituras diversificadas para que se chegue a uma resposta coerente para tais perguntas feitas nesta crônica. A literatura para ser entendida, há as funções que chamamos de “teoria da linguagem” que consiste em seis funções: 1) a referencial; 2) a emotiva; 3) a conativa; 4) a fática; 5) a metalingüística e 6) a poética. A referencial tem por função transmitir um conhecimento, um conteúdo racional, a emotiva está centrada na expressão pessoal, ou seja, entonação, interjeições, projeções sonoras, a conativa é a que volta para o destinatário, ou seja, faz o trabalho de estimulá-lo, impulsioná-lo, a fática faz com que estabeleça um contato lingüístico, assim, mantendo-o funcionando. A metalingüística verifica a eficácia da linguagem. É dever da poética estar centrada na própria mensagem, e esta mensagem é a expressão máxima da arte de se dialogar, pois, “símbolos, arte e religião caminham juntos, completando – se, pois mostram e refletem a cultura, que diferencia a todos os povos” (SCHLATTER; TOCCHETTO 2010, pg.115). A escrita esta historicamente inserida no contexto da diversificada cultura religiosa e, cada religião tem a sua peculiaridade, suas representações simbólicas, suas 49 50 maneiras de expressar-se dentro de uma linguagem que dá “vida”, “riqueza” ao mundo contemporâneo. A poesia “quando expresso pelo aluno, o objeto simbólico e seu significado são expressos de forma tímida, pois desvendam um universo religioso pessoal [...]” (SCHLATTER; TOCCHETTO 2010, pg.116), um universo tão complexo de um mundo somente dele, que faz com que as perguntas sobre a sua existência humana e a relação com o Transcendente seja preservada e é dever do educador de ensino religioso instigá-lo na medida do possível, respeitando sua liberdade e processo educacional, ajudando-o a libertar-se as amarras que não o deixam de forma segura ter criatividade e motivação para ludicamente sentir o desejo pelo conhecimento religioso que o levará ao dialogo inter-religioso com o educador e seus colegas de classe. Arte é “uma forma de expressão extremamente significativa. Ela possibilita que o indivíduo potencialize seus conhecimentos, sentimentos e criatividade em forma de ação”. (SCHLATTER; TOCCHETTO 2010, pg.122), ação que vai além dos muros do cotidiano religioso, pois sabemos que cada um carrega consigo a sua espiritualidade. Espiritualidade de modo pessoal e intransferível, independente de estar ou não envolvido dentro de uma instituição religiosa. Portanto, a poesia pode mediar o aluno na relação com o transcendente, numa perspectiva antropológica, dando a ele a possibilidade de conhecer a si mesmo, conhecer o OUTRO e vivenciar a espiritualidade, na busca por uma cosmovisão de mundo que vai conduzi-lo a um “exercer de cidadania” de forma que seja critico no meio da sociedade. Seus enfrentamentos perante a indagações desenvolverá “conhecimentos que lhe possibilitam interagir no meio e em si próprio.” (FONAPER 2009, pg. 31). A importância de construção poética não é só dever dos profissionais da língua portuguesa, mas permeia o ensino religioso, que encontrará na arte um motivador, pois tanto a espiritualidade quanto a arte “expressam a sensibilidade, a plenitude a vida, lançada á luz da história” (SCHLATTER; TOCCHETTO 2010, pg.116) e do conhecimento religioso na “tarefa de buscar fundamentos para o ensino religioso [...]” e “na finitude que se procura fundamentar o fenômeno religioso, que torna o ser humano capaz de construir se na liberdade” (FONAPER 2009, pg.34). 50 51 A arte não imita a vida e nem a vida imita a arte quando damos um novo significado e (re) significado no conceito de POESIA, RELIGIÃO E ENSINO RELIGIOSO, no entanto, as possibilidades mostram que a poesia pode no ensino religioso interagir com a diversidade religiosa tranquilamente, pois “fornece elementos para que esse aluno queira aprender e conhecer novas culturas [...]” (SCHLATTER; TOCCHETTO 2010, pg.124), assim incentivando o respeito a todas as crenças existentes em sala de aula. Podemos fazer em conjunto uma poesia sobre o respeito para com o diferente e como cada uma das religiões contempla a poesia em seus textos sagrados, uma oportunidade que dá a conhecer as literaturas que dão valores e riquezas ao mundo tão pluralista. “Reconhecer que todas as culturas, embora internamente diversas, possuem saberes e valores próprios que constituem fonte para o desenvolvimento humano, educando para o diálogo intercultural [...]” (POZZER; CECCHETTI; KOCH 2009, pg. 275), traz construções formadoras e transformadoras no que se diz respeito ao processo do individuo em todas as suas dimensões. Enfim, o poeta português Fernando Pessoa dizia que “a arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação”, já para Mario Quintana a arte é “a arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil! A poesia é a pratica da alteridade, viver o outro, sentir o outro e conviver com o outro é a chave para que possamos fazer a integração de nos mesmos para a construção de um dialogo eficaz. “Diálogos que buscam a graça da convivência entre pessoas de leituras e concepções religiosas diferentes, não em decorrência de suas semelhanças, mas com as suas diferenças” (POZZER; CECCHETTI; KOCH 2009, pg. 266), concomitantemente com a poesia que também é um dos suportes lúdicos para que venha acontecer este entendimento de diálogo. A identidade de cada ser humano é a abertura para que o OLHAR não seja de “recusa do outro”, mais sim um “respeitoso” momento de “(re) conhecimento” do outro”. Estar ciente de si mesmo para expressar-se na arte ou em qualquer outra atividade a “valorização do outro” que está ao lado em parceria como companheiros existenciais. 51 52 Referencias CARVALHO, Mariano Vinícius de. Religião e Literatura: Algumas InterRelações Possíveis. Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora. v.4, n.1, p. 31-59. FILHO, Nabor Nunes. Arte: a religião de corpo inteiro. Revista Diálogo, São Paulo: Paulinas, n.33, p. 12. Fev.2004. FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso / Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso – São Paulo: Mundo Mirim, 2009. POZZER, Adecir; CECCHETTI; Elcio; KOCH, Riske Simone. Ensino Religioso Em Santa Catarina: Exercícios Na Perspectiva De Uma Educação Intercultural. In Cultura e diversidade religiosa na América Latina: pesquisas e perspectivas pedagógicas / Lilian Blanck de Oliveira (org.). – Blumenau:Edifurb; São Leopoldo: Nova Harmonia, 2009. SCHLATTER, Scherik Francisca Agnes; TOCCHETTO, Ângela. Arte e Religião: expressão da vida. In Ensino Religioso: religiosidades e práticas educativas: VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdades EST e I Seminário Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS/ [Organizado por] Manfredo Carlos Wachs et al.- São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010. 52 53 14 Revolução Educacional: A Interdisciplinaridade passa pela Coletividade O Coletivo é a interação entre as áreas do saber, a partir dela é que o processo educacional passa não mais a ser centralizado no egocentrismo, mas numa troca de saberes que permeia todo um contexto escolar. Como podemos ser um educador se não estamos abertos ao coletivo que nos cerca durante momentos oportunos dentro do âmbito escolar? Desde a chegada na escola, até o inicio das aulas, a interação dos membros que fazem a escola acontecer, não deve ser somente um bate papo escolar para passar o tempo, mas uma discussão construtiva nessa troca de “olhares do saber”. Não vivemos num mundo isolado em nos mesmos, mas “o coletivo de educadores-docentes tem de dominar com profissionalismo um saber-fazer [...]” (ARROYO42, 2009, pg.113) o processo educacional, e é aí que nos igualamos, não sendo mais diferentes onde a competitividade na busca para quem forma mais, ou consegue passar com eficiência os conteúdos programáticos, seja transformados em contribuições para ajudar o educando a ter diferentes comovisões do mesmo conteúdo permeando por vários saberes. “A interdisciplinaridade tem sentido aí e não em intercâmbios tangenciais entre temáticas das disciplinas”. (ARROYO 2009, pg. 113). Assim, a utilidade do profissional da educação estará pautada no fazer e conviver com a diversidade religiosa, na sua cultura, tradição, linguagem contemplada e 42 Prof. Dr. Miguel Arroyo - Pós-Doutorado. Universidad Complutense de Madrid, U.C.M., Espanha. Doutorado em Phd Em Educação. Stanford University, SU, Estados Unidos. Mestrado em Ciência Política. Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG Graduação em Ciências Sociais. Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG Professor Emérito, Faculdade de Educação da UFMG. Autor de vários livros: Por uma educação do campo. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 2004 Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 251 Autor do Projeto Escola de Ciclos Ex. Secretario da Educação de Belo Horizonte 53 54 sentida no âmbito comunitário. Não dá para vivermos em pé de guerra com outras áreas do saber, mas entender que a coletividade é uma forma social da própria sociedade, ou seja, para Durkheim, seria um fenômeno social. Para que aja mais que um entrosamento ou uma afinidade entre educadores x educadores, a interdisciplinaridade deve acontecer gradativamente e não só durante um determinado momento, mas sim constantemente. Visto que não é fácil lidarmos de forma sociológica, mesmo que a nossa natureza antropológica seja individualizada, promover um evento de socialização é um fator merecedor e digno de tentar trazer os profissionais a descobertas em comum de aprendizado para si mesmo e do como trabalhar coletivamente para que o educando tenha mais possibilidade de enfrentamento que diariamente surge num mundo onde a mudança está cada vez tomando proporções diversas. Se acostumamos na sala de aula, levantar discussões de trabalhos em grupos, por que a dificuldade de nos mesmos interagir com outras disciplinas? É um jogo de cintura e uma construção que ao longo do tempo vai transformando o egocentrismo em coletivismo, que busque o como saber-fazer o educando pensar e elaborar as suas próprias teorias. A questão é como (re) conhecer algo em comum na diversidade de áreas que cada educador tem de certa forma que dá conta, possa servir de experiência para a construção educacional do individuo que está na sala de aula para aprender? Lidar com a sede de preparar o educando para que tenha uma vida promissora dentro de uma sociedade capitalista é fundamental, mas até que ponto a interdisciplinaridade, o produzir no coletivo, ajudará o aluno que também tem sede, esperança, pensa no próprio desenrolar de sua história. A interdisciplinaridade é algo construtivo que precisa ser melhor aplicado e para que ela ocorra, é fundamental que os atores participantes estejam conscientes no como fazer com que ela siga caminhos, embora tortuosos, mas que seja benéfico aos educandos e até mesmo para a própria comunidade. A escola tem que ajudar a promover questões de integração, só assim é que se pensa escola, não mais o eu como o centro, mais o educando como o centralizador de toda uma evolução educacional. 54 55 Arroyo foi brilhante quando ao escrever este capítulo, pensou no coletivo, pois vejo que o andar da educação somente é construída através da “relação coletiva”. Não dá para pensar escola sem mencionar a prática de alteridade, em uma das crônicas, citei os pilares da prática da ética da alteridade, seria até de bom senso, recordarmos deles: 1. CONHECER, 2. APROXIMAÇÃO DO OUTRO, 3. OUVIR e 4. DIAOGAR. Bases em que devemos nos empenhar para que a educação seja a porta de entrada para um novo caminhar na evolução civilizatória. Conhecer a realidade do outro, aproximar do outro, deixar que o outro fale e dialogar com o outro, essa é a interdisciplinaridade que quebrará as muralhas do preconceito, as muralhas do tenho que dá conta do meu conteúdo, das muralhas do egoísmo, do egocentrismo, da individualidade para que nasça em tempos em que a correria do dia-a-dia do educador, carregado de significados, de símbolos, de religiosidade, venha de forma conjunta trocar os tijolos quebrados do entender o que é de fato EDUCAÇAO. E como eu gostaria de uma revolução educacional, pois do jeito que ela anda, nem o HU dará conta de dá assistência. É preciso de uma (re) laboração de conceitos, é preciso de uma nova perspectiva, é preciso de uma nova roupagem, é preciso de uma ruptura em certas estâncias como a secretaria de educação. Repensar os cargos comissionados, rever a gestão. A face da escola deve ser de acordo com a comunidade, é ela que faz a escola, seus atores não são coadjuvantes de um grande espetáculo, são protagonistas em tempo integral. É nosso papel lutar por toda essa caminhada histórica, é nosso papel ter condições próprias, é nosso papel ter voz e vez, é nosso papel ter sensibilidade para ver aonde equivocamos, é nosso papel questionarmos e em conjunto instigar os educandos a questionar o próprio sistema, mesmo que não seja fácil fazer isso. Esta crônica não deve ser somente uma discussão ou um desejo do autor que a escreveu, mas sim do coletivo que ainda tem força e presença como grandes mestres da arte de saber-fazer, saber-ensinar, saber-vivenciar, saber-compreender, saber-valorizar, saber-constuir, saber-interagir, saberintervir e tantos saberes que se torna imensurável mencioná-las. 55 56 A construção da paz é desejo coletivo, e uma linha do tempo a ser buscada, e se não for interagindo com outros saberes que é o inicio para que isso venha acontecer, então paramos de sermos educadores, de sermos acadêmicos, de sermos pesquisadores e paramos de sonhar. O sonhar é estar com o pé no chão em conjunto com nossos ideais, podemos até te-los individualizados, mais que alguns são comuns a todos, isso sim, é “sonhar coletivo”. Continuemos sonhando e alcançaremos vôos mais rasantes. Referencia ARROYO, Miguel G. O Subsolo comum de nossa docência. In: Oficio de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis: Vozes, 2009. 56 57 15 Rito de Passagem: “Adolescência”. Qual é o “olhar” do educador de ER para o “fenômeno da adolescência”? Adolescência? Não dá para negar que de certa forma cada ser humano passou por esse desenvolvimento corporal e social. Corporal pela forma como são desenvolvidas as estruturas do corpo, onde o ser humano passa por transformações hormonais. Ao mesmo tempo, acontece o desenvolvimento social, uma fez que uma das características desta fase é a afirmação de si mesmo, no qual o adolescente não encontrando espaço onde tenha a possibilidade de ganhar voz e vez, socialmente tenta se auto-afirmar numa sociedade excludente. A concepção de adolescência trazida à luz da sócio-históica é concebida diferentemente da psicologia que falará de uma naturalização do processo do “fenômeno da adolescência”. Essa concepção na sócio-histórica traz outros vestígios de uma adolescência na perspectiva social, uma vez que o ser humano interage na sociedade contemporânea. “A cultura aparece apenas como molde da expressão de uma adolescência natural, que em contrapartida sofre com a pressão exercida pela sociedade atual, a qual impõe a moratória ao adolescente [...]” (BOCK 432004, p.33-34). Não há como fazer a “negação da cultura” no âmbito social, já que ela é a expressão carregada de simbolismo e significado, uma bagagem que o adolescente carrega consigo tendo como contrapartida a exclusão da sociedade que não entende o adolescente. A sociedade impõe certas regras ao edolescente não possibilitando a “liberação da liberdade” que tanto ele busca. Quando falo de cultura do adolescente e da imposição da sociedade, elaboro a 43 BOCH, Ana Mercês Bahia. A Perspectiva Sócio-Histórico de Leontiev e a Crítica á Naturalização da Formação do Ser Humano: A Adolescência em Questão. Cad. Cedes, campinas, v.24, n.62, p.26-43, abril 2004. 57 58 seguinte problemática: Qual é o “olhar” do educador de ER para o “fenômeno da adolescência”? Por isso, a psicologia da religião deve ser entendida como “um campo científico de médio tamanho com um número limitado de participantes pelo mundo.” (BELZEN44 2009, p. 4). Isso nos dá condições para entender a adolescência como um processo social onde a cultura religiosa interage com a sociedade contemporânea. A problemática abordada traz consigo um olhar atento para o “rito de passagem” de cada adolescente, visto que a adolescência consiste na faixa etária dos 9 aos 30 anos, visto que número de pessoas que ainda depende dos pais é a realidade de uma sociedade que está cada vez mais envelhecendo. Envelhecendo por que o mercado de trabalho hoje não pressa mais a experiência, mas sim, o capital que este individuo vai poder gerar. O olhar do educador para estes adolescentes deve ser um olhar de respeito pautado na prática da alteridade, mas um olhar minucioso para o processo de transição para a vida adulta. Um olhar compreensivo, onde para compreender o fenômeno da adolescência precisa conhecer a sua cultura. Somente na cultura é que podemos lidar com os adolescentes que querem ser compreendidos, ouvidos e respeitados. A escola muitas vezes não está preparada para esse fenômeno, diante disto, ao invés de pedagogicamente tentar criar um projeto que dê a eles a possibilidade de expressar-se, acaba por podando todo um “processo de passagem” que deveria estar sendo bem estruturado. Não cabe ao educador ser mãe ou pai, mais cabe a ele/ela a inclusão nos diálogos e atividades que demonstrem suas aptidões e demonstrarem algo que é somente deles. A psicologia cultural traz vários tópicos que trabalha o psíquico do ser humano, é nessa perspectiva que podem ser elaboradas formas de atividades como parâmetros a ajudar o adolescente a se “descobrir” no seu próprio processo. A) B) C) D) Cognição e emoção O Self Altoestima e bem estar Motivação 44 BELZEN, Jacob A. Psicologia Cultural da Religião: Perspectivas, Desafios, Possibilidades. Rever – Revista de Estudos da Religião, dez. 2009, pp.1-29) 58 59 (BELZEN 2009, p.13 – 15) Cognição vai além do processamento das informações, o individuo cognitivo percebe o sentido da própria experiência. Segundo ARNON-JONES45 (apud BELZEN 2009, p. 13), as emoções “Não são respostas naturais eliciadas por fatores igualmente naturais dados por uma determinada situação, mas padrões sócio-culturalmente adquiridos e determinados de experiência e expressão [...]”, assim como as crenças. “Em concepções do self enquanto fruto da compreensão e experiência do funcionamento psíquico do próprio indivíduo existe uma diferença qualitativa com relação ao self concebido a partir dos modos interpessoais do mesmo funcionamento.” (BELZEN 2009, p. 14.) O self é definido por aquilo que a pessoa é na sua individualidade, o EU ou ego, por isso a cultura, a religiosidade que são bagagens de cada adolescentes no qual torna-se peças fundamentais para se trabalhar nas aulas de ensino religioso. Altoestima e bem estar são componentes vitais para que o adolescente se sinta confortável para expor suas dúvidas, seus anseios e que aja uma abertura ao dialogo de forma motivada. A motivação fará com que os adolescentes tenham mais desejo se querer saber, de procurar investigar, de ser participativo de forma coletiva. O adolescente autônomo dará mais elementos do que qualquer um que não consigo ter a autonomia para buscar seus próprios mecanismos. Esses mecanismos levarão o adolescente a inquietude e na inquietude é que encontramos as respostas que nos dará vazão a outros questionamentos que ajudará tanto o próprio individuo na sua individualidade como também no coletivo, fazendo da aula de ER uma aula dinâmica e de dialogo entre seus participantes. O olhar para o “fenômeno da adolescência” possibilitará uma compreensão entre o Ser que tem como características “decorrentes do “amadurecer” (BOCH 2004, p.34), a transformação hormonal e o Ser enquanto busca pela revelação do Transcendente e da existência de si mesmo. “O adolescente como parceiro social é visto com desconfiança e suas ações são 45 A referente citação encontra-se no referencial: ARNON-JONES, C. 1986 “The Thesis of Construcionism” in HARRÉ, R. (Ed). The Social Construction of the Emotions, Oxford, Blackwell, pp. 32-56. 59 60 tomadas como imaturas” (BOCH 2004, p.35) por conta de todo o rito de passagem e pelo mau entendimento da sociedade, quando na verdade, os adolescentes nem sempre são imaturos, pois os próprios adultos também tornam-se em suas ações um Ser imaturo e sem autonomia. Está crônica traz uma reflexão acerca do fenômeno que não pode ser abolida da sociedade, pois está presente nas escolas, em casa, na rua. A adolescência deve ser vista não como uma fase de “aborrecencia” pelo aborrecimento que esta fase traz aos familiares, mas sim, como uma “dinâmica evolucional” que tem como objetivo desprender-se do mundo “secreto” onde viveu para um mundo “existencial” da realidade que transita nos dias de hoje. Ao ER, o desafio é de proporcionar diferentes cosmovisões e construir com os adolescentes a idéia de responsabilidade, trazendo como elementos os seus símbolos e significações de experiências vivias somente por eles, e entendidas por eles, onde encontraram na pessoa do educador um amparo para se sentir liberdade de dialogarem. 60 61 16 Soberania Americana Do Terrorismo a um possível respeito à diversidade Resumo Nesta crônica acadêmica abordará no primeiro tópico a reconstrução da cidade nova-iorquina, no segundo a soberania americana que foi destruída através dos atentados de 11 de setembro, o terceiro tópico trata do terrorismo e a diversidade religiosa, sendo dividida em dois momentos, a concepção de terrorismo em relação com a diversidade e, a passagem do terrorismo á diversidade religiosa, especificamente do Islamismo, por conta da construção do templo. Palavras-chave: Nova York e Reconstrução, Soberania Americana, Terrorismo, Diversidade Religiosa. 1. Nova York e a Reconstrução Quem não se recorda dos ataques de 11 de setembro em direção ao coração americano? Torres gêmeas sendo destruídas e, pessoas sendo soterradas e em meio a tudo isso, multidões em pavorosa numa fúria avassaladora, onde a angústia de familiares que não sabiam se seus parentes haviam sobrevivido misturados com a incompreensão de não conseguirem assimilar a tragédia que assolou a soberania americana. E tudo isso é motivo para que as reconstruções após 10 anos dos atentados fossem voltados para o respeito e a compreensão a diversidade 61 62 existentes nos territórios dos Estados Unidos, Nova York ainda é tomada por lembranças frenéticas de quem sobreviveu e não pôde esquecer-se dos minutos que antecederam e dos minutos que se passarem em uma questão de tempos em que seus olhos contemplaram a tragédia não grega, mas americana. E o sonho acabou? Mas o que tudo isso tem haver com o respeito à diversidade? Tem haver com o que pode manifestar-se como fenômeno religioso após 10 anos de turbulência que fez americanos de Nova York tremerem, chorarem e pararem diante do efeito do terrorismo. Hoje, vemos na mídia que no lugar das torres gêmeas estão sendo reescrita um novo capítulo no lugar daquele que não deixará a história dos que tentam ainda em tempos futuros terem uma vida normal. Um aranha-céu alcançando 1.776 pés (541 metros), tornando-se o prédio mais alto dos Estados Unidos. O segundo prédio um pouco menor, faz de Nova York, a “face nova” dos nova-iorquinos. Entre as novas construções será construída uma estação de trem, um espaço subterrâneo para o comércio varejista e um museu memorial dos 11 de setembro. Uma deslumbrante construção dando novos ares na capital que viu seu poder e sua autosuficiência perder-se nas poeiras do egocentrismo. 2. Soberania Americana A soberania americana se dá pelo poder financeiro que fazia dos Estados Unidos os melhores do mundo, mas com os atentados as torres gêmeas no holocausto de 11 de setembro, o mundo viu o poder americano se esvair diante uma nação inteira e orgulhosa por ser a capital primeira do mundo. Não há como negar que os Estados Unidos antes do atentado já não é mais o país que vemos hoje. No tópico anterior podemos notar que a reconstrução é a vida nova que está se construindo em Nova York, mas que a história dos atentados ainda será lida e relida nos livros, crônicas e artigos futuros. A partir da perda da 62 63 soberania americana, o que fica ou deveria ficar é a releitura de novos olhares dos nova-iorquinos perante a diversidade religiosa que se pararmos para pensar, veremos que a existência da diversidade está presente na sociedade americana. Soberania que não haverá mais de ser alcançada e que no lugar dela, poderá surgir um novo espírito para que a construção da paz seja devolvida a cidade de Nova York. Em um momento de luto, a cerimônia do marco Zero, reuniu pessoas que encontravam-se no cargo a 10 anos, como o ex-presidente George W. Bush. O jornal americano The New York Time de 11 de setembro de 2011 traz em seu texto uma frase do prefeito de Nova Jersey, Michael R. Bloomberg. dissendo que os ataques tinham transformado "numa manhã de céu azul-perfeito" em "mais negra das noites." "Nós nunca podem ignorar o que aconteceu aqui", disse o prefeito. 46 Se não se pode ignorar que os atentados destruíram com a soberania americana, então não se pode ignorar o fato de um templo judaico ser construída na cidade de Nova York, então, o respeito à diversidade passa a ser possível quando os olhos se deparam com as noites escuras sob o céu azul da capital do poder que agora tenta se erguer-se, embora ainda possam ocorrer outros atentados, pondo mais uma vez, a prova os nova-iorquinos. 3. 3.1. Terrorismo e Diversidade Religiosa A concepção de um Terror 47 Terrorismo passou a ter relevância desde o inicio do século XXI, sendo declarada como principal ameaça a humanidade. A idéia de terrorismo surgiu como instrumento de luta política e religiosa nos anos 1800. Grupos 46 The New York Time. Nova York, 11 de setembro de 2011. Para conferir está reportagem, ver o site: http://www.nytimes.com/ 47 GEOMUNDO. O que é Terrorismo? Disponível em http://www.geomundo.com.br/geografia30120.htm. Acesso em 11. Set.2011. 63 64 espalhados pelo mundo se utilizam de mecanismo como uma estratégia de luta. O terror na contemporaneidade que cortou o cordão umbilical, forte ligação do poder americano, partiu de uma falta de desrespeito para com o Outro que, embora estivesse inserido na sociedade americana, seguia sua vida normal, com seus valores, significados e religiosidade. Tendo em vista que, o terrorismo foi praticado por um homem que, aparentemente possuía raízes religiosas, fez com que o pensamento e o olhar para o Outro seja de revolta e de repudio, se partimos da premissa de que o Outro é o nosso espelho, o reflexo da nossa imagem. É difícil praticar a alteridade, tendo em vista que o terrorismo desencadeia uma crise de “falta de confiança e de respeito ao Outro. Assim, a “recusa” do Outro se poderá ser de “aproximação do Outro” a partir de novos olhares. “Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e a repercussão do discurso do choque de civilizações certamente foram um fator importante para atrair a atenção da Europa para as questões religiosas”. (CASANOVA48 2010, p. 8). Assim, podemos perceber o quanto a diversidade religiosa deve ter olhares americanos após o terrorismo ocorrido, pois uma nova cidade é transformada à medida que a diversidade religiosa, mais especificamente o Islamismo é contemplada dentro de uma estrutura, no qual a soberania já não é mais o “poderio” europeu ocidental. 3.2. Do Terrorismo á Diversidade Religiosa: Nova York e seu templo Islâmico Não tendo mais a soberania, Nova York vai do terrorismo á diversidade religiosa, quando perto do marco zero, é construída um templo islâmico para dá inicio a fase nova após os 10 anos de terror e pânico, onde o maior poder financeiro de Nova York desaba na presença de seus cidadãos nova-iorquinos. 48 CASANOVA, José. O problema da Religião e as Ansiedades da Democracia Secular Européia. Rever – Revista de Estudos da Religião. Ano 10, 2010. 64 65 “A diversidade é uma das marcas da vida social [...]” (OLIVEIRA; JUNQUEIRA; ALVES; KEIM 2007, p. 19) e cultural religiosa, por isso que diante da vida da capital americana, o olhar deve ser pautado no respeito e na prática da alteridade, tendo como fenômeno religioso a convivência com os islâmicos que vivem na cidade. Desafio que não é fácil, mas que aos poucos vai acontecendo, pois, já não é mais aceitável negar a existência do Outro como espelho de nossa própria diferença, mas também “permitir ao outro ser sujeito de sua cultura [...]” (OLIVEIRA; JUNQUEIRA; ALVES; KEIM49 2007, p. 36), ou seja, deixar que o Outro se mostre como ele é e, que o Outro possa ter liberdade de culto e de crença, mesmo estando no solo americanizado. O templo islâmico é a prova de que agora a paz deve ser estabelecida, mas sabemos que ainda há vestígios de novos ataques, mesmo assim, o islamismo dá um novo rumo à história nova que iniciou-se após o massacre de 11 de setembro. Se a construção do templo, causou polemica, foi por parte de pessoas que não deram espaço para a aceitação do diferente, mas que em tempos presentes se consolidou, ganhando, talvez uma possível abertura de dialogo e de respeito. Se paramos para pensar no futuro dos Estados Unidos, o dialogo interreligioso com o islamismo é um passo para uma nova releitura de olhares que levará os nova-iorquinos a “aprender a conhecer a diversidade religiosa (grifo meu), a fim de compreender as diferenças étnicas, culturais e religiosas como um fator de riqueza e identidade na multiplicidade de interações [...]” (OLIVEIRA; JUNQUEIRA; ALVES; KEIM 2007, p. 20), tendo em vista que fará dos Estados Unidos uma “vibrante nação inovadora, que cultiva o espírito [...]” (LIMA50 2011, p.21) de uma verdadeira nação humanizada. 49 OLIVEIRA, Lilian Blank de; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luis Alberto Souza, KEIM, Ernesto Jacob. Ensino Religioso no Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez, 2007 50 LIMA, Renato. A força dos EUA se mantém firme. Jornal Notícias do Dia, Florianópolis, 10 e 11 set.2011. Folha Empresa, Especial, p.21. Renato Lima: Jornalista (UFPE) – Universidade Federal de Pernambuco, Mestre em Estudos da América Latina pela Universidade de Illinois (EUA) e Doutorando em ciência política no MIT - Massachusetts Institute of Technology. 65 66 17 Libras como Componente Curricular Inclusão e Exclusão Resumo Nesta crônica acadêmica será abordada no primeiro tópico a formação do cientista da religião para a licenciatura a partir da disciplina de Libras e do cientista da religião para o bacharelado. O segundo tópico tratará do Ser Surdo enquanto SUJEITO. No terceiro tópico será fomentada a discussão da disciplina de Libras como componente curricular nas escolas a partir da proposta do anteprojeto de decreto da lei de Libras publicado em dezembro de 2001 em Santa Catarina. Por fim, no último tópico a inclusão e a exclusão tendo duas possibilidades, a inclusão tendo nas escolas o lugar da Libras e a exclusão tendo nas escolas o (não lugar da Libras. Palavras – chave: Libras e Ciências da Religião – Ser Surdo como Sujeito – Componente Curricular – Inclusão e Exclusão. 1. Libras e Ciências da Religião 1.1. Formação do cientista da religião para a licenciatura Partindo da licenciatura, a disciplina de Libras tem um papel fundamental na formação do cientista da religião de caráter licenciado para entrar em sala de aula e ter contato com a diversidade presente na escola, seja 66 67 pública, seja privada. A pessoa do professor de ensino religioso, ao ter a disciplina de Libras, passa a compreender o Outro como Ser Sujeito e protagonista central no contexto da escola e da comunidade onde está inserido. A partir das Libras, o educador passa a ser “orientado por princípios de uma educação inclusiva”. (SANTOS 51 p.3), ou seja, tendo a visão do Outro como reflexo de sua diferença, o Outro como espelho. Assim, a inclusão torna-se uma “pratica inclusiva, pois o educador tendo uma base alicerçada sobre a linguagem de sinais volta-se o olhar para as peculiaridades de cada sujeito, nesse caso especifico o Ser Surdo, tendo o “encantamento pela diversidade humana. Esse encantamento também está na construção da formação do educador enquanto acadêmico, pois “quanto mais soubermos como o ser humano se desenvolve em suas diferentes áreas (lingüística, cognitiva, social, moral, afetiva, física, motora e religiosa (grifo meu) [...]”) (Idem, ibidem), mas nos tornamos inclusivo e compreensivo ao respeito e ao diálogo do diferente, muito mais saberemos como lidar com o Ser Surdo no contexto escolar. Por isso é que torna-se obrigatório a contemplação da disciplina de Libras nas universidades, para que nosso olhar de “aproximidade do Outro”, deixe de ser uma “recusa do Outro” e passe a ser uma “pratica da inclusão do Outro”, tendo a percepção de que o Outro (Ser Surdo) tem o seu processo gradativo e que o aprendizado pode sim, acontecer a medida em que despimo-nos de nossa roupagem para que didaticamente e estrategicamente seja elaborado formas diversas de como saber ensinar através da prática de alteridade. 51 SANTOS, Mônica Pereira. Práticas de Inclusão em educação: Dicas para professores. Programa de Pós Graduação em Educação (Mestrado em Educação). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 67 68 1.2. Formação do cientista da religião para o bacharelado O pesquisar em suas pesquisar a respeito das religiões tendo como foco o fenômeno religioso, objeto das ciências da religião e do ensino religioso, não deve somente ser visto com psicologicamente, antropologicamente, sociologicamente, historicamente, mas também perpassa pela disciplina de Libras, uma vez que na academia, o Ser Sujeito, ganha também centralidade quando tomamos conhecimento do Ser Surdo como nosso próprio espelho. Após a formação acadêmica, o pesquisador formado em ciências da religião, tece sua pesquisa no âmbito educacional, onde o diferente é o objeto centralizador para entender vários aspectos atuais que acontece no mundo contemporâneo. Como estão sendo tratados os Surdos na sua peculiaridade em sala de aula? O Educador tem formação especifica em Libras ou pelo menos alguma noção do seu conceito? A escola está preparada para ser inclusiva ou exclusiva? Libra tem um lugar nas escolas ou um (não) lugar? Como o ensino religioso contempla o Ser Surdo em todas as suas dimensões? Perguntas como estas são construídas a partir da formação do pesquisador em sala de aula na disciplina de Libras nos centros universitários e nas universidades existentes na sociedade brasileira. O pesquisador também deve estar preparado para entrar em campo e ver as posições dos atores em que irá pesquisar, sem se esquecer de que não é neutro, mas que a sua experiência não deve aparecer na pesquisa e nem seu envolvimento dever acontecer, senão a pesquisa poderá ficar comprometida. Por outro lado, o cuidado em pesquisar temas como o Ser Surdo na escola e sua religiosidade, visando que “o contexto pessoal de vida do aluno, sua comunidade, sua cultura própria” (SANTOS, p.6) são ponto de partida para uma perspectiva de como o Ser Surdo como SUJEITO, é parte integrante da sociedade, e como a linguagem de sinais pode expressar a sua experiência com o Transcendente. Cabe ao pesquisar em sua formação ter noção do que é LIBRAS. 68 69 2. Ser Surdo como Sujeito O Ser Surdo possui comunicação que o identifica como um Ser Sujeito, por esse motivo é que não há a existência da concepção de Surdo Mudo, assim, deve ser contemplado nos âmbitos educacionais, políticos, sociais, artístico e religiosa.. A inclusão do Ser Surdo como Sujeito, SUJEITO que se mostra na sua peculiaridade, uma experiência de vida que deve ser valorizada como um todo. Sua experiência culturalmente, mas não se refere religiosamente, somente a aquela educacionalmente adquirida entre outras experiências vividas que são de grande contribuição para o docente que ministra o ensino religioso. “Quando nós observamos atentamente a situação atual da educação de surdos, nós podemos perceber que houve ruptura em alguma parte de historia de surdos [...]” (PERLIN; STROBEL 52 2006, p. 11), hoje, a educação de surdos está centralizada no Se Surdo como SUJEITO, mas será que em todas as escolas isso é realmente visto? “Até recentemente os povos surdos sofreram com esta ruptura, pois para a maioria deles a educação verdadeira começou somente depois quando saíram da escola na idade de adolescência [...]” (Idem, ibidem p.11) tendo um contato com o Outro nas associações de Surdos. É no contato que o Outro como Sujeito consegue se relacionar e o seu processo passam a se desenvolver com mais facilitado que no “desconhecimento do Outro”, privasse o Sujeito de ser diferente, o que o torna ainda mais igual e como os mesmos direitos e valores. As escolas muitas vezes não estão preparadas para atender o Ser Surdo como Sujeito e acabam por não implementar a disciplina de Libras como componente curricular, pois sabemos que o Ser Surdo necessita de orientação e em muitos casos de um interprete nas salas de aulas, o que facilitaria muito ambos os lados, o educador que, despreparado, por não ter 52 PERLIN, Gladis; STROBEL, Karin. Fundamentos da educação de Surdos. Curso de Licenciatura – Letras.. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. 69 70 em sua formação acadêmica, a disciplina de Libras e o educando enquanto SUJEITO, que merece compreender o que o conteúdo que o educador está ministrando, sendo como um direito de conhecer, evitando o “abandono do OUTRO, por parte do educador limitado. 3. Libras como componente curricular Partindo do pressuposto de que muitas vezes as escolas não estão preparadas para lidar com o Surdo como SUJEITO, não implementam a disciplina de Libras como um componente curricular, sendo que há a existência de um decreto que fomenta a proposta onde decreta a inclusão de Libras como um componente curricular em Santa Catarina. Essa proposta anteprojeto de decreto Lei para regulamentar a Lei de Libras n° 11.869 de 06 de setembro de 2001 no Estado catarinense diz no capítulo I – Da Inclusão da Libras como Componente Curricular : Art.1° A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS será um componente curricular obrigatório nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, nos cursos da área de saúde, de instituições de ensino públicas e privadas, do sistema educacional de ensino. (SANTA 53 CATARINA , 2001 p.2) Fica claro a relevância de se ter a disciplina de Libras no Estado de Santa Catarina para uma formação adequada de nossos profissionais da educação e para o conhecimento não só de pessoas com licenciaturas, mas com bacharelado. O curso de Ciências da Religião, tendo a disciplina de Libras, irá se beneficiar ao construir em nos acadêmicos uma bagagem cultural de inclusão e de como lidar com o Ser Surdo nas escolas como Sujeito, despindo-se de seus preconceitos e discriminações. As escolas devem se preocupar-se em rever seus PPPs e de alguma forma tentar implementar a Libras como componente curricular, assim, buscando contatar não só interpretes qualificados, mas profissionais que 53 SANTA CATARINA. Proposta do Anteprojeto de Decreto Lei para Regulamentar a Lei de Libras em Santa Catarina. Federação Nacional de Educação e Integração de Surdo. 06 de dezembro de 2001. 70 71 possa orientar o Ser Surdo, e acompanhá-lo no seu processo de zona de desenvolvimento proximal, como Vygotsky em seu teoria nos propõem. Mas há duas possibilidades de haver nas escolas a inclusão e a exclusão do Ser Surdo. É o que veremos no próximo tópico. 4. Inclusão e Exclusão: Duas possibilidades 4.1. Inclusão a partir do lugar da Libras nas escolas A partir do lugar da Libras nas escolas, a inclusão acontece de forma dinamizada, onde a pessoa que orienta o Ser Surdo pode na medida do possível trabalhar tanto com o Ser Surdo quanto os educadores, na perspectiva de lhes dá uma nova visão do diagnostico em termos de “aproximidade do Outro” como respeito e alteridade, onde a concepções dos Sujeitos que fazem a escola reformulem a sua maneira de ver as coisas, promovendo a inclusão. Esse novo olhar se dá em conjunto com todas as disciplinas de conhecimento, numa transdisciplinaridade, no qual todos possam ajudar o Ser Surdo como Sujeito a integrar-se no meio social, sem qualquer tipo de preconceito ou qualquer tipo de discriminação e abandono por parte dos gestores escolares, por parte dos educadores e por parte dos educandos que completam o quadro de atores ativos e agentes educacionais. 4.2. Exclusão a partir do (não) lugar da Libras nas escolas A exclusão se configura a partir do (não) lugar da Libras nas escolas, quando não se implementam a Libras como componente curricular. O fechar de olhos para o Ser Surdo como Sujeito e, negar que ele precisa de acompanhamento como forma de inclusão, são vestígios de falta de conhecimento e estão revestidos de seus preconceitos e acabam por deixá-los de lado. 71 72 Não promovendo a inclusão, promovem a exclusão do Outro e impedem que o Ser Surdo como Sujeito desenvolva-se suas potencialidades no decorrer de seu processo educacional, cultural, religioso, social, político e etc. De nada adianta incluir o Ser Surdo, se não lhes dão a devida assistência? O sistema pode ser até falho, e é, mas os atores envolvidos, mesmo de mão atadas, podem buscar recursos como a inclusão da Libras nas escolas. Nesse sentido, deve caminhar a comunidade escolar. 72 Considerações Finais 73 Percebemos o quanto é fundamental estas discussões que nos desafia cada vez mais a pensarmos escola e ensino religioso. Vemos que nas academias, nos Simpósios e em Congressos, profissionais se reúnem para discutir temáticas relevantes, numa forma de contribuição e de fazermos pensar em nossas práticas diante dos diversos desafios. Nossas experiências não podem e não devem ser meras páginas escritas e guardadas em qualquer lugar, é preciso trazer-los a luz do contato humano, onde as trocas de conhecimentos tornam-se relevantes e tece em nos, não só a valorização, mas o crescimento enquanto educadores, acadêmicos e pesquisadores. Não nos deixemo-nos calar diante de assuntos presentes na sociedade contemporâneas, pois elas precisam ser fomentadas, para que possamos cada vez mais melhorar-mos o que é preciso melhorar, repensar e recriar, o que for possível, ainda mais em tempos em que o ensino religioso base por mais um momento histórico, como área de conhecimento. Ainda veremos um ensino obrigatório, onde traçará mais uma caminhada em frente as dificuldades que sabemos, ainda iram surgir. A inclusão de todos os seres humanos se dá, a medida em que deixarmos o Outro ser o espelho, que reflete a nossa própria diferença. 74 Este livro foi estruturado a para refletir, discutir, e ter outras perspectivas, onde o leitor pudesse compreender nos mais variados temas propostos nas crônicas acadêmicas, o desafio que é o ensino religioso e a diversidade religiosa nas escolas, seja privada, seja pública. E que perpassa por todas as áreas de conhecimento: psicológico, sociológico, literário, na disciplina de libras, antropológico, científico, histórico filosófico etc. Percebendo então, que “as expressões que procuram explicar a sede e a necessidade de conhecer [...]” (OLIVEIRA; JUNQUEIRA; ALVES; KEIM 2007, p.43), está intrínseco no ser humano a partir de suas experiências. OLIVEIRA, Lilian Blank de; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luis Alberto Souza, KEIM, Ernesto Jacob. Ensino Religioso no Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez, 2007