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A PESQUISA COMO ASPECTO FORMATIVO INDISPENSÁVEL À QUALIDADE
DOS ESTÁGIOS DO CURSO DE PEDAGOGIA
Marilene Gabriel Dalla Corte (Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS)
Apoio Financeiro: UNIFRA, auxílio financeiro e bolsa de Iniciação Científica.
Esse trabalho focou as contribuições dos processos de pesquisa à qualidade da formação do
pedagogo. Para tanto, buscou-se verificar em que medida a pesquisa é priorizada e utilizada
no estágio curricular supervisionado do curso de Pedagogia; verificar e analisar as concepções
e práticas de pesquisa priorizadas pelos professores orientadores; pontuar contribuições da
pesquisa à qualidade da formação do pedagogo. Foi desenvolvido um estudo de caso, em que
foi aplicado um questionário semi-aberto a professores orientadores de estágio do curso de
Pedagogia de uma IES privada do RS. Os resultados sinalizaram que o estágio é um espaço
rico de aprendizagens indispensáveis à formação do pedagogo, porque potencializa a
indissociabilidade ação-reflexão-ação no exercício da docência. A pesquisa potencializa o
ensinar e aprender por meio da problematização, da reflexão, do posicionamento, produção
própria e/ou coletiva, o que contribui para a qualidade dos processos formativos no curso de
Pedagogia.
Palavras-chave: Pesquisa, Estágio Curricular Supervisionado, Pedagogia
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A PESQUISA COMO ASPECTO FORMATIVO INDISPENSÁVEL À QUALIDADE
DOS ESTÁGIOS DO CURSO DE PEDAGOGIA
Nos debates sobre formação de professores, o estágio curricular é um assunto muito
abordado que tem recebido críticas sobre sua transitoriedade no currículo dos cursos, bem
como sobre o pouco vínculo que estabelece com os referenciais teóricos trabalhados nas
diferentes disciplinas que compõem o repertório de saberes do professor. Nesse sentido, esse
tema tem conduzido vários educadores a focar o estágio e discutir qual a sua importância e o
seu papel à formação de professores.
Parte-se do pressuposto que o estágio curricular é um componente essencial e
indispensável ao currículo do curso de Pedagogia; importante à formação inicial, uma vez que
é a oportunidade do aluno vivenciar in loco experiências profissionais e ampliar e conectar os
conhecimentos teórico-práticos adquiridos no curso de graduação.
Aborda-se a cultura da pesquisa no estágio curricular supervisionado do curso de
Pedagogia considerando o contexto multifacetado de formação e atuação de professores.
Parte-se do princípio que a pesquisa possibilita a compreensão e aproximação da realidade
pela análise e reflexão crítica da formação e atuação docente, que é um processo contínuo e
inacabado que objetiva a constante reflexão sobre o próprio desenvolvimento profissional.
É nesse sentido que a educação pela pesquisa requisita que tanto o professor formador
quanto o futuro professor sejam parceiros no processo educativo e científico. Daí a
necessidade de investigar: Quais as contribuições da pesquisa para a formação de qualidade
do pedagogo? Quais as principais atividades que mobilizam a pesquisa como aspecto
formativo indispensável aos estágios do curso de Pedagogia? Para tanto, buscou-se verificar
em que medida a pesquisa é priorizada e utilizada no estágio curricular supervisionado do
curso de Pedagogia; verificar e analisar as concepções e práticas de pesquisa priorizadas pelos
professores orientadores; pontuar contribuições da pesquisa à qualidade da formação do
pedagogo.
É no alicerce da identidade profissional do pedagogo que se centra esse estudo, ao
focar, em específico, os estágios supervisionados do curso de Pedagogia, considerando que
são trajetórias formativas significativas e que necessitam inter-relacionar teoria e prática. Para
isso, infere-se a necessidade de fortalecimento epistemológico do estatuto da Pedagogia tendo
por base os estágios supervisionados ancorados na pesquisa como aspecto indispensável à
qualidade da formação do pedagogo.
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A PESQUISA NO ESTÁGIO CURRICULAR
Sabe-se que um dos principais objetivos do estágio, como componente curricular da
formação de professores, é potencializar a construção de aprendizagens que se constituirão em
saberes do professor, estabelecendo a conexão entre teoria e prática.
Por estágio curricular entende-se as atividades que os alunos deverão realizar
durante o seu curso de formação, junto ao campo futuro de trabalho [...] Por isso
costuma-se denominá-lo a “parte mais prática” do curso, em contraposição às
demais disciplinas consideradas como a “parte mais teórica”. Estágio e disciplinas
compõem o currículo do curso, sendo obrigatório o cumprimento de ambos para
obter-se o certificado de conclusão. (PIMENTA, 1994, p.21)
Cabe destacar o estágio como um verdadeiro espaço de novas vivências e
aprendizagens, pois é possível, pelas diferentes modalidades necessárias à formação do
pedagogo entre elas observação, monitoria, planejamento, regência, entre outros, estabelecer
conexões entre as experiências vividas e a real aprendizagem que se constrói na medida em
que são realizadas discussões e teorizações sobre as proposições realizadas e as situações
encontradas em campo.
É pontual que não basta ir à instituição de estágio. É importante que as atividades
realizadas lá sejam consideradas como pólo de reflexão e crítica, como recurso
problematizador in loco pelo currículo do curso de formação. Esse refletir dentro de um
espaço e tempo institucional, voltado para a prática profissional, privilegia a análise
contextualizada ancorada em referenciais teóricos, propicia a produção própria do aluno e do
professor, assim como constitui-se elemento integrador entre IES e ambiente de estágio.
Segundo Pimenta (1994), o estágio tem sido associado à condição prática do curso de
formação de professores, ou seja, à prática de ensinar. Nesse sentido, a autora destaca como o
estágio vem sendo estruturado e implementado e faz, portanto, um exame detalhado de como
a prática de ensino vem sendo colocada na legislação dos cursos de formação de professores
para os anos iniciais. Nesse estudo, são apontados enfoques de prática de ensino, entre eles: a
prática como aquisição de experiência; a prática ao nível da concepção e da crítica à
realidade; prática dissociada da IES e da realidade da escola; prática como instrumentalização
e desenvolvimento de habilidades; teoria e prática como indissociáveis a prática social;
unidade entre atividade teórica e atividade prática na pedagogia.
Na visão da autora o estágio é considerado importante elemento formador, pois
sempre esteve presente, mesmo que com denominações diversificadas, nos currículos dos
cursos de formação de professores. Os vários sentidos que essa prática (estágio) tem para o
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processo formativo do professor se dá de acordo com o momento histórico-social e o
entendimento das políticas públicas sobre sua função e inserção no curso e na sociedade.
Isso é retratado, pois, o estágio se altera conforme
[...] a população que veio constituído o alunado dos cursos de magistério (femininoclasses favorecidas/ feminino-classes média e baixa), conforme o desenvolvimento
teórico das disciplinas profisisonalizantes, especialmente a Didática e as
Metodologias de Ensino; conforme a valorização/desvalorização social e
econômica do professor primário; conforme a deteriorização da formação de
professores em geral, no bojo da deteriorização do ensino; conforme a influência
dos educadores críticos nos aparelhos de estado (por exemplo no final da década de
60 com o INEP), ou fora do aparelho de Estado (por exemplo, com o movimento
dos educadores nos anos 80 e com as CBEs), ou de educadores tecnocratas (e
exemplo do que ocorreu com a Lei 5692/71); e conforme a deterioração das
condições de trabalho dos professores em geral. (PIMENTA, 1994, p. 78)
Portanto, os fatores intervenientes à formação de professores, oriundos das políticas
educacionais, considerando, em especial, o momento histórico-social, contribuem para o
entendimento de prática de ensino (estágio), bem como de estruturas curriculares que lhe
possibilitem atingir os pressupostos político-pedagógicos que assegurem a profisisonalização
do paradigma educacional vigente.
A partir do momento que a questão da prática começa a ganhar outro significado à
formação docente, percebe-se que ela está agregada à teoria, porém, por muito tempo na
história da formação de professores, principalmente sob a vigência da LDB 5692, a prática
agregada a teoria foi sinônimo de execução de trabalho, de preparação técnica, de fazer em
detrimento do saber.
Destaca-se André & Fazenda (1991, apud PIMENTA, 1994, p. 75) quando inferem:
[...] o estágio vem sendo órfão da prática e da teoria [...] Como lida
basicamente com as questões da realidade concreta, da prática, o aluno vai perceber
que para explicá-la e nela intervir é necessário refletir sobre a mesma e que essa
reflexão só não será vazia se alimentar-se da teoria. (p.20)
Então, é preciso trabalhar o contexto prático agregado ao contexto teórico, ancorandose na atividade docente, pois são dimensões indissociáveis e elementares uma a outra. A
apreensão da realidade deve indicar ao estagiário os detalhes, a totalidade, as incoerências, as
necessidades e as possibilidades, entre outros aspectos. Nesse sentido, é indispensável que a
leitura do contexto de atuação esteja ancorada em aportes teóricos os quais sejam capazes de
instrumentalizar a prática de ensino com maior competência e qualidade, num processo
dialético de trocas mútuas de observação, captação de informações, reflexão, planejamento e
implementação de práticas conscientes e significativas, o que potencializa a verdadeira práxis.
Libâneo (2006, p.238) diz que é preciso que os cursos de formação profissional
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[...] tenham seus objetivos, currículo e metodologias fortemente vinculadas à
realidade empírica, isto é, às necessidades e demandas concretas da sociedade, das
escolas, dos professores e dos alunos. As políticas de formação devem surgir de
necessidades postas à formação de professores originadas nos contextos concretos
de ensino e aprendizagem das escolas e das salas de aula. Para isso, as faculdades
de educação precisam conscientizar-se da necessidade de instrumentalização
teórica, metodológica e procedimental dos professores formadores no ensino de
suas disciplinas. A formação de professores implica competências teóricometodológicas, modos de atuar, de saber fazer, de saber agir moralmente, etc.
O Estágio, portanto, necessita ser pensado como elemento articulador do currículo do
curso de Pedagogia, pois diz respeito à possibilidade prática de inserção do aluno ao campo
de atuação profissional. Porém, não pode ser pensado somente com esse olhar simplista, uma
vez que vai além dessa inserção; propicia, sim, um elo de ligação, a conexão entre as
disciplinas
curriculares
e
a
contextualização
desses
aportes
teórico-práticos
na
profissionalidade do futuro professor, traduzida, entre outros aspectos, pela competência
técnica e humana desse profissional contextualizada ao campo de atuação.
Um aspecto a ser considerado é que o estágio ao envolver a totalidade das atividades
realizadas na dimensão curricular do curso de formação de professores, orienta-se em
consonância com a proposição da proposta pedagógica desse curso e, para tanto, deve
contemplar em sua essência uma dimensão teórica que esteja agregada à dimensão prática de
maneira indissociável e simultânea, considerando que tem a finalidade de promover vínculos
entre o pensar e o fazer, numa verdadeira prática de ensino.
Sendo assim, assume-se o estágio supervisionado como eixo estrutural e articulador da
relação teoria e prática na formação do professor, uma vez que deve estar vinculado com a
própria organização curricular do curso, assim como tem por essencial função estabelecer
vínculos do aluno com o campo de atuação.
É evidente que nessa articulação teoria-prática é preciso evitar o que Freitas (1992)
denomina de estrutura organizacional etapista quando destaca que nas primeiras etapas
formativas dos cursos os acadêmicos se apropriam das disciplinas teóricas ou de
fundamentos; após surgem as disciplinas pedagógicas ou como diz o autor as disciplinas
teórico-práticas; finalizando o curso surgem os estágios supervisionados, traduzidos pelas
práticas de ensino. Na maioria das vezes, segundo o autor, essa estrutura do currículo do
curso não está conectada entre si, pois
[...] Separam-se elementos indissociáveis como se o conhecimento pudesse
primeiro ser adquirido para depois ser praticado. A raiz deste etapismo está na
separação entre a formação e o trabalho. Este último termina ficando restrito a
algumas disciplinas chamadas de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado.
(FREITAS, 1992, p.12)
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Com o intuito de superação da dissociação do estágio com a dinâmica curricular do
curso de formação de professores, é preciso o investimento na coletividade, na construção,
articulação e inter-relação de atividades pedagógicas, sob o enfoque teórico-prático, que
sejam assumidas pelo grupo de professores formadores, caso contrário o curso será o retrato
da fragmentação tanto em nível do que se faz enquanto IES, quanto em nível de qualidade da
formação do futuro professor.
O conhecimento teórico-prático, a ser priorizado em estágio deve possibilitar preparar
o futuro profissional para compreender as estruturas societais, traduzidas no ensino e nos
determinantes de sua prática, assim como unidade indissociável entre ensino e pesquisa,
entendendo que a pesquisa é constitutiva do trabalho do professor, pois este necessita
constantemente refletir e orientar sua prática.
O estágio contexto da ação-reflexão-ação, se traduz pela pesquisa do cotidiano da
instituição educacional, envolvendo, sobretudo, a observação, a coleta de dados e a reflexão,
num verdadeiro processo de questionamento [re]construtivo (DEMO, 2002), reorganização do
pensamento e das ações.
Demo (2002) pressupõe que o sujeito que ensina necessita de pesquisar e o sujeito que
pesquisa precisa ensinar. Logo, ele coloca que a pesquisa não é somente uma construção,
porém é um ato político que engloba um processo investigativo. Dessa forma, o pesquisador é
o aprendiz que persiste na ação de questionar as situações que vivencia no seu cotidiano. Ele
ainda diz que a para pesquisar é imprescindível descobrir e criar. A teoria, segundo o autor,
exige habilidades de elaboração própria e a prática necessita da competência de investigar o
contexto, aproximá-lo da teoria, recriar e mudar. A partir disso, é interessante ressaltar que o
estágio, na situação de interlocução entre o ensino e a pesquisa, precisa estimular o aluno a
pesquisar, questionar e construir cientificamente, pois a elaboração científica se dá por meio
de interações entre teorias e práticas que vão além de domínios técnicos e conceituais.
Kenski (1994, p.11) também diz
[...] da necessidade de que a prática de ensino envolva comportamentos de
observação, reflexão crítica, reorganização das ações, características próximas à
postura de um pesquisador, investigador, capaz de refletir e reorientar sua própria
prática, quando necessário.
Mesmo que, superficialmente e dependendo do contexto, a pesquisa e o ensino se
constituam em funções diferenciadas, não é possível se que sejam realizadas em separado
quando se trata de educação. Como ator social, o pesquisador é fenômeno político, que, na
sua pesquisa, se traduz, sobretudo, pelos interesses que mobilizam os confrontos e pelos
interesses aos quais serve (PIMENTA, 2002). Portanto, a verdadeira pesquisa ocorrerá
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quando o profissional perceber que os sujeitos envolvidos nos processos educativos e
formativos são sujeitos ativos e reflexivos. Nesse sentido, é imprescindível que os professores
estejam em constante reflexão, ação, pesquisas e formação, pois, nesse enfoque, estarão se
qualificando e capacitando para não só ensinar, como também e, principalmente, aprender.
Então, o estágio, articulado pelo ensino e pesquisa, se refere a uma postura políticopedagógica de estar produzindo saberes acerca das práticas administrativo-pedagógicas
realizadas no ideário da instituição educacional. Esse processo de vivenciar, problematizar,
coletar dados, refletir e posicionar-se, instrumentaliza-se pela relação dialética entre teoria e
prática, o que, eminentemente, favorece ao professor formador, ao futuro professor e,
consequentemente, às instituições envolvidas, uma visão real, contextualizada e integradora
da complexidade do cotidiano da profissão docente.
O espaço para reflexão das práticas pedagógicas coloca em pauta a possibilidade de
retirar da prática os referenciais teóricos, ou seja, aquilo que Zeichner (1993) chama de teorias
práticas, pois são aquelas originadas com o processo de ação-reflexão-ação, que surgem no
momento em que o professor pensa sobre sua prática, reflete sobre ela e suas implicações, faz
a conexão com os aportes teóricos e, sobretudo [re]constrói novos saberes.
Piconez (1994), ao preconizar a prática de ensino como prática reflexiva no curso de
pedagogia pressupõe que no estágio supervisionado o aluno tem a possibilidade de se
aproximar da realidade da instituição educacional e, portanto, com base em dados coletados
fará reflexões da prática pedagógica que se efetiva no ideário desta instituição, e esse processo
de coletar informações e refletir sobre elas alicerça uma boa formação inicial.
É importante destacar o estágio como elo de ligação entre diferentes níveis de ensino,
uma vez que, no que diz respeito à formação de professores, o estágio se apresenta como um
canal entre o Ensino Superior e a Educação Básica. Essa reciprocidade necessita da
articulação entre a teoria e a prática, considerando que o ensino na Universidade não pode ser
descontextualizado, mas, sobretudo, enriquecido com as situações vividas no cotidiano da
instituição de ensino.
Ao pressupor a relevância do estágio como um local de formação, de trocas de
experiências e de muitas aprendizagens entre os professores e os alunos que realizam os
estágios, Piconez (1994) defende a necessidade de parceria entre esses sujeitos, mas de
maneira producente tendo por base o questionamento e a reflexão teórica sobre as situações
vivenciadas. Essa tão preconizada articulação teoria e prática somente poderá acontecer se for
assumida com responsabilidade e como funções complementares essenciais no currículo do
curso e nas instituições parceiras das IES. Caso contrário, o estágio curricular constituir-se-á
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num processo obrigatório para a formação de professores, mas não contribuirá em todo o seu
potencial de apreensão, estudo, reflexão e [re]construção de saberes para acadêmicos e
professores.
METODOLOGIA
A metodologia desta pesquisa esteve ancorada num estudo de caso considerando que
enfatiza o conhecimento particular, porém essa particularidade não impede ao pesquisador de
ficar “[...] atento ao seu contexto e às suas inter-relações como um todo orgânico, e à
dinâmica como um processo, uma unidade em ação” (ANDRÉ, 1995, p.31). Sendo assim, o
estudo de caso focou o olhar no contexto do estágio curricular supervisionado do curso de
Pedagogia de uma Instituição de Ensino Superior privada do RS.
Os princípios de natureza qualitativa permitiram enfocar as questões levantadas pela
pesquisa, bem como os objetivos dela decorrentes, pois, segundo Cotrin (1996), a pesquisa
qualitativa propõe uma visão de totalidade e pressupõe um avanço significativo no
conhecimento dos envolvidos elevando o nível de compreensão, já que a proposta, a partir da
temática “a pesquisa como aspecto formativo indispensável ao estágio curricular
supervisionado do curso de Pedagogia”, enfoca o homem como ser histórico diretamente
influenciado por sua época, pelo seu meio histórico-social e profissional.
Nesse enfoque, a abordagem qualitativa propõe uma visão de totalidade pelo avanço
significativo no conhecimento dos envolvidos (LUDKE & ANDRÉ, 1986), elevando o nível
de compreensão dos saberes e fazeres dos sujeitos da pesquisa.
Foi aplicado questionário semi-aberto a duas professoras pedagogas orientadoras de
estágio com a finalidade de abarcar no contexto prático de estágio os problemas e objetivos
propostos à investigação.
De posse dos dados coletados priorizou-se a realização dos intercruzamentos e
aproximações de informações que possibilitaram algumas interpretações e reflexões sobre a
temática em questão.
CONTRIBUIÇÕES
DA
PESQUISA
À
QUALIDADE
DA
FORMAÇÃO
DO
PEDAGOGO: RESULTADOS E REFLEXÕES
Esta pesquisa possibilitou conhecer os modos singulares como as professoras
orientadoras, ambas pedagogas e mestres em educação, concebem a pesquisa e a conduzem
nas atividades formativas de estágio.
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Os elementos constitutivos de sua trajetória profissional estão interconectados, em
seus relatos, pelos saberes da experiência como acadêmicas do curso de Pedagogia, assim
como pelas práticas realizadas junto aos estágios do curso de Pedagogia da IES alvo da
pesquisa. Verificou-se que a partir do exercício da docência junto ao estágio, as professoras
estão [re]significando sua identidade profissional, o que incide basicamente nos seus
processos formativos de saberes e fazeres.
As professoras destacaram que priorizam com seus alunos estagiários práticas de
pesquisa, e que entendem a pesquisa como importante estratégia formativa da identidade do
pedagogo. Retrataram que a pesquisa se concretiza por meio de ações que envolvem:
contextualização da realidade do estágio, pesquisa documental (Proposta Pedagógica da
Escola, Planos de Estudos, Plano de Aplicação Financeira da Escola, Calendário Escolar,
Plano de Gestão, entre outros documentos), pesquisa sócio-antropológica, pesquisa quanto a
fatores que acarretam dificuldades de aprendizagem dos alunos, pesquisa quanto ao nível
alfabético que se encontram os alunos, assim como outros aspectos.
Percebeu-se que, conforme retratam as orientadoras, o estágio do curso de Pedagogia
precisa avançar cada vez mais quanto a priorizar e utilizar-se da pesquisa como aspecto
formativo com caráter de [trans]formação, o qual proporciona a mudança de postura do futuro
pedagogo, cujo alicerce é construído pelo conjunto permanente de saberes e competências
inerentes e [re]alimentadores oriundos do currículo do curso, que, muitas vezes, põe em ação
de forma relativamente consciente e racional seus saberes, mas nem sempre escolhe ou
controla sua ação.
Sinalizaram as pesquisadas que, os alunos estagiários, muitas vezes, agem movidos
por intenções calcadas em hábitos, caprichos, preferências, automatismos, angústias,
competências construídas e condicionamentos que servem para impulsionar a sua capacidade
de processar e articular ações pedagógicas, porém o estágio do curso precisa, eminentemente,
avançar quanto a consciência da ação pedagógica do estagiário. Ou seja, o aluno estagiário
precisa efetivamente instrumentalizar-se no seu repertório de saberes, o qual poderá estar
auxiliando em ações concretas e conscientes do exercício da profissão. Para isso, a pesquisa
como aspecto formativo junto ao estágio proporciona essa aproximação entre os saberes e os
fazeres do pedagogo, aproximação consciente, rigorosa, profissional e competente.
Portanto, por mais tradicional e reiterativo que o professor seja, suas ações são
permeadas pelo processo de reflexão. Libâneo (2002) propõe duas vertentes: uma
caracterizada pelo professor crítico-reflexivo, que faz e pensa a relação teoria e prática,
mantém uma atitude e ação críticas de cunho emancipatório; a outra caracterizada pelo
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professor reflexivo (linear, dicotômica e pragmática), que faz e pensa entre a teoria e prática,
é agente numa realidade pronta e acabada e o processo de reflexividade é cognitivo e formal.
Como aponta Zeichner (1993), para que o professor mantenha uma atitude prática
reflexiva, oponente ao enfoque reiterativo, é necessário que seja agente ativo de seu próprio
desempenho e, principalmente, produtor de seus saberes, no sentido de que a reflexão sobre
sua experiência sirva de ponto de partida para um processo de auto-análise e [re]estruturação
da prática pedagógica no cotidiano escolar.
Assim, considera-se que a pesquisa como aspecto formativo indispensável à formação
do pedagogo contribui com a construção do repertório de saberes e de práticas que provém da
inter-relação do currículo do curso e das vivências na prática de ensino junto aos estágios. A
pesquisa, incorporada como cultura docente em ação preside as decisões individuais e
coletivas e permite lidar com as situações concretas, muitas vezes imprevisíveis, transitórias,
singulares, com que o professor se defronta no cotidiano da profissão.
Nessa perspectiva, a profissionalidade do pedagogo sedimenta-se na maneira de
ordenar, de organizar e implementar sua prática pedagógica, e os pressupostos para essa
prática encontram-se enraizados no seu reservatório de saberes que é constituído pela teoria,
pela prática, pelas ações testadas e comprovadas, bem como pelas inter-relações no que foi e o
que é vivido quanto aos processos formativos do ser professor(a) pedagogo(a).
Somente ser identificado como uma possibilidade de aproximação da realidade, não
constitui o estágio em apropriação prática. As pesquisadas, também retrataram que os alunos
por não fazerem parte da integralidade da realidade de estágio, se estabelecem ali por um
curto período de tempo, o que dificulta a conquista de um espaço considerável de autonomia.
Nesse sentido, pouco efetivam de prática, apesar de se aproximarem dela para realizarem
algumas atividades necessárias ao seu processo formativo.
Como afirma Pimenta (2001), é importante refletir sobre esse olhar transitório do
estagiário, desse olhar de alguém que está de fora e de passagem, alguém que é proveniente
de outro contexto e que não apresenta em sua bagagem de vida os condicionantes do
cotidiano daquela instituição. Apesar da transitoriedade do estágio, é possível analisar e
refletir o contexto e as práticas que lá acontecem “despido” de qualquer fator interveniente;
essas condições diferenciadas para refletir sobre a realidade contribuem para a formação do
professor.
É nesse trânsito entre o saber e o fazer que se constrói o saber fazer. É pela tessitura
das práticas de pesquisa que as diferentes teorias estudadas no curso de Pedagogia se
conjugam as diferentes atividades práticas realizadas nos contextos de estágio, assim como
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pela prática observada e/ou participada na instituição de ensino, que se torna possível
constituir-se profissional, tendo por base que o estágio curricular seja, efetivamente,
significativo para a formação inicial do pedagogo.
CONCLUSÕES
Conclui-se que o estágio como pesquisa e a pesquisa no estágio são apontados como
meio de intervenção na realidade; realidade entendida como campo de estágio ou, também,
contexto do curso de Pedagogia.
Os processos de pesquisa no estágio possibilitam, segundo Pimenta e Lima (2004), ao
aluno se aproximar mais da natureza científica da pesquisa; é uma outra relação com o campo
de trabalho, o que requer, tanto do professor formador como do futuro professor, nova postura
pela problematização da realidade. Nesse sentido, ambos deverão contextualizar a realidade,
verificar os pontos fortes e as fragilidades, questioná-la e buscar possíveis soluções e
explicações ancorados no seu repertório de saberes.
O estágio curricular integrado as disciplinas do curso de Pedagogia, tendo a pesquisa
como potencializadora de análise de dados, das fragilidades e das potencialidades de
identificação das teorias que são utilizadas pelos professores, bem como contextos de estágio,
possibilita o compartilhamento de idéias, ações coletivas e colaborativas sobre o que e como
fazer, articula a organização e a condução das práticas com critérios bem definidos para,
sobretudo, saber onde se quer chegar, por que, com quem, e como vai se fazer isso acontecer.
Por meio destes elementos, o estagiário poderá desenvolver projetos embasados em conceitos
teórico-práticos, porém, contextualizados com as necessidades identificadas em cada situação
que, para Pimenta e Lima (2004), “[...] o desafio é proceder ao intercâmbio, durante o
processo formativo, entre o que se teoriza e o que se pratica em ambas” (p. 57).
Como ator social, o pesquisador é fenômeno político, que, na sua pesquisa, se traduz,
sobretudo, pelos interesses que mobilizam os confrontos e pelos interesses aos quais serve
(PIMENTA, 2002). Portanto, a formação de qualidade do pedagogo ocorrerá na medida em
que os sujeitos envolvidos nos processos formativos sejam sujeitos ativos e reflexivos. Nesse
sentido, é imprescindível que os professores, assim como os futuros professores, estejam em
constante processo de pesquisa mediado pela ação-reflexão-ação, pois, nesse enfoque, estarão
se qualificando e capacitando para não só ensinar, como também e, principalmente, aprender
nos e com os contextos educacionais.
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Quanto à construção da identidade tendo por base a profissão docente, ressalta-se
que se inicia nos processos formativos vividos numa IES e, necessariamente, tem por
base as experiências vividas em estágio. Deste modo, os anos vivenciados na
universidade funcionam como período de preparação e iniciação à construção identitária
e da profissionalização do professor, que perpassa pela inter-relação ensino e pesquisa,
enquanto atividades inerentes à formação e, conseqüentemente, à atuação docente.
Portanto, cabe destacar o estágio como verdadeiro espaço de vivências e
aprendizagens necessárias à formação do pedagogo, assim como a indissociabilidade açãoreflexão-ação em coerência com os espaços institucionais formativos, que ao criar o hábito de
pesquisa com os alunos potencializam o ensinar e aprender por meio da problematização, da
reflexão, do posicionamento e da produção própria e/ou coletiva, tanto nas Instituições
formadoras de professores, quanto nos contextos de atuação desses futuros professores.
Acredita-se, sim, que a pesquisa é uma estratégia formativa importantíssima utilizada
para iniciar e dar continuidade à formação profissional de qualidade. Portanto, o ato de
pesquisar deve ser um exercício contínuo, tanto no professor como no aluno, tanto na IES
formadora de professores, como nos diferentes contextos educacionais.
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