DO MERCANTILISMO AO NEO-LIBERALISMO A partir da segunda metade do século XV, a burguesia, que havia nascido e crescido após o Renascimento comercial e urbano, sofreu dois abalos. A rota comercial estabelecida desde a época das Cruzadas se fazia através do Mediterrâneo até os portos de Constantinopla, Alexandria e outros menores, onde os produtos, trazidos do Oriente pelos árabes eram embarcados e iam para a burguesia européia. Nessa época, as cidades italianas de Veneza e Gênova firmaram um acordo de monopólio com os árabes, fechando o Mediterrâneo para o resto da Europa. Para piorar, em 1453, os turcos otomanos tomam Constantinopla, fechando o principal porto de ligação entre o oriente e o ocidente. Para resolver o problema a burguesia precisava de altos investimentos, que possibilitassem uma nova rota para o oriente, através do Atlântico. Nesse momento, o Estado era o único agente capaz de fazer esses investimentos. No entanto, o Estado nacional não era ainda uma realidade, estando as nações fragmentadas politicamente, com o poder dividido entre os nobres, senhores de terra. Inicia-se um movimento para recuperar o poder dos reis que, apoiados pela burguesia, e também pelos nobres, que precisavam de mais segurança, acabam assumindo o controle total dos territórios nacionais. Surge assim o Absolutismo. Nesse sistema o poder do rei é absoluto, ou seja, sua vontade é lei, e não há lei acima de sua vontade. Para justificar essa autoridade, a Igreja apela para a idéia da origem divina do poder (ver a escolha do rei Davi no Livro de Samuel). Assim, o poder do rei é explicado como se viesse de Deus. Também os privilégios dos nobres, a miséria dos pobres, etc, são explicados como resultado da vontade divina. No campo econômico, o rei coloca em prática sua política chamada de MERCANTILISMO, cujas características são: a) intervenção do Estado na Economia (o rei controla tudo o que é ligado à produção, comércio, preços, etc); b) metalismo (busca de ouro e prata para enriquecer os cofres da nação); c)superávit na balança comercial(saldo positivo na relação exportações/importações); d) protecionismo alfandegário (impostos e taxas sobre os produtos importados, para proteger os nacionais da concorrência); A burguesia, aparentemente prejudicada por tanta intervenção nos negócios, dá total apoio a essa política, pois, enfraquecida pela crise do Mediterrâneo, precisa de um Estado forte para fazer os investimento necessários às viagens marítimas. Assim, graças ao Estado Absoluto e à sua política econômica mercantilista, as viagens se realizam, chega-se às Índias, descobre-se a América, coloniza-se parte da África, exploram-se ouro, prata, pau-brasil, açúcar, tabaco, escravos. Tudo isso levou a um enriquecimento enorme da Europa e fortalecimento da burguesia. No século XVIII, começa a Revolução Industrial, com o aparecimento de máquinas (máquina de fiação, tear mecânico, motor a vapor), que transformam radicalmente o mundo da produção, enriquecendo ainda mais a burguesia e provocando, do outro lado, um aumento da miséria e da exploração do proletariado (trabalhadores que só possuem a força de trabalho para vender). A burguesia enriquecida agora pretende chegar ao poder e reclama do absolutismo dos reis e dos privilégios da nobreza. Para chegar ao poder, precisa de novas idéias, que substituam as idéias religiosas que justificavam o poder no antigo Regime. Essas idéias vêm com o Iluminismo, cuja principal noção foi o LIBERALISMO. O liberalismo, na política pregava uma outra teoria sobre a origem do poder: a) todos são livres e iguais por natureza, não havendo, em princípio, nenhuma lei nem diferenciação entre as pessoas; b) percebem que não podem viver junto sem regras, abdicam de parte de sua liberdade e criam as regras de comum acordo; c) escolhem alguém e lhe dão autoridade para garantir o cumprimento da lei e o bem de todos; d) se esse alguém se desviar desses propósitos, seu poder pode ser tirado, afinal foi o próprio povo que lho deu (Locke, Rousseau). No campo econômico, prega-se que o Estado não pode intervir na economia, pois ela se regula sozinha, através da lei da oferta e da procura. Os homens de negócio deveriam então ser livres para geri-los, sem interferência do Estado. Essas idéias alavancaram a Revolução Francesa, símbolo da mudança do Antigo Regime para o modelo capitalista liberal que prevaleceu no século XIX. Nessa Revolução, o povo foi convencido a lutar ao lado da burguesia para vencer os nobres. Os jacobinos, representantes das classes mais pobres, chegaram até a governar a França no período revolucionário. Os girondinos (burguesia), porém, logo tomaram conta da situação, implantando na França um regime que lhes era favorável. Esse regime foi comandado, primeiramente, por Napoleão Bonaparte, coroado imperador no final do séc. XVIII.(Obs.: Napoleão não se deixou ser coroado pelo bispo, como era praxe com os reis anteriores. Para simbolizar sua autonomia em relação à Igreja, tomou das mãos do bispo a coroa e coroou-se a si mesmo). O século XIX caracteriza-se pelo triunfo do modelo liberal em vários países da Europa. Dessa forma, o Estado vai cada vez mais deixando de intervir na economia, como prevê a tese de Adam Smith. Ocorre porém que, ao contrário do restante dessa previsão, a não intervenção do Estado em assuntos econômicos não produziu maior equilíbrio no mercado. Livres de regulamentações, grandes empresas começaram a eliminar a concorrência através da formação de Trustes e Cartéis. Dessa forma, foram se formando grandes monopólios, com empresas que controlavam várias atividades, desde, por exemplo, a extração do carvão para gerar energia, até a produção de matéria-prima, seu beneficiamento e distribuição, além de redes de transporte e bancos. Tais mega- empresas acabam exercendo grande influência sobre as decisões do Estado. Nesse século, países como a França e a Inglaterra começam a estabelecer colônias na Ásia e na África, o que ajuda a manter maior controle sobre os mercados mundiais. No final do século, a Itália e a Alemanha, que estavam atrasadas economicamente, finalmente conseguem sua unificação política, iniciando um desenvolvimento industrial mais agressivo. Começam a competir nos mercados internacionais com as tradicionais potências França e Inglaterra, o que gera sérios conflitos entre os dois grupos. Esses conflitos, agravados por outras questões, levarão a Europa à I Guerra Mundial. Após a guerra, a economia mundial fica arrasada. O símbolo dessa decadência é a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. Com a crise, a burguesia está novamente enfraquecida, ou seja, o setor produtivo está em falência. Quem aparece para reorganizar a economia, investir e gerar empregos? Novamente o Estado. Assim, os governos de Roosevelt, nos EUA, de Hitler na Alemanha e Vargas no Brasil, passam a estabelecer novamente um papel predominante do Estado na economia. No Brasil, o Estado assume a responsabilidade pelo desenvolvimento econômico, criando empresas para produção de aço e energia, etc. Os Estados começam a assumir também a tarefa de garantir o bem estar social da população, com a criação de sistemas de previdência, investimentos em educação, saúde, etc, o que na Europa, será conhecido como social-democracia. Porém, com o passar do tempo, os Estados começam a sentir o peso dessas responsabilidades, com o surgimento do déficit público, que começou a comprometer o gerenciamento das constas do Estado. Na década de 1980, sobretudo nos governos de Reagan (EUA) e Tatcher (Inglaterra), começa uma pressão para a diminuição do tamanho do Estado e dos gastos públicos, através de privatizações de empresas estatais e da redução dos gastos sociais dos governos. Essa tendência é conhecida como neoliberalismo. Significa um retorno às teses liberais que reinaram no século XIX, embora num contexto diferente. No Brasil, o neo-liberalismo ganhou força nos anos 1990, e se expressa nas privatizações e nas reformas que os governos têm feito ou pretendem fazer para diminuir o déficit público, o que implica, quase sempre, em diminuição dos gastos sociais. Fonte: Prof. José Francisco dos Santos Centro Universitário de Brusque - Curso de Administração