FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS EUROPEIAS França, Inglaterra, Portugal, Espanha só começaram a se consolidar a partir da Baixa Idade Média, paralelamente ao desenvolvimento do comércio e das cidades. Até então, nos diversos reinos formados na Europa com a desagregação do Império Romano do Ocidente, os reis exerciam, principalmente, funções militares e políticas. Sem cumprir atividades administrativas, o rei tinha seus poderes limitados pela ação da nobreza feudal, que, por também serem senhores de terra, controlava de fato o poder. Essa organização do poder é chamada monarquia feudal e sua principal característica era a fragmentação do poder. A partir do século XI, em algumas regiões da atual Europa as monarquias feudais iriam servir de base para a formação de governos centralizados: é o caso de Portugal, da França, da Inglaterra e de Castela (atual Espanha). Os reis começaram então a concentrar grandes poderes, em parte por causa do apoio e do dinheiro recebido dos burgueses. Ao longo do processo de centralização do poder, a aproximação entre o rei e a burguesia colocaria fim à fragmentação política. Entretanto, isso não significou a exclusão da nobreza feudal do poder. Ela se manteve ligada ao rei usufruindo de sua política e de privilégios. Além dos reis, ganharam importância nesse processo os burgueses, que se tornaram mais tarde o grupo social de maior poder político e, sobretudo, econômico. A FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS Durante quase toda a Idade Média não existiam países como os que conhecemos hoje. Assim, morar em Londres ou em Paris não significava morar na Inglaterra ou na França. As pessoas sentiam-se ligadas apenas a uma região, a um feudo (ou senhor) ou ao lugar onde nasceu. O processo de formação de monarquias com poder centralizado na Europa iniciou-se no século XI e consolidou-se entre os séculos XIV e XVI. Ao final de alguns séculos, esse processo deu origem a muitos dos países atuais da Europa, como França, Portugal e Espanha. Entretanto, ele não ocorreu ao mesmo tempo e da mesma maneira em todos os lugares do continente. Em regiões como a península Itálica e o norte da Europa nem chegou a se consolidar. Quase sempre estiveram envolvidos nesse processo de centralização do poder os mesmos grupos sociais: os reis, a burguesia e os nobres feudais. Cada um desses grupos era movido por interesses próprios. Muitas vezes, esses interesses eram convergentes; outras vezes, radicalmente opostos. Para a burguesia, novo grupo social que se formava, a descentralização política do feudalismo era inconveniente. Isso porque submetia os burgueses aos impostos e taxas cobrados pelos senhores e dificultava a atividade comercial pela ausência de uma moeda comum e de pesos e medidas padronizados. Essas circunstâncias acabaram aproximando os burgueses dos reis, interessados em concentrar o poder em suas mãos. Nessa aliança, a burguesia contribuía com dinheiro e o rei, com medidas administrativas que favoreciam o comércio. O dinheiro da burguesia facilitava aos reis a organização de um exército para impor sua autoridade à nobreza feudal. Essa mesma nobreza feudal, por sua vez, encontrava-se enfraquecida pelos gastos com as Cruzadas e tinha necessidade de um apoio forte, até mesmo para se defender das revoltas camponesas, que se intensificavam. Desse modo procurou apoio nos reis, apesar de muitas vezes se sentir prejudicada com a política da realeza em favor da burguesia, que colocava fim a vários dos privilégios feudais. Dividido entre a burguesia e a nobreza feudal, o rei serviu como uma espécie de mediador entre os interesses dos dois grupos. Ao final de um longo tempo, esse processo acabou possibilitando a formação de um poder centralizado e a consolidação de uma unidade territorial. Com isso, formaram-se em diversas regiões da Europa monarquias com poder centralizado, nas quais os reis detinham grande parte do poder. Assim, a monarquia centralizada foi a forma de governo sob a qual se organizou a Europa entre o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna. A MONARQUIA PORTUGUESA Portugal foi um dos primeiros países da Europa a consolidar um governo forte, centralizado na pessoa do rei. A formação da Monarquia portuguesa iniciou-se nas lutas dos cristãos pela expulsão dos árabes islâmicos que, desde o século VIII, ocupavam a península Ibérica. Essas lutas ficaram conhecidas como guerras de Reconquista. Durante o domínio árabe, os reinos cristãos ficaram restritos ao norte da península — como Navarra. A partir do século XI, pouco a pouco eles conseguiram ampliar seu território. Foram fundados, então, vários reinos, entre os quais Aragão, Leão, Castela. Com isso, os árabes começaram a recuar em direção ao litoral sul. Durante as guerras de Reconquista, destacou-se o nobre francês Henrique de Borgonha. Como recompensa, ele recebeu do rei de Leão e Castela, Afonso VI, a mão de sua filha e terras que constituíram o Condado Portucalense. O filho e herdeiro de Henrique de Borgonha, Afonso Henriques, proclamou-se então rei de Portugal em 1139, rompendo os laços com Leão e Castela. Tinha início, assim, a dinastia de Borgonha. Afonso Henriques, o Conquistador, estendeu seus domínios para o sul, até o rio Tejo, e fez de Lisboa sua capital. Em 1383, com a morte do último rei (sem herdeiros diretos) da dinastia de Borgonha, D. Fernando, o Formoso, a Coroa portuguesa ficou ameaçada de ser anexada pelo soberano de Castela, parente do rei morto. A burguesia, por sua vez, temia ver seus interesses comerciais prejudicados pelos nobres castelhanos. Para evitar a perda da independência, os portugueses aclamaram D. João, meio-irmão do rei morto, como novo rei. João, mestre da cidade de Avis, venceu a disputa e assumiu o trono em 1385. O apoio financeiro da burguesia foi decisivo nessa vitória. Assim, durante toda a dinastia de Avis, os reis favoreceram e apoiaram as atividades burguesas. A MONARQUIA ESPANHOLA A formação da Monarquia espanhola também esteve ligada às guerras de Reconquista da península Ibérica. Durante esse processo diversos reinos foram constituídos. Em 1469, o casamento de Fernando (herdeiro do trono de Aragão) com Isabel (irmã do rei de Leão e Castela) uniu três reinos. Era o primeiro passo para a formação da Espanha. Em 1492, os exércitos de Fernando e Isabel apoderaram-se de Granada e expulsaram os árabes da península Ibérica, consolidando a monarquia. No século XVI, com Carlos I, a Monarquia de Castela, atual Espanha, fortaleceu-se ainda mais. AS REBELIÕES CAMPONESAS Além das guerras internas e externas e dos interesses da burguesia, outro movimento contribuiu para o fortalecimento do poder dos reis: as revoltas camponesas. Essas revoltas eram consequência da fome, da miséria e da superexploração dos camponeses. Assustados com as rebeliões, os senhores feudais aceitavam a autoridade do rei, que, fortalecido, podia organizar exércitos para reprimir os numerosos movimentos de contestação. Os camponeses lutavam por melhores condições de vida. Não suportando mais as pesadas taxas exigidas pelos nobres, eles invadiam os castelos e saqueavam os depósitos de alimento. As revoltas não duraram muito tempo, pois foram reprimidas com violência pelos exércitos ligados ao rei. Mesmo assim, contribuíram para mostrar a insatisfação e a capacidade de luta dos camponeses.