Exmo Senhor Presidente do Tribunal da Relação do Porto, Dr. Gonçalo Xavier Silvano Exmo Senhor Presidente do Tribunal Central Administrativo do Norte, Dr. Lino Ribeiro Exmo Senhor Bastonário Dr. Augusto Lopes Cardoso Exmo Senhor Procurador da República, em representação do Sr. Procurador Geral Distrital, Dr. Vitor Manuel Almeida Guimarães Exma Senhora Governadora Civil do Porto, Drª Isabel Oneto Exmos Senhores Doutores João Vieira de Castro, e Manuel Veiga de Faria, anteriores Presidentes do Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados Exmo Senhor Dr. António Salazar, anterior Presidente do Conselho de Deontologia do Porto Exmº Senhor Presidente do Conselho de Deontologia do Porto, Dr. Gonçalo Gama Lobo Exmº Senhor Presidente da Fundação de Serralves, Dr. António Gomes de Pinho Exmª Senhora Directora Geral da Fundação de Serralves, Dra. Odete Patrício Ilustres Homenageados Estimados Colegas, Minhas Senhoras e meus senhores, 1 Este Conselho Distrital do Porto concretiza hoje, a 4 dias de um ano da sua tomada de posse uma sua intenção em passar a atribuir uma insígnia aos Colegas que façam 25 anos de inscrição na Ordem dos Advogados, e em atribuir uma medalha de reconhecimento a advogados, a outros juristas, a outras personalidades da cultura e do saber e a instituições que contribuem de forma significativa para a realização do Direito, da Justiça e da Advocacia. A vida portuguesa, o “mundo” judiciário e em particular a advocacia vive um momento sem tempo, anónimo e sem uma racionalidade afectiva, incapaz de reconhecer e actuar numa sociedade que se nos depara mais complexa e incompreensível, que radicaliza o pluralismo enquanto se exprime, por um lado, pela homogeneização de um mundo global e, por outro lado, pela multiculturalidade de sociedades abertas. A advocacia independente constituída no modelo liberal consubstancia-se hoje no exercício de uma advocacia de qualidade em que o horizonte é cada vez menos o limite da abertura que define e cada vez mais a abertura transnacional, multidisciplinar e de exercício de uma cidadania que está para além daquele modelo. Mas isso não significa, bem pelo contrário, que não reconheçamos e não actuemos em sinal contrário a uma modernidade e pós-modernidade, se não mesmo, como alguns autores referem, uma pós-pós modernidade que no movimento do progresso criou um mecanismo que gera no interior uma técnica, uma competição e um desejo sem um objectivo, sem um fim e sem um sujeito. Um mecanismo dialéctico que se reflecte no Direito, no declínio da lei, na ausência de adesão às normas, num Direito atomizado, elástico e de compreensão hiper-subjectiva do seu sentido. 2 Um mecanismo que é alimentado pela desconstrução dos Valores e um pragmatismo que não permite uma acção sólida e partilhada, uma acção que se exprima num projecto e um projecto que se enuncie e seja escalonado a partir do presente, sem fechar os olhos ao passado e inscrevendo-se no futuro. Neste pano de fundo uma instrumentalização do Direito pela acção política pragmática não poderia deixar de conduzir a uma produção legislativa incessante e incoerente, respondendo a uma agenda que não é do Direito, nem da Justiça, potenciando o discurso da fé, outrora a favor do sistema judiciário e hoje contra o mesmo sistema e os seus profissionais. Já não é apenas um problema de adesão à norma que as alterações constantes das normas jurídicas impedem, mas uma forma de legislar em que a transparência política, que é fundamental para a responsabilização do exercício do poder, está ausente, como ausente se encontra um desígnio, não em um qualquer colectivo abstractizante que as grandes narrativas históricas agora findas erigiram, mas no homem concreto. Ao fim de um ano de exercício deste Conselho Distrital podemos ter um melhor entendimento das grandes questões que se nos colocam e das pequenas misérias em que por vezes a Ordem se enreda. Importa uma reflexão sobre as questões éticas que se colocam hoje à advocacia e aos advogados, que deve ser prévia a uma discussão sobre os deveres deontológicos, mas também sobre a organização da Ordem dos Advogados. 3 Urge por parte da Ordem dos Advogados a apresentação de propostas legislativas e modelos legislativos alternativos. Urge, também, ainda por parte da Ordem dos Advogados um discurso racional, fundamentado e oportuno sobre os projectos-leis e uma apreciação crítica e igualmente oportuna sobre os diplomas legais. Impõe-se a criação de uma esfera de discurso institucional entre as diversas instituições representativas dos operadores judiciários “aberta e plural, sociologicamente compreendida como um forum de interacção dialógica e crítica de encontro e de confronto entre as mais diversas mundividências e concepções éticas e morais, no contexto da detecção, tematização e resolução dos problemas da comunidade”1, nomeadamente da Judicial. Permitam-me referir a este último propósito que nunca existiu tanta informação e tão pouca comunicação: o diálogo é cada vez mais inexistente; a construção de desígnios partilhados é hoje considerada um problema para a acção política e para o exercício de poder; a formação de vontades colectivas pelo respeito das diferenças e participação conjunta é entendido por muitos como uma fraqueza. A comunicação realiza-se em demasiados momentos por força de explosões emocionais e superficiais, sem pensamento e sem partilha crítica. Hoje a crítica e o discurso racional e afectivo é um bem escasso que deveremos alimentar e partilhar. Pensar bem e executar adequadamente é hoje fundamental. 1 Jónatas E. M. Machado, “Liberdade de Expressão”, p.268, Coimbra, 2002. 4 Como fundamental é reconhecer o caminho impar de alguns e celebrar a passagem dos Colegas que fazem 25 anos de inscrição na Ordem dos Advogados. Exmºs Senhores e Senhoras e Estimados Colegas, Permitam-me, por último, um especial agradecimento ao artista e amigo Armando Alves que mais uma vez criou um trabalho de grande beleza e que materializa a nossa intenção. Agradeço também à Fundação de Serralves a forma amiga, profissional e competente com que nos recebeu. Muito obrigado pela presença de todos que muito nos honra e estimula. Guilherme Figueiredo Presidente do Conselho Distrital do Porto 5