POTENCIAL DE CONSERVAÇÃO DE ÁGUA EM EDIFICAÇÕES ESCOLARES: Tecnologias Aplicáveis Juan DUARTE Gestor Ambiental pelo Vianna Júnior.– Juiz de Fora (MG) – Correio eletrônico: [email protected] Lia SALERMO Msc. Engenheira Civil pela UNICAMP - Juiz de Fora (MG) - Correio eletrônico: [email protected] RESUMO Para a avaliação do potencial de conservação de água nos edifícios, é necessário o conhecimento, entre outros aspectos, das características da edificação, dos sistemas hidráulicos prediais de água, das características dos usuários. Em uma edificação onde está alocada uma instituição de ensino não é diferente. Vários trabalhos desenvolvidos voltados para esta tipologia de edificação demonstram que elas possuem um grande potencial para a absorção dos conceitos e atividades desenvolvidas por um Programa de Uso Racional (PURA). Além de que, as Instituições de Ensino são locais de disseminação de conhecimento cuja amplitude de propagação das informações é progressiva. O presente trabalho apresenta a metodologia do PURA direcionada para as instituições de ensino, resultados de algumas aplicações, caracterização de tecnologias e patologias dos sistemas hidráulicos prediais, como também formas de incentivo à aplicação deste programa. Em destaque, é apresentado a potencialidade de aplicação do conteúdo desenvolvido durante o trabalho no Instituto Vianna Júnior. PALAVRAS-CHAVE: Conservação de água. Sustentabilidade ambiental. Instituições de Ensino. 1 INTRODUÇÃO O conceito enraizado de que a água é um recurso infinito tem sido amplamente criticado em todo o mundo. Previsões de aumento da escassez deste recurso são amplamente divulgadas na mídia e em material técnico-científico. No Brasil não é diferente, o país considerado rico em se tratando de recursos hídricos também possui áreas onde o acesso à água é restrito, se não inacessível, as quais tendem a se expandir. Estas áreas não se restringem apenas àquelas consideradas desprovidas de recursos hídricos, como por exemplo, os sertões do nordeste. Em contrapartida a esta situação, projetos de incentivo ao uso racional de água vêm se desenvolvendo em diferentes tipologias de edifícios, como indústrias, edifícios comerciais, instituições de ensino, entre outros. Estes projetos, na sua grande maioria, se restringem aos grandes centros urbanos, poucos são os exemplos aplicados fora destas áreas, dificultando, desta forma, a disseminação das idéias relacionadas a estes projetos. 1 A escolha do direcionamento deste trabalho para a análise das necessidades para a aplicação de Programas de Uso Racional de Água para Edificações Escolares vem confrontar a idéia de que esses programas são restritos às localidades onde o acesso ao insumo é difícil e o seu custo é elevado. Junta-se a isso a apresentação da proposta de que pequenas ações podem desencadear grandes resultados, ou seja, a aplicação de um programa de conservação de água não é calcado no emprego de tecnologias e análises que requeiram custos elevados, ou complexas. O Instituto Vianna Júnior, através da disciplina Conservação de Água em Meios Urbanos a qual está inserida na grade curricular do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, promove o entendimento da necessidade de aplicação de Programas de Conservação de Água (PCA), como gerador de benefícios para a saúde pública, para o saneamento ambiental e para a melhoria dos serviços públicos. Como, também, proporcionar ao corpo discente os subsídios básicos, como informações gerais sobre as condições atuais de utilização e metodologias aplicadas aos programas de conservação de água urbana, tendo como objetivo principal à capacitação dos mesmos para a elaboração e aplicação de planos de conservação do insumo. Desta forma, tanto as informações adquiridas através do desenvolvimento do presente projeto, pela disciplina supracitada e pela observação das condições de conservação e manutenção dos sistemas prediais hidráulicos do Instituto Vianna Júnior, desencadearam a motivação para a realização da proposta de aplicação de um Programa de Conservação de Água para o complexo de edifícios que compõem o Instituto. A evolução desta proposta gerou a sua introdução no Programa Vianna Sustentável, o qual visa a geração de atividades de gestão ambiental e sustentabilidade para a comunidade que o compõem, objetivando a conservação de diversos insumos, dentre os quais a água. 2 PROGRAMAS DE CONSERVAÇÃO DE ÁGUA A aplicação de Programas de Conservação de água em edificações educacionais vem sendo desenvolvida em vários países e se tornando cada dia mais necessária, pois o acesso aos recursos hídricos está cada vez mais custoso. Alguns autores apresentam a manutenção dos sistemas prediais de água como uma garantia na continuidade da redução de consumo obtida através dos Programas de Uso Racional de Água (PURA). Em edifícios públicos, a grande parte de perda de água ocorre devido a inexistência de uma manutenção eficaz e também pela falta de interesse do usuário para a sua conservação. Nesse sentido, Universidades e Institutos de Ensino e Pesquisa do país vêm desenvolvendo vários estudos e pesquisas referentes a gestão e conservação de água, onde segunda Ilha (1993) é grande a incidência de patologias nos sistemas hidráulicos que podem ser oriundos de falhas no processo execução, uso e manutenção do sistema. A Sabesp desenvolveu em conjunto com a Escola Politécnica de São Paulo um PURA em diversos tipos de edificação como escolas, edifícios de apartamentos, hospitais e obteve bons resultados, chegando ao índice de economia que variou entre 6% a 93% dependendo do tipo de edificação (SABESP, 2008) O abastecimento de água em escolas estaduais, representa para o governo estadual de São Paulo uma das suas maiores contas, e foi por isso que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp implementou um Programa de Uso Racional de Água nas escolas da região metropolitana de São Paulo. Esse projeto demonstrou a possibilidade de reduzir de forma expressiva a demanda e o consumo de água, mostrando que é viável financeiramente a implementação em âmbito regional, estadual e nacional deste tipo de programa. Destaca-se que a metodologia desenvolvida para a aplicação de Programas de Conservação de Água é calcada basicamente em três ações: tecnológicas, sociais e econômicas. O presente trabalho tem como foco principal as ações tecnológicas, como a implantação de aparelhos economizadores, ajustes e manutenção do sistema. Observa-se que as ações sociais e econômicas serão aplicadas em conjunto, a partir da implantação do projeto no Instituto Vianna Júnior. 2 A seguir são apresentados algumas resultados referentes à aplicação de PURA em instituições de ensino. 2.1 Exemplos de Aplicação de PURA em Instituições de Ensino 2.1.1 Redução de Consumo de Água com Substituição de Bacias Sanitárias (6 lpf) e Aparelhos em Escolas Municipais Ywashima (2005) apresenta os resultados referentes à realização de um PURA a partir de medições de consumo em banheiros femininos e masculinos de uma escola municipal, onde as ações foram divididas em: - instalação de sistemas de medição em sanitários pilotos; e - substituição dos seguintes aparelhos: • 9 torneiras convencionais por torneiras de fechamento automático; • 10 bacias sanitárias por bacias 6 lpf (litros por função); • 10 válvulas de descarga antigas por novas com acabamento antivandalismo; e • 3 registros de pressão por válvulas para mictório com fechamento automático. 3 2.1.2 PRÓ-Água UNICAMP Segundo Pedroso (2002) o projeto do PRO-ÁGUA/UNICAMP consistiu em um Programa de Uso Racional da Água (PURA), foi implementado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) gerando uma redução de consumo considerável e conseqüentemente grandes economias. Após a realização do conserto dos vazamentos encontrados, foi obtido significativas reduções no consumo de água (entre 4% e 77%). O programa teve como principal enfoque o intuito de evitar estas perdas, implantando um sistema de manutenção nos sistemas prediais de água, o que possibilita a permanência da economia adquirida, como também aumentá-la. Para isso foram contempladas ações de conserto de vazamentos nos sistemas prediais, troca de equipamentos, instalação de sistema de telemedição e gestão de perdas. O PURA no campus da UNICAMP foi aplicado em 228 edifícios, 20 unidades de ensino e contemplando uma população superior à 30.000 pessoas/dia. Durante o período de 1999 a 2002, foram implementadas as seguintes ações: Conserto de patologias: onde foram cadastrados 11.483 pontos de consumo, dos quais 1.263 pontos possuíam patologias; Instalação de dispositivos economizadores: foram instalados 2.409 componentes; Implantação de sistemas de medição remota. O consumo médio antes da implantação do programa era de 95.392m³/mês, passando para 78.851,43m³/mês. Esta implantação envolveu 72 edificações com redução do consumo de água de 24% e uma economia mensal apurada de R$ 240.000,00. Gonçalves (1995) destaca a necessidade de formação de parcerias, principalmente com entidades terceirizadas de serviços de saneamento básico e de centros de pesquisas, devido a complexidade de execução de programas de conservação de água, pois eles apresentam um importante desenvolvimento na aplicação de metodologias de conservação de águas em vários tipos de edifícios. Além disso, já existem concessionárias de água que estão implantando programas de conservação de água no país, como os realizados pela Companhia de Saneamento do Distrito Federal – CAESB e pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP (CAESB, 2000; SABESP, 2000, apud PEDROSO (2002). 3 OS SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS DE ÁGUA Os sistemas hidráulicos prediais são compostos por inúmeros equipamentos, tubulações, reservatórios, válvulas, sistemas elevatórios, entre outros. O conhecimento do seu funcionamento, forma de utilização, especificação de equipamentos, patologias mais recorrentes é de suma importância para a obtenção de resultados durante a aplicação de um Programa de Uso Racional de Água, independente da tipologia de edificação. Já em instituições de ensino, as características da edificação e de seus usuários são determinantes para análise deste sistema. A seguir são apresentadas algumas características do sistema hidráulico predial de água as quais servem de base para a aquisição e análise de dados para o programa. 3.1 Perda, Desperdício e Vazamentos Segundo Oliveira (1999) perda pode ser definida como a quantidade de água tratada que passa pelo sistema hidráulico, mas não é utilizada pelo usuário. Elas podem acontecer devido a vazamentos (tubos, conexões, reservatórios, etc.), inadequado desempenho do sistema, ou também por negligência do usuário (torneira não fechada completamente ou falta de manutenção) Desperdício se define pela água que está disponível para o uso, porém ela é perdida antes de ser utilizada para alguma finalidade. Dessa forma pode-se incluir a perda e o uso excessivo e irracional que pode ocorrer durante uma má utilização (lavar calçadas, banhos prolongados, entre outros). 4 Segundo a autora, os vazamentos podem ser classificados em duas categorias: Vazamentos visíveis que são aqueles de rápida identificação, pois são de fácil detecção do usuário, como os gotejamentos de torneiras. Vazamentos não visíveis que se manifestam de uma forma indireta e se torna de difícil percepção por parte do usuário. Ele pode aparecer na forma de manchas de umidade, entrada constante no reservatório, som de escoamento de água quando nenhum ponto está sendo usado, dentre outros. Para os tipos de vazamentos apresentados, podemos buscar formas de manutenção que evitem que eles aconteçam ou então que possa corrigi-los após seu aparecimento. 3.2 Tecnologias Economizadoras Indicadas para Instituições de Ensino Na aplicação de um Programa de Uso Racional da Água (PURA) devem ser contempladas ações tecnológicas poupadoras de água tanto nos sistemas prediais como também em outras ações intervenientes nos sistemas hidráulicos. Quando definido a metodologia a ser usada, devese escolher a que atenda melhor as condições da escola, avaliando qual projeto é mais viável e de melhor desempenho nas unidades integradas definindo um único padrão, para que seja aplicada em larga escala, conforme descreve Scherer e Gonçalves (2004) apud Oliveira (1999). Nessa fase, é realizada a análise e escolha das tecnologias poupadoras de água que serão usadas nas escolas, avaliando o desempenho dos equipamentos economizadores em relação às necessidades dos usuários e dos sistemas hidráulicos. Tais atividades possuem o objetivo de definir quais serão as melhores alternativas de acordo com a manutenção, investimento e durabilidade do material. As tecnologias economizadoras de água são de suma importância para a redução dos custos em uma edificação escolar, visto que a baixa qualidade dos materiais nos sistemas prediais, hidráulicos e sanitários favorece a uma rápida deterioração e gastos com manutenção constante. Como exemplo, podemos citar um trabalho de Implantação do Programa de Uso Racional da Água na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) através da Companhia de Saneamento Básico do Estado (SABESP) direcionadas às edificações públicas. A implantação desse trabalho contribuiu para a valorização da água e sua boa gestão. Foi feito um investimento em 50 Escolas da RMSP foi de R$ 800.000,00 dos quais R$ 600.000,00 vieram o Fundo Estadual de Recursos Hídricos – FEHIDRO e R$ 200.000,00 de investimentos da Sabesp. Porém, no início do projeto, as contas de água eram em média de R$ 504.040,93 sendo reduzidas para R$ 216.534,78, em média ao final do trabalho. A recuperação do capital investido se deu em um período inferior a 4 meses. A redução média do consumo chegou a 55% com a implantação das tecnologias economizadoras e com o conserto dos problemas de vazamentos e a manutenção das instalações hidráulicas. As tecnologias economizadoras aliadas à metodologia de Programa de Conservação de Água trazem resultados muitas vezes imediatos e, dependendo das características de manutenção predial, de longa duração. 3.3 A Instalação dos Equipamentos A instalação de equipamentos hidráulicos que reduz o consumo de água tem que ter a sua frente a conscientização da população quanto ao desperdício do recurso natural. A estimativa da Sabesp (2008) (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) é que os componentes e tecnologias economizadores podem resultar em até 20% no valor da conta de água, mas que a mudança de comportamento das pessoas também contribui para a redução. A redução do consumo desnecessário de água tem a sua atuação em duas frentes: Na atuação da divulgação de informações para a mudança da cultura de desperdício dos usuários; A apresentação da eficiência dos equipamentos economizadores na conta de cada mês. A seguir são apresentadas algumas tecnologias acessíveis em âmbito nacional e de simples instalação, cujo objetivo é a redução eficaz no consumo de água. 5 3.4 Tecnologias Economizadoras de Água 3.4.1 Bacia Sanitária Conforme apresentado por Ilha et al. (2002) apud Brasil 1998a e 1998b, o Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA) e o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), determinam que todas as bacias sanitárias, produzidas a partir de 2002, devem ter o volume de descarga de aproximadamente 6 litros por acionamento, independente do sistema em que elas forem adotadas. Aliada a isso, as indústrias de materiais sanitários vêem desenvolvendo tecnologias de fácil adaptação aos equipamentos já instalados, como por exemplo, o acabamento para válvula de descarga, o qual possui duas teclas que ao serem acionadas despejam diferentes volumes de água, um para limpeza parcial (líquidos) e outro para limpeza total (sólidos), racionalizando o consumo de água. (DOCOL, 2008). Figura 1: Acabamentos para válvula de descarga com acionamento seletivo 3.4.2 Regulador de vazão O restritor/regulador de vazão limita a quantidade de água das torneiras ou chuveiros e deve ser instalado de acordo com cada modelo, podendo gerar economia de até 35%. Vale ressaltar importância do acompanhamento de um técnico para efetuar a instalação devido à grande variação de "pressão" existente nos diferentes pontos de consumo. Figura 2: Reguladores/restritores 3.4.3 Aerador: Ele mistura o ar e a água, proporcionando conforto e economia de água, além de poder ser instalado em qualquer tipo de torneira. Também se pode usar o arejador de vazão constante, que mistura água com o ar e ainda limita a quantidade de água que sai pela torneira. Este modelo de arejador o Perlator Docol mistura água com ar e pode gerar uma economia de até 50%. Figura 3: Aerador 3.4.4 Torneira Hidromecânica A torneira hidromecânica é um produto de fácil instalação e pode ser usada em qualquer ambiente, principalmente em lugares com grande circulação de pessoas. A redução no consumo de água é de até 77%, pois possui restritor de fluxo de água e arejador que mistura a água com o ar. A torneira funciona com fechamento automático, o que proporciona maior higiene para o usuário. Figura 4: Torneira Hidromecânica (DOCOL, 2008) Essa torneira também podem ser constituída com sistema antivandalismo e arejador antivandalismo embutido, o que visa o conforto e a segurança de quem usa e adquire o produto. Esse tipo de torneira pode ser utilizada em banheiros públicos de diversos ambientes, tais como: escolas, restaurantes, bares, lanchonetes, hotéis, rodoviárias, aeroportos, entre outros 6 3.4.5 Torneira para Mictório Hidromecânica Seguindo o mesmo sistema de funcionamento da torneira hidromecânica, pode-se destacar, a torneira para mictório hidromecânica. O seu sistema é confeccionado para o controle higiênico e redução do consumo de água. Possuindo também, sistema antivandalismo para uso em locais públicos. Figura 5: Torneira Hidromecânica para Mictório 3.5 As Principais Patologias dos Sistemas Hidráulicos de Água Fria As instalações hidráulicas dos prédios são sistemas que quando comprometidos acarretam aborrecimento e custo para os usuários (mal cheiro recorrente, entupimentos freqüentes, transbordamentos, entre outros) podendo chegar a oferecer risco para a saúde, com a possibilidade de contaminação da água potável. Devido a esses e outros fatores, a prevenção de falhas e adoção de medidas para evitar erros de projeto, passam a ser de grande importância para a conservação de água predial evitando o surgimento de patologias que possam surgir futuramente nas edificações. No Brasil, existem poucas pesquisas na área de patologias nos sistemas prediais hidráulicos, por demandar longos períodos de análises e um gasto relativamente alto para os ensaios, simulações e testes. Mas é importante que seja feito o estudo das patologias, para que se possa atuar preventivamente, principalmente quando há falhas no processo de produção nos projetos de engenharia. 3.5.1 Principais causas de patologias em sistemas prediais de água fria Martins (2003), avaliaram o desempenho das edificações que tiveram sua construção nos anos 70 e foram feitas em diversos países com boa tradição em construções, e resaltam a origem das respectivas e principais falhas: Romênia Dinamarca Projeto Execução Alemanha Materiais Uso Grã-Betanha Diversos Bélgica 0 10 20 30 40 50 Figura 6: Origem percentual de falhas em edificações Este gráfico mostra que as principais patologias ocorrem durante a ocupação, ou seja, elas são inerentes à própria edificação, pode-se observar que as falhas de projetos representam entre 7 36% e 49% das causas patologias, 19% a 30% são falhas de execução, 11% a 25% são dos componentes instalados e apenas entre 9% e 11% são oriundas da má utilização de seus usuários. Mas as patologias podem acontecer também por falhas na produção do projeto como cita Fabrício e Melhado (2002) podendo vir de falhas de comunicação entre os projetistas ou ocorrer devido à inexistência de coordenação ou compatibilização dos materiais usados na edificação (vedações, circulação horizontal e vertical, etc.). 4 PROJETOS DE INCENTIVO AOS PROGRAMAS DE CONSERVAÇÃO DE ÁGUA Os Programas de Conservação de Água (PCA) são em sua maioria projetos que visam reduzir o volume de água gasto e tendo como conseqüência a redução nas contas mensais, o que é um grande incentivo para a sua aplicação nas diversas modalidades de construções e suas aplicações. O projeto implantado na USP (Universidade de São Paulo) teve como capital de investimento cerca de R$ 11 milhões durante um período de 10 anos. Em contrapartida a economia obtida foi de aproximadamente R$ 115 milhões, ou seja, a dez anos quando o PURA começou a Universidade tinha um gasto mensal de 140 mil m³ por mês e hoje em dia, mesmo com o aumento do numero de professores e de alunos no campus o gasto mensal gira em torno de 80 mil m³. 4.1 O ICMS Ecológico O ICMS Ecológico se tornou uma importante fonte de incentivo e vem representando um grande avanço no modelo de gestão ambiental no Brasil, foi pioneiro no estado do Paraná no ano de 1991 e depois disso foi implantado em outros 9 estados. Através do artigo 158 da Constituição Federal foi permitido aos estados a definição de sua legislação e de como gerir os repasses de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, fazendo de uma de suas utilizações o ICMS Ecológico que é focado nos temas ambientais. O Estado do Tocantins, através da Lei 1.323 de 4 de abril de 2002, passou a adotar o ICMS Ecológico para a utilização orçamentária na Politíca Municipal do Meio Ambiente e da Agenda 21 local, que dentre outros meios de promoção atingem a conservação da água em âmbito estadual, o que apresenta a necessidade de adoção de medidas que busquem incentivos à redução de consumo, já que na grande maioria dos estados brasileiros o imposto é voltado para conservação e manejo dos solos, destinação de lixos e para unidades de conservação. 4.2 LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) A U.S. Green Building Council é uma organização com sede nos Estados Unidos e que não possui fins lucrativos. Ela possui reconhecimento internacional pela consolidação do sistema de classificação (LEED) que certifica as edificações ambientalmente sustentáveis. No Brasil essa certificação é conhecida como Green Building. A Green Building foi criada na década de 1970 por arquitetos e ecologistas, e traz na “construção verde” um projeto que utiliza o mínimo possível de água e energia, dando prioridade à utilização de materiais que não poluam o meio ambiente durante sua produção, uso e manutenção. Isso inclui desde projeto e sua condução até a construção dos edifícios, de tal forma a reduzir ao máximo os impactos sócio-ambientais produzidos pela construção de novas edificações ou de edifícios já existentes. Para se conseguir o selo de construção sustentável é preciso seguir os critérios estipulados pelo LEED, que são divididos em cinco grandes áreas: Desenvolvimento local sustentável; Seleção de materiais; Uso racional da água; Qualidade ambiental interna. Eficiência energética; 8 5 PROPOSTA DE PURA NO INSTITUTO VIANNA JÚNIOR Através de um pré-levantamento realizado nas dependências do Instituto Vianna Júnior, foi verificada a necessidade de aplicação de um Programa de Uso Racional de Água no edifício. Sendo observada a possibilidade de instalação de quatro hidrômetros para a averiguação do consumo atual e após as intervenções. A tabela 1 apresenta a distribuição dos aparelhos quanto às possibilidades de intervenções tecnológicas destinadas à obtenção de economia de água. Tabela3: Distribuição de aparelhos quanto às intervenções Com aspectos economizadores Sem aspectos economizadores Baixa possibilidade de intervenção Bacia Sanitária 6 23 1 Lavatório Mictório Total 16 7 - 0 6 - 22 36 1 Inicialmente foi identificada a possibilidade de adequação às tecnologias economizadoras de 61% dos aparelhos como bacias sanitárias, lavatórios e mictórios, presentes na edificação. Figura 7: Alunos do Curso de Gestão Ambiental executando levantamento de vazamento em banheiro do Insituto Vianna Júnior Figura 8: Registro de gaveta com vazamento visível na haste. Figura 9: Lavatórios com possibilidade de substituição de torneiras por economizadoras (hidromecânicas). Figura 10: Mictório tipo calha com possibilidade de substituição por individual com torneira para mictório hidromecânica (em destaque registro de gaveta com abertura plena durante funcionamento). 9 Figura 11: Vazamento em bacia sanitária por meio de filete visível. Figura 12: Mictório Individual com possibilidade de substituição de registro por torneira para mictório hidromecânica (em destaque registro de gaveta com abertura plena durante funcionamento). CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a ampla variedade de produtos e tecnologias oferecidas pelo mercado e de forma acessível, a sustentabilidade na área dos sistemas hidráulicos prediais de água fria se torna cada vez mais palpável para os padrões de construção atual. O maior empecilho para que isso ocorra atualmente, é que nas empresas e instituições de ensino existe a falta do hábito de implantação características que induzam à economia de água. As tecnologias economizadoras por si só geram resultados restritos, há a necessidade de se desenvolver na população a consciência do uso racional da água. A implantação do projeto no Instituto Vianna Júnior e a análise de seus impactos devem ser abordadas de forma sistêmica considerando-se todas as variáveis envolvidas e como elas interagem. Vale ressaltar que um programa de uso racional da água se faz com muito mais que a simples substituição de equipamentos e a correção de vazamentos, se faz em caráter permanente, com a gestão contínua da demanda de água e, principalmente, com a mudança de comportamento dos usuários, tornando-se estes cada vez mais conscientes e pró-ativos. A aplicação de Programas de Uso Racional de Água em instituições de ensino aplicados no território Brasileiro, apresentados neste trabalho, mostrou-se eficazes, como também indicam o grande potencial destas edificações para resultados expressivos em relação à conservação de água. O custo de implantação de PURA aplicados em instituições de ensino são rapidamente recuperados, e sua relação custo x benefício mostrou-se vantajosa, em amplos aspectos. A tendência mundial é a execução de obras que possuam características ambientais corretas, como é exemplificado pela descrição da Certificação LEED, como também, edificações já estruturadas (construídas), também possuem um leque enorme para absorção destes conceitos. A pesquisa desenvolvida durante este trabalho comprovou a necessidade de implementação de novos sistemas e ações tecnológicas na otimização do uso da água que visem sanar o problema do desperdício em edificações que abrigam instituições de ensino. REFERÊNCIAS: FABRÍCIO, M.M.; MELHADO, S. B. Por um processo de projeto simultâneo. In: II Workshop Nacional: Gestão do processo de projeto de construção de edifícios, 2002. Porto Alegre. Anais, PUC/RS – UFSM – EESC/USP, 2002. CD-ROM (publicação e apresentação do artigo). ILHA, M.S.O. Qualidade dos Sistemas Hidráulicos Prediais. Campinas, São Paulo, 1993. 10 ______; et al . Water conservation program at the State University of Campinas. In: CIB – W62 – WATER SUPPLY AND DRAINAGE FOR BUILDINGS, 28., 2002, Romênia. Proceedings… Romênia: CIB W62, 2002, 10p. LEED. Desenvolvido pela Cushmake. Disponível em <http://www.cushwake.com.br/responsabilidade_social/green_building.php>. Acesso em 05/05/2008. SABESP. Desenvolvido pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.sabesp.com.br.> Acesso em: 19 de abril de 2008 PEDROSO, L. P. Subsídios para a implementação de sistema de manutenção em campus universitário, com ênfase em conservação de água. 2002. 168 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, 2002. PNCDA, Desenvolvido pelo Ministério das Cidades. Disponível em <http://www2.cidades.gov.br/pncda> Acesso: 09 de maio de 2008. OLIVEIRA, L.H. Metodologia Para Implantação de Programa de Uso Racional da Água em Edifícios. EPUSP. São Paulo, 1999 (Tese de Doutorado). SCHERER, F.A.; GONÇALVES, O.M. Uso Racional da Água em Escolas Públicas: diretrizes para secretarias de educação. São Paulo, São Paulo, 2004. DOCOL, Desenvolvido pela Indústria Docol. Disponível em <www.docol.com.br>. Acesso: 04 de abril de 2008. YWASHIMA, Laís Aparecida. Avaliação do uso de água em edifícios escolares públicos e análise de viabilidade econômica da instalação de tecnologias economizadoras nos pontos de consumo. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Campinas, 2005. 11