XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE OS EFEITOS ESPACIAIS NA PRODUTIVIDADE DA CANA-DE-AÇÚCAR NO PARANÁ MARIA ANDRADE PINHEIRO (1) ; JOSÉ LUIZ PARRÉ (2) . 1.UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ/ FACULDADE DO NORTE PIONEIRO, MARINGÁ, PR, BRASIL; 2.UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGÁ, PR, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL COMERCIALIZAÇÃO, MERCADOS E PREÇOS AGRÍCOLAS Um estudo exploratório sobre os efeitos espaciais na produtividade da cana-de-açúcar no Paraná Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas Resumo O presente trabalho tem por objetivo estudar o processo de distribuição espacial da produção de cana-de-açúcar utilizando técnicas da econometria espacial no Estado do Paraná entre os anos de 1990 a 2005. Para tanto utiliza-se dados da produtividade da cana. Os resultados encontrados indicam que existe autocorrelação espacial positiva entre as microrregiões do estado e que o Norte do Paraná é o principal região produtora de cana, por causa de fatores edafoclimáticos e a proximidade com São Paulo, principal produtor e processador de cana. Palavras-chaves: econometria espacial, autocorrelação espacial, cana-de-açúcar Abstract The main propose of this paper is study the process of space distribution of the sugar cane production being used techniques of spatial econometric in the Parana’s State between 1990 and 2005. For in such a way it is used given of the productivity of the sugar cane. The results showed that exist positive space dependence enter the microregions of the state and that the Parana’s North is the main producer of sugar cane, because of climate, ground, 1 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" temperature factors and the proximity with São Paulo, main producer and processor of sugar cane. Key Words: spatial econometric, space dependence, sugar cane 1. Introdução O Paraná até a década de 70 não se despontava como um produtor de cana-deaçúcar e derivados no mercado nacional. Segundo Shikida (2005), o Estado produzia açúcar para o abastecimento do Estado e em muitas vezes nem conseguia suprir. O capital utilizado era bem inferior ao empregado nas outras regiões de maior destaque. Em 1980, com o Proálcool (Programa Nacional do Álcool) a agroindústria canavieira experimentou uma fase de investimentos. Segundo Marchall (2005), o programa e os investimentos objetivavam o desenvolvimento do álcool combustível, possível substituto do petróleo em parte da matriz de transporte nacional. Na década de 90, o estado deixou de ser intervencionista no setor, devido a recuperação do mercado internacional de açúcar e petróleo e também, pelo fato do estado brasileiro estar em forte crise fiscal. A partir desse fato, os donos de usinas se viram obrigados a realizarem investimentos e ações para a sobrevivência no mercado. A agroindústria do Paraná apresentou uma importante evolução e a produção de cana do estado tem acompanhado o desenvolvimento da industria sucroalcooleira, mediante investimentos na área plantada e na quantidade produzida, além da elevação da produtividade e da melhoria da qualidade da matéria prima. Os resultados dos investimentos realizados no setor ficam evidentes quando se analisa o comportamento e a crescente participação do Estado na área plantada e na quantidade produzida em relação ao total nacional. Em 1990, o Paraná ocupava a 5º posição com 4,5% da quantidade produzida de cana do país ficando atrás de São Paulo (52,5%), Alagoas (10%), Pernambuco (8,7%) e Minas Gerais (6,7%). No ano de 2005, o Estado passa a ocupar a segunda posição com 7,02% da quantidade produzida ficando atrás apenas de São Paulo (52,5%). Considerando a área plantada o Paraná em 1990 ocupava a sétima posição com 3,68% de toda a área plantada no país, ficando atrás de São Paulo (41,9%), Alagoas (13%), Pernambuco (11%), Minas Gerais (7%), Rio de Janeiro (4,8%) e Paraíba (3,7%). No ano de 2005, o Estado passa a ocupar a terceira posição atrás apenas de São Paulo (53%) e Alagoas (7%). Considerando a evolução da produção de cana-de-açúcar do Paraná este trabalho pretende estudar o processo de distribuição espacial da produtividade média da cana nas microrregiões do Estado no período de 1990 a 2005 utilizando técnicas de econometria espacial. Especificamente, pretende-se verificar, mediante a produtividade média o comportamento espacial da cana-de-açúcar. Este trabalho está dividido em quatro seções, incluindo a introdução. A próxima seção apresenta a metodologia utilizada, a terceira descreve sobre os resultados e na última são apresentadas as considerações finais do trabalho. 2 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 2. Metodologia O estudo da econometria espacial cada vez mais vem conquistando espaço na literatura econômica. Segundo Figueiredo (2002), este fato tem ocorrido por causa da constatação de que na maioria dos casos de dados de corte seccional, existem autocorrelação espacial, e também porque, existem efeitos de interdependência nas diferentes regiões, principalmente, quanto mais próxima uma região for da outra. A econometria espacial considera dois efeitos espaciais na sua estimação, o primeiro é a dependência espacial ou autocorrelação espacial e o segundo a heterogeneidade espacial. Segundo Anselin (1988), esses dois efeitos costumam ser ignorados na literatura econométrica tradicional, muito provavelmente, pela ênfase dada os fenômenos dinâmicos e os dados de série de tempo. A dependência espacial, segundo Almeida (2004), é dada pela interação dos agentes nos espaço, ou seja, o valor de uma variável de interesse numa certa região i depende do valor dessa variável nas regiões vizinhas j. A inserção da localização no estudo é importante, pois quando este não é inserido os resultados proporcionados pela econometria convencional podem se tornar inválidos. A inserção de técnicas espaciais incorpora na modelagem o padrão da interação sócio-econômica entre os agentes do sistema, bem como as características da estrutura desse sistema no espaço. A heterogeneidade espacial manifesta-se quando ocorre a instabilidade estrutural no espaço. Dessa forma, há diferentes respostas dependendo da localidade ou da escala espacial. A heterogeneidade espacial ocorre na situação em que os coeficientes ou os padrões do erro variam sistematicamente através das áreas geográficas. Conforme destacado por Almeida (2004), nos processos espaciais existe um imbricamento entre os dois efeitos, pois a heterogeneidade espacial gera dependência espacial e, por sua vez, a dependência espacial pode levar a heterogeneidade. 2.1 Análise Explanatória dos Dados Espaciais A análise explanatória de dados espaciais (AEDE), segundo Almeida, Perobelli e Ferreira (2005), está baseada nos aspectos espaciais contidos na base dos dados, assim, considera a dependência espacial e a heterogeneidade espacial. O objetivo deste método é descrever a distribuição espacial, os padrões de associação espacial (cluster espaciais), verificar a presença de diferentes regimes espaciais ou outras formas de instabilidade espacial (não estacionariedade) e identificar outliers. É importante ressaltar, segundo Almeida (2004), que essa análise é mais apropriada na investigação de variáveis espacialmente densas ou intensivas, ou seja, variáveis que são divididas por algum indicador de intensidade (variáveis per capita, ou por área, ou ainda, as divididas pela quantidade de capital ou trabalho). O autor destaca que essa análise é mais apropriada para investigar variáveis espacialmente densas ou intensivas, isto é, variáveis que são divididas por algum indicador de intensidade (variáveis per capita, ou por área, ou variáveis divididas pela quantidade de trabalho ou de capital). A relevância é que essas variáveis estariam levando em conta as externalidades relevantes na consideração do fenômeno estudado (efeitos de aglomeração, de vizinhança e/ou congestão). 3 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A partir da AEDE é possível extrair medidas de autocorrelação espacial global e local, investigando a influência dos efeitos espaciais por intermédio de métodos quantitativos. 2.1.1 Autocorrelação espacial global O estudo da AEDE tem como primeiro passo verificar a aleatoriedade dos dados espaciais, significando que os valores do atributo numa região não dependem dos valores desse atributo nas regiões vizinhas. Segundo Almeida (2004) na literatura existe um conjunto de estatísticas que investigam a presença da autocorrelação espacial, isto é, se existe a coincidência da similaridade de valores de uma variável com a similaridade da localização dessa variável. Uma estatística utilizada para o cálculo da autocorrelação espacial é a estatística I de Moran. Conforme Perobelli et. al (2005), através dela, obtêm-se a indicação formal do grau de associação linear entre os vetores de valores observados no tempo t (zt) e a média ponderada dos valores da vizinhança, ou defasagens espaciais (Wzt). Os valores de I maiores (ou menores) do que o valor esperado E(I) = -1/(n-1) significa que há autocorrelação positiva (ou negativa). De acordo com Almeida, Perobelli e Ferreira (2005), a autocorrelação espacial positiva revela que existe uma similaridade entre os valores da variável estudada e da localização espacial dessa. A autocorrelação espacial negativa revela, por sua vez, que existe uma dissimilaridade entre os valores da variável considerada e a sua localização espacial. A estatística I de Moran pode ser expressa como: z t'Wz t n It = ' z t z t , t= 1,...,n S o (1) em que, zt é o vetor de n observações para o ano t na forma de desvio em relação à média. W é a matriz de pesos espaciais: os elementos wii na diagonal são iguais a zero, enquanto que os elementos wij indicam a forma como a região i está espacialmente ligada com a região j. O termo So é um escalar igual a soma de todos os elementos de W. A normalização das linhas da matriz de pesos espaciais, ou seja, quando os elementos de cada linha somam 1, altera a expressão (7) para a seguinte forma: z t' Wz t It = ' z t z t , t = 1,...,n (2) Deve-se destacar que a estatística I de Moran é uma medida global, portanto não é possível observar a estrutura de correlação espacial em nível regional. A indicação de padrões globais de associação espacial pode estar em conformidade com padrões locais, embora não seja necessariamente o caso que prevalece. De acordo com Almeida (2004) existem dois casos distintos, o primeiro ocorre quando a indicação de ausência de autocorrelação global oculta padrões de associação local e o outro ocorre 4 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" quando uma forte indicação de autocorrelação global camufla padrões de associação local (cluster ou outliers espaciais). Esta estatística não tem a capacidade de identificar a presença de autocorrelação local que sejam estatisticamente significantes, desta forma, utilizam-se estatística de autocorrelação espacial local. 2.1.1.1 Digramas de Dispersão de Moran O diagrama de dispersão de Moran, segundo Almeida et. al (2006), é uma das formas de interpretar a estatística I de Moran. Através da representação do coeficiente de regressão é possível visualizar a correlação linear entre z e Wz1 no gráfico que considera duas variáveis. No caso específico da estatística I de Moran tem-se o gráfico de Wz e z. Portanto, o coeficiente I de Moran é dado pela inclinação da curva de regressão de Wz contra z e esta apresentará o grau de ajustamento. Isto significa que o digrama de dispersão de Moran, segundo Monasterio e Ávila (2004), apresenta o valor padronizado de uma variável para cada uma das unidades nas abscissas e, no eixo das ordenadas, a média do valor padronizado da mesma variável para os vizinhos desta unidade. Este diagrama, de acordo com Almeida (2004), é divido em quatro quadrantes. Estes quadrantes correspondem a quatro padrões de associação local espacial entre as regiões e seus vizinhos. Figura 1 – Mapa de dispersão de Moran2 AB AA BB BA Fonte: elaborado pelos autores. O primeiro quadrante (localizado na parte superior direita) mostra as regiões que apresentam altos valores para a variável em análise cercada por regiões que também apresentam valores acima da média para a variável em análise. Este quadrante é classificado como alto-alto (AA). O segundo quadrante (localizado na parte superior esquerda) mostra as regiões com valores baixos cercados por vizinhos que apresentam valores altos. Este quadrante é geralmente classificado como baixo-alto (BA). 1 2 O Wz é o termo z defasado espacialmente. O eixo y refere-se ao valor espacialmente defasado da variável e o eixo x ao valor assumido pela variável. 5 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" O terceiro quadrante (localizado no canto inferior esquerdo) é constituído pelas regiões com valores baixos para as variáveis em análise cercados por regiões com baixos valores. Este quadrante é classificado como baixo-baixo (BB). O quarto quadrante (localizado no canto inferior direito) é formado pelas regiões com altos valores para as variáveis em análise cercados por regiões de baixos valores. Este quadrante é classificado como alto-baixo (AB). As regiões que estão localizadas nos quadrantes AA e BB apresentam autocorrelação espacial positiva, ou seja, estas regiões apresentam auto (baixo) valores de uma variável rodeados por alto (baixo) valores. Por outro lado, os quadrantes BA e AB apresentam autocorrelação espacial negativa, ou seja, estas regiões apresentam alto (baixo) valores rodeados por baixo (alto) valores. Um problema apresentado pelo diagrama de dispersão é o fato dele exibir grupos de autocorrelação espacial tanto estatisticamente significativos quanto não. Entretanto, como destaca Almeida (2004), não há sentido levar em conta na análise de grupos os que não sejam estatisticamente significantes. 2.1.2 Autocorrelação Espacial Local O I de Moran global, segundo Perobelli et. al (2005) pode esconder padrões locais de autocorrelação espacial, sendo possível ocorrer três situações distintas. A primeira envolve a indicação de um I de Moran global insignificante, podendo ocorrer indicações de autocorrelação espacial insignificante. A segunda implica um I de Moran global, que oculta autocorrelação espacial local negativa e insignificante. A terceira indica que a evidência de uma autocorrelação espacial global negativa pode acomodar indícios de autocorrelação espacial local positiva para certos grupos de dados. Por isso é importante avaliar o padrão local de autocorrelação espacial a fim de obter um maior detalhamento. Anselin em 1995 sugere um novo indicador que tem a capacidade de observar os padrões locais de associação linear que é estatisticamente significante. De acordo com Almeida (2005), o indicador de I de Moran local faz a decomposição do indicador global de autocorrelação na contribuição local de cada observação em quatro categorias, cada uma individualmente correspondendo a um quadrante no diagrama de dispersão de Moran. A estatística I de Moran local pode ser obtida pela seguinte fórmula: ( yi Ii = − y )∑ wij ( y j − y ) ∑ (y j − y) / n 2 i (3) i Sob o pressuposto da aleatoriedade, o valor esperado da estatística I de Moran local é dado por: E (Ii) = -wi/(n-1), em que wi é a soma dos elementos da linha. Conforme Perobelli et. al (2005) para se observar a existência de clusters espaciais locais (valores altos e baixos e verificar quais as regiões que mais contribuem para a existência de autocorrelação espacial) deve-se implementar as medidas de autocorrelação espacial local mediante a estatística LISA (Local Indicator of Spatial Association). A combinação das informações do I de Moran e do mapa de significância das medidas de associação local gera o mapa de clusters. 6 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 2.2 Descrição das variáveis e fonte dos dados O cálculo da produtividade média foi realizado mediante os dados referente a área plantada e a quantidade produzida de cana-de-açúcar para as 39 microrregiões do Estado do Paraná, no período de 1990 a 2005, obtidos na Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) do IBGE. Segundo Almeida et al. (2006), a produtividade média tem caráter parcial e é obtida pela divisão da quantidade produzida pela área plantada. A variável produtividade dessa maneira torna-se uma variável de intensidade, isto porque, as variáveis absolutas ou extensivas podem levar a equívocos na interpretação dos resultados, pois costumam estar relacionadas ao tamanho da população ou a área das regiões em estudo. 3. Resultados A distribuição da produtividade média da cana-de-açúcar no período de 1990 a 2005 não está distribuída de forma homogênea entre as microrregiões no estado do Paraná. O Mapa 1, apresenta os dados da produtividade média considerando as regiões outliers (box map). Uma observação é determinada como outilier quando não segue o mesmo padrão de dependência espacial como a maioria das outras observações. Os outiliers podem exercer uma influência espúria sobre a medida global de autocorrelação espacial. Segundo Almeida (2004) existem outiliers de duas naturezas: outilier global e outilier espacial. O global pode ser definido como uma observação que foge muito das outras restantes tanto para cima como para baixo. O espacial é definido como o que apresenta uma associação espacial extrema e são definidos em termos das observações vizinhas. Como pode ser observado, mediante os mapas, nenhuma microrregião do estado se apresenta como outilier nem superior e nem inferior. Mas é possível verificar que existe uma concentração de valores de produtividade maior no norte do estado e de valores de produtividade menor no centro-leste. Mapa 1 – Produtividade média da cana no Paraná 1995 1990 7 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 2000 2005 Outlier baixo > 25% 25% - 50% 50% - 75% < 75% Outlier alto Fonte: elaborado pelos autores. Além da visualização dos mapas, para haver uma maior confirmação dos dados é necessário um acompanhamento com testes sobre a hipótese de aleatoriedade espacial, ou seja, verificar a tendência geral de agrupamento dos dados. O diagrama de dispersão de Moran fornece várias informações sobre o grau de dependência espacial do fenômeno estudado. Conforme, Almeida (2004) os valores que excedem o I de Moran calculado indicam que existe autocorrelação espacial positiva e os valores abaixo do valor esperado indicam uma autocorrelação negativa. O I de Moran esperado é -0,026, em que os valores acima desse valor indicam autocorrelação espacial positiva e os valores abaixo indicam autocorrelação espacial negativa. A Tabela 1 indica os valores do I de Moran para a produtividade da cana nos anos de 1990, 1995, 2000 e 2005. Como pode ser verificado, existe uma autocorrelação espacial global positiva entre as regiões, pois em todos os anos o valor calculado foi superior ao valor esperado. Isto significa que as microrregiões com alta (baixa) produtividade média da cana são rodeadas por microrregiões que possuem alta (baixa) produtividade. Tabela 1 – Coeficiente de I de Moran para a produtividade média da cana no Paraná Ano I Probabilidade 1990 0,7638 0,001 1995 0,8099 0,001 2000 0,5830 0,001 2005 0,7074 0,001 Fonte: elaboração dos autores. Nota: a pseudo-significância empírica é baseada em 999 permutações aleatórias. 8 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" O estudo do I de Moran é importante, mas é necessário a utilização de outras ferramentas, para não induzir a erros e confirmar os resultados encontrados. O diagrama de dispersão de Moran tem essa finalidade e divide as observações em quadrantes conforme a distribuição da produtividade entre as microrregiões. A Figura 2 apresenta o diagrama para os anos 1990, 1995, 2000 e 2005. Os valores apresentados na tabela 1 e a dispersão das microrregiões no gráfico enfatizam a existência de autocorrelação espacial positiva para a produtividade da cana. Em todos os gráficos, os pontos que representam as microrregiões se concentram no primeiro e no terceiro quadrante. Figura 2 – Diagrama de Dispersão de Moran para a produtividade média da cana no Paraná 9 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Fonte: elaboração dos autores. Deve-se considerar que o coeficiente de autocorrelação espacial global pode ocultar padrões locais de autocorrelação espacial, este pode não mostrar a incerteza estatística dos valores da microrregião em certo agrupamento. Desta forma, faz-se necessário o cálculo do índice I de Moran local, que se dá mediante o mapa de clusters. O Mapa 2 apresenta os clusters formados que são estatisticamente significantes para o I de Moran local considerando a produtividade média da cana. Como pode ser verificado existe um padrão na distribuição da produtividade da cana no estado. Praticamente, em todos os anos estudados, ocorre a formação de dois grandes clusters, sendo um do tipo AA (alto-alto) e outro do tipo BB (baixo-baixo). Mapa 2 – Clusters da produtividade média da cana no Paraná 10 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Não significante Alto-Alto Baixo-Baixo Baixo-Alto Alto-Baixo Fonte: elaborado pelos autores. A região Norte do estado forma em todos os anos um grande cluster do tipo AA. Com algumas variações podem-se encontrar as microrregiões de Paranavaí, Umuarama, Cianorte, Campo Mourão, Astorga, Porecatu, Floraí, Maringá, Apucarana, Londrina, Faxinal, Assai, Cornélio Procópio, Jacarezinho. A hegemonia do norte do Estado na plantação de cana se deve, segundo Shikida e Alves (2001) pelas condições favoráveis para o desenvolvimento das lavouras, pois a região possui boas condições edafoclimáticas e tem proximidade com o eixo canavieiro de São Paulo. O grande cluster BB segue, com algumas exceções, a mesma distribuição ao longo de todos os anos estudados. É composto pelas microrregiões de Ponta Grossa, Prudentópolis, Irati, União da Vitória, São Mateus do Sul, Cerro Azul, Lapa, Curitiba, Paranaguá e Rio Negro. A tabela 2 apresenta o I de Moran bivariado, ou seja, o índice comparado entre duas variáveis. A produtividade foi comparada com a área plantada e a quantidade produzida de cana em cada um dos períodos. Tabela 2 - Coeficiente de I de Moran bivariado para a produtividade média da cana no Paraná Ano Área Plantada Quantidade produzida I Probabilidade I Probabilidade 1990 0,4426 0,001 0,4347 0,001 1995 0,4720 0,001 0,4811 0,001 2000 0,3450 0,001 0,3518 0,001 2005 0,3687 0,001 0,4811 0,001 Fonte: elaborado pelos autores. 11 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A partir desses resultados verifica-se que há autocorrelação espacial positiva entre a produtividade e a área plantada e a produtividade e a quantidade produzida. Isto significa que as microrregiões com alta (baixa) produtividade são rodeadas por microrregiões com alta (baixa) área plantada e/ou quantidade produzida. Como dito anteriormente na análise do I de Moran univariado, é importante a apresentação de outras ferramentas para comprovar a distribuição da autocorrelação positiva entre as microrregiões. Desta forma, a figura 2 apresenta o diagrama de I de Moran bivariado considerando os anos de 1990, 1995, 2000 e 2005 e a área plantada e a quantidade produzida. Como pode ser visto na Figura 3 a maior parte dos pontos que indicam a existência de autocorrelação espacial positiva, sendo que a maior parte das microrregiões se situam no primeiro quadrante. Considerando o valor do I de Moran, pode-se verificar que no decorrer do período a quantidade produzida obteve coeficiente mais elevado que a área plantada. Fato este que leva a interpretação de certa eficiência na produção de cana no Estado. Figura 3 – Diagrama de Dispersão de Moran para a produtividade média da cana no Paraná Área Plantada Quantidade 12 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Fonte: elaborado pelos autores. O I de Moran global, como descrito anteriormente, pode camuflar padrões de associação local. De acordo com Almeida (2004), da mesma maneira que é possível alcançar um coeficiente de autocorrelação espacial global bivariado, pode-se obter uma 13 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" medida de autocorrelação espacial local bivariada. Esta estatística apresenta o grau de associação linear (positiva ou negativa) entre o valor de uma variável em uma determinada região e a média de uma outra variável nas locações vizinhas. O mapa 3 apresenta os clusters formados pela produtividade associada a área plantada e a quantidade produzida. A visualização dos mapas evidencia que as microrregiões com baixa produtividade são microrregiões rodeadas por microrregiões com baixa área plantada e/ou quantidade produzida. De uma maneira geral, com algumas alterações, em todos os anos estudados o cluster do tipo baixo-baixo é composto pelas microrregiões de Ponta Grossa, Prudentópolis, Irati, São Mateus do Sul, Lapa, Curitiba, Paranaguá, Rio Negro, União da Vitória e Cerro Azul. O comportamento apresentado entre a produtividade e a área plantada é semelhante ao da produtividade com a quantidade produzida. O Norte do Estado forma dois grandes clusters um do tipo AA (microrregiões com alta produtividade cercadas por microrregiões com alta área plantada e/ou quantidade produzida) e BA (microrregiões com alta produtividade cercadas por microrregiões de baixa área plantada e/ou quantidade produzida). De uma maneira geral, o cluster do tipo AA é formado por Paranavaí, Umuarama, Cianorte, Astorga, Porecatu, Maringá, Faxinal, Ivaiporã, Cornélio Procópio e Jacarezinho. O cluster do tipo BA de uma maneira geral por Floraí, Apucarana, Londrina e Assai. Estes resultados demonstram que há uma eficiência na produtividade da cana no Norte do Paraná. Este fato, pode ser atribuído a fatores edafoclimáticos e também a proximidade com o Estado de São Paulo que é o maior produtor de cana e processador de álcool, açúcar e demais derivados. Segundo Wrege et al. (2005), o relevo exerce influência sobre a temperatura e sobre os riscos de geada. As áreas de menores altitudes como as do Norte do Paraná apresentam menores ocorrências de geadas, tornando a região apta para o plantio da cana. Mapa 3 – Clusters bivariado da produtividade média da cana no Paraná Área Plantada Quantidade 14 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Não significante Alto-Alto Baixo-Baixo Baixo-Alto Alto-Baixo Fonte: elaborado pelos autores. Considerações finais 15 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Este trabalho objetivou estudar a produtividade média da cana-de-açúcar do Estado do Paraná no período de 1990 a 2005 utilizando técnicas de econometria espacial. As unidades de observação espaciais foram as microrregiões do estado e as variáveis utilizadas foram a quantidade produzida de cana e a área plantada. Os resultados encontrados demonstraram que há autocorrelação espacial positiva entre as microrregiões do Estado e que a região Norte do Paraná forma cluster do tipo Alto-Alto. O bom desempenho do Norte paranaense na produção desse produto se deve a proximidade com o Estado de São Paulo que é o principal produtor e processador de cana e derivados e também em decorrência da qualidade do clima, solo e temperatura que propicia uma boa condição para o plantio e o cultivo da cana. Referências Bibliográficas ALMEIDA, E. S. Curso de Econometria Espacial Aplicada. Piracicaba, 2004. ALMEIDA, E. S., PACHECO, G. O., PATROCÍNIO, A. P. B., DIAS, S. M. Produtividade do café em Minas Gerais: uma análise espacial. In: Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, Fortaleza, 2006. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural (SOBER), 2006. CD-ROM. ALMEIDA, E. S., PEROBELLI, F. S., FERREIRA, P. G. C. Existe convergência espacial da produtividade agrícola no Brasil? 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A., BERTONHA, A., FERREIRA, R. C., CAVIGLIONE, J. H., FARIA, R. T., FREITAS, P. S. L., GONÇALVES, S. L. Regiões potenciais para cultivo da cana-de-açúcar no Paraná, com base na análise no risco de geadas. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria: 2005, v. 13, n. 1, p. 113-122. Anexo 1 – Mapa das microrregiões do Paraná Fonte: IBGE. Anexo 2 – Microrregiões paranaenses Código de unidade geográfica Microrregião 17 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 41 001 41 002 41 003 41 004 41 005 41 006 41 007 41 008 41 009 41 010 41 011 41 012 41 013 41 014 41 015 41 016 41 017 41 018 41 019 41 020 41 021 41 022 41 023 41 024 41 025 41 026 41 027 41 028 41 029 41 030 41 031 41 032 41 033 41 034 41 035 41 036 41 037 41 038 41 039 Paranavaí Umuarama Cianorte Goioerê Campo Mourão Astorga Porecatú Floraí Maringá Apucarana Londrina Faxinal Ivaiporã Assai Cornélio Procópio Jacarezinho Ibaití Wesceslau Braz Telêmaco Borba Jaguariaíva Ponta Grossa Toledo Cascavel Foz do Iguaçu Capanema Francisco Beltrão Pato Branco Pitanga Guarapuava Palmas Prudentópolis Irati União da Vitória São Mateus do Sul Cerro Azul Lapa Curitiba Paranaguá Rio Negro Fonte: IBGE. 18 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural