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CIÊNCIA
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Vencedora do Prêmio Capes 2012, pesquisa da Federal de Lavras busca enriquecer plantios
com fertilizantes bons para o solo e para melhorar produtos de consumo humano e animal
Alimentos biofortificados
PAULA TAKAHASHI
Em nome da produtividade no
campo, os níveis de nutrientes nos
alimentos foram deixados de lado,
prejudicando milhões de pessoas vítimas de desnutrição em todo o
mundo. Na tentativa de reverter esse quadro, pesquisadores apostam
alto na chamada biofortificação de
alimentos, que pretende aumentar o
teor dessas substâncias fundamentais para a alimentação humana e
animal, por meio do manejo da adubação de culturas agrícolas. Em Minas Gerais, pesquisa inovadora na
área, realizada por equipe de estudiosos da Universidade Federal de Lavras (Ufla) foi reconhecida pela comunidade acadêmica ao vencer o
Prêmio Capes de Teses 2012.
De autoria do engenheiro-agrônomo e doutor em ciência do solo
Sílvio Junio Ramos, a tese “Biofortificação, variação genotípica e metabolismo envolvendo selênio em
alface e brócolis” revela a importância de investir na elaboração
de fertilizantes enriquecidos que,
além de garantir o aumento da
produção agrícola, ofereçam
maior teor de nutrientes para os
alimentos. “Isso está sendo implementado nos Estados Unidos,
Canadá, China, Inglaterra, Turquia, Finlândia, Austrália e Índia.
O desafio agora é produzir fertilizantes para a adubação das lavouras que sejam capazes de aumentaraproduçãoagrícolaeproporcionar teores suficientes de minerais
essenciais nos alimentos produzidos
no Brasil”, afirma o especialista.
Conhecida como biofortificação
agronômica, realizada por meio de
adubação, a técnica deve ser complementada com a versão genética, que
envolve o melhoramento vegetal.
“Há parceria entre a Embrapa e a Ufla
para a seleção de cultivares que tenham maior potencial de absorção
dos nutrientes fornecidos por meio
desses fertilizantes. Por isso as duas
linhas de pesquisa devem caminhar
juntas”, acrescenta Sílvio. Com variedades mais propensas a extrair os
nutrientes oferecidos por adubos enriquecidos, melhores serão os efeitos
na alimentação humana.
O pesquisador explica que seus
estudos para o doutoramento foram
direcionados à alface e ao brócolis,
modelos da pesquisa, mas outros alimentos certamente poderiam ser
usados com o mesmo intuito. “Esse
foco tem que ser expandido para culturas agrícolas que têm maior impacto na alimentação, como arroz,
feijão, trigo, soja e as forrageiras, essas duas últimas principalmente para a alimentação animal”, observa. O
avanço para o enriquecimento dos
alimentos da cesta básica já é feito
pelo pesquisador em parceria com
Luiz Roberto Guimarães Guilherme
e Valdemar Faquin, ambos professores da Federal de Lavras.
ESSENCIAL PARA A SAÚDE A esco-
lha do selênio – micronutriente mineral com poderosa ação antioxidante – pode ser justificada. Estimase que as deficiências nutricionais
envolvendo esse nutriente atinjam
15% da população mundial. A principal causa estaria na baixa disponibilidade do elemento na maioria
dos solos cultiváveis, que não são
fertilizados adequadamente. Solos
do cerrado brasileiro, onde hoje se
concentra a maior parte da produção agrícola do país, em especial de
grãos, já se mostraram pobres em
selênio. “A cultura colhida ali também será deficiente”, garante Sílvio.
A carência do mineral está relacionada à incidência de certos tipos de
câncer, anomalias morfológicas,
doenças cardiovasculares, entre outras. O pesquisador lembra que a biofortificação agronômica com selênio
já é realidade na Finlândia desde 1980.
No texto da tese, ele explica que, para
elevar o teor desse elemento na carne,
leite, produtos lácteos e agrícolas, o
mineral foi incorporado aos fertilizantes do país numa proporção de 10mg
por quilo. O resultado é uma clara redução nas taxa de doenças cardiovasculares e de certos tipos de câncer na
população desse país.
Rede nacional potencializa ideia
A Universidade Federal de
Lavras (Ufla) mantém uma rede de pesquisas interdisciplinar de âmbito nacional, chamada Rede Agrometais, que
conta com parcerias de outras
universidades e recursos do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Segundo o professor Luiz Roberto Guimarães, uma das linhas de pesquisa da Agrometais está relacionada à qualidade e segurança dos alimentos
produzidos no campo, que inclui a avaliação de elementostraço essenciais como zinco,
ferro e selênio em insumos
agropecuários, áreas cultivadas e produtos agrícolas.
Nessa linha de pesquisa,
vem sendo realizado um trabalho em parceria com a Embrapa que busca o enriquecimento de mandioca com zinco, ferro, selênio e pró-vitamina A.
“Estamos começando a fazer a
seleção das espécies. Já identifi-
camos algumas que têm capacidade de armazenar mais os
elementos”, antecipa Luiz Roberto. O próximo passo é realizar o plantio das variedades
mais propensas à absorção dos
nutrientes para verificação do
desempenho no campo. Em
2009, a Embrapa já havia anunciado a mandioca Jari, com
maior teor de pró-vitamina A,
conhecida como betacaroteno.
O resultado foi proveniente de
uma série de cruzamentos entre a variedade aipim.
Os avanços não param por
aí. O projeto BioFORT, coordenado pela Embrapa e com objetivo de trabalhar pela biofortificação de alimentos no Brasil, já tem resultados em outras
variedades além de uma mandioca com 40 vezes mais vitamina A que a comum. A meta
da Embrapa é produzir variedades de abóbora e milho com
altos teores de carotenoides e
outros precursores de vitamina A; arroz, feijão-caupi, trigo e
feijão com grande concentração de ferro e zinco – o último
também com grande resistência à seca –; e mandioca e batata-doce mais ricas em betacaroteno. Até o momento, já foram desenvolvidas 10 cultivares, dos quais três de mandioca e uma de batata-doce com
maiores teores de betacaroteno, três de feijão-caupi e três
de feijão comum mais ricos
em ferro e zinco.
Para levar as mudas para o
campo, está em andamento o
projeto Alimentos Biofortificados, que começa a se expandir
nos estados do Nordeste e Sudeste. Segundo informações
do BioFORT, as unidades de
multiplicação de mudas de batata-doce estão sendo instaladas em escolas agrícolas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sergipe, Maranhão
e Ceará com objetivo de formar técnicos agrícolas que serão os multiplicadores das tecnologias da Embrapa nas localidades onde moram, atendendo as demandas dos produtores da região pelas variedades
biofortificadas. (PT)
❚ COMPARE
Veja algumas cultivares biofortificadas e suas
correspondentes convencionais
ALIMENTO
CONVENCIONAL
CULTIVARES DOS
PROJETOS DA REDE
DE BIOFORTIFICAÇÃO
NO BRASIL
Arroz
Em média, 12mg de zinco e
2mg de ferro por quilo de
arroz branco polido
Média de 18mg de zinco e
4mg de ferro por quilo de
arroz de arroz polido
Batata-doce
Em cultivares de polpa
branca, até 10microgramas
de betacarotena por grama
de raízes frescas
Na cultivar Beauregard,
média de 115 microgramas
de betacaroteno por
grama de raízes frescas
Feijão
Em média, 50mg de ferro
e 30mg de Zinco por quilo
de produto
Em média, 90mg de ferro
e 50mg de zinco por quilo
de cultivar BRS Pontal
Mandioca
Em variedades de polpa
branca não há teores
expressivos de
betacaroteno
Até 9 microgramas de
betacaroteno por grama
de raízes frescas
Milho
Em média, 4,5
microgramas de próvitamina A por grama de
milho em base seca
Até 9 microgramas de
pró- vitamina A por grama
de milho em base seca
Fonte: BioFort da Embrapa
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