SILVIO SORIANO AVALIAÇÃO DE DIFERENTES ESTRATÉGIAS PARA O TRATAMENTO DE AMOSTRAS DE SUPLEMENTOS MULTIVITAMÍNICOS/MULTIMINERAIS VISANDO A DETERMINAÇÃO DE Cu, Fe, Mn E Zn POR FAAS Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Química da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Química. Área de concentração: Química Analítica Orientador Prof. Dr. Ricardo J. Cassella Co-orientador Prof. Dr. Annibal D. Pereira Netto NITERÓI, AGOSTO DE 2006 S 174 Soriano, Silvio Avaliação de diferentes estratégias para o tratamento de amostras de suplementos multivitamínicos/multiminerais visando a determinação de Cu, Fe, Mn e Zn por FAAS/ Silvio Soriano. – Niterói: [s. n.], 2006. 101f. Dissertação – (Mestrado em Química) – Universidade Federal Fluminense, 2006. 1. Amostras – Preparação. 2. Metais – Análise química. 3. Metais – Determinação. 4. Vitaminas. I. Título. CDD.: 543.02 ii iii Aos meus filhos, Gilberto e Janine À minha esposa, Marisa e Aos meus pais, Natálio e Clara (in memoriam) iv Sumário Agradecimentos.......................................................................................... vii Resumo........................................................................................................ viii Abstract....................................................................................................... x Lista de Figuras.......................................................................................... xii Lista de Tabelas.......................................................................................... xv 1. Introdução............................................................................................... 1 2. Tratamento de amostras por ultra-som e radiação microondas para determinação de metais..................................................................... 6 2.1. Ultra-som.......................................................................................... 6 2.2. Radiação microondas....................................................................... 16 2.3. Preparo de amostras empregando ultra-som e microondas com frasco fechado............................................................................................... 21 2.4. Determinação de metais em suplementos multivitamínicos/multiminerais.................................................................... 28 3. Parte experimental................................................................................. 31 3.1. Reagentes e soluções........................................................................ 31 3.2. Equipamentos................................................................................... 32 v 3.3. Identificação do ponto de maior cavitação do banho de ultra-som.. 34 3.3.1. Erosão de papel alumínio......................................................... 34 3.3.2. Sonicação de uma solução saturada de CCl4............................ 34 3.4. Procedimentos de processamento das amostras............................... 35 3.4.1. Pré-tratamento da amostra sólida............................................. 35 3.4.2. Digestão das amostras.............................................................. 35 3.4.3. Avaliação da distribuição do cobre após a extração................. 36 3.4.4. Extrações com ultra-som ou agitação magnética..................... 37 3.4.5. Extrações de longo tempo........................................................ 37 3.4.6. Extração empregando radiação microondas............................. 38 4. Resultados e discussão............................................................................ 40 4.1. A espectrometria de absorção atômica com chama.......................... 40 4.2. Investigação das condições de cavitação do banho de ultra-som..... 42 4.3. Extração dos metais presentes nos SMMs....................................... 45 4.3.1. Determinação das concentrações totais de Cu, Fe, Mn e Zn em amostra de SMM.................................................................................... 46 4.3.2. Extração dos metais em SMM usando ultra-som e agitação magnética...................................................................................................... 48 4.3.3. A extração do cobre.................................................................. 56 4.3.4. Extração de longo tempo.......................................................... 65 4.4. Extrações de metais dos SMMs empregando radiação microondas e solução de ácido diluído............................................................................ 67 4.5. Determinação de Cu, Fe, Mn e Zn em amostras reais de SMMs..... 84 5. Conclusões............................................................................................... 88 6. Referências bibliográficas...................................................................... 90 vi Agradecimentos Ao Prof. Dr. Ricardo Jorgensen Cassella e ao Prof. Dr. Annibal Duarte Pereira Netto pela coompreensão das minhas limitações, pela atenção e apoio ao meu trabalho; Ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis (CEFETQuímica), à UFF, à CAPES, ao CNPQ e à Faperj pelo apoio material e financeiro; À todos aqueles estudantes e professores que de alguma maneira me ajudaram a concluir este trabalho; À minha família pela compreensão da minha ausência em alguns momentos. vii Resumo Nesse trabalho é apresentado o desenvolvimento de metodologia para a determinação de Cu, Fe, Mn e Zn em amostras de suplementos multivitamínicos/multiminerais, por espectrometria de absorção atômica com chama (FAAS), após extração dos analitos com soluções diluídas de ácidos. Diversos parâmetros que podem influenciar o processo de extração como: concentração e composição da solução ácida, modo de agitação (ultra-sônica ou agitação mecânica com agitador magnético), tempo de extração e composição da amostra foram avaliados. Os resultados obtidos demonstraram que Fe, Mn e Zn são facilmente extraídos com HCl 1 mol/L em 5 min, tanto por agitação ultrasônica quanto por agitação mecânica com agitador magnético. No entanto, a extração de Cu demonstrou ser mais complexa e este metal não pode ser extraído nas mesmas condições dos demais. Para algumas amostras, o tempo de contato entre a amostra sólida e a solução de extração apresentou importante influência, sendo necessárias 12 h de contato para a obtenção de recuperação quantitativa com solução 1 mol/L de HCl para este metal. A metodologia desenvolvida foi aplicada na determinação de Cu, Fe, Mn e Zn em sete suplementos multivitamínicos/multiminerais comerciais. Os resultados obtidos com o método viii desenvolvido foram comparados com aqueles obtidos por digestão total das amostras em sistema fechado, usando forno de microondas. Do mesmo modo, foi desenvolvido um procedimento de extração dos analitos destas amostras, empregando um forno d microondas com cavidade (sistema fechado). O método foi otimizado de modo multivariado baseado na matriz de Doehlert, para soluções diluídas de HCl e HNO3. As melhores condições de extração foram obtidas com HNO3 0,70 mol/L, irradiação das amostras por 15 min e potência de 360 W. Não foi observada diferença estatística entre o método assistido por microondas desenvolvido e o procedimento de dissolução total usando microondas e ácido concentrado. ix Abstract This work presents the development of a methodology for the determination of Cu, Fe, Mn and Zn in samples of multivitamin/multimineral tablets, by flame atomic absorption spectrometry (FAAS), after extraction of the analytes with diluted hydrochloric acid solution. Several parameters that could influence the extraction process such as acid extraction solution concentration and nature, mixing mode (ultrasonic or magnetic stirring), extraction time and sample composition were evaluated. The obtained results showed that Fe, Mn and Zn were easily extracted with 1 mol/L HCl solution after 5 min of mixing with either ultrasonic or magnetic stirring for all studied samples. On the other hand, Cu extraction showed to be more complex since it could only be extracted at the same conditions for some samples. For other samples the time of contact between solid sample and extraction solution presented remarkable influence, being necessary up to 12 h to achieve quantitative recovery with 1 mol/L HCl solution. The developed methodology was applied in the determination of Cu, Fe, Mn and Zn in seven commercially available multivitamin/multimineral tablets. The results obtained with the developed method were compared with those obtained after total digestion of samples using a closed-vessel microwave oven device. In the same sense, a microwave assisted extraction procedure was x developed. The method was optimized by a multivariate way based on a Doehlert matrix, for HCl and HNO3 solutions. Best extraction conditions were achieved with 0.70 mol/L HNO3 solution and irradiating the sample by 15 min at 360 W power. No statistical differences were observed between the developed microwave assisted method and the total dissolution one. xi Lista de Figuras Figura 1. Trabalhos publicados na área de Sonoquímica entre 1990 e 2000................................................................................................................. 9 Figura 2. Diagrama esquemático de um forno de microondas com frasco fechado............................................................................................................. 17 Figura 3. Curvas analíticas típicas para Cu, Fe, Mn e Zn obtidas por FAAS............................................................................................................... 41 Figura 4. Fotografias das folhas de papel alumínio antes e depois da sonicação.......................................................................................................... 42 Figura 5. Fenômenos envolvidos quando da sonicação de uma solução saturada de CCl4............................................................................................... 43 Figura 6. Curvas de titulação das soluções de CCl4 após sonicação.......................................................................................................... 44 Figura 7. Efeito do tempo de sonicação sobre o pH de uma solução saturada de CCl4............................................................................................... 45 Figura 8. Fluxograma do experimento de abertura de amostra de SMM por microondas....................................................................................................... 47 Figura 9. Fluxograma do experimento de extração usando ultra-som ou agitação magnética........................................................................................... 49 xii Figura 10. Efeitos do tempo de extração, da concentração de HCl e do modo de agitação sobre a extração de Cu, Fe, Mn e Zn no SMM-1............... 50 Figura 11. Fotografias dos papéis de filtro empregados na filtração após extração com ultra-som e agitação magnética................................................. 51 Figura 12. Efeitos do tempo de extração, da natureza da solução extratora e do modo de agitação sobre a extração de Cu, Fe, Mn and Zn no SMM-1...... 55 Figura 13. Efeito da concentração da solução de HCl sobre a recuperação de Cu na amostra estudada............................................................................... 57 Figura 14. Fluxograma da extração de Cu realizada da maneira usual com a amostra SMM-1............................................................................................... 58 Figura 15. Comparação entre as recuperações acumuladas de cobre obtidas nas frações resultantes da filtração após da extração com ultra-som e agitação magnética. Filtração sem controle da vazão...................................... 60 Figura 16. Comparação entre as recuperações acumuladas de cobre obtidas nas frações resultantes da filtração após da extração com ultra-som e agitação magnética. Filtração com controle da vazão..................................... 61 Figura 17. Avaliação da influência da composição da amostra...................... 63 Figura 18. Fluxograma do estudo da distribuição do Cu entre diferentes frações do SMM-1........................................................................................... 64 Figura 19. Fluxograma do experimento para determinar o tempo requerido para extração total de Cu................................................................................. 66 Figura 20. Efeito do tempo de contato entre amostra (SMM-1) e a solução extratora (HCl 1 mol/L) sobre as recuperações de Cu, Fe, Mn e Zn............... 67 Figura 21. Distribuição espacial da modelagem Doehlert.............................. 71 Figura 22. Representação gráfica dos experimentos realizados na modelagem Doehlert, com as variáveis codificadas........................................ 71 Figura 23. Representação gráfica dos experimentos realizados na modelagem Doehlert, com as variáveis assumindo seus valores reais............ 72 xiii Figura 24. Gráficos de efeitos normalizados (Pareto) para o caso da extração do cobre empregando radiação microondas...................................... 80 Figura 25. Gráficos de efeitos normalizados (Pareto) para o caso da extração do ferro empregando radiação microondas....................................... 81 Figura 26. Gráficos de efeitos normalizados (Pareto) para o caso da extração do manganês empregando radiação microondas............................... 82 Figura 27. Gráficos de efeitos normalizados (Pareto) para o caso da extração do zinco empregando radiação microondas...................................... 83 xiv Lista de Tabelas Tabela 1. Marcos históricos dos estudos em sonoquímica............................. 9 Tabela 2. Concentrações das soluções empregadas na construção de curvas de calibração dos elementos estudados............................................................ 32 Tabela 3. Parâmetros instrumentais para determinação por absorção atômica com chama dos elementos estudados................................................. 33 Tabela 4. Programa de aquecimento utilizado para digestão das amostras em forno de microondas.................................................................................. 36 Tabela 5. Condições experimentais empregadas na otimização do procedimento de extração assistida por radiação microondas segundo o planejamento Doehlert...................................................................................... 39 Tabela 6. Características analíticas observadas para os diferentes analitos estudados.......................................................................................................... 41 Tabela 7. Concentrações dos metais (determinados e tabelados) na amostra de referência SMM-1....................................................................................... 47 Tabela 8. Influência da potência sobre a extração dos metais no SMM-1..... 54 Tabela 9. Concentrações dos metais (determinados e tabelados) na amostra SMM-2............................................................................................................. 62 xv Tabela 10. Distribuição de cobre no SMM-1, de acordo com o experimento mostrado na Figura 18..................................................................................... 65 Tabela 11. Características de diferentes modelagens empregadas em otimização multivariada................................................................................... 69 Tabela 12. Resultados obtidos para o planejamento Doehlert para HCl........ 74 Tabela 13. Resultados obtidos para o planejamento Doehlert para HNO3..... 75 Tabela 14. Pontos de máximas recuperações determinados pela modelagem Doehlert........................................................................................................... 78 Tabela 15. Resultados obtidos na determinação de Cu, Fe, Mn e Zn em amostras de SMMs encontrados no comércio local empregando as diferentes metodologias estudadas................................................................... 85 Tabela 16. Correlação entre os procedimentos e a abertura total................... 86 Tabela 17. Correlação entre os procedimentos e a abertura total para Cu sem as amostras D e E..................................................................................... 87 xvi 1. INTRODUÇÃO Nas últimas duas décadas um espetacular avanço tecnológico pôde ser notado na concepção e construção de equipamentos para fins analíticos. Tais instrumentos atingiram um enorme grau de sofisticação e automação, permitindo, muitas vezes, que até o próprio analista se mantivesse a margem do processo de medição. Este fenômeno, indubitavelmente, proporcionou um grande incremento de produtividade nos laboratórios de análise química, além de permitir a obtenção rápida de grandes quantidades de dados com extrema precisão e exatidão. Entretanto, mesmo diante deste quadro, a etapa de prétratamento das amostras continua sendo a mais lenta e propensa a erros em procedimentos analíticos, podendo levar a grandes desvios nos resultados finais, limitando a utilização de instrumentação altamente sofisticada e de alto custo. De um modo geral, um procedimento de análise química pode ser dividido em distintas etapas como mostrado abaixo: (1) Definição do Problema. É o primeiro passo no planejamento de uma análise. Representa a definição exata da informação que se deseja obter. 1 (2) Escolha do método. Uma vez definido o problema pode-se decidir com detalhes como ele será resolvido, não perdendo de vista os seguintes fatores: • o método deve ser eficiente e, sempre que possível, simples e rápido; • não deve causar qualquer perda do constituinte de interesse; • não deve permitir ou promover a contaminação da amostra; • mínima manipulação experimental; • máxima segurança operacional. (3) Amostragem. É o processo de selecionar e remover uma pequena, representativa e suficiente parte do todo, a partir da qual será feita a análise. (4) Pré-tratamento da amostra. Em geral, a amostra deve ser convertida em uma forma adequada para que se proceda a análise. Somente na mais simples das situações a amostra poderá ser analisada sem qualquer tipo de pré-tratamento, que pode ou não incluir alguma forma de pré-concentração/separação. (5) Calibração. Obtenção de dados analíticos a partir de padrões preparados adequadamente. (6) Medição. Obtenção de dados analíticos a partir de medidas na amostra prétratada. (7) Avaliação. Interpretação dos resultados obtidos a partir das operações feitas em 5 e 6, incluindo o controle de qualidade através de um procedimento adequado. (8) Ação. O resultado analítico será usado na tomada de decisão em relação ao problema original. 2 Sem dúvida, dentre as etapas listadas acima, a etapa de pré-tratamento é a mais crítica, pois demanda tempo e, muitas vezes, excessiva manipulação das amostras, podendo causar perdas e contaminação das mesmas. Ela pode envolver desde a simples diluição de uma amostra de água até a solubilização/decomposição parcial ou total de uma amostra sólida. Deve se ter em mente que cada amostra deve ser convenientemente tratada antes da medição, tendo em vista as características da técnica a ser utilizada para tal fim. Vários procedimentos vêm sendo empregados pelos químicos analíticos na preparação de amostras com a intenção de alcançar uma condição adequada para a medição das concentrações analíticas desejadas. O pré-tratamento de uma amostra em um procedimento analítico também é, na grande maioria dos casos, a etapa mais custosa e que demanda maiores habilidades do analista. A preparação de amostras sólidas, muitas vezes implica em processos de digestão/dissolução e/ou extração dos analitos antes da medida de suas concentrações. De acordo com Oliveira [2003], um procedimento de digestão pode consumir até 61% do tempo total gasto no processamento analítico, podendo ser responsável por até 30% do erro total da análise. Um procedimento ideal para preparação de amostras deve apresentar algumas características tais como simplicidade, velocidade, uso de pequenos volumes de reagentes e ser passível de aplicação em diferentes tipos de amostras [Santelli et al., 2004]. Na literatura clássica, vários procedimentos de digestão de amostras podem ser encontrados para aplicação nos mais diversos tipos de amostras. Entretanto, mais recentemente tecnologias como o uso de radiação microondas e ultra-som vêm se expandindo de modo significativo nos laboratórios analíticos devido à sua eficiência e velocidade. Na determinação de metais em amostras sólidas, os processos de digestão ácida são comumente empregados a fim de converter o analito em uma forma 3 adequada – solúvel – para a medida. Este procedimento pode ser realizado em frascos fechados (sob pressão) ou abertos, dependendo da natureza da matriz da amostra e das concentrações de analito esperadas. Em geral, os procedimentos realizados em frascos fechados são mais rápidos e eficientes, enquanto que a utilização de sistemas abertos implica em etapas trabalhosas e tediosas, possibilitando, ainda, perdas de analitos por volatilização e/ou contaminação das amostras [Oliveira, 2003; Luque-Garcia e Castro, 2003, Capelo, et al.2003]. A digestão ácida empregando aquecimento induzido por energia de microondas é uma metodologia atualmente bem estabelecida para o tratamento de amostras visando a determinação de metais [Bermejo-Barrera et al, 2001]. Esta técnica de digestão, assim como os procedimentos convencionais, requerem, na grande maioria dos casos, o uso de ácidos concentrados. Embora a introdução dos fornos de microondas tenha permitido abreviar os tempos de digestão, a principal limitação desta técnica está relacionada ao alto custo dos instrumentos empregados. Outras dificuldades associadas ao pré-tratamento de amostras usando radiação na faixa de microondas são: (1) os altos tempos de resfriamento requeridos até a abertura dos frascos de alta pressão, embora esta limitação possa ser contornada pelo uso de fornos de microondas com radiação focalizada, que trabalham sob pressão atmosférica e (2) a geração de vapores nocivos, muitas vezes cancerígenos, como conseqüência da destruição da matriz da amostra. Por outro lado, a calcinação é também, muitas vezes, limitada, devido a possíveis perdas de elementos voláteis, a reações dos analitos com o material do cadinho, pela formação de resíduos de combustão de difícil dissolução e, ainda, a problemas oriundos da contaminação das amostras [Nascentes et al, 2000]. Diante de tantos problemas enfrentados nos procedimentos de digestão, metodologias baseadas na simples extração dos analitos presentes nas amostras vêm se tornando mais populares. Neste contexto, a extração de metais 4 empregando a energia das ondas ultra-sônicas, embora ainda não suficientemente explorada, porém encorajada pelos resultados recentes [Oliveira, 2003; LuqueGarcia & Castro, 2003; Capelo, et al. 2003], pode ser uma boa alternativa aos procedimentos de abertura total usando ácidos concentrados. O uso de ácídos diluídos em extrações usando ultra-som (ou mesmo agitação magnética ou energia das microondas) não pode ser descartado quando se pensa em determinações quantitativas. As principais vantagens destes métodos são: baixo custo, o processamento à pressão atmosférica ou pressões menos agressivas, pequena probabilidade de ocorrerem contaminações e/ou perdas por volatilização além do uso de menor tempo de processamento. O desenvolvimento de métodos alternativos para o pré-tratamento de amostras é de grande interesse para a Química Analítica. Neste aspecto, processos de lixiviação baseados na extração de um ou mais elementos por um ácido e/ou por um agente oxidante são úteis, pois implicam na solubilização dos analitos no solvente de lixiviação, sem a decomposição total da matriz da amostra. Como a destruição da matriz não é necessária, ácidos concentrados não precisam ser usados, o que conduz a um baixo consumo destes reagentes, a uma redução dos vapores nocivos gerados e a um menor gasto de tempo no tratamento da amostra, devido a eliminação das etapas de refrigeração e de manipulação do extrato. Cabe ainda ressaltar que a ação dos ácidos usados, por serem diluídos, estão muito mais relacionados a protonação dos ácidos fracos dos ligantes existentes do que a sua ação oxidante que naturalmente não pode ser desprezada. Neste trabalho são apresentados e discutidos métodos de lixiviação e extração de metais selecionados por ultra-som e o microondas em suplementos multiminerais/multivitamínicos 5 2. TRATAMENTO DE AMOSTRAS POR ULTRA-SOM E RADIAÇÃO MICROONDAS PARA A DETERMINAÇÃO DE METAIS 2.1. O Ultra-som As ondas ultra-sônicas são ondas mecânicas com freqüências maiores que as audíveis para o ser humano, ou seja, acima de 16 KHz. As ondas ultra-sônicas se propagam através da matéria, com uma velocidade que pode variar desde centenas de metros por segundo no ar, até milhares de metros por segundo em sólidos. Na água e em soluções aquosas diluídas, sua velocidade é da ordem de 1500 m/s. As ondas ultra-sônicas foram assim denominadas por analogia à radiação ultravioleta já que também não produzem sensação física perceptível aos seres humanos. A descoberta do ultra-som ocorreu em 1880, por Pierre e Jacques Curie, quando estudavam o efeito piezoelétrico, que consiste na variação das dimensões físicas de certos cristais e cerâmicas quando são submetidos a campos elétricos. É conhecido que certos materiais, ao receberem uma tensão alternada em suas faces opostas, produzem expansões e contrações alternadas, na freqüência imposta. Caso a freqüência de compressão e expansão da superfície do cristal seja maior que 20 Hz, há produção de som. Por sua vez, cristais desta mesma 6 classe, quando submetidos à compressão, produzem uma diferença de potencial entre as faces perpendiculares. Este é, inclusive, um dos princípios empregados para a construção de balanças de alta sensibilidade. São exemplos destes materiais, cristais de quartzo e cerâmicas como titanato de bário e zirconato de chumbo. A mais primitiva forma de um transdutor ultra-sônico foi um “apito”, desenvolvido por Francis Golton em 1883, que permitiu a elaboração de uma tabela mostrando os limites da audição humana e animal. Entretanto, Paul Langevin é considerado o pai do ultra-som, provavelmente devido ao fato de haver apresentado um trabalho numa competição criada em 1912 com o intuito de desenvolver novas técnicas para o estudo da topografia do fundo do mar [Martines, et al. 2000]. Esta competição foi organizada após o naufrágio do Titanic, como resultado do acidente ocorrido. O trabalho de Langevin resultou no que hoje conhecemos com o nome de SONAR (SOund Navigation And Ranging). O funcionamento do SONAR se baseia no envio de um pulso ultrasônico a partir da quilha da embarcação para o fundo do mar, onde é refletido. Como o intervalo de tempo entre o envio e recebimento do pulso (detectado na própria quilha) é igual ao dobro do tempo necessário para percorrer a distância entre a quilha e o fundo, é possível, calcular a profundidade do mar num dado ponto. Este princípio também se aplica à detecção de outros corpos estranhos, como icebergs, que podem ser assim detectados, mesmo a grandes distâncias. Posteriormente, Thornycroft e Barnaby [Barbosa e Serra, 1992], arquitetos navais, construtores do primeiro torpedeiro para a Marinha Real Britânica, observaram que uma rápida erosão ocorria nos propulsores dos torpedos, devido a um efeito denominado cavitação, causado pelo giro em grande velocidade dos próprios propulsores. A cavitação é um termo associado à formação de bolhas ou cavidades, cujo colapso implosivo vem acompanhado de enorme turbulência, 7 calor e pressão, que seriam transmitidos à superfície dos propulsores, causando corrosão. O ultra-som de alta potência é capaz de gerar ondas acústicas, que ao passarem através de um meio líquido, produzem cavitação acústica. Este efeito é considerado pela unanimidade dos autores como o responsável pela Sonoquímica, que é a área da Química que estuda as transformações químicas causadas pelas ondas ultra-sônicas. Em 1927, Alfredo Loomis foi o primeiro químico a reconhecer o efeito anômalo de ondas sonoras intensas propagando-se através de um meio líquido, causando cavitação e interferindo em fenômenos químicos. Ele publicou no Journal of American Chemical Society o primeiro artigo sobre o efeito químico do ultra-som [Richard & Loomis, 1927]. Um grande desenvolvimento da Sonoquímica ocorreu a partir da década de 80, com a disseminação de fontes de ultra-som baratas e confiáveis de alta intensidade. Nesta década, a Sonoquímica sofreu grande avanço e muitos trabalhos foram publicados aplicados a diferentes sistemas. Na Tabela 1, estão relacionados os marcos históricos dos estudos em Sonoquímica. De um modo geral, o número de trabalhos apresentados em Sonoquímica tem aumentado nos últimos anos como pode ser visto na Figura 1, evidenciando o aumento de interesse nesta área da Química. No Brasil poucos são os grupos de pesquisa que se dedicam especificamente ao estudo e aplicação do efeito das ondas ultra-sônicas em Química Analítica. Neste contexto deve-se destacar o grupo do Prof. Dr. Mauro Korn, da Universidade Estadual da Bahia. Os equipamentos geradores de ondas ultra-sônicas podem ser divididos em dois grupos: os de alta e baixa potência; sendo o de alta potência causador de mudanças físicas e químicas graças ao efeito da cavitação. Já os de baixa potência têm como principal aplicação os testes não destrutivos, como os usados em engenharia e medicina. 8 . Tabela 1. Marcos históricos dos estudos em sonoquímica. Ano Fato 1867 Primeira observação do fenômeno de cavitação 1880 Descoberta do efeito piezoelétrico 1883 Construção do primeiro transdutor ultra-sônico 1927 Publicação no Journal of American Chemical Society do primeiro artigo sobre o efeito químico de ondas ultra-sônicas 1933 Observação do fenômeno da sonoluminescência 1943 Depósito da patente do primeiro banho a base de ultra-som 1953 Publicação da primeira revisão sobre os efeitos químicos do ultra-som 1986 Primeiro encontro científico internacional sobre Sonoquímica 1990 Fundação da Sociedade Européia de Sonoquímica * Adaptada de Korn [2000]. 400 Trabalhos Publicados 350 300 250 200 150 100 50 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Ano Figura 1. Trabalhos publicados na área de Sonoquímica entre 1990 e 2000 [Korn, 2000]. Os dados do ano de 2000 se referem ao período de janeiro a abril. 9 As ondas ultra-sônicas podem ser empregadas, dentre outras aplicações, na preparação de amostras para fins analíticos, seja em processos de extração e/ou na dissolução de espécies químicas presentes em amostras sólidas. Os fundamentos para aplicação do ultra-som, nesses processos, estão relacionados às ondas de choque, resultantes da aplicação do campo acústico sobre um meio material. Essas ondas acentuam a interação entre a fase líquida e a superfície dos sólidos, aumentando a concentração das espécies presentes na fase líquida. Uma série de experimentos realizada com ultra-som, em sistemas heterogêneos e homogêneos, demonstrou que os efeitos dessas ondas mecânicas não devem ser considerados de uma forma simplista, ou seja, apenas como um eficaz sistema de agitação. Atualmente, duas teorias procuram explicar as altas energias associadas ao uso de ultra-som. A primeira e mais conhecida é a teoria do “ponto quente”, que atribui às altas temperaturas associadas à implosão da bolha de cavitação a liberação de grandes quantidades de energia. A segunda teoria admite que a energia liberada é proveniente tanto da implosão quanto da fragmentação das bolhas de cavitação, com a conseqüente formação de fortes campos elétricos devido ao segundo fenômeno [Lepoint e Mullie, 1994]. Ambas as teorias se baseiam na criação das bolhas de cavitação e admitem que nelas ocorrem fenômenos similares àqueles observados em micro-reatores químicos, nos quais condições extremas ocorrem, especialmente durante o colapso das bolhas. Sendo assim, é da maior importância procurar entender o que acontece durante o nascimento, crescimento e colapso da bolha. As ondas ultra-sônicas, como todas as ondas sonoras, consistem de ciclos de compressão e expansão. Os ciclos de compressão exercem uma pressão positiva sobre o líquido, juntando as moléculas, enquanto os ciclos de expansão exercem uma pressão negativa, afastando as moléculas umas das outras [Suslick, 10 1995]. Uma boa imagem deste fenômeno foi proposta por Martines [2000], fazendo uma analogia com o diapasão. As moléculas de um líquido são mantidas juntas por força de interações intermoleculares, que acabam por determinar a tensão superficial do líquido. Para formar uma cavidade é preciso gerar, durante o ciclo de expansão da onda sonora, uma grande pressão negativa, capaz de superar a tensão superficial do líquido. A magnitude da pressão negativa necessária depende do tipo e da pureza do líquido. Para líquidos realmente puros, as tensões superficiais são tão grandes que não é possível, com os geradores atuais de ultra-som, produzir uma pressão negativa suficiente para a ocorrência de cavitação. No caso da água pura, por exemplo, seria necessária uma pressão negativa da ordem de 1000 atm para que ocorresse a formação de cavidades. Entretanto, Os aparelhos atualmente disponíveis não conseguem gerar mais do que 50 atm de pressão negativa. A explicação mais comumente usada está baseada na existência de partículas invisíveis ou bolhas de gás, que enfraquecem as forças intermoleculares, possibilitando a criação da bolha. De modo geral, a maioria dos líquidos está contaminada por pequenas partículas para iniciarem a cavitação. Korn et al [2001] propõem a adição de detergente na água para diminuir a tensão superficial, facilitando a cavitação. Uma bolha dentro de um líquido é inerentemente instável. Se a bolha é grande, ela flutuará e arrebentará na superfície, sendo pequena, ela se redissolverá dentro do líquido. Uma bolha irradiada com ultra-som absorve continuamente energia, a partir de ciclos alternativos de compressão e expansão da onda sonora. Isto faz com que as bolhas cresçam e se contraiam, estabelecendo um equilíbrio dinâmico entre o vapor interno da bolha e o líquido externo. Em certos casos, as ondas ultra-sônicas sustentarão uma bolha, que simplesmente oscilará em tamanho. Em outros casos, o tamanho médio da bolha crescerá. O crescimento da cavidade depende da intensidade das ondas ultra11 sônicas. Ultra-som de alta intensidade pode expandir a cavidade tão rapidamente, durante o ciclo de pressões negativas, que a cavidade nunca tem chance de encolher durante o ciclo de compressão. Para ultra-som de baixa intensidade, o tamanho da cavidade oscila em fase com os ciclos de expansão e compressão. A área da superfície de uma cavidade produzida por ultra-som de baixa intensidade é ligeiramente maior durante os ciclos de expansão, do que durante os ciclos de compressão. Isto significa dizer que o gás que entra na bolha é maior que o que sai da bolha, acarretando um crescimento da mesma, a cada ciclo de onda. A cavidade em crescimento pode, eventualmente, atingir um tamanho crítico, onde ela absorverá mais eficientemente energia do ultra-som. O tamanho crítico depende da freqüência do ultra-som. Em 20kHz, por exemplo, o tamanho crítico é uma cavidade de aproximadamente de 170 µm de diâmetro. Quando uma cavidade experimenta um crescimento muito rápido, devido a alta ou baixa intensidade do ultra-som, ela não consegue mais absorver, de forma eficiente a energia ultra-sônica . Sem esta energia, a cavidade não consegue mais se sustentar, acontecendo uma invasão do líquido e a bolha implode. A implosão das cavidades estabelece um meio ambiente inusitado para reações químicas. A compressão adiabática rápida, de gás e vapor dentro da bolha, gera intenso calor, que aumenta a temperatura do líquido, que envolve imediatamente a cavidade, criando uma região extremamente quente denominada “ponto quente” que é muito pequena mas que tem alta temperatura acarretando, na implosão, uma rápida dissipação deste calor. A temperatura da solução ou suspensão aumenta muito pouco devido ao colapso da bolha. A temperatura da cavidade de implosão, não pode ser medida com um termômetro físico, pois o calor é dissipado muito rapidamente para ser registrado. Segundo Suslick et al [1997, 1999], a velocidade de dissipação do calor é de cerca de um bilhão de graus por segundo. 12 Através de medidas cinéticas, Hammerton [apud, Suslick, 1989] descobriu duas regiões nítidas associadas com a temperatura de implosão da cavidade: (i) o centro da bolha, onde o gás e o vapor atingem a temperatura de 5500oC (temperatura da superfície do sol) e (ii) o líquido que envolve imediatamente a cavidade (com tamanho aproximado de 200 nm), cuja temperatura pode atingir 1900-2100oC. Estas 2 regiões foram representadas esquematicamente por Barbosa & Serra [1992]. Neste mesmo trabalho, as pressões a que são geradas as bolhas foram estimadas em 500 - 1000 atm, a partir dos valores de temperatura citados acima. As velocidades das reações químicas, quase sempre, aumentam com o acréscimo da temperatura. Por sua vez, as reações sonoquímicas sofrem efeitos contrários, sendo verificada uma diminuição de sua velocidade com o aumento da temperatura do sistema. Isto acontece, pois, com o incremento da temperatura ocorre um aumento da pressão de vapor do líquido, fazendo com que as bolhas passem a conter mais vapor, o que contribui para um aumento da sua estabilidade. Obviamente, esta estabilização das bolhas de cavitação tem como resultado uma diminuição da quantidade de implosões [Mason et al., 1990; Flint e Suslick, 1991; Suslick e Mdleleni, 1997]. As reações fotoquímicas dependem fortemente da freqüência da radiação aplicada, enquanto as reações sonoquímicas não dependem de modo significativo deste parâmetro pois, apesar da freqüência alterar o tamanho crítico da bolha de cavitação, não há mudança significativa do número de implosões [Suslick 1991]. Atualmente, têm-se bons controles sobre as reações sonoquímicas. Os aspectos que definem a magnitude do processo reacional são a freqüência e a intensidade da onda ultra-sônica, a temperatura ambiente, a pressão estática, o tamanho de partícula (no caso de reações heterogêneas) e a natureza do líquido e do gás presentes no meio reacional. O modo como estes fatores influenciam o 13 fenômeno da cavitação acústica, não são comuns na Química. Os gases dissolvidos em uma solução, em geral, têm efeito pouco significativo em uma reação química, porém, são de grande importância nas reações sonoquímicas. Se o gás for, por exemplo, bom condutor de calor, a reação pode até não acontecer. Por causa deste efeito, o uso de He, ao invés de Ar, pode modificar fortemente as características de uma reação sonoquímica [Mason,et al. 1990; Flint e Suslick 1991, Suslick e Mdleleni, 1997]. As dinâmicas de crescimento e implosão da cavidade são fortemente dependentes das condições locais, incluindo a natureza das soluções e/ou suspensões sonicadas. Com isto podem ser tecidas considerações importantes em relação aos procedimentos de lixiviação, já que os diversos tipos de meios podem ser agrupados em: soluções homogêneas, suspensões heterogêneas liquido-líquido, suspensões com superfícies sólidas e suspensões com partículas sólidas [Suslick et al. 1999]. A sonoquímica de soluções homogêneas depende, principalmente, dos efeitos físicos do rápido aquecimento e resfriamento, provocados pela implosão das cavidades. Birkin et al. [2001] apresentaram provas experimentais de que o calor das implosões decompõe a H2O em radicais livres H• e •OH e que durante o resfriamento, formam H2 e H2O2, responsáveis por reações de oxi-redução. Outros radicais são obtidos com outros solventes, acarretando diferentes reações [Flint e Suslick 1989, Borges e Korn, 2002]. A sonoquímica de dois líquidos imiscíveis é grandemente aumentada em virtude de como o ultra-som emulsifica a mistura e impede que as microbolhas geradas voltem a se juntar. Várias reações orgânicas têm sua velocidade e reatividade alteradas em função deste fenômeno [Suslick, 1989, Barbosa e Serra., 1992,.Martines et al. 2000]. A sonoquímica em sistemas heterogêneos (sólido-líquido) tem uma dinâmica de implosão das bolhas diferenciada. A perda da simetria, devido à 14 presença do sólido, modifica as implosões esféricas observadas nos sistemas homogêneos. A presença de uma superfície distorce a pressão do campo ultrasônico, causando uma implosão assimétrica. Isto gera um jato de líquido dirigido à superfície, que possui uma velocidade média da ordem de 400 km/h. Erosão de superfícies sólidas, abrasão de coberturas inativas e fragmentação de pós quebradiços são conseqüências da aplicação deste jato, bem como do choque das ondas a partir da implosão da cavidade [Suslick, 1989; Suslick e Doktycz, 1988; Barbosa e Serra 1992]. Além disso, estes processos são facilitados em função das altas temperaturas e pressões geradas próximo à superfície. Korn [2000] apresenta imagens de superfícies metálicas de Zn e Pt erodidas por ação de ondas ultra-sônicas com freqüência de 20 kHz, em água desionizada. Por outro lado, a Sonoquímica de suspensões contendo partículas sólidas depende, de modo significativo, das ondas de choque e campos elétricos gerados pelo ultra-som. Este fenômeno tem como principal conseqüência o movimento das partículas, que chegam atingir velocidades de 500 km/h, causando choques, que geram a fusão das partículas no ponto do impacto. Esta fusão melhora a reatividade do metal, modificando a morfologia superficial, o que facilita a extração pela retirada da cobertura de óxidos metálicos [Suslick,, 1989, Suslick et al. 1999, Suslick e Doktycz, 1989]. A lixiviação assistida por ultra-som é considerada por vários autores [Luque-Garcia e Castro, 2003, Ashley, 1998] um modo eficiente de extrair espécies metálicas presentes em diferentes tipos de amostras. As altas temperaturas (aumentam a solubilidade e a difusibilidade) e pressões (as quais ajudam a penetração e o transporte) formadas na interface entre as soluções aquosas e/ou orgânicas e as matrizes sólidas, submetidas à energia ultra-sônica, combinadas com o poder oxidativo dos radicais formados durante a sonólise, podem resultar em uma alta eficiência extrativa. 15 2.2. Radiação Microondas O tratamento de amostras para dissolução mediante o aquecimento com radiação microondas tem demonstrado ser um processo mais rápido, eficiente e seguro em comparação ao aquecimento convencional. Além disso, o uso de recipientes fechados durante o tratamento minimiza as possibilidades de contaminação das amostras e diminui o número de reagentes necessários para converter a amostra em solução, tornando-a adequada para a determinação dos analitos de interesse. A existência no mercado de um grande número de fabricantes de fornos de microondas desenhados especificamente para uso em laboratórios, é uma indicação do sucesso da preparação de amostras assistida por microondas. O uso de reagentes em baixas concentrações tem sido pouco explorado, porém uma investigação a este respeito para determinadas lixiviações pode ser uma alternativa que traria benefícios nas áreas de saúde e ambiental. Coletâneas de métodos são oferecidas pela maioria dos fabricantes desses sistemas que vêm sendo usados numa grande variedade de amostras entre as quais podem ser citadas: fluidos biológicos, amostras de interesse geológico, metalúrgico, águas residuais, efluentes industriais, alimentos, polímeros etc. Um forno fundamentalmente, de dos microondas seguintes para propósitos componentes: analíticos magnetron, consta, guia para microondas, distribuidor de ondas, cavidade, frasco de reação e bandeja rotatória ou rotor (Figura 2). 16 Figura 2. Diagrama esquemático de um forno de microondas com frasco fechado [Krug, 2003]. A radiação microondas produzida pelo magnetron é transportada através do guia de microondas para a cavidade, onde é dispersada pelo distribuidor em direções específicas, permitindo uma melhor irradiação da zona próxima ao centro da cavidade. Graças à bandeja rotatória, a radiação se distribui de forma homogênea e reprodutível sobre os frascos reacionais. O principal componente do forno de microondas é o magnetron que consiste da combinação de um anodo, um catodo e uma série de cavidades de ressonância, todos arrumados em geometria cilíndrica.. Rente ao catodo é gerado um campo magnético. Quando se aplica uma voltagem através dos eletrodos, geram-se elétrons que entram em ressonância sob a influência do campo magnético. Isto produz oscilações do magnetron. Nestas condições, os elétrons cedem energia em freqüências fixas ou variáveis, que são irradiadas. Os magnetrons de todos os fornos microondas comerciais emitem radiação na freqüência fixa de 2450 MHz. A potência da energia elétrica que os magnetrons 17 recebem é de aproximadamente 1200 W, sendo que aproximadamente a metade (600-700 W) é convertida em energia eletromagnética. A potência de radiação emitida pelo magnetron é controlada mediante a fixação de ciclos de operação de forma descontínua. Esses “ciclos de trabalho” definem a relação de tempo na qual o magnetron permanece ativo ou inativo. Existem fornos que apresentam 2 magnetrons e que garantem uma maior e mais homogênea transferência de energia para os frascos de reação. O número de bombas de digestão pode variar de 1 a 24, apresentando volumes internos que variam de 25 a 120 mL, dependendo do fabricante. Podem ser equipados com sensores de pressão e temperatura individuais ou coletivos baseados em termometria com sensores de fibras óticas e outros transdutores, o que permite que a pressão e, conseqüentemente, a temperatura possam ser ajustadas e monitoradas a valores programados, em qualquer momento do processo. Os recipientes para digestão (frasco de reação) devem cumprir várias condições como: a) transparência às microondas; b) resistência a deformações com o aumento da temperatura; c) baixa porosidade; d) baixa adsorção e e) contaminação mínima. Os materiais mais usados para a fabricação dos vasos ou copos de reação são o PTFE (TeflonTM), PFA (perfluoroalcoxi) e o TFMTM (PTFE modificado). Os materiais preferidos são o PFA e TFM por apresentarem melhor desempenho que o Teflon. As relações teóricas que regem a interação da radiação de microondas com a amostra e os reagentes utilizados para a digestão são basicamente aquelas que, de uma forma geral, regulam a interação entre matéria e energia. Obviamente, o tipo específico da radiação restringe as considerações e os efeitos da energia sobre a amostra e os reagentes presentes durante a ação das microondas no sistema. Na frequência de 2450 MHz e com uma potência que pode chegar a 1100 - 1200W, os sistemas de microondas de uso doméstico e laboratorial são capazes de fornecer até 262.900 cal/min. As ligações químicas não são 18 quebradas pela ação da radiação de microondas já que a energia quântica é muito pequena (0,0016 eV) quando comparada com a energia necessária para quebrar uma ligação química (H-OH; 5,2 eV). A forma de aquecimento da radiação de microondas é diferente daquela conhecida como condutiva, mais familiar aos químicos, pois o aquecimento pelas microondas envolve a absorção direta de energia pelo material que está sendo aquecido.. A absorção de radiação de microondas por determinado material leva a um aumento considerável em sua temperatura, devido, principalmente, à interação da radiação eletromagnética com os íons dissolvidos no meio e com o solvente, provocando os fenômenos conhecidos como migração iônica e rotação de dipolos. A ocorrência destes dois processos resulta em um movimento das moléculas no meio que também contribui para o aquecimento do mesmo. A migração iônica consiste no movimento eletroforético dos íons dissolvidos de algum ponto para outro no interior do meio. A razão para este movimento é a interação das espécies iônicas e o campo magnético oscilante da radiação eletromagnética. A resistência ao movimento dos íons causado por espécies que tem fluxo oposto gera perdas do tipo Ri2 (produção de calor) provocando um aumento da temperatura do meio nas vizinhanças de cada íon que migra. O aumenta da temperatura por sua vez acarreta o movimento dos íons provocando um efeito do tipo “avalanche”. Cada íon contribui para o processo de aquecimento que depende de sua concentração e mobilidade, sendo que esta depende do tamanho, carga , condutividade e temperatura do íon. As moléculas portadoras de momento dipolar induzido ou permanente sofrem o efeito do alinhamento e desalinhamento devido ao campo elétrico gerado pelas ondas eletromagnéticas, que são positivas e negativas alternadamente. A desordem das moléculas é aumentada assim como a agitação transformando em calor a energia absorvida para o realinhamento das moléculas. 19 Este fenômeno é chamado de rotação de dipolo e depende da freqüência e do tempo de relaxação da amostra, que por sua vez depende da temperatura e da viscosidade do meio. Os materiais diferem na sua habilidade de conversão da energia eletromagnética das microondas em energia térmica (calor). É então necessário conhecer o fator de dissipação de energia do meio que representa a capacidade de cada material em absorver energia das microondas. Esta absorção está diretamente relacionada com o grau de penetração da radiação no material. A penetração é nula nos materiais que refletem microondas, como os metais sendo infinita em meios transparentes (quartzo e Teflon são praticamente transparentes). Quando ocorre absorção, a penetração vai depender fundamentalmente da relação entre o fator de perda (€’’) e a constante dielétrica (€’) do meio considerado. Esta relação é conhecida como fator de dissipação e representado por tan δ, sendo expressa pela razão entre o fator de perda e a constante dielétrica (tan δ = €’’/€’) que permite avaliar a dissipação de calor por resistência à passagem das microondas. O aumento da temperatura diminui tan δ acarretando uma menor transformação da energia absorvida em calor. A água apresenta um alto valor de tan δ em comparação a outros materiais. Por razões óbvias é necessário se conhecer bem o efeito das microondas sobre a água. Como esta é uma molécula pequena, inicialmente o aquecimento da água por absorção de radiação microondas é dominada pela contribuição da rotação dipolar. Porém, à medida que a temperatura aumenta, a migração iônica também aumenta e a contribuição relativa da rotação do dipolo diminui. Portanto, com o aumento da temperatura, a contribuição da migração iônica aumenta torna-se mais importante. Soluções diluídas absorverão menos, pois o aumento da temperatura reduz a absorção devida ao fenômeno da rotação dipolar 20 e soluções mais concentradas terão aumento da absorção devido ao fenômeno da migração iônica. 2.3. Preparo de Amostras Empregando Ultra-som e Microondas com Frasco Fechado: O Estado da Arte A busca por novos procedimentos que sejam rápidos, de fácil execução e que demandem menores quantidades de reagentes, tem sido um dos grandes propulsores da pesquisa na área de Química Analítica nos últimos anos. Dentro deste contexto, a popularização do uso de radiação de microondas, para fins de pré-tratamento de amostras, pode ser tomado como o exemplo mais marcante deste fenômeno, com um número expressivo de trabalhos sendo publicados a cada ano, empregando os mais diversos dispositivos (fornos pressurizados e à pressão atmosférica, muflas e extratores Soxhlet) [Oliveira, 2003, Luque-Garcia e Luque de Castro, 2003]. Também, e por certo, de modo bem menos intenso, a energia presente nas ondas ultra-sônicas vem sendo explorada no desenvolvimento de metodologias para extração de espécies químicas em diferentes tipos de amostra. Filgueiras et al. [2000] discutiram as vantagens e as desvantagens na utilização da energia das ondas ultra-sônicas para a extração de metais, quando comparado ao uso da radiação de microondas. Os autores apresentaram um método para extração ácida (com HCl 0,3 % v/v durante 3 min) de alguns elementos metálicos (Mg, Mn e Zn) presentes em tecidos vegetais, com auxílio de uma sonda ultra-sônica operando a 30 % de sua amplitude máxima. Os metais foram posteriormente determinados por FAAS e os resultados apresentaram concordância estatística com os encontrados na digestão via forno de microondas. 21 O mesmo grupo de pesquisa [Pérez-Cid et al. 1999] avaliou a possibilidade de empregar a energia das ondas ultra-sônicas na aceleração do procedimento de extração seqüencial desenvolvido por Tessier [Tessier et al. 1979]. O procedimento foi aplicado na extração de Cu, Cr, Pb e Zn presentes em lodos provenientes de esgoto doméstico, necessitando de um tempo muito menor (cerca de 1 h) para completar as 5 etapas de extração previstas no método convencional. Problemas relacionados à extração de Cu (etapas 3 e 4) e Zn (etapa 4) são relatados pelos autores. Em outro trabalho, de natureza similar, Peréz-Cid et al. [1998] desenvolveram uma metodologia para a extração seqüencial de Cu, Cr, Ni, Pb e Zn em amostras de lamas retiradas de água de esgoto urbano. Neste caso foi empregada uma sonda ultra-sônica para diminuir o tempo de extração necessário, em cada uma das 3 etapas previstas no procedimento. Ainda no campo das extrações seqüenciais, Marín et al. [2001] propuseram um procedimento baseado na utilização da energia ultra-sônica, para avaliação da biodisponibilidade de Zn e As em solos. Foram testados esquemas de extração seqüencial e extração simples com DTPA (ácido dietileno-triaminopentaacético), sendo que apenas o procedimento de extração simples foi adaptado para uso de energia ultra-sônica (sonda). Os autores observaram que a agitação mecânica poderia ser facilmente substituída pela aplicação de ultra-som, com evidentes ganhos em termos de tempo. Os resultados obtidos na extração de Zn e As em amostras reais, foram validados por comparação com o procedimento tradicional. O grupo de Bermejo-Barrera et al. [1999, 2001] otimizou duas metodologias de extração empregando ultra-som, aplicadas à determinação de metais. Em ambos os casos, planejamentos experimentais baseados no modelo de Plackett-Burman foram utilizados com vistas à otimização multivariada das variáveis envolvidas e a espectrometria de absorção atômica com forno de grafite 22 (GFAAS) foi empregada como técnica de detecção dos metais nos extratos. No primeiro trabalho [1999], Cd, Cr, Hg e Se foram extraídos de cabelo humano empregando soluções ácidas contendo HNO3 e HCl na faixa de concentração entre 3,3 e 4,8 mol/L e peróxido de hidrogênio a 0,5 mol/L. Além destes parâmetros, foram estudadas as influências do tempo de exposição, da temperatura do banho ultra-sônico e do tamanho de partícula. Já no segundo trabalho [2001], a lixiviação ácida induzida por banho de ultra-som foi empregada na determinação de traços de metais (As, Ca, Cd, Cr, Cu, Fe, Hg, Mg, Mn, Pb, Se e Zn) em amostras de frutos do mar liofilizados. Ashley [1998], em um interessante artigo de revisão, discute a viabilidade do uso de ondas ultra-sônicas para a preparação de amostras de interesse industrial, sempre visando a determinação de metais pesados. Entre os métodos discutidos no trabalho, pode-se destacar o uso de ultra-som na extração de chumbo em amostras de particulado atmosférico indoor, especiação de cromo em distintas matrizes e extração multielementar simultânea de 14 elementos em amostras de filtros de fibra de vidro. O autor ainda alerta para a utilidade do ultra-som nos procedimentos de campo, devido a sua simplicidade, facilidade de uso, velocidade e aumento da segurança na comparação tradicionais na preparação de amostras. Ruiz-Jiménez et al. [2002] propuseram a utilização de ultra-som em um sistema dinâmico fechado, com circulação contínua da solução extratora, para a extração quantitativa de Cd e Pb presentes em folhas de plantas. O sistema mostrou-se eficiente para a preparação da amostra antes da determinação dos metais por GFAAS. Excelente exatidão foi observada na determinação destes metais em materiais certificados de referência. Nascimento et al. [2001] propuseram um método para a extração de Ca, Mg, Mn e Zn em amostras de vegetais (hortaliças), usando banho de ultra-som. Nas condições otimizadas (extração com HNO3 0,14 mol/L, tempo de sonicação 23 de 10 min e tamanho de partícula < 75 µm) recuperações entre 96 e 100% foram obtidas para todos os metais analisados, quando o procedimento foi comparado com a digestão total das amostras. Ainda, materiais certificados foram analisados a fim de atestar a exatidão da metodologia desenvolvida. Al-Merey et al. [2002] descreveram um método para a lixiviação ácida em banho de ultra-som de solos do Oriente Médio (Síria). O tempo de sonicação otimizado foi de 4h, sendo que, nesta condição, as recuperações foram semelhantes àquelas obtidas pelo uso de técnicas convencionais para Zn, Pb e Cu, enquanto que Sr, Mn, Fe, Al, Cr, Co e Ni foram recuperados apenas parcialmente. Materiais certificados foram usados para avaliar a exatidão do procedimento desenvolvido para a determinação de Zn, Pb e Cu. Luque-Garcia e Luque de Castro [2003] apresentaram uma revisão, alertando para a importância do uso de ultra-som em processos de lixiviação quando comparados com os métodos tradicionais, onde discutem as vantagens e as desvantagens do método assistido com ultra-som. Outra revisão foi recentemente apresentada por Capelo et al. [2003], fazendo comparação entre o uso de ultra-som de banho e o ultra-som de sonda e analisando os fatores que interferem na extração. Carvalho et al. [1995] estudaram o efeito da irradiação ultra-sônica na extração de espécies químicas presentes em material particulado atmosférico. Os autores observaram que, empregando água ou acetona, diversas espécies aniônicas podem ser geradas como resultado do uso do ultra-som para extração, levando à interpretação errônea dos resultados analíticos. As ondas ultra-sônicas também vêm sendo empregadas, com razoável freqüência, na extração de substâncias orgânicas em diferentes matrizes. Neste contexto, alguns trabalhos importantes podem ser relacionados. Babic et al. [1998] extraíram pesticidas (atrazina, profam, cloroprofam, difluorobenzuron, αcipermetrina, tetrametrina) presentes em solos utilizando ultra-som. Os 24 resultados obtidos demonstraram que a utilização do ultra-som proporcionou eficiência similar aos métodos tradicionais de extração (agitação mecânica e Soxhlet), apresentando, como vantagens, menores tempos de extração além do gasto de menores volumes de solvente. Os pesticidas foram determinados por cromatografia em camada fina, sendo a exatidão do método avaliada empregando-se testes de recuperação. Palma et al. [2002] otimizaram um método de extração assistida por sonda de ultra-som, para determinação dos ácidos maléico e tartárico em uvas, empregando um planejamento fatorial fracionado. Sete variáveis foram testadas sendo que, as que apresentaram efeitos mais importantes foram a temperatura de extração e a natureza do solvente empregado. A quantificação dos ácidos extraídos foi efetuada por cromatografia a líquido. Nas condições ideais (30 min de exposição a 200 W e 24 kHz) foram obtidas boas exatidão e repetibilidade. Carpinteiro et al. [2001] desenvolveram um procedimento rápido e simples para lixiviação simultânea de fenil-estanho e mono, di e tributil-estanho em amostras de sedimento com auxilio de um banho de ultra-som. Recuperações entre 70 e 90% e uma precisão entre 3 e 10 % foram obtidas na aplicação do procedimento com ultra-som. Pino et al. [2001] publicaram estudo referente à extração ultra-sônica (usou ultra-som de banho) de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) em sedimentos marinhos. A extração foi realizada em meio micelar utilizando o Polioxietileno-10-lauril éter como agente surfactante. Planejamentos fatoriais foram utilizados para a otimização dos parâmetros da extração, sendo observado que o fator concentração do surfactante era o mais importante. As análises dos extratos foram realizadas por CLAE com detecção por UV. A média de recuperação foi de 86,7-106,6%, com desvio padrão situado entre 2,02-6,83% para (HPAs) com um numero de anéis maior que três. Pereira Netto et al. [2002, 25 2006] empregaram esta técnica de extração para a determinação de HPAs em diferentes amostras de origem ambiental. Hromádková et al. [2003] compararam a extração dos componentes da hemicelulose presentes em cascas de trigo, com e sem a aplicação de ultra-som (sonda). Os autores observaram que o rendimento da extração com o uso de ultra-som foi maior e manteve as propriedades moleculares e estruturais, bem como atividade imunológica das substâncias pesquisadas. Muitos métodos para tratamento de amostras sólidas podem ser encontrados na literatura usando microondas com frascos fechados. Eles são recomendados nos casos em que é preciso aproveitar o efeito de altas temperaturas para dissolver amostras de “difícil” decomposição ou nas quais se pretende determinar componentes voláteis. Em geral, as vantagens preconizadas para digestão assistida por microondas em frascos fechados são a maior eficiência na dissolução em altas temperaturas, risco reduzido de perdas de analitos por volatilização, risco reduzido de contaminações devidas ao ambiente de trabalho e menor consumo de reagentes de alta pureza [Krug, 2003]. Nowinsci e Hodge [1994] usaram água régia para uma rápida dissolução de amostras de origem geológica para a determinação de metais do grupo Au e Pt. Para isso 10g de amostra foram misturadas com 30mL de água régia e a reação prosseguiu por 15 min. Os frascos foram selados e as amostras irradiadas por 20 min com 500 W. Depois do aquecimento, as soluções foram filtradas, diluídas com água para 100 mL e analisadas por ICP-OES para diversos elementos (Ru, Rh, Pd, Ir, Pt e Au). Embora os resultados fossem dependentes das matrizes, os autores consideraram bom os resultados obtidos. Nesta linha, Totland et al. [1995] usaram uma mistura ácida (HNO3 – HCl –HF – HClO4) para dissolução de amostra de minério em microondas pressurizado. Javis et al. [1997] verificaram que a abertura de amostras de minerais com material refratário com resultados quantitativos só era alcançada após dupla 26 digestão no microondas com minifusão. Zehr et al. [1994] usaram soluções de NaOH e LiOH, na presença de H2O2 para dissolver tungstênio e óxido de molibdênio. A determinação de elementos terras raras em carvão pulverizado foi realizada por Watking et al. [1995]. A digestão ácida assistida por microondas possibilitou ganho de tempo. Doze elementos terras raras foram determinados por espectrofotometria UV/VIS em concentrações de 10 a 50 ng/g após a separação cromatográfica. O método foi validado por comparação com materiais de referência (NBS 1632A, SARM-18, SARM-19 e SARM-20). Ivanova et al. [2001] usaram materiais de referência para validar 4 procedimentos para a determinação de metais essenciais e tóxicos e elementos terras raras em amostras de solos. A quantificação dos analitos foi feita por ICPMS. Kubracova [1997] revisou procedimentos com microondas aplicados à abertura de minerais sulfurados, carbonatos, carvão, óxidos de metais nobres, solos e poeiras assim como materiais botânicos e amostras biológicas para posterior determinação dos metais por ETAAS. Silvia et al. (2005) empregaram 4 estratégias distintas (extração sequencial, microondas com potência constante, ultra-som e microondas com temperatura constante) para o tratamento de amostras de solo certificadas visando a determinação de metais. O procedimento com microondas em temperatura constante foi superior aos demais na extração do metais Cd, Zn, Cu e Ni (100% de extração), mas apresentou 80% de recuperação para Pb e Cr. A radiação microondas foi usada para preparar amostras para a determinação de nitrogênio, fósforo e sulfetos em tecidos de ostras e sedimentos de rios [Colina e Gardiner 1999]. A amostra pesando cerca de 0,2 g foi misturada com 10 mL de H2O2 e com 50 mL de ácido fórmico. A mistura foi colocada no microondas e foi aplicado o programa que consistia em 250 W (5 min), 0 W (15 min) e 600 W (10 min). Ao término do programa, foram adicionados 10 mL de 27 H2O2 e o programa foi repetido. Os ânions (SO4=, PO4-3 e NO3-) foram medidos por cromatografia de íons e o método foi validado com material certificado.Vale apenas salientar que o uso de H2O2 tem como vantagem adicional em cromatografia o fato que seu excesso gera apenas água . Quevauviller et al. [1993] afirmam que o principal uso de pré tratamento de amostra com microondas fechado é quando se pretende determinar a quantidade de metais em vários tipos de amostra, principalmente nas de origem ambiental. Seu trabalho mostra a evolução do sistema de microondas para a digestão de amostras ambientais, apresentando suas vantagens. Alerta também para o uso deste sistema em amostras que possuem matéria orgânica, considerando esta como a situação mais crítica de qualquer método analítico. Wen et al. [1997] apresentaram a otimização da abertura de sedimentos marinhos para determinação de Cu, Pb e Cd. A abertura de cerca de 0,1 g de amostra de sedimento foi realizada com 4-5 mL de uma mistura composta por HNO3, HF e H2O2. A mistura foi irradiada por 30 min a 100% de potência, que mostrou ser a melhor condição levando a uma recuperação de 93-100% destes metais. Neste artigo, pode ser encontrada uma boa descrição de como realizar um procedimento de digestão usando microondas. 2.4. Determinação de metais em suplementos multivitamínicos/multiminerais Na maioria dos casos, a determinação de metais em suplementos vitamínicos tem seguido o procedimento de digestão total. Fe e Mo foram determinados em preparações farmacêuticas por FAAS, após calcinação a 600oC. Nenhuma perda destes elementos foi observada nesta temperatura [Canfranc et al., 2001] 28 Hight et al. [1993] usaram ácidos em ebulição e misturas de HNO3, HClO4, H2SO4 e H2O2 para a completa dissolução de suprimentos dietéticos com aquecimento antes da medida de 36 elementos em 42 amostras. Um sistema FIA com multicomutação foi desenvolvido para a determinação espectrofotométrica de Fe, Zn, Ca e Mg em amostras de multivitaminas. Digestão total de amostras com mistura de HNO3 e HClO4 aquecimento em placa foi empregada antes da injeção [Rocha et al. 2001a, 2001b]. Digestão de amostras sólidas assistida por microondas em frascos fechados com misturas ácidas ou ácidos concentrados tem sido empregada na determinação de vários elementos em matrizes complexas [Cassella et al., 1999; Bettinelli et al., 2000; Wen et al., 1997; Kowalewska et al., 1998; Sastre et al., 2002]. Como já foi discutido, as principais vantagens da digestão assistida por microondas de frascos fechados são sua velocidade relativa (1 hora ou menos), baixa possibilidade de contaminação e perda mínima dos elementos voláteis, embora o alto custo da instrumentação envolvida possa ser uma limitação importante. Esta técnica tem sido aplicada na determinação de Cr e outros elementos nos suplementos vitamínicos ou minerais [Soltyk et al., 2003]. A radiação de microondas foi usada como fonte de energia para a decomposição de amostras com HNO3 visando a determinação de As,Cd, Hg e Pb em 95 suplementos alimentares multielementares e em materiais de referencia NIST. [Dolan et al., 2003]. Recentemente, o uso dos processos de extração tem obtido um espaço considerável no campo da preparação de amostras [Oliveira, 2003; Cassella et al., 1999; Bettinelli et al., 2000; Wen et al., 1997; Kowalewska et al., 1998; Sastre et al., 2002; Luque-García e Luque de Castro, 2003]. Isto provavelmente ocorre devido as vantagens deste procedimento que são: 1) baixo custo; 2) alta velocidade; 3) possibilidade de processar grande número de amostras simultaneamente e 4) baixa necessidade de supervisão de pessoal. Apesar destas 29 vantagens, somente um trabalho foi encontrado na literatura sobre o uso de lixiviação/extração para a determinação de elementos em suplementos multivitamínicos. Mg foi extraído destes suplementos em banho de ultra-som com excelente precisão [Abarca et al., 2001] Em face do difundido consumo de suplementos multiminerais/multivitamínicos (SMMs) [Millen et al., 2004] há interesse no desenvolvimento de métodos confiáveis para a determinação dos elementos químicos presentes nestes suplementos. Muitos autores têm empregado diferentes técnicas analíticas para tal fim e diferentes estratégias para a preparação das amostras [Dolan e Capar, 2002; Krejcova et al., 2006; Hight et al., 1993; Dolan et al., 2003; Rocha et al., 2001a-b; Soltyck et al., 2003; Canfranc et al., 2001; Abarca et al., 2001]. O objetivo deste trabalho foi investigar a possibilidade de uso de extração assistida por ultra-som e por microondas, assim como por agitação magnética, empregando soluções de ácidos diluídos para a extração/lixiviação de metais selecionados (Cu, Fe, Mn e Zn) em diferentes amostras de SMMs encontrados no mercado local como alternativa ao processo de digestão total das amostras usando ácidos concentrados. 30 3. PARTE EXPERIMENTAL 3.1. Reagentes e Soluções Em todos os experimentos foi empregada água ultrapura obtida em um sistema de purificação de água Milli-Q (Millipore, Bedford, EUA). Toda água inserida no sistema Milli-Q foi previamente destilada e desionizada em coluna de leito misto. Todas as soluções utilizadas ao longo do trabalho experimental foram preparadas empregando-se reagentes e ácidos de grau analítico sem purificação prévia. Os seguintes reagentes foram utilizados: • Ácido nítrico concentrado (Vetec, Rio de Janeiro, Brasil). • Ácido clorídrico concentrado (Vetec, Rio de Janeiro, Brasil). • Tetracloreto de carbono (Reagen, Rio de Janeiro, Brasil). • Ácido fluorídrico concentrado (Vetec, Rio de Janeiro, Brasil). • Hidróxido de sódio sólido (Vetec, Rio de Janeiro, Brasil) 31 Para preparação das soluções dos cátions metálicos em estudo foram empregadas soluções estoques individuais contendo 1000 mg/L de Cu(II), Fe(III), Zn(II) e Mn(II). Estas soluções estoque foram fornecidas pela Reagen. As soluções de referência empregadas nas medidas por FAAS dos analitos foram preparadas diariamente, por diluição, momentos antes das medições. A Tabela abaixo mostra as concentrações das soluções de referência empregadas para cada cátion: Tabela 2. Concentrações das soluções empregadas na construção de curvas de calibração dos elementos estudados. Analito Concentrações (mg/L) Cu(II) 0,20 0,50 1,00 1,50 2,00 Fe(III) 0,20 1,00 2,00 4,00 5,00 Mn(II) 0,20 0,50 1,00 1,50 2,00 Zn(II) 0,10 0,20 0,50 0,80 1,00 Frascos e vidrarias utilizados foram previamente descontaminados por imersão em banho de HNO3 10% por, no mínimo, 24h. 3.2. Equipamentos Para as medidas de absorção atômica foi utilizado um espectrômetro de absorção atômica Analyst 100, da Perkin Elmer, equipado com lâmpadas de catodo oco específicas para cada elemento de interesse (Cu, Fe, Mn, e Zn). O equipamento foi operado nas condições recomendadas pelo fabricante para a determinação de cada elemento. Os parâmetros operacionais para cada elemento estão designados na Tabela abaixo: 32 Tabela 3. Parâmetros instrumentais para determinação por absorção atômica com chama dos elementos estudados. Parâmetro Mn Fe Zn Cu Corrente da lâmpada (mA) 30 30 15 30 comprimentode onda (nm) 279,8 248,3 213,9 324,8 Fenda de entrada (nm) 0,2 0,2 0,7 0,7 Composição da chama aracetileno aracetileno aracetileno aracetileno Um forno de microondas preparado para laboratório, modelo DGT-100 Plus, da Provecto Analítica (Jundiaí, SP), foi utilizado na digestão e extração das amostras. Os frascos de TFM (PTFE quimicamente modificado com éter perfluoropropil-vinílico - PPVE) com volume interno de 100 mL também foram fornecidos pela Provecto Analítica. Nos procedimentos de extração foram utilizados: (a) um banho de ultrasom fornecido pela Lab-Line Instruments (Melrose Park, USA), modelo 9332, com freqüência constante de 40 MHz; (b) um agitador magnético Quimis (Rio de Janeiro, Brasil), modelo Q – 221, com uma velocidade de agitação de 1200 rpm. Um potenciômetro da marca Quimis, modelo Q-400M, equipado com um eletrodo combinado de vidro, foi empregado nas medidas de pH. A calibração foi realizada empregando-se tampões com pH 4,01 e 7,00, fornecidos pela própria Quimis. 33 3.3. Identificação do Ponto de Maior Cavitação do Banho de Ultra-som 3.3.1. Erosão de papel alumínio. O primeiro procedimento para identificação do ponto de máxima cavitação do banho de ultra-som foi o teste de erosão do papel alumínio. O teste foi realizado forrando-se toda a superfície do fundo da cuba do banho de ultra-som com papel alumínio. Foi adicionado à cuba 1 L de água na temperatura de 12oC e aplicou-se ultra-som durante 5 min. 3.3.2. Sonicação de uma solução saturada de CCl4. Uma solução saturada de CCl4 foi preparada pela mistura de 2 mL de CCl4 com 2000 mL de água ultra-pura. Alíquotas de 50 mL desta solução foram submetidas à ação do banho de ultra-som durante tempos que variaram entre 1 e 10 min. Medidas do pH da solução foram realizadas neste intervalo de tempo. Adicionalmente, duas outras alíquotas de 50 mL da solução saturada de CCl4 foram sonicadas por 5 e 10 min e posteriormente tituladas com uma solução padrão de NaOH na concentração de 0,0100 mol/L. Como referência, 50 mL da solução saturada de CCl4 foram diretamente titulados (sem sonicação) com a mesma solução de NaOH. 34 3.4 Procedimentos de Processamento das Amostras 3.4.1 Pré-Tratamento da Amostra Sólida Os suplementos multivitamínicos/multiminerais (SMM) aqui estudados foram adquiridas no mercado local. Amostras representativas foram preparadas triturando-se um conjunto de 20 tabletes ou comprimidos em gral de ágata. Após a homogeneização o sólido triturado foi peneirado através de uma peneira plástica com diâmetro de poro de 2 mm. 3.4.2. Digestão das Amostras A digestão das amostras foi realizada misturando-se cerca 0,12 g (pesados ao décimo de mg) de cada amostra com 5 mL de ácido nítrico concentrado diretamente no frasco do próprio forno de microondas. O frasco foi então fechado e ajustado no carrossel do aparelho e o programa de aquecimento mostrado na Tabela 4 foi executado. Após a execução do programa de temperatura, os frascos foram resfriados à temperatura ambiente (cerca de 15 min), sendo em seguida abertos. O conteúdo foi quantitativamente transferido para balões volumétricos de 100 mL e volume foi completado até a marca com água ultrapura. A solução obtida foi filtrada e, quando necessário, diluída para a determinação das concentraçãoções dos metais de interesse por FAAS. 35 Tabela 4. Programa de aquecimento utilizado para digestão das amostras em forno de microondas. Etapa Ácido Volume(mL) Potência (W) Tempo(min) 1 HNO3 5 300 2 2 HNO3 5 720 5 3 HNO3 5 200 5 4 HNO3 5 0 2 5 HNO3 5 0 0 3.4.3. Avaliação da distribuição do cobre após a extração Para obtermos a avaliação da distribuição de cobre, alíquotas de 0,12 g (pesadas ao décimo de mg) das amostras pulverizadas de SMM foram misturadas com 20 mL de solução de HCl 1 mol/L. As misturas foram agitadas durante 5 min empregando-se agitação magnética. A suspensão foi filtrada e lavada com solução 1 mol/L de HCl sendo o filtrado transferido para balão volumétrico de 100 mL até a marca. A solução obtida foi diluída, quando necessário, para a determinação da concentração de Cu por FAAS. O sólido retido no papel de filtro foi intensivamente lavado com 100 ml de água régia sendo o filtrado recolhido em balão volumétrico de 100 mL. O volume foi completado até a marca com a própria água régia efluente e a concentração de Cu foi determinada usando FAAS. O papel de filtro foi então secado em estufa e transferido para um cadinho de porcelana. O papel de filtro foi então lentamente queimado sob a ação da chama do bico de Bunsen. Após a total incineração do papel de filtro, o sólido branco resultante foi transferido quantitativamente, com o auxílio de 5 mL de água régia, para o frasco de microondas onde foram adicionados 2 mL de HF concentrado. O frasco foi então ajustado no carrossel do forno de microondas 36 com o aparato de evaporação fornecido pelo próprio fabricante. Após isto, o programa de aquecimento mostrado na Tabela 4 foi executado. Então, o conteúdo do frasco foi transferido quantitativamente para um bécher e a concentração de Cu foi medida por FAAS. 3.4.4. Extrações com ultra-som ou agitação magnética Alíquotas de 0,12 g das amostras de SMMs foram pesadas ao décimo de mg, misturados com 20 mL de solução de extratora contendo HCl com concentrações variáveis (0,01 a 1 mol/L). Também foram realizadas extrações nas mesmas condições empregando-se soluções extratoras contendo HNO3 1 mol/L e misturas ácidas contendo HCl e HNO3 com concentração total de ácido igual a 1 mol/L. As suspensões foram agitadas por tempos que variaram de 10 s a 10 min empregando-se banho de ultra-som ou agitação magnética. Após isto, a suspensão obtida foi filtrada e as concentrações de metais foram determinadas no filtrado por FAAS. A aplicação do ultra-som foi realizada ajustando-se o bécher de vidro no centro do aparelho em contato com o fundo do mesmo. À cuba do banho de ultra-som foram adicionados 1000 mL de água da torneira, na temperatura de 12 a 20oC. A água do banho de ultra-som foi inteiramente trocada após cada extração, a fim de maximizar o efeito das ondas ultra-sônicas, de acordo com as recomendações de Nascentes et al. [2001]. 3.4.5. Extrações de longo tempo Alíquotas de 0,12 g das amostras de suplementos alimentares foram misturados com 20 mL de solução de HCl 1 mol/L e agitadas durante 1 min com agitador magnético. A suspensão obtida foi deixada em repouso pelo tempo 37 escolhido (5 min a 12h) e filtrada. As concentrações dos metais de interesse foram determinadas nos extratos após a diluição adequada. 3.4.6. Extração empregando radiação microondas Cerca de 50 mg das amostras de SMMs foram pesados ao décimo de miligrama diretamente no frasco do forno de microondas. Foram adicionados 10 mL de solução de ácido nítrico ou clorídrico em diferentes concentrações (0 a 1 mol/L). O frasco foi fechado e levado ao forno de microondas, onde foi irradiado por tempos (5 a 25 min) e potências variáveis (200 a 600 W). Neste estudo, os experimentos foram realizados de acordo com o planejamento MOSTRADO NA Tabela 5, baseado na matriz de Doehlert. Após o término do programa de irradiação, a suspensão obtida foi quantitativamente transferida para um balão volumétrico de 50 mL e o volume foi completado com água ultrapura. Após a filtração e a devida diluição, as concentrações dos metais nas soluções foram determinadas por FAAS. 38 Tabela 5. Condições experimentais empregadas na otimização do procedimento de extração assistida por radiação microondas segundo o planejamento Doehlert. Concentração de ácido Potência Tempo (mol/L) (W) (min) 0,00 600 10 0,00 600 20 0,17 200 15 0,34 990 10 0,34 990 20 0,50 600 15 0,50 600 15 0,50 600 5 0,50 600 25 0,67 200 10 0,67 200 20 0,84 990 15 1,00 600 10 1,00 600 20 39 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. A Espectrometria de Absorção Atômica com Chama A Espectrometria de Absorção Atômica com Chama (FAAS) mostrou-se uma técnica adequada para as medidas de concentração de metais nas soluções obtidas ao longo do trabalho experimental, uma vez que, após as extrações ou dissoluções totais efetuadas, as soluções finais obtidas apresentavam matrizes de baixa complexidade, não necessitando assim da aplicação do método de adição padrão para quantificação dos analitos em estudo. A sensibilidade alcançada com a técnica de FAAS foi suficiente para a determinação das concentrações dos analitos em todas as soluções obtidas. As curvas de calibração apresentaram faixa linear dinâmica compatível com aquelas sugeridas pelo fabricante. A linearidade de tais curvas de calibração foram satisfatórias, obtendo-se sempre coeficientes de correlação maiores do que 0,9995. Curvas analíticas típicas para cada analito estão apresentadas abaixo Figura 3. 40 0,25 0,14 y = 0,0436x + 0,0042 R=1 y = 0,063x + 0,0029 R = 0,9998 0,12 0,20 0,15 0,08 Abs. Abs. 0,10 0,06 0,10 0,04 0,05 0,02 0,00 0,00 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 0,0 1,0 2,0 4,0 5,0 6,0 0,8 1,0 1,2 0,40 0,35 y = 0,1444x + 0,0028 R = 0,9998 0,30 y = 0,3141x + 0,0264 R = 0,9998 0,35 0,30 0,25 0,25 0,20 Abs. Abs. 3,0 Fe (mg/L) Cu (mg/L) 0,15 0,20 0,15 0,10 0,10 0,05 0,05 0,00 0,00 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 0,0 Mn (mg/L) 0,2 0,4 0,6 Zn (mg/L) Figura 3. Curvas analíticas típicas para Cu, Fe, Mn e Zn obtidas por FAAS. A partir das curvas analíticas foi possível calcular os limites de detecção e quantificação, em solução, para cada um dos analitos em estudo. Tais dados estão apresentados na Tabela 6. Tabela 6. Características analíticas observadas para os diferentes analitos estudados, em solução. Parâmetro Cu Fe Mn Limite de Detecção (3σ) (µg/L) 47,6 68,1 20,7 Limite de Quantificação (10σ) (mg/L) 0,16 0,23 0,069 RSD (%)* 6,4 7,7 3,2 * Os valores de RSD são relativos às concentrações de 0,20 mg/L. 41 Zn 9,5 0,032 3,2 4.2. Investigação das condições de cavitação do banho de ultra-som De acordo com Nascentes et al. [2001], a caracterização dos banhos de ultra-som é de fundamental importância quando da utilização destes aparatos para indução/aceleração de reações químicas, extrações, etc. Fatores como a posição do recipiente onde é conduzido o processo apresentaram grande influência sobre os resultados finais. Deste modo, inicialmente, o banho de ultrasom utilizado neste trabalho foi caracterizado com relação à melhor posição para ajuste dos frascos de extração. Conforme descrito na seção experimental, foi utilizado o método da erosão da folha de alumínio para identificação da melhor posição para o frasco de extração. Os resultados obtidos estão mostrados na Figura 4. Figura 4. Fotografias das folhas de papel alumínio antes e depois da sonicação. Os resultados obtidos identificaram, para o equipamento utilizado, 3 pontos onde a cavitação ocorre com máxima intensidade. Dois deles estão situados exatamente sobre os cristais piezoelétricos do banho de ultra-som e o 42 terceiro ponto, escolhido para utilização nas extrações, está localizado no ponto médio entre os dois cristais. Este resultado é condizente com as observações relatadas no trabalho de Nascentes et al. [2001]. Outro experimento realizado para avaliar a capacidade de cavitação do banho de ultra-som, na posição escolhida para o trabalho, foi o teste da titulação antes e após a sonicação de uma solução aquosa saturada com CCl4. De acordo com literatura Borges & Korn, [2002], a sonicação de soluções de CCl4 possibilita a formação de íons H3O+ devido aos processos mostrados na Figura 5 [Korn, et al. 2003]. Os íons H3O+ formados podem ser titulados com solução de NaOH. ))) CCl 4 → Cl • + • CCl 3 Cl • + H 2 O → HCl + • OH 2Cl • + H 2 O → HCl + HClO 2Cl • → Cl 2 Figura 5. Fenômenos envolvidos quando da sonicação de uma solução saturada de tetracloreto de carbono. Os resultados obtidos na titulação das soluções sonicadas (por 5 e 10 min) e não-sonicada estão mostrados na Figura 6. Como pode ser visto, fica evidente o aumento da acidez nas soluções sonicadas, enquanto que na solução nãosonicada, a adição de apenas 0,50 mL de solução de NaOH 0,010 mol/L elevou o pH da solução para 8,86, evidenciando que a quantidade de H3O+ presente era desprezível. Também pode ser observado, quando da sonicação das soluções, o aparecimento de uma região de tamponamento próxima ao pKa do ácido hipocloroso, que é um dos ácidos produzidos pela sonicação de soluções aquosas saturadas de CCl4, de acordo com o modelo proposto [Korn, 2000]. 43 Por outro lado, o aumento do tempo de sonicação levou a um significativo aumento da concentração de H3O+ nas soluções, processo este evidenciado pelo aumento do volume de solução de NaOH para completar a titulação. Foram necessários cerca de 6,0 mL da solução de NaOH para titulação da solução sonicada por 5 min e cerca de 10 mL para titulação da solução sonicada por 10 min. 12,0 10,0 8,0 pH 6,0 4,0 2,0 0,0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Volume de Titulante, NaOH 0,01 mo/L (mL) Figura 6. Curvas de titulação das soluções de CCl4 após sonicação. (■) Solução não sonicada (○) solução sonicada por 5 min e (●) solução sonicada por 10 min. O simples monitoramento do pH da solução sonicada ao longo de 22 min, confirmou o resultado obtido no experimento anterior. Pode ser observado, nos resultados obtidos (Figura 7), que o pH da solução diminui de modo significativo nos primeiros 10 min de sonicação, certamente devido aos processos mostrados na Figura 5. Após este tempo de sonicação, já não se percebe uma diminuição significativa do pH em virtude da alta concentração de H3O+ já existente. 44 6,50 6,00 5,50 pH 5,00 4,50 4,00 3,50 3,00 0 5 10 15 20 25 Tempo de Sonicação (min) Figura 7. Efeito do tempo de sonicação sobre o pH de uma solução saturada de tetracloreto de carbono. 4.3. Extração dos metais presentes nos SMMs. O principal objetivo deste trabalho foi desenvolver uma metodologia para a extração de Cu, Fe, Mn e Zn presentes em SMMs comerciais empregando soluções diluídas de ácidos como alternativa aos procedimentos de dissolução total da amostra, onde são empregados, em geral, reagentes perigosos como ácidos concentrados e peróxido de hidrogênio [Krejcova, et al. 2006; Hight, et al. 1993]. Adicionalmente, o tempo gasto nos procedimentos de abertura total costuma ser elevado, o que diminui de modo significativo a produtividade analítica. A fim de alcançar o objetivo proposto, foi realizado um estudo sistemático a fim de avaliar a influência de diferentes parâmetros sobre o processo de extração. Os parâmetros avaliados foram: (1) modo de extração 45 (ultra-som e agitação magnética), (2) tempo de extração; (3) concentração do ácido e sua e natureza e (4) potência do ultra-som. Ainda, um planejamento multivariado, baseado na Matriz de Doehlert, foi realizado para otimização do procedimento de extração empregando radiação microondas com ácido diluído. 4.3.1. Determinação das concentrações totais de Cu, Fe, Mn e Zn em amostra de SMM. Antes de iniciar a avaliação das condições de extração, uma amostra de SMM foi analisada em relação ao seu conteúdo total de Cu, Fe, Mn e Zn. Tal amostra foi utilizada como referência ao longo de todo o trabalho experimental realizado. Esta amostra foi designada como SMM-1. O processo de abertura da amostra de referência foi levado a cabo empregando-se uma metodologia baseada no aquecimento via radiação microondas [Hight et al., 1993; Dolan et al. 2003; Oliveira, 2003]. A descrição completa do experimento pode ser encontrada na seção 3.4.2. O fluxograma relativo ao experimento pode ser visualizado na Figura 8. 46 Amostra 0,12 g no frasco TFM Adicionar 5 mL de HNO 3 concentrado Programa de aquecimento Tabela 4 Irradiaçao microondas Ajuste de volume Filtraçao Mediçao Cu, Fe, Mn e Zn Figura 8. Fluxograma do experimento de abertura de amostra de SMM por microondas. Os resultados obtidos foram comparados com os valores individuais, para cada metal, contidos na bula do SMM (Tabela 7). Tabela 7. Concentrações dos metais (determinados e tabelados) na amostra de referencia SMM-1. Os resultados são apresentados como média ± desvio padrão. Elemento* Concentração Determinada** Valores Indicados (mg g-1) (mg g-1) Cu (n = 4) 1.24 ± 0.04 (3.2 %) 1.33 Mn (n = 6) 1.32 ± 0.04 (3.0 %) 1.36 Fe (n =6) 12.2 ± 0.5 (4.1 %) 12.3 Zn (n = 6) 9.87 ± 0.03 (3.4 %) 10.2 * O número entre parênteses indica o número de determinações independentes. ** O número entre parênteses indica o coeficiente de variação da medida. 47 Comparando-se os valores obtidos com os valores indicados pode-se notar que não há diferença significativa entre ambos. Aplicando-se um teste de correlação entre os valores obtidos e os tabelados foi obtida a seguinte equação: VD = 1,01 VI + 0,065 onde VD representa o valor determinado em mg/g e VI representa o valor indicado na bula, também em mg/g. A correlação obtida foi igual a 0,9998. Como se pode perceber tanto o coeficiente angular da reta obtida quanto a correlação apresentaram valores muito próximos da unidade, indicando que não há diferença estatística relevante entre os resultados obtidos e os valores indicados na bula para os metais em estudo. Vale ressaltar que os todos os cálculos efetuados ao longo do trabalho foram realizados tomando-se os valores determinados como referência. 4.3.2. Extração dos metais em SMM usando ultra-som e agitação magnética. O primeiro experimento realizado a fim de determinar as melhores condições de extração dos metais selecionados foi baseado na avaliação simultânea das influências do método de extração (ultra-som ou agitação magnética), tempo de extração e natureza e concentração do ácido presente na solução extratora (HCl e/ou HNO3). É importante destacar que o experimento consistiu na extração de aproximadamente 0,12 g da amostra referência com 20 mL soluções de HCl com concentrações de 0,01; 0,05; 0,1 e 1,0 mol/L. O tempo de extração foi variado de 10 s a 10 min. Um resumo deste experimento pode ser visto no fluxograma abaixo (Figura 9). Os resultados obtidos nas extrações com HCl estão mostrados na Figura 10 (A até H). 48 Amostra 0,12 g em Becher 50 mL Adicionar 20 mL de Acido (HNO 3, HCl ou mistura) Ultra-som Extraçao tempo variavel Agitaçao Magnetica Filtraçao Mediçao Cu, Fe, Mn e Zn Figura 9. Fluxograma do experimento de extração usando ultra-som ou agitação magnética. Os resultados obtidos demonstraram que o processo de lixiviação dos metais presentes na amostra é razoavelmente independente do método de extração empregado (ultra-som ou agitação magnética). Esta conclusão foi tirada tendo em vista que os perfis das curvas de extração no tempo são muito semelhantes para cada metal estudado, nas diferentes concentrações de HCl empregadas. Deste modo é possível também concluir que a cavitação característica do ultra-som não desempenha um papel importante no processo de extração, podendo ser considerado apenas como uma unidade de agitação da suspensão, com eficiência de extração muito similar àquela observada para a agitação magnética. 49 (E) Mn - US 120 120 100 100 Recuperação-Mn (%) Recuperação-Fe (%) (A) Fe - US 80 60 40 20 80 60 40 20 0 0 0 0 2 4 6 8 10 2 12 4 6 8 10 12 Tempo de Extração (min) Tempo de Extração (min) (F) Mn - AM 120 120 100 100 Recuperação-Mn (%) Recuperação-Fe (%) (B) Fe - AM 80 60 40 20 0 80 60 40 20 0 0 2 4 6 8 10 0 12 2 120 120 100 100 Recuperação-Cu (%) Recuperação-Zn (%) 6 8 10 12 10 12 10 12 (G) Cu - US (C) Zn - US 80 60 40 20 80 60 40 20 0 0 0 2 4 6 8 10 0 12 2 4 6 8 Tempo de Extração (min) Tempo de Extração (min) (H) Cu - AM (D) Zn - AM 120 120 100 100 Recuperação-Cu (%) Recuperação-Zn (%) 4 Tempo de Extração (min) Tempo de Extração (min) 80 60 40 20 80 60 40 20 0 0 0 2 4 6 8 10 0 12 2 4 6 8 Tempo de Extração (min) Tempo de Extração (min) Figura 10. Efeitos do tempo de extração, da concentração de HCl [(□) 0.01, (■) 0.05, (○) 0.1 and (●) 1 mol/L] e do modo de agitação (A, C, E and G = ultra-som e B, D, F and H = agitação magnética) sobre a extração de Cu, Fe, Mn and Zn no SMM-1. 50 Algumas considerações podem ser feitas a respeito da utilização do ultrasom em comparação com a agitação magnética. Na extração assistida por ultrasom foi verificado um fracionamento muito acentuado das partículas do SMM-1, aumentando consideravelmente a superfície do sólido exposta para contato com a solução extratora (Figura 11). Nestas condições esperar-se-ia um aumento das velocidades de extração com um conseqüente aumento das recuperações em um menor tempo de extração. Entretanto, isto não ocorreu, evidenciando que o fenômeno de aumento de superfície de contato não é um fator significativo sobre a cinética do processo de extração. Particularmente no caso do Cu, onde não são verificadas recuperações significativas, esta observação deve ser considerada. Figura 11. Fotografias dos papéis de filtro empregados na filtração após extração com ultra-som (esquerda) e agitação magnética (direita). Pode-se observar um fracionamento muito mais acentuado das partículas na fotografia à esquerda. Por sua vez, a concentração de HCl apresentou um efeito significativo sobre a extração de Fe, Mn e Zn, sendo observado um aumento da extração com o aumento da concentração de HCl. No entanto, a extração do Cu aumentou de modo pouco significativo com o aumento da concentração de HCl. 51 Analisando mais detalhadamente os dados, nos casos do Fe e do Zn a concentração de HCl desempenha um papel mais relevante do que no caso do Mn, uma vez que as recuperações sempre aumentaram com o aumento da concentração de HCl na solução extratora. Extrações quantitativas (superiores a 90 %) apenas foram observadas quando da utilização de HCl 1 mol/L. No caso da Mn, recuperações quantitativas foram obtidas já para concentrações de HCl da ordem de 0,05 mol/L. Também, pode-se verificar que, quando uma solução de HCl com concentração igual a 0,01 mol/L foi utilizada, recuperações da ordem de 45 % foram observadas , ao contrário dos casos do Fe e do Zn, cujas recuperações, nestas condições foram de aproximadamente 0 e 20 %, respectivamente. Como mencionado anteriormente, o Cu não foi extraído de modo marcante em nenhuma das condições estudadas, sendo alcançado um valor máximo de cerca de 18 % após 10 minutos de extração com HCl 1 mol/L. No caso do Mn observou-se uma pronta extração mesmo em meio de HCl 0,05 mol/L, o que não foi verificado para os casos do Fe e do Zn, indicando que o Mn pode está mais fracamente ligado à matriz sólida do que o Fe e o Zn ou que a cinética de extração deste metal é mais rápida. É importante lembrar que a hidrólise do íon Mn(II) nas condições estudadas é praticamente nula, do mesmo modo que para o íon Zn(II) [constantes de acidez da ordem de 10-10 para o Zn(II) e 10-11 para o Mn(II) [Butler, 1963]. No caso do íon Fe(III), sua alta acidez [constante de acidez da ordem de 10-4 [Butler, 1963] parece ser um importante parâmetro a ser considerado na avaliação de sua recuperação após a extração com soluções de HCl. Em condições de alta acidez do meio (alta concentração de HCl), recuperações mais altas foram observadas, provavelmente devido às condições desfavoráveis à sua hidrólise. Já em concentrações mais baixas de HCl, o processo de hidrólise torna-se relevante, afetando a recuperação deste metal pela formação de Fe(OH)3 pouco solúvel (ver Figura 11), que permanece retido no papel de filtro durante a filtração. 52 Ainda, o Zn apresentou, com maior ênfase em concentrações baixas de HCl, um fenômeno de diminuição de sua recuperação com o aumento do tempo de extração. Este fenômeno já foi relatado na literatura por Nascentes et al. [2001] e Filgueiras et al. [2000], e é atribuído à possível formação de novas espécies pouco solúveis de Zn(II) no meio extrator. Em termos de tempo de extração excluindo o Cu que não é apreciavelmente lixiviado nas condições testadas, todos os elementos estudados são totalmente extraídos, em 5 min, quando uma solução HCl 1 mol/L é utilizada com ultra-som ou agitação magnética. Porém, em concentrações mais baixas de ácido pode-se perceber que a taxa de extração de Fe é maior do que para os outros metais, fator este evidenciado pela maior inclinação das retas obtidas nos experimentos. O efeito da potência aplicada com o ultra-som também foi estudado. A intensidade das ondas ultra-sônicas está diretamente relacionada à amplitude da vibração do transdutor. Usualmente, um aumento na potência proporcionará um aumento nos efeitos sonoquímicos devido a um aumento do processo de cavitação. Entretanto, uma elevação excessiva da amplitude vibracional das ondas ultra-sônicas pode levar a um grande aumento no número de bolhas de cavitação formadas na solução, o que pode amortecer a passagem da energia através do líquido [Filgueiras et al. 2000]. A potência aplicada pelo ultra-som foi variada de 20 a 120 % (unidade arbitrária do equipamento), empregando-se o procedimento descrito na seção 2.4.4 por 5 min utilizando-se uma solução de HCl 1 mol/L. Os resultados estão mostrados na Tabela 8 53 Tabela 8. Influência da potência sobre a extração dos metais no SMM-1. Os valores estão expressos como percentagem de recuperação Elemento Potência Aplicada (Unidades arbritárias) 20 % 40 % 60 % 80 % 100 % 120 % Cu 9,33 ± 0,55 15,8 ± 0,4 16,4 ± 0,4 18,2 ± 0,3 18,1 ± 0,9 18,9 ± 0,9 Fe 84,8 ± 4,0 100 ± 3,1 98,3 ± 3,2 97,4 ± 4,1 99,5 ± 3,9 99,4 ± 4,0 Mn 95,4 ± 2,2 101 ± 7 93,5 ± 4 93,5 ± 5 100 ± 8 93,5 ± 8 Zn 105 ± 3 103 ± 2 101 ± 3 102 ± 3 103 ± 3 101 ± 3 Como pode ser visto, apenas para o caso do Cu foi observada alguma influência da potência aplicada pelo ultra-som, uma vez que o percentual de recuperação deste metal aumentou de 9,33 % para 18,9 % com o aumento da potência de 20 para 120 %. É importante salientar que mesmo para o Cu, a partir da potência de 80 % observa-se uma estabilização do efeito desta variável, provavelmente devido ao fenômeno, descrito anteriormente, de amortecimento devido ao excesso de bolhas de cavitação formadas na solução. Deste modo, a potência de 100 % foi estabelecida para todos os experimentos posteriores. Outro teste foi realizado substituindo-se o HCl por HNO3, um agente oxidante mais efetivo. Neste experimento a concentração total de ácido (HNO3 sozinho ou HNO3 + HCl ) foi sempre mantida em 1 mol/L. Como pode ser visto na Figura 12, nenhuma modificação no comportamento de qualquer dos analitos estudados foi observada na comparação com a extração usando somente HCl. Isto indica que a concentração do íon H3O+ pode ser responsável pela extração dos metais num processo semelhante a um processo de troca iônica. 54 [E] Mn - US 120 100 100 Recuperação-Mn (%) Recuperação-Fe (%) [A] Fe-US 120 80 60 40 80 60 40 20 20 0 0 0 2 4 6 8 10 0 12 2 4 120 100 100 Recuperação-Mn (%)) Recuperação-Fe (%) 120 80 60 40 20 10 12 80 60 40 20 0 0 0 2 4 6 8 10 12 0 2 4 Tempo de Extração (min) 6 8 10 12 Extraction Time (min) [C] Zn - US [G] Cu - US 120 120 100 100 Recuperação-Cu (%) Recuperação-Zn (%) 8 [F] Mn - AM [B] Fe - AM 80 60 40 80 60 40 20 20 0 0 0 2 4 6 8 10 0 12 2 4 6 8 10 12 10 12 Tempo de Extração (min) Tempo de Extração (min) [D] Zn - AM [H] Cu - AM 120 120 100 100 Recuperação-Cu (%) Recuperação-Zn (%) 6 Tempo de Extração (min) Tempo de Extração (min) 80 60 40 80 60 40 20 20 0 0 0 2 4 6 8 10 0 12 2 4 6 8 Tempo de Extração (min) Tempo de Extração (min) Figura 12. Efeitos do tempo de extração, da natureza da solução extratora [(■) HNO3 1 mol/L, (○) HCl 0,5 mol/L + HNO3 0,5 mol/L e (●) HCl 1 mol/L] e do modo de agitação (A, C, E and G = ultra-som e B, D, F and H = agitação magnética) sobre a extração de Cu, Fe, Mn and Zn no SMM-1. 55 Diante dos resultados obtidos pode-se estabelecer condições ideais para extração de Fe, Mn e Zn utilizando-se HCl 1 mol/L durante 5 min e ultra-som ou agitação magnética como modo de agitação. Nestas condições, a extração do Cu alcançou apenas o valor de 18 %. Assim, o estudo prosseguiu concentrado na avaliação do processo de extração do Cu. 4.3.3. A extração do cobre O problema da extração do cobre presente nos SMM ficou evidente a partir dos resultados obtidos nos experimentos anteriores. Assim, com o intuito de alcançar a extração quantitativa do cobre no SMM-1 um novo experimento foi realizado a fim de estudar a influência da concentração de HCl sobre o processo de extração. Ainda que a influência desta variável já houvesse sido avaliada nos experimentos anteriores, a faixa em que tal estudo foi realizado foi alterada para concentrações mais altas de ácido. O novo experimento para o estudo da concentração de HCl foi realizado empregando-se agitação magnética como modo de extração e aplicando-se as mesmas condições estabelecidas anteriormente (5 min de tempo de extração; 0,12 g de amostra e 20 mL de solução de HCl). Porém, as concentrações testadas foram de 1, 2 e 4 mol/L de HCl. Adicionalmente, o efeito do tempo de repouso da suspensão entre a agitação e a filtração foi investigado. Os resultados obtidos neste experimento (Figura 13) demonstraram que o aumento da concentração da solução de HCl de 1 para 4 mol/L não causou aumento significativo do percentual de Cu extraído, uma vez as recuperações obtidas variaram de 9,6 para 29,4 %, valor insuficiente para a determinação de Cu na amostra. Todavia, o aumento do tempo de contato entre a solução extratora e a amostra, após a extração, mostrou-se de fundamental importância para elevação dos percentuais de recuperação de Cu no SMM-1 estudado. Como pode ser visto 56 na Figura 13, quando a suspensão foi deixada em repouso por 1 h após a filtração, as recuperações de Cu apresentaram um notável acréscimo, atingindo os valores de 62,4% e 83,7% para 1 mol/L e 4 mol/L de solução de HCl, respectivamente. Tais resultados demonstraram que o tempo de contato entra a amostra e a solução extratora pode desempenhar um papel mais importante do que a concentração do ácido na extração de Cu nos SMM (ou nesta amostra, especificamente). Também, há uma clara indicação que um lento processo cinético está envolvido no deslocamento do Cu(II) da fase sólida pelos íons de H3O+. Recuperação de Cu (%) 100 80 60 40 20 0 1.0 2.0 4.0 Concentração de HCl (mol/L) Figura 13. Efeito da concentração da solução de HCl sobre a recuperação de Cu na amostra estudada. As maiores recuperações foram obtidas após 1 hora de repouso (barras cinzas) em relação à filtração logo após a extração (barras brancas). 57 Uma vez identificada a importância do tempo de contato entre a amostra e a solução extratora para liberação do Cu da matriz sólida, o procedimento de filtração passou a assumir grande importância, uma vez que se trata de um processo lento em que a amostra permanece em contato com a solução extratora durante um tempo apreciável. Assim, a fim de identificar possíveis problemas referentes ao processo de filtração dois experimentos foram realizados para detalhar a liberação do cobre ao longo desta. Um fluxograma resumindo os dois experimentos realizados pode ser visto na Figura 14. Amostra 0,12 g em Becher 50 mL Adicionar 20 mL de Acido (HNO 3, HCl ou mistura) Ultra-som Extraçao Agitaçao Magnetica Filtraçao Adiçao de 5 mL de acido a cada fraçao recolhida Adiçao de 15 mL de acido a cada 3 fraçoes recolhidas Metodo 1 Metodo 2 Recolhimento de Fraçoes (5 mL) Mediçao Cu, Fe, Mn e Zn Figura 14. Fluxograma da extração de Cu realizada da maneira usual (5 min de extração com 20 mL de solução de HCl 1 mol/L usando ultra-som e agitação magnética) com a amostra SMM-1. No primeiro experimento, a extração de Cu foi realizada da maneira usual (5 min de extração com 20 mL de solução de HCl 1 mol/L usando ultra-som e 58 agitação magnética) sendo o filtrado recolhido em frações sucessivas de 5 mL. Volumes adicionais de solução de HCl 1 mol/L foram adicionados ao filtro até o volume coletado completar 100 mL (20 frações). O Cu foi então medido em cada fração e as recuperações cumulativas foram calculadas. Os resultados obtidos são mostrados na Figura 15. Avaliando os resultados é possível perceber que a recuperação do Cu, quando o ultra-som foi empregado (89,6%), foi superior àquela obtida quando do uso da agitação magnética (44,7%), em oposição aos resultados obtidos previamente, em que não havia diferença significativa entre ambos. Esta diferença ocorreu devido ao longo tempo (cerca de 196 min) requerido para completar a filtração das suspensões resultantes da agitação com ultra-som, quando comparado ao tempo gasto para filtração das suspensões obtidas por agitação magnética (cerca de 83 min). Isto se dá devido à maior capacidade do ultra-som em dispersar as partículas ao longo da suspensão em comparação com a agitação magnética, causando uma colmatação mais intensa dos poros do papel de filtro. O aumento do tempo da filtração permitiu que o tempo de contato entre a amostra sólida e a solução extratora fosse maior, aumentando assim a eficiência da extração do Cu, como pode ser notado pelos resultados mostrados na Figura 16. 59 100 Recuperação de Cu (%) US 80 AM 60 40 20 0 0 20 40 60 80 100 120 Volume coletado (mL) Figura 15. Comparação entre as recuperações acumuladas de cobre obtidas nas frações resultantes da filtração após da extração com ultra-som e agitação magnética. Filtração sem controle da vazão. Para dar consistência a esta afirmação foi elaborado um segundo experimento com o objetivo de aumentar o tempo de contato entre a amostra sólida e a solução de HCl durante a filtração, após a extração realizada com auxílio da agitação magnética. Para isso modificou-se a forma de adição da solução de HCl ao filtro. Neste caso, ao invés de manter o nível da solução de HCl no filtro em seu patamar máximo, mantendo assim a vazão de filtração constante, a solução de HCl foi reposta apenas ao final de cada volume filtrado (cerca de 15 mL). Trabalhando desta maneira, o tempo de filtração foi aumentado (após extração com agitação magnética) para 220 min. Os resultados obtidos estão mostrados abaixo (Figura 16) em comparação com os resultados obtidos após a extração assistida por ultra-som. 60 120 US Recuperação Acumulada de Cu (%) 100 AM 80 60 40 20 0 0 20 40 60 80 100 120 Volume coletado (mL) Figura 16. Comparação entre as recuperações acumuladas de cobre obtidas nas frações resultantes da filtração após da extração com ultra-som e agitação magnética. Filtração com controle da vazão. Como pode ser observado, um aumento expressivo da recuperação do Cu de 44,7% para 100% foi verificado. Ainda, os perfis das curvas são semelhantes, demonstrando que o tempo de contato entre a amostra e a solução extratora desempenha papel fundamental para a extração do Cu neste tipo de amostra, ou nesta amostra especificamente. A fim de avaliar a influência da composição da amostra sobre a extração do Cu, um teste foi realizado empregando-se um SMM com composição distinta daquele utilizado como referência nos estudos anteriores (SMM-2). Do mesmo modo, as concentrações totais de metais no SMM-2 foram determinadas após a 61 digestão total da amostra em forno de microondas, sendo as recuperações calculadas a partir destes valores. Tabela 9. Concentrações dos metais (determinados e tabelados) na amostra SMM-2. Os resultados são apresentados como média ± desvio padrão. Elemento* Concentração Concentração Determinada (mg/g)** Indicada (mg/g) Cu (n = 3) 0,89 ± 0.01 (1,1 %) 0,90 Mn (n = 3) 0,52 ± 0,02 (3,8 %) 0,50 Fe (n =3) 31,6 ± 2,4 (7,6 %) 32,0 Zn (n = 3) < LD - O experimento de avaliação da influência da composição da amostra consistiu na aplicação do procedimento usual (5 min de extração com HCl 1 mol/L usando ultra-som) para extração dos metais em três amostras diferentes: (1) no SMM de referência inicial (SMM-1); (2) no novo SMM de referência (SMM-2) e; (3) numa amostra composta pelos dois SMMs na proporção de 50 %, em massa, de cada um. Os resultados obtidos neste experimento estão resumidos na Figura 17 Como pode ser visto, as recuperações obtidas para Fe, Mn e Zn, não apresentaram diferença significativa para cada uma das situações avaliadas, demonstrando que a matriz não exerce efeito marcante sobre a extração destes metais. No caso do Cu, entretanto, nota-se um grande incremento na extração do mesmo presente no SMM-2 em relação ao SMM-1, indicando que a composição da amostra tem grande influência sobre o processo de extração. Esta afirmação fica ainda mais evidente quando o resultado obtido para a amostra-mistura é 62 analisado. A recuperação de Cu nesta situação foi inferior àquela esperada, que seria um valor próximo à média das recuperações obtidas para cada um dos SMMs individualmente ((92,4 % + 8,4 %)/2 = 50,4 %), uma vez que a proporção, em massa, de cada SMM na amostra foi de 50 %. A recuperação obtida foi de 38 %, demonstrando que a matriz do SMM-1 parece estar influenciando a extração do Cu presente no SMM-2. Este fenômeno demonstra que os efeitos de matriz devem ser responsáveis pela baixa extração do Cu observada no SMM-1. SMM-1 120 SMM-2 Mistura 100 Recuperação (%) 80 60 40 20 0 Cu Fe Mn Zn Elemento Figura 17. Avaliação da influência da composição da amostra na aplicação do procedimento usual (5 min de extração com HCl 1 mol/L usando ultra-som) para extração dos metais em três amostras diferentes: (1) no SMM de referência inicial (SMM-1); (2) no novo SMM de referência (SMM-2) e; (3) numa amostra composta pelos dois SMMs na proporção de 50 %, em massa, de cada um. 63 Uma vez observada a influência da matriz, buscou-se, a partir da comparação entre as formulações testadas, encontrar um componente presente em grande quantidade na matriz do SMM-1 e que estivesse ausente na matriz do SMM-2. O componente identificado foi o silicato, presente como excipiente do SMM-1. Com esta informação em mãos foi realizado um estudo da distribuição do Cu entre diferentes frações do SMM-1. Para este estudo foram consideradas 3 frações distintas: (I) Cu facilmente extraível, que representa aquele extraído por agitação com a solução de HCl 1 mol/L durante 5 min; (II) Cu extraível por água-régia (100 mL) e (III) Cu remanescente na fração sólida, tipicamente silicato, que foi medido após digestão total com HF. Um fluxograma, resumindo o procedimento adotado está mostrado na Figura 18. Amostra 0,12 g em becher 50 mL Adicionar 20 mL de HCl 1 mol/L Extraçao Solido Filtraçao Agitaçao magnetica por 5 min Extrato Mediçao Cu, Fe, Mn e Zn Fraçao (I) Solido Digestao total Incineraçao + HF Extraçao 100 mL de agua-regia Extrato Mediçao Cu, Fe, Mn e Zn Fraçao (II) Mediçao Cu, Fe, Mn e Zn Fraçao (III) Figura 18. Fluxograma do estudo da distribuição do Cu entre diferentes frações do SMM-1.: (I) Cu facilmente extraível, que representa aquele extraído por agitação com a solução de HCl 1 mol/L durante 5 min; (II) Cu extraível por água-régia (100 mL) e (III) Cu remanescente na fração sólida, tipicamente silicato, que foi medido após digestão total com HF. 64 A distribuição do cobre entre as diferentes frações (Tabela 10) indica que o percentual de cobre efetivamente ligado ao silicato presente como excipiente é baixo (cerca de 10 %) quando comparado às outras frações. Ainda é possível perceber que a maior parcela do cobre presente no SMM-1 foi extraída pela água-régia. Durante esta etapa foi observado um clareamento do sólido presente no papel de filtro, indicando que uma alteração na sua composição foi efetuada pela passagem da água-régia. Tabela 10. Distribuição de cobre no SMM-1, de acordo com o experimento mostrado na Figura 18. Valores de média expressos como média ± desviopadrão. Cu Extraído por Fração (%) Replicata I II III Total 1 34,0 58,9 7,4 100,3 2 37,9 40,4 14,1 92,4 Média 35,9 ± 2,8 49,6 ± 13,1 10,8 ± 4,7 96,4 ± 5,6 4.3.4. Extrações de longo tempo Diante dos resultados obtidos nos estudos anteriores foi possível concluir que a variável mais importante para a extração do Cu era o tempo de contato entre a amostra e a solução extratora de HCl. Desse modo, um experimento foi realizado a fim de estabelecer por quanto tempo este contato deve ser mantido até a extração quantitativa do Cu. Obviamente, o longo tempo requerido para extração do Cu não se aplica para os outros analitos, que são prontamente extraídos das amostras, independentemente da composição, nos primeiros 5 min com solução de HCl 1 mol/L. Para este propósito, 0,12 g do SMM-1 foram 65 misturados com 20 mL de solução de HCl 1 mol/L. A suspensão foi agitada magneticamente durante 5 min e deixadas em repouso por tempos que variaram de 0 a 24 h. Depois de decorrido o tempo estabelecido no estudo, cada suspensão foi filtrada e as recuperações dos metais foram calculadas após a medição de suas concentrações no filtrado por FAAS (Figura 19). Os resultados obtidos estão mostrados na Figura 20. Amostra 0,12 g em becher 50 mL Adicionar 20 mL de HCl 1 mol/L Agitaçao magnetica por 5 min Homogenizaçao Repouso 0 a 24 h Filtraçao Mediçao Cu, Fe, Mn e Zn Figura 19. Fluxograma do experimento para determinar o tempo requerido para extração total de Cu Como esperado, Fe, Mn e Zn foram totalmente extraídos logo após a agitação. Entretanto, o Cu só foi liberado totalmente da amostra após 8 horas de contato. Portanto, para assegurar total liberação do Cu, mesmo em amostras contendo altas concentrações deste elemento, um tempo de contato de 12 h, foi estabelecido para a metodologia. Estes dados corroboram a hipótese levantada previamente, que sustenta que a extração do Cu, em determinados tipos de 66 amostra de SMM, é lenta e depende fortemente do tempo de contato entre a solução extratora ácida e o SMM. 120 Recuperação (%) 100 80 60 40 Cu Fe Mn 20 Zn 0 0 5 10 15 20 25 30 Tempo de Repouso (h) Figura 20. Efeito do tempo de contato entre amostra (SMM-1) e a solução extratora (HCl 1 mol/L) sobre as recuperações de Cu, Fe, Mn e Zn. 4.4. Extrações de metais dos SMMs empregando radiação microondas e solução de ácido diluído. O processo de otimização de metodologias em Química Analítica vem sofrendo notáveis transformações nos últimos anos. Processos de otimização univariados vêm sendo deixados de lado para dar lugar a processos multivariados, onde as influências de diferentes parâmetros do procedimento são avaliadas simultaneamente. Os procedimentos multivariados estão, na grande maioria das vezes, baseados na geração e análise de superfícies de resposta. 67 A metodologia de superfícies de resposta (RSM, do inglês Response Surface Methodology) possui duas distintas etapas: (1) modelagem e (2) deslocamento. Tais etapas devem ser repetidas quantas vezes forem necessárias, até que a região ótima de trabalho seja atingida. O processo de modelagem é relativamente simples, apenas ajustando-se modelos (lineares ou quadráticos) às respostas obtidas nos experimentos previamente planejados de acordo com uma metodologia pré-estabelecida. Nos dias de hoje, modelos de segunda ordem como Box-Behnken, Central-Compósito e matriz de Doehlert estão entre os mais empregados para a otimização de metodologias via RSM. A grande vantagem destes modelos é o baixo número de experimentos necessário para construção dos mesmos. Apesar do uso mais freqüente dos modelos Central-Compósito, os modelos BoxBehnken e Doehlert necessitam de um menor número de experimentos (N) para sua elaboração. Este número pode ser expresso por N = k2 + k + 1, onde k é o número de variáveis em estudo. Outra vantagem associada ao uso dos modelos Doehlert é a sua mais alta eficiência (φ), que é determinada dividindo-se o número de coeficientes da equação quadrática (p) pelo número de experimentos (N) realizados. A Tabela abaixo [Ferreira et al., 2004] apresenta uma comparação entre os valores de p, N e φ para estes três diferentes tipos de modelos em relação ao número de variáveis estudadas. 68 Tabela 11. Características de diferentes modelagens empregadas em otimização multivariada. CC = Compósito Central, BB = Box-Behnken e DH = Doehlert. Variáveis Número de Número de Eficiência (k) coeficientes (p) Experimentos (N) (φ = p/N) CC BB DH CC BB DH 2 6 9 - 7 0,67 - 0,86 3 10 15 13 13 0,67 0,77 0,77 4 15 25 25 21 0,60 0,60 0,71 5 21 43 41 31 0,49 0,61 0,68 6 28 77 61 43 0,36 0,46 0,65 7 36 143 85 57 0,25 0,42 0,63 8 45 273 113 73 0,16 0,40 0,62 A utilização da modelagem Doehlert como alternativa para otimização de processos foi proposta em 1970 [Doehlert, 1970]. Entretanto, apenas nos últimos anos este método de modelagem vem sendo utilizado com maior freqüência. A primeira aplicação analítica da matriz de Doehlert ocorreu em 1989, para a otimização de uma separação cromatográfica [Hu e Massart, 1989]. Desde então um número considerável de publicações relacionadas ao tema pode ser encontrado na literatura. Como mencionado anteriormente, Hu e Massart [1989] utilizaram a modelagem Doehlert para otimização de um processo de separação por cromatografia a líquido de alta eficiência (CLAE) de dois grupos de componentes farmacêuticos. O primeiro grupo consistia numa mistura de 6 substâncias com acidez e polaridades diversas e o segundo grupo era composto de uma mistura de cinco sulfamidas. Os princípios do método de modelagem usando a matriz de Doehlert são apresentados no artigo através destes exemplos. 69 Nechar et al. [1995] aplicaram a matriz Doehlert na otimização das condições de análise das espécies de Zn+2 - PAR na presença de iodeto. Eles mostraram que a otimização das variáveis [Zn+2] e [PAR] pode ser realizada com maior simplicidade, rapidez e eficiência quando comparada com a metodologia tradicional (univariada). Campana et al. [1997] apresentam um estudo de método multivariado da matriz de Doehlert para otimização de três variáveis experimentais para obter a intensidade máxima de fluorescência do complexo binário Ge-Quercetin na presença de um meio micelar não iônico. A extração de As de tecidos de mexilhão foi realizada por Dagnac et al. [1998] usando microondas focalizado de baixa energia e cromatografia de troca iônica com detecção por ICP-MS. O processo multivariado Doehlert permitiu quantificar a influência da energia da radiação microondas, do tempo de exposição e das proporções relativas de metanol/água na extração. Ferreira et al. [2001] desenvolveram um processo simples e eficiente para a pré-concentração e determinação de Mo em água do mar através da extração em fase sólida do íon Mo(V) na forma de um complexo com tiocianato por espuma de poliuretano e análise por ICP-OES. O processo de otimização foi conduzido por uma matriz Doehlert com as sequintes variáveis otimizadas: volume da solução, tempo de agitação, concentração de tiocianato e concentração de ácido clorídrico. Foi comprovado que os quatro fatores e a interação entre eles são significativos na obtenção de condições ótimas para a pré-concentração de molibdênio. Santelli et al. [2006] utilizaram a metodologia de superfícies de resposta (RSM, do inglês Response Surface Methodology) para determinação de Fe, Zn e Mn por espectrometria de absorção atomica (FAAS) em amostras de alimentos após empregar um sistema de digestão de microondas focalizado. Uma matriz de Doehlert foi usada para encontrar a melhor condição das três variáveis usadas 70 (energia, tempo e composição da solução oxidante HNO3/H2O2). O uso de materiais de referência e um método bem estabelecido com microondas fechado foram usados para comprovar a eficiência do processo. Figura 21. Distribuição espacial da modelagem Doehlert. 1 0.866 2 3 Concentração 0.577 4 0.289 0.000 5 6 8 7 9 -0.289 10 -0.577 11 -0.866 13 12 -1.0 0.0 -0.5 0.5 1.0 Tempo Figura 22. Representação gráfica dos experimentos realizados na modelagem Doehlert, com as variáveis codificadas. 71 1 1.0 2 3 Concentração (mol/L) 0.84 4 0.67 0.50 6 5 8 7 9 0.34 10 0,17 11 0 13 12 5 15 10 20 25 Tempo (min) Figura 23. Representação gráfica dos experimentos realizados na modelagem Doehlert, com as variáveis assumindo seus valores reais. As circunferências preenchidas com preto, cinza e branco representam as potências de 600, 400 e 200 W, respectivamente. Neste trabalho, um procedimento de extração de metais nos SMM empregando radiação microondas foi otimizado utilizando-se um planejamento experimental baseado na matriz de Doehlert. Na verdade, dois modelos foram construídos (um empregando HNO3 como extrator e outro empregando HCl) tomando-se como variáveis a serem otimizadas a concentração de ácido na solução extratora (C), a potência (P) e o tempo de irradiação (t), cujos valores variaram de acordo com os dados apresentados na Figura 23 e na Tabela 5. 72 O processo de extração via radiação microondas foi estudado de modo multivariado a fim de evitar um longo e laborioso processo de otimização univariado. Os resultados obtidos estão mostrados nas Tabelas 12 e 13. 73 Tabela 12. Resultados obtidos para o planejamento Doehlert para HCl Concentração do Ácido Potência Tempo Experimento (mol/L) (W) (min) Cu Fe Mn Zn 12 0,00 400 10 0,00 0,00 0,00 0,00 13 0,00 400 20 0,00 0,00 0,00 0,00 11 0,17 200 15 82,1 95,6 114 103 9 0,34 600 10 107,5 109 112 114 10 0,34 600 20 83,4 101 115 99,9 7 0,50 400 15 123 95,9 106 93,8 6 0,50 400 5 75,2 97,5 100 102 8 0,50 400 25 121 100 107 106 4 0,67 200 10 103 118 137 108 5 0,67 200 20 80,9 78,81 84,6 101 3 0,84 600 15 112 92,43 98,5 104 1 1,00 400 10 98,8 94,84 96,5 100 2 1,00 400 20 108 99,70 108 104 74 Recuperação (%) Tabela 13. Resultados obtidos para o planejamento Doehlert para HNO3. Concentração do Ácido Potência Tempo Experimento (mol/L) (W) (min) Cu Fe Mn Zn 12 0,00 400 10 0,00 0,00 0,00 0,00 13 0,00 400 20 0,00 0,00 0,00 0,00 11 0,17 200 15 104 86,7 94,8 95,3 9 0,34 600 10 108 24,9 113 104 10 0,34 600 20 83,4 93,2 99,2 102 7 0,50 400 15 83,1 103 110 104 6 0,50 400 5 99,2 99,0 109 106 8 0,50 400 25 86,4 80,8 85,1 83,1 4 0,67 200 10 88,6 102 107 108 5 0,67 200 20 95,5 45,6 97,8 98,8 3 0,84 600 15 108 85,9 96,8 86,6 1 1,00 400 10 95,8 110 109 98,1 2 1,00 400 20 91,8 85,50 89,2 91,0 75 Recuperação (%) A modelagem dos dados obtidos, apresentados acima, foi realizada empregando-se o módulo Experimental Design do programa Statistica for Windows, versão 5.0. A recuperação obtida para cada experimento foi calculada com base nos valores obtidos na abertura total das amostras com HNO3 concentrado. As equações que representam as superfícies de resposta obtidas foram: (1) Para o caso do HCl Cu extraído (%) = 0,769 + 191 C –247 C2 – 0,173 P + 6,67 x 10-5 P2 + 8,76 t – 0,286 t2 0,366 C P + 0,862 C t + 1,64 x 10-4 P t. Fe extraído (%) = 261 + 63,5 C -187 C2 -0,920 P + 7.56 x 10-4 P2 – 4,51 t + 0,0151 t2 + 0,536 C P + 0,448 C t + 8,46 x 10-3 P t. Mn extraído (%) = 334 + 42,6 C -214 C2 – 1,17 P + 8,85 x 10-4 P2 – 5,59 t - 0,0397 t2 + 0,643C P + 1,09 C t + 1,48 x 10-2 P t. Zn extraído (%) = 239 + 50,8 C -173 C2 – 0,905 P + 9,04 x 10-4 P2 – 2,11 t + 0,0820 t2 + 0,548 C P +0,373 C t -1,61 x 10-3 P t. (2) Para o caso do HNO3 Cu extraído (%) = 202 + 29,4 C – 141 C2 -0,823 P + 9,13 x 10-4 P2 + 1,16 t +0,0565 t2 +0,530 C P – 0,403 C t – 8,11 x 10-3 P t. Fe extraído (%) = 179 + 132 C – 200 C2 – 0,556 P -1,81 x 10-6 P2 - 2,46 t -0,138 t2 + 0,504 C P – 2,38 C t + 1,92 x 10-2 P t. 76 Mn extraído (%) = 117 + 152 C – 223 C2 – 0,579 P + 5,56 x 10-4 P2 + 5,13 t – 0,141 t2 + 0,500 C P – 1,97 C t – 2,61 x 10-3 P t. Zn extraído (%) = 172 + 109 C – 216 C2 – 0,712 P + 6,22 x 10-4 P2 +1,98 t – 9,70 x 10-2 t2 + 0,531 C P – 0,702 C t + 1,24 x 10-3 P t. A identificação das coordenadas do ponto crítico de cada uma das superfícies de resposta obtidas (experimentos para cada metal estudado e para HCl e HNO3) foi realizada pela resolução de um sistema com três equações lineares e três incógnitas (concentração, potência e tempo), decorrentes da aplicação das seguintes derivadas às equações obtidas para as superfícies: δY/δC = 0, δY/δP = 0 e δY/δt = 0 onde Y representa o percentual extraído para cada metal e C, P e t são as variáveis concentração, potência e tempo, respectivamente. A resolução do sistema foi realizada utilizando-se o seguinte método de cálculo: C A −1 B = P t onde A-1 é a matriz inversa dos coeficientes das equações lineares obtidas pela derivação das equações das superfícies e B é a matriz contendo os termos independentes, com sinal invertido, das mesmas equações lineares. Os modelos obtidos quando da utilização de soluções de HNO3 como extrator apresentaram correlações (teórico x experimental) que variaram de 0,971 (Fe) a 0,998 (Mn e Zn) (Tabela 14), evidenciando que tais modelos 77 possuem capacidade de previsão do percentual de extração satisfatória em função das condições experimentais utilizadas. Mesmo para o Cu, ao contrário de outros métodos de extração como ultra-som e agitação magnética, recuperações sempre próximas a 100 % foram observadas. Este fenômeno nos leva a crer que um aumento da temperatura do sistema, como no caso da utilização da radiação microondas, exerce notável influência sobre a velocidade de extração deste metal do SMM-1, confirmando a hipótese previamente levantada de que o processo de extração do Cu, neste tipo de amostra, à temperatura ambiente, é controlado por uma cinética muito lenta. Os modelos obtidos com a utilização de soluções de HCl também apresentaram correlação satisfatória com os valores obtidos experimentalmente. Entretanto, no cálculo dos pontos críticos, para o caso do Fe, foram obtidos valores, para as variáveis estudadas, fora da faixa experimental traçada pelo planejamento, o que inviabiliza a utilização destas condições experimentais. As condições em que as máximas recuperações foram obtidas estão mostradas na Tabela 14. Tabela 14. Pontos de máximas recuperações determinados pela modelagem Doehlert. C P HCl t r (correlação) C P HNO3 t r (correlação) Cu 0,45 mol/L 48 W 16 min 0,945 0,68 mol/L 320 W 15 min 0,975 Fe 1,60 mol/L 1167 W - 204 min 0,982 0,72 mol/L 361 W 10 min 0,971 Mn 0,66 mol/L 314 W 14 min 0,984 0,60 mol/L 278 W 11 min 0,998 Zn 0,66 mol/L 365 W 7 min 0,990 0,61 mol/L 303 W 10 min 0,998 Como pode ser visto, ao contrário do HCl, a utilização do HNO3 levou à obtenção de condições de extração sempre situadas dentro da região 78 experimental definida pelo planejamento. Deste modo o HNO3 foi escolhido como ácido extrator para a metodologia empregando radiação microondas. As condições finais escolhidas foram: (A) concentração da solução de HNO3 = 0,70 mol/L (B) potência aplicada = 360 W (C) tempo de irradiação = 15 min Estes valores foram escolhidos levando-se em conta as condições obtidas para cada elemento e a robustez dos modelos gerados. A influência de cada variável estudada foi avaliada empregando-se os gráficos de Pareto, que levam em consideração os efeitos das variáveis normalizadas e suas interações. Para todos os casos estudados, a variável concentração de ácido na solução extratora apresentou efeito predominante sobre o percentual de extração dos metais, como pode ser visto nas Figuras (24 a 27). Este resultado, pelo menos para o caso do Cu, está em contradição com observações prévias, em que a variável tempo se mostrou fundamental para a obtenção de recuperações quantitativas deste metal. Isto pode ser explicado pelas faixas empregadas no planejamento experimental para cada variável. Como a concentração foi testada a partir de uma situação em que a concentração de ácido era nula (água como extrator)- que apresentou, portanto, eficiência de extração muito baixa - grandes variações nos percentuais de extração foram experimentadas para todos os metais, pela simples mudança da solução extratora de água para qualquer concentração de ácido. 79 (A) p=,05 (1)CONC(L) 3,918569 CONC(Q) -2,56725 1Lby2L 1,240597 (2)POT(L) ,9728769 TEMPO(Q) -,891112 (3)TEMPO(L) ,516117 1Lby3L ,1632001 POT(Q) ,1066659 2Lby3L -0,5 ,01185 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 Efeito estimado (B) p=,05 (1)CONC(L) 5,823459 1Lby2L 2,940106 POT(Q) 2,631468 CONC(Q) -2,40974 (2)POT(L) 1,34 2Lby3L -,956371 (3)TEMPO(L) -,727729 TEMPO(Q) ,2887042 1Lby3L -,124954 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 Efeito estimado Figura 24. Gráficos de efeitos normalizados (Pareto) para o caso da extração do cobre empregando radiação microondas com (A) HCl e (B) HNO3. 80 (A) p=,05 (1)CONC(L) 6,841031 CONC(Q) -3,61484 1Lby2L 3,369468 POT(Q) 2,466004 (2)POT(L) 2,355971 2Lby3L 1,125467 (3)TEMPO(L) -,648905 1Lby3L ,1575326 TEMPO(Q) ,0874961 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Efeito estimado (B) p=,05 (1)CONC(L) 5,304897 CONC(Q) -2,9859 1Lby2L 2,447064 2Lby3L 1,98335 1Lby3L -,647411 TEMPO(Q) -,617329 (2)POT(L) -,388507 (3)TEMPO(L) -,121595 POT(Q) -,004558 -1 0 1 2 3 4 5 6 Efeito estimado Figura 25. Gráficos de efeitos normalizados (Pareto) para o caso da extração do Ferro empregando radiação microondas com (A) HCl e (B) HNO3 81 (A) p=,05 (1)CONC(L) 6,735255 CONC(Q) -3,87451 1Lby2L 3,792228 POT(Q) 2,708977 (2)POT(L) 2,14308 2Lby3L 1,860322 (3)TEMPO(L) -,392949 1Lby3L ,3598406 TEMPO(Q) -,215434 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Efeito estimado (B) p=,05 (1)CONC(L) 18,6426 CONC(Q) -11,5506 1Lby2L 8,406196 (2)POT(L) 6,021216 POT(Q) 4,850412 (3)TEMPO(L) -4,22313 TEMPO(Q) -2,17784 1Lby3L -1,85464 2Lby3L -,934318 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 Efeito estimado Figura 26. Gráficos de efeitos normalizados (Pareto) para o caso da extração do Manganês empregando radiação microondas com (A) HCl e (B) HNO3 82 (A) p=,05 (1)CONC(L) 9,252522 1Lby2L 4,430283 CONC(Q) -4,2993 POT(Q) 3,78809 (2)POT(L) 2,60412 TEMPO(Q) ,6091166 2Lby3L -,275822 (3)TEMPO(L) -,198086 1Lby3L ,1682713 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Efeito estimado (B) p=,05 (1)CONC(L) 23,31509 CONC(Q) -14,6195 1Lby2L 11,71274 (2)POT(L) 7,342753 POT(Q) 7,121897 (3)TEMPO(L) -3,87024 TEMPO(Q) -1,96888 1Lby3L -,865623 2Lby3L ,5784715 -5 0 5 10 15 20 25 30 Efeito estimado Figura 27. Gráficos de efeitos normalizados (Pareto) para o caso da extração do Zinco empregando radiação microondas com (A) HCl e (B) HNO3 83 4.5. Determinação de Cu, Fe, Mn e Zn em amostras reais de SMMs A fim de avaliar a aplicabilidade das metodologias investigadas neste trabalho, as concentrações de Cu, Fe, Mn e Zn foram determinadas em 7 amostras de suplementos alimentares encontrados no mercado brasileiro. Foram empregados os métodos de preparo estudados e detecção por espectrometria de absorção atômica com chama. Os resultados das determinações estão apresentados na Tabela 15. Os resultados obtidos foram analisados sob o ponto de vista da concordância entre os valores determinados por cada método e os valores encontrados na abertura total das amostras com HNO3 concentrado em forno de microondas. A partir de tais dados, a correlação entre cada método de preparo e a abertura total foi quantificada, considerando-se 0,990 como valor limite para considerar que existe correlação ou não entre os métodos testados. As equações relativas à comparação entre as metodologias e as respectivas correlações estão mostradas na Tabela 16. 84 Tabela 15. Resultados obtidos na determinação de Cu, Fe, Mn e Zn em amostras de SMMs encontrados no comércio local empregando as diferentes metodologias estudadas. Dados em mg/g expressos como média ± desvio-padrão. Amostra Cu A B C D E F G Fe A B C D E F G Mn A B C D E F G Zn A B C D E F G MO AM Procedimento US 0,87 ± 0,07 2,00 ± 0,03 0,87 ± 0,06 0,98 ± 0,08 1,20 ± 0,13 0,89 ± 0,02 0,66 ± 0,05 0,72 ± 0,06 1,97 ± 0,03 0,65 ± 0,02 0,20 ± 0,07 0,16 ± 0,04 0,89 ± 0,02 0,69 ± 0,06 0,77 ± 0,04 1,94 ± 0,05 0,87 ± 0,03 0,26 ± 0,08 0,21 ± 0,02 0,83 ± 0,07 0,70 ± 0,05 0,81 ± 0,01 2,06 ± 0,02 0,74 ± 0,01 0,91 ± 0,06 1,25 ± 0,01 0,89 ± 0,08 0,76 ± 0,06 0,83 ± 0,02 2,03 ± 0,01 0,86 ± 0,06 0,95 ± 0,13 1,24 ± 0,03 0,89 ± 0,01 0,71 ± 0,07 5,32 ± 0,50 0,44 ± 0,04 8,76 ± 0,95 2,64 ± 0,29 11,0 ± 0,2 30,0 ± 1,0 6,49 ± 0,16 5,82 ± 0,18 0,28 ± 0,02 8,13 ± 0,29 2,69 ± 0,42 11,4 ± 0,4 32,7 ± 1,4 6,00 ± 0,63 6,51 ± 0,73 0,27 ± 0,04 9,21 ± 0,14 2,93 ± 0,17 10,9 ± 0,5 32,7 ± 3,2 6,48 ± 1,18 5,43 ± 0,26 0,34 ± 0,02 8,80 ± 0,03 2,91 ± 0,32 12,1 ± 0,9 32,5 ± 1,8 7,56 ± 2,54 5,72 ± 0,59 0,41 ± 0,01 9,51 ± 0,05 2,92 ± 0,40 11,7 ± 0,1 31,6 ± 2,4 6,26 ± 0,96 0,55 ± 0,07 0,31 ± 0,01 0,32 ± 0,06 1,62 ± 0,16 1,26 ± 0,11 0,53 ± 0,05 0,45 ± 0,03 0,39 ± 0,02 0,29 ± 0,03 0,20 ± 0,01 1,54 ± 0,11 1,29 ± 0,01 0,56 ± 0,01 0,45 ± 0,05 0,46 ± 0,05 0,33 ± 0,01 0,27 ± 0,02 1,68 ± 0,12 1,29 ± 0,06 0,54 ± 0,03 0,42 ± 0,03 0,41 ± 0,02 0,29 ± 0,01 0,22 ± 0,02 1,65 ± 0,02 1,28 ± 0,04 0,56 ± 0,01 0,47 ± 0,04 0,49 ± 0,06 0,31 ± 0,01 0,33 ± 0,01 1,61 ± 0,06 1,28 ± 0,01 0,52 ± 0,02 0,41 ± 0,03 0,77 ± 0,04 15,2 ± 0,8 0,41 ± 0,03 9,76 ± 0,18 9,36 ± 0,32 < LD 0,85 ± 0,05 0,77 ± 0,06 13,4 ± 0,3 0,35 ± 0,01 9,05 ± 1,14 9,53 ± 0,11 < LD 0,45 ± 0,02 0,75 ± 0,06 15,7 ± 0,6 0,37 ± 0,03 9,63 ± 0,59 9,30 ± 0,29 < LD 0,52 ± 0,10 0,71 ± 0,05 12,9 ± 1,2 0,35 ± 0,03 8,88 ± 0,04 9,14 ± 0,33 < LD 0,87 ± 0,10 0,76 ± 0,05 15,8 ± 0,8 0,44 ± 0,02 9,66 ± 1,46 9,03 ± 0,18 < LD 0,81 ± 0,10 85 12 h DT Tabela 16. Correlação entre os procedimentos e a abertura total Analito/Método US vs DT AM vs DT 12 h vs DT MO vs DT US vs DT AM vs DT 12 h vs DT MO vs DT US vs DT AM vs DT 12 h vs DT MO vs DT US vs DT AM vs DT 12 h vs DT MO vs DT Equação Cobre US = 0,553 DT + 0,632 AM = 0,534 DT + 0,669 12h = 0,951 DT + 0,065 MO = 0,973 DT + 0,023 Ferro US = 0,967 DT + 0,196 AM = 0,957 DT + 0,570 12h = 0,969 DT + 0,088 MO = 0,948 DT + 0,015 Manganês US = 0,948 DT + 0,031 AM = 0,982 DT + 0,045 12h = 0,943 DT + 0,050 MO = 0,984 DT + 0,024 Zinco US = 0,991 DT + 0,092 AM = 1,10 DT - 0,069 12h = 1,15 DT - 0,242 MO = 0,978 DT + 0,112 R 0,698 0,711 0,994 0,997 0,999 0,998 0,998 0,999 0,998 0,992 0,994 0,998 0,999 0,992 0,992 0,999 Como pode ser visto, correlações sempre superiores a 0,990 foram verificadas na comparação entre todos os métodos para os casos do Fe, Mn e Zn. Ainda, é importante ressaltar que as inclinações das retas obtidas estiveram próximas à unidade, na maioria dos casos, com os valores variando entre 0,943 e 1,15. No caso do Cu, este mesmo fenômeno não foi observado, uma vez que correlações satisfatórias foram verificadas somente quando as metodologias de extração de longo tempo (12h) e extração com microondas foram comparadas com a abertura total da amostra. Para estes casos, as inclinações das retas obtidas também apresentaram valores próximos de 1 (0,951 e 0,973. respectivamente), indicando que não existe diferença significativa entre os métodos. 86 Ainda em relação à determinação de Cu, outra observação pode ser comentada. Quando as amostras D e E são retiradas do conjunto, com vistas à comparação entre as metodologias de extração, mesmo para o Cu as correlações e inclinações calculadas se aproximam de 1 (Tabela 17), indicando que, na verdade estas amostras são responsáveis pelo desvio observado. Tabela 17. Correlação entre os procedimentos e a abertura total para Cu sem as amostras D e E Analito/Método US vs DT AM vs DT 12 h vs DT MO vs DT Equação Cobre US = 1,05 DT - 0,0098 AM = 0,963 DT + 0,116 12h = 0,954 DT + 0,059 MO = 0,981 DT + 0,014 R 0,998 0,989 0,994 0,998 Esta observação é importante pois confirma a hipótese levantada durante a avaliação das metodologias de extração, que indica que a composição global do suplemento multivitamínico/multimineral é um parâmetro fundamental na escolha da metodologia de extração, principalmente para a determinação de Cu. Assim, considerando os resultados obtidos e tomando como referência as concentrações determinadas após a digestão total das amostras, os métodos de extração de longo tempo (12 h) e microondas com ácido diluído podem ser considerados os mais indicados para a análise dos suplementos vitamínicos, uma vez que apresentaram resultados estatisticamente similares à abertura total para todos os elementos avaliados. 87 5. CONCLUSÕES Através dos resultados obtidos nesse estudo foi possível concluir que a extração com ácido clorídrico diluído (1 mol L-1) pode ser considerada uma boa alternativa à digestão total (ou parcial) de amostras de suplementos multivitamínicos/multiminerais visando a determinação de metais. Para Fe, Mn e Zn a extração quantitativa pôde ser obtida pela simples sonicação ou agitação magnética da suspensão obtida pela mistura entre as amostras sólidas e a solução extratora por 5 min. Este procedimento pode ser utilizado, para estes analitos, para amostras com diferentes composições, indicando que esses elementos estão fracamente ligadas a matriz sólida. Contudo, para o Cu, este mesmo fenômeno não foi observado. Dependendo da composição global da amostra a extração deste metal empregando solução de ácido clorídrico 1 mol/L é fortemente influenciada pelo tempo de contato entre a amostra sólida e a solução extratora. Nesse caso, para algumas amostras, o Cu somente é extraído se o contato entre a amostra e a solução extratora for mantido por tempos superiores a 8 h, indicando que há uma lenta cinética no processo de liberação dos íons Cu(II) presentes na fase sólida. Diante destas observações é possível concluir que a composição global da amostra de SMM deve ser levada 88 em consideração quando da escolha de um método de extração de metais com ácido diluído. As estratégias de agitação, à temperatura ambiente, avaliadas (ultra-som e agitação magnética) não mostraram efeito relevante sobre o processo de extração, indicando que o principal efeito do ultra-som em tais amostras reside somente na melhoria do contato entre a solução extratora e a amostra. Por sua vez, a extração empregando radiação microondas com solução de diluída de ácido nítrico se mostrou mais eficiente que as outras, sendo capaz de promover a extração total de todos os analitos em todas as amostras, quando da irradiação das mesmas por 15 min, à 360 W e concentração de ácido nítrico 0,70 mol/L. Deste modo, pode-se comprovar que a temperatura do sistema exerce grande efeito sobre o processo de extração do cobre, que mostrou-se extremamente lento à temperatura ambiente, porém muito rápido quando a extração foi realizada sob aquecimento via radiação microondas. 89 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abarca, A.; Canfranc, E.; Sierra, I.; Marina, M.L., A validated flame AAS method for determining magnesium in multivitamin pharmaceutical preparations, J. Pharm. Biomed. Anal. 25 (2001) 941 - 945. Al-Merey, R.; Al-Masri, M. S.; Bozou, R.; Cold ultrasonic acid extraction of copper, lead and zinc from soil samples, Anal. Chim. Acta 452 (2002) 143-148. 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