Libertação
de Ingrid
comove o
mundo
Jacques Brinon/AFP
bossa nova
Laura Fraga/Hiper
Os 50 anos
de uma
eterna jovem
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ambiente
Sacola da
cidadania
está de volta
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Página 10
hipertexto
Ano
dez
Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, junho-julho de 2008 – Ano 10 – Nº 64
Vinícius Roratto Carvalho/Hiper
A ameaça
da fome
Oferta insuficiente de alimentos
coloca em risco grande parte da
população mundial
Página 7
Porto Alegre será pólo tecnológico
Seminário promovido pela Câmara de Vereadores, na PUCRS, sinaliza vocação da cidade
Página 3
cultura
show
Biblioteca Pública de 1915
é restaurada em Porto Alegre
Globetrotters continuam
a encantar fãs do basquete
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Página 9
2 abertura
Porto Alegre, junho-julho 2008
Editorial
Futuro
sustentável
Em uma universidade, todos trabalham pelo futuro. Quem pesquisa, o
faz para descobrir respostas aplicáveis.
Quem se esforça em aprender a técnica, quer utilizá-la na prática. Até quem
estuda o passado o faz com a meta de
entender o que aconteceu, repetir o
que foi bom e não cometer os mesmos
equívocos. E se, repentinamente, o
mundo soubesse que não haveria mais
nada, que estava definhando e que provavelmente não passaria pelo próximo
aniversário secular? Há décadas, os
ecologistas avisavam que a situação
ficaria assim: quase apocalíptica.
O motivo é bem simples. De tanto
pensar num futuro próximo, em prazos
imediatos, em lucros instantâneos,
a humanidade não mediu o impacto
dos seus atos dali a gerações. Com o
crescimento geométrico da população
mundial, este choque foi, progressivamente, se tornando insuportável.
Nós, contemporâneos, fomos eleitos
para reverter isso. Não por nenhuma
habilidade especial, mas apenas por
uma escolha aleatória do universo que
nos pôs de frente com a realidade inolvidável, especialmente as alterações
climáticas e a iminência do fim das
reservas de água.
Não poderíamos, jamais, nos furtar
deste alerta. O jornalismo se dedica às
questões relevantes da humanidade.
Os problemas da sociedade são pautas
obrigatórias do jornalismo. Por isso,
destacamos nesta edição a reportagem
sobre sustentabilidade. É necessário
explicar e entender bem as formas
que o mundo tem de produzir sem
agredir e tentar reverter a escalada
de degradação ambiental. Com ênfase na emergência, tratamos também
da insuficiência e do alto preço dos
alimentos, resultado de vários fatores
como a expansão do consumo, falta de
preservação ecológica e da tentativa
de produzir combustíveis renováveis a
partir de produtos agrícolas. A equipe
se esmerou para que esse papel no
qual o jornal é impresso não se torne
apenas um ônus à natureza e possa
contribuir à preservação da maneira
que podemos: com informação.
Júlia Timm, editora
aRTIGO
ÚLTIMA
O domínio das milícias
A lei da
discórdia
Por Mauricio Cirio
Por Fernando Rotta Weigert
é perfeito. Porém, se imagina que as
autoridades governamentais procuEm quem confiar? Após ler repor- ram chegar o mais perto possível da
tagem sobre o seqüestro e tortura da perfeição em suas ações.
equipe de repórteres do jornal O Dia,
Quando vemos situações absurdas
ocorridos em meados de maio, dou sendo apresentadas na mídia, sem
três ou quatro tapas inconformados causar perturbação (dona de casa diz
no jornal, mas as páginas não têm “político é tudo ladrão” e pronto), perculpa, muito pelo contrário. O caso cebemos um traço de conformidade
é um crime hediondo à segurança instalado nos pensamentos da populanacional, à liberdade de informação e ção. Porém, quando há notícias sobre
aos profissionais de jornalismo.
atrocidade, dessas capazes de mutilar
Dias depois, leio outra notícia ain- o silêncio, o sentimento é outro. Isso
da pior. Três jovens foram entregues a parece um soco na boca do estômago
um grupo rival de traficantes pela pró- do brasileiro. As milícias ou grupos
pria polícia militar. Eles foram mortos paramilitares controlam favelas, em
a balas no morro da Providência, no acordos com traficantes, e impõem
Rio de Janeiro, e tiveram seus corpos suas regras ao povo que paga para filançados como lixo
car desprotegido, não
em aterro sanitário.
vê a solução dos seus
Hoje, as milícias do
problemas e, em troRio de Janeiro são Feito boxeador à espera ca, recebe violência.
definidas assim pela
Como conseqüência,
imprensa nacional: do próximo round, devo encomenda seu pró“Grupos paramiliprio caixão. Isso não
erguer a cabeça e os
tares formados por
parece ser real.
punhos.
PMs e bombeiros,
Sei que o jornal
da ativa e da reserva,
não mentiu, os fatos
que passaram a consão reais. Agora, cotrolar favelas impondo suas regras, meço a duvidar da palavra “confiansendo que uma delas é cobrar dos ça”. Ainda mais, sabendo que o termo
moradores por segurança”. Esses “impune” é constante na nossa sociegrupos dominam, junto a traficantes, dade, como é o caso do assassinato do
a “segurança” (ou a falta dela) das jornalista e deputado José Antônio
favelas cariocas por meio de acordos. Daudt. Se depender dessa justiça, ele
Onde estão os defensores da popula- foi assassinado por uma pistola voadoção brasileira?
ra e pensante, pois depois de 20 anos,
Uma imensa quebra de conceitos a prescrição vai encerrar o assunto. O
me abate feito porco em matadou- assassino continuará livre, como estão
ro. PMs e bombeiros que, na minha as milícias que, segundo o prefeito do
infância, admirei em filmes de ação, Rio, César Maia, dominam 63 favelas
quando o bonzinho sempre vencia, da cidade chamada maravilhosa.
agora, escorrem pelo esgoto da miEstou cansado. Mas, com fôlego de
nha mente. Nem todos. Mas, os que atleta ainda agüento mais uns quilôcospem nas fardas com atitudes vio- metros de decepções. Feito boxeador à
lentas à pátria brasileira. O conceito espera do próximo round, devo erguer
de milícias cariocas se deturpou para a cabeça e os punhos. Almejo lutar
o lado horrendo.
contra o mal de políticos e militares
Sempre soube que, no Rio de Ja- corruptos, em uma história parecida
neiro, como em outras grandes me- com a do Super-Homem, aquele que
trópoles do mundo, a vida não é fácil. consegue ser jornalista e super-herói
Quanto maior a cidade, geralmente ao mesmo tempo, mesmo não sendo
há muitos crimes e confusão, dificul- brasileiro. Essa é a situação do jortando a gestão das autoridades. Em nalismo. O lado bom da decepção é
função do constante descontrole, o que nos faz melhorar a visão. Eu já
descontentamento se expande. Nada comprei minhas lentes.
Hipertexto
Jornal mensal da Faculdade de Comunicação
Social (Famecos) da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico,
Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: [email protected]
Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php
Reitor: Ir. Joaquim Clotet
Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira
Diretora da Famecos: Mágda Cunha
Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane
hipertexto
Acidentes, violência, álcool. A lei
11705/8, chamada “Tolerância Zero”, em
vigor no Brasil desde 20 de junho, quer
acabar com essa tríade. Ao reduzir o nível
permitido para dirigir à zero – decigramas
de álcool por litro de sangue – o decreto
conseguiu cortar pela metade o número
de acidentes de trânsito. No Hospital de
Pronto Socorro da Capital, constatou-se a
diminuição de 37,1% no número de atendimento a acidentados automobilísticos,
entre fins de semanas antes e depois da
medida.
Menos acidentados e também menos
consumidores é a queixa dos donos de
estabelecimentos comerciais, que vendem
bebidas alcoólicas. O movimento nos
restaurantes, bares e casas noturnas caiu
aproximadamente 30% – segundo levantamento do Sindicato de Gastronomia e
Hotelaria de Porto Alegre (SindPOA). “A
legislação é muito rigorosa, deveria existir uma margem maior”, reclama Daniel
Antoniolli, presidente do SindPOA. “A
economia deve migrar da bebida para o
transporte”, calcula Ana Maria Martins,
coordenadora das Políticas Públicas para
o Álcool, do Sindicato Médico do Rio
Grande Sul.
Para Ana Maria Martins, mesmo que
haja flexibilização da lei, como já aponta o
ministro da Justiça, Tarso Genro, “o mais
importante é que o assunto virou pauta
da sociedade”. Tarso Genro, em entrevista
ao jornal O Globo, disse: “A lei tem que
cumprir sua finalidade e não pode causar
uma injustiça em função do seu rigor. Por
isso é necessária uma pequena tolerância
para que as pessoas não sejam injustiçadas
por terem um pequeno teor alcoólico no
sangue”.
A lei determina que o cidadão submetido ao bafômetro que apontar qualquer nível de álcool, no sangue, paga multa de R$
955, perde a carteira de motorista por um
ano, e tem o carro retido. Caso a graduação
aferida no sangue seja superior a 0,6 decigramas é considerado crime e o condutor
vai preso. A Associação Brasileira de Bares
e Restaurantes já protocolou, no Supremo
Tribunal Federal, ação de inconstitucionalidade contra a medida. Argumenta que
a lei excedeu os objetivos de sua criação,
ferindo princípios constitucionais.
Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000
Finger
Produção dos Laboratórios de Jornalismo
Gráfico e de Fotografia.
Professores Responsáveis:
Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação
e edição), Celso Schröder (arte e editoração
eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo).
ESTAGIÁRIOS:
Gerente de produção: Thais Silveira
Editores: Júlia Timm, Paula Sperb,
Raphael Ferreira, Sérgio Giacomel e
Tamara Carvalho.
Editor de Fotografia: Vinícius Roratto
Carvalho.
Redação: Bernhard Schlee, Bruna Weis
Scirea, Bruna Silveira, Camila Soares,
Cristiano Navarro, Daniela Cenci, Edmar Gomes, Fernando Rotta Weigert,
Gustavo De Stumpfs, Leonardo Serafim,
Luciano Valermann, Maiara Andrade,
Maurício Círio, Pamilli Braga, Patrícia
Lima, Paula Letícia Nunes da Silva e
Rodrigo Nunes.
Repórteres Fotográficos: Amanda
Copstein, Antônio Cruz, Camila Domingues, Camila Kaufmann, Cláudio Rabin,
Cristiano Lima, Fernanda Botta, Guilherme Santos, Henry Corrêa, Isadora
Neumann, Júlia Otero, Laura Fraga,
Luísa Kiefer, Maria Joana Avellar, Pedro
Belo Garcia e Pedro Revillion.
hipertexto
cidade 3
Porto Alegre, junho-julho 2008
Futuro de Porto Alegre: muitos
carros e pouca gente nas ruas
Câmara de Vereadores promove fórum para discutir preservação e desenvolvimento
Por Daniela Cenci
Um pólo de ciência e tecnologia em uma cidade ocupada por
carros. Nas ruas, apenas comércio
informal. O cidadão que passeia
o fará nos corredores dos grandes centros comerciais. Assim,
será a Porto Alegre do amanhã,
conforme projeção feita pelos
convidados que expuseram no
Fórum Porto Alegre, Uma Visão
do Futuro, realizado de 14 e 21
de maio e de 11 e 18 de junho, no
prédio 40 da PUCRS. O evento
foi uma promoção da Câmara de
Vereadores de Porto Alegre, em
parceria com diversas entidades.
Saúde, tecnologia, regularização fundiária, saneamento e
patrimônio arquitetônico foram
alguns temas debatidos. Espelhado em outros municípios como
Curitiba, o evento trouxe especialistas no assunto. O pró-reitor
de Pesquisa e Pós-gradução da
PUCRS, professor Jorge Luiz Nicolas Audy, destacou que a Capital
já tem estrutura instalada para
ser pólo de ciência e tecnologia,
além da liderança em programas
de pós-graduação e de contar com
importantes centros de pesquisas
do país. “Se nós associarmos esse
potencial existente a uma visão
bastante atual, hoje internacional, da importância do papel de
protagonista das universidades
enquanto ambientes inovadores,
as condições de Porto Alegre
realmente mudarão sua face no
futuro, com investimento cada vez
maior nessas áreas”.
Nas oficinas, os participantes
apontaram problemas que impedem o desenvolvimento regional
integrado. O sistema público de
transporte foi uma das preocupações apresentadas em consenso.
“Somente no mês de abril de
2008 foram emplacados em Porto
Alegre 4,8 mil carros. Em 2008, já
foram 28 mil. O Brasil se aproxima de países de primeiro mundo
porque a taxa de motorização é
elevada”, disse o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Luis
Afonso Senna.
Em contraponto à opinião do
secretário, que defendeu investimentos do governo federal na
produção de automóveis utilizando o “PAC Industrial” – pacote
para estimular o crescimento
econômico –, Orlando Strambi,
professor da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo, sugeriu o controle do uso excessivo
dos automóveis. “De certa forma,
é uma visão de cidade do futuro
que nós precisamos colocar nas
nossas cabeças”. Ele concorda que
é preciso melhorar o serviço de
transporte coletivo, assim como
o secretário de Desenvolvimento
Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal, Cássio Taniguchi.
Carlos Dória, doutor em sociologia pela Unicamp, apresentou
dados indicando o esvaziamento
das ruas devido ao circuito de
atividades em shoppings – principalmente as de lazer –, provocando uma reflexão sobre a mudança de hábito da população. “Os
cinemas, as salas de teatro e as
livrarias estão sendo absorvidos.
O conceito de passeio moderno é
ir ao shopping e não mais passear
pelas ruas”. Constatando que as
ruas são ocupadas pelo comércio
informal, o economista e pesquisador da Fundação de Economia
e Estatística (FEE), José Antônio
Fialho Alonso, afirmou que o município perde espaço na área da
indústria na região metropolitana
e no Estado.
O coordenador geral do fórum, professor João Carlos Brum
Torres, enfatizou a necessidade
do diálogo em diferentes esferas:
“Vai se formando aqui um acervo
de conhecimentos e aspectos bastante variados, que vão dar uma
boa plataforma para a construção
de um instituto”.
Apenas as empresas que precisam de pequenos espaços usam
tecnologias limpas, movimentam
baixo volume de insumos e produtos de alto valor agregado vão
sobreviver na cidade do futuro,
segundo Fialho. O presidente do
Sindicato dos Hotéis da cidade,
Danilo Antoniolli, reforçou a
importância da imagem, como a
que associa Porto Alegre à “capital
brasileira da qualidade de vida” e
defendeu um planejamento estratégico de turismo. “O turismo
representa 10% do PIB mundial.
No Brasil, chega apenas a 3%”.
O fórum se encerra dia 22 de
julho, trazendo a presença do
urbanista catalão Jordí Borja, do
arquiteto norte-americano Charles Duff, e do ex-governador do
Paraná, Jaime Lerner.
Ramon Nunes/CMPA
O fórum integrou nos quatro dias de evento personalidades das áreas de urbanismo, arquitetura, motricidade e outros
Elson Sempé Pedroso/CMPA
A oficina de “Dinâmica dos bairros” debateu as identidades culturais
Um instituto para planejar
As alternativas sugeridas pelo
Fórum sobre o desenvolvimento
sustentável de Porto Alegre serão
publicadas em livro. Os ítens
servirão de base para a criação de
um instituto de estudos e pesquisas para programar o futuro da
capital. A idéia de um “instituto
para pensar em Porto Alegre” ganhou força depois da Conferência
Mundial sobre Desenvolvimento
de Cidades, promovido pela Prefeitura, em fevereiro.
O presidente da Câmara Municipal, vereador Sebastião Melo
(PMDB), explicou que a cidade
perdeu muito a sua capacidade
de planejamento. “A Secretaria de
Planejamento é composta de excepcionais técnicos, mas trabalha
muito em cima do imediatismo.
Portanto, o instituto teria uma
visão mais de conjunto da cidade,
projetando grandes temas não só
para o momento, mas para os próximos 30 anos”. Ele acredita que
o Fórum Porto Alegre direcionará
os próximos passos.
A lista de sugestões que pode
ou não ser adotada pela esfera
política tem muitas ligações com
o Plano Diretor da cidade que
passa por processo de revisão. “O
instituto poderá dar continuidade
trazendo para dentro si experiências locais, regionais, nacionais e
enriquecendo os temas em discussão e outros que surgirão”, prevê
Melo. Os estudos a longo e médio
prazos serão realizados em conjunto com o executivo. O prefeito
José Fogaça avalisou a proposta:
“É o que a cidade precisa para
poder desenhar e projetar o seu
desenvolvimento”.
A identidade de cada bairro
e a preservação dos patrimônios
históricos e culturais também vão
englobar o estudo. A criação do
Museu Ibere Camargo foi apontada como uma das primeiras
ações direcionadas à construção
da cidade do futuro. O Fórum
encerra-se dia 22 de julho com
uma discussão conjunta de todos
os temas levantados.
4 acervo
Porto Alegre, junho-julho 2008
Um prédio histórico é
restaurado no Centro
hipertexto
Pedro Garcia/Hiper
l São necessários R$ 7 milhões para Biblioteca
Pública do Estado recuperar o brilho de 1915
Bernhard Friedrich Schlee
José Patrício Rodrigues, 64
anos, é porteiro há 12 anos. Mas
ele não é um porteiro de um
prédio qualquer. O que guarda é
um pedaço da história do próprio
Rio Grande do Sul, a Biblioteca
Pública do Estado – situada na
esquina das ruas Riachuelo e General Câmara, no centro de Porto
Alegre –, patrimônio estadual
e nacional. Depois de quase um
século de existência, a ação do
tempo atingiu o prédio, que desde
2006 passa por um processo de
restauração.
A Biblioteca Pública do Rio
Grande do Sul existe desde 1877.
Porém, só em 1915 passou a
funcionar no imponente edifício
da Riachuelo, que possui fortes
influências positivistas, como o
calendário formado por bustos
em sua fachada. Nos salões, há
vários estilos arquitetônicos, do
neoclássico ao egípcio.
Com o passar das décadas, o
prédio se degradou. Pinturas e
murais que adornam o edifício
corroeram, a mobília desgastou,
o piso apodreceu, invadido pelos
cupins, entre outras coisas. Algo
precisava ser feito. Em 2006,
começaram as obras de restauração, com recursos do Projeto
Monumenta (do Ministério da
Cultura) e execução da empresa
Engenharia e Pesquisas Tecnológicas (EPT). Entre algumas obras
que recuperam a antiga forma
está a do elevador, um dos mais
antigos do Estado, que há muitos
anos não funcionava. No geral, a
biblioteca ainda é um canteiro de
obras. Atualmente, os leitores e os
livros deram lugar aos pedreiros
e materiais de construção.
Casa Mario Quintana
Enquanto o prédio da Riachuelo está em obras, a biblioteca
foi transferida para o terceiro
andar do Centro Cultural Mário
Quintana, localizado na Rua dos
Andradas, 736. Neste endereço
estão 40 mil dos 200 mil livros;
o restante foi guardado em caixas
no edifício em obras. Na Casa Mario Quintana, são oferecidos serviços como o acervo em Braille e
o setor de empréstimos. Os livros
raros, entre eles umas das primeiras edições de “Os Lusíadas”,
de Luiz Vaz de Camões; o poema
“Pharsalia”, de Lucano, datado
de 1519; uma edição da “Divina
Comédia”, de Dante Alighieri; e
alguns tomos considerados subversivos para suas épocas, como
“Decameron”, de Boccaccio, se
mantêm guardadas no prédio
original. Esses livros só estão
disponíveis para pessoas com
bons motivos para consultá-los,
como pesquisadores. Inclusive,
se alguém necessitar de uma
obra que não esteja na Casa de
Cultura, a conseguirá no prazo
de um dia.
Depois de restaurada, a biblioteca passará por mudanças,
pois foi projetada para 100 mil
livros e seu acervo é o dobro. Vai
virar “uma espécie de bibliotecamuseu, mas continuará sendo biblioteca com a memória histórica
do Rio Grande do Sul e a parte
rara”, explica a diretora Morgana
Marcon. A intenção é construir
um novo prédio, com capacidade
de abrigar um milhão de livros,
além de outros setores como periódicos, música e arte infantil,
preenchendo assim todas as áreas
de uma biblioteca moderna.
Marcon não concorda com a
idéia de que a biblioteca está per-
Livros raros continuam sendo consultados no histórico prédio em obras
dendo força diante da Internet,
cada vez mais presente não só
em relacionamentos e entretenimento, mas também no ensino e
consultas. Além da credibilidade
precária das informações na
rede, detectadas na academia, ela
lembra que muitos ainda não têm
acesso. “Nada substitui o prazer
do contato com um livro”, diz.
“Ler um livro no papel é muito
mais gostoso e prático do que
digitalmente, num notebook.” No
final de junho, termina a etapa de
restauração com os recursos do
Projeto Monumenta. Serão necessários R$ 7 milhões, dos quais
dois milhões já foram conseguidos junto ao BNDES. A diretora
acredita que as obras sigam por
mais dois ou três anos. Só então
voltará a funcionar no prédio original. Até lá, os usuários têm de
freqüentar a Casa de Cultura.
PUC terá uma das mais modernas bibliotecas do país
Por Luciano Varelmann
Uma das maiores e mais modernas bibliotecas do Brasil estará pronta no segundo semestre
de 2008 no campus central da
PUCRS. A data da inauguração
oficial da nova Biblioteca Central
ainda não está definida. Definitivos são os 21 mil metros quadrados de construção, distribuídos
em 14 pavimentos. O prédio antigo possuía uma área de apenas 10
mil metros quadrados. O maior
espaço físico terá capacidade de
armazenar aproximadamente
840 mil exemplares.
O novo local estará equipado
com auditório, espaços especiais
para exposições e o Memorial da
Universidade, no andar térreo. O
prédio contará ainda com rede de
Internet sem fio e empréstimo de
notebooks aos alunos.
Luiza Kiefer/Hiper
Ampliação e modernização do prédio está em fase final e deverá ser inaugurado no segundo semestre
Desde 2003, grupos de trabalho vinham discutindo o audacioso projeto de remodelação para
readequar a Biblioteca Irmão
José Otão aos tempos contemporâneos. Após diversos estudos,
as obras de reforma e ampliação
da biblioteca central da PUCRS
finalmente iniciaram no primeiro
semestre de 2006.
Os novos andares servirão
para realocação do acervo de
maneira mais organizada. Serão
divididos por áreas do conhecimento, reunindo livros, periódicos, materiais de referência e
especiais.
O bibliotecário Ednei de Freitas Silveira, responsável por esse
período de transição, conta que
ainda está em estudo o uso de
novas tecnologias para automatização dos serviços. Os acervos das
Coleções Especiais Universidade
e Iconográfica serão expostos e
disponibilizados para consulta
dos estudantes. Os acervos de
obras raras, cinematográfico,
histórico e Mapoteca também
serão expostos.
O novo espaço contará com
três andares específicos para
estudo. Um deles será destinado
aos estudantes de graduação, e os
outros dois aos de pós-graduação.
O lugar será dividido em áreas de
leitura e para estudo em grupo,
contando ainda com salas de
vídeo e um espaço para atendimento de usuários portadores de
necessidades especiais.
O novo prédio manterá dois
andares de reserva técnica, o
que permitirá o crescimento do
acervo no futuro. Há também um
andar à disposição da Universidade, que ainda não manifestou de
que forma irá utilizá-lo. A nova
Biblioteca Central Irmão José
Otão promete não ser apenas um
ambiente de retirada e devolução
de livros. Contará com ambientes
modernos e acolhedores, com
toda a infra-estrutura necessária
para a pesquisa e o suporte das
atividades acadêmicas.
hipertexto
geral 5
Porto Alegre, junho-julho 2008
Drama de Ingrid chega ao final
Seqüestrada em 2002, política foi libertada pelo exército em ação cinematográfica
Rodrigo Arangua/AFP
Por Sérgio Giacomel
Após seis anos de cativeiro sob
o poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC),
a ex-candidata à presidência da
nação sul-americana, Ingrid Betancourt, foi resgatada no dia 2
de julho por tropas colombianas,
junto com outros 14 prisioneiros. A ação, batizada de “Jaque”
(xeque-mate, em português), se
deu no departamento de Guaviare,
sudeste do país, e foi classificada
como “impecável”, pois não foi
disparado um tiro sequer.
A franco-colombiana é considerada um ícone da luta pelos
direitos humanos. Além dela,
foram libertados três agentes
norte-americanos e 11 policiais e
militares colombianos, que foram
levados de helicóptero à base aérea
de Bogotá. Ainda na quarta-feira,
Betancourt se encontrou com a
mãe e amigos. Na quinta, após
a chegada dos filhos Melanie e
Lorenzo Delloye, que vivem na
França, reuniu-se com eles numa
“orgia de beijos” e abraços, como
ela mesma definiu.
Em pronunciamento público,
agradeceu ao Exército pelo sucesso
do resgate. “Não existem antece-
Ingrid Betancourt entre os filhos Melanie e Lorenzo. A política franco-colombiana era refém das FARC
dentes históricos de uma operação
tão perfeita. Obrigada ao Exército,
por sua operação impecável”. Ela
lembrou também daqueles que
morreram durante o cativeiro.
Conforme esclarecimento do
ministro colombiano da Defesa,
Juan Manuel Santos, o Exército
conseguiu enganar a milícia, infiltrando agentes do serviço de
Inteligência em meio a um grupo de guerrilheiros. Eles teriam
convencencido os rebeldes de
que integravam uma organização
humanitária. Desse modo, fariam
o transporte dos aprisionados,
em um helicóptero, para outro
acampamento, encontrar o líder
revolucionário, Alfonso Cano. Já
em vôo, os dois integrantes das
FARC a bordo – César, chefe do
acampamento, e o outro conhecido
pela alcunha de “Óculos” – foram
rendidos e vendados.
O modo como se deu a ação
levantou dúvidas na comunidade
internacional. A Rádio Suíça Romanda (RSR) chegou a divulgar a
informação de que a guerrilha teria
recebido 20 milhões de dólares
para libertar Ingrid e os demais
reféns. A alegação foi baseada no
depoimento de uma fonte “ligada
aos acontecimentos, confiável e
testada em reiteradas ocasiões nos
últimos anos”, como anunciou a
rádio. O governo colombiano, no
entanto, desmente a negociação.
Especulações dão conta de que
as FARC estariam desestabilizadas
após perderem cinco de seus principais líderes nos últimos tempos.
Além de Manuel Marulanda “Tirofijo”, fundador e número 1 da
milícia, morreram Raúl Reyes,
Iván Rios, Negro Acácio e Martín
Caballero.
Os últimos incidentes diplomáticos levaram a uma crise entre os
governos da Colômbia, da Venezuela e do Equador. Ingrid insistiu
para que os países vizinhos reconsiderem o diálogo com Bogotá.
“Esta é uma etapa essencial para
que possamos vislumbrar novas
libertações”, declarou ela. Hugo
Chávez, presidente da Venezuela,
parabenizou o colega colombiano
Álvaro Uribe e se dispôs a ajudar
em novos resgates. “Continuamos
à disposição até que se liberte o
último refém da guerrilha e para
conseguir a paz plena na Colômbia”, afirmou o líder venezuelano.
Todos ganham com as sacolas ecológicas
Laura Fraga/Hiper
Por Paula Letícia Nunes
Alimentos orgânicos, economia
sustentável, reutilização da água e
das sacolas de compra são assuntos
não mais exclusivos das pessoas
ligadas à ecologia. Preocupações
de um eco-chato? Não, atitudes do
cidadão consciente do seu papel no
planeta, onde os recursos naturais
são limitados e correm risco de
extinção. Agora, cool é ser ecologicamente correto.
As eco-bags são sacolas reutilizáveis, usadas para carregar
compras. Sabe aquela sacola de
pano que sua avó utilizava para
fazer a feira? Pois são essas mesmo, repaginadas e compondo o
estilo de cada um. Elas retornaram
para ocupar o lugar das sacolas
plásticas, feitas de resinas sintéticas originadas do petróleo, que
não são biodegradáveis e levam
séculos para se decompor na natureza. Pesquisas da Unicamp
indicam que são produzidas no
Brasil 210 mil toneladas anuais
de plástico-filme, que servem de
matéria-prima para a fabricação
de sacolas de supermercado. Como
são descartáveis, já representam
9,7% do lixo produzido no país.
Utilizar eco-bags supera o
modismo para figurar na lista de
ações que ajudam na preservação
do meio ambiente. É também uma
alternativa para geração de renda.
Na principal feira ecológica da
Capital, realizada aos sábados na
Rua José Bonifácio, aos poucos as
sacolas plásticas são substituídas
pelas reutilizáveis. A conscientização aconteceu depois de muita
insistência dos feirantes, que organizaram promoções para quem
trazer sacolas de casa. Agora, a
eco-bag é vendida por R$ 4,00 a
unidade, em todas as bancas.
Ter a própria sacola retornável é uma tendência mundial. Na
Europa, é alternativa econômica
na hora de adquirir produtos. Na
Alemanha, quem não leva a sua
própria bolsa para carregar as
compras precisa pagar o equivalente a R$ 0,60 por sacola plástica.
Na Irlanda, é cobrado imposto de
nove centavos de libra irlandesa. A
medida fez multiplicar o número
de europeus carregando sacolas de
pano, de palha, e mochilas, informa
o site da Prefeitura de São Paulo.
No Brasil, este tipo de produto
também está se popularizando. A
indústria de cosméticos Natura
vende sacolas de tecido a R$ 15,00
e repassa os lucros para o projeto
de conscientização ambiental
mantido pela própria empresa, o
CRER. Em Porto Alegre, o designer
Marcelo Bohrer e o consultor Jorge
Mello desenvolveram a campanha
I love eco-bag. Mello conta que o
objetivo vai além da venda das bolsas de algodão, pois todo processo
é realizado de forma sustentável.
O produto é confeccionado pela
cooperativa de costureiras Unidas
Venceremos. As sacolas personalizadas com o nome do cliente final
são em lotes de, no mínimo 10, ao
valor de R$ 10,00 cada.
O consultor concorda que o
público-alvo ainda está restrito às
classes média e alta, que têm acesso à informação. Baseado nestes
dados, decidiram doar parte do
lucro ao projeto de conscientização
ambiental de estudantes de escolas
públicas, mantido pela Fundação
Gaia. Desde o início das atividades,
em dezembro de 2007, foram ven-
Bolsas ecológicas geram renda e são alternativa de sustentabilidade
didas cerca de 10 mil unidades da
bolsa ecologicamente correta.
Também há quem faça disto o
seu ganha-pão. Em Viamão, Zulmir
Compagnone e a esposa Senhorinha do Amarante trabalham numa
oficina improvisada na garagem
de casa. Produzem diariamente
de 200 a 300 sacolas de pano. Em
velocidade quase industrial, Senhorinha costura uma nova bolsa
a cada 40 segundos.
6 especial
Porto Alegre, junho-julho 2008
Por um planeta limpo,
desenvolvido e saudável
hipertexto
Fotos Antonio Cruz/Hiper
Hoje o comprometimento ambiental das empresas
interfere na cotação das ações no mercado financeiro
Por Paula Letícia Nunes
ambiental. Para obter lucro, o
homem precisa interferir no
Nunca se ouviu falar tanto meio-ambiente. Porém, o que se
em sustentabilidade. Afinal, que busca é a criação de um sistema
significado tem essa palavra? de compensação que neutralize
O biólogo Eduardo de Almeida ao máximo possível os efeitos
diz que a definição é sistêmica: nocivos provocados na natureza”,
engloba diversos fatores, como argumenta Eduardo Almeida, da
o social, econômico e cultural. empresa Eco Consciência.
O coordenador do curso de
Por ser simplificado, o conceito
Engenharia da
PUCRS, CláuRelatório de Brundtland
dio Frankenberg, explica
O Relatório Brundtland é um documento que
que o desenvoltem como titulo Nosso Futuro Comum. Baseado
vimento amem estudos da Comissão Mundial sobre o Meio
biental sustenAmbiente e das Nações Unidas, o material, publitável é aquele
cado em 1987, chama atenção para os riscos do
que causa o
aquecimento global e a ameaça que isso poderia
menor impacrepresentar para a humanidade.
to ambiental
possível. Para
mais utilizado é do Relatório isso é preciso ter uma visão a
de Brundtland, segundo o qual, longo prazo, não aplicar apenas
desenvolvimento sustentável é medidas pontuais.
Frankenberg aponta a educaaquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer ção ambiental como fundamena capacidade das gerações futuras tal para que o desenvolvimento
sustentável se torne possível.
de suprir as suas.
“Esse pensamento é românti- Para isso, é preciso que haja
co. Não existe desenvolvimento conscientização. No campo do
econômico livre de impacto ensino, isso se faz com grupos de
estudos que desenvolvam projetos
de pesquisa e ações práticas e que
essa ação seja de forma contínua.
Para o engenheiro, o mais difícil é
fazer as pessoas entenderem que
fazem parte do meio ambiente e
todas as ações por elas praticadas
terão efeito no local onde vivem.
Passada essa fase, a tendência
é dos indivíduos se engajar nas
campanhas.
Verdade inconveniente
O que tem dado visibilidade ao
termo antes restrito aos ambientalistas são as alterações climáticas geradas pelo aquecimento
global, fruto do desenvolvimento
e consumo inconseqüentes da
sociedade. O documentário Uma
verdade inconveniente, do exvice-presidente americano Al
Gore, foi sucesso de público e
alerta para o aumento de nível dos
mares, tempestades, extinção de
espécies da fauna e da flora e epidemias, caso cidadãos, indústrias
e governos não tomem providências a curto e médio prazos. Frente
às ameaças aos ecossistemas do
planeta, tanto o Estado quanto as
legenda legenda
Energia eólica no caminho da praia não produz poluição
empresas estão adotando atitudes
paliativas na tentativa de frear o
avanço do desequilíbrio climático,
provocado por séculos de crescimento econômico ecologicamente
inconsciente.
O professor Cláudio Frankenberg, membro do Instituto do
Meio Ambiente da PUCRS, conta
que a universidade está engajada
em ações de desenvolvimento
sustentável que envolvem a gestão
dos resíduos. O trabalho consiste
na coleta e descarte correto dos
lixos seco e orgânico. Esta prática
envolve as faculdades, laboratórios e a Prefeitura Municipal.
A instituição de ensino também
recicla as lâmpadas descartadas e
tem um centro de captura de carbono, que desenvolve pesquisas
de compensação do gás carbônico,
que é o principal responsável pelo
efeito estufa.
Respeito ambiental
facilita negócios
Centro de Educação Ambiental da Vila Pinto faz reciclagem, uma medida que contribui para a sustentabilidade
Eduardo Almeida trabalha na
empresa de gerência de resíduos
Eco Consciência. Entre as atividades do biólogo está o cálculo
do índice de reciclagem e taxa de
compensação de carbono, fatores
importantes na hora de avaliar
os índices Dow Jones (utilizado
pela Bolsa de Valores dos Estados
Unidos) e ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial, utilizado
pela Bovespa).
Almeida revela que o comprometimento ambiental pode interferir na cotação das ações no mercado financeiro, principalmente
das firmas que negociam com
clientes estrangeiros. Os europeus
estão entre os que valorizam empresas ecologicamente corretas
na hora de fechar negócios.
O principal trabalho da Eco
Consciência é feito em parceria
com a indústria sueca Tetra Pak,
e tem como objetivo reciclar as
embalagens produzidas pela
empresa. Ano passado, 26,6%
do material foi reciclado. A meta
fixada para este ano é de 28%.
Para que isto aconteça, foram
firmadas parcerias com as empresas Crédito Real e Auxiliadora
Predial, o que tornou possível a
realização de palestras para os
condôminos e a disponibilidade
de coleta seletiva. Foram criadas
metas para o descarte correto
do resíduo que, se atingidas, são
revertidas em descontos no valor
do condomínio. Outra parceria
interessante é a recentemente
fechada com uma fábrica de telhas que utilizará a embalagem
Tetra Pak como matéria-prima.
Isso culminou em um produto
20% mais barato que as telhas
comuns, mais resistente ao vento
e totalmente impermeável.
hipertexto
especial 7
Porto Alegre, junho-julho 2008
Preço dos alimentos dispara no mundo
As causas são muitas e poucas as
perspectivas de reverter a tendência
Por Bruna Scirea
Qual é a razão do acentuado
aumento no preço dos alimentos
no mundo? Cresceu o consumo
ou reduziu a oferta? Será conseqüência da elevação do custo
do petróleo? Muitas perguntas
iguais a essas são feitas, em todo
o planeta, sem se obter respostas.
A única certeza quem tem são os
consumidores que reclamam do
brusco aumento no preço dos alimentos. Além de assistir a disparada dos preços, a sociedade não
vê perspectiva de reversão.
Wilma Schwartz, 63 anos, vai
às compras com o dinheiro da
aposentadoria contado. “Já tentava comprar o mínimo de carne
possível, pois o preço é muito alto.
Agora preciso ainda controlar
os gastos com outros alimentos,
como o arroz, cereais e até mesmo
o pãozinho francês. Cada mês que
passa o rancho fica mais caro”,
comenta a dona de casa.
A preocupação vai muito além
das filas dos mercados. O mundo
enfrenta uma crise que acentuará ainda mais as discrepâncias
entre a fartura e a fome. A teoria
do sociólogo Thomas Malthus
parece fazer sentido: enquanto a
produção de alimentos cresce em
progressão aritmética, o crescimento populacional ocorre em
progressão geométrica.
A crise tem como motivos
principais o aumento da renda e
população dos países emergentes
e o elevado preço do barril de
petróleo, na opinião do economista da Fundação de Economia
e Estatística (FEE), Alfredo Meneghetti. “A oferta de alimentos
no Brasil e no mundo não tem
atendido o disparo do consumo
em decorrência do aumento do
poder aquisitivo da população”,
comenta Meneghetti.
Deve, ainda, ser somado a essas causas outro fator importante:
a crise financeira. A especulação
no mercado de capitais e a queda
constante nos preços das ações
são fatores que agravam mais o
problema, uma vez que grande
parte dos alimentos é tratada
como commodities – negócios
futuros cotados em dólar.
Há, ainda, a tendência e a
busca por lucratividade que permeiam os campos, mudando a
matriz produtiva do alimento
para o combustível. O governo
brasileiro, na figura do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, dos ministros da Agricultura, Reinhold
Stephanes, e do Desenvolvimento
Agrário, Guilherme Cassel, sustenta que o plantio de cana-deaçúcar destinada à produção de
etanol não compete com as terras
destinadas aos alimentos. “Como
no Brasil nós temos uma oferta de
áreas muito grande, ainda existe
muito espaço para ser preenchido
pela plantação dos biocombustíveis”, reforça Meneghetti.
Nos Estados Unidos, entretanto, a situação é diferente. O
milho, designado à produção de
biocombustível no país, está com
sua área de plantio esgotada e não
pode se expandir. Dessa forma, o
Brasil joga como uma peça muito
importante no mundo: ele ainda
tem espaço para que sua produção
cresça.
Fenômenos climáticos
Também contribuiu para a
escassez de alimentos, nos últimos anos, a forte influência das
intempéries. “Secas, enchentes,
vendavais e até ciclones combinaram-se com o acréscimo de pragas
e doenças nas lavouras, trazendo
prejuízos na produção e exigindo
mais aporte de agroquímicos para
estabilizar os patamares produtivos”, complementa o coordenador
do curso de Agronomia da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, Carlos Martins.
Como exemplo disso, há a problemática da seca na Austrália que
perdura por mais de seis anos. No
Brasil, especialmente nos Estados
do Sul, nos últimos anos, as secas
foram tão profundas que se supõe
perda de mais de 30 milhões de
toneladas de grãos. “Especula-se
que os estoques mundiais de milho, trigo e arroz, os cereais básicos para a alimentação, estariam
em 70% das marcas da última
década”, diz Martins.
Especialistas também apontam o aumento do custo de fertilizantes – em alguns casos,
em mais de 100% – propiciado
pelo alto valor do barril de petróleo, como fator crucial para o
desenvolvimento da atual crise.
Além do acréscimo no preço dos
alimentos, o petróleo, que atingiu
índices recordes nos últimos tempos, influencia também outros
setores da economia, desencadeando uma inflação geral. “Há dez
anos, o produtor agrícola pagava
14 sacas de 60 quilos na compra
de uma tonelada de fertilizantes.
Hoje, para a mesma compra, são
necessárias 31 sacas, um aumento
de mais de cem por cento”, compara Meneghetti.
Maria Joana Avellar/ Hiper
A produção de alimentos e de biocombustíveis, como alternativa ao petróleo, precisam conviver juntos
Desequilíbrio começa com a Revolução Verde
especial na década de 70, quando o país adotou um pacote de
medidas chamado de “Revolução
Verde”. O que caracterizava a
iniciativa era o uso intensivo de
insumos químicos como adubos
solúveis e agrotóxicos.
A Revolução Verde trouxe
aumento expressivo na produção agrícola, mas, aos poucos,
ficaram evidentes os problemas
que carregou consigo. Provocou
erosão, compactação e perda da
fertilidade dos solos, diminuição
da biodiversidade, contaminação
dos alimentos, além de intoxicações crônicas e agudas dos trabaVinícius Roratto Carvalho/ Hiper
lhadores rurais.
Também causou
contaminação das
águas por nitratos e agrotóxicos
e o aparecimento de pragas resistentes. “Essas
conseqüências
permitiram condições de avançar a fronteira
agrícola que, por
sua vez, conduziu à verdadeira
revolução na criação de cidades e,
principalmente,
no aumento populacional”, assinala Martins,
coordenador do
curso de Agronomia da PUCRS,
em Uruguaiana.
Mesmo com
as duas crises – a
Pecuária ampliou a fronteira das pastagens
O agrônomo Carlos Martins
recorda que esta crise não é a
primeira a assolar o mundo. As
Revoluções Agrícolas dos séculos
passados foram essencialmente
resultados de situações como
esta. A primeira dessas revoluções é identificada por Martins
pela intensificação e a adoção de
sistemas de rotação de culturas
com plantas forrageiras (capim e
leguminosas), bem como a integração das atividades de pecuária
e agricultura.
A segunda, ocorrida no fim do
século 19 e início do século 20,
teve repercussão no Brasil, em
financeira e a alimentícia - atingindo a ordem mundial, o Brasil
ganha destaque no atual cenário.
Duas agências estrangeiras de
crédito analisaram as chances do
País de pagar suas dívidas e foi
concedido um selo de garantia –
grau de investimento – que confere maior confiança na hora de
capitais estrangeiros apostarem
na economia brasileira como uma
promessa do futuro. A aposta do
governo Lula é de que o Brasil
possa sair desta crise, não só como
líder na produção de alimentos,
mas também como pioneiro na
geração de energia renovável,
através do biocombustível. Entrentanto, o professor Carlos
Martins reclama da falta histórica
de maiores investimentos ao setor
primário, denunciando a ausência
de políticas públicas permanentes
de financiamentos à produção.
Para o agrônomo, deveriam
ser criados incentivos e condições
para que os brasileiros pudessem
trabalhar e crescer naquilo que os
destaca: a produção de alimentos.
“Contudo”, ele mesmo alerta, “na
ânsia de atingir o topo e levar
vantagem, o País não pode suprimir a prudência ecológica, com
desrespeito ao meio ambiente e
sem oferecer alternativas racionais e sustentáveis à produção de
alimentos”.
À teoria de Malthus, mais um
item poderia ser acrescentado:
assim como as populações humanas, os preços também crescem
em progressão geométrica. Os
alimentos estão vagarosamente
atrás, a passos curtos.
8 jornalismo
Porto Alegre, junho-julho 2008
hipertexto
entrevista/Silvana Yang
Da Famecos para a TV japonesa
No ano do centenário da imigração nipônica, ex-famequiana fez o caminho inverso. E deu certo
Fotos arquivo pessoal
Por Thais Silveira
O diploma de jornalista tinha apenas seis meses quando a
porto-alegrense Silvana Yang resolveu atravessar o globo e tentar
fazer a vida profissional no Japão.
Era 2002. Seis anos depois, ela
é comentarista de economia no
IPC TV, canal por assinatura dirigido aos brasileiros que vivem
no Japão.
Desde que surgiu, em 1950,
a televisão brasileira se tornou
o veículo mais bem aceito no
país. Consolidada como rede de
informação e entretenimento, a
TV conquistou adeptos e se modernizou. No Japão, a história é
um pouco diferente. Em Nagoya,
quarta maior cidade do país, fica
a sede da emissora IPC TV, canal
por assinatura, transmitido pela
SKY Direct TV. A emissora é feita
por brasileiros para brasileiros,
embora alguns sócios sejam japoneses. Apesar de não ser um canal
recente, seu principal obstáculo é
não alcançar a abrangência espe-
o território japonês. Atualmente
ela participa como comentarista e
também realiza matérias externas
no programa Guia do Milionário,
transmitido pela IPC TV. Ela
mora na cidade de Toyohashi, no
Estado de Aichi. Esteve em Porto
Alegre, a primeira vez desde sua
ida ao Japão. Veio ao Estado para
visitar a família, quando falou
sobre sua experiência nesse rico
país do Oriente.
Silvana conquistou espaço no Japão
rada. Além disso, a comunidade
brasileira tem dificuldade com o
alto preço dos contratos.
Esse cenário agora está mudando, pois a emissora se tornou
afiliada da Rede Globo Internacional em agosto do ano passado. A jornalista Silvana Yang,
formada na Famecos em 2001 e
impulsionada pelos comentários
do marido, que já havia morado
no país, resolveu se aventurar.
Os dois decidiram se mudar para
Como entraste na TV japonesa?
A inclusão de uma pessoa em
um programa da emissora se dá
principalmente por indicação de
alguém de dentro. No meu caso,
um programa novo estava sendo
planejado, a apresentadora era
minha amiga e precisava entrevistar alguém sobre economia
doméstica para o programa piloto.
Gravamos em minha casa. O diretor gostou da minha desenvoltura.
A partir daí, passei a fazer parte do
quadro fixo, cabendo a mim a função de comentarista das matérias
A equipe da IPC TV no Japão: programação destinada aos brasileiros
e apresentadora das notícias mais
importantes da economia japonesa que interessem à comunidade.
Com o tempo, comecei a fazer
reportagens externas.
Quais as principais diferenças entre o jornalismo feito no Japão e o brasileiro?
A principal diferença é a falta
de mão-de-obra qualificada, há
poucos profissionais com faculdade de comunicação. Existe muito
aprendizado na prática, falta
verba e a maioria dos programas
tem um ar amador. Conseguimos
alguns milagres nesse assunto,
pois nosso programa sempre
apresenta bons níveis de audiência e de participação.
Há exigência de diploma
de jornalismo? Quem pode
exercer a profissão no Japão?
Para trabalhar no jornal impresso, indo do Brasil exclusivamente para isso, precisa. No meu
caso, todos sabiam que eu era
formada, mas nunca me pediram
o diploma.
E no jornal impresso? Não posso te dizer quanto ao
jornal impresso que é produzido
lá, pois o mesmo é líder de mercado na comunidade, e já se firmou
ao longo dos anos. Tem parcerias
e anunciantes de peso, o que
possibilita melhores condições de
trabalho e funcionários qualificados, muitos até vindos do Brasil
exclusivamente para trabalhar
como jornalistas.
Para um programa voltado aos brasileiros, quais as
pautas mais freqüentes?
As pautas são basicamente
coisas voltadas à comunidade
brasileira, como dicas de economia domésticas, notícias japonesas que interessam e influem no
cotidiano da comunidade, dicas
de lazer e de entretenimento.
Quais as maiores dificuldades que tu encontraste?
A falta de liberdade de expressão é uma delas. Infelizmente, temos que conduzir os comentários
e pautas conforme as normas e diretrizes da empresa. Por exemplo,
numa pauta sobre economia com
telefonia móvel, não podemos
citar que a entrada em sites pelo
celular custa caro, pois uma empresa que proporciona o serviço
faz parte do grupo de comunicação. Temos que seguir a cartilha
da matriz, tudo é revisado, o que
geralmente causa frustrações e
descontentamentos por parte
de toda equipe. O amadorismo
também é outra dificuldade relevante.
Houve casos pitorescos?
Uma vez fomos a um banco
japonês fazer uma reportagem
sobre financiamento da casa
própria para estrangeiros. Quase
meia hora depois da entrevista,
descobrimos que a câmera estava
sem fita. Tivemos que começar
tudo de novo. Apesar dos pontos
negativos e das dificuldades, é
preciso salientar que a televisão
feita para brasileiros no Japão
tem uma enorme importância na
comunidade, pois através dela,
muitas pessoas já foram ajudadas. Tudo o que acontece no país
é transmitido para os brasileiros
que, na sua grande maioria, não
dominam a língua. Com isso,
seu papel é fundamental como
ponte entre duas culturas tão diferentes e ricas como a brasileira
e a japonesa.
Vais continuar no Japão?
Tanto pretendo continuar que
este ano construímos nossa casa
lá. Não me imagino morando no
Brasil. Mas, como dizem, o futuro
a Deus pertence.
jornalismo
esporte 9
Seminário discute
os limites para
buscar a notícia
Hits Produtora/Divulgação
hipertexto
Porto Alegre, junho-julho 2008
Por Sérgio Giacomel
Em 14 de maio, repórteres
do jornal O Dia foram seqüestrados por uma milícia da favela
do Batan, no bairro carioca do
Realengo. Com uma equipe disfarçada e infiltrada no morro, eles
procuravam mostrar a vida sob o
controle das quadrilhas do tráfico
de drogas no Rio de Janeiro. Eles
permaneceram sete horas e meia
sendo torturados, espancados e
ameaçados de linchamento pelos
milicianos. Somente no dia 31 o
fato foi tornado público na grande
mídia.
O episódio trouxe o questionamento sobre até que ponto os
profissionais de imprensa podem
chegar em nome da informação.
O fato predominou no painel
“Jornalismo Investigativo: até
onde vai o fôlego dos profissionais e das empresas”, realizado
em 6 de junho, no auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. O tema
reflete a ansiedade de veículos e
profissionais pelo imediatismo
e pelo “furo de reportagem”, em
detrimento da informação com
qualidade e profundidade, além
de outros princípios, jornalísticos
ou não.
O expositor foi o jornalista
Luiz Cláudio Cunha, ex-repórter
das revistas Veja e IstoÉ, notabilizado na cobertura do seqüestro
do casal uruguaio Universino
Díaz e Lílian Celiberti, em 1978.
No debate, estiveram presentes
Telmo Flor, diretor de redação do
Correio do Povo; Pedro Maciel,
editor-chefe do Jornal do Comércio; e Eduardo Lorea, editor
assistente da Zero Hora.
Para Cunha, o avanço das
tecnologias da mídia acabam
sufocando o público. “É difícil fazer jornalismo de imersão com a
pressão de mercado de hoje”, assevera, destacando que as revistas
“de fofocas” acabam ganhando
em profundidade de informação
na comparação com veículos essencialmente jornalísticos.
O painelista comparou a situação da imprensa atual a um
“Bolsa-Família”, onde o leitor
recebe apenas uma “esmola” de
informação, mas permanece cativo por gratidão. Ele criticou também a “preguiça” das editorias
que apenas aguardam a chegada
dos conteúdos para publicação.
“Jornalismo não pode esperar
sentado na cadeira”, observa.
No caso dos jornalistas de O Dia,
porém, cogitou que outros fatores
deveriam ser considerados, como
a seguridade da equipe.
Flor rebateu a acusação de
Cunha de que “jornalismo investigativo no Correio é ficção”. O
editor-chefe assegura que o CP
realiza agora (com a Record) um
bom jornalismo, “dentro de suas
limitações”. Para ele, o modelo
compacto não é impeditivo.
Sobre a equipe de jornalistas
seqüestrada no Rio, Telmo Flor
mencionou a frase do jornalista
alemão Günter Wallraff – autor
dos livros “Cabeça de Turco” e
“Fábrica de Mentiras” – , de que
“não vale nada a pena se você tem
que cometer um crime”. Ele ainda
criticou as notícias erroneamente
tidas como “reportagem”, mas
que na verdade são “espetacularização dos fatos”.
No debate, Pedro Maciel chamou a atenção para o fato de que
jornalismo é, em sua essência,
investigativo. Neste contexto,
Eduardo Lorea entende que
informações de domínio público
“podem e devem” ser usadas
pelo jornalista, mas alega haver
dificuldade de acesso a alguns
destes documentos que estão sob
a guarda do Estado. Para o jornalista, o avanço das tecnologias, da
mesma forma que pressiona as
redações, também as ajuda, no
acesso e organização das informações e reportagens assistidas
pelo computador.
Numa análise dos debatedores, foram destacados os pontos
positivos da mídia impressa
frente aos veículos eletrônicos.
“O jornal é diferente da TV. O
jornal deve tratar dos fatos com
profundidade”, afirmou Cunha.
O grupo de jornalistas aproveitou também para refletir sobre
o futuro do jornal – debate que
vem tomando corpo diante do
avanço dos meios digitais e da
crítica “ecologicamente correta”
ao uso do papel. Para Cunha, não
há o que discutir: “O trunfo do
jornal impresso é a perenidade”.
Enquanto no formato digital o
conteúdo é volátil, no jornal ele
fica arquivado e de fácil acesso.
Ao final, foi ressaltada a importância da independência do
profissional, sem ficar refém do
veículo ou de ideologias. “Repórter deve pensar e ter autonomia”,
pregou Luís Cláudio Cunha.
“Jornalista precisa contextualizar a informação e correr atrás
dela, para apurar e desvendar”,
finalizou.
Basquete de exibição: são 22 mil vitórias desde 1927, quando eles surgiram em Chicago, nos Estados Unidos
Um show de bola em
basquete de exibição
São os Globetrotters fazendo espetáculo em Porto Alegre
Por Leonardo Serafim
As luzes se apagam e um vozeirão salta das caixas de som
do Gigantinho: Are you ready,
Porto Alegre? Dos vestiários,
uma imensa nuvem de fumaça
anuncia a tão aguardada entrada.
Rostos sorridentes se entreolham
na expectativa. Poucos segundos
são necessários para transformar
as mais de 10 mil pessoas em uma
única voz de total satisfação. Os
Harlem Globetrotters estão na
quadra do Gigantinho.
Apesar da referência ao famoso
bairro nova-iorquino, o primeiro
time de entretenimento no esporte
mundial surgiu em 1927, em Chicago. Formado apenas por atletas
negros, a equipe foi um marco para
o basquete da época. A supremacia
do time era tão grande em comparação aos seus adversários, que
antes mesmo do intervalo, a diferença de pontos era enorme. Isso
fazia com que, no segundo tempo,
os jogadores voltassem dispostos
a darem um show para o público.
Foi assim que os Globetrotters saíram das competições oficiais para
encantar mundo.
Devido à habilidade e ao carisma de seus jogadores, o time começou a viajar pelos Estados Unidos.
O sucesso nos anos 60 foi inevitável
e os “globes” ganharam reconhecimento mundial. Excursões para
todo o planeta se sucederam e
eles se tornaram embaixadores do
basquete. Os uniformes vermelho
e azul podiam ser vistos em todos
os lados, no estádio de futebol em
Lima (Peru), ou em uma biblioteca
em Viena, Áustria. A Globemania
tinha sido formada.
A procura pelos shows do Globetrotters se tornou algo tão espantador que os organizadores
da equipe tiveram de recrutar
mais atletas. Enquanto um time
excursionava pela Europa, outro
vinha para a América do Sul, e um
terceiro jogava pelo país.
Em 1970, com a repercussão
positiva, a Hanna-Barbera resolveu
transformar os Globetrotters em
protagonistas de um desenho animado que levava o nome do time.
Os personagens também fizeram
várias participações nos episódios
de Scooby- Doo. Nos anos 2000,
o sucesso já não é o mesmo do
passado. Os ginásios pararam
de lotar e as viagens pelo mundo
perderam um pouco do glamour.
Mas o show segue.
Na noite de 14 de junho, em
Porto Alegre, não foi diferente. As
enterradas de Lebron James e os
dribles de Allen Iverson ou Kobe
Bryant parecem coisas de outro
mundo. Seja nos momentos dentro
da quadra, onde a bola voa, seja nos
momentos do intervalo, os jogadores se esforçam para transformar
mais de 1h30 min de apresentação
em puro divertimento. E conseguiram com a maior facilidade. Era
impossível ver as pontes aéreas e
não se levantar para aplaudir. Ver
as palhaçadas, como roubar uma
bolsa da platéia, ou danças como
Thriller e Moonwalker sem esboçar
um sorriso. Sem falar nos mais
belos dribles que não devem nada
aos jogadores de street ball.
É verdade: o adversário facilitou. Não se pode esquecer que é um
espetáculo e o Washington Generals faz parte dele. Foram 22 mil vitórias do time em sua história. Mas
quem esteve no Gigantinho não se
importou com a facilidade do jogo.
O que valeu foi mais um show que
só o Globetrotters sabe dar.
Jogo fora da regra, sem marcação
Entrevista com comentarista
da NBA na ESPN Brasil José Roberto Lux, o Zé Boquinha:
Os Globetrotters ficaram
sem perder 2495 jogos seguidos. Eles são tão bons?
A invencibilidade é conseqüência de jogarem fora da regra,
o que deixa o jogo irregular e eles
se prevalecem disso, além da
promoção da equipe.
Há uma lenda de que os
Globes venceram uma partida contra um selecionado
americano marcando apenas 2 pontos. É verdade?
A lenda diz que eles foram
desafiados para um tira-teima.
Como não havia cronômetro de
posse de bola, os Globes fizeram
dois pontos, roubaram a bola e a
retiveram durante todo o jogo.
Há como traçar um paralelo entre o And1 (time de
street ball) e os Globes?
A filosofia é a mesma. Jogo
exibição sem preocupação de
marcação e de regras. É mostrar o
basquete na sua essência. Porém,
os Globetrotters jogavam com a
bola murcha, com peso dentro,
faziam malabarismos e contavam
com a equipe adversária, que
fazia parte do show.
Algum jogador chegou a
participar na NBA?
Dois jogadores que foram
destaque na NBA passaram antes
pelos Globetrotters. Wilt Chamberlain jogou uma temporada
antes de estrear na Liga, onde se
tornou sua maior estrela.
10 música
Porto Alegre, junho-julho 2008
hipertexto
Quando o som
do Brasil era
cheio de Bossa
50 anos de um ritmo que se tornou parte da identidade nacional
Por Mauricio Círio
A Bossa Nova surgiu pelas
mãos de artistas brasileiros apaixonados por samba, mas que
também viviam sob o apelo da
modernidade e o improviso do
jazz norte-americano em discos
de vinil. No momento em que o
toque estrangeiro fisgou o ouvido
verde-amarelo de alguns compositores cariocas, começava a surgir uma nova “Bossa”. As canções
brasileiras das décadas de 50 e 60
seriam reconhecidas e admiradas
internacionalmente, vindo a ser
referências de qualidade na música mundial.
No Rio de Janeiro e no país,
a juventude estava cansada de
ouvir apenas os discos antigos,
considerados arcaicos e ultrapassados, com músicas de timbres
melancólicos, de ritmos “abolerados” e sambas-canção. Eles
queriam algo novo. Era uma nova
geração que queria se expressar
com suas próprias manifestações
culturais e, não, as dos seus pais.
Então, surge algo diferente, de
harmonias e poesias mais simples
e entendíveis para o público jovem, com a beleza das diferentes
poesias, batidas de violão e ritmos nunca escutados antes. Um
estilo nem pior, nem melhor dos
conhecidos, apenas algo novo o
bastante para se tornar febre.
O título Bossa Nova surgiu
no fim dos anos 50, criado pela
própria juventude carioca, que
usava a gíria “bossa”, com o
significado de “jeito”, “modo”,
“maneira”. Quando alguém fazia
algo diferente, dizia-se que tinha
muita “bossa”. Era o que músicos,
como João Gilberto, tinham:
muita bossa, uma Bossa Nova.
João Gilberto foi o primeiro marco do gênero. Para muitos, ele é
o precursor, pois foi o primeiro
a estourar pelo país, em 1958,
interpretando “Chega de Saudade”, composta pela dupla Antônio
Carlos ‘Tom’ Jobim e Vinícius de
Moraes.
Foi também da união de Tom
e Vinícius que viria, em 1962, uma
das músicas mais regravadas do
Brasil. Inspirado na beleza de
uma garota que passava todos os
dias em frente ao Bar Veloso, em
Ipanema, o qual os dois músicos
freqüentavam assiduamente,
Vinícius compõe com a ajuda do
companheiro a clássica “Garota
de Ipanema”. O título da música,
mais tarde, passaria a ser o nome
do bar, que mantém com orgulho
o nome até hoje. A canção fez sucesso no Brasil e logo no exterior,
vindo a ser regravada, em 1963,
por Norman Gimbel, e cantada
por diversos outros artistas como
Frank Sinatra, Cher, Mariza e
Madonna.
Acredita-se que o fim cronológico da Bossa Nova tenha
chegado em 1965, justamente no
auge do gênero, no I Festival de
MúsicaFantastic
Popular Plastic
Brasileira.
A parMachitir ne,
desse
período,
a bossa
Pizzicato
Five,
Towahaveria
Tei,
deixado
de ser
nova,
e englobada
Kahimi
Karie,
De
Phazz,
a um
estilo
amplo,
Touch
and mais
Go, Koop,
Kin-um
gênero
viria para reunir
gs ofque
Convenience,
Beck, as
diversas
tendências
Azymuth,
US 3, produzidas
Tricatel
no Inc.,
Brasil.
Surgia
MPB (Música
Zuco
103,oSmoke
City,
Popular
Brasileira).
Porém,
Thievery
Corporation,
Daú-em
2008,
completa 50Pat
anos,
de, quando
Laura Finochiaro,
o movimento
é lembrado
C., a bandaainda
Eletrobossa,
com
paixão
e respeito,
Bossa
Cuca
Nova e tanto
Bebelpor
brasileiros
Gilberto.como estrangeiros de
diferentes idades.
Nomes da
Eletrobossa
DJs criam eletrobossa e provocam crítica dos músicos
Em 1958, era lançado o disco
que marcaria o início da Bossa
Nova. Com composições de Tom
Jobim e Vinícius de Moraes, a
“Canção do Amor Demais” tinha
interpretação de João Gilberto e
Elizeth Cardoso. Hoje, 50 anos
depois, esse e outros trabalhos
permanecem na memória de muitos artistas. Tanto que já foram
feitas várias tentativas de resgatar
os velhos tempos de bossa. Porém, brasileiros e estrangeiros,
com versões inusitadas e releituras de canções da época, muitas
vezes são criticados pelos músicos
mais conservadores.
A Bossa Nova foi uma das
principais influências de um
movimento posterior, o Tropicalismo. A roqueira Rita Lee,
integrante de um dos grupos mais
importantes da Tropicália, Os
Mutantes, foi uma das primeiras
que tentou puxar da memória o
estilo. Em 1991, já em carreira
solo, lançou o disco “Bossa n’
Roll”, com sucessos de sua trajetória como “Lança Perfume” e
“Ovelha Negra”, tocados de cima
de um banquinho. Mas, em vez do
violão para acompanhar, a cantora usou uma guitarra. A ousadia
estaria só começando.
O que dizer de um veterano da
Bossa Nova que concede suas músicas ao filho para serem misturadas com batidas eletrônicas? Com
a aprovação e o incentivo do pai, o
guitarrista Márcio Menescal, filho
de Roberto Menescal, resolveu se
unir ao DJ Marcelinho da Lua e
ao programador Alexandre Moreira para formarem o Bossa Cuca
Nova. O grupo modernizou e
retrabalhou clássicos como “Nós
e o Mar” (Menescal e Ronaldo
Bôscoli) e “Garota de Ipanema”
(Tom e Vinícius), misturandoos com música eletrônica e pop.
Eles lançaram, em 1997, um CD
homônimo que fez mais sucesso
no exterior do que pelo Brasil. Por
aqui, muitos ainda têm preconceito em relação às misturas.
Outra situação parecida é o
caso de Bebel Gilberto, filha de
João Gilberto. Outra vez, uma
família musical. Bebel é um dos
grandes nomes da atual Bossa Nova. Em 2000, a cantora
lançou o disco “Tanto Tempo”
e, em 2001, remixou o mesmo
trabalho, em uma coletânea feita
por produtores de e-music do
mundo todo.
O músico Norberto Baudalf,
que abrigou por um tempo João
Gilberto na sua casa em Porto
Alegre, nos anos 60, é um dos
que não concorda com as novas
tendências. Ele, que tocou muita
Bossa pelos bailes gaúchos, considera tais misturas desagradáveis.
“Não me agrada, eu prefiro os
clássicos”, e revela um descontentamento mais profundo em
relação à música contemporânea:
“O DJ está acabando com os
conjuntos”.
Assim como Baudalf, existem
muitos veteranos que compartilham da mesma opinião. O
próprio Paulo Moura, do projeto
Afro Bossa Nova, cujo intuito é
tocar a Bossa Nova de um jeito
diferente, critica a nova moda.
Diz que respeita as misturas, mas
acha precário. “Considero amador essas misturas com música
eletrônica. Acho que falta estudo
e teoria musical para melhorar
o estilo. Mas, acredito que com
o tempo dê certo”, desabafa. O
Bossa Cuca Nova é apenas um
dos diversos artistas que migram
o violão para as batidas de pista.
Esse movimento moderno, com
muitos adeptos pelo mundo,
possui várias definições: ele-
trobossa, nu bossa, nu samba,
drum ‘n’ bossa. Tudo para definir
a mistura de Bossa Nova com
um dos ritmos eletrônicos mais
acelerados. No Brasil, um dos
que fazem a mescla é DJ Patife
que afirma ter conseguido penetrar no mercado internacional
graças a esse feito. “A música
eletrônica foi tropicalizada pela
Bossa Nova”.
Mesmo causando impacto
negativo nos conservadores, a
eletrobossa resiste. Não se sabe
se é um movimento passageiro,
ou se vai perdurar. “O que vale é
a intenção” dizem os mais otimistas. O que se sabe é que, enquanto
a paixão pela Bossa Nova existir,
DJs e artistas estarão remixando, criando novas combinações,
regravando e fazendo coletâneas.
A saudade se mostra como o principal termômetro para o futuro
desse mercado.
hipertexto
música 11
Porto Alegre, junho-julho 2008
Vinícius Roratto Carvalho/ Hiper
Curso para melhorar
o carnaval da cidade
Por Thais Silveira
Instrumentistas apresentaram espetáculo de sincronismo e perfeição musical no Teatro do Bourbon Country
Bossa Nova é lembrada
em todos os ritmos
Músicos fazem releituras dos sucessos de Tom Jobim
Por Mauricio Círio
Conqüenta anos depois, uma
unanimidade. Todos reverenciam
a Bossa Nova. Da batucada ao teclado clássico de Geraldo Flach.
O violonista Gabriel Improta
samba acionando as cordas com
a unha, enquanto os percussionistas Gabi Conceição, Gabi Guedes
e Nei Sacramento, da Bahia,
sincronizam uma batucada afrobrasileira no palco do Teatro do
Bourbon Country. O VJ Gabiru
derrapa seus discos com imagens
psicodélicas nacionalistas, estampadas no telão acima dos músicos.
Logo, Paulo Moura e Armandinho,
dois dos maiores instrumentistas
brasileiros, se unem ao grupo para
realizar um espetáculo de sincronismo e perfeição musical. Era o
encontro de homenagem um dos
mais importantes nomes da Bossa
Nova: Tom Jobim.
O clarinetista Paulo Moura, 75
anos, e o bandolinista e guitarrista
Armandinho, 55, esbanjavam
talento, no Teatro do Bourbon.
Em 2008, quando o gênero Bossa Nova completa 50 anos, não
faltam homenagens, tributos,
mixagens, releituras para lembrar
e reverenciar as velhas canções
brasileiras. No espetáculo Afro
Bossa Nova – Homenagem a Tom
Jobim, dia 12 de junho, comandado pelo paulista Paulo Moura
e seu amigo baiano Armandinho,
o objetivo era difundir a música
instrumental brasileira. “Estamos
fazendo esse show com muito
amor”, diz Moura, conquistando
a platéia gaúcha, mesmo com o
“microfone oficial” ao lado, nas
mãos do roadie (assistente de
palco), devido a um pequeno
problema técnico. Uma mulher
solta um comovido “oh, que bonitinho!” ao ouvir o comentário.
Tanto amor faz referência à data
do show, Dia dos Namorados.
Paulo Moura, por telefone, falou
de sua experiência de tocar para
os gaúchos: “Foi muito bom,
apesar dos problemas técnicos
de som, em termos de público,
foi caloroso e entusiasmante”.
Acrescentou humilde: “Fiz o melhor que pude”.
O show contou com a abertura
do compositor e instrumentista
Geraldo Flach e seu grupo, também muito aplaudido na apresentação. Após tocar música de Tom
Jobim, Flack confessou seu amor
pela música nacional: “Nessas
horas, como é bom ser brasileiro”.
Já no palco, os músicos do Afro
Bossa Nova trouxeram a Porto
Alegre releituras de clássicos
como “Águas de Março”, “Chovendo na Roseira” e “Chega de
Saudade”. Encantaram a platéia
do teatro quase lotado, coisa
rara em apresentação só instrumental. Foram feitas versões
autênticas que misturavam, em
poucos minutos, elementos de
samba, jazz, ritmos regionalistas
e, claro, muita Bossa Nova. Teve
até rock, quando Armandinho
largou seu principal instrumento
na apresentação, um bambolim,
para empunhar uma guitarra
baiana, que pelo tamanho mais
se parece com um cavaquinho.
Ele solava furiosamente “Garota
de Ipanema”, com timbres fortes, arrancando gritos, assobios e
aplausos do público.
O projeto Afro Bossa Nova
está na ativa desde 2005, e já
percorreu diversos países do
mundo, sempre elogiado pela mídia. Anteriormente, participavam
do show os músicos Yamandú
Costa, violonista gaúcho e um dos
melhores do Brasil, e o renomado
percussionista Marcos Suzano.
Agora, mesmo sem esses grandes
nomes, o espetáculo não perdeu
seu valor, conquistando mais espaço nos meios de comunicação.
A turnê pelo Brasil que percorreu
16 cidades, com shows gratuitos,
é uma realização do grupo Votorantin.
No dia 15 de junho, o grupo
calou seus instrumentos por um
tempo, pelo menos em terras
brasileiras, em uma última apresentação emocionante no Rio de
Janeiro, terra natal da Bossa. Mas,
os fãs e admiradores do projeto
não precisam desanimar. Eles vão
lançar CD no segundo semestre
desse ano com músicas captadas
de suas apresentações, e ainda
irão partir para nova turnê.
Do sambódromo para a sala de
aula. Alegorias, fantasias e samba
de enredo foram algumas das
disciplinas do curso de Gestão em
Carnaval, realizado de 5 de maio
a 20 de junho, na Associação das
Entidades Carnavalescas de Porto
Alegre e do Rio Grande do Sul, em
Porto Alegre.
Além dos quesitos conhecidos
por quem prestigia o Carnaval,
os participantes tiveram aulas de
marketing, sociologia, imprensa
e empreendedorismo. As aulas
foram de segunda a sexta-feira e o
curso teve duração de 120 horasaula. Todas as 40 vagas oferecidas
foram preenchidas. O trabalho
de conclusão foi apresentado em
20 de junho por grupos de cinco
alunos e consistia na montagem
de um desfile.
O carnavalesco Álvaro Machado, que passou pelas escolas
de samba União da Vila do IAPI,
Imperatriz Dona Leopoldina, Imperadores do Samba e Bambas da
Orgia, onde se sagrou campeão do
carnaval em 2002, é o idealizador
do projeto. Pela primeira vez, o
Carnaval foi visto de uma forma
acadêmica. “O curso permite uma
visão mais interna do evento, discutindo aspectos administrativos,
de gestão, orçamento e questões
ligadas à estrutura do desfile,
buscando criar uma visão crítica e
mais detalhada de cada quesito a
ser julgado”.
Sobre o Carnaval feito na Capital gaúcha, Machado tem uma
visão bem definida. “O carnaval
de Porto Alegre está numa encruzilhada. Precisa decidir se
cresce e realmente se transforma
em um grande evento, ou se fica
enclausurado no Porto Seco, sem
demonstrar avanços e sem conseguir mobilizar nem mesmo sua
comunidade. Já percebemos mudanças positivas na organização
pré-carnaval, mas ainda temos
muito que melhorar”.
O fotógrafo do Diário Gaúcho,
Luiz Armando Vaz, foi um dos que
participou da tentativa pioneira de
conceder ao espetáculo da passarela do samba um tratamento mais
profissional e melhor capacitado
do ponto de vista administrativo.
Vaz, que há 30 anos registra em
suas lentes o Carnaval de Porto
Alegre, decidiu fazer o curso por
acreditar na nova postura.“Este
curso é importante em nome do
Carnaval, da cultura e da educação.
É sempre válido trocar conhecimento e as pessoas que participaram também serão vistas de uma
outra maneira”, declarou.
Outro participante do curso
foi o radialista Elias da Costa,
que há três anos faz cobertura do
Carnaval. “O curso foi uma ótima
experiência para os carnavalescos
se aperfeiçoarem e discutirem as
questões das escolas de samba.
O interessante é que, além dos
professores muitos qualificados
(das Faculdades Integradas de
Taquara), os alunos são muitos
entendidos no assunto. Espero
não parar neste primeiro curso e
que outros seja realizados para o
bem do nosso Carnaval”. A idéia
não era formar mão-de-obra para
o evento, mas discutir aspectos
importantes de cada elemento,
criando um olhar mais aguçado
dos detalhes.
O novo presidente da Associação das Entidades Carnavalescas
Antônio Ademir Moraes, o Urso,
que em fevereiro levantou o caneco
no comando da Escola Império da
Zona Norte (atual campeã de Porto
Alegre), também aprovou a iniciativa. “Este curso é um divisor de
águas, porque não está preparando
mestre-sala, porta-bandeira ou
carnavalescos, mas gestores, necessários para melhorar o evento.
Após este curso, todas as escolas
deverão tomar um outro rumo.”
Luiz Armando Vaz/ Especial
Trabalho final do curso consiste em montar um desfile carnavalesco
12 ponto final
Por Greta Mello
A imagem que a maioria dos
brasileiros faz de como foi rezada
a primeira missa no Brasil, no
descobrimento em 1500, é do
quadro que está exposto no Museu de Arte do Rio Grande do Sul
(Margs) até 27 de julho. O quadro
A Primeira Missa no Brasil, uma
obra do pintor Victor Meirelles,
emociona por simbolizar um
evento singular na história do
Brasil. Baseada na carta de Pero
Vaz de Caminha a Dom Manuel,
rei de Portugal, a obra foi encomendada por Manuel de Araújo
Porto-Alegre, primeiro e único
barão de Santo Ângelo, ao pintor
catarinense em 1858.
A tela pertence ao Museu
Nacional de Belas Artes do Rio
de Janeiro (MNBA) e percorre
o País, visando oportunizar o
contato dos brasileiros com essa
representação da história. A
exposição é dividida em três segmentos: Histórico, Restauração
e Vídeo.
No primeiro, pode-se conhecer um pouco sobre o pintor, que
viveu de 1823 a 1903, além de
estudos que Meirelles usou na
obra, como desenhos de armas,
obras de estado e franciscanos.
A Primeira Missa no Brasil foi
pintada de 1858 a 1861 – completando 147 anos em 2008 – na
França, onde Meirelles estudava
na Escola Superior de Belas Artes
de Paris.
Com grandes dimensões, o
quadro exigiu a retirada das portas para entrar no Margs. Só a tela
tem 2,70 x 3,57 metros. Mais as
molduras, chega a 3,35 metros de
altura por 4,22 de comprimento,
quando a porta central aberta
atinge a um vão de apenas 2,90m.
As folhas de madeira tiveram ser
deslocadas e a caixa onde a obra
estava condicionada foi aberta
em plena Praça da Alfândega. A
operação durou mais de uma hora
e foi organizada por técnicos do
Margs e do MNBA, até que a tela
entrou no prédio.
Há dois módulos que mostram detalhadamente como foi
feita a remontagem da obra para
a exposição no Margs – a terceira
que o quadro passa na sua turnê
pelo País. Foram feitos diversos
Porto Alegre, junho-julho 2008
A tela que criou
o imaginário da
Primeira Missa
A obra de Victor Meirelles ocupa espaço
nobre no MARGS e na arte brasileira
Vinícius Carvalho/Hiper
hipertexto
‘exames’, como a fotografia sob
radiação infravermelha, que possibilita determinar a natureza de
algumas das cores, revelar a existência de desenhos subjacentes,
arrependimentos e outras modificações aposta à obra pelo pintor,
assim como a extensão de eventuais alterações ou restaurações que
a pintura possa ter sofrido. A obra
também foi exposta à fotografia
sob radiação ultravioleta, que fornece informações sobre o estado
de conservação da superfície da
pintura, examinada a camada de
verniz e sua homogeneidade, detecta as zonas de restauração ou
de retoques antigos ou recentes.
Para recuperação estrutural,
foi feito o reforço da tela original
que já não conseguia suportar
o peso e as tensões da pintura.
Depois de protegida pela adesão
de uma camada de papel japonês
sobre ela, foi então despregada do
chassi de madeira e deitada sobre
uma cama preparada no chão
para que se pudesse remover o
antigo reentelamento à cola. Com
a remoção terminada, rasgos e
perda de suporte suturados e enxertados, a obra foi estirada com
bandas de papel de fibra curta e
alta retração para planificar os
abaulamentos causados pela falta
de tensão do reentelamento antigo e na tentativa de se minorar o
encolhimento da tela.
A inexistência de equipamentos específicos para restauração no mercado obrigou os
especialistas a buscar e adequar
equipamentos de outras áreas e
até criar alguns que suprissem as
necessidades. No caso de obras de
maiores dimensões, as exigências
do processo de restauração são
agravadas pela dificuldade do
processo e as tensões envolvidas,
como as sofridas pelos chassis
quando da esticagem da tela, o
peso resultante, entre outros.
Foram criadas uma plataforma,
caixa de lâmpadas, escada de
trabalho e um cavalete específicos
para a restauração.
Enfim, A Primeira Missa
estava pronta para percorrer o
Brasil. A tela confirma a semiótica histórica e religiosa do ritual
católico na Nova Terra. Foi essa
pintura que construiu o imaginário popular.
a Exposição
o autor
O quadro a Primeira Missa
no Brasil fica exposto no Museu
de Artes do Rio Grande do Sul
(Praça da Alfândega, S/N) até
o dia 27 de julho deste ano. A
visitação pode ser feita de terça
a domingo, das 10 às 19h. O
ingresso é um quilo de alimento
não-perecível ou um agasalho.
Ocorrem mostras paralelas de
Glauco Rodrigues e Manuel de
Araújo Porto Alegre
Vitor Meirelles de Lima
(Florianópolis, 1832 — Rio
de Janeiro 1903). Ligado ao
neoclassicismo Brasileiro, foi
para a Europa aos 21 anos e
estudou desenho e pintura
em Paris, Roma e Florença.
Oito anos depois, retornou
ao Brasil e foi condecorado,
por D. Pedro II, com o grau
de cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo.
Pintado em 1861, o quadro retrata a missa celebrada pelo frade Henrique de Coimbra em 26 de abril de 1500
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Junho/Julho - Eu Sou Famecos