Libertação de Ingrid comove o mundo Jacques Brinon/AFP bossa nova Laura Fraga/Hiper Os 50 anos de uma eterna jovem Página 5 ambiente Sacola da cidadania está de volta Página 5 Página 10 hipertexto Ano dez Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, junho-julho de 2008 – Ano 10 – Nº 64 Vinícius Roratto Carvalho/Hiper A ameaça da fome Oferta insuficiente de alimentos coloca em risco grande parte da população mundial Página 7 Porto Alegre será pólo tecnológico Seminário promovido pela Câmara de Vereadores, na PUCRS, sinaliza vocação da cidade Página 3 cultura show Biblioteca Pública de 1915 é restaurada em Porto Alegre Globetrotters continuam a encantar fãs do basquete Página 4 Página 9 2 abertura Porto Alegre, junho-julho 2008 Editorial Futuro sustentável Em uma universidade, todos trabalham pelo futuro. Quem pesquisa, o faz para descobrir respostas aplicáveis. Quem se esforça em aprender a técnica, quer utilizá-la na prática. Até quem estuda o passado o faz com a meta de entender o que aconteceu, repetir o que foi bom e não cometer os mesmos equívocos. E se, repentinamente, o mundo soubesse que não haveria mais nada, que estava definhando e que provavelmente não passaria pelo próximo aniversário secular? Há décadas, os ecologistas avisavam que a situação ficaria assim: quase apocalíptica. O motivo é bem simples. De tanto pensar num futuro próximo, em prazos imediatos, em lucros instantâneos, a humanidade não mediu o impacto dos seus atos dali a gerações. Com o crescimento geométrico da população mundial, este choque foi, progressivamente, se tornando insuportável. Nós, contemporâneos, fomos eleitos para reverter isso. Não por nenhuma habilidade especial, mas apenas por uma escolha aleatória do universo que nos pôs de frente com a realidade inolvidável, especialmente as alterações climáticas e a iminência do fim das reservas de água. Não poderíamos, jamais, nos furtar deste alerta. O jornalismo se dedica às questões relevantes da humanidade. Os problemas da sociedade são pautas obrigatórias do jornalismo. Por isso, destacamos nesta edição a reportagem sobre sustentabilidade. É necessário explicar e entender bem as formas que o mundo tem de produzir sem agredir e tentar reverter a escalada de degradação ambiental. Com ênfase na emergência, tratamos também da insuficiência e do alto preço dos alimentos, resultado de vários fatores como a expansão do consumo, falta de preservação ecológica e da tentativa de produzir combustíveis renováveis a partir de produtos agrícolas. A equipe se esmerou para que esse papel no qual o jornal é impresso não se torne apenas um ônus à natureza e possa contribuir à preservação da maneira que podemos: com informação. Júlia Timm, editora aRTIGO ÚLTIMA O domínio das milícias A lei da discórdia Por Mauricio Cirio Por Fernando Rotta Weigert é perfeito. Porém, se imagina que as autoridades governamentais procuEm quem confiar? Após ler repor- ram chegar o mais perto possível da tagem sobre o seqüestro e tortura da perfeição em suas ações. equipe de repórteres do jornal O Dia, Quando vemos situações absurdas ocorridos em meados de maio, dou sendo apresentadas na mídia, sem três ou quatro tapas inconformados causar perturbação (dona de casa diz no jornal, mas as páginas não têm “político é tudo ladrão” e pronto), perculpa, muito pelo contrário. O caso cebemos um traço de conformidade é um crime hediondo à segurança instalado nos pensamentos da populanacional, à liberdade de informação e ção. Porém, quando há notícias sobre aos profissionais de jornalismo. atrocidade, dessas capazes de mutilar Dias depois, leio outra notícia ain- o silêncio, o sentimento é outro. Isso da pior. Três jovens foram entregues a parece um soco na boca do estômago um grupo rival de traficantes pela pró- do brasileiro. As milícias ou grupos pria polícia militar. Eles foram mortos paramilitares controlam favelas, em a balas no morro da Providência, no acordos com traficantes, e impõem Rio de Janeiro, e tiveram seus corpos suas regras ao povo que paga para filançados como lixo car desprotegido, não em aterro sanitário. vê a solução dos seus Hoje, as milícias do problemas e, em troRio de Janeiro são Feito boxeador à espera ca, recebe violência. definidas assim pela Como conseqüência, imprensa nacional: do próximo round, devo encomenda seu pró“Grupos paramiliprio caixão. Isso não erguer a cabeça e os tares formados por parece ser real. punhos. PMs e bombeiros, Sei que o jornal da ativa e da reserva, não mentiu, os fatos que passaram a consão reais. Agora, cotrolar favelas impondo suas regras, meço a duvidar da palavra “confiansendo que uma delas é cobrar dos ça”. Ainda mais, sabendo que o termo moradores por segurança”. Esses “impune” é constante na nossa sociegrupos dominam, junto a traficantes, dade, como é o caso do assassinato do a “segurança” (ou a falta dela) das jornalista e deputado José Antônio favelas cariocas por meio de acordos. Daudt. Se depender dessa justiça, ele Onde estão os defensores da popula- foi assassinado por uma pistola voadoção brasileira? ra e pensante, pois depois de 20 anos, Uma imensa quebra de conceitos a prescrição vai encerrar o assunto. O me abate feito porco em matadou- assassino continuará livre, como estão ro. PMs e bombeiros que, na minha as milícias que, segundo o prefeito do infância, admirei em filmes de ação, Rio, César Maia, dominam 63 favelas quando o bonzinho sempre vencia, da cidade chamada maravilhosa. agora, escorrem pelo esgoto da miEstou cansado. Mas, com fôlego de nha mente. Nem todos. Mas, os que atleta ainda agüento mais uns quilôcospem nas fardas com atitudes vio- metros de decepções. Feito boxeador à lentas à pátria brasileira. O conceito espera do próximo round, devo erguer de milícias cariocas se deturpou para a cabeça e os punhos. Almejo lutar o lado horrendo. contra o mal de políticos e militares Sempre soube que, no Rio de Ja- corruptos, em uma história parecida neiro, como em outras grandes me- com a do Super-Homem, aquele que trópoles do mundo, a vida não é fácil. consegue ser jornalista e super-herói Quanto maior a cidade, geralmente ao mesmo tempo, mesmo não sendo há muitos crimes e confusão, dificul- brasileiro. Essa é a situação do jortando a gestão das autoridades. Em nalismo. O lado bom da decepção é função do constante descontrole, o que nos faz melhorar a visão. Eu já descontentamento se expande. Nada comprei minhas lentes. Hipertexto Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira Diretora da Famecos: Mágda Cunha Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane hipertexto Acidentes, violência, álcool. A lei 11705/8, chamada “Tolerância Zero”, em vigor no Brasil desde 20 de junho, quer acabar com essa tríade. Ao reduzir o nível permitido para dirigir à zero – decigramas de álcool por litro de sangue – o decreto conseguiu cortar pela metade o número de acidentes de trânsito. No Hospital de Pronto Socorro da Capital, constatou-se a diminuição de 37,1% no número de atendimento a acidentados automobilísticos, entre fins de semanas antes e depois da medida. Menos acidentados e também menos consumidores é a queixa dos donos de estabelecimentos comerciais, que vendem bebidas alcoólicas. O movimento nos restaurantes, bares e casas noturnas caiu aproximadamente 30% – segundo levantamento do Sindicato de Gastronomia e Hotelaria de Porto Alegre (SindPOA). “A legislação é muito rigorosa, deveria existir uma margem maior”, reclama Daniel Antoniolli, presidente do SindPOA. “A economia deve migrar da bebida para o transporte”, calcula Ana Maria Martins, coordenadora das Políticas Públicas para o Álcool, do Sindicato Médico do Rio Grande Sul. Para Ana Maria Martins, mesmo que haja flexibilização da lei, como já aponta o ministro da Justiça, Tarso Genro, “o mais importante é que o assunto virou pauta da sociedade”. Tarso Genro, em entrevista ao jornal O Globo, disse: “A lei tem que cumprir sua finalidade e não pode causar uma injustiça em função do seu rigor. Por isso é necessária uma pequena tolerância para que as pessoas não sejam injustiçadas por terem um pequeno teor alcoólico no sangue”. A lei determina que o cidadão submetido ao bafômetro que apontar qualquer nível de álcool, no sangue, paga multa de R$ 955, perde a carteira de motorista por um ano, e tem o carro retido. Caso a graduação aferida no sangue seja superior a 0,6 decigramas é considerado crime e o condutor vai preso. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes já protocolou, no Supremo Tribunal Federal, ação de inconstitucionalidade contra a medida. Argumenta que a lei excedeu os objetivos de sua criação, ferindo princípios constitucionais. Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000 Finger Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia. Professores Responsáveis: Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo). ESTAGIÁRIOS: Gerente de produção: Thais Silveira Editores: Júlia Timm, Paula Sperb, Raphael Ferreira, Sérgio Giacomel e Tamara Carvalho. Editor de Fotografia: Vinícius Roratto Carvalho. Redação: Bernhard Schlee, Bruna Weis Scirea, Bruna Silveira, Camila Soares, Cristiano Navarro, Daniela Cenci, Edmar Gomes, Fernando Rotta Weigert, Gustavo De Stumpfs, Leonardo Serafim, Luciano Valermann, Maiara Andrade, Maurício Círio, Pamilli Braga, Patrícia Lima, Paula Letícia Nunes da Silva e Rodrigo Nunes. Repórteres Fotográficos: Amanda Copstein, Antônio Cruz, Camila Domingues, Camila Kaufmann, Cláudio Rabin, Cristiano Lima, Fernanda Botta, Guilherme Santos, Henry Corrêa, Isadora Neumann, Júlia Otero, Laura Fraga, Luísa Kiefer, Maria Joana Avellar, Pedro Belo Garcia e Pedro Revillion. hipertexto cidade 3 Porto Alegre, junho-julho 2008 Futuro de Porto Alegre: muitos carros e pouca gente nas ruas Câmara de Vereadores promove fórum para discutir preservação e desenvolvimento Por Daniela Cenci Um pólo de ciência e tecnologia em uma cidade ocupada por carros. Nas ruas, apenas comércio informal. O cidadão que passeia o fará nos corredores dos grandes centros comerciais. Assim, será a Porto Alegre do amanhã, conforme projeção feita pelos convidados que expuseram no Fórum Porto Alegre, Uma Visão do Futuro, realizado de 14 e 21 de maio e de 11 e 18 de junho, no prédio 40 da PUCRS. O evento foi uma promoção da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, em parceria com diversas entidades. Saúde, tecnologia, regularização fundiária, saneamento e patrimônio arquitetônico foram alguns temas debatidos. Espelhado em outros municípios como Curitiba, o evento trouxe especialistas no assunto. O pró-reitor de Pesquisa e Pós-gradução da PUCRS, professor Jorge Luiz Nicolas Audy, destacou que a Capital já tem estrutura instalada para ser pólo de ciência e tecnologia, além da liderança em programas de pós-graduação e de contar com importantes centros de pesquisas do país. “Se nós associarmos esse potencial existente a uma visão bastante atual, hoje internacional, da importância do papel de protagonista das universidades enquanto ambientes inovadores, as condições de Porto Alegre realmente mudarão sua face no futuro, com investimento cada vez maior nessas áreas”. Nas oficinas, os participantes apontaram problemas que impedem o desenvolvimento regional integrado. O sistema público de transporte foi uma das preocupações apresentadas em consenso. “Somente no mês de abril de 2008 foram emplacados em Porto Alegre 4,8 mil carros. Em 2008, já foram 28 mil. O Brasil se aproxima de países de primeiro mundo porque a taxa de motorização é elevada”, disse o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Luis Afonso Senna. Em contraponto à opinião do secretário, que defendeu investimentos do governo federal na produção de automóveis utilizando o “PAC Industrial” – pacote para estimular o crescimento econômico –, Orlando Strambi, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, sugeriu o controle do uso excessivo dos automóveis. “De certa forma, é uma visão de cidade do futuro que nós precisamos colocar nas nossas cabeças”. Ele concorda que é preciso melhorar o serviço de transporte coletivo, assim como o secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal, Cássio Taniguchi. Carlos Dória, doutor em sociologia pela Unicamp, apresentou dados indicando o esvaziamento das ruas devido ao circuito de atividades em shoppings – principalmente as de lazer –, provocando uma reflexão sobre a mudança de hábito da população. “Os cinemas, as salas de teatro e as livrarias estão sendo absorvidos. O conceito de passeio moderno é ir ao shopping e não mais passear pelas ruas”. Constatando que as ruas são ocupadas pelo comércio informal, o economista e pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE), José Antônio Fialho Alonso, afirmou que o município perde espaço na área da indústria na região metropolitana e no Estado. O coordenador geral do fórum, professor João Carlos Brum Torres, enfatizou a necessidade do diálogo em diferentes esferas: “Vai se formando aqui um acervo de conhecimentos e aspectos bastante variados, que vão dar uma boa plataforma para a construção de um instituto”. Apenas as empresas que precisam de pequenos espaços usam tecnologias limpas, movimentam baixo volume de insumos e produtos de alto valor agregado vão sobreviver na cidade do futuro, segundo Fialho. O presidente do Sindicato dos Hotéis da cidade, Danilo Antoniolli, reforçou a importância da imagem, como a que associa Porto Alegre à “capital brasileira da qualidade de vida” e defendeu um planejamento estratégico de turismo. “O turismo representa 10% do PIB mundial. No Brasil, chega apenas a 3%”. O fórum se encerra dia 22 de julho, trazendo a presença do urbanista catalão Jordí Borja, do arquiteto norte-americano Charles Duff, e do ex-governador do Paraná, Jaime Lerner. Ramon Nunes/CMPA O fórum integrou nos quatro dias de evento personalidades das áreas de urbanismo, arquitetura, motricidade e outros Elson Sempé Pedroso/CMPA A oficina de “Dinâmica dos bairros” debateu as identidades culturais Um instituto para planejar As alternativas sugeridas pelo Fórum sobre o desenvolvimento sustentável de Porto Alegre serão publicadas em livro. Os ítens servirão de base para a criação de um instituto de estudos e pesquisas para programar o futuro da capital. A idéia de um “instituto para pensar em Porto Alegre” ganhou força depois da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades, promovido pela Prefeitura, em fevereiro. O presidente da Câmara Municipal, vereador Sebastião Melo (PMDB), explicou que a cidade perdeu muito a sua capacidade de planejamento. “A Secretaria de Planejamento é composta de excepcionais técnicos, mas trabalha muito em cima do imediatismo. Portanto, o instituto teria uma visão mais de conjunto da cidade, projetando grandes temas não só para o momento, mas para os próximos 30 anos”. Ele acredita que o Fórum Porto Alegre direcionará os próximos passos. A lista de sugestões que pode ou não ser adotada pela esfera política tem muitas ligações com o Plano Diretor da cidade que passa por processo de revisão. “O instituto poderá dar continuidade trazendo para dentro si experiências locais, regionais, nacionais e enriquecendo os temas em discussão e outros que surgirão”, prevê Melo. Os estudos a longo e médio prazos serão realizados em conjunto com o executivo. O prefeito José Fogaça avalisou a proposta: “É o que a cidade precisa para poder desenhar e projetar o seu desenvolvimento”. A identidade de cada bairro e a preservação dos patrimônios históricos e culturais também vão englobar o estudo. A criação do Museu Ibere Camargo foi apontada como uma das primeiras ações direcionadas à construção da cidade do futuro. O Fórum encerra-se dia 22 de julho com uma discussão conjunta de todos os temas levantados. 4 acervo Porto Alegre, junho-julho 2008 Um prédio histórico é restaurado no Centro hipertexto Pedro Garcia/Hiper l São necessários R$ 7 milhões para Biblioteca Pública do Estado recuperar o brilho de 1915 Bernhard Friedrich Schlee José Patrício Rodrigues, 64 anos, é porteiro há 12 anos. Mas ele não é um porteiro de um prédio qualquer. O que guarda é um pedaço da história do próprio Rio Grande do Sul, a Biblioteca Pública do Estado – situada na esquina das ruas Riachuelo e General Câmara, no centro de Porto Alegre –, patrimônio estadual e nacional. Depois de quase um século de existência, a ação do tempo atingiu o prédio, que desde 2006 passa por um processo de restauração. A Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul existe desde 1877. Porém, só em 1915 passou a funcionar no imponente edifício da Riachuelo, que possui fortes influências positivistas, como o calendário formado por bustos em sua fachada. Nos salões, há vários estilos arquitetônicos, do neoclássico ao egípcio. Com o passar das décadas, o prédio se degradou. Pinturas e murais que adornam o edifício corroeram, a mobília desgastou, o piso apodreceu, invadido pelos cupins, entre outras coisas. Algo precisava ser feito. Em 2006, começaram as obras de restauração, com recursos do Projeto Monumenta (do Ministério da Cultura) e execução da empresa Engenharia e Pesquisas Tecnológicas (EPT). Entre algumas obras que recuperam a antiga forma está a do elevador, um dos mais antigos do Estado, que há muitos anos não funcionava. No geral, a biblioteca ainda é um canteiro de obras. Atualmente, os leitores e os livros deram lugar aos pedreiros e materiais de construção. Casa Mario Quintana Enquanto o prédio da Riachuelo está em obras, a biblioteca foi transferida para o terceiro andar do Centro Cultural Mário Quintana, localizado na Rua dos Andradas, 736. Neste endereço estão 40 mil dos 200 mil livros; o restante foi guardado em caixas no edifício em obras. Na Casa Mario Quintana, são oferecidos serviços como o acervo em Braille e o setor de empréstimos. Os livros raros, entre eles umas das primeiras edições de “Os Lusíadas”, de Luiz Vaz de Camões; o poema “Pharsalia”, de Lucano, datado de 1519; uma edição da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri; e alguns tomos considerados subversivos para suas épocas, como “Decameron”, de Boccaccio, se mantêm guardadas no prédio original. Esses livros só estão disponíveis para pessoas com bons motivos para consultá-los, como pesquisadores. Inclusive, se alguém necessitar de uma obra que não esteja na Casa de Cultura, a conseguirá no prazo de um dia. Depois de restaurada, a biblioteca passará por mudanças, pois foi projetada para 100 mil livros e seu acervo é o dobro. Vai virar “uma espécie de bibliotecamuseu, mas continuará sendo biblioteca com a memória histórica do Rio Grande do Sul e a parte rara”, explica a diretora Morgana Marcon. A intenção é construir um novo prédio, com capacidade de abrigar um milhão de livros, além de outros setores como periódicos, música e arte infantil, preenchendo assim todas as áreas de uma biblioteca moderna. Marcon não concorda com a idéia de que a biblioteca está per- Livros raros continuam sendo consultados no histórico prédio em obras dendo força diante da Internet, cada vez mais presente não só em relacionamentos e entretenimento, mas também no ensino e consultas. Além da credibilidade precária das informações na rede, detectadas na academia, ela lembra que muitos ainda não têm acesso. “Nada substitui o prazer do contato com um livro”, diz. “Ler um livro no papel é muito mais gostoso e prático do que digitalmente, num notebook.” No final de junho, termina a etapa de restauração com os recursos do Projeto Monumenta. Serão necessários R$ 7 milhões, dos quais dois milhões já foram conseguidos junto ao BNDES. A diretora acredita que as obras sigam por mais dois ou três anos. Só então voltará a funcionar no prédio original. Até lá, os usuários têm de freqüentar a Casa de Cultura. PUC terá uma das mais modernas bibliotecas do país Por Luciano Varelmann Uma das maiores e mais modernas bibliotecas do Brasil estará pronta no segundo semestre de 2008 no campus central da PUCRS. A data da inauguração oficial da nova Biblioteca Central ainda não está definida. Definitivos são os 21 mil metros quadrados de construção, distribuídos em 14 pavimentos. O prédio antigo possuía uma área de apenas 10 mil metros quadrados. O maior espaço físico terá capacidade de armazenar aproximadamente 840 mil exemplares. O novo local estará equipado com auditório, espaços especiais para exposições e o Memorial da Universidade, no andar térreo. O prédio contará ainda com rede de Internet sem fio e empréstimo de notebooks aos alunos. Luiza Kiefer/Hiper Ampliação e modernização do prédio está em fase final e deverá ser inaugurado no segundo semestre Desde 2003, grupos de trabalho vinham discutindo o audacioso projeto de remodelação para readequar a Biblioteca Irmão José Otão aos tempos contemporâneos. Após diversos estudos, as obras de reforma e ampliação da biblioteca central da PUCRS finalmente iniciaram no primeiro semestre de 2006. Os novos andares servirão para realocação do acervo de maneira mais organizada. Serão divididos por áreas do conhecimento, reunindo livros, periódicos, materiais de referência e especiais. O bibliotecário Ednei de Freitas Silveira, responsável por esse período de transição, conta que ainda está em estudo o uso de novas tecnologias para automatização dos serviços. Os acervos das Coleções Especiais Universidade e Iconográfica serão expostos e disponibilizados para consulta dos estudantes. Os acervos de obras raras, cinematográfico, histórico e Mapoteca também serão expostos. O novo espaço contará com três andares específicos para estudo. Um deles será destinado aos estudantes de graduação, e os outros dois aos de pós-graduação. O lugar será dividido em áreas de leitura e para estudo em grupo, contando ainda com salas de vídeo e um espaço para atendimento de usuários portadores de necessidades especiais. O novo prédio manterá dois andares de reserva técnica, o que permitirá o crescimento do acervo no futuro. Há também um andar à disposição da Universidade, que ainda não manifestou de que forma irá utilizá-lo. A nova Biblioteca Central Irmão José Otão promete não ser apenas um ambiente de retirada e devolução de livros. Contará com ambientes modernos e acolhedores, com toda a infra-estrutura necessária para a pesquisa e o suporte das atividades acadêmicas. hipertexto geral 5 Porto Alegre, junho-julho 2008 Drama de Ingrid chega ao final Seqüestrada em 2002, política foi libertada pelo exército em ação cinematográfica Rodrigo Arangua/AFP Por Sérgio Giacomel Após seis anos de cativeiro sob o poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), a ex-candidata à presidência da nação sul-americana, Ingrid Betancourt, foi resgatada no dia 2 de julho por tropas colombianas, junto com outros 14 prisioneiros. A ação, batizada de “Jaque” (xeque-mate, em português), se deu no departamento de Guaviare, sudeste do país, e foi classificada como “impecável”, pois não foi disparado um tiro sequer. A franco-colombiana é considerada um ícone da luta pelos direitos humanos. Além dela, foram libertados três agentes norte-americanos e 11 policiais e militares colombianos, que foram levados de helicóptero à base aérea de Bogotá. Ainda na quarta-feira, Betancourt se encontrou com a mãe e amigos. Na quinta, após a chegada dos filhos Melanie e Lorenzo Delloye, que vivem na França, reuniu-se com eles numa “orgia de beijos” e abraços, como ela mesma definiu. Em pronunciamento público, agradeceu ao Exército pelo sucesso do resgate. “Não existem antece- Ingrid Betancourt entre os filhos Melanie e Lorenzo. A política franco-colombiana era refém das FARC dentes históricos de uma operação tão perfeita. Obrigada ao Exército, por sua operação impecável”. Ela lembrou também daqueles que morreram durante o cativeiro. Conforme esclarecimento do ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, o Exército conseguiu enganar a milícia, infiltrando agentes do serviço de Inteligência em meio a um grupo de guerrilheiros. Eles teriam convencencido os rebeldes de que integravam uma organização humanitária. Desse modo, fariam o transporte dos aprisionados, em um helicóptero, para outro acampamento, encontrar o líder revolucionário, Alfonso Cano. Já em vôo, os dois integrantes das FARC a bordo – César, chefe do acampamento, e o outro conhecido pela alcunha de “Óculos” – foram rendidos e vendados. O modo como se deu a ação levantou dúvidas na comunidade internacional. A Rádio Suíça Romanda (RSR) chegou a divulgar a informação de que a guerrilha teria recebido 20 milhões de dólares para libertar Ingrid e os demais reféns. A alegação foi baseada no depoimento de uma fonte “ligada aos acontecimentos, confiável e testada em reiteradas ocasiões nos últimos anos”, como anunciou a rádio. O governo colombiano, no entanto, desmente a negociação. Especulações dão conta de que as FARC estariam desestabilizadas após perderem cinco de seus principais líderes nos últimos tempos. Além de Manuel Marulanda “Tirofijo”, fundador e número 1 da milícia, morreram Raúl Reyes, Iván Rios, Negro Acácio e Martín Caballero. Os últimos incidentes diplomáticos levaram a uma crise entre os governos da Colômbia, da Venezuela e do Equador. Ingrid insistiu para que os países vizinhos reconsiderem o diálogo com Bogotá. “Esta é uma etapa essencial para que possamos vislumbrar novas libertações”, declarou ela. Hugo Chávez, presidente da Venezuela, parabenizou o colega colombiano Álvaro Uribe e se dispôs a ajudar em novos resgates. “Continuamos à disposição até que se liberte o último refém da guerrilha e para conseguir a paz plena na Colômbia”, afirmou o líder venezuelano. Todos ganham com as sacolas ecológicas Laura Fraga/Hiper Por Paula Letícia Nunes Alimentos orgânicos, economia sustentável, reutilização da água e das sacolas de compra são assuntos não mais exclusivos das pessoas ligadas à ecologia. Preocupações de um eco-chato? Não, atitudes do cidadão consciente do seu papel no planeta, onde os recursos naturais são limitados e correm risco de extinção. Agora, cool é ser ecologicamente correto. As eco-bags são sacolas reutilizáveis, usadas para carregar compras. Sabe aquela sacola de pano que sua avó utilizava para fazer a feira? Pois são essas mesmo, repaginadas e compondo o estilo de cada um. Elas retornaram para ocupar o lugar das sacolas plásticas, feitas de resinas sintéticas originadas do petróleo, que não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor na natureza. Pesquisas da Unicamp indicam que são produzidas no Brasil 210 mil toneladas anuais de plástico-filme, que servem de matéria-prima para a fabricação de sacolas de supermercado. Como são descartáveis, já representam 9,7% do lixo produzido no país. Utilizar eco-bags supera o modismo para figurar na lista de ações que ajudam na preservação do meio ambiente. É também uma alternativa para geração de renda. Na principal feira ecológica da Capital, realizada aos sábados na Rua José Bonifácio, aos poucos as sacolas plásticas são substituídas pelas reutilizáveis. A conscientização aconteceu depois de muita insistência dos feirantes, que organizaram promoções para quem trazer sacolas de casa. Agora, a eco-bag é vendida por R$ 4,00 a unidade, em todas as bancas. Ter a própria sacola retornável é uma tendência mundial. Na Europa, é alternativa econômica na hora de adquirir produtos. Na Alemanha, quem não leva a sua própria bolsa para carregar as compras precisa pagar o equivalente a R$ 0,60 por sacola plástica. Na Irlanda, é cobrado imposto de nove centavos de libra irlandesa. A medida fez multiplicar o número de europeus carregando sacolas de pano, de palha, e mochilas, informa o site da Prefeitura de São Paulo. No Brasil, este tipo de produto também está se popularizando. A indústria de cosméticos Natura vende sacolas de tecido a R$ 15,00 e repassa os lucros para o projeto de conscientização ambiental mantido pela própria empresa, o CRER. Em Porto Alegre, o designer Marcelo Bohrer e o consultor Jorge Mello desenvolveram a campanha I love eco-bag. Mello conta que o objetivo vai além da venda das bolsas de algodão, pois todo processo é realizado de forma sustentável. O produto é confeccionado pela cooperativa de costureiras Unidas Venceremos. As sacolas personalizadas com o nome do cliente final são em lotes de, no mínimo 10, ao valor de R$ 10,00 cada. O consultor concorda que o público-alvo ainda está restrito às classes média e alta, que têm acesso à informação. Baseado nestes dados, decidiram doar parte do lucro ao projeto de conscientização ambiental de estudantes de escolas públicas, mantido pela Fundação Gaia. Desde o início das atividades, em dezembro de 2007, foram ven- Bolsas ecológicas geram renda e são alternativa de sustentabilidade didas cerca de 10 mil unidades da bolsa ecologicamente correta. Também há quem faça disto o seu ganha-pão. Em Viamão, Zulmir Compagnone e a esposa Senhorinha do Amarante trabalham numa oficina improvisada na garagem de casa. Produzem diariamente de 200 a 300 sacolas de pano. Em velocidade quase industrial, Senhorinha costura uma nova bolsa a cada 40 segundos. 6 especial Porto Alegre, junho-julho 2008 Por um planeta limpo, desenvolvido e saudável hipertexto Fotos Antonio Cruz/Hiper Hoje o comprometimento ambiental das empresas interfere na cotação das ações no mercado financeiro Por Paula Letícia Nunes ambiental. Para obter lucro, o homem precisa interferir no Nunca se ouviu falar tanto meio-ambiente. Porém, o que se em sustentabilidade. Afinal, que busca é a criação de um sistema significado tem essa palavra? de compensação que neutralize O biólogo Eduardo de Almeida ao máximo possível os efeitos diz que a definição é sistêmica: nocivos provocados na natureza”, engloba diversos fatores, como argumenta Eduardo Almeida, da o social, econômico e cultural. empresa Eco Consciência. O coordenador do curso de Por ser simplificado, o conceito Engenharia da PUCRS, CláuRelatório de Brundtland dio Frankenberg, explica O Relatório Brundtland é um documento que que o desenvoltem como titulo Nosso Futuro Comum. Baseado vimento amem estudos da Comissão Mundial sobre o Meio biental sustenAmbiente e das Nações Unidas, o material, publitável é aquele cado em 1987, chama atenção para os riscos do que causa o aquecimento global e a ameaça que isso poderia menor impacrepresentar para a humanidade. to ambiental possível. Para mais utilizado é do Relatório isso é preciso ter uma visão a de Brundtland, segundo o qual, longo prazo, não aplicar apenas desenvolvimento sustentável é medidas pontuais. Frankenberg aponta a educaaquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer ção ambiental como fundamena capacidade das gerações futuras tal para que o desenvolvimento sustentável se torne possível. de suprir as suas. “Esse pensamento é românti- Para isso, é preciso que haja co. Não existe desenvolvimento conscientização. No campo do econômico livre de impacto ensino, isso se faz com grupos de estudos que desenvolvam projetos de pesquisa e ações práticas e que essa ação seja de forma contínua. Para o engenheiro, o mais difícil é fazer as pessoas entenderem que fazem parte do meio ambiente e todas as ações por elas praticadas terão efeito no local onde vivem. Passada essa fase, a tendência é dos indivíduos se engajar nas campanhas. Verdade inconveniente O que tem dado visibilidade ao termo antes restrito aos ambientalistas são as alterações climáticas geradas pelo aquecimento global, fruto do desenvolvimento e consumo inconseqüentes da sociedade. O documentário Uma verdade inconveniente, do exvice-presidente americano Al Gore, foi sucesso de público e alerta para o aumento de nível dos mares, tempestades, extinção de espécies da fauna e da flora e epidemias, caso cidadãos, indústrias e governos não tomem providências a curto e médio prazos. Frente às ameaças aos ecossistemas do planeta, tanto o Estado quanto as legenda legenda Energia eólica no caminho da praia não produz poluição empresas estão adotando atitudes paliativas na tentativa de frear o avanço do desequilíbrio climático, provocado por séculos de crescimento econômico ecologicamente inconsciente. O professor Cláudio Frankenberg, membro do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, conta que a universidade está engajada em ações de desenvolvimento sustentável que envolvem a gestão dos resíduos. O trabalho consiste na coleta e descarte correto dos lixos seco e orgânico. Esta prática envolve as faculdades, laboratórios e a Prefeitura Municipal. A instituição de ensino também recicla as lâmpadas descartadas e tem um centro de captura de carbono, que desenvolve pesquisas de compensação do gás carbônico, que é o principal responsável pelo efeito estufa. Respeito ambiental facilita negócios Centro de Educação Ambiental da Vila Pinto faz reciclagem, uma medida que contribui para a sustentabilidade Eduardo Almeida trabalha na empresa de gerência de resíduos Eco Consciência. Entre as atividades do biólogo está o cálculo do índice de reciclagem e taxa de compensação de carbono, fatores importantes na hora de avaliar os índices Dow Jones (utilizado pela Bolsa de Valores dos Estados Unidos) e ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial, utilizado pela Bovespa). Almeida revela que o comprometimento ambiental pode interferir na cotação das ações no mercado financeiro, principalmente das firmas que negociam com clientes estrangeiros. Os europeus estão entre os que valorizam empresas ecologicamente corretas na hora de fechar negócios. O principal trabalho da Eco Consciência é feito em parceria com a indústria sueca Tetra Pak, e tem como objetivo reciclar as embalagens produzidas pela empresa. Ano passado, 26,6% do material foi reciclado. A meta fixada para este ano é de 28%. Para que isto aconteça, foram firmadas parcerias com as empresas Crédito Real e Auxiliadora Predial, o que tornou possível a realização de palestras para os condôminos e a disponibilidade de coleta seletiva. Foram criadas metas para o descarte correto do resíduo que, se atingidas, são revertidas em descontos no valor do condomínio. Outra parceria interessante é a recentemente fechada com uma fábrica de telhas que utilizará a embalagem Tetra Pak como matéria-prima. Isso culminou em um produto 20% mais barato que as telhas comuns, mais resistente ao vento e totalmente impermeável. hipertexto especial 7 Porto Alegre, junho-julho 2008 Preço dos alimentos dispara no mundo As causas são muitas e poucas as perspectivas de reverter a tendência Por Bruna Scirea Qual é a razão do acentuado aumento no preço dos alimentos no mundo? Cresceu o consumo ou reduziu a oferta? Será conseqüência da elevação do custo do petróleo? Muitas perguntas iguais a essas são feitas, em todo o planeta, sem se obter respostas. A única certeza quem tem são os consumidores que reclamam do brusco aumento no preço dos alimentos. Além de assistir a disparada dos preços, a sociedade não vê perspectiva de reversão. Wilma Schwartz, 63 anos, vai às compras com o dinheiro da aposentadoria contado. “Já tentava comprar o mínimo de carne possível, pois o preço é muito alto. Agora preciso ainda controlar os gastos com outros alimentos, como o arroz, cereais e até mesmo o pãozinho francês. Cada mês que passa o rancho fica mais caro”, comenta a dona de casa. A preocupação vai muito além das filas dos mercados. O mundo enfrenta uma crise que acentuará ainda mais as discrepâncias entre a fartura e a fome. A teoria do sociólogo Thomas Malthus parece fazer sentido: enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, o crescimento populacional ocorre em progressão geométrica. A crise tem como motivos principais o aumento da renda e população dos países emergentes e o elevado preço do barril de petróleo, na opinião do economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Alfredo Meneghetti. “A oferta de alimentos no Brasil e no mundo não tem atendido o disparo do consumo em decorrência do aumento do poder aquisitivo da população”, comenta Meneghetti. Deve, ainda, ser somado a essas causas outro fator importante: a crise financeira. A especulação no mercado de capitais e a queda constante nos preços das ações são fatores que agravam mais o problema, uma vez que grande parte dos alimentos é tratada como commodities – negócios futuros cotados em dólar. Há, ainda, a tendência e a busca por lucratividade que permeiam os campos, mudando a matriz produtiva do alimento para o combustível. O governo brasileiro, na figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dos ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, sustenta que o plantio de cana-deaçúcar destinada à produção de etanol não compete com as terras destinadas aos alimentos. “Como no Brasil nós temos uma oferta de áreas muito grande, ainda existe muito espaço para ser preenchido pela plantação dos biocombustíveis”, reforça Meneghetti. Nos Estados Unidos, entretanto, a situação é diferente. O milho, designado à produção de biocombustível no país, está com sua área de plantio esgotada e não pode se expandir. Dessa forma, o Brasil joga como uma peça muito importante no mundo: ele ainda tem espaço para que sua produção cresça. Fenômenos climáticos Também contribuiu para a escassez de alimentos, nos últimos anos, a forte influência das intempéries. “Secas, enchentes, vendavais e até ciclones combinaram-se com o acréscimo de pragas e doenças nas lavouras, trazendo prejuízos na produção e exigindo mais aporte de agroquímicos para estabilizar os patamares produtivos”, complementa o coordenador do curso de Agronomia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Carlos Martins. Como exemplo disso, há a problemática da seca na Austrália que perdura por mais de seis anos. No Brasil, especialmente nos Estados do Sul, nos últimos anos, as secas foram tão profundas que se supõe perda de mais de 30 milhões de toneladas de grãos. “Especula-se que os estoques mundiais de milho, trigo e arroz, os cereais básicos para a alimentação, estariam em 70% das marcas da última década”, diz Martins. Especialistas também apontam o aumento do custo de fertilizantes – em alguns casos, em mais de 100% – propiciado pelo alto valor do barril de petróleo, como fator crucial para o desenvolvimento da atual crise. Além do acréscimo no preço dos alimentos, o petróleo, que atingiu índices recordes nos últimos tempos, influencia também outros setores da economia, desencadeando uma inflação geral. “Há dez anos, o produtor agrícola pagava 14 sacas de 60 quilos na compra de uma tonelada de fertilizantes. Hoje, para a mesma compra, são necessárias 31 sacas, um aumento de mais de cem por cento”, compara Meneghetti. Maria Joana Avellar/ Hiper A produção de alimentos e de biocombustíveis, como alternativa ao petróleo, precisam conviver juntos Desequilíbrio começa com a Revolução Verde especial na década de 70, quando o país adotou um pacote de medidas chamado de “Revolução Verde”. O que caracterizava a iniciativa era o uso intensivo de insumos químicos como adubos solúveis e agrotóxicos. A Revolução Verde trouxe aumento expressivo na produção agrícola, mas, aos poucos, ficaram evidentes os problemas que carregou consigo. Provocou erosão, compactação e perda da fertilidade dos solos, diminuição da biodiversidade, contaminação dos alimentos, além de intoxicações crônicas e agudas dos trabaVinícius Roratto Carvalho/ Hiper lhadores rurais. Também causou contaminação das águas por nitratos e agrotóxicos e o aparecimento de pragas resistentes. “Essas conseqüências permitiram condições de avançar a fronteira agrícola que, por sua vez, conduziu à verdadeira revolução na criação de cidades e, principalmente, no aumento populacional”, assinala Martins, coordenador do curso de Agronomia da PUCRS, em Uruguaiana. Mesmo com as duas crises – a Pecuária ampliou a fronteira das pastagens O agrônomo Carlos Martins recorda que esta crise não é a primeira a assolar o mundo. As Revoluções Agrícolas dos séculos passados foram essencialmente resultados de situações como esta. A primeira dessas revoluções é identificada por Martins pela intensificação e a adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras (capim e leguminosas), bem como a integração das atividades de pecuária e agricultura. A segunda, ocorrida no fim do século 19 e início do século 20, teve repercussão no Brasil, em financeira e a alimentícia - atingindo a ordem mundial, o Brasil ganha destaque no atual cenário. Duas agências estrangeiras de crédito analisaram as chances do País de pagar suas dívidas e foi concedido um selo de garantia – grau de investimento – que confere maior confiança na hora de capitais estrangeiros apostarem na economia brasileira como uma promessa do futuro. A aposta do governo Lula é de que o Brasil possa sair desta crise, não só como líder na produção de alimentos, mas também como pioneiro na geração de energia renovável, através do biocombustível. Entrentanto, o professor Carlos Martins reclama da falta histórica de maiores investimentos ao setor primário, denunciando a ausência de políticas públicas permanentes de financiamentos à produção. Para o agrônomo, deveriam ser criados incentivos e condições para que os brasileiros pudessem trabalhar e crescer naquilo que os destaca: a produção de alimentos. “Contudo”, ele mesmo alerta, “na ânsia de atingir o topo e levar vantagem, o País não pode suprimir a prudência ecológica, com desrespeito ao meio ambiente e sem oferecer alternativas racionais e sustentáveis à produção de alimentos”. À teoria de Malthus, mais um item poderia ser acrescentado: assim como as populações humanas, os preços também crescem em progressão geométrica. Os alimentos estão vagarosamente atrás, a passos curtos. 8 jornalismo Porto Alegre, junho-julho 2008 hipertexto entrevista/Silvana Yang Da Famecos para a TV japonesa No ano do centenário da imigração nipônica, ex-famequiana fez o caminho inverso. E deu certo Fotos arquivo pessoal Por Thais Silveira O diploma de jornalista tinha apenas seis meses quando a porto-alegrense Silvana Yang resolveu atravessar o globo e tentar fazer a vida profissional no Japão. Era 2002. Seis anos depois, ela é comentarista de economia no IPC TV, canal por assinatura dirigido aos brasileiros que vivem no Japão. Desde que surgiu, em 1950, a televisão brasileira se tornou o veículo mais bem aceito no país. Consolidada como rede de informação e entretenimento, a TV conquistou adeptos e se modernizou. No Japão, a história é um pouco diferente. Em Nagoya, quarta maior cidade do país, fica a sede da emissora IPC TV, canal por assinatura, transmitido pela SKY Direct TV. A emissora é feita por brasileiros para brasileiros, embora alguns sócios sejam japoneses. Apesar de não ser um canal recente, seu principal obstáculo é não alcançar a abrangência espe- o território japonês. Atualmente ela participa como comentarista e também realiza matérias externas no programa Guia do Milionário, transmitido pela IPC TV. Ela mora na cidade de Toyohashi, no Estado de Aichi. Esteve em Porto Alegre, a primeira vez desde sua ida ao Japão. Veio ao Estado para visitar a família, quando falou sobre sua experiência nesse rico país do Oriente. Silvana conquistou espaço no Japão rada. Além disso, a comunidade brasileira tem dificuldade com o alto preço dos contratos. Esse cenário agora está mudando, pois a emissora se tornou afiliada da Rede Globo Internacional em agosto do ano passado. A jornalista Silvana Yang, formada na Famecos em 2001 e impulsionada pelos comentários do marido, que já havia morado no país, resolveu se aventurar. Os dois decidiram se mudar para Como entraste na TV japonesa? A inclusão de uma pessoa em um programa da emissora se dá principalmente por indicação de alguém de dentro. No meu caso, um programa novo estava sendo planejado, a apresentadora era minha amiga e precisava entrevistar alguém sobre economia doméstica para o programa piloto. Gravamos em minha casa. O diretor gostou da minha desenvoltura. A partir daí, passei a fazer parte do quadro fixo, cabendo a mim a função de comentarista das matérias A equipe da IPC TV no Japão: programação destinada aos brasileiros e apresentadora das notícias mais importantes da economia japonesa que interessem à comunidade. Com o tempo, comecei a fazer reportagens externas. Quais as principais diferenças entre o jornalismo feito no Japão e o brasileiro? A principal diferença é a falta de mão-de-obra qualificada, há poucos profissionais com faculdade de comunicação. Existe muito aprendizado na prática, falta verba e a maioria dos programas tem um ar amador. Conseguimos alguns milagres nesse assunto, pois nosso programa sempre apresenta bons níveis de audiência e de participação. Há exigência de diploma de jornalismo? Quem pode exercer a profissão no Japão? Para trabalhar no jornal impresso, indo do Brasil exclusivamente para isso, precisa. No meu caso, todos sabiam que eu era formada, mas nunca me pediram o diploma. E no jornal impresso? Não posso te dizer quanto ao jornal impresso que é produzido lá, pois o mesmo é líder de mercado na comunidade, e já se firmou ao longo dos anos. Tem parcerias e anunciantes de peso, o que possibilita melhores condições de trabalho e funcionários qualificados, muitos até vindos do Brasil exclusivamente para trabalhar como jornalistas. Para um programa voltado aos brasileiros, quais as pautas mais freqüentes? As pautas são basicamente coisas voltadas à comunidade brasileira, como dicas de economia domésticas, notícias japonesas que interessam e influem no cotidiano da comunidade, dicas de lazer e de entretenimento. Quais as maiores dificuldades que tu encontraste? A falta de liberdade de expressão é uma delas. Infelizmente, temos que conduzir os comentários e pautas conforme as normas e diretrizes da empresa. Por exemplo, numa pauta sobre economia com telefonia móvel, não podemos citar que a entrada em sites pelo celular custa caro, pois uma empresa que proporciona o serviço faz parte do grupo de comunicação. Temos que seguir a cartilha da matriz, tudo é revisado, o que geralmente causa frustrações e descontentamentos por parte de toda equipe. O amadorismo também é outra dificuldade relevante. Houve casos pitorescos? Uma vez fomos a um banco japonês fazer uma reportagem sobre financiamento da casa própria para estrangeiros. Quase meia hora depois da entrevista, descobrimos que a câmera estava sem fita. Tivemos que começar tudo de novo. Apesar dos pontos negativos e das dificuldades, é preciso salientar que a televisão feita para brasileiros no Japão tem uma enorme importância na comunidade, pois através dela, muitas pessoas já foram ajudadas. Tudo o que acontece no país é transmitido para os brasileiros que, na sua grande maioria, não dominam a língua. Com isso, seu papel é fundamental como ponte entre duas culturas tão diferentes e ricas como a brasileira e a japonesa. Vais continuar no Japão? Tanto pretendo continuar que este ano construímos nossa casa lá. Não me imagino morando no Brasil. Mas, como dizem, o futuro a Deus pertence. jornalismo esporte 9 Seminário discute os limites para buscar a notícia Hits Produtora/Divulgação hipertexto Porto Alegre, junho-julho 2008 Por Sérgio Giacomel Em 14 de maio, repórteres do jornal O Dia foram seqüestrados por uma milícia da favela do Batan, no bairro carioca do Realengo. Com uma equipe disfarçada e infiltrada no morro, eles procuravam mostrar a vida sob o controle das quadrilhas do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Eles permaneceram sete horas e meia sendo torturados, espancados e ameaçados de linchamento pelos milicianos. Somente no dia 31 o fato foi tornado público na grande mídia. O episódio trouxe o questionamento sobre até que ponto os profissionais de imprensa podem chegar em nome da informação. O fato predominou no painel “Jornalismo Investigativo: até onde vai o fôlego dos profissionais e das empresas”, realizado em 6 de junho, no auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. O tema reflete a ansiedade de veículos e profissionais pelo imediatismo e pelo “furo de reportagem”, em detrimento da informação com qualidade e profundidade, além de outros princípios, jornalísticos ou não. O expositor foi o jornalista Luiz Cláudio Cunha, ex-repórter das revistas Veja e IstoÉ, notabilizado na cobertura do seqüestro do casal uruguaio Universino Díaz e Lílian Celiberti, em 1978. No debate, estiveram presentes Telmo Flor, diretor de redação do Correio do Povo; Pedro Maciel, editor-chefe do Jornal do Comércio; e Eduardo Lorea, editor assistente da Zero Hora. Para Cunha, o avanço das tecnologias da mídia acabam sufocando o público. “É difícil fazer jornalismo de imersão com a pressão de mercado de hoje”, assevera, destacando que as revistas “de fofocas” acabam ganhando em profundidade de informação na comparação com veículos essencialmente jornalísticos. O painelista comparou a situação da imprensa atual a um “Bolsa-Família”, onde o leitor recebe apenas uma “esmola” de informação, mas permanece cativo por gratidão. Ele criticou também a “preguiça” das editorias que apenas aguardam a chegada dos conteúdos para publicação. “Jornalismo não pode esperar sentado na cadeira”, observa. No caso dos jornalistas de O Dia, porém, cogitou que outros fatores deveriam ser considerados, como a seguridade da equipe. Flor rebateu a acusação de Cunha de que “jornalismo investigativo no Correio é ficção”. O editor-chefe assegura que o CP realiza agora (com a Record) um bom jornalismo, “dentro de suas limitações”. Para ele, o modelo compacto não é impeditivo. Sobre a equipe de jornalistas seqüestrada no Rio, Telmo Flor mencionou a frase do jornalista alemão Günter Wallraff – autor dos livros “Cabeça de Turco” e “Fábrica de Mentiras” – , de que “não vale nada a pena se você tem que cometer um crime”. Ele ainda criticou as notícias erroneamente tidas como “reportagem”, mas que na verdade são “espetacularização dos fatos”. No debate, Pedro Maciel chamou a atenção para o fato de que jornalismo é, em sua essência, investigativo. Neste contexto, Eduardo Lorea entende que informações de domínio público “podem e devem” ser usadas pelo jornalista, mas alega haver dificuldade de acesso a alguns destes documentos que estão sob a guarda do Estado. Para o jornalista, o avanço das tecnologias, da mesma forma que pressiona as redações, também as ajuda, no acesso e organização das informações e reportagens assistidas pelo computador. Numa análise dos debatedores, foram destacados os pontos positivos da mídia impressa frente aos veículos eletrônicos. “O jornal é diferente da TV. O jornal deve tratar dos fatos com profundidade”, afirmou Cunha. O grupo de jornalistas aproveitou também para refletir sobre o futuro do jornal – debate que vem tomando corpo diante do avanço dos meios digitais e da crítica “ecologicamente correta” ao uso do papel. Para Cunha, não há o que discutir: “O trunfo do jornal impresso é a perenidade”. Enquanto no formato digital o conteúdo é volátil, no jornal ele fica arquivado e de fácil acesso. Ao final, foi ressaltada a importância da independência do profissional, sem ficar refém do veículo ou de ideologias. “Repórter deve pensar e ter autonomia”, pregou Luís Cláudio Cunha. “Jornalista precisa contextualizar a informação e correr atrás dela, para apurar e desvendar”, finalizou. Basquete de exibição: são 22 mil vitórias desde 1927, quando eles surgiram em Chicago, nos Estados Unidos Um show de bola em basquete de exibição São os Globetrotters fazendo espetáculo em Porto Alegre Por Leonardo Serafim As luzes se apagam e um vozeirão salta das caixas de som do Gigantinho: Are you ready, Porto Alegre? Dos vestiários, uma imensa nuvem de fumaça anuncia a tão aguardada entrada. Rostos sorridentes se entreolham na expectativa. Poucos segundos são necessários para transformar as mais de 10 mil pessoas em uma única voz de total satisfação. Os Harlem Globetrotters estão na quadra do Gigantinho. Apesar da referência ao famoso bairro nova-iorquino, o primeiro time de entretenimento no esporte mundial surgiu em 1927, em Chicago. Formado apenas por atletas negros, a equipe foi um marco para o basquete da época. A supremacia do time era tão grande em comparação aos seus adversários, que antes mesmo do intervalo, a diferença de pontos era enorme. Isso fazia com que, no segundo tempo, os jogadores voltassem dispostos a darem um show para o público. Foi assim que os Globetrotters saíram das competições oficiais para encantar mundo. Devido à habilidade e ao carisma de seus jogadores, o time começou a viajar pelos Estados Unidos. O sucesso nos anos 60 foi inevitável e os “globes” ganharam reconhecimento mundial. Excursões para todo o planeta se sucederam e eles se tornaram embaixadores do basquete. Os uniformes vermelho e azul podiam ser vistos em todos os lados, no estádio de futebol em Lima (Peru), ou em uma biblioteca em Viena, Áustria. A Globemania tinha sido formada. A procura pelos shows do Globetrotters se tornou algo tão espantador que os organizadores da equipe tiveram de recrutar mais atletas. Enquanto um time excursionava pela Europa, outro vinha para a América do Sul, e um terceiro jogava pelo país. Em 1970, com a repercussão positiva, a Hanna-Barbera resolveu transformar os Globetrotters em protagonistas de um desenho animado que levava o nome do time. Os personagens também fizeram várias participações nos episódios de Scooby- Doo. Nos anos 2000, o sucesso já não é o mesmo do passado. Os ginásios pararam de lotar e as viagens pelo mundo perderam um pouco do glamour. Mas o show segue. Na noite de 14 de junho, em Porto Alegre, não foi diferente. As enterradas de Lebron James e os dribles de Allen Iverson ou Kobe Bryant parecem coisas de outro mundo. Seja nos momentos dentro da quadra, onde a bola voa, seja nos momentos do intervalo, os jogadores se esforçam para transformar mais de 1h30 min de apresentação em puro divertimento. E conseguiram com a maior facilidade. Era impossível ver as pontes aéreas e não se levantar para aplaudir. Ver as palhaçadas, como roubar uma bolsa da platéia, ou danças como Thriller e Moonwalker sem esboçar um sorriso. Sem falar nos mais belos dribles que não devem nada aos jogadores de street ball. É verdade: o adversário facilitou. Não se pode esquecer que é um espetáculo e o Washington Generals faz parte dele. Foram 22 mil vitórias do time em sua história. Mas quem esteve no Gigantinho não se importou com a facilidade do jogo. O que valeu foi mais um show que só o Globetrotters sabe dar. Jogo fora da regra, sem marcação Entrevista com comentarista da NBA na ESPN Brasil José Roberto Lux, o Zé Boquinha: Os Globetrotters ficaram sem perder 2495 jogos seguidos. Eles são tão bons? A invencibilidade é conseqüência de jogarem fora da regra, o que deixa o jogo irregular e eles se prevalecem disso, além da promoção da equipe. Há uma lenda de que os Globes venceram uma partida contra um selecionado americano marcando apenas 2 pontos. É verdade? A lenda diz que eles foram desafiados para um tira-teima. Como não havia cronômetro de posse de bola, os Globes fizeram dois pontos, roubaram a bola e a retiveram durante todo o jogo. Há como traçar um paralelo entre o And1 (time de street ball) e os Globes? A filosofia é a mesma. Jogo exibição sem preocupação de marcação e de regras. É mostrar o basquete na sua essência. Porém, os Globetrotters jogavam com a bola murcha, com peso dentro, faziam malabarismos e contavam com a equipe adversária, que fazia parte do show. Algum jogador chegou a participar na NBA? Dois jogadores que foram destaque na NBA passaram antes pelos Globetrotters. Wilt Chamberlain jogou uma temporada antes de estrear na Liga, onde se tornou sua maior estrela. 10 música Porto Alegre, junho-julho 2008 hipertexto Quando o som do Brasil era cheio de Bossa 50 anos de um ritmo que se tornou parte da identidade nacional Por Mauricio Círio A Bossa Nova surgiu pelas mãos de artistas brasileiros apaixonados por samba, mas que também viviam sob o apelo da modernidade e o improviso do jazz norte-americano em discos de vinil. No momento em que o toque estrangeiro fisgou o ouvido verde-amarelo de alguns compositores cariocas, começava a surgir uma nova “Bossa”. As canções brasileiras das décadas de 50 e 60 seriam reconhecidas e admiradas internacionalmente, vindo a ser referências de qualidade na música mundial. No Rio de Janeiro e no país, a juventude estava cansada de ouvir apenas os discos antigos, considerados arcaicos e ultrapassados, com músicas de timbres melancólicos, de ritmos “abolerados” e sambas-canção. Eles queriam algo novo. Era uma nova geração que queria se expressar com suas próprias manifestações culturais e, não, as dos seus pais. Então, surge algo diferente, de harmonias e poesias mais simples e entendíveis para o público jovem, com a beleza das diferentes poesias, batidas de violão e ritmos nunca escutados antes. Um estilo nem pior, nem melhor dos conhecidos, apenas algo novo o bastante para se tornar febre. O título Bossa Nova surgiu no fim dos anos 50, criado pela própria juventude carioca, que usava a gíria “bossa”, com o significado de “jeito”, “modo”, “maneira”. Quando alguém fazia algo diferente, dizia-se que tinha muita “bossa”. Era o que músicos, como João Gilberto, tinham: muita bossa, uma Bossa Nova. João Gilberto foi o primeiro marco do gênero. Para muitos, ele é o precursor, pois foi o primeiro a estourar pelo país, em 1958, interpretando “Chega de Saudade”, composta pela dupla Antônio Carlos ‘Tom’ Jobim e Vinícius de Moraes. Foi também da união de Tom e Vinícius que viria, em 1962, uma das músicas mais regravadas do Brasil. Inspirado na beleza de uma garota que passava todos os dias em frente ao Bar Veloso, em Ipanema, o qual os dois músicos freqüentavam assiduamente, Vinícius compõe com a ajuda do companheiro a clássica “Garota de Ipanema”. O título da música, mais tarde, passaria a ser o nome do bar, que mantém com orgulho o nome até hoje. A canção fez sucesso no Brasil e logo no exterior, vindo a ser regravada, em 1963, por Norman Gimbel, e cantada por diversos outros artistas como Frank Sinatra, Cher, Mariza e Madonna. Acredita-se que o fim cronológico da Bossa Nova tenha chegado em 1965, justamente no auge do gênero, no I Festival de MúsicaFantastic Popular Plastic Brasileira. A parMachitir ne, desse período, a bossa Pizzicato Five, Towahaveria Tei, deixado de ser nova, e englobada Kahimi Karie, De Phazz, a um estilo amplo, Touch and mais Go, Koop, Kin-um gênero viria para reunir gs ofque Convenience, Beck, as diversas tendências Azymuth, US 3, produzidas Tricatel no Inc., Brasil. Surgia MPB (Música Zuco 103,oSmoke City, Popular Brasileira). Porém, Thievery Corporation, Daú-em 2008, completa 50Pat anos, de, quando Laura Finochiaro, o movimento é lembrado C., a bandaainda Eletrobossa, com paixão e respeito, Bossa Cuca Nova e tanto Bebelpor brasileiros Gilberto.como estrangeiros de diferentes idades. Nomes da Eletrobossa DJs criam eletrobossa e provocam crítica dos músicos Em 1958, era lançado o disco que marcaria o início da Bossa Nova. Com composições de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, a “Canção do Amor Demais” tinha interpretação de João Gilberto e Elizeth Cardoso. Hoje, 50 anos depois, esse e outros trabalhos permanecem na memória de muitos artistas. Tanto que já foram feitas várias tentativas de resgatar os velhos tempos de bossa. Porém, brasileiros e estrangeiros, com versões inusitadas e releituras de canções da época, muitas vezes são criticados pelos músicos mais conservadores. A Bossa Nova foi uma das principais influências de um movimento posterior, o Tropicalismo. A roqueira Rita Lee, integrante de um dos grupos mais importantes da Tropicália, Os Mutantes, foi uma das primeiras que tentou puxar da memória o estilo. Em 1991, já em carreira solo, lançou o disco “Bossa n’ Roll”, com sucessos de sua trajetória como “Lança Perfume” e “Ovelha Negra”, tocados de cima de um banquinho. Mas, em vez do violão para acompanhar, a cantora usou uma guitarra. A ousadia estaria só começando. O que dizer de um veterano da Bossa Nova que concede suas músicas ao filho para serem misturadas com batidas eletrônicas? Com a aprovação e o incentivo do pai, o guitarrista Márcio Menescal, filho de Roberto Menescal, resolveu se unir ao DJ Marcelinho da Lua e ao programador Alexandre Moreira para formarem o Bossa Cuca Nova. O grupo modernizou e retrabalhou clássicos como “Nós e o Mar” (Menescal e Ronaldo Bôscoli) e “Garota de Ipanema” (Tom e Vinícius), misturandoos com música eletrônica e pop. Eles lançaram, em 1997, um CD homônimo que fez mais sucesso no exterior do que pelo Brasil. Por aqui, muitos ainda têm preconceito em relação às misturas. Outra situação parecida é o caso de Bebel Gilberto, filha de João Gilberto. Outra vez, uma família musical. Bebel é um dos grandes nomes da atual Bossa Nova. Em 2000, a cantora lançou o disco “Tanto Tempo” e, em 2001, remixou o mesmo trabalho, em uma coletânea feita por produtores de e-music do mundo todo. O músico Norberto Baudalf, que abrigou por um tempo João Gilberto na sua casa em Porto Alegre, nos anos 60, é um dos que não concorda com as novas tendências. Ele, que tocou muita Bossa pelos bailes gaúchos, considera tais misturas desagradáveis. “Não me agrada, eu prefiro os clássicos”, e revela um descontentamento mais profundo em relação à música contemporânea: “O DJ está acabando com os conjuntos”. Assim como Baudalf, existem muitos veteranos que compartilham da mesma opinião. O próprio Paulo Moura, do projeto Afro Bossa Nova, cujo intuito é tocar a Bossa Nova de um jeito diferente, critica a nova moda. Diz que respeita as misturas, mas acha precário. “Considero amador essas misturas com música eletrônica. Acho que falta estudo e teoria musical para melhorar o estilo. Mas, acredito que com o tempo dê certo”, desabafa. O Bossa Cuca Nova é apenas um dos diversos artistas que migram o violão para as batidas de pista. Esse movimento moderno, com muitos adeptos pelo mundo, possui várias definições: ele- trobossa, nu bossa, nu samba, drum ‘n’ bossa. Tudo para definir a mistura de Bossa Nova com um dos ritmos eletrônicos mais acelerados. No Brasil, um dos que fazem a mescla é DJ Patife que afirma ter conseguido penetrar no mercado internacional graças a esse feito. “A música eletrônica foi tropicalizada pela Bossa Nova”. Mesmo causando impacto negativo nos conservadores, a eletrobossa resiste. Não se sabe se é um movimento passageiro, ou se vai perdurar. “O que vale é a intenção” dizem os mais otimistas. O que se sabe é que, enquanto a paixão pela Bossa Nova existir, DJs e artistas estarão remixando, criando novas combinações, regravando e fazendo coletâneas. A saudade se mostra como o principal termômetro para o futuro desse mercado. hipertexto música 11 Porto Alegre, junho-julho 2008 Vinícius Roratto Carvalho/ Hiper Curso para melhorar o carnaval da cidade Por Thais Silveira Instrumentistas apresentaram espetáculo de sincronismo e perfeição musical no Teatro do Bourbon Country Bossa Nova é lembrada em todos os ritmos Músicos fazem releituras dos sucessos de Tom Jobim Por Mauricio Círio Conqüenta anos depois, uma unanimidade. Todos reverenciam a Bossa Nova. Da batucada ao teclado clássico de Geraldo Flach. O violonista Gabriel Improta samba acionando as cordas com a unha, enquanto os percussionistas Gabi Conceição, Gabi Guedes e Nei Sacramento, da Bahia, sincronizam uma batucada afrobrasileira no palco do Teatro do Bourbon Country. O VJ Gabiru derrapa seus discos com imagens psicodélicas nacionalistas, estampadas no telão acima dos músicos. Logo, Paulo Moura e Armandinho, dois dos maiores instrumentistas brasileiros, se unem ao grupo para realizar um espetáculo de sincronismo e perfeição musical. Era o encontro de homenagem um dos mais importantes nomes da Bossa Nova: Tom Jobim. O clarinetista Paulo Moura, 75 anos, e o bandolinista e guitarrista Armandinho, 55, esbanjavam talento, no Teatro do Bourbon. Em 2008, quando o gênero Bossa Nova completa 50 anos, não faltam homenagens, tributos, mixagens, releituras para lembrar e reverenciar as velhas canções brasileiras. No espetáculo Afro Bossa Nova – Homenagem a Tom Jobim, dia 12 de junho, comandado pelo paulista Paulo Moura e seu amigo baiano Armandinho, o objetivo era difundir a música instrumental brasileira. “Estamos fazendo esse show com muito amor”, diz Moura, conquistando a platéia gaúcha, mesmo com o “microfone oficial” ao lado, nas mãos do roadie (assistente de palco), devido a um pequeno problema técnico. Uma mulher solta um comovido “oh, que bonitinho!” ao ouvir o comentário. Tanto amor faz referência à data do show, Dia dos Namorados. Paulo Moura, por telefone, falou de sua experiência de tocar para os gaúchos: “Foi muito bom, apesar dos problemas técnicos de som, em termos de público, foi caloroso e entusiasmante”. Acrescentou humilde: “Fiz o melhor que pude”. O show contou com a abertura do compositor e instrumentista Geraldo Flach e seu grupo, também muito aplaudido na apresentação. Após tocar música de Tom Jobim, Flack confessou seu amor pela música nacional: “Nessas horas, como é bom ser brasileiro”. Já no palco, os músicos do Afro Bossa Nova trouxeram a Porto Alegre releituras de clássicos como “Águas de Março”, “Chovendo na Roseira” e “Chega de Saudade”. Encantaram a platéia do teatro quase lotado, coisa rara em apresentação só instrumental. Foram feitas versões autênticas que misturavam, em poucos minutos, elementos de samba, jazz, ritmos regionalistas e, claro, muita Bossa Nova. Teve até rock, quando Armandinho largou seu principal instrumento na apresentação, um bambolim, para empunhar uma guitarra baiana, que pelo tamanho mais se parece com um cavaquinho. Ele solava furiosamente “Garota de Ipanema”, com timbres fortes, arrancando gritos, assobios e aplausos do público. O projeto Afro Bossa Nova está na ativa desde 2005, e já percorreu diversos países do mundo, sempre elogiado pela mídia. Anteriormente, participavam do show os músicos Yamandú Costa, violonista gaúcho e um dos melhores do Brasil, e o renomado percussionista Marcos Suzano. Agora, mesmo sem esses grandes nomes, o espetáculo não perdeu seu valor, conquistando mais espaço nos meios de comunicação. A turnê pelo Brasil que percorreu 16 cidades, com shows gratuitos, é uma realização do grupo Votorantin. No dia 15 de junho, o grupo calou seus instrumentos por um tempo, pelo menos em terras brasileiras, em uma última apresentação emocionante no Rio de Janeiro, terra natal da Bossa. Mas, os fãs e admiradores do projeto não precisam desanimar. Eles vão lançar CD no segundo semestre desse ano com músicas captadas de suas apresentações, e ainda irão partir para nova turnê. Do sambódromo para a sala de aula. Alegorias, fantasias e samba de enredo foram algumas das disciplinas do curso de Gestão em Carnaval, realizado de 5 de maio a 20 de junho, na Associação das Entidades Carnavalescas de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Além dos quesitos conhecidos por quem prestigia o Carnaval, os participantes tiveram aulas de marketing, sociologia, imprensa e empreendedorismo. As aulas foram de segunda a sexta-feira e o curso teve duração de 120 horasaula. Todas as 40 vagas oferecidas foram preenchidas. O trabalho de conclusão foi apresentado em 20 de junho por grupos de cinco alunos e consistia na montagem de um desfile. O carnavalesco Álvaro Machado, que passou pelas escolas de samba União da Vila do IAPI, Imperatriz Dona Leopoldina, Imperadores do Samba e Bambas da Orgia, onde se sagrou campeão do carnaval em 2002, é o idealizador do projeto. Pela primeira vez, o Carnaval foi visto de uma forma acadêmica. “O curso permite uma visão mais interna do evento, discutindo aspectos administrativos, de gestão, orçamento e questões ligadas à estrutura do desfile, buscando criar uma visão crítica e mais detalhada de cada quesito a ser julgado”. Sobre o Carnaval feito na Capital gaúcha, Machado tem uma visão bem definida. “O carnaval de Porto Alegre está numa encruzilhada. Precisa decidir se cresce e realmente se transforma em um grande evento, ou se fica enclausurado no Porto Seco, sem demonstrar avanços e sem conseguir mobilizar nem mesmo sua comunidade. Já percebemos mudanças positivas na organização pré-carnaval, mas ainda temos muito que melhorar”. O fotógrafo do Diário Gaúcho, Luiz Armando Vaz, foi um dos que participou da tentativa pioneira de conceder ao espetáculo da passarela do samba um tratamento mais profissional e melhor capacitado do ponto de vista administrativo. Vaz, que há 30 anos registra em suas lentes o Carnaval de Porto Alegre, decidiu fazer o curso por acreditar na nova postura.“Este curso é importante em nome do Carnaval, da cultura e da educação. É sempre válido trocar conhecimento e as pessoas que participaram também serão vistas de uma outra maneira”, declarou. Outro participante do curso foi o radialista Elias da Costa, que há três anos faz cobertura do Carnaval. “O curso foi uma ótima experiência para os carnavalescos se aperfeiçoarem e discutirem as questões das escolas de samba. O interessante é que, além dos professores muitos qualificados (das Faculdades Integradas de Taquara), os alunos são muitos entendidos no assunto. Espero não parar neste primeiro curso e que outros seja realizados para o bem do nosso Carnaval”. A idéia não era formar mão-de-obra para o evento, mas discutir aspectos importantes de cada elemento, criando um olhar mais aguçado dos detalhes. O novo presidente da Associação das Entidades Carnavalescas Antônio Ademir Moraes, o Urso, que em fevereiro levantou o caneco no comando da Escola Império da Zona Norte (atual campeã de Porto Alegre), também aprovou a iniciativa. “Este curso é um divisor de águas, porque não está preparando mestre-sala, porta-bandeira ou carnavalescos, mas gestores, necessários para melhorar o evento. Após este curso, todas as escolas deverão tomar um outro rumo.” Luiz Armando Vaz/ Especial Trabalho final do curso consiste em montar um desfile carnavalesco 12 ponto final Por Greta Mello A imagem que a maioria dos brasileiros faz de como foi rezada a primeira missa no Brasil, no descobrimento em 1500, é do quadro que está exposto no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) até 27 de julho. O quadro A Primeira Missa no Brasil, uma obra do pintor Victor Meirelles, emociona por simbolizar um evento singular na história do Brasil. Baseada na carta de Pero Vaz de Caminha a Dom Manuel, rei de Portugal, a obra foi encomendada por Manuel de Araújo Porto-Alegre, primeiro e único barão de Santo Ângelo, ao pintor catarinense em 1858. A tela pertence ao Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (MNBA) e percorre o País, visando oportunizar o contato dos brasileiros com essa representação da história. A exposição é dividida em três segmentos: Histórico, Restauração e Vídeo. No primeiro, pode-se conhecer um pouco sobre o pintor, que viveu de 1823 a 1903, além de estudos que Meirelles usou na obra, como desenhos de armas, obras de estado e franciscanos. A Primeira Missa no Brasil foi pintada de 1858 a 1861 – completando 147 anos em 2008 – na França, onde Meirelles estudava na Escola Superior de Belas Artes de Paris. Com grandes dimensões, o quadro exigiu a retirada das portas para entrar no Margs. Só a tela tem 2,70 x 3,57 metros. Mais as molduras, chega a 3,35 metros de altura por 4,22 de comprimento, quando a porta central aberta atinge a um vão de apenas 2,90m. As folhas de madeira tiveram ser deslocadas e a caixa onde a obra estava condicionada foi aberta em plena Praça da Alfândega. A operação durou mais de uma hora e foi organizada por técnicos do Margs e do MNBA, até que a tela entrou no prédio. Há dois módulos que mostram detalhadamente como foi feita a remontagem da obra para a exposição no Margs – a terceira que o quadro passa na sua turnê pelo País. Foram feitos diversos Porto Alegre, junho-julho 2008 A tela que criou o imaginário da Primeira Missa A obra de Victor Meirelles ocupa espaço nobre no MARGS e na arte brasileira Vinícius Carvalho/Hiper hipertexto ‘exames’, como a fotografia sob radiação infravermelha, que possibilita determinar a natureza de algumas das cores, revelar a existência de desenhos subjacentes, arrependimentos e outras modificações aposta à obra pelo pintor, assim como a extensão de eventuais alterações ou restaurações que a pintura possa ter sofrido. A obra também foi exposta à fotografia sob radiação ultravioleta, que fornece informações sobre o estado de conservação da superfície da pintura, examinada a camada de verniz e sua homogeneidade, detecta as zonas de restauração ou de retoques antigos ou recentes. Para recuperação estrutural, foi feito o reforço da tela original que já não conseguia suportar o peso e as tensões da pintura. Depois de protegida pela adesão de uma camada de papel japonês sobre ela, foi então despregada do chassi de madeira e deitada sobre uma cama preparada no chão para que se pudesse remover o antigo reentelamento à cola. Com a remoção terminada, rasgos e perda de suporte suturados e enxertados, a obra foi estirada com bandas de papel de fibra curta e alta retração para planificar os abaulamentos causados pela falta de tensão do reentelamento antigo e na tentativa de se minorar o encolhimento da tela. A inexistência de equipamentos específicos para restauração no mercado obrigou os especialistas a buscar e adequar equipamentos de outras áreas e até criar alguns que suprissem as necessidades. No caso de obras de maiores dimensões, as exigências do processo de restauração são agravadas pela dificuldade do processo e as tensões envolvidas, como as sofridas pelos chassis quando da esticagem da tela, o peso resultante, entre outros. Foram criadas uma plataforma, caixa de lâmpadas, escada de trabalho e um cavalete específicos para a restauração. Enfim, A Primeira Missa estava pronta para percorrer o Brasil. A tela confirma a semiótica histórica e religiosa do ritual católico na Nova Terra. Foi essa pintura que construiu o imaginário popular. a Exposição o autor O quadro a Primeira Missa no Brasil fica exposto no Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega, S/N) até o dia 27 de julho deste ano. A visitação pode ser feita de terça a domingo, das 10 às 19h. O ingresso é um quilo de alimento não-perecível ou um agasalho. Ocorrem mostras paralelas de Glauco Rodrigues e Manuel de Araújo Porto Alegre Vitor Meirelles de Lima (Florianópolis, 1832 — Rio de Janeiro 1903). Ligado ao neoclassicismo Brasileiro, foi para a Europa aos 21 anos e estudou desenho e pintura em Paris, Roma e Florença. Oito anos depois, retornou ao Brasil e foi condecorado, por D. Pedro II, com o grau de cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo. Pintado em 1861, o quadro retrata a missa celebrada pelo frade Henrique de Coimbra em 26 de abril de 1500