UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE MESTRADO PROFISSIONAL EM CONTROLADORIA TATIANA MÁRCIA DE SABÓIA SANTOS A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA FORTALEZA 2008 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 1 TATIANA MÁRCIA DE SABÓIA SANTOS A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA Dissertação apresentada à Coordenação do Curso de Mestrado Profissional em Controladoria da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Controladoria. Orientador: Prof. Dr. Augusto Cézar de Aquino Cabral. FORTALEZA 2008 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 2 S239i Santos, Tatiana Márcia de Sabóia A Institucionalização da Responsabilidade Social Corporativa em Distribuidoras de Energia Elétrica/ Tatiana Márcia de Sabóia Santos. – Fortaleza: UFC/ FEAAC, 2008. 231 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Coordenação do Curso de Mestrado Profissional em Controladoria – MPC. 1 Responsabilidade Social Coorporativa. 2 Abordagem Institucional. 3. O Setor de Energia Elétrica no Brasil. I. Título. CDD: 658.408 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 3 TATIANA MÁRCIA DE SABÓIA SANTOS A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Mestrado Profissional em Controladoria, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Controladoria, outorgado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e encontrase à disposição dos interessados na Biblioteca da referida Universidade. A citação de qualquer trecho desta dissertação é permitida, desde que feita de acordo com as normas de ética científica. Aprovada em: ____/_____/_____ BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Prof. Dr. Augusto Cézar de Aquino Cabral (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) _____________________________________________ Profa. Dra. Maria Naiula Monteiro Pessoa Universidade Federal do Ceará (UFC) _____________________________________________ Profa. Dra. Cláudia Buhamra Abreu Romero Universidade Federal do Ceará (UFC) PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 4 Dedico este trabalho acima de tudo a DEUS, meu refúgio e minha fortaleza e a quem confio todos os momentos da minha vida. À minha mãe, fonte de conhecimento, de confiança e de apoio, pelo amor incondicional dedicado aos filhos e por sempre acreditar em mim, ensinando-me a ser humilde e a ter coragem para enfrentar as adversidades da vida. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 5 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Augusto Cézar de Aquino Cabral, pela presteza, dedicação e atenção dispensada para a concretização deste trabalho. À Profª Cláudia Buhamra e à Profª Naiula Monteiro, integrantes da minha Banca examinadora, que contribuíram com orientações e sugestões de grande valia para a continuidade da pesquisa. Aos meus familiares que sempre torcem por mim, apóiam-me e que são fundamentais e prioritários em tudo na minha vida. Às minhas grandes amigas Débora Pinho, Márcia Sampaio, Izângela Duarte e Larissa Alencar, pela atenção e disponibilidade em ajudar-me no desenvolvimento deste trabalho. Aos meus amigos Alessandra Varela, Fernando Barros e Neurisangelo Cavalcante, pela compreensão e apoio nos momentos mais difíceis do mestrado. Às minhas primas Danielle Sabóia e Janaína Sabóia, pelo estímulo. Às minhas amigas Claudiana Marques e Joelma Soares, por todos os gestos de amizade. Ao meu amigo Márcio Roberto pela força e incentivo. Aos representantes das empresas participantes na pesquisa, pelo interesse, cordialidade e profissionalismo. Agradecimentos especiais para: Alexandre Nobre, Débora Rodrigues, Juliana Marinho e Wellington Gomes. A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta conquista. A todos, muito obrigada. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 6 RESUMO Adotando-se como base a Teoria Institucional, com destaque para o processo de institucionalização proposto por Tolbert e Zucker, este trabalho tem como objetivo geral investigar o processo de institucionalização da responsabilidade social em distribuidoras de energia elétrica, a partir do estudo do tema nas empresas do Ceará e na Bahia. Considerando o objetivo deste estudo, a pesquisa é do tipo exploratóriadescritiva. Utilizou-se os métodos de pesquisa direta e indireta, fundamentando-se em pesquisa bibliográfica e documental, do setor de distribuição de energia elétrica no Brasil. Além disso, utilizou-se a técnica de estudo multicaso, na Companhia Energética do Ceará (COELCE) e na Companhia de Eletricidade da Bahia (COELBA), com a realização de entrevistas e aplicação de questionários aos atores envolvidos no processo de institucionalização da RSC nestas empresas. Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é do tipo qualitativo e quanto ao método de procedimento para estudo do objeto utilizou-se o método monográfico. A análise dos dados realizou-se por meio de uma análise de conteúdo e documental. Os resultados da pesquisa apontam que, dentre as etapas do processo de institucionalização propostas por Tolbert e Zucker (1999), as empresas estudadas encontram-se no estágio de sedimentação da RSC, e esta decorre dos impactos positivos observados, da resistência de grupos opositores, bem como da defesa de grupos de interesse. Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa, Distribuidoras de Energia Elétrica, Institucionalização. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 7 ABSTRACT Using the institutional theory as a base, more specifically the process of institutionalization proposed by Tobert and Zucker, this work has as a general objective the investigation of the process of institutionalization of the social responsibility in distributors of electricity, beginning with the study of the electric companies in the states of Ceara and Bahia. Considering the objective of this study, the research is exploratory-descriptive. Direct and indirect methods of research were used with a foundation in bibliographical and documentary research of the division of distribution of electricity in Brazil. Besides this, multi-case studies were used in studying COELCE (Companhia Energética do Ceará) and COELBA (Companhia de Eletricidade da Bahia) using interviews and questionnaires of those involved in the process of institutionalizing the RSC of these companies. In approaching the problem, the research was qualitative, and the method of studying the object was monographic. The analysis of the data was done by analyzing the content and documentation. The results of the study show that, within the stages of the process of institutionalization proposed by Tobert and Zucker (1999), both companies were in the phase of sedimentation of RSC, which passes the positive impacts observed, the resistance of opposing groups, as well as in defense of the interested groups. Key words: corporate institutionalization. PDF Creator - PDF4Free v2.0 social responsibility, distributors of electricity http://www.pdf4free.com and 8 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - O Modelo da Teoria dos Stakeholders..................................................... 38 FIGURA 2 - Tripé da sustentabilidade empresarial..................................................... 43 FIGURA 3 - Áreas de abrangência dos Princípios do Pacto Global............................ 51 FIGURA 4 - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)................................... 53 FIGURA 5 - Três elementos na institucionalização de práticas sociais....................... 82 FIGURA 6 - Elementos na institucionalização em um campo organizacional 83 específico.................................................................................................. FIGURA 7 - Organograma Geral COELCE.................................................................. 144 FIGURA 8 - Organograma Geral COELBA.................................................................. 146 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 9 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Investimentos da COELCE em Capacitação e Desenvolvimento Profissional no período de 2004 a 2007 em R$ Mil........................... 156 Investimentos da COELCE em Educação no período de 2004 a 2007 em R$ Mil................................................................................. 156 Investimentos da COELCE em Segurança e Saúde no Trabalho no período de 2004 a 2007 em R$ Mil................................................... 157 Investimentos da COELCE em Meio Ambiente no período de 2004 a 2007 em R$ Mil.............................................................................. 160 Fatores que contribuíram para o engajamento da COELCE na Responsabilidade Social por média de relevância............................ 162 Fatores que contribuíram para a sistematização das práticas de RSC na COELCE por média de relevância....................................... 163 Consenso entre os decisores-chave da COELCE em questões relativas à responsabilidade social.................................................... 164 GRÁFICO 8 - Controle e monitoramento das ações de RSC na COELCE............. 165 GRÁFICO 9 - Ações de disseminação e sistematização da RSC na COELCE...... 166 GRÁFICO 10 - Mudanças ocorridas nos últimos 5 (cinco) anos na COELCE com a adoção das práticas de RSC............................................................. 167 Monitoramento e avaliação das questões relativas a RSC na COELCE............................................................................................ 168 GRÁFICO 12 - Políticas e ações de RSC da COELCE............................................. 169 GRÁFICO 13 - Resultados percebidos na COELCE quanto aos objetivos da RSC.. 170 GRÁFICO 14 - Investimentos da COELBA em Capacitação e Desenvolvimento Profissional no período de 2004 a 2007 em R$ Mil........................... 176 Investimentos da COELBA em Educação no período de 2004 a 2007 em R$ Mil................................................................................. 176 Investimentos da COELBA em Programas de Benefícios no período de 2004 a 2007 em R$ Mil................................................... 177 Investimentos da COELBA em Segurança e Saúde no Trabalho no período de 2004 a 2007 em R$ Mil................................................... 177 Investimentos da COELBA em Meio Ambiente no período de 2004 a 2007 em R$ Mil.............................................................................. 179 GRÁFICO 2 GRÁFICO 3 GRÁFICO 4 GRÁFICO 5 GRÁFICO 6 GRÁFICO 7 - GRÁFICO 11- GRÁFICO 15 GRÁFICO 16 GRÁFICO 17 GRÁFICO 18 - PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 10 GRÁFICO 19 - Fatores que contribuíram para o engajamento da COELBA na RSC, por ordem de relevância......................................................... 181 Fatores que contribuíram para a sistematização das práticas de RSC na COELBA, por ordem de relevância.................................... 182 Consenso entre os decisores-chave da COELBA em relação às questões relativas à responsabilidade social.................................... 183 GRÁFICO 22 - Controle e monitoramento das ações de RSC na COELBA............. 184 GRÁFICO 23 - Ações de disseminação e sistematização da RSC na COELBA....... 185 GRÁFICO 24 - Mudanças ocorridas nos últimos 5 (cinco) anos na COELBA com a adoção das práticas de RSC............................................................. 186 Monitoramento e avaliação de questões relativas à RSC na COELBA............................................................................................ 187 GRÁFICO 26 - Políticas e ações de RSC da COELBA............................................. 188 GRÁFICO 27 - Resultados percebidos quanto aos objetivos da RSC na COELBA.. 189 GRÁFICO 20 GRÁFICO 21 - GRÁFICO 25 - PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 11 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - A Responsabilidade Social no Brasil.................................................. 30 QUADRO 2 - Diferenças entre filantropia e responsabilidade social....................... 35 QUADRO 3 - Classificação dos stakeholders, conforme Freeman.......................... 40 QUADRO 4 - Diferenças entre filantropia, responsabilidade social e 45 desenvolvimento sustentável.............................................................. QUADRO 5 - Etapas do processo de institucionalização......................................... 73 QUADRO 6 - Fatores constitutivos de institucionalização........................................ 79 QUADRO 7 - Associação entre o processo de institucionalização da RSC na visão de Tolbert e Zucker e na visão dos stakeholders...................... 80 QUADRO 8 - Mecanismos isomórficos.................................................................... 89 QUADRO 9 - Três Mecanismos para a adaptação institucional............................... 91 QUADRO 10 - Principais mudanças entre os modelos pré-existentes e o modelo atual no setor elétrico brasileiro.......................................................... 113 QUADRO 11 - Distribuidoras de energia elétrica que receberam o direito de utilizar o Selo Balanço Social – IBASE no período de 2004 a 2007.............. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 135 12 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABCE Associação Brasileira de Concessionária de Energia Elétrica ABRADEE Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica ABRASCA Associação Brasileira das Companhias Abertas ACL Ambiente de Contratação Livre ACR Ambiente de Contratação Regulada AGDE Agentes de Geração e de Distribuição de Energia Elétrica ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica BNDE, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico CCEE Câmara de Comercialização de Energia Elétrica CCON Comitê Coordenador de Oepração no Norte/Nordeste CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável CEEB Companhia de Energia Elétrica da Bahia CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais CEPEL Centro de Pesquisa de Energia Elétrica CERC Companhia Elétrica Rio de Contas CERES Coalition for Environmentally Responsible Economies CERJ Companhia de Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro CESP Companhia Energética de São Paulo CGE Câmera de Crise de Energia Elétrica CGSE Câmera de Gestão do Setor Elétrico CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco CMSE Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico CNAE Conselho Nacional de Águas e Energia CNPE Conselho Nacional de Política Energética CNUMAD Conferência das Desenvolvimento CODI Comitê de Distribuição de Região Sul - Suldeste PDF Creator - PDF4Free v2.0 Nações Unidas sobre Meio Ambiente http://www.pdf4free.com e 13 COELBA Companhia de Eletricidade da Bahia COELCE Companhia Energética do Ceará COMASE Comitê Coordenador das Atividades de Meio Ambiente do Setor Elétrico CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente COPESUL Companhia Petroquímica do Sul COSERN Companhia Energética do Rio Grande do Norte CPFL Companhia Paulista de Força e Luz CPFLCL Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina CVM Comissão de Valores Mobiliários DJSI Dow Jones Sustainability Indexes DNAE Departamento Nacional de Águas e Energia DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileira EPE Empresa de Pesquisa Energética ESCELSA Espírito Santo Centrais Elétricas S.A FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas FND Fundo Nacional de Desestatização GCPS Grupo Coordenador de Planejamento dos Sistemas Elétricos GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas GRI Global Reporting Initiative IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IDIS Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial ISP Investimento Social Privado MAE Mercado Atacadista de Energia MCSPE Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica MME Ministério de Minas e Energia PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 14 NIE Nova Economia Institucional ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico ONU Organização das Nações Unidas P&D Programa de Pesquisa e Desenvolvimento PDEE Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica PEE Programas de Eficiência Energética PND Programa Nacional de Desestatização PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica RAP Receita Anual Permitida REVISE Revisão Institucional de Energia Elétrica RSC Responsabilidade Social Corporativa SAI Social Accountability International SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente UM United Nations UNCED Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento WBCSD World Business Council for Sustainable Development PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 15 SUMÁRIO RESUMO.......................................................................................................... 6 LISTA DE FIGURAS........................................................................................ 8 LISTA DE GRÁFICOS...................................................................................... 9 LISTA DE QUADROS...................................................................................... 11 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS.......................................................... 12 1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 18 2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA................................ 27 2.1 Evolução histórica da responsabilidade social no mundo e no Brasil.................................................................................................. 28 2.2 Conceitos de responsabilidade social............................................... 31 2.2.1 3 Responsabilidade social x filantropia................................... 34 2.3 A teoria dos stakeholders e as ações de responsabilidade social.... 37 2.4 O desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social corporativa......................................................................................... 42 2.5 Organizações e provas da responsabilidade social corporativa........ 46 2.5.1 Global Reporting Initiative (GRI).......................................... 47 2.5.2 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (ETHOS)............................................................................... 48 2.5.3 Instituto brasileiro de análises sociais e econômicas (IBASE)................................................................................ 49 2.5.4 Pacto global (Global compact)............................................. 51 2.5.5 Objetivos de desenvolvimento do milênio (ODM)................ 52 2.5.6 Índices de Sustentabilidade................................................. 53 2.5.7 Balanço social...................................................................... 55 ABORDAGEM INSTITUCIONAL.............................................................. 58 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 16 3.1 Análise institucional: aspectos da teoria institucional........................ 3.1.1 Nova teoria institucional/neoinstitucionalismo...................... 3.1.1.1 4 5 59 61 Correntes neoinstitucionalistas identificadas por Hall e Taylor......................................................... 63 3.1.2 A visão de Douglass North sobre a nova economia institucional (NIE)................................................................. 66 3.1.3 Definições acerca de instituições......................................... 69 3.2 A incorporação de práticas sociais nas organizações através do processo de institucionalização......................................................... 72 3.2.1 O processo de institucionalização e o modelo de Tolbert e Zucker.................................................................................... 75 3.2.2 Dinâmica da institucionalização de práticas sociais............... 81 3.3 Isomorfismo institucional.................................................................... 84 3.3.1 Ambiente institucional x isomorfismo institucional................. 85 3.3.2 Os processos isomórficos, normativos, coercitivos e miméticos............................................................................... 87 O SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL.................................... 92 4.1 Histórico do setor elétrico no Brasil................................................... 93 4.2 Segmentos de atividades do setor elétrico........................................ 102 4.3 As privatizações e os seus reflexos na dinâmica organizacional da empresas do setor elétrico................................................................ 106 4.4 Responsabilidade social no setor elétrico......................................... 114 4.4.1 Indicadores de responsabilidade social no setor elétrico....... 116 4.4.2 A institucionalização da responsabilidade social no segmento de distribuição....................................................... 119 METODOLOGIA........................................................................................ 125 5.1 Tipologia da Pesquisa....................................................................... 127 5.2 Variáveis de análise do estudo.......................................................... 131 5.2.1 Amostra e critérios de seleção............................................... 134 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 17 6 5.3 Instrumentos de coleta de dados....................................................... 137 5.4 Técnicas de análise de dados........................................................... 139 A institucionalização da RSC: estudo multicaso nas distribuidoras de energia elétrica do Ceará e da Bahia................................................ 141 6.1 Caracterização das Companhias COELCE e COELBA.................... 141 6.2 Processo de institucionalização da RSC nas distribuidoras de energia elétrica do Ceará e da Bahia................................................ 147 6.2.1 Processo de institucionalização da RSC na COELCE........... 148 6.2.1.1 Justificação para a inserção da COELCE no movimento pela RSC.............................................. 150 6.2.1.2 Análise dos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade da COELCE................................ 153 6.2.1.3 Processo de institucionalização da RSC na COELCE sob a ótica de Tolbert e Zucker............... 161 6.2.2 Processo de institucionalização da RSC na COELBA........... 171 6.2.2.1 Justificação para a inserção da COELBA no movimento pela RSC.............................................. 172 6.2.2.2 Análise dos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade da COELBA................................. 174 6.2.2.3 Processo de institucionalização da RSC na COELBA sob a ótica de Tolbert e Zucker............... 180 6.3 Provas que categorizam práticas socialmente responsáveis na COELCE e na COELBA.................................................................... 190 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.......................................................... 192 REFERÊNCIAS................................................................................................ 199 APÊNDICES..................................................................................................... 210 ANEXOS........................................................................................................... 215 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 18 1 INTRODUÇÃO A evolução das tecnologias de informação e comunicação e a queda das barreiras comerciais têm ampliado as transformações que vêm ocorrendo na ordem política e econômica mundial nas últimas décadas. Um ponto relevante nestas mudanças é a crescente integração dos mercados em uma “aldeia-global”, em especial na perspectiva financeira, explorada pelas grandes corporações internacionais. É a chamada "terceira revolução tecnológica" com o processamento, difusão e transmissão de informações, que ao longo do século XX, conduziu à globalização do capital e da informação e de padrões culturais, inclusive em relação ao consumo. Para atender às exigências trazidas pela globalização, as organizações têm alterado sua estratégia e estrutura, de tal modo que, além de tornarem-se mais competitivas, devem atender às exigências de seus múltiplos stakeholders. Com isso, as organizações interferem cada dia mais no ambiente social, cultural e ambiental das regiões onde estão inseridas. Como ressalta Kraemer (2004), o ambiente organizacional desempenha um papel importante na garantia de preservação do meio ambiente e na definição da qualidade de vida das comunidades. As empresas socialmente responsáveis, além de gerarem valor para quem está próximo, conquistam resultados melhores para si próprias. Nesse contexto, os administradores vêem-se obrigados a preocupar-se não somente com a gestão dos negócios e com a geração de lucros para seus proprietários, mas com as pessoas e com o meio em que interagem, tendo em vista que o desenvolvimento econômico, sem um compromisso com o desenvolvimento social, provoca exclusão e impactos ambientais que podem atingir essa geração e as futuras. A sustentabilidade torna-se, então, fator determinante. O desenvolvimento sustentável depende não apenas de políticas públicas, pois o governo individualmente não tem condição de resolver a complexa situação social na qual o país está inserido, ou seja, não consegue promover o bem- PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 19 estar da cidadania e cumprir objetivos considerados essenciais (BRAGA, 2007). Deste modo, depende, também, de uma rede de atores, nas esferas social, ambiental, política e econômica. Em decorrência disso, surge a necessidade de parcerias entre a sociedade e as empresas, sendo as últimas imprescindíveis nesse processo. Em primeiro lugar, porque possuem recursos financeiros e, em segundo lugar, porque podem transferir capital social de forma mais eficaz que o governo, por estarem culturalmente habituadas a trabalhar com metas e resultados (BRAGA, 2007). Ações de responsabilidade social, mais do que atitudes éticas, tornaramse uma indispensável fonte de vantagem competitiva. Dessa forma, as discussões acerca desse tema expandiram-se para o mercado por meio da adoção e evidenciação de ferramentas de gestão, como o modelo de Balanço Social, o Selo IBASE e os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, que tendem a gerar um impacto significativo na avaliação das empresas no mercado de capitais. Como toda organização está inserida em um dado contexto social e ambiental, a realização de suas atividades econômicas e a prestação dos seus serviços acabam provocando mudanças sociais, culturais, ambientais e econômicas nos ambientes em que estão inseridas. Dessa maneira, deve ser estabelecida uma relação de transparência com as partes envolvidas nesse processo de transformação do ambiente. Neste contexto, inserem-se, também, as empresas distribuidoras de energia elétrica que desempenham um papel estratégico no desenvolvimento socioeconômico do país. Em grande medida, incentivadas pelas fortes transformações por que têm passado desde o início da década de 1990, principalmente com as privatizações viabilizadas pela Lei nº 8.031/90 que instituiu o Programa Nacional de Desestatização (PND) e criou o Fundo Nacional de Desestatização (FND) (ELETROBRÁS, 2008), estas empresas têm assumido uma postura mais ativa em relação à sua responsabilidade social. Em relação ao setor, ressalta-se que a energia elétrica tem operacionalmente quatro tipos de atividades: geração, transmissão, distribuição e comercialização. A atividade de distribuição é a que se encontra mais próxima da PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 20 comunidade, sendo essencial para a vida humana, tendo os seus efeitos sentidos de forma permanente e fazendo parte da força motriz do desenvolvimento econômico. Atualmente, existem 64 distribuidoras de energia elétrica, estatais ou privadas, que operam em um ambiente regulado, com área de atuação e período de vigência definidos em contrato de concessão firmado com o Estado. Essas distribuidoras de energia elétrica realizam atividades de prestação de serviço público essenciais à sociedade em geral (ANEEL, 2008). Diante da relevância da questão energética para o desenvolvimento neste século, entende-se que as distribuidoras de energia no Brasil podem ser grandes fomentadoras da sustentabilidade, tendo em vista que os aspectos econômicos, sociais e ambientais estão diretamente vinculados ao uso da energia elétrica. Sendo assim, torna-se relevante o desenvolvimento de estudos como este neste campo, com foco na responsabilidade social corporativa (RSC). Adicionalmente, a seleção de um estudo ambientado no setor elétrico brasileiro deveu-se ao fato de que a atividade de distribuição de energia elétrica é uma atividade em que as concessionárias e permissionárias prestam serviços públicos abrangentes em todo o país, que promovem o desenvolvimento social e econômico e ainda possuem características fundamentais, como a universalidade e a essencialidade. Conforme ANEEL (2008), são atendidos cerca de 47 milhões de unidades consumidoras, das quais 85% são consumidores residenciais, em mais de 99% dos municípios brasileiros. Neste estudo, busca-se compreender de que modo tem ocorrido a inserção das distribuidoras de energia elétrica no movimento da responsabilidade social corporativa. Em especial, busca-se investigar de que modo as ações de responsabilidade social intensificam-se ao longo do tempo, tornando-se estruturadas e sistematizadas, de modo a serem incorporadas à estratégia organizacional. Ou seja, busca-se compreender o processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa. De acordo com Tolbert e Zucker (1999), institucionalização refere-se ao processo gradual que transforma crenças, valores e ações em regras de conduta social, amplamente compartilhadas por mecanismos de aceitação e reprodução. No PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 21 campo dos estudos organizacionais, este processo é estudado pela teoria institucional que, conforme Machado-da-Silva e Gonçalves (1999, p. 220), consiste [...] no resultado da convergência de influências de corpos teóricos originários da ciência política, da sociologia e da economia, que buscam incorporar em suas proposições a idéia de instituições e de padrões, de comportamento, de normas de valores, de crenças e de pressupostos, nos quais se encontram imersos indivíduos, grupos e organizações. A teoria institucional busca o entendimento da eficácia das relações que compõem um determinado campo organizacional, constituído por uma rede de organizações que, consciente ou inconscientemente, compartilham um contexto de formação, interesses, valores e problemas, existindo uma linguagem comum e códigos próprios, incluindo organizações especializadas que limitam, regulam, organizam e representam o próprio campo (DIMAGGIO; POWELL, 1991). Portanto, conhecer quem são os atores e quais são suas forças e interesses é relevante para a análise. A partir daí, busca-se avaliar como os atores sociais institucionalizam as crenças, valores e as práticas que, de alguma forma, influenciam suas decisões nas organizações individualmente e no campo como um todo. Na institucionalização da responsabilidade social corporativa, as ações são justificadas em termos do bem comum, corroborando-se via provas e arranjos estruturais e, ao mesmo tempo, atendendo a interesses inerentes ao setor. Neste contexto, baseado na importância que o tema invoca, investigou-se a construção do fenômeno da RSC, ou seja, como ele foi eleito, justificado e operacionalizado nas empresas estudadas, identificando-se, dentre outros aspectos, o estágio de institucionalização em cada uma delas. Para isso, recorreu-se à teoria institucional, bem como aos mecanismos intrínsecos às instituições, que interagem para a concretização das regras impostas. Nessa visão, a relevância desta pesquisa consiste na evidenciação das práticas por meio das quais as ações de RSC tornam-se institucionalizadas, no âmbito das distribuidoras de energia elétrica dos estados do Ceará e da Bahia, em função da crescente necessidade destas empresas em atenderem às demandas de seus múltiplos stakeholders. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 22 Considerando-se os aspectos da RSC referentes ao público externo, ressalta-se que o comprometimento das empresas em foco com o bem-estar das comunidades a que atendem exerce uma função social crítica, em especial devido aos índices de pobreza e de concentração de renda que marcam a região do país em que essas organizações estão situadas. Ademais, há relativamente poucos estudos enfocando a Responsabilidade Social Corporativa sob a perspectiva da abordagem institucional. Logo, este estudo contribuirá para ampliar esta compreensão. Nesse contexto, o problema a ser investigado neste trabalho é: De que modo tem ocorrido o processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa em distribuidoras de energia elétrica? Apresentando como campo de investigação as distribuidoras de energia elétrica situadas na região Nordeste do Brasil, nos estados do Ceará e da Bahia, esta pesquisa parte do seguinte pressuposto geral: A inserçao das empresas no movimento da responsabilidade social ocorre de forma gradativa, por meio de fases em que predominam diferentes fatores motivadores ou forças. Adicionalmente, considerando-se o campo das empresas distribuidoras de energia elétrica no Brasil, os seguintes pressupostos são levantados: 1) Fatores econômicos e novos arranjos jurídicos, como a privatização e a criação de uma agência reguladora, exerceram fortes impactos sobre o processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa; 2) A atuação de atores como o Instituto Ethos e o IBASE, bem como a efetivação de ações como a implantação do Balanço Social exerceram papel determinante no monitoramento do campo e na disseminação das práticas a serem implementadas como provas no processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa; 3) A sedimentação da responsabilidade social, decorrente dos impactos positivos observados, da resistência de grupos opositores e da defesa de grupos de interesse, resultou na disseminação de novos arranjos estruturais; e PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 23 4) As empresas distribuidoras de energia elétrica encontram-se na fase de sedimentação da responsabilidade social. Partindo da visão acima delineada e visando responder ao problema levantado, o objetivo geral deste estudo é: Investigar o processo de institucionalização da responsabilidade social em distribuidoras de energia elétrica, a partir do estudo do tema nas empresas do Ceará e da Bahia. Como ressaltam Tolbert e Zucker (1999), investigar o processo de institucionalização envolve analisar as “forças causais” que são críticas em diferentes pontos do processo, ou seja, na fase da habitualização, da objetificação e da sedimentação. Dessa maneira, busca-se identificar no campo em foco as medidas tomadas pelos principais atores, bem como suas motivações, no que concerne à responsabilidade social corporativa, para a institucionalização de práticas sociais. Para se cumprir o objetivo geral, foram adotados os seguintes objetivos específicos: 1) Identificar os impactos das privatizações, viabilizadas pela Lei nº 8.031/90, e da criação da Agência Nacional de Energia Elétrica, no processo de institucionalização da responsabilidade social no campo das distribuidoras de energia elétrica; 2) Analisar a atuação de atores-chave e as ações efetivadas (provas), no processo de institucionalização da responsabilidade social no campo das distribuidoras de energia elétrica; 3) Analisar a disseminação dos arranjos estruturais relacionados ao processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa no campo; e 4) Analisar a evolução do processo e o grau atual de institucionalização da responsabilidade social nas distribuidoras em foco. Em termos de metodologia, esta pesquisa é do tipo exploratóriadescritiva. Os procedimentos adotados foram a pesquisa bibliográfica, junto a livros, periódicos, teses, publicações avulsas e os sítios das empresas, a pesquisa documental e a pesquisa de campo, mediante estudo de caso múltiplo. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 24 O estudo de caso múltiplo foi efetivado com pesquisa documental realizada a partir de fontes contemporâneas e documentos como escritos oficiais e publicações administrativas do setor em estudo e, mais especificamente, do segmento de distribuição de energia na região Nordeste, além de Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade elaborados pelas empresas da amostra, que são utilizados para evidenciar a aplicabilidade dos aspectos teóricos abordados na pesquisa bibliográfica. Para complementar a coleta documental e para a análise dos dados acerca do processo de institucionalização das práticas de RSC nas empresas da amostra, realizou-se entrevistas e aplicou-se questionário aos responsáveis pelo referido processo de institucionalização. Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é do tipo qualitativo. Quanto ao procedimento para estudo do objeto, utilizou-se o método monográfico, que se trata de um estudo descritivo e aprofundado de determinado assunto sobre todos os aspectos, descritos e apreciados em seus menores detalhes, visando uma análise em termos micro do assunto. Segundo Lakatos e Marconi (2007, p. 106), os métodos de procedimentos “constituem etapas mais concretas da investigação, com finalidade, mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos menos abstratos”. No desenvolvimento deste trabalho foi utilizado o método dedutivo, que de acordo com Lakatos e Marconi (2007, p. 106) é o “que partindo das teorias e leis, na maioria das vezes, prediz a ocorrência dos fenômenos particulares”. A análise dos dados realizou-se por meio de uma análise de conteúdo, com o uso da técnica de categorização, e documental. O presente trabalho está estruturado em seis capítulos, além das conclusões e recomendações, referências, apêndices e anexos. O primeiro capítulo, composto por esta introdução, apresenta uma visão geral da dissertação, ressaltando o problema e os objetivos da pesquisa, além dos métodos e procedimentos adotados. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 25 O segundo capítulo versa sobre a Responsabilidade Social Corporativa (RSC), abordando a sua evolução histórica no mundo e no Brasil, a diversidade dos conceitos, bem como a diferença entre responsabilidade social e filantropia. Evidencia, também, a teoria dos stakeholders e as ações de responsabilidade social, o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social corporativa, além das provas e arranjos estruturais da responsabilidade social corporativa, demonstradas e legitimadas pelas organizações. O terceiro capítulo trata da abordagem institucional, tendo como foco a Teoria Institucional, o neoinstitucionalismo e as correntes identificadas por Hall e Taylor, a visão de Douglass North sobre a nova economia institucional e outras acepções acerca de instituições. Posteriormente, aborda-se o processo de institucionalização, demonstrando o modelo proposto por Tolbert e Zucker e a dinâmica da institucionalização das práticas sociais. Por fim, discute-se o isomorfismo institucional, ressaltando-se os processos isomórficos, normativos, coercitivos e miméticos. O quarto capítulo contextualiza o setor de energia elétrica no Brasil, apresentando o seu histórico, a segmentação das atividades do setor e os reflexos das privatizações na dinâmica organizacional das empresas. Apresenta, ainda, uma visão genérica sobre a inserção das empresas de distribuição de energia elétrica no movimento da responsabilidade social. O quinto capítulo aborda a metodologia utilizada para a realização da pesquisa: quanto aos objetivos, quanto aos procedimentos de coleta e quanto à abordagem do problema. Apresenta, também, as variáveis de análise do estudo, ressaltando a amostra e os critérios de seleção, a caracterização das empresas e os instrumentos de coleta de dados, assim como as técnicas de análise utilizadas. O sexto capítulo traz o estudo multicaso realizado nas distribuidoras de energia elétrica dos estados do Ceará e da Bahia, apresentando o processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa nestas distribuidoras, bem como os resultados da pesquisa. O capítulo de conclusão apresenta uma síntese do estudo, confrontando os resultados encontrados com os pressupostos inicialmente levantados. Traz, PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 26 também, recomendações para futuras pesquisas acerca do tema. Por fim, seguem as referências utilizadas no decorrer do trabalho, os apêndices e os anexos. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 27 2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA Este capítulo, que trata sobre a Responsabilidade Social Corporativa (RSC), tem como objetivo desenvolver a primeira parte do referencial teórico que serve de base para essa dissertação. O referido tema está subdividido em 05 (cinco) segmentos: Evolução histórica da responsabilidade social no mundo e no Brasil; Conceitos de responsabilidade social; a teoria dos stakeholders e as ações de responsabilidade social; o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social corporativa e; provas e organizações da responsabilidade social corporativa. Nos últimos anos, o tema responsabilidade social corporativa tem, cada vez mais, despertado o interesse das sociedades contemporâneas. As organizações estão adquirindo uma mentalidade de adequação, influenciada por diversos fatores, em relação ao meio em que estão inseridas. Os seus compromissos não se limitam mais aos definidos pela ordem econômica, como os de minimizar os custos e maximizar os lucros. A nova visão de adequação das organizações pressupõe que estas, além de se preocuparem em atender às exigências dos acionistas ou sóciosquotistas, devem preocupar-se também com o futuro das gerações, de maneira que possam proporcionar o bem-estar da sociedade como um todo. Em pouco tempo, as organizações viram-se coagidas a transformarem as suas estratégias de negócio e modelos gerenciais, de forma que pudessem superar os desafios e aproveitar as oportunidades decorrentes da ampliação de seus mercados, do surgimento de novos concorrentes e novas demandas da sociedade. Assim, as empresas estão cada vez mais adquirindo consciência de que devem interagir com o Governo em busca das mudanças na realidade social, cultural e ambiental das localidades onde estão inseridas, pois este, apesar de ser o principal agente responsável pela resolução dos problemas enfrentados pela sociedade, não possui condições de sozinho melhorar a situação atual. Nesse contexto, há a necessidade de explicitar a evolução do pensamento dos estudiosos e da sociedade em geral a respeito do tema até os dias PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 28 atuais, além dos conceitos, buscando associar a idéia de responsabilidade social ao compromisso social de contribuir para o desenvolvimento social. 2.1 Evolução histórica da responsabilidade social no mundo e no Brasil Historicamente, não se pode determinar com precisão quando surgiu a responsabilidade social, contudo vários feitos eram realizados informalmente, podendo ser caracterizados como responsabilidade social. Em 1789, na França, foi promulgada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, por meio da Liga das Nações, sendo atualizada em 1793 e em seguida em 1795. Porém, somente em 1948 foi publicado um texto unificado, através da United Nations (UN), que trouxe grande representatividade e penetração global: a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A partir daí, diversos fenômenos sociais vêm sendo estudados e avaliados por vários estudiosos. Segundo Zarpelon (2006), as primeiras manifestações científicas, no que tange a responsabilidade social, foram realizadas por Charles Eliot, em 1906 e por Arthur Hakley em 1907. De acordo com Toldo et al (2002), em 1919, nos Estados Unidos da América, a questão da responsabilidade corporativa foi questionada e tornou-se de conhecimento público em virtude do julgamento na Justiça americana do caso de Henry Ford, presidente acionista majoritário da Ford Motor Company, e seu grupo de acionistas liderados por John e Horace Dodge, que processaram a Companhia Ford, porque em 1916, Ford comunicou aos demais acionistas que parte dos dividendos não seriam distribuídos, pois seriam reinvestidos para fins de expansão da empresa e diminuição nos preços dos carros. A Suprema Corte de Michigan decidiu a favor de Dodge, justificando que as organizações devem visar o lucro e beneficiar seus acionistas, não podendo usálo para outros fins. Embora o juízo de que a empresa deveria responder apenas aos interesses de seus acionistas tenha vencido, tal idéia foi alvo de muitas críticas por PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 29 vários estudiosos da época, fazendo com que surgissem as ações filantrópicas por parte das organizações, incentivadas pelo Estado. Um marco na área de Responsabilidade Social foi a publicação de Haward Bowen no ano de 1953, nos Estados Unidos, com sua obra intitulada Responsabilities of the Businessman. Este estudo está relacionado a um grande estudo sobre Ética e Vida Econômica Cristã, que foi iniciado em 1949 pelo Conselho Federal das Igrejas de Cristo da América, o que se leva a perceber como o tema responsabilidade social, desde o seu surgimento, traz consigo uma relação com a religião e a fé, um apelo à moral do homem. Nos anos 60, autores europeus discutiam sobre os problemas sociais e ambientais, como a poluição, a remoção de lixos tóxicos e nucleares, bem como suas possíveis soluções. Em 1968 é realizado, na França, o primeiro trabalho de balanço socioeconômico com o título Societés Cooperativés Ouvières. De acordo com Zarpelon (2006), a França foi o primeiro país do mundo a promulgar a lei que obriga as empresas a realizarem balanços periódicos demonstrando o desempenho social. A Responsabilidade Social iniciou sua trajetória sob a roupagem da filantropia, porém na década de 80 consegiu encontrar campo fértil para seu crescimento, tendo em vista que evoluiu de ação beneficente ao patamar de ação estratégica. Nos anos 90, surgiram as primeiras estratégias e modelos sociais empresariais. Baseado nesses estudos precursores na área social, um padrão normativo foi desenvolvido com o objetivo de padronizar o Sistema de Gestão Social, tornando-se oficial nos Estados Unidos em 1997, por meio da Social Accountability International (SAI). Nos últimos anos, nos Estados Unidos e na Europa multiplicaram-se os fundos de investimento formados por ações de empresas socialmente responsáveis. Como exemplo, pode-se citar O Sustainability Index, da Dow Jones, que enfatiza a necessidade de integração dos fatores econômicos, ambientais e sociais nas estratégias de negócios das empresas. Normas e padrões certificáveis relacionados especificamente ao tema da responsabilidade social, como as normas SA8000 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 30 (relações de trabalho) e AA1000 (diálogo com partes interessadas), vêm ganhando crescente aceitação. O histórico da responsabilidade social no Brasil, segundo Toldo et al (2002, p. 77), pode ser evidenciada conforme o Quadro 1. 1960 Constituição da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas- ADCE, com sede em São Paulo, que reconheceu a função social de empresas a ela associadas. Considerado o marco da responsabilidade social no Brasil. 1982 Lançamento do prêmio Eco de Cidadania Empresarial pela Câmara Americana do Comércio de São Paulo. O prêmio é promovido até hoje no país. 1984 Elaboração do primeiro trabalho acadêmico com o título de: Balanço Social: uma abordagem socioeconômica da Contabilidade, do professor João Eduardo Prudêncio Tinoco, que é uma dissertação de mestrado do Departamento de Contabilidade e Atuaria da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo FEA-USP. 1993 Lançamento da Campanha Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, com o intermédio do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e o apoio do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE). Constituiu o marco de aproximação da classe empresarial brasileira com as ações sociais. 1998 Criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, como ponte entre os empresários e as causas sociais no Brasil, a partir de um grupo de empresários liderados por Oded Grajew. Quadro 1 - A Responsabilidade Social no Brasil. Fonte: Adaptado de Toldo et al (2002). O trabalho do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) na promoção do Balanço Social é uma de suas expressões e tem gerado progressiva repercussão. Desde 1998, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, inspirado na instituição norte-americana Business and Social Responsibility, busca disseminar a prática de responsabilidade social corporativa no Brasil orientando as empresas na incorporação de critérios de responsabilidade social de forma progressiva e ajudando-as na implementação de políticas e práticas éticas. Para isso, o Instituto Ethos realizou a criação dos Indicadores Ethos, que ao mesmo tempo em que servem de instrumento de avaliação para as empresas, reforçam a tomada de consciência dos empresários e da sociedade brasileira sobre o tema. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 31 Atualmente, a preocupação das empresas brasileiras com o seu papel e responsabilidade diante das questões sociais e ambientais encontram-se numa tradução dos princípios do Global Compact, iniciativa do Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. Segundo Zarpelon (2006, p. 8), “os conceitos preliminares que permanecem evolutivos relacionados aos aspectos sociais corporativos iniciaram-se quando surgiu a necessidade de adequação das empresas aos interesses da sociedade”. Esse contexto exige das empresas a conquista de níveis cada vez maiores de competitividade e produtividade, e introduz a preocupação crescente com a legitimidade social de sua atuação. 2.2 Conceitos de responsabilidade social As transformações que vêm ocorrendo na economia mundial (ambiente de negócios) têm alterado a estrutura das organizações, de modo que as empresas, além de estarem sendo forçadas a uma maior competitividade e produtividade, devem atender também às exigências da sociedade, que se tornam cada vez mais crescentes. Com isso, as organizações interferem cada dia mais no ambiente social, cultural e ambiental das regiões onde estão inseridas. O conceito de Responsabilidade Social é definido de diversas formas por diferentes autores. Isso transcorre do fato de que o tema da responsabilidade social, embora tenha adquirido importância e destaque no meio empresarial e na academia, ainda é recente, sendo, ainda, um conceito em construção. Para o Instituto Ethos (2007), a Responsabilidade Social vai além da postura legal da empresa, da prática filantrópica ou do apoio à comunidade. Significa mudança de atitude, numa perspectiva de gestão empresarial com foco na qualidade das relações e na geração de valor para todos. Melo Neto e Brennand (2004, p. 7) a definem como “uma atividade favorável ao desenvolvimento sustentável, à qualidade de vida no trabalho e na sociedade, ao respeito às minorias e aos maiores PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 32 necessitados, à igualdade de oportunidade, à justiça comum e ao fomento da cidadania e respeito aos princípios e valores éticos e morais”. Segundo Toldo et al (2002, p. 79), no contexto empresarial, “ser socialmente responsável é prever suas ações e realizá-las da melhor forma possível, antecipando as conseqüências e o alcance de tais ações para o benefício de todos os seus públicos”. Grajew (2000, p. 39-40) sintetiza uma visão particular sobre o conceito de responsabilidade social corporativa: Se você reparar bem, não há nenhum conceito novo quando se pensa em Responsabilidade Social. O que há, na verdade, é um novo olhar, uma nova maneira de compreender as questões que envolvem todas as relações humanas, inclusive – e especialmente – no universo empresarial. Quando se fala nesse assunto, estamos tratando de ética, da relação socialmente responsável da empresa em todas as suas ações, suas políticas, suas práticas, em tudo o que ela faz, suas atitudes com a comunidade, empregados, fornecedores, com os fornecedores de seus fornecedores, com os fornecedores dos fornecedores de seus fornecedores, com o meio ambiente, governo, poder público, consumidores, mercado e com seus acionistas. É preciso pensar todas essas relações como uma grande rede que se inter-relaciona. Como se pode observar, o conceito de responsabilidade social está se ampliando, passando da relação socialmente compromissada da empresa com a comunidade, para abranger todas as relações da empresa. De fato, muitas empresas têm levado a sério sua atuação social, até porque nos últimos anos, essas relações tornaram-se uma questão de estratégia financeira e de sobrevivência empresarial. O conceito de Responsabilidade Social Corporativa é mais amplo, visto que abrange a responsabilidade social e ambiental. Segundo Melo Neto e Brennand (2004), a responsabilidade corporativa compreende as seguintes dimensões: Ética nos Negócios, Responsabilidade Social e Responsabilidade Ambiental. A Responsabilidade Corporativa está relacionada à gestão ética com transparência e responsabilidade, práticas de gorvenança corporativa, respeito à diversidade e aos empregados, com pagamento de salários justos e benefícios e com ênfase ao desenvolvimento profissional, criando e mantendo um ambiente de qualidade de vida, respeito aos clientes, fornecedores e parceiros. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 33 Quanto a Responsabilidade Ambiental, esta envolve todas as práticas relativas à proteção, preservação ambiental e prevenção de danos causados ao meio ambiente, além de ações de educação ambiental e certificações. Segundo o Instituto Ethos (2007), a responsabilidade social corporativa é uma forma de conduzir os negócios que torna a empresa parceira e coresponsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviços, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los ao planejamneto de suas atividades, buscando atender à demanda de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários. Responsabilidade Social, segundo Ashley (2002, p. 6): Pode ser definida como o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas com ela. As empresas passaram a ter como principais objetivos a busca pela excelência na qualidade nas relações e a sustentabilidade econômica, social e ambiental, com a atuação baseada em princípios éticos. Para isso, é necessário que se utilizem da transparência como um fator preponderante de legitimidade social, pois trata-se de um importante atributo positivo para a imagem pública e reputação das empresas. Responsabilidade Social Corporativa, segundo Karkotli (2006, p. 44), “é toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade , possibilitando que as organizações demonstrem toda sua preocupação por meio de significativos projetos sociais”. Com isso, as ações de responsabilidade social corporativa evidenciam o elevado compromisso social das empresas e que elas são co-responsáveis em relação ao desenvolvimento social e ambiental. Tais ações são extensivas a todos PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 34 que participam da vida em sociedade, sempre buscando aperfeiçoar as relações das empresas com seus diferentes públicos que são por elas afetados. Observa-se que as empresas que assumem uma postura de responsabilidade social corporativa, tendem a ter um desempenho consistente maior que aquelas que não se caracterizam por uma imagem de boa cidadania. Este desempenho pode ser constatado no valor das suas ações. 2.2.1 Responsabilidade social x filantropia A filantropia empresarial ou doações é uma dimensão inicial do conceito de responsabilidade social, que inclui o comportamento da empresa como um todo. O que se observa é que empresários bem sucedidos em seus negócios, decidiram retribuir à sociedade parte dos ganhos que obtiveram em suas empresas. Tais atos isolados podem ser considerados como ações benevolentes e de caridade para com o próximo. Com isso, surgiram as entidades filantrópicas, com o intuito de contribuir para a sobrevivência dos menos favorecidos, utilizando-se dos recursos de empresários filantropos. Existem diferenças na forma de investimentos sociais por parte das empresas, que definem suas estratégias sociais, podendo adotar modelos diferenciados de ações sociais. De acordo com Melo Neto e Brennand (2004, p. 50), existem três tipos de ações sociais: a) A filantropia pura, tradicional, que tem na doação a sua ação social dominante. A figura dominante é o doador, geralmente um empresário com grande senso social e adepto de ações humanitárias, de ajuda aos excluídos socialmente. b) A nova filantropia, que também se baseia em doações. Porém, neste caso, as empresas doadoras monitoram a aplicação dos recursos e o impacto social previsto e alcançado. Portanto, os recursos gastos em ações sociais são também vistos como “investimentos”, e seu retorno é monitorado e avaliado. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 35 c) O Investimento Social Privado (ISP), conceito criado pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) e Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), no biênio 1998-99, é uma ação de investimento em projetos sociais, feita por pessoas físicas ou jurídicas, objeto de um processo de gerenciamento contínuo. O que diferencia a responsabilidade social de filantropia é que a primeira é mais abrangente e voltada para a melhoria na qualidade de vida e cidadania, envolvendo em cadeia um número expressivo de indivíduos e entidades para atingir esse objetivo; quanto à Filantropia, essa baseia-se mais em ações individuais e que auxiliam os menos favorecidos, no entanto, são ações que focam um grupo de pessoas limitado. As ações de filantropia são atitudes que podem parecer solução no momento, mas no futuro podem comprometer a visão de como são as verdadeiras práticas de responsabilidade social, pois para que tais práticas obtenham sucesso é necessário que haja, primeiramente, um estudo completo na área de atuação da empresa, da comunidade onde está inserida e também da disposição das pessoas da empresa em mudarem sua cultura interna. De acordo com Melo Neto e Froes (2004), a filantropia parte de uma ação individual e voluntária enaquanto que a responsabilidade social vai além de vontades individuais, consistindo numa soma de vontades que compõe um consenso, uma obrigação moral e econômica a unir o comportamento de todos que participam da vida em sociedade. As principais diferenças entre a filantropia e responsabilidade social podem ser resumidas conforme o Quadro 2. Filantropia Responsabilidade social Ação individual e voluntária Ação coletiva Fomento da caridade Fomento da cidadania Base assistencialista Base estratégica Restrita a empresários filantrópicos e abnegados Extensiva a todos Prescinde de gerenciamento Demanda gerenciamento Decisão individual Decisão consensual Quadro 2 - Diferenças entre filantropia e responsabilidade social. Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (2004, p. 28). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 36 Como se pode verificar, a filantropia é uma ação individual e voluntária, enquanto que a responsabilidade social corporativa consiste na decisão da empresa de participar mais ativamente das ações sociais na região onde está inserida, gerando desenvolvimento que satisfaça as necessidades da geração presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas necessidades. O social tornou-se sustentável quando houve um esgotamento do modelo de filantropia, tendo em vista que indivíduos e empresas se conscientizaram de que doações não eram suficientes para eliminar o problema social e que o ideal seria proporcionar ações de desenvolvimento sustentado, como por exemplo investir em saneamento básico, proteção ambiental e educação ou ainda consumir produtos gerados pela comunidade local. Depreende-se que as organizações podem gerar lucros para seus acionistas/ proprietários e ainda utilizar a responsabilidade social como um instrumento de união dos interesses de seus stakeholders, na busca da maximização de seus valores no mercado. Segundo Orchis, Yung e Morales (2002, p. 57), “stakeholders são os grupos de interesse que se relacionam, afetam e são afetados pela organização e suas atividades”. De acordo com Karkotli (2006, p. 16), os stakeholders “são qualquer grupo ou indivíduo que é afetado ou que afeta o alcance dos objetivos das organizações.” Com isso, pode-se citar como stakeholders todo o grupo de interesses da organização, como o governo, os acionisas, a sociedade, a comunidade, os fornecedores, os clientes e os colaboradores. A responsabilidade social corporativa deve ter início internamente, na organização, aumentando assim, o nível de satifação dos colaboradores, pois ao se sentirem valorizados pela empresa e entenderem que a mesma investe em atividades sociais e ambientais que beneficiam a geração atual e as futuras influenciarão positivamente o clima laboral. Com isso, a prática da responsabilidade social gera benefícios tanto para a empresa como para a sociedade, pois as ações realizadas pela organização visando atender as expectativas de cada uma das partes com as quais se relaciona, possibilitam a empresa um melhor desempenho de suas atividades e uma gestão com sustentabilidade, perpetuando assim seu negócio. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 37 2.3 A teoria dos stakeholders e as ações de responsabilidade social O termo stakeholders não tem tradução literal para a língua portuguesa, porém foi criado para designar todas as pessoas ou empresas que, de alguma maneira, são influenciadas pelas ações de uma organização. O seu emprego por autores estrangeiros dá-se com o sentido de identificar grupos que atuam direta ou indiretamente sobre as organizações. De acordo com Tinoco (2001 apud TACHIZAWA, 2002, p. 86), “o conceito de Responsabilidade Social Corporativa deve enfatizar o impacto das atividades das empresas para os agentes com os quais interagem (stakeholders): empregados, fornecedores, clientes, consumidores, colaboradores, investidores, competidores, governos e comunidade”. Segundo Machado Filho (2006), o primeiro estudioso a abordar a Teoria dos Stakeholders de forma explícita foi Eduard Freeman, na obra The Politics of Stakeholder Theory: some future directions. O referido autor propõe a divisão dos stakeholders em grupos primários e grupos secundários. Os primeiros são os acinostas e credores que possuem os direitos legais sobre os recursos organizacionais estabelecidos, enquanto que os segundos, representados pela comunidade, funcionários e consumidores, são aqueles cujo direito sobre os recursos organizacionais é menos estabelecido em lei e/ou baseado em critérios de lealdade ou em obrigações éticas (MACHADO FILHO, 2006). A teoria dos stakeholders determina que a organização não pode ser compreendida apenas como uma instituição que progride em função de seus proprietários ou acionistas e sim por um conjunto de pessoas ou instituições que também têm interesses em que a organização seja bem sucedida. Consequentemente, as estratégias da organização devem ser elaboradas para satisfazer aos diversos grupos situados em seu ambiente e que são direta ou indiretamente afetados pelo seu comportamento estratégico, sob pena de fracasso na implementação de suas políticas e diretirizes. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 38 As influências mútuas nas relações stakeholder-empresa vão agir diretamente na escolha da estratégia organizacional a ser implementada. Com isso, torna-se importante um estudo, análise e pesquisa sobre o grupo de stakholders que influenciam no planejamento e decisões da entidade. A Figura 1 apresenta o modelo da teoria dos stakeholders das organizações, de acordo com Freeman (2000 apud MACHADO FILHO, 2002, p. 92). Para Machado Filho (2002, p. 91), “a gestão com base na teoria dos stakeholders envolve a alocação de recursos organizacionais e a consideração dos impactos desta alocação em vários grupos de interesses dentro e fora da organização”. Essa forma de gestão leva em consideração os grupos que podem afetar ou são afetados pela realização dos objetivos da empresa e tem causado discussões sobre o nível de influência de tais grupos na tomada de decisão das organizações. Proprietários (stakeholders) Gestores Comunidade Local A Organização Fornecedores Clientes Funcionário Figura 1 - O Modelo da Teoria dos Stakeholders. Fonte: Freeman (2000 apud MACHADO FILHO, 2002, p. 92). O modelo evidencia todos os agentes que mantém relações diretas com a organização e que estão envolvidos nas atividades da entidade. Como os proprietários, que possuem como objetivo principal o retorno financeiro, os funcionários que esperam por salários, segurança e outros benefícios. Os fornecedores, sendo esses tratados como parceiros, quando do estudo da PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 39 integração vertical da cadeia de valor na qual a empresa opera para promover a redução de custos e aumento na qualidade do produto/serviço representam um agente essencial para o sucesso da organização. A relação com os consumidores deve gerar um vínculo de confiança e respeito, tendo em vista que o consumidor é responsável pela maior parcela de geração de riqueza das empresas, fortalecendo a cadeia produtiva através dos diversos setores que elas se relacionam. A comunidade, na qual a entidade esta inserida, é beneficiada no momento do pagamento dos impostos, taxas e contribuições ao governo e quando essa mantêm projetos que proporcionam uma melhoria na qualidade de vida da população. É necessário que a organização procure interagir com o meio ambiente de forma responsável, avaliando os impactos das atividades, observando os dispositivos legais vigentes, administrando o uso dos recursos naturais necessários à atividade operacional e educando os colaboradores no sentido de assumirem uma consciência de respeito ao meio ambiente, assegurando assim práticas ambientais adequadas na execução de suas atividades. Alguns autores criticaram a teoria de Freeman: Jensen (2000 apud MACHADO FILHO, 2002, p. 97) apóia que “os múltiplos objetivos da ‘teoria dos stakeholders’ são, na verdade, estratégias, e a criação de valor o principal objetivo a ser seguido como referência”. Sternberg (1999 apud MACHADO FILHO, 2002), seguindo a mesma linha de pensamento de Jensen, afirma que a teoria acaba dissimulando a possibilidade de avaliação da administração, a medida que os gestores podem, por meio dos diversos objetivos a que a organização se propõe, justificar tomadas de decisão que não sejam a maximização do valor da empresa para os acionistas/ proprietários. Muito embora critiquem a teoria dos Stakeholders, Jensen e Sternberg, de acordo com Machado Filho (2002, p. 97), não se posicionam, a princípio, de forma contrária à realização de ações de responsabilidade social por parte das organizações e sugerem ainda que as mesmas podem, estrategicamente, ser úteis na busca de valor. Com isso, observa-se que as organizações podem gerar lucros PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 40 para seus acionistas e proprietários e ainda utilizar a responsabilidade social como um instrumento de união dos interesses de seus stakeholders, na busca da maximização de seus valores no mercado. Ao contrário dos autores citados, Campbell (1997) defende a teoria dos stakeholders, pois na sua concepção a organização deve assumir um compromisso de responsabilidade social diante do ambiente em que está inserido. Segundo o autor, os stakeholders podem ser classificados em ativos e passivos. Os primeiros são aqueles que agem diretamente sobre a empresa exigindo dividendos, melhores salários, maiores prazos de pagamentos e preços baixos. Estes são influenciadores imediatos do processo de gestão organizacional. Os segundos são as organizações não governamentais e a sociedade, que segundo o autor afetam a organização de forma mediata. Já Freeman (1984 apud MACHADO FILHO, 2002) classifica os stakeholders em dois grupos: primários e secundários, de acordo com a maneira em que os direitos são estabelecidos sobre os recursos organizacionais (Quadro 3). Classificação Primários Stakeholders Acionistas e Credores Comunidade, funcionários, consumidores, entre outros Secundários Critério de Classificação São aqueles que possuem direitos legais sobre os recursos organizacionais bem estabelecidos. São aqueles cujo direito sobre os recursos organizacionais é menos estabelecido em lei e/ou é baseado em critérios de lealdade ou em obrigações éticas. Quadro 3 - Classificação dos stakeholders, conforme Freeman. Fonte: Adaptado de Machado Filho (2002, p. 91). Depreende-se, a partir da divisão apresentada no quadro 3, que embora os interesses de todos os stakeholders devam ser levados em consideração, o autor estabelece uma ordem de prioridade ao dividi-los em primários e secundários. De acordo com Savitz (2007, p. 182), os stakeholders são classificados em três categorias: “os que estão na própria empresa (internos), aqueles com que PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 41 você faz negócios (cadeia de valor) e os que se situam fora da empresa (externos)”. O que ajuda a diagnosticar, identificando e priorizando os detentores de interesses é o que Savitz (2007) chama de mapemanto de stakeholders. Tal mapeamento tem a finalidade de ajudar a definir a atual posição da empresa em relação aos diversos grupos de pressão, organizações comunitárias, interesses econômicos e financeiros, órgãos governamentais e outras partes interessadas em suas atividades e capazes de afetar o seu desempenho. Para a análise do nível de importância dos stakeholders, deve-se priorizar os diversos indivíduos e grupos que competem pela atenção, interesses e recursos, levando em consideração o impacto potencial deles sobre a organização. Os grupos de interesses de uma organização , de acordo com Freeman e Gilbert (1987 apud LETTIERI, 2004), a partir do conceito de Freeman, podem ser analisados em três níveis: racional, processual e transacional. O nível racional identifica os stakeholders a partir do grau de relacionamento com a empresa e evidenacia a natureza dessas relações. No nível processual a organização pode entender melhor sua relação com seus grupos de interesse. E, no nível transacional, a organização visa compreender como os gestores organizacionais e os stakeholders interagem, visando detectar a presença de disjunções para assim minimizá-las. Ao tratar das relações com as partes interessadas, as entidades devem incluir em seu planejamento estratégico toda a preocupação e compromisso com os stakeholders, estabelecendo um comportamento ético, transparente e socialmente responsável baseado em princípios e valores que norteiam todas as decisões, ações e relações, incorporando os diferentes interesses de todos os que fazem parte do negócio, de modo a contribuir para um desenvolvimento social, econômico e ambientalmente sustentável, e não apenas por uma questão de atendimento a interesses puramente econômicos de um dos stakeholders. Segundo Machado Filho (2002), alguns autores se contrapõem a teoria dos stakeholders, que proclama que as ações de responsabilidade social realizadas pela empresas devem assumir diversos objetivos e não apenas a função de maximização da riqueza do acionista. Jensen (2000 apud MACHADO FILHO, 2002, PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 42 p. 97) reintera a lógica de que “os múltiplos objetivos da ‘teoria dos stakeholders’ são, na verdade, estratégias, e a criação de valor o principal objetivo a ser seguido como referência” (value seeking).” Contudo, o que se observa é que os valores da entidade podem variar de acordo com os valores dos stakeholders, já que o envolvimento de ambos é essencial para a continuidade da entidade, pois todos influenciam direta e indiretamente os valores e a forma de gestão da organização, principalmente em seu processo de tomada de decisão, tornando-se impossível a exclusão de algum membro nesse processo. Adotou-se nesta pesquisa, a corrente de estudiosos que seguem a Teoria dos Stakeholders como marco teórico, tendo em vista que as organizações não podem evitar a influência dos stakeholders no seu processo de gestão e nem tampouco apenas gerar lucros para seus acionistas sem levar em consideração os impactos que suas atividades podem gerar a todo o seu público. É necessário que a empresa alavanque seus resultados sem perder o foco da responsabilidade social. 2.4 O desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social corporativa O termo desenvolvimento é tratado frequentemente como sinônimo de crescimento econômico. Segundo Bellen (2005), a noção de desenvolvimento sustentável tem sua origem mais remota no debate internacional sobre o conceito de desenvolvimento e provém de um longo processo histórico de reavaliação crítica da relação existente entre a sociedade civil e o meio natural. Em 1987, nos Estados Unidos, a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), apresentou um documento chamado Our Common Future (Nosso Futuro Comum), mais conhecido por Relatório Brundtland, que tem como objetivo definir modelos de desenvolvimentos capazes de satisfazer as necessidades das gerações atuais sem colocar em risco as necessidades das gerações futuras. A terminologia desenvolvimento sustentável, atualmente, é utilizada como a base da Responsabilidade Social e Ambiental Corporativa através do tripé: Econômico, Social e Ambiental, tendo em vista que se busca paralelamente o PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 43 crescimento econômico, o desenvolvimento social e a proteção ao meio ambiente. Determina-se que a empresa deve gerir seus resultados, focando não não só no resultado econômico adicionado, mas também no resultado ambiental e social adicionado. Com isso, pode-se determinar que o desenvolvimento sustentável está sob as três pilastras da responsabilidade social e ambiental, conforme demonstrado na figura 2: 1) capital social – emprego e renda para gerar cidadania através de uma cadeia produtiva agregativa e includente que permita o crescimento econômico local; 2) retorno econômico – que beneficie todos os stakeholders, principalmente por meio de investimento em ciência e tecnologia; e 3) respeito ao meio ambiente – gestão ambiental na entidade para impedir impactos negativos para a sociedade e o meio ambiente. Desenvolvimento Sustentável – Tripé as sustentabilidade empresarial ambiental Cuidado do planeta • proteção ambiental • recursos renováveis • ecoeficiência • gestão de resíduos • gestão de riscos econômico social Prosperidade • resultado econômico • direitos dos acionistas • competitividade • relação entre clientes e fornecedores Dignidade Humana • direitos humanos • direitos dos trabalhadores • envolvimento com comunidade • transparência SE = Sustentabilidade Empresarial • postura ética Figura 2 – Tripé da sustentabilidade empresarial. Fonte: Adaptado de Copesul (2007). Em 1992 foi realizada na cidade do Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também chamada de ECO 92, que teve como objetivo elaborar estratégias que conciliassem o desenvolvimento sócio-econômico com a interrupção e reverssão dos efeitos da degradação ambiental, bem como promover o desenvolvimento sustentável num ambiente saudável em todos os países. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 44 A ECO 92 consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável e dentre os principais documentos firmados está o “Agenda 21”, com a contribuição de 179 países. Trata-se de um programa de ação que viabiliza o novo padrão de desenvolvimento sustentável, por meio do compromisso dos países com o envolvimento dos diferentes segmentos da sociedade na solução de problemas sociais e ambientais. Concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. O principal objetivo da Agenda 21 é transformar em realidade os princípios da Declaração do Rio a serem implementados pelos governos, agências de desenvolvimento, organizações das Nações Unidas e pelos grupos setoriais independentes, em cada área onde as atividades, inclusive econômicas, afetam o meio ambiente. O conceito de desenvolvimento sustentável evidencia basicamente a forma em que a sociedade deve se relacionar com o ambiente em que interage, de forma que possa garantir a sua própria continuidade e do meio externo. De acordo com a reunião do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) - Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável - realizada em 1998 na Holanda, dentre as dimensões do desenvolvimento sustentável, a responsabilidade social é a mais delicada, tendo em vista que engloba diversos aspectos, tais como: Direitos humanos; direitos dos empregados; direitos dos consumidores; envolvimento comunitário; relação com fornecedores; monitoramento e avaliação de desempenho e direitos dos grupos de interesse (MELO NETO; FROES, 2005). O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) atua como representante no Brasil do WBCSD e tem como objetivo criar condições para as empresas e demais segmentos da sociedade para que haja uma relação harmoniosa entre as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambeintal. A responsabilidade social, como parte integrante do conceito de desenvolvimento sustentável, está focada na dimensão social. Com isso, a empresa ao realizar ações sociais em benefício de seus stakeholders, está atuando na dimensão social do desenvolvimento sustentável e exercendo responsabilidade social. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com a sua 45 No Quadro 4, evidencia-se as diferenças entre Filantropia, Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável, baseado na teoria dos stakeholders. Filantropia Responsabilidade social Desenvolvimento Sustentável Ação individual e voluntária Ação coletiva Ação global Fomento da caridade Fomento da cidadania Fomento de sustentabilidade para as gerações futuras Base assistencialista Base estratégica Base continuidade de vida Restrita a empresários filantrópicos e abnegados Extensiva a todos Extensiva a todos em um conceito sistêmico que envolve do indivíduo às nações Prescinde de gerenciamento Demanda gerenciamento Demanda consciência Decisão individual Decisão consensual Decisão sistêmica Quadro 4 - Diferenças entre filantropia, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (2004, p. 28). De acordo com Pronk e ul Haq (1992 apud BELLEN, 2005, p. 23-24), “o desenvolvimento é sustentável quando o crescimento econômico traz justiça e oportunidades para todos os seres humanos do planeta, sem privilégio de algumas espécies, sem destruir os recursos naturais e finitos e sem ultrapassar a capacidade de carga do sistema.” O desenvolvimento sustentável consiste na expansão econômica permanente e na aplicação de seus recursos para atender às necessidades humanas e aumantar a qualidade de vida. A aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável, na prática, é chamada de sustentabilidade. Segundo o Instituto Ethos (2007), a sustentabilidade empresarial, consiste em “assegurar o sucesso do negócio a longo prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, um ambiente saudável e uma sociedade estável”. A sustentabilidade é a maneira de tomar decisões levando em conta as pessoas, o lucro e o meio ambiente. As organizações que incorporam práticas sustentáveis de gerenciamento asseguram o sucesso de seus negócios no longo prazo e, contribuem para o desenvolvimento das comunidades, para a criação de ambiente saudável e de uma sociedade mais evoluída e estável. A sustentabilidade envolve a gestão, a maneira de tratar os empregados, o impacto sobre o meio ambiente e sobre a comunidade local e as relações com clientes e fornecedores. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 46 Na execução do exercício de responsabilidade social podem-se citar dois focos distintos: os projetos sociais e as ações comunitárias. Os projetos sociais, segundo Melo Neto e Brennand (2004), são as ações propriamente ditas, tendo em vista que representam os objetivos a serem alcançados, os resultados previstos sob a forma de bens, serviços e instalações, os recursos consumidos. Com os projetos sociais, busca-se resolver problemas sociais que atingem a população ou determinados grupos sociais, priorizando ações de fomento ao desenvolvimento social. As ações comunitárias, de acordo com Melo Neto e Froes (2004), estão relacionadas com a participação da empresa em programas e campanhas sociais, realizadas por diferentes entidades, tendo como ações predominantes as doações e apoio e trabalho voluntário dos seus colaboradores em áreas como assistência social, alimentação, saúde, educação, cultura, meio ambiente e desenvolvimento comunitário. 2.5 Organizações e provas da responsabilidade social corporativa Em sua constante busca de recursos que se tornam cada vez mais escassos, o ambiente econômico competitivo, incluindo-se os variados agentes que o compõem, impõe a necessidade de mais transparência às organizações em suas relações com a comunidade em geral. Com isso, aumentam o leque de interessados nas informações e nos resultados gerados pelas organizações. As provas são modelos criados com a finalidade de dar a melhor resposta para a questão da responsabilidade social, mobilizando diferentes atores em torno de problemas sociais e ambientais (VENTURA, 2005). Por meio das provas, pode-se organizar e sistematizar o movimento pela responsabilidade social corporativa. Muitos especialistas recomendam que, como primeiro passo para se atingir as melhores práticas de RSC, as empresas devem unir-se a uma ou mais organizações internacionais que se dedicam às questões econômicas, ambientais e sociais, como PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 47 o programa Global Reporting Initiative (GRI) ou o Global Compact (DONALDSON, 2005). 2.5.1 Global Reporting Initiative (GRI) O Relatório de Sustentabilidade é um documento que retrata o caminho percorrido pela empresa na busca da sustentabilidade e apresenta os resultados obtidos nos negócios e nos indicadores dos processos de gestão das iniciativas sociais e ambientais. De acordo com Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2007), a Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização não-governamental internacional, com sede em Amsterdã, na Holanda, cuja missão é desenvolver e disseminar globalmente diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade utilizadas voluntariamente por empresas do mundo todo. A GRI é uma iniciativa conjunta com a Coalition for Environmentally Responsible Economies (CERES) e com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que representa um grande esforço internacional, envolvendo empresas e organizações da sociedade civil, que trabalham conjuntamente visando o estabelecimento consensual de normas padrões para orientar a elaboração de relatórios de sustentabilidade (ETHOS, 2007). Trata-se de um guia que tem por objetivo desenvolver e difundir uma estrutura chamada Diretrizes GRI, fundamentada no “triple bottom line”, para a elaboração de relatórios de sustentabilidade pelas empresas, com o intuito de divulgar dados econômicos, sociais e ambientais. O primeiro conjunto de diretrizes para relatórios de sustentabilidade foram lançados no ano de 2000 pela GRI. Além das diretrizes, a entidade poderá adotar na elaboração de seu relatório os Princípios descritos pela GRI. Os princípios são metas que uma organização deve perseguir, identificando melhoria no quão rigorosamente estão aplicando os princípios aos seus processos de relato, do mesmo modo que eles PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 48 identificam melhoria nos vários aspectos do desempenho econômico, ambiental e social. A GRI é avaliada como o ponto de convergência e aceleração no que tange a transparência, prestação de contas, elaboração de relatórios e desenvolvimento sustentável, tendo como visão que os relatórios de desempenho econômico, ambiental e social elaborados por todas as organizações sejam tão rotineiros e passíveis de comparação como os relatórios financeiros. O nível mais exigente da GRI denominado “de acordo com” consiste na transparência para adequar as particularidades de cada relatório com os dois objetivos centrais de sua estrtura: a flexibilidade e a comparabilidade de informações. O modelo GRI é utilizado principalmente pelas grandes corporações e o balanço elaborado pelo Ibase constitui anexo dos Relatórios de Sustentabilidade, que contemplam o modelo GRI. Nesse modeo há também suplementos setoriais específicos, como serviços financeiros, operadoras de turismo, automóveis e telecomunicações, tendo em vista as diferenças inerentes a cada setor. 2.5.2 Instituto ethos de empresas e responsabilidade social (ETHOS) O Instituto Ethos de Empresas e Responsabiliade Social trata-se de uma organização não-governamental criada em 1998, com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas brasileiras a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-se parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa (ETHOS, 2007). Foi idealizado por empresários e executivos oriundos do setor privado em São Paulo, com o objetivo de disseminar a troca de experiências e desenvolver ferramentas que pudessem auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seus compromissos com a responsabilidade social corporativa. Tem como missão ajudar as instituições de modo que elas possam, dentre outras coisas, compreender e incorporar de forma progressiva o conceito do PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 49 comportamento empresarial socialmente responsável e assumir suas responsabilidades com todos aqueles que são atingidos por suas atividades. A organização defende a participação de todos os atores num processo de desenvolvimento que tenha como metas a preservação do meio ambiente, a promoção dos direitos humanos e a construção de uma sociedade economicamente próspera e socialmente justa. O Uniethos é uma parte do Instituto que se dedica a estudos e pesquisas sobre responsabilidade social, cujo canal disponibiliza múltiplas ferramentas de gestão, dentre elas a Matriz de Evidências e o Guia de Elaboração do Balanço Social. Por meio desse guia é proposto a padronização de relatórios para a apresentação de Indicadores de responsabilidade social, permitindo assim comparação e o diálogo entre empresas do mesmo setor. . Os indicadores têm como característica principal o interesse em estabelecer padrões éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e com o meio ambiente. Com isso, o Instituto Ethos vem desenvolvendo indicadores específicos, que abrangem peculiaridades de cada setor empresarial. Os setores já contemplados com indicadores próprios são: o de distribuição de energia elétrica, desenvolvido pela primeira vez em 1999 em parceria com a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE); o de panificação e o de restaurantes e bares, em 2002; o financeiro, o de mineração e o de papel e celulose, em 2003; o de transporte de passageiros terrestres, o de petróleo e gás, o da construção civil e o do varejo, em 2005. Em 2006 foram desenvolvidos os indicadores do setor da siderurgia e açúcar e álcool. 2.5.3 Instituto brasileiro de análises sociais e econômicas (IBASE) O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) é uma instituição de utilidade pública federal, sem fins lucrativos que foi criada em 1981 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 50 com a missão de defender os direitos humanos, a justiça e o bem-estar social, combatendo desigualdades e estimulando a participação cidadã (IBASE, 2007). O público para o qual as ações do IBASE estão direcionadas é composto por movimentos sociais populares; organizações comunitárias; agricultores (as) familiares e trabalhadores (as) sem terra; lideranças, grupos e entidades de cidadania ativa; escolas, estudantes e professores (as) da rede pública de ensino fundamental e médio; rádios comunitárias e experiências em comunicação alternativa; formadores (as) de opinião nos meios de comunicação de massa; parlamentares e assessores (as); gestores (as) de políticas públicas (IBASE, 2007). Dentre os diversos movimentos defendidos pelo IBASE, destaca-se a Ação da Cidadania Contra a Miséria, a Fome e Pela Vida, conhecida como Campanha Contra a Fome, dirigida pelo sociólogo Herbert de Souza. Tal campanha repercutiu no movimento pela responsabilidade social corporativa, com o objetivo de sensibilizar e mobilizar a sociedade civil para combater problemas emergenciais do País, dentre eles a fome e o desemprego. Em 1997, o IBASE foi o pioneiro no Brasil a iniciar uma discussão sobre a divulgação dos relatórios corporativos com enfoque social em um modelo único e simples. O que levou o Instituto a propor um modelo contábil de Balanço Social que reunia um conjunto de informações acerca das organizações, como os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. Para estimular a participação de um maior número de organizações com elaboração do Balanço Social, em 1998, o IBASE lançou o Selo Balanço Social Ibase/Betinho. O selo é conferido anualmente a todas as empresas que publicam o balanço social no modelo sugerido pelo IBASE, dentro da metodologia e dos critérios propostos. Esse Selo concede o direito às empresas de mostrarem em seus anúncios, embalagens, balanço social, sites e campanhas publicitárias, que investem em educação, saúde, cultura, esportes e meio ambiente (IBASE, 2007). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 51 2.5.4 Pacto global (Global compact) O Pacto Global é uma iniciativa lançada em 1999, pelo secretário geral da ONU, Kofi Annan, para mobilizar a comunidade empresarial na promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e contra corrupção, incentivando as empresas a contribuírem com a construção de uma economia global mais sustentável e inclusiva. O Pacto aglutina companhias de todo o mundo (PACTO GLOBAL, 2007). A adesão ao Pacto Global implica na incorporação dos dez princípios do Pacto (figura 3), inspirados em declarações e valores internacionais, aos princípios, planos e práticas das empresas. Ao aderirem ao pacto, as empresas devem contribuir para a criação de uma estrutura socioambiental consistente, em mercados livre e abertos, assegurando que todos desfrutem os benefícios da nova economia global. Os princípios são derivados da Declaração Universal de Direitos Humanos, da Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. Princípios de Direitos Humanos 1. Respeitar e proteger os direitos humanos; 2. Impedir violações de direitos humanos; Direitos Humanos Princípios de Direitos do Trabalho 3. Apoiar a liberdade de associação no trabalho; Direitos do 4. Abolir o trabalho forçado; Trabalhador 5. Abolir o trabalho infantil; 6. Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho; Proteção Ambiental Contra Corrupção Princípios de Proteção Ambiental 7. Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; 8. Promover a responsabilidade ambiental; 9. Encorajar tecnologias que não agridem o meio ambiente. Áreas Áreas Princípio contra a Corrupção 10. Combater a corrupção em todas as suas formas inclusive extorsão e propina. Figura 3 - Áreas de abrangência dos Princípios do Pacto Global. Fonte: Adaptado de Ethos (2007). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 52 As quatro áreas de direitos humanos, direitos do trabalho, proteção ao meio ambiente e combate à corrupção foram escolhidas por possuírem um potencial efetivo para influenciar e gerar mudança positiva (PACTO GLOBAL, 2007). O Pacto Global não é um instrumento regularizador ou um código de conduta, mas uma plataforma baseada em valores que visam a promover a educação institucional. Utiliza o poder da transparência e do diálogo para identificar e divulgar novas práticas que tenham como base princípios universais, como são aqueles dos direitos humanos (PACTO GLOBAL, 2007). No primeiro semestre de 2000, o Instituto Ethos conduziu um processo de engajamento das empresas brasileiras ao Pacto Global. Considera-se que os Indicadores Ethos Aplicados aos Princípios do Pacto Global, sejam complementos aos demais Indicadores Ethos. Juntos, eles propiciam condições para um diagnóstico capaz de gerar ações relevantes para as pessoas, organizações empresariais e sociedade em geral. 2.5.5 Objetivos de desenvolvimento do milênio (ODM) Os objetivos de desenvolvimento do milênio são um conjunto de oito macro-objetivos (figura 4) compartilhados pelos 191 Estados-membros da Assembléia Geral das Nações Unidas, países signatários da Declaração do Milênio, aprovada em setembro de 2000 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Tais objetivos representam um conjunto de metas que devem ser atingidas até 2015, por meio de ações dos governos e dos diferentes segmentos da sociedade, estabelecendo uma parceria mundial pelo desenvolvimento. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) (2007), a Declaração estabelece, no âmbito de uma única estrutura, os desafios centrais enfrentados pela humanidade, esboça a resposta a esses desafios e estabelece medidas concretas para medir o desempenho mediante uma série de compromissos, objetivos e metas interrelacionados sobre desenvolvimento, governabilidade, paz, segurança e direitos humanos. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 53 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO Erradicar a extrema pobreza e a fome. Atingir o ensino básico universal. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres. Reduzir a mortalidade infantil. Melhorar a saúde materna. Combater o HIV / AIDS, a malária e outras doenças. Garantir a sustentabilidade ambiental. Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. Figura 4 - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Fonte: Objetivos do Milênio (2007). O Brasil, em conjunto com os países-membro da ONU, assinou o pacto e estabeleceu um compromisso compartilhado com a sustentabilidade do planeta. Todos os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), demonstrados na figura 4, têm igual importância e para serem alcançados é essencial a participação do governo, das organizações, da sociedade civil e do setor privado. 2.5.6 Índices de Sustentabilidade Os indicadores de sustentabilidade, a medida que servem de instrumento de avaliação para as empresas, reforçam o processo de conscientização dos empresários e da sociedade brasileira sobre o tema. Além de bons negócios, os índices de sustentabilidade empresarial são uma forma eficiente de disseminar as melhores práticas corporativas ao redor do mundo. O Dow Jones Sustentability Index (DJSI), criado em 1999 é um dos mais importantes índices existentes para o mercado capitais internacional à medida que acompanha o desempenho das empresas líderes em termos de sustentabilidade. É PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 54 uma referência importante para a tomada de decisões sobre investimentos nas instituições administradoras de recursos estrangeiros e que oferecem produtos diversificados aos seus clientes. O índice é bastante utilizado por administradores de recursos em todo o mundo, que estejam a procura de oportunidades de investimento social e ambientalmente responsáveis com boas taxas de retorno. É construído e revisado anualmente a partir de um questionário, de documentos, relatórios de sustentabilidade, de saúde e segurança e financeiros, entre outros, brochuras, websites de relações com investidores, e de informações prestadas pela empresa a analistas, à imprensa e às partes interessadas. As companhias são avaliadas sob três aspectos: econômico, ambiental e social - e têm de satisfazer 33 critérios diferentes (DJSI, 2007). A sustentabilidade corporativa é definida pela Dow Jones & Co como uma abordagem de negócios para criar valor aos acionistas ao longo prazo ao abraçar oportunidades e administrar riscos derivados de elementos econômicos, ambientais e sociais. Cada uma destas dimensões tem critérios de avaliação geral e específicos por setor que leva em conta não apenas o desempenho financeiro, mas principalmente a qualidade da gestão da empresa, que deve integrar o valor econômico à transparência, à governança corporativa e à responsabilidade social e ambiental. Observou-se que embora empresas de todos os setores continuem a melhorar sua performance, ainda há espaço significativo para o progresso da sustentabilidade na agenda corporativa, conclui o DJSI (2007). Outro índice de sustentabilidade desse tipo que pode ser citado é o FTSE4Good Index Series, que foi criado na Europa, em 2001, na Bolsa de Londres com o compromisso de elevar o padrão para a entrada de empresas no índice à medida em que boas práticas de responsabilidade corporativa emergissem. A idéia é desafiar as empresas a melhorar suas práticas ambientais e de direitos humanos, incentivando-as a tentar dominar os impactos sociais, éticos e ambientais de suas atividades (ETHOS, 2007). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 55 O FTSE4Good tem como objetivo fazer com que as empresas compreendam que ao realizarem suas atividades afetam tanto a sociedade como o meio ambeinte. Com isso, é necessário que publiquem uma política que estabeleça diretrizes amplas e defina objetivos e metas para melhorar sua performance; estabeleçam sistemas de gestão que definam processos operacionais para garantir que a política seja implementada e que os riscos sejam administrados; implementem mecanismos apropriados para medir e melhorar sua responsabilidade corporativa; comuniquem todos estes pontos e consultem as partes interessadas regularmente. No Brasil, a Bovespa criou em dezembro de 2005 o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) para enquadrar as empresas que praticam a Responsabilidade Social Ambiental. O ISE englobará até 40 companhias listadas na Bovespa que mais se aproximam da excelência na gestão da sustentabilidade – aquelas que incorporam elementos ambientais e sociais, sem deixar de criar valor a seus acionistas (BOVESPA, 2007). Os investidores entenderam que as variáveis ambientais e sociais no médio e, principalmente, no longo prazo geram vantagem competitiva para as empresas e fluxos de caixas diferenciados, permitindo maiores retornos para o seu fluxo de dividendos, auxiliando-os no seu processo de tomada de decisão. 2.5.7 Balanço social De acordo com Tinoco (2001, p. 24), “a melhor forma de prestar conta das performances empresariais consiste em elaborar um quadro socioeconômico que leve em conta, de uma lado, os recursos externos utilizados e, de outro, os aportes à comunidade”. A partir da década de 60, os trabalhadores da Europa e EUA passaram a exigir às organizações ampliação das informações fornecidas, acerca de seu desempenho econômico e financeiro, incorporando as sociais, tendo em vista a discussão da responsabilidade social, o que deu origem à implantação do Balanço Social. A França foi o primeiro país que regulamentou a publicação do Balanço PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 56 Social da Empresa, por meio da Lei nº 77.769, de 12 de julho de 1977 e evidencia basicamente questões relacionadas aos recursos humanos das empresas (TINOCO, 2001). Segundo Kroetz (2000, p. 78), o balanço social “representa a demonstração dos gastos e das influências das entidades na promoção humana, social e ecológica, dirigidos aos gestores, aos empregados e à comunidade com que interage, no espaço temporal passado/presente/futuro”. O Balanço Social é um instrumento que permite identificar o perfil de atuação social da empresa, a forma de interação com a comunidade, sua relação com o meio ambiente, e a qualidade de suas relações com os empregados, como geração de novos postos de trabalho e atividades realizadas para o desenvolvimento profissional e bem-estar dos colaboradores, incluindo treinamento, segurança e medicina do trabalho, alimentação, transporte, assistência social, a participação dos empregados nos resultados econômicos da empresa e possibilidades de desenvolvimento pessoal. Pode ser utilizado para a elaboração e definição da política estratégica da empresa e dá visibilidade à atuação social da entidade, tendo em vista que as organizações vivem em função da sociedade, consumindo recursos humanos, físicos e tecnológicos que pertencem à sociedade, portanto devem revelar, em troca, informações de como utilizam eficientemente e eficazmente esses recursos. No Brasil, a proposta para a publicação do Balanço Social pelas empresas, teve visibilidade nacional a partir de junho de 1997, quando por intermédio do IBASE, o sociólogo Herbert de Souza lança uma campanha pela divulgação voluntária do Balanço Social das Empresas. Praticamente na mesma época, sob a forma de uma minuta de instrução, a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) propôs a obrigatoriedade da apresentação do Balanço Social pelas empresas (IBASE, 2007). Em virtude da deficiência do Estado brasileiro em suprir a complexa situação social na qual o país está inserido, as empresas passam a ter um papel relevante nesse processo, tendo em vista que devem atuar proativamente e incorporar um discurso social mais justo. Diante disso, o Balanço Social tornou-se PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 57 uma prestação de contas e ampliação da transparência da atuação das corporações, divulgando tanto os pontos negativos como os positivos que legitimam o discurso sobre responsabilidade social corporativa. O IBASE concede o Selo IBASE anualmente às organizações que publicam o Balanço Social de acordo com a metodologia e os critérios propostos pelo instituto. Através deste Selo as empresas podem mostrar - em seus anúncios, embalagens, Balanço Social, Relatórios de Sustentabilidade, sites e campanhas publicitárias - que investem em educação, saúde, cultura, esportes e meio ambiente. Nesse contexto, deve haver transparência nas relações entre empresas e stakeholders, além de evidenciação, para que seja possível a avaliação do desempenho das atividades dessas organizações na sociedade. As boas práticas de atuação e sua evidenciação são consideradas vantagens competitivas para as organizações e isso tem sido em muito estimulado por instrumentos de certificação. O Balanço Social das empresas do setor elétrico tem sido usado como modelo por outras organizações que estão se inserindo no movimento pela RSC, podendo, dessa forma, ser considerado como arranjos estruturais para a divulgação e disseminação das práticas sócias das empresas em estudo. Os relatórios evidenciam as ações sociais e ambientais desenvolvidas pelas empresas e as modificações no cenário das organizações que acontecem ano a ano. Nesta pesquisa, adotou-se como base para a análise da institucionalização das práticas socias nas empresas distribuidoras de energia elétrica selecionadas para o estudo, os Balanços Sociais no modelo sugerido pelo IBASE e os Relatórios de Sustentabilidade elaborados e publicados por estas empresas, com o objetivo de identificar o perfil das organizações em relação a sua atuação social, no que se refere ao público interno, comunidade, sociedade e meio ambiente. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 58 3 ABORDAGEM INSTITUCIONAL Este capítulo tem por objetivo desenvolver a segunda parte do referencial teórico que serve de sustentação para esta dissertação. Tem como tema a abordagem institucional, estando subdividido em 03 (três) segmentos: Aspectos da teoria institucional; A incorporação de práticas sociais nas organizações através do processo de institucionalização e; Isomorfismo institucional. As instituições podem ser conceituadas como um conjunto de normas, valores e regras e sua evolução. Estes fatores procedem de uma situação presente que aperfeiçoa o futuro através de um processo seletivo e coercitivo, orientado pelas formas como os homens vêem as coisas, o que altera ou fortalece seus pontos de vista (CONCEIÇÃO, 2002). De acordo com Machado Filho (2006, p. 11), “as instituições são os limites que as sociedades se impõem para estruturar as relações políticas, econômicas e sociais”. Em essência, as instituições podem ser consideradas formais, tais como as constituições, leis e direitos de propriedade e informais, como crenças, tradições, códigos de conduta e costumes. No campo dos estudos organizacionais, a abordagem institucional, por meio de pesquisas de autores como Tolbert e Zucker (1999) e DiMaggio e Powell (1983), estuda as instituições em múltiplos aspectos, inclusive em termos de sua formação e relevância social, política e econômica. De fato, a abordagem institucional está presente na teoria organizacional desde a primeira metade do século XX, quando Philip Selznick, no ano de 1957, estudou o processo de institucionalização da Tenesse Valley Authority (TVA) em uma região pobre dos Estados Unidos. No que se refere às relações sociais, a abordagem institucional preocupase com o que há de enraizado na sociedade em termos de valores, ações e padrões que são estabelecidos e legitimados a partir das relações entre os diversos atores sociais. Desta forma, o institucionalismo pode ser caracterizado, conforme evidencia Huntington (1968, p. 12) “como o processo pelo qual organizações e procedimentos adquirem valor e estabilidade”. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 59 3.1 Análise institucional: aspectos da teoria institucional As organizações, de acordo com Robbins (1999, p. 3), “são unidades sociais, coordenadas conscientemente, compostas de uma ou mais pessoas e que funcionam numa base relativamente contínua para atingir um objetivo comum ou um conjunto de objetivos”. No início dos estudos organizacionais, as organizações eram vistas como sistemas independentes, isolados e a maioria desconsiderava a relação ambiente-organização. Eram simplesmente tidas como um meio racional pelo qual coordenar e controlar um grupo de pessoas. Os aspectos sociais e culturais permaneciam de fora da análise dos elementos que possibilitam o seu funcionamento e no máximo, observavam-se os fatores econômicos. Segundo Machado Filho (2006), North estabelece uma relação entre instituições e organizações, que podem ser assim interpretadas: as instituições constituem a regra do jogo, enquanto que as organizações representam os jogadores. Para o autor, as organizações existentes em um determinado mercado e a forma como interagem são influenciadas pelo ambiente institucional. As instituições são essencialmente mecanismos sociais que usam regras e princípios éticos, econômicos e legais para coordenar comportamentos. Já o ambiente institucional determina um conjunto de direitos de propriedade sobre ativos de valor, definido através disso as ações estratégicas das organizações. O que se observa através dessa relação é que instituições afetam organizações (MACHADO FILHO, 2006). Ressalta-se que grandes mudanças vêm acontecendo no ambiente organizacional. De acordo com Silva e Vergara (2002), a mudança organizacional, mesmo quando intencional, não pode ser entendida somente como uma mudança de estratégias, processos ou tecnologia. Ela também significa uma mudança de relações: do indivíduo com a organização, do indivíduo com seus pares, da organização com a sociedade, do indivíduo com a sociedade e do indivíduo consigo mesmo. Nessa perspectiva, a Teoria Institucional ajuda a explicar os diversos aspectos da mudança organizacional. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 60 A análise organizacional não representa o principal foco da Teoria Institucional, que procura principalmente explicar como as instituições surgem, como se tornam estáveis ou são transformadas, bem como são estruturadas as formas e a cultura que delas fazem parte (FREITAS, 2005). A Teoria Institucional tem sido amplamente discutida por estudiosos na área. De acordo com Machado-da-Silva e Gonçalves (1999, p. 220), a Teoria Institucional consiste [...] no resultado da convergência de influências de corpos teóricos originários da ciência política, da sociologia e da economia, que buscam incorporar em suas proposições a idéia de instituições e de padrões, de comportamento, de normas de valores, de crenças e de pressupostos, nos quais se encontram imersos indivíduos, grupos e organizações. Os estudos da Teoria Institucional colaboraram para os estudos organizacionais à medida que seguiram uma ênfase sociológica e introduziram variáveis como valores compartilhados, busca de legitimidade e isomorfismo, na avaliação sobre as relações entre organizações e entre organizações e ambientes (PIZZOLATO, 2004 apud MÓSCA, 2006). Nesse sentido, Meyer e Rowan (1983 apud TOLBERT; ZUCKER, 1999, p.196) evidenciam que: As organizações são levadas a incorporar as práticas e procedimentos definidos por conceitos racionalizados de trabalho organizacional prevalecentes e institucionalizados na sociedade. Organizações que fazem isto aumentam sua legitimidade e suas perspectivas de sobrevivência, independente da eficácia imediata das práticas e procedimentos adquiridos. Para os autores, a adoção da estrutura formal pode ocorrer independentemente da existência de problemas específicos e imediatos de coordenação e controle na organização, mas sempre com o objetivo de aumentar a legitimidade e as perspectivas de sobrevivência. Outra implicação é de que a avaliação social das organizações pode estar na observação das estruturas formais e não em seu desempenho, em sua eficiência produtiva. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 61 Na perspectiva institucional, as organizações são direcionadas para incorporar valores e padrões definidos previamente, os quais não necessariamente terão uma forte correlação positiva com a eficiência operacional, mas que serão incorporados como requisito fundamental na busca pela legitimidade, permitindo aumentar, por conseguinte, a sua capacidade de sobrevivência. Quando uma organização se torna institucionalizada, ela adquire uma vida própria, separada de seus fundadores ou de qualquer um de seus membros. A institucionalização opera para produzir entendimentos comuns entre os membros sobre o que é comportamento apropriado e, fundamentalmente significativo. Assim, quando uma organização assume permanência institucional, modos aceitáveis de comportamento tornam-se amplamente evidentes para seus membros (ROBBINS, 1999). A Teoria institucional apresenta duas vertentes, o velho e o novo institucionalismo. Na primeira concepção, destaca-se Philip Selznick, que segundo Fachin e Mendonça (2003), é considerado um dos precursores da Teoria Institucional. Na segunda, a base do pensamento do novo institucionalismo ganhou destaque com os trabalhos dos autores Dimaggio e Powell (1983), Scott (1991), Meyer e Rowan (1991) e Tolbert e Zucker (1999). Entretanto, para Fonseca (2003), o “novo” institucionalismo pode ser entendido como uma tentativa de continuação do “antigo” institucionalismo, muito embora essas duas versões sejam distintas, principalmente no que se refere à abordagem sociológica utilizada para os estudos organizacionais, pois enquanto o antigo preferia a orientação econômica e política, o novo segue mais a orientação sociológica. 3.1.1 Nova teoria institucional/neoinstitucionalismo A abordagem institucional, na versão do neoinstitucionalismo, é apontada como uma tentativa de se contrapor ao modelo racionalista e seu foco nas exigências técnicas de processos gerenciais e produtivos, voltando sua atenção PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 62 para o exame dos elementos de redes relacionais e de sistemas culturais que modelam e sustentam a estrutura e a ação das organizações (FONSECA, 2003). No neoinstitucionalismo, as instituições tendem a ser consideradas como variáveis independentes e visualiza-se a organização como expressão de valores sociais, destacando-se sua relação com o ambiente. O novo institucionalismo utiliza o nível de análise macro para tentar explicar a dinâmica do comportamento das organizações de acordo com dois tipos básicos de ambientes em que estariam inseridas: ambiente técnico e ambiente institucional. Conforme Scott e Meyer (1991), o ambiente técnico é aquele em que as organizações operacionalizam produtos e serviços em um mercado que recompensa o controle eficiente do processo de trabalho e a produção, enquanto o ambiente institucional caracteriza-se pela busca da concordância com padrões e regras, que conferem amparo e legitimidade às organizações. Para Fonseca (2003), o novo institucionalismo entende o ambiente como componente constitutivo da organização, em que a noção de ambiente evoluiu de um enfoque generalista para um enfoque simbólico, acrescentando ao ambiente técnico o ambiente institucional, os quais representam os fatores que dão forma à ação organizacional. O novo institucionalismo preocupa-se com os ambientes institucionalizados, buscando apoio e legitimação organizacional desses ambientes por meio das ações voltadas para a construção social, que não obrigatoriamente caminham para a mesma direção das decisões que seriam tomadas exclusivamente visando à eficiência do sistema, ao contrário do ambiente técnico que se dedica ao atendimento dos objetivos de eficiência das organizações. Para Machado-da-Siva e Fonseca (1996), geralmente as organizações insistem em considerar apenas o ambiente técnico em sua estratégia de ação, desconsiderando os ambientes institucionais, que se caracterizam pela elaboração e pela propagação de regras e procedimentos que proporcionam às organizações legitimidade e suporte contextual. Dessa forma, cabe a ampliação de alguns argumentos institucionais, como a dinâmica de criação de jogos de interesses dentro do campo organizacional, o modo como os grupos modelam o contexto ambiental no PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 63 qual operam e a variação na força das regras e normas institucionais (FONSECA, 2003). Pode-se afirmar, segundo Perrow (apud FONSECA, 2003), que a principal contribuição da abordagem neo-institucional à teoria organizacional, está relacionada à colocação da legitimidade e do isomorfismo como fatores essenciais para a sobrevivência da organização. As pressões normativas, que tanto podem originar-se de fontes externas, como o Estado, quanto de fontes internas à própria organização, as influenciam à medida que tais pressões fazem com que a organização seja guiada por valores legitimados institucionalmente. 3.1.1.1 Correntes neoinstitucionalistas identificadas por Hall e Taylor As análises institucionalistas dedicam-se em observar o papel que as instituições desempenham e explicar os processos segundo os quais elas se originam e se transformam. A partir da abordagem neo-institucionalista houve uma fase de renovação dos conceitos em todas as ciências sociais, onde foram identificadas três vertentes para o institucionalismo: o institucionalismo histórico, o institucionalismo sociológico (teoria das organizações) e o institucionalismo da escolha racional (rational choice). Todas as vertentes buscam elucidar o papel desempenhado pelas instituições na determinação de resultados sociais e políticos. O institucionalismo histórico, segundo Hall e Taylor (2003), desenvolveuse como reação contra a análise da vida política em termos de grupos e contra o estruturo-funcionalismo, que dominavam a ciência política nos anos 60 e 70. Compreende a relação entre instituições e comportamentos dos atores e suas diferentes visões do mundo, incorporando tanto a noção de eficiência quanto a de legitimidade social. Nessa vertente, as instituições são consideradas normas, procedimentos, convenções, rotinas e hábitos, formais ou informais, absorvidos pelo ambiente político, enfatizando as assimetrias de poder relacionadas com a operação e o PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 64 desenvolvimento das instituições, buscando incorporar à análise institucional outros elementos, tais como idéias e sistemas de crenças. De acordo com Hall e Taylor (2003), os teóricos do institucionalismo histórico dedicaram-se sobretudo ao modo como as instituições dividem o poder de maneira desigual entre os grupos sociais. Com isso, ao invés de fundamentar seus cenários sobre a liberdade dos indivíduos de estabilizar contratos, eles preferem postular um mundo onde as instituições conferem a certos grupos ou interesses um acesso desproporcional ao processo de decisão. Considera que o cálculo individual e a cultura se combinam para formar atores coletivos que agem com uma racionalidade instrumental estratégica e que têm o comportamento individual na orientação da sociedade, limitado pela visão do mundo própria do indivíduo, passando a depender da interpretação da situação no seu contexto cognitivo. As instituições não são percebidas, portanto, à maneira da teoria da ação racional, como resultado intencional da ação de indivíduos otimizadores, apesar de não deixar de se admitir que elas possam ser suscetíveis à influência dos interesses e dos cálculos dos atores. A corrente histórica opera com as noções de “path dependence”, que segundo Melo (1997 apud Paula, 2006), refere-se à tendência determinada por um arranjo de coisas em um momento inicial, ou anterior a determinados eventos, sobre o futuro e a seqüência dos acontecimentos. Segundo Hall e Taylor (2003), o institucionalismo sociológico surgiu no momento em que alguns sociólogos puseram-se a contestar a distinção tradicional entre a esfera do mundo social, vista como o reflexo de uma racionalidade abstrata de fins e meios (de tipo burocrático) e as esferas influenciadas por um conjunto variado de práticas associadas à cultura. Para esses autores, diversas formas e procedimentos institucionais utilizados pelas organizações modernas não eram adotados simplesmente porque eram as mais eficazes, tendo em vista as tarefas a cumprir, como implica a noção de uma “racionalidade” transcendente. Essas formas e procedimentos deveriam ser considerados como práticas culturais, comparáveis aos mitos e às cerimônias elaborados por numerosas sociedades. Dessa forma, tais práticas seriam agrupadas PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 65 às organizações, em conseqüência do mesmo tipo de processo de transmissão que dá origem às práticas culturais em geral. O institucionalismo sociológico privilegia a dimensão normativa e cultural das instituições, à medida que evidencia uma dimensão política ampla, que abrange não apenas regras formais, procedimentos e normas, mas principalmente sistemas característicos, rompendo assim a divisão conceitual entre instituições e cultura. Além disso, para o institucionalismo sociológico as instituições vão muito além de simplesmente determinar os cálculos estratégicos dos atores, pois estes não só modelam suas preferências como também a sua própria identidade. Para Hall e Taylor (2003), os neo-institucionalismos sociológicos distinguem-se igualmente pelo seu modo de enfrentar as relações entre as instituições e a ação individual, em consonância com o "enfoque culturalista", que consiste em afastar-se de concepções que associam a cultura às normas, às atitudes afetivas e aos valores, para aproximar-se de uma concepção que considera a cultura como uma rede de hábitos, de símbolos e de cenários que fornecem modelos de comportamento, desenvolvendo contudo certas nuanças particulares. O institucionalismo da escolha racional parte do pressuposto do individualismo metodológico, enfatizando o caráter instrumental e estratégico do comportamento do indivíduo. As instituições têm, sobre o comportamento do indivíduo, um caráter externo e as mesmas são vistas como o resultado intencional, quase contratual, e funcional de estratégias de otimização de ganho por parte dos agentes. A política é considerada pelo institucionalismo da escolha racional como um conjunto de dilemas de ação coletiva, situações em que os atores, agindo com o propósito de maximizar a realização de suas preferências, terminam por produzir resultados coletivamente insatisfatórios. Os teóricos da escolha racional, de acordo com Hall e Taylor (2003), adotam a interação estratégica na determinação das situações políticas, evidenciando que o comportamento de um ator é determinado por um cálculo PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 66 estratégico, e esse cálculo é fortemente influenciado pelas expectativas do ator relativas ao comportamento provável dos outros atores. Em relação à origem das instituições, o institucionalismo da escolha racional explica que os atores criam as instituições, essencialmente, para obter ganhos de cooperação. A sobrevivência de determinadas instituições em detrimento de outras, por outro lado, se explica na medida em que elas fornecem maiores benefícios aos atores relevantes do que arranjos institucionais alternativos. 3.1.2 A visão de Douglass North sobre a nova economia institucional (NIE) A partir do ano de 1993, com a obtenção do Prêmio de Ciências Econômicas, Douglass North passou a ser referência importante para o estudo do desenvolvimento das economias no longo prazo, em virtude do programa de pesquisa alternativo à economia neoclássica chamado de Nova Economia Institucional (NIE). De acordo com Gala (2003, p. 89), North “procura demonstrar como o crescimento de longo prazo, ou a evolução histórica, de uma sociedade é condicionado pela formação e evolução de suas instituições”. Na década de 60, North publicou um trabalho intitulado “Sources of Productivity Change in Ocean Shipping”, evidenciando estudos mais voltados à evolução de arranjos institucionais. Já na década de 80 publicou “Structure and Change in Economic History” onde apresentou à corrente da NIE contribuições analíticas significativas, muito embora não exponha ainda sua teoria acerca do desenvolvimento econômico e da evolução institucional. Desenvolveu uma série de trabalhos com o objetivo de interpretar o papel das instituições na evolução das sociedades, cujos trabalhos culminam no livro Institutions, Institutional Change and Economic Performance, na década de 90, em que conforme ressalta Gala (2003, p. 98), North “finalmente atinge seu objetivo: desloca-se da história, para enunciar um modelo de desenvolvimento econômico. [...] opera sua transação final da análise histórica para a teórica”. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 67 Segundo Gala (2003), é crescente a quantidade de literatura a respeito do novo institucionalismo, constituindo-se de um programa de pesquisa progressivo, tendo North como um dos fundadores desta agenda de pesquisa. A natureza das instituições e as conseqüências dessas para o desenvolvimento econômico (ou social), a teoria sobre a mudança institucional bem como o entendimento sobre a diferença entre os desempenhos das economias ao longo do tempo, fazem parte do trabalho desenvolvido por North (1990). O trabalho de North iniciou-se com a identificação de uma distância relevante entre a teoria econômica neoclássica e o funcionamento do mundo real, o que o levou a formular uma teoria (institucional) do desenvolvimento econômico, tomando por base estudos institucionais históricos. Em sua publicação The Rise of the Western World: A New Economic History, de 1973, North, em co-autoria com Robert Thomas, aborda o processo histórico do surgimento do capitalismo no mundo ocidental, evidenciando as dificuldades existentes na transição do feudalismo para o capitalismo. Essa obra gira em torno do conflito entre o aumento populacional, causado pelo progresso econômico e o esgotamento dos recursos físicos das sociedades no final do feudalismo. No entanto, esse crescimento desdobrava-se em desenvolvimento de novas instituições por um lado, mas por outro provocava empobrecimento relativo das populações. Conforme North e Thomas (1973), a causa do problema econômico não está apenas no avanço tecnológico, nem tampouco na acumulação de capital. O que se pode observar é que as regras ou arranjos institucionais instigam ou inibem atividades nesse sentido. O que a literatura econômica atual considera causas do crescimento nada mais são do que conseqüências de uma dada matriz institucional específica. Num mundo onde a escassez de recursos compreende um dado fundamental, North concorda com o arcabouço geral da ciência econômica convencional, que procura discernir as regras de comportamento que governam a interação entre as pessoas e que leva à concorrência por sua alocação. Enfatiza, PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 68 entretanto, que a troca entre as pessoas não se dá num ambiente harmônico, sem atrito, nem tampouco sem custos. North (1990), em seu livro Institutions, Institutional Change and Economic Performance, apresenta metodologicamente a teoria sobre o desenvolvimento econômico a partir da análise institucional, definindo assim, instituições “como as regras do jogo numa sociedade ou, mais formalmente, são as limitações idealizadas pelo homem que dão forma as interações humanas”. O Estado configura como elemento central nas idéias de North, tanto que amplia o seu modelo, buscando encontrar no mau funcionamento dos sistemas políticos atuais a causa do surgimento e persistência de arranjos de propriedade ineficientes. A esse argumento soma a importância das ideologias, para então concluir que um arranjo eficiente depende, em última análise, da dinâmica política e cultural de uma sociedade (NORTH, 1990). De acordo com Moraes Júnior (apud GALA, 2003, p. 98), pode-se perceber uma evolução na idéia de eficiência, pois inicialmente North trabalha com um conceito de eficiência produtiva, “como a capacidade de se gerar certo arranjo institucional que maximize a produção, dado certo estoque de recursos e tecnologia” e em seguida introduz um conceito mais elaborado, eficiência adaptativa. Segundo ainda o mesmo autor, uma sociedade será mais eficiente quanto maior for sua capacidade de se adaptar a adversidades ao longo do tempo. A Nova Economia Institucional, além de criticar a ausência de uma análise institucional nos neoclássicos, rejeita também o juízo de que os indivíduos são dotados de racionalidade, que permite que conheçam e processem todas as informações pertinentes a sua tomada de decisão com o objetivo de maximizar seu bem-estar econômico ou político (rational choice). Com isso, para Gala (2003), a incerteza é o conceito mais fundamental ou primário do modelo teórico de North, e onde há incerteza, há uma impossibilidade de existir transações econômicas entre pessoas. Como os mercados não funcionam perfeitamente e os agentes econômicos são dotados de uma racionalidade limitada, as decisões dos indivíduos são permeadas de subjetividade derivada das condições PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 69 de incerteza e das limitações humanas, bem como das assimetrias no acesso as informações. Do conceito de incerteza de North, derivam-se os custos de transação, que se pode relacionar com a situação em que o funcionamento da sociedade e das transações econômicas pode ser prejudicado pelas incertezas do mercado, o que ocasionaria uma elevação nos referidos custos de transação. Para superar os custos de transação na presença de incerteza surgem as instituições, que na visão de North são restrições ao comportamento predatório que os indivíduos tenderiam a adotar caso se guiassem apenas pelas informações precárias que detêm sobre suas propriedades e as propriedades alheias. As instituições seriam, assim, facilitadores das trocas. Gala (2003, p. 103) evidencia diversos pontos de como fica a teoria NIE proposta por North: • O ambiente econômico e social dos agentes é permeado por incerteza. • A principal conseqüência dessa incerteza são os custos de transação. Estes podem ser divididos em problemas de measurement e enforcement. • Para reduzirem os custos de transação e coordenar as atividades humanas, as sociedades desenvolvem instituições. Estas são um contínuo de regras com dois extremos: formais e informais. • O conjunto dessas regras pode ser encontrado na matriz institucional das sociedades. A dinâmica dessa matriz será sempre path dependent. • A partir dessa matriz, definem-se os estímulos para o surgimento de organizações que podem ser econômicas, sociais e políticas. • Estas interagem entre si, com os recursos econômicos — que junto com a tecnologia empregada definem os transformation costs tradicionais da teoria econômica — e com a própria matriz institucional — que define os transaction costs — e são, portanto, responsáveis pela evolução institucional e pelo desempenho econômico das sociedades ao longo do tempo. 3.1.3 Definições acerca de instituições A instituição, de acordo com Scott (1995), é uma estrutura ou atividade cognitiva, normativa ou reguladora que proporciona estabildade e significado a um comportamento social. As instituições operam em meio a diferentes culturas, estruturas e rotinas próprias. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 70 Para North (1993), as instituições podem ser definidas como as regras do jogo em uma sociedade, que regem a interação entre indivíduos. De forma específica, North aplica o conceito de instituições ao campo da economia, onde estas representam uma restrição a mais para os agentes no curso de suas transações econômicas (GALA,2003). De acordo com Lapassade e Lourau (1972), a instituição é considerada o lugar onde se articulam, onde se evidenciam as formas que assumem as determinações das relações sociais, assim como onde se trabalha permanentemente a ideologia. Uma característica muito importante que pode ser verificada nas instituições é que as regras institucionalizadas distinguem-se claramente dos comportamentos sociais prevalecentes, tendo em vista que tais regras podem ser classificações construídas na sociedade através da reciprocidade de tipificações e interpretações. Essas regras podem ainda, ser simplesmente absorvidas, ou contar com o suporte da opinião pública, ou, ainda, ser impostas por lei (MEYER e ROWAN, 1991). As instituições inevitavelmente envolvem obrigações normativas, mas são sempre absorvidas socialmente como algo que deve ser levado em conta pelos atores em suas ações. Com isso, institucionalização é o processo que faz com que processos sociais, as obrigações e atualidades passem a ter status de lei no pensamento e na ação social. Segundo Prates (2000), existem quatro grandes vertentes sociológicas distintas, do ponto de vista teórico, que definem instituição: 1) Estrutural-Funcionalista: as instituições são valores internalizados que geram predisposições comportamentais adequadas ao ambiente da interação social. 2) Interacionismo Simbólico: as instituições são representadas por sistemas de valores e normas que molduram os contextos emergentes de interação ou “encontros” sociais. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 71 3) Fenomenologia: Trata a instituição como uma realidade tida como certa (taken for granted) nos contextos da vida cotidiana dos atores sociais. 4) Escolha Racional (Utilitarismo da Economia): a instituições é um sistema de normas que reduz os custos de transação interpessoal, produzido pela seqüência temporal do intercâmbio social entre indivíduos. Nos conceitos supracitados, a construção e interação social representam um papel importante em todas as definições. Para North, as instituições estão na origem do processo de acumulação de capital e progresso tecnológico, o que pode ser verificado na prática na história (GALA, 2003). Segundo Jepperson (1991), a instituição é uma classe social que revela um processo organizado e estabelecido na forma de um sistema normativo, composto de rotinas auto reproduzidas, socialmente construídas, que representa uma ordem ou padrão social que atingiu um determinado estado ou propriedade. Posto de outra maneira, instituições são as classes sociais que, quando cronologicamente reproduzidas, garantem a sua sobrevivência em relação a um processo social qualquer. Para Conceição (2002), as instituições representam hábitos estabelecidos de pensamento comum à maioria dos homens, podendo ser conceituadas como o resultado de uma situação presente, que molda o futuro por meio de um processo seletivo e coercitivo, orientado pela forma como os homens vêem as coisas, o que altera ou fortalece o seu ponto de vista. Pode-se observar que as condições mais importantes para o crescimento de um país são boas instituições e boas regras, bem mais do que recursos naturais e mais ainda do que a disponibilidade local de capitais. No neoinstitucionalismo, as instituições passam a ser consideradas como variáveis independentes e como os mecanismos que os indivíduos desenvolvem para atuar sobre o ambiente por eles criado. North (2003, p.15) assegura que: Nenhum país consegue crescer de forma consistente por um longo período de tempo sem que antes desenvolvam de forma sólida suas instituições. Quando uso a palavra instituição, refiro-me a uma legislação clara que PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 72 garanta os direitos de propriedade e impeça que contratos virem pó da noite para o dia. Refiro-me ainda a um sistema judiciário eficaz, a agências regulatórias firmes e atuantes. Só assim, com instituições firmes, um país pode estar preparado para dar o salto qualitativo, mudar de patamar. Na visão de North, as instituições são restrições ao comportamento predatório que os indivíduos tenderiam a adotar caso se guiassem apenas pelas informações precárias que detêm sobre suas propriedades e as propriedades alheias. As instituições seriam, assim, facilitadores das trocas (MACEDO, 2003). Vale destacar a divisão das instituições em formais e informais. As primeiras, de acordo com North (1990), são leis e constituições formalizadas e escritas, em geral impostas por um governo ou agente com poder de coerção, e as segundas, normas ou códigos de conduta, formados em geral no seio da própria sociedade. As instituições são formas supra-organizacionais da atividade humana pelas quais os indivíduos e as organizações produzem e reproduzem a sua subsistência e organizam tempo e espaço. São também sistemas simbólicos, que controlam a conduta humana ao conduzirem para determinada direção, mediante padrões, em oposição a muitas outras teoricamente possíveis. 3.2 A incorporação de práticas sociais nas organizações através do processo de institucionalização Para que seja realizada uma análise de como as práticas sociais passam a ser consideradas institucionalizadas nas organizações, é necessário que se faça uma abordagem, primeiramente, sobre o processo de institucionalização. Conforme Selznick (1972, p. 14), a institucionalização [...] é um processo. Algo que acontece a uma organização com o passar do tempo, refletindo sua história particular, o pessoal que nela trabalhou, os grupos que engloba com os diversos interesses que criaram, e a maneira como se adaptou ao ambiente. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 73 De acordo com Berger e Luckmann (2003), o processo de institucionalização tem início à medida que ocorre a produção de tipificações recíprocas decorrentes da interação entre dois indivíduos quaisquer. Com isso, segundo os autores, o processo de institucionalização passa por três etapas, conforme demonstrado no Quadro 5. Etapas do processo de institucionalização 1) Exteriorização Quando novos indivíduos são acrescentados no processo de institucionalização, ocorre o que se chama de uma exteriorização das tipificações, que antes eram decorrentes das interações apenas entre dois indivíduos, ganhando o caráter da historicidade. 2) Objetividade Significa que as instituições que estão agora cristalizadas [...] são experimentadas como existindo por cima e além dos indivíduos que ‘acontece’ corporificá-las no momento”. 3) Interiorização Nessa etapa ocorre a transmissão do mundo social objetivado para novas gerações, ao mesmo tempo em que exige legitimação, ou seja, explicação e justificação para sua existência. Quadro 5 - Etapas do processo de institucionalização. Fonte: Adaptado de Berger e Luckmann (2003). Segundo Meyer e Rowan (1991), a institucionalização é o método que permite que os processos sociais, as obrigações e as atualidades passem a ter status de lei no pensamento e na ação social. Esses autores, diferentemente dos autores mencionados acima, têm por objeto de análise a institucionalização em estruturas organizacionais formais. Pode-se ainda definir a institucionalização, de acordo com Fonseca (2003 apud FREITAS, 2005), como o processo de transformar crenças e ações em regras de conduta social, que, ao longo do tempo, por influência de mecanismos de aceitação e reprodução, tais regras tornam-se padrões e passam a ser encaradas como rotinas naturais, ou concepções amplamente compartilhadas da realidade. Por sua vez, Zucker (1991) percebe a institucionalização como um processo, pelo qual atores individuais transmitem o que é socialmente definido como PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 74 real, e, ao mesmo tempo, como uma variável, de quanto uma ação pode ser considerada como certa em uma determinada realidade social. Para Meyer, Boli e Thomas (1994, p. 10), a institucionalização seria “o processo pelo qual um dado conjunto de unidades e padrões de atividade vem a ser normativa e cognitivamente possuído num local, e praticamente considerado como legítimo”. Nesse sentido, pode-se afirmar que a institucionalização legitima os interesses que existem em seu ambiente, por meio da necessidade de sobrevivência, de reconhecimento e de adaptabilidade. De acordo com Lawrence, Winn e Jennings (2001 apud FREITAS, 2005), as características temporais do fenômeno de institucionalização apontam um padrão típico de eventos e relações em um processo de institucionalização, podendo ser representado por quatro fases: 1) fase inicial de inovação envolvendo poucos atores; 2) fase de rápida difusão; 3) fase de saturação e legitimação completa e; 4) fase de desinstitucionalização. A fase de desinstitucionalização pode ser verificada quando organizações lutam contra as pressões institucionais, o que possibilita a ocorrência de processos de desinstitucionalização, que constitui a reversão de todo o processo, a qual somente ocorre diante de uma grande mudança no ambiente, que possibilite aos atores com interesses contrários a se opor ou explorar suas fraquezas. Dessa maneira, de acordo com Fonseca (2003), esse processo pode ocorrer por uma deterioração gradual da aceitação e uso de práticas já institucionalizadas, vulnerabilizando a organização ao criar um vácuo institucional, que deverá ser preenchido por novas concepções, pela relegitimação de práticas, caracterizando a “reinstitucionalização” A incorporação das práticas sociais nas organizações, através do processo de institucionalização, ocorre sempre que há a introdução de valores, de maneira que as exigências das tarefas organizacionais não se limitam apenas a aspectos técnicos, investigando porque algumas crescem e exercem influência sobre o ambiente, enquanto outras não conseguem alcançar o mesmo estágio, à medida que essas práticas sociais tornam-se habituais. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 75 Quando uma prática social é institucionalizada, em determinado contexto, torna-se parte da vida daquela comunidade. Dessa maneira, para Selznick (1996), institucionalização liga-se à idéia de permanência; assim, a prática que rapidamente é abandonada, que é “dispensada” em resposta a uma nova circunstância ou demanda, na verdade não tinha se institucionalizado. Nesta pesquisa, o processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa nas distribuidoras de energia elétrica, através das práticas aplicadas no Ceará e na Bahia foi estudado com base no modelo proposto por Tolbert e Zucker, conforme demonstrado no item seguinte. 3.2.1 O processo de institucionalização e o modelo de Tolbert e Zucker A adoção de normas e regulamentos em uma organização não é o suficiente para considerar que esta tenha uma estrutura institucionalizada, pois é necessário que essas normas passem gradativamente por um processo de institucionalização. Este processo aborda a tipificação recíproca de ações habituais por tipos de atores, ou seja, de acordo com Berger e Luckmann (2003), um conjunto de ações habituais, cujo processo de formação precede à institucionalização, é atribuído, ao longo do tempo (historicidade) e de maneira compartilhada, a um determinado ator ou atores, que passam a desempenhar papéis no contexto social. O processo de institucionalização de crenças e valores normativos, para Vieira e Misoczky (2000), acontece em níveis interpessoais e intra-organizacionais, e os argumentos institucionais são utilizados como uma forma de chamar atenção para a questão da agência nos estudos organizacionais. Outros autores enfatizam as influências sociais e culturais mais amplas que afetam a vida organizacional, podendo ser citado Tolbert e Zucker (1999), as quais analisam o processo ao nível organizacional e apóiam-se no pilar normativo da teoria, de acordo com Machadoda-Silva e Gonçalves (1999). Tolbert e Zucker (1999) advertem que, embora existam muitos estudos baseados na teoria institucional, a atenção dada a conceitualização e à PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 76 especificação dos processos de institucionalização tem sido mínima, tendo em vista que, em sua concepção, a institucionalização é quase sempre tratada como um estado qualitativo, onde as estruturas são institucionalizadas ou não são, e não como um processo, onde existem variações nos níveis de institucionalização – o que pode afetar o grau de similaridade entre um conjunto de organizações. Partindo do modelo proposto por Berger e Luckmann a respeito do processo de institucionalização, Zucker (1991, p. 83) realizou uma pesquisa que tinha como objetivo averiguar “[...] o efeito de diferentes níveis de institucionalização em realidades construídas sobre persistência cultural [...]”. Assim, segundo Tolbert e Zucker (1999), o processo de institucionalização nas organizações segue três estágios (pré-institucional, semi-institucional e total institucionalização), conforme demonstrado a seguir: 1) Habitualização (pré-institucional) – quando da ocorrência do processo de institucionalização, geram-se, por meio de algumas situações específicas, estímulos que formam uma base empírica e que se tornam habituais em virtude da sua posição mais favorável e por apresentar menor desgaste de recursos. Nesse momento, a norma pode adquirir impessoalidade. significados próprios Isso em resulta e, estruturas conseqüentemente, que podem ser classificadas como um estágio de pré-institucionalização. Esse processo envolve a geração de novas políticas e modificações nessas estruturas como forma de melhor adaptar-se às condições inerentes ao processo normativo. Com isso, a habitualização decorre do desenvolvimento de comportamentos padronizados para a solução de problemas e a associação de tais comportamentos a estímulos particulares, compreendendo as inovações e mudanças efetuadas em resposta a problemas organizacionais específicos. Levam em consideração soluções adotadas em outras organizações, com possibilidade de ocorrência de mimetismo (TOLBERT; ZUCKER, 1999). 2) Objetificação (semi-institucional) - nesse estágio, a norma passa a ser generalizada pelo seu significado intrínseco. A tendência de PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 77 atender cada vez mais aos objetivos determinados pela estrutura normativa, difundindo-a entre todos os membros da organização e, principalmente, a adoção de um consenso social entre os tomadores de decisão é considerada um ponto de transição entre a estrutura préinstitucionalizada e a estrutura totalmente institucionalizada. A objetificação consiste no desenvolvimento de consenso social entre as pessoas que tomam as decisões na organização sobre o valor da estrutura a partir da obtenção e análise de informações sobre a sua disseminação em (monitoramento outras organizações interorganizacional), do mesmo implicando na campo difusão da estrutura. Nesse estágio de semi-institucionalização, os Líderes (Defensores das mudanças) desempenham papel importante, realizando as tarefas de teorização que objetivam atribuir uma legitimidade cognitiva e normativa geral (TOLBERT; ZUCKER, 1999). 3) Sedimentação (total institucionalização) - a difusão da estrutura normativa e a sua habitualização provocam a sua sedimentação, que pode sofrer a imposição coercitiva dos novos membros da organização. Nesse momento em que a norma está totalmente sedimentada, é possível afirmar que ocorreu a institucionalização total da organização. Para que haja uma compreensão do processo de sedimentação, é necessária a identificação dos fatores que afetam tanto a abrangência do processo de difusão quanto da conservação da estrutura sedimentada em longo prazo. Conforme Tolbert e Zucker (1999), esse processo se apóia na continuidade histórica da estrutura e, especialmente, em sua sobrevivência pelas várias gerações de membros da organização. A partir do momento em que ocorre a sedimentação, é possível analisar o grau de institucionalização e a conformidade dos indivíduos com o comportamento dos outros dentro da organização e das organizações com outras organizações, que pode ocorrer de acordo com normas escritas ou implícitas no comportamento social do grupo (TOLBERT; ZUCKER, 1999). Fazendo um comparativo entre as etapas do processo de institucionalização adotadas pelos autores Berger e Luckmann (2003) e Tolbert e PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 78 Zucker (1999), observa-se a adoção de uma terminologia diferente por esses autores para a caracterização das diferentes etapas do processo. Enquanto Berger e Luckmann referem-se à primeira etapa como exteriorização, Tolbert e Zucker a tratam como habitualização; a segunda etapa, no entanto tem o mesmo tratamento – objetividade ou objetificação; e a terceira etapa que é caracterizada por Berger e Luckmann como interiorização Tolbert e Zucker a abordam como exterioridade. No entanto, embora sejam utilizados diferentes termos para caracterizar as etapas do processo de institucionalização, o entendimento é semelhante nos dois estudos realizados pelos autores. Segundo Tolbert e Zucker (1999), o resultado ou o estágio final de um processo de institucionalização é definido como “uma tipificação de ações tornadas habituais por tipos específicos de atores”. Dessa forma, as ações tornam-se habituais à medida que a decisão de tomar essa ação é simples, ou seja, demanda um mínimo de esforço. A tipificação, no entanto, refere-se ao desenvolvimento de definições ou significados compartilhados em relação a esses comportamentos que se tornaram habituais, tornando-se generalizados, ou seja, independentes dos indivíduos específicos que desempenham a ação. Observa-se que, durante o processo de institucionalização, até se chegar ao estágio de sedimentação, as organizações que compõem o campo vão respondendo às pressões do processo, como: as mudanças tecnológicas reorientação técnica ou tecnológica; a legislação - representando novos arranjos jurídicos que podem provocar maior ou menor receptividade por parte das organizações e; as forças do mercado - decorrentes de fatores econômicos, em conformidade com seus interesses materiais ou simbólicos, dificultando ou facilitando a assimilação da prática. De acordo com Scott (1995), o posicionamento da organização frente à pressão institucional, e conseqüente ação, vai depender de uma série de fatores; dentre eles destaca-se, além das características da organização, sua localização no campo organizacional. O conceito de campo organizacional é central para a análise institucional. Conforme Dimaggio e Powel (1991), o campo organizacional inclui organizações PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 79 especializadas que limitam, regulam, organizam e representam ao nível do próprio campo. Está associado a um problema compartilhado por uma rede de organizações que interagem, envolvendo a sobrevivência organizacional. Apresenta a vantagem de incluir todos os atores relevantes, quando tratado como unidade de análise. A total institucionalização da estrutura organizacional depende, conforme afirmam Tolbert e Zucker (1999, p.210), dos efeitos conjuntos de: Uma relativa baixa resistência de grupos de oposição; promoção e apoio cultural continuado por grupos de defensores; correlação positiva resultados desejados. A resistência provavelmente limitará a disseminação da estrutura entre organizações identificadas, pela teorização, como adotantes significativos; a promoção continuada e/ou benefícios demonstráveis são necessários para contrabalançar tendências entrópicas e, assim, assegurar a perpetuação da estrutura no tempo. Segundo Tatto (2005), pode-se determinar cinco elementos constitutivos do processo de institucionalização, conforme demonstrado no Quadro 6. FATOR Campo Organizacional Normatização Habitualização Objetificação Sedimentação ELEMENTOS CONSTITUTIVOS Contexto institucional de referência local, regional, nacional e internacional. Organizações que controlam, regulam, organizam e representam as outras organizações dentro do campo. Conjunto de indicadores legais: leis, decretos, estatutos, regulamentos, portarias, resoluções e regras que dá legitimidade à organização e suas ações. Desenvolvimentos de comportamentos padronizados para a solução de problemas e a associação de tais comportamentos a estímulos particulares para gerar novos arranjos estruturais. Desenvolvimentos de significados socialmente compartilhados que envolvem a difusão e disseminação da estrutura. Os significados atribuídos à ação habitual se tornam generalizados. Apóia-se na continuidade histórica da estrutura, dos valores e crenças; e, em especial, na sobrevivência da visão de seus membros ao longo do tempo. Quadro 6 - Fatores constitutivos de institucionalização. Fonte: Tatto, 2005. Os elementos evidenciados no quadro 5 são analisados na pesquisa de campo, visto que se adotou como teoria subjacente a teoria institucional, enfatizando o modelo proposto por Tolbert e Zucker, para análise das etapas do processo de institucionalização das ações sociais praticadas pelos principais atores atuantes no PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 80 setor elétrico, nas distribuidoras de energia do Ceará e da Bahia, no que concerne à responsabilidade social corporativa. Baseado no modelo proposto por Tolbert e Zucker (1999), pode-se fazer uma associação entre o Processo de institucionalização da RSC na visão dessas autoras e o processo de institucionalização da RSC sob visão dos stakeholders, conforme demonstrado no Quadro 7. Processo de institucionalização da RSC na visão de Tolbert e Zucker Processo de institucionalização da RSC na visão dos stakeholders Habitualização Filantropia Objetificação Responsabilidade Social Sedimentação Desenvolvimento Sustentável Quadro 7 - Associação entre o processo de institucionalização da RSC na visão de Tolbert e Zucker e na visão dos stakeholders. Fonte: Elaborada pela autora (2008). A habitualização, que é considerada como um estágio de préinstitucionalização, pode ser associada à filantropia a medida em que, de acordo com Tolbert e Zucker (1999, p. 206) “envolve a geração de novos arranjos estruturais em resposta a problemas ou conjuntos de problemas organizacionais específicos”. As ações de filantropia, motivadas por razões humanitárias, são isoladas e reativas e tratam-se apenas de uma relação social da organização para com a comunidade (ETHOS, 2007). Assim, considera-se que a filantropia foi o passo inicial em direção à responsabilidade social, representando uma evolução desta ao longo do tempo. A objetificação, que se trata do estágio de semi-institucionalização, pode ser associada à responsabilidade social, tendo em vista que esse estágio, segundo Tolbert e Zucker (1999, p. 207) “envolve o desenvolvimento de certo grau de consenso social entre os decisores da organização a respeito do valor da estrutura, e a crescente adoção pelas organizações com base nesse consenso”, ou seja, assume um caráter “[...] mais permanente e disseminado”. Dessa maneira, em virtude dos problemas enfrentados pela sociedade em geral, através da lacuna PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 81 deixada pelo Estado, as empresas passam a ter consciência do seu papel como coresponsável pelo desenvolvimento social da comunidade em que estão inseridas e pela preservação do meio ambiente, vinculando as suas atividades ao planejamento estratégico empresarial, no que se refere ao atendimento de todos os requisitos legais quanto ao corpo funcional, meio ambiente e aos direitos dos consumidores. O estágio de sedimentação associa-se ao desenvolvimento sustentável em virtude da sua característica de institucionalização total. A empresa ao realizar ações sociais em benefício de seus stakeholders, está atuando na dimensão social do desenvolvimento sustentável e exercendo a sua responsabilidade social. As organizações que incorporam práticas sustentáveis de gerenciamento asseguram o sucesso de seus negócios no longo prazo e, contribuem para o desenvolvimento das comunidades, para a criação de ambiente saudável e de uma sociedade mais evoluída e estável. Nesse sentido, Tolbert e Zucker (1999) identificam nesse estágio três fatores principais: 1) impactos positivos – resultados demonstráveis associados à estrutura; 2) resistência de grupo – pessoas que são afetadas adversamente pela estrutura; e 3) defesa de grupo de interesse – pessoas que são favoráveis às mudanças na estrutura. Ressalta-se que tanto a Filantropia como a Responsabilidade Social e o Desenvolvimento Sustentável são atividades, onde cada uma delas está sujeita a passar por um processo de institucionalização. Pode-se perceber, conseqüentemente, que no processo de institucionalização proposto por Tolbert e Zucker (1999) há uma série de fatores que podem definir se uma mudança organizacional será ou não bem-sucedida. 3.2.2 Dinâmica da institucionalização de práticas sociais O processo de construção social da realidade faz parte da institucionalização das práticas sociais que, além dos fatores/condicionantes estruturais, também é resultado da interação dos indivíduos e organizações, atendendo a interesses de grupos, legitimados pela própria sociedade. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 82 De acordo com Ventura (2005), a institucionalização das práticas sociais é constituída por três elementos que fazem parte do mesmo processo, conforme demonstrado na Figura 5. Figura 5 - Três elementos na institucionalização de práticas sociais. Fonte: Ventura (2005) A ação prática, primeiro elemento apresentado na figura 5, refere-se efetivamente ao que as pessoas estão realizando, as ações propriamente ditas que estão sendo exploradas. O segundo elemento, chamado de discurso de justificação, relaciona-se com o discurso que é realizado sobre a ação prática e sobre a prática social. Esses discuros procuram justificar sua escolha, em detrimento de outras possíveis e mais, discursos que buscam justificar a necessidade de sua apropriação (inclusão) pela organização em seus processos. Esses dois primeiros elementos interrelacionam-se, tendo em vista que toda ação se baseia em um discurso que a justifica. Os arranjos estruturais relacionados à prática social, que são o terceiro elemento na institucionalização de práticas sociais, representam a manifestação da concretização dos dois primeiros, demonstrando que a prática social já está sendo incorporada e, assim, exteriorizada nas estruturas organizacionais. Dessa forma, pode-se fazer uma comparação com o modelo de fases do processo de institucionalização, de Tolbert e Zucker (1999), onde está contido neste elemento. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 83 As provas, dispositivos válidos no sentido de exibir aos atores a justiça e transparência da prática social, são mediadoras dos arranjos estruturais. Tais provas institucionalizam-se ao longo do processo, possibilitando que as ações e os discursos de justificação passem a ter corpo dentro da estrutura organizacional. De acordo com Boltanski e Chiapello (1999), as provas são tratadas como instituições intermediárias que sustentam e alimentam a prática-fim. Dessa forma, esse conjunto de instituições e provas que ocorre durante o processo de institucionalização vai se compor e formar as tipificações partilhadas que resultarão na institucionalização da prática social fim, considerada como uma prática social maior. Por meio das provas, a sociedade passa a controlar o processo que está sendo realizado, por este motivo, a legitimação das provas ocorre na dinâmica do processo. Com isso, a partir do cumprimento das provas, a relação estabelecida passa a ser considerada justa. Vale ressaltar que um arranjo estrutural pode ser, ao mesmo tempo, considerado uma prova, no sentido de ser também fonte para a cobrança e o controle social (VENTURA, 2005). Outro elemento que deve ser acrescido à institucionalização de práticas sociais são os interesses, conforme demonstrado na Figura 6. Figura 6 - Elementos na institucionalização em um campo organizacional específico. Fonte: Ventura (2005) PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 84 Com base na figura apresentada, todo o processo de institucionalização e os arranjos estruturais criados mantêm os interesses envolvidos inicialmente na institucionalização, contudo, por outro lado geram novos interesses, tendo em vista que a manutenção dos arranjos torna-se um desafio, que envolve disputa por recursos e poder dentro do campo organizacional. O processo de institucionalização pode ser verificado por meio da figura 6, pois tanto as ações como os arranjos estruturais derivados do processo acontecerão pautados em uma justificação, um conceito, uma visão de mundo, por menos consciente que isso esteja para os atores envolvidos. Diferentemente do modelo proposto por Tolbert e Zucker (1999), os elementos existentes na institucionalização em um campo organizacional específico não se dão de forma linear, seqüencial, podendo haver caminhos variados em cada campo organizacional, ou seja, o processo vai ter uma dinâmica própria em cada organização e no campo como um todo. Dessa forma, a composição dos elementos é quem vai definir a institucionalização da prática social dentro de um campo e na sociedade em geral (VENTURA, 2005). Conclui-se que as práticas sociais que são institucionalizadas são aquelas que 'funcionam', no sentido de que são úteis aos que a elegeram (PECI, 2005). 3.3 Isomorfismo institucional O estudo da homogeneidade das estruturas e ações das organizações tem se tornado crescente na literatura e nos campos organizacionais. Essa homogeneidade é decorrente do isomorfismo, que torna as práticas organizacionais, cada vez mais homogêneas, com menor variedade de arranjos organizacionais. O isomorfismo institucional, de acordo com Dimaggio e Powell (1991); Meyer e Rowan (1991), é a homogeneização de práticas, processos e estruturas, por parte de organizações que atuam dentro de um mesmo setor de atividade, como forma de garantir a sobrevivência por intermédio de um processo de legitimação. O PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 85 estudo do isomorfismo é importante para se entender como se processam os mecanismos de intercâmbio que tornam as organizações semelhantes. Para Powell (1991), o isomorfismo é um processo compulsório que força as unidades de uma população a assemelharem-se a outras unidades que enfrentam os mesmos desafios, o que também pode ser tratado como institucionalização. Segundo Daft (1999, p. 347), o isomorfismo institucional “é o surgimento de uma estrutura e abordagens comuns entre as organizações do mesmo setor”. Os relacionamentos interorganizacionais possuem forças que fazem com que as organizações de um mesmo setor se pareçam entre si. Para Dimaggio e Powell (1991), o isomorfismo significa que uma empresa adota soluções desenvolvidas por outras empresas em decorrência de um destes três fatores ou da combinação entre eles: 1) influência política e da necessidade de legitimização (coercitivo); 2) padronização de respostas à incerteza (mimético); e 3) profissionalização (normativo), conceitos estes que serão expostos no item 3.3.2. No presente estudo, o isomorfismo institucional pode ser observado nas organizações distribuidoras de energia elétrica, a partir da criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), quando houve a reestruturação do setor elétrico brasileiro, fazendo com que o processo de transferência das empresas públicas para a iniciativa privada passasse a ser acompanhado da definição de algumas regras claras e orientadoras. As distribuidoras de energia elétrica privatizadas, como a COELCE e COELBA, passaram a ser reguladas e fiscalizadas pela ANEEL, ocorrendo, assim, uma homogeneização de práticas, processos e estruturas, por parte dessas organizações, por intermédio de um processo de legitimização. 3.3.1 Ambiente institucional x isomorfismo institucional As organizações, em que há a predominância do ambiente institucional em relação ao técnico, têm sido privilegiadas nas pesquisas e estudos sobre a teoria PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 86 institucional. A abordagem institucional reconceituou o ambiente organizacional, inserindo-o como peça-chave para a análise das organizações. A Teoria Institucional permite analisar a organização e a sua relação com o ambiente, considerando que uma organização funciona bem caso seja vista pelo ambiente maior como tendo o direito legítimo de existir. Esse ambiente é o ambiente institucional, composto por normas e valores tanto dos interessados quanto dos beneficiários, como clientes, investidores, etc. (DAFT, 1999 apud PASSOLONGO; ICHIKAWA; REIS, 2004). De acordo com Scott (1991 apud FREITAS, 2005, p.29) “o ambiente institucional é caracterizado pela busca de conformidade com padrões e regras, que conferem amparo e legitimidade às organizações”. As recompensas neste último caso acontecem em função do correto estabelecimento de estruturas e processos e não em razão da quantidade ou qualidade dos produtos. O foco do ambiente institucional está situado nos fatores que, indiretamente, dão forma à ação organizacional. Dessa forma, nos setores institucionalizados, as organizações buscam apoio e legitimação de seu ambiente ao conformar-se com as normas e os requisitos que este gera (SCOTT, 1995). Conforme Dimaggio e Powell (1991), o ambiente é um fator de homogeneização organizacional, na medida em que são difundidas práticas e formas de organização que são institucionalizadas pela comunidade de organizações pertencentes a um mesmo campo. Segundo Scott e Meyer (1994), o isomorfismo institucional recompensa as organizações que mantêm a similaridade entre si, porque isso facilita as trocas, atrai pessoal, assegura uma boa reputação e garante a elegibilidade de contratos. O isomorfismo e a legitimidade podem ainda ser considerados como conceitos fundamentais para a sobrevivência das organizações. Consoante a análise de Machado-da-Silva e Fonseca (1993), o que leva uma organização a adotar posturas isomórficas em relação aos líderes do seu campo organizacional é autodefesa diante de situações sem soluções geradas PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 87 internamente, uma vez que a semelhança facilita as transações interorganizacionais, favorecendo o seu funcionamento por intermédio de regras socialmente aceitas. Na abordagem institucional, particularmente sob o prisma do Novo Institucionalismo, considera-se como fator preponderante para o isomorfismo a “adequação social”, que é a aquisição de um formato organizacional considerado legítimo em um determinado ambiente institucional (SCOTT 1991 apud FREITAS, 2005). DiMaggio e Powell (1991) enfatizam que o isomorfismo é o processo que constrange e força uma unidade em uma população a assemelhar-se com as outras unidades que estão expostas às mesmas condições ambientais. O conceito de isomorfismo também abrange questões relacionadas à competição por poder político, legitimidade institucional e conveniência social, podendo, portanto ser conceituado como uma ferramenta utilizada para entender as políticas e as cerimônias difundidas nas modernas organizações. 3.3.2 Os processos isomórficos, normativos, coercitivos e miméticos O processo de isomorfismo desenvolve-se mediante três mecanismos distintos, de acordo com DiMaggio e Powel (1991): coercitivo, normativo e mimético. • Isomorfismo coercitivo: é o resultado de pressões formais e informais exercidas por uma organização sobre outra que se encontra em condição de dependência, bem como autoridade em virtude de expectativas culturais da sociedade em que a organização está inserida. O exemplo mais conhecido desse mecanismo é a atuação do governo sobre as organizações, em termos de leis, normas e exigências. A existência de um ambiente legal comum afeta muitos aspectos do comportamento organizacional e da sua estrutura. Assim, estruturas organizacionais passam a refletir regras institucionalizadas e legitimadas pelo Estado. De acordo com Daft (1999, p. 348), ”o isomorfismo coercitivo é a pressão externa exercida sobre as PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 88 organizações para que estas adotem estruturas, técnicas ou procedimentos semelhantes a outras organizações”. • Isomorfismo normativo: é diretamente proveniente do estabelecimento de padrões por uma determinada comunidade profissional, com vistas a embasar cognitivamente e dar legitimidade à atividade por ela desenvolvida. Para Daft (1999), isomorfismo normativo significa que as organizações mudam para atender padrões de profissionalismo, para adotar técnicas que são consideradas pela comunidade profissional como atualizadas e eficazes. O grau de profissionalização é, possivelmente, o fator mais importante como mecanismo normativo a ser considerado para o entendimento das pressões normativas do ambiente, podendo ser resultante da educação formal ou da formação e manutenção das redes de trabalho. • Isomorfismo mimético: ocorre em função da incerteza, que compele as organizações a buscarem padrões de estruturação e atuação em outras organizações. Ao verificarem o sucesso de outras organizações atuantes no mesmo ramo de atividades as organizações tendem a apresentar o comportamento mimético, processo que explica a existência de modismos no mundo dos negócios (MACHADO-DASILVA, FONSECA e FERNANDES, 2000, PACHECO, 2002). Dessa forma, quando metas são ambíguas ou quando o ambiente cria incertezas simbólicas, as organizações podem copiar (moldar) a si mesmas baseadas em outras organizações. Para Daft (1999), um exemplo de isomorfismo mimético é a prática do benchmarking, que significa a identificação do melhor de uma atividade comercial e depois a duplicação da técnica para criar a excelência, talvez até mesmo aperfeiçoando o processo. Essas inovações são apoiadas culturalmente e proporcionam legitimidade aos que as adotam. Segundo Machado-da-Silva e mimético, processa-se adoção na Fonseca (1996), por parte o isomorfismo de determinada organização, de procedimentos e arranjos estruturais implementados PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 89 por outras organizações, com a finalidade de reduzir a incerteza ocasionada por problemas tecnológicos, objetivos conflitantes e exigências institucionais. O processo de isomorfismo nas distribuidoras de energia elétrica da região Nordeste, COELCE e COELBA, utilizadas como estudo nesta pesquisa, pode ser verificado à medida que estas buscam reproduzir boas práticas em função de fatores de ordem coercitiva e normativa. A atuação da ANEEL sobre as distribuidoras de energia elétrica, em termos de leis, normas e exigências, foi um fator preponderante para as mudanças ocorridas em muitos aspectos do comportamento organizacional e da estrutura destas empresas. Sob a perspectiva normativa, a ANEEL estabeleceu padrões com vistas a embasar cognitivamente e dar legitimidade à atividade por ela desenvolvida. O Quadro 8 resume as características principais dos três tipos de isomorfismo, apresentando os indicadores em nível de campo organizacional e em nível organizacional. Tipo de Isomorfismo Coercitivo Mimético Normativo Nível Organizacional Quanto mais dependentes são as organizações, mais parecidas elas se tornam. Quanto maior centralização no suprimento de recursos, maior a dependência das outras organizações. Quanto maior a incerteza, mais as organizações tentarão copiar modelos bem sucedidos. Quanto maior a ambigüidade das metas, maior a probabilidade das organizações imitarem as bem sucedidas. Quanto maior a participação dos membros das organizações em associações profissionais, maior a similaridade entre as organizações. Nível do Campo Organizacional Quanto mais o campo depende de um recurso único, maior o grau de isomorfismo. Quanto maior a interação do campo com o Estado, maior o grau de isomorfismo. Quanto menor o número de organizações modelo, mais rápido é o processo de isomorfismo. Quanto maior a incerteza tecnológica, maior o padrão de isomorfismo. Quanto maior o profissionalismo no campo, maior o grau de isomorfismo. Quadro 8 - Mecanismos isomórficos. Fonte: Pacheco (2002). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 90 Segundo Machado-da-Silva, Fonseca e Fernandes (2000), o peso de cada um dos três mecanismos isomórficos nos processos de transformação organizacional depende da situação e da história sócio-cultural de cada sociedade. Assim é que em sociedades democráticas e com maior oferta competitiva de bens e serviços tendem a predominar processos miméticos e normativos, enquanto que em sociedades de tradição autoritária, como a brasileira, a tendência é que predominem mecanismos coercitivos. DiMaggio e Powell (1983) esclarecem que o isomorfismo institucional é a razão dominante pela qual as organizações assumem determinadas formas, ou seja, o isomorfismo é um conjunto de restrições que forçam uma unidade de uma população a parecer-se com outras unidades que se colocam em um mesmo conjunto de condições ambientais. Tal abordagem sugere que as características organizacionais são modificadas na direção do aumento de compatibilidade com as características ambientais; o número de organizações em uma população é função da capacidade ambiental projetada e a diversidade das formas organizacionais é isomórfica à diversidade ambiental. Tolbert e Zucker (1999) evidenciam que é mais fácil disseminar novas estruturas entre organizações do que criar estruturas semelhantes dentro de uma mesma organização, porque a percepção das pessoas que decidem sobre os custos e benefícios da adoção é influenciada pela observação do comportamento das outras organizações, que funcionam como ambientes de “pré-teste”. Ainda segundo esses autores, a premissa desse argumento é que A noção básica de que há algum grau de incerteza nos resultados de diferentes escolhas, e que os tomadores de decisão usarão a informação obtida por meio da observação das escolhas de outros, bem como seu próprio julgamento objetivo para determinar qual a “melhor” escolha. (TOLBERT; ZUCKER, 1999, p. 208). As características dos tipos de isomorfismo podem ainda ser resumidas conforme demonstrado no Quadro 9. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 91 Mimético Motivo para se adaptar Carreira Incerteza Visibilidade inovação Base Social Exemplo Culturalmente apoiada Reengenharia, benchmarking da Coercitivo Normativo Dependência Leis, regras e sanções políticas Dever, obrigação Profissionalismocertificados, credenciamento Moral Padrões contábeis, treinamentos com consultores Legal Controle de poluição, regulamentos escolares Quadro 9 - Três Mecanismos para a Adaptação Institucional. Fonte: Scott (1995 apud Daft, 1999) A difusão da institucionalização e a sua conservação em longo prazo podem ser afetadas por aspectos legais, políticos e qualitativos, tendo em vista que os principais fatores que afetam os mesmos seriam a falta de recursos para a devida institucionalização e a dificuldade de associação entre os resultados obtidos com a estrutura devidamente institucionalizada. Na busca da legitimidade, as organizações interagem com o seu ambiente, escolhendo as estratégias e empreendendo as decisões por meio de uma inércia ambiental, no que se refere a conformidade às regras, às normas e às crenças (mitos) institucionalizadas, em conflito com critérios de eficiência. Dentro dessa perspectiva, de acordo com Dimaggio e Powell (1983) a grande maioria da literatura institucional utiliza o conceito de isomorfismo para explicar a forma como as características organizacionais são modificadas para aumentar a compatibilidade com as características ambientais. Dessa forma, o isomorfismo pressupõe que as organizações respondem de maneira similar a outras organizações que estão de alguma forma ajustadas ao ambiente. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 92 4 O SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL Neste capítulo será desenvolvida a terceira parte do referencial teórico que serve de base para essa pesquisa. O tema trata do setor de energia elétrica no Brasil, e está subdividido em 04 (quatro) segmentos, tais como: Histórico do setor elétrico no Brasil; Segmentos de atividades do setor elétrico; As privatizações e os seus reflexos na dinâmica organizacional da empresas do setor elétrico e; A institucionalização da responsabilidade social no segmento de distribuição. O setor de energia elétrica, assim como toda organização empresarial, está inserido num contexto social e ambiental que para a realização de suas atividades econômicas faz-se necessária à utilização de recursos como insumos naturais, mão-de-obra, infra-estrutura básica das cidades, bem como os serviços de terceiros. Essas organizações ao realizarem as suas atividades, ocasionam mudanças sociais, econômicas, ambientais, culturais e tecnológicas no ambiente em que atuam. Percebe-se então, que a tomada de consciência da atuação e reflexos dessas atividades nesse contexto constitui a sua responsabilidade social e ambiental. No decorrer da história do setor de energia elétrica no Brasil, observa-se que diversas transformações vêm ocorrendo que abrangem tantos aspectos internos quanto externos. Isso se deve ao fato de que, por se tratar um serviço público prestado sob o regime de concessão, o exame da responsabilidade social das organizações que compõem o setor de energia elétrica deve ser ainda mais ampliado. Compreende-se que a prestação desses serviços tem de atender prioritariamente ao interesse público, bem como satisfazer as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade e modicidade das tarifas. Ressalta-se que com o desenvolvimento sócio-econômico e a necessidade do comprometimento das companhias com a responsabilidade social corporativa, visando, entre outras finalidades, a aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável no setor de energia elétrica, são essas algumas das PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 93 transformações pelas quais o referido setor passou ao longo de sua história recente, como será visto nos segmentos subsequentes. 4.1 Histórico do setor elétrico no Brasil A história do setor elétrico no Brasil desde sua instauração nas últimas décadas do século XIX até os tempos atuais está diretamente associada ao desenvolvimento socioeconômico do país. Desde os primórdios, o período compreendido entre os anos de 1879 à 1899, já era possível observar o alinhamento do desenvolvimento socioeconômico à chegada da energia ao país. Em 1879, a necessidade de escoamento da produção de produtos agrícolas destinados à exportação e ao abastecimento interno levou a monarquia a construir a estrada de ferro D. Pedro II, atual Central do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, capital do país na época. Foi a primeira instalação de iluminação elétrica permanente do Brasil. Ainda nesse período entrou em operação a primeira usina hidrelétrica do país, na cidade de Diamantina, Minas Gerais (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). Em 1883, D. Pedro II inaugurou, na cidade de Campos (RJ), o primeiro serviço público municipal de iluminação elétrica do Brasil e da América do Sul e em 1887, Porto Alegre foi a primeira capital brasileira a ter um serviço público de iluminação elétrica a partir da energia gerada por uma unsina térmica da Companhia Fiat Lux. Ainda neste ano, foi criada, no Rio de Janeiro, a Companhia de Força e Luz que, devido a sérios problemas financeiros dissolveu-se no ano seguinte (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). Em 1892, ocorreu no Rio de Janeiro a inauguração da primeira linha de bondes elétricos, instalada em caráter permanente no país (ELETROBRÁS, 2008). Até 1900, as poucas usinas existentes no país, que somavam 12 MW de capacidade instalada, eram de origem predominantemente térmica. O aproveitamento do enorme potencial hidrelétrico do país ganharia impulso com a chegada da Light, que, entre outras, trazia duas principais atividades: o transporte PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 94 coletivo e a geração e distribuição de energia elétrica (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). Segundo a Eletrobrás (2008), em 1903, foi aprovado no Congresso Nacional o primeiro texto de lei brasileira disciplinando o uso em largas linhas da energia elétrica do país. O texto autoriza o Governo Federal a promover, por via administrativa ou mediante concessão, o aproveitamento da força hidráulica para os serviços federais, facultando o emprego do excedente da força hidráulica na lavoura, na indústria ou em outros fins. Em 1908, entrou em operação a Usina Hidrelétrica Fontes Velha, na época a maior usina do Brasil e uma das maiores do mundo, em Piraí, no Estado do Rio de Janeiro. Foi a primeira das oito usinas construídas pela Light e tinha potência instalada de 24 MW, muitas vezes superior às necesidades de consumo da região (ELETROBRÁS, 2008). Em 1913, o legendário industrial cearense Delmiro Gouveia conseguiu aproveitar a força da cachoeira de Paulo Afonso, sendo, assim foi fundada a Usina Hidrelétrica Delmiro Gouveia, a primeira do Nordeste (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). O período entre 1934 e 1945 foi marcado pela regulamentação do setor elétrico no país. Em julho de 1934, pelo Decreto nº 24.643, foi promulgado o Código das Águas, marco principal, à época, da regulamentação dos serviços e da indústria de energia elétrica no país, assegurando ao poder público a possibilidade de controlar as concessionárias de energia elétrica (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). Em 1939, o presidente Getúlio Vargas criou o Conselho Nacional de Águas e Energia (CNAE), reforçando a regulamentação dos serviços de eletricidade. O Conselho visava sanar os problemas de suprimento, regulamentação e tarifa referentes à indústria de energia elétrica do país. Em 1945 é criada, pelo Decreto-Lei nº 8.031, no Rio de Janeiro, a primeira empresa de eletricidade de âmbito federal, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), com a missão de produzir, transmitir e comercializar energia elétrica para a Região Nordeste do Brasil (ELETROBRÁS, 2008). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 95 O período entre 1953 e 1961 marcou a expansão do setor elétrico no Brasil. Nesse período, foi criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), para atuar nas áreas de energia e transporte. Também entraram em operação mais duas importantes usinas: a Usina Hidrelétrica Paulo Afonso I, pertencente à CHESF e a Usina Termelétrica Piratininga, primeira termelétrica de grande porte do Brasil. Ainda nesse período, foi criada a Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. (ESCELSA) e a Central Elétrica de Furnas S.A (ELETROBRÁS, 2008). Em 1960, foi criado pelo presidente Juscelino Kubitschek, através da Lei nº 3.782, o Ministério de Minas e Energia (MME), que tinha como objetivo o estudo e despacho de todos os assuntos relativos à produção mineral e energia. O Conselho Nacional de Água e Energia Elétrica passou a incorporar o Ministério (ELETROBRÁS, 2008). A criação da Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), em 1962, teve como objetivo disciplinar as aplicações dos recursos federais em empreendimentos em energia elétrica e promover a política energética do pais. A criação da Eletrobrás definiu um ciclo intensamente realizador na trajetória da indústria e eletricidade no Brasil (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). O período de 1962 à 1974 levou à consolidação do setor elétrico no país. Em 1963, entrou em operação a Usina Hidrelétrica de Furnas, maior usina do Brasil na época de sua construção, permitindo a interligação dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo (ELETROBRÁS, 2008). Em 1965, foi criado o Departamento Nacional de Águas e Energia (DNAE), encarregado da regulamentação dos serviços de energia elétrica do país. Em conseqüência, no ano de 1967, ocorreu a extinção do CNAE, sendo suas funções absorvidas pelo DNAE. A denominação deste alterou-se para Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) em 1968 (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). Segundo Vianna (2004), nesse período foi consolidado a estrutura básica do setor elétrico, sendo a política enérgia traçada pelo MME e executada pela Eletrobrás, e atuando o DNAEE como órgão normativo e fiscalizador. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 96 Em 1973, começou a construção da Itaipu Binacional (ITAIPU), atualmente a maior hidrelétrica do mundo em geração de energia, atraindo um grande número de pessoas que procuravam por emprego. Nos anos 70, Foz do Iguaçu era uma cidade com apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil habitantes, em dez anos, a população passou para 101.447 habitantes. Ainda nesse período, foi criado o Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CEPEL), para desevolver tecnologia em equipamentos e em sistemas elétricos (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000) O período de 1975 à 1986 foi marcado pela estatização do setor elétrico. Nesse período, entraram em operação a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, da Eletronorte; a Usina Termonuclear Angra I, primeira usina nuclear no Brasil; e o sistema de transmissaão Sul-Sudeste. Ainda nesse período, foram criados o Comitê de Distribuição de Região Sul - Sudeste (CODI) e o Comitê Coordenador de Oepração no Norte/Nordeste (CCON). Foi criado, também, pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o Grupo Coordenador de Planejamento dos Sistemas Elétricos (GCPS). Em 1985, foi constituído o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), com o objetivo de incentivar o uso racional de energia elétrica (ELETROBRÁS, 2008). O período de 1988 à 1999 compreendeu o processo de privatização do setor elétrico, período este em que o setor passou por profundas transformações. Criou-se a Revisão Institucional de Energia Elétrica (REVISE), a partir da qual surgiram novos conceitos como produtos independentes, consumidor livre, livre acesso às redes de transmissão e distribuição, além de privatização (ELETROBRÁS, 2008). A busca de um novo modelo institucional foi motivada pelo esgotamento da capacidade de investimento das empresas estatais de energia elétrica. Em 1990, o presidente Fernando Collor sancionou a Lei nº 8.031 que criava o Programa Nacional de Desestatização (PND), objetivando: a) reordenar a posição estratégica do Estado na economia ao transferir para a iniciativa privada atividades indevidamente exploradas pelo setor público; PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 97 b) contribuir para a redução da dívida pública, concorrendo para o saneamento das finanças do setor público; c) permitir a retomada de investimentos nas empresas e atividades transferidas para a iniciativa privada; d) contribuir para modernização do parque industrial do País, ampliando sua competitividade e reforçando a capacidade empresarial nos diversos setores da economia; e) permitir que a administração pública concentre seus esforços nas atividades em que a presença do Estado seja fundamental para a consecução das prioridades nacionais; e f) contribuir para o fortalecimento do mercado de capitais, através do acréscimo da oferta de valores mobiliários e da democratização da propriedade do capital das empresas que integrarem o Programa. No art. 2º dessa lei, cita-se que poderão ser privatizadas as empresas: a) controladas, direta ou indiretamente, pela União e instituídas por lei ou ato do Poder Executivo; ou b) criadas pelo setor privado e que, por qualquer motivo, passaram ao controle, direto ou indireto, da União (LEI nº 8.031 de 12 abril de 1990). Até os primórdios da década de 1990, de acordo com Pires, Fernández e Bueno (2006, p. 37), o contexto institucional e organizacional do setor elétrico brasileiro era relativamente simples, embora submetido a um processo agudo de hiperinflação e de instabilidade econômica e, ainda inserido em um contexto de economia fechada e fortemente estatizada. No período de 1990 a 1992, verificou-se quase que uma completa desarticulação financeira com a generalização da inadimplência entre geradoras e distribuidoras, as quais alegavam que as tarifas fixadas pelo governo eram insuficientes frente ao custo do serviço. Dessa forma, com o objetivo de estancar a inadimplência das empresas de energia elétrica, foi promulgada a Lei n. 8.631, em março de 1993, que entre outras coisas versava sobre a fixação dos níveis das tarifas para o serviço público de energia elétrica (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). No ano de 1995, o quadro regulador sofreu importantes transformações, principalmente no que se refere a abertura do setor ao capital privado, por meio da PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 98 venda das empresas estatais e a licitação de concessões. Nesse período de retirada parcial do Estado, foram incluídas as empresas controladas pela Eletrobrás no PND e foram realizados os leilões de privatização da ESCELSA e da Light da Companhia de Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro (CERJ) no Estado do Rio de Janeiro. Ademais, foi criada a Eletrobrás Termonuclear S.A (ELETRONUCLEAR), que passou a ser a responsável pro projetos das usinas termonucleares brasileiras (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). Contudo, sob o domínio do Estado permaneceu praticamente toda a geração hidrelétrica e termonuclear do país (PIRES; FERNÁNDEZ ; BUENO, 2006). Segundo Pires, Fernández e Bueno (2006), de 1995 até junho de 2001, ano em que o racionamento de energia foi decretado, o consumo de eletricidade no Brasil cresceu a uma taxa média de 4,5% ao ano. Em 1996, através da Lei nº 9.427, foi criada a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), autarquia sob regime especial, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, com o objetivo de regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal. Desde o seu surgimento, de acordo com Gonzáles (2006), a ANEEL pôs em debate a questão da responsabilidade social às empresas concessionárias e permissionárias de serviço público, primeiramente tratou da prioridade na questão ambiental, mas com uma constante evolução abordou a inclusão no consumo de energia elétrica da população menos favorecida economicamente. A questão ambiental, paralelamente, foi marcada por importantes movimentos e mudanças, no que se refere à obrigatoriedade de estudos de impacto ambiental em empreendimentos potencialmente poluentes, ao fortalecimento do quadro legal e do aparelho institucional de proteção do meio ambiente e a presença do Ministério Público, do Poder Judiciário, dos órgãos públicos e das organizações civis no processo de licenciamento e fiscalização de empreendimentos (PIRES; FERNÁNDEZ ; BUENO, 2006). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 99 Em 1997, as privatizações foram ainda mais intensificadas com a venda de nove concessionárias estaduais, dentre elas a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA). Ainda em 1997, através da Lei nº 9.478, foi instituído o Conselho Nacional de Políticas Energética (CNPE), visando: a) promover o aproveitamento racional dos recursos energéticos; b) assegurar o suprimento de insumos energéticos às áreas mais remotas ou de difícil acesso; c) rever periodicamente as matrizes energéticas aplicadas às diversas regiões do país, considerando as fontes convencionais e alternativas e as tecnologias disponíveis; e d) estabelecer diretrizes para programas específicos, como os de uso do gás natural, do carvão, da energia termonuclear, dos biocombustíveis, da energia solar, da energia eólica, dentre outras (Lei nº 11.097/2005); e) estabelecer diretrizes para importação e exportação, bem como assegurar o adequado funcionamento do Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis e o cumprimento do Plano Anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis; e f) sugerir medidas para garantir o atendimento à demanda nacional de energia elétrica, considerando o planejamento de longo, médito e curto prazos. Na última década, o setor elétrico vem sendo reestruturado. No ano de 2000, através do Decreto nº 3.371, foi lançado o Programa Prioritário de Termelétricas, visando à implantação no país de diversas usinas a gás natural. Em 2001, o Brasil passou a enfrentar a maior crise de energia elétrica vivenciada pelo país. Nesse ano, foi criada a Câmera de Crise de Energia Elétrica (CGE) visando administrar programas de ajuste de demanda, coordenar esforços para aumento da oferta de energia e implementar medidas de caráter emergencial durante o período do racionamento (ELETROBRÁS, 2008). A crise originou-se historicamente pela redução de investimentos na transmissão, distribuição e conservação de energia elétrica; pela dependência do país com relação às usinas hidrelétricas; devido às transformações ambientais, incluindo os baixos índices pluviométricos, que produziram impactos negativos na PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 100 matriz energética brasileira; e aumento da demanda, em razão do desenvolvimento de novos empreendimentos em diferentes setores da economia (agricultura, indústria e serviços), associado a um aumento de consumo residencial de energia elétrica (ELETROBRÁS, 2008). Foram implantados os programas de racionamento nas regiões Sudeste, Centro-Oesete e Nordeste e em parte da região Norte, sendo esta última a primeira a ter o racionamento finalizado, em seguida as demais. Segundo Pires, Fernández e Bueno (2006) o racionamento causou uma queda no consumo de energia de 7,99% e produziu efeitos nocivos sobre o crescimento da economia em 2002 e 2003. Contudo com o término deste, o consumo voltou a crecer e desde então, a demanda cresce a uma taxa média de 5% ao ano. Em 2002, um dos principais acontecimentos no setor de energia foi a extinção da CGE, substituída pela Câmera de Gestão do Setor Elétrico (CGSE), vinculada ao CNPE, que segundo o Decreto n° 4.505/02, tem o objetivo de propor ao CNPE diretrizes para elaboração da política energética nacional, promover a integração da política no setor energético com as demais políticas setoriais e gerais do governo, concluir estudos e trabalhos iniciados no âmbito da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica ou da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, propor ao ministério competente o ajustamento dos limites de investimentos do setor energético estatal federal etc. (ELETROBRÁS, 2008). Conforme Pires, Fernández e Bueno (2006), a partir de 2003, o setor energético foi alvo de importantes mudanças estruturais, institucionais e legais, tais como: a) reformulação do modelo institucional do setor elétrico; b) criação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao MME; c) redução do escopo de atuação da autonomia das agências reguladoras; d) paralisação das privatizações do setor elétrico e expansão das atividades da empresa estatais nesse setor e; e) fortalecimento da Petrobrás como empresa estatal e monopolista, a serviço de interesses governamentais. Essas mudanças ocorridas foram importantes para o governo federal, o qual pretendeu retomar o papel de formulador da política energética, reforçar o PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 101 planejamento de longo prazo e assegurar sua presença, de forma direta ou indireta, em todas as instituições, órgãos e comitês com atuação no setor elétrico. Ainda no ano de 2003, o Governo Federal lançou o programa “Luz para Todos”, objetivando levar energia elétrica aos 12 milhões de brasileiros que não têm acesso ao serviço, até 2008. Importante acontecimento no ano de 2004, foi a aprovação do novo modelo do setor elétrico com a promulgação das Lei nº 10.848, que definiu as regras de comercialização de energia elétrica (ELETROBRÁS, 2008). De acordo com o anuário Análise Energia (2008), entre 2004 e 2007, a produção anual média de energia nova foi de 3,3 mil MW, a mais alta média da história do país, que supera inclusive a produção do período de construção das grandes hidrelétricas brasileiras. No período de 2005 a 2010, para a projeção do balanço entre a oferta e demanda da eletricidade, conforme Pires, Fernández e Bueno (2006) foram levados em conta dois cenários de crescimento da economia. O primeiro, denominado de referência, prevê um ritmo de crescimento médio do PIB de 4,4% ao ano, o que levaria a demanda por eletricidade crescer 5,1% ao ano. No segundo cenário, o PIB cresceria 5,0% ao ano e a demanda 6,4% ao ano. Em 2006, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) concluiu os estudos do Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica (PDEE) 2006-2015, propondo diretrizes, metas e recomendações para a expansão dos sistemas de geração e transmissão do país até 2015 (ELETROBRÁS, 2008). De acordo com o Manual de Elaboração do Relatório Anual de Responsabilidade Socioambiental das Empresas de Energia Elétrica (2006), na estrutura legal regulatória brasileira do setor de energia elétrica já existem sinais tangíveis da incorporação dos valores do desenvolvimento sustentável, bem como de uma orientação da atividade e do papel das concessionárias rumo aos aspectos de responsabilidade social com as suas partes interessadas, sobretudo com o cliente-consumidor. Atualmente, a questão energética vem ganhando força no mercado mundial, tendo em vista que esta questão tem, além de relevância econômica, PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 102 sobretudo política. Os investidores privados foram claramente afetados pela mudança de regras e se colocaram em compasso de espera, aguardando que a estabilidade regulatória seja estabelecida e a atratividade dos investimentos justifique suas inversões (PIRES; FERNÁNDEZ; BUENO, 2006). Conclui-se que a história do setor energético no Brasil está vinculada ao desenvolvimento socioeconômico que demanda cada vez mais fontes novas de energia. No entanto, novos estudos e planejamentos estão sendo realizados, a fim de se reestruturar o setor e acabar com as crises que geram racionamentos e transtornos ao povo brasileiro. A função estratégica do setor, como prestador de um serviço essencial à população e propulsor do desenvolvimento econômico e industrial do país, expressa o desempenho de um papel intrinsecamente social e de grande valia para a construção de um futuro de prosperidade sustentável. 4.2 Segmentos de atividades do setor elétrico A energia elétrica pode ser definida, segundo Reis, Fadigas e Carvalho (2005, p. 281), “como o resultado de um processo adequado de utilização das propriedades físico-químicas e eletromagnéticas da matéria para propiciar o funcionamento de equipamentos fornecedores de usos finais desejados pela sociedade”. Ressalta-se que esse conceito abrange a cadeia total de eletricidade, desde a geração até a utilização final pelo consumidor. A transmissão da energia elétrica a partir das usinas acontece através das linhas de transmissão existentes no território nacional, chegando aos consumidores por redes de distribuição, que são o conjunto de cabos e transformadores que levam a eletricidade até as residências, indústrias, hospitais etc. Nesse contexto, o suprimento da energia elétrica, considerado como a cadeia que cobre desde o processo de transformação da energia primária até a interface com cada tipo de consumidor, está dividido em geração, transmissão, distribuição e comercialização. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 103 Segundo a ANEEL (2001, p. 767), a geração é a atividade realizada pelas indústrias geradoras de energia elétrica, consistindo na “transforação em energia elétrica de qualquer outra forma de energia, não importando sua origem, e as linhas e subestações do sistema de transmissão de conexão”. De acordo com Reis, Fadiga e Carvalho (2005, p. 283) “a geração preocupa-se especificamente com o processo da produção de energia elétrica por meio de diversas tecnologias e fontes primárias”. Observa-se que há uma grande gama de opções para geração de eletricidade, cada uma delas com características bem distintas e específicas em termos de dimensionamento, custo e tecnologia. Fontes renováveis são mais adequadas a um desenvolvimento sustentável, mas respondem ainda por uma parte pequena da matriz energética mundial (REIS; FADIGA; CARVALHO, 2005). No final do ano de 2007, o Brasil apresentava 107 unidades geradoras de energia elétrica em construção (ANÁLISE ENERGIA, 2008) e possui, de acordo com dados da ANEEL (2007) de novembro de 2007, 1.674 empresas atuando na geração elétrica e um parque de usinas composto por: 158 hidrelétricas, 993 termoelétricas, 290 pequenas centrais elétricas, 214 centrais geradoras elétricas e 16 usinas eólicas, além de uma unidade solar e duas nucleares. O sistema de geração de energia elétrica do Brasil é basicamente hidrotérmico, com forte predominância de usinas hidrelétricas. De acordo com o anuário Análise Energia (2008), no fim de 2007, as hidrelétricas nas regiões sudeste e centro-oeste do Brasil estavam em 48% de sua capaciade e no Nordeste o nível foi de 28%, volume este considerado normal para a época do ano. As centrais de geração são objetos de concessão, autorização ou registro, segundo enquadramento realizado em função do tipo de central, da potência a ser instalada e do destino da energia. Conforme o Atlas de Energia Elétrica do Brasil (2005, p. 9), “segundo o destino da energia, o empreendimento de geração pode ser classificado como autoprodução de energia (APE), produção independente de energia (PIE) ou produção de energia elétrica destinada ao atendimento do serviço público de distribuição (SP)”. A autoprodução está relacionada ao consumo próprio por parte do PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 104 agente, podendo, com a devida pré-autorização, comercializar o excedente. Na produção independente, o agente gera energia para comercialização com distribuidoras ou diretamente com consumidores livres. Quanto à geração termelétrica, esta relaciona-se à produção de calor residual, que pode ser aproveitado, ainda que de forma parcial, por meio da cogeração que consiste na tecnologia de produção simultânea e sequencial de calor de processo e potência mecânia e/ou elétrica. A co-geração é uma forma de racionalização do uso de recursos naturais e de redução de impactos socioambientais negativos, particularmente em decorrência da emissão de gases de efeito estufa (ATLAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL, 2005). Um sistema de co-geração consiste basciamente em uma turma a vapor ou de de combustão que aciona um gerador de corrente elétrica, e um trocador de calor, que recupera o calor residual e/ou gás de exaustão, para produzir água quente ou vapor. Desse modo, reduz-se em até 30% o combustível que seria necessário para produzir de forma separada calor de geração e de processo e amplia-se a eficiência térmica do sistema, que pode atingir um índice de 90%. Grandes empresas brasileiras vêm implantando sistemas de co-geração com a utilização do gás natural ou do próprio lixo industrial (ATLAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL, 2005). A transmissão é a atividade realizada ao se transportar energia elétrica da geradora às subestações distribuidoras, na interligação de dois ou mais sistemas geradores ou ainda o transporte pelas linhas de subtransmissão ou de transmissão secundária que existirem entre as subestações de distribuição. Compreende-se, ainda, o fornecimento de energia a consumidores em alta tensão, mediante suprimentos diretos das linhas de transmissão e subtransmissão (ANEEL, 2008). Segundo o anuário Análise Energia (2008), existem 47 empresas transmissoras de energia elétrica no Brasil, essas perfazem um total de Receita Anual Permitida (RAP) de 5,7 bilhões de reais. O Atlas de Energia Elétrica do Brasil (2005, p. 10) explica que, tradicionalmente, o sistema de transmissão divide-se em redes de transmissão e subtransmissão, em razão do nível de desagregação do mercado consumidor. A PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 105 rede primária é responsável pela transmissão de grandes “blocos” de energia, visando suprir grandes centros consumidores e à alimentação de eventuais consumidores de grande porte, enquanto a subtransmissão é uma extensão da transmissão, objetivando o atendimento de pequenas cidades e consumidores industrais de grande porte. A substransmissão faz a realocação dos grandes blocos de energia provenientes de subestações de transmissão, entre as subestações de distribuição. Conforme a ANEEL (2001, p. 761), a atividade de distribuição ocorre ao se prover o livre acesso ao sistema elétrico para todos os consumidores e inclusive fornecedores, permitindo o fornecimento de energia a consumidores, bem como, quando for o caso no suprimento de energia elétrica a outras conessionárias e permissionárias. Essa atividade é exercida por empresas com concessão para comprar e distribuir energia elétrica em uma determinada área. No Brasil, na maioria dos Estados, a área de concessão das empresas de distribuição corresponde aos limites geográficos estaduais. Os contratos de concessão das empresas que prestam serviços de distribuição de energia estabelecem regras a respeito da tarifa, regularidade, continuidade, segurança, atualidade e qualidade dos serviços e no atendimento prestado aos consumidores e usuários. Da mesma maneira, definem penalidades para possíveis irregularidades. Segundo o Atlas de Energia Elétrica (2005, p. 16), “esse universo de distribuidoras de energia elétrica hoje é constituído por 24 empresas privadas, 21 privatizadas, 4 municipais, 8 estaduais e 7 federais. No Brasil, segundo o controle acionário, cerca de 60% da energia elétrica são distribuídos por empresas cujo o controle acionário é privado”. De acordo com Reis, Fadiga e Carvalho (2005, p. 283), a “distribuição está associada ao transporte da energia no varejo, ou seja, do ponto de chegada da transmissão ou subtransmissão até cada consumidor individualizado, seja ele residencial, industrial ou comercial, urbano ou rural”. A comercialização é a atividade responsável pela compra e venda de energia elétrica, tanto no mercado de livre negociação como para o consumidor final. O exercício das atividades relativas à comercialização de energia elétrica no PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 106 mercado de livre negociação deve respeitar as condições impostas pela ANEEL. De acordo com o anuário Análise Energia (2008), 29 empresas em 2008 encontram-se autorizadas a atuar como comercializadoras de energia elétrica. O Atlas de Energia Elétrica (2005, p. 23) define os agentes comercializadores de energia elétrica como “empresas que não possuem sistemas elétricos e que, sob autorização, atual exclusivamente no mercado de compra e venda de energia elétrica para concessionários, autorizados ou consumidores que tenham livre opção de escolha do fornecedor (consumidores livres)”. 4.3 As privatizações e os seus reflexos na dinâmica organizacional da empresas do setor elétrico Nos 30 anos posteriores a década de 60, o modelo institucional estatal praticamente inalterou-se. Contudo, ao longo desse período, o setor energético brasileiro apresentou elevadas taxas de expansão da oferta, baseada nas disponibilidades de autofinanciamento por meio de tarifas alinhadas com a inflação, recursos da União e financiamento externo (PIRES, 2000). As discussões sobre a reforma do Estado foi impulsionada com a visão de que o este deveria retirar-se das atividades empresariais e concentrar seus esforços e recursos nas atividades a ele inerentes, mais ligadas às questões sociais e aos papéis de agente regulador e de condutor da política econômica (BEHR, 2002). No Brasil, a partir da metade da década de 70, começou a surgir na imprensa uma forte campanha contra o movimento de intervenção estatal, responsabilizando as empresas do governo pela maioria dos problemas do país. Essa campanha coincidiu, temporariamente, com problemas financeiros do Estado, ocasionados pela crise do petróleo. Coincidiu, também, com o questinamento do modelo político e econômico dos governos militares e com os problemas do endividamento externo. O governo brasileiro, pressionado pela campanha interna e pelas discussões internacionais, verificou a necessidade de redirecionar suas prioridades (BEHR, 2002). A esse respeito, Berh (2002, p. 40) argumenta que PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 107 as questões econômicas levaram muitos países a reverem seus modelos institucionais, baseados em monopólios estatais. No Brasil, além das questões econômicas, as questões relativas à gestão das estatais e o corporativismo reinante alimentaram o processo privatizante no setor de energia elétrica. Procurou-se, assim, atrair a participação do capital privado, introduzir a competição na geração de energia e ofercer liberdade de compra para os consumidores, fazendo valer as leis de mercado. Segundo Matos Filho e Oliveira (1996), a má administração das empresas públicas, em decorrência de técnicas gerenciais ultrapassadas ou desconexas, e a administração de cunho político, ocasionando uma gestão pouco eficiente com baixo de nível de produtividadade, foram alguns dos fatores que levaram ao favorecimento da privatização. De acordo com Amaral Filho (1996), a intensificação da privatização no Brasil ocorreu a partir das políticas adotadas pelo governo Collor, que seguiram os modelos internacionais: o enxugamento da máquina estatal, demitindo-se funcionários públicos ou colocando-os em disponibilidade; desestatização de estatais e do serviço público em geral; a busca de integração aos mercados internacionais e a efetivação do Mercosul, com a liberação do câmbio e das importações. Em 1990, o governo Collor propôs uma mudança estrutural no setor de energia elétrica, baseando-se no modelo inglês, em que a competição entre as empresas é estimulada e a rede de transmissão permite livre trânsito de energia. Essa proposta, no entanto, não vingou no governo Collor, mas no modelo atual, que veio a ser proposto pela consultoria Coopers & Lybrand, que é o mesmo desenhado no governo Collor (BEHR, 2002). Conforme Porto e Belfort (2006), durante a década de 90, principalmente a partir de 1995, transformações substanciais ocorreram no Estado Brasileiro, no que se refere ao processo de modernização e reconfiguração de suas características e papéis. As principais mudanças ocorridas foram as seguintes: • Retirada parcial do Estado das atividades de exploração econômica no setor elétrico, permanecendo porém sob seu domínio praticamente toda a geração hidrelétrica e termonuclear; PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 108 • abertura à iniciativa privada do setor petróleo e gás natural, permanecendo porém sob forte domínio do Estado, pelo menos até o momento, praticamentetodas as atividades dos segmentos de upstream e middlestream; • reformulação dos modelos dos segmentos de energia (energia elétrica e petróleo/gás natural), redefinindo os papéis institucionais dos diferentes players, inclusive do Estado; • fortalecimento do papel de regulação do Estado nos domínios de energia elétrica, petróleo e gás natural, por meio da instituição de agências reguladoras: ANP (1997) e ANEEL (1996). De modo geral, o novo modelo criado apartir do Programa Nacional de Desestatização (PND), permite que as empresas privadas explorem a produção e fornecimento de energia elétrica, delimitadas por região, e que também os consumidores escolham o fornecedor de energia elétrica de quem comprarão dentre os diversos distribuidores. Criou-se um Mercado Atacadista de Energia (MAE), onde os preços de energia são negociados livremente, como uma bolsa de mercadorias (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). Ainda em 1995, foi aprovada a Lei nº 8.987, Lei das Concessões, que abriu espaço para a participação efetiva da iniciativa privada na indústria de energia elétrica. Neste ano, foi anunciada a privatização de todas as empresas controladas pela Eletrobrás e a primeira estatal do setor a ser vendida foi a ESCELSA. Desde então, foram sendo vendidas uma a uma (ELETROBRÁS, 2008). Pode-se dizer que no Brasil o processo de privatização do setor elétrico brasileiro teve início sem que uma reformulação de regras setoriais tivesse sido previamente elaborada. Apenas em 1996 este trabalho foi iniciado, através da contratação pelo Estado da consultoria Coopers & Lybrand e apoio da Eletrobrás e da Secretaria Nacional de Energia no ministério, para a modelagem compatível com a privatização desejada pelo governo brasileiro (BEHR, 2002). O objetivo inicialmente pretendido era o de permitir ao governo brasileiro concentrar-se mais em suas funções políticas e de regulamentação do setor elétrico, possibilitando a transferência de responsabilidade sobre a operação e realização de novos investimentos para o setor privado. Segundo Berh (2002, p. 43), a modelagem proposta pela consultoria Coopers & Lybrand para o setor foi bastante abrangente. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 109 Contempla um rearranjo da estrtura comercial do setor; mudanças no aparato legal (contratos, entidades legais envolvidas, documentação etc.), alterações na regulamentação econômica, técnica da qualidade da prestação do serviço, mudanças institucionais, reorganização das atribuições e funções da Eletrobrás e do órgão regulador, redefinição do agente financeiro, levantamento e alocação dos riscos dos negócios envolvidos na indústria e definição das taxas de retorno. De acordo com Longo e Bermann (2002), a produção de energia elétrica foi definida, neste novo modelo, como sendo um mercado contestável, havendo possibilidade de acontecer competição nos segmentos de geração e comercialização. Para o novo modelo foi elaborado entre agosto de 1996 e abril de 1997, um Relatório Consolidado, divulgado somente em junho de 1997. Para as atividades de geração, o Relatório Consolidado sugeriu mudanças estruturais no sentido de estabelecer novas bases para um mercado competitivo bem sucedido. As mudanças referiam-se à transparência, acesso livre ao mercado e divisão de participantes potencialmente dominantes (LONGO; BERMANN, 2002). Longo e Bermann (2002), expuseram que em relação às atividades de tramissão, sugeriu-se a separação vertical dos ativos de trasmissão, definidos como ativos em tesão de 230 kV ou superiores, sejam eles de propriedade da Eletrobrás ou de empresas estaduais de distribuição e varejo. Para o sistema da Eletrobrás, isto implicaria na seperação da propriedade de transmissão e geração nas quatro principais subsidiárias operacionais e na criação de novas empresas de transmissão, as chamadas “transcos”, como subsidiárias da Eletrobrás. No entanto, em conseqüência das dificuldades políticas e legais de conclusão do processo de desverticalização e do processo descontínuo de privatização, a separação dos ativos de transmissão só ocorreu com a Eletrosul e as empresas paulistas. Em relação à atividade de distribuição e varejo, foram feitas recomendações para não serem efetuadas mudanças nesta área, mas ressaltou-se que nos estados como maior número de consumidores, em que uma empresa de distribuição e varejo pudesse se tornar dominante, deveriam ser mantidas duas ou três concessões juridicamente distintas (LONGO e BERMANN, 2002). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 110 Apesar de todas as mudanças sugeridas, as primeiras vendas das empresas públicas de distribuição foi marcante para que se criasse, no Brasil, um clima de indefinição e incertezas com dimensões difíceis de se quantificar e superar. Entre outubro de 1997 e dezembro de 2000, foram privatizadas mais de 17 empresas estaduais, atingindo 62% do mercado nacional de distribuição. O novo modelo, segundo Longo e Bermann (2002, p. 369), “deveria contemplar um tratamento adequado, de como seria assegurada a provisão privada dos serviços públicos para a parcela mais pobre da populção”. No entanto, o setor de energia elétrica passou a funcionar sob a lógica de mercado livre, implicando um mercado assegurado ao concessionário privado, sem a obrigatoriedade da prática de políticas de desenvolvimento social e econômico que caracterizava o serviço público atendido pelo Estado, tanto estadual como federal. Em conseqüência disto, Longo e Bermann (2002, p. 369) afirmam que “deve caber aos órgãos reguladores a função de traçar os programas específicos que atendam de modo simultâneo a todos os objetivos sociais básicos e possam preservar a estabilidade de viabilidade econômico-financeira das concessões com o menor custo social”. Assim, faz-se necessária a condição de que o setor elétrico brasileiro seja objeto de uma política pública que atenda e privilegie o interesse público, não esquecendo de impor as condições mínimas que possibilitem à iniciativa privada desempenhar de forma adequada o papel de agente promotor do desenvolvimento social. As privatizações ocorridas em meados da década de 90 ocasionaram importantes alterações de cunho estrutural e institucional. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) surgiu da reestruturação no setor elétrico brasileiro. O Estado abriria mão, gradualmente, dos meios de produção do setor elétrico e passaria a ser regulador e fiscal da qualidade dos serviços prestados à população. À ANEEL foi reservado o papel de regular e fiscalizar o novo mercado, que se estabeleceu no País a partir da introdução da livre competição nos segmentos de geração e comercialização de energia elétrica (ANEEL, 2008). Somente a partir da criação da ANEEL, o processo de transferência das empresas públicas para a iniciativa privada passou a ser acompanhado da definição PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 111 de algumas regras claras e orientadoras. Conforme ANEEL (2008), a sua missão é proporcionar condições favoráveis para que o mercado de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agentes participantes e em benefício direto da sociedade. Segundo o Centro da Memória de Eletricidade no Brasil (2000, p. 229), “o programa de privatização das empresas gerou uma receita de aproximadamente 22 bilhões de dólares para a União e os estados até o final de 1998”. Tal receita representou mais de um terço do valor arrecadado com as privatizações no país desde a década de 90. A composição da estrutura de propriedade do setor energético sofreu grandes transformações, principalmente no segmento de distribuição, que tinham concessionárias públicas respondendo por cerca de 97% da distribuição da energia elétrica do país e no fim de 1998 as empresas privadas e nacionais já eram responsáveis por mais da metade dessa atividade. Da mesma forma ocorreu na área de geração, onde as concessionárias privadas também ganharam terreno. Contudo, o segmento de transmissão permaneceu sob o controle estatal até o início de 1999, ano este em que o Ministério de Minas e Energia anunciou a intenção de incluir os sistemas de transmissão no programa de privatizações (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). Em 15 de março de 2004, por meio da Lei nº 10.848, mudanças relevantes foram instituídas, caracterizando o novo modelo do Setor Elétrico, cujos principais aspectos em termos institucionais são: • A licitação pública de projetos de geração incluirá a oferta de energia referente a novos empreendimentos e à geração existente; • A comercialização de energia elétrica pelas concessionárias de distribuição é permitida somente no Ambiente de Contratação Regulada (ACR), do qual participam Agentes de Geração e de Distribuição de Energia Elétrica (AGDE), e o Ambiente de Contratação Livre (ACL), do qual participam Agentes de Geração, Comercialização, Importadores e Exportadores de energia, e Consumidores Livres; • Geradores, produtores independentes e comercializadores atuam no ambiente de contratação regulada e livre, por meio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE); PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 112 • A comercialização será realizada nos termos da Convenção de Comercialização, a ser instituída pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL); • Criação de novos agentes institucionais: Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico (CMSE) e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE); • Obrigatoriedade em desverticalizar da distribuição as atividades de geração e transmissão, além do descruzamento societário, isto é, a distribuidora não pode ter participação em outras empresas (LEI nº 10.848, 2004). No quadro atual, no que tange às competências dos órgãos, compete (LEI Nº 10.848, 2004): • ao Poder Executivo e formulação de políticas e diretrizes para o setor elétrico, subsidiadas pelo Conselho Nacional de Políticas Energéticas (CNPE), formado por ministros do Estado, sob coordenação do Ministro de Estado de Minas e Energia; • ao Poder Concedente, exercido também pelo Poder Executivo, os atos de outorga de direito de exploração dos serviços de energia elétrica; • à Empresa de Planejamento Energético (EPE) a realização dos estudos necessários ao planejamento da expansão do sistema elétrico, de responsabilidade do Poder Executivo, conduzido pelo Ministério de Minas e Energia (MME); e • aos agentes setoriais (geradores, transmissores, distribuidores e comercializadores) a prestação dos serviços de energia elétrica aos consumidores finais. De acordo com Pires, Fernández e Bueno (2006), o setor energético enfrentará grandes desafios nos próximos anos, tanto no que se refere a oferta quanto ao seu contexto institucional e legislativo. Entre as principais mudanças, pode-se citar: • a oferta de energia elétrica encontrará entraves ambientais no seu movimento de expansão e, se boa parte das restrições não for superada, a escassez de energia no final da década não está descartada; • o modelo institucional do setor elétrico vai ter sua viabilidade testada nos leilões de energia; e PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 113 • o gás natural carece, cada vez mais, de legislação bem definida, que estabeleça as condições para investimentos em ifra-estrutura e estimule a produção nacional. Nesse contexto, pode-se relacionar um resumo das principais mudanças ocorridas no setor elétrico brasileiro até chegar o modelo vigente (Quadro 10). Modelo de Livre Mercado (1995 a 2003) Novo Modelo (2004) Financiamento através de recursos públicos e privados Financiamento através de recursos públicos e privados Empresas verticalizadas Empresas divididas por atividade: geração, transmissão, distribuição e comercialização Empresas divididas por atividade: geração, transmissão, distribuição, comercialização, importação e exportação Empresas predominantemente Estatais Abertura e ênfase privatização das Empresas Convivência entre Estatais e Privadas Monopólios inexistente Competição na comercialização Modelo Antigo (até 1995) Financiamento através recursos públicos - de Competição geração na e Competição na comercialização Empresas geração e Consumidores Cativos Consumidores Livres e Cativos Consumidores Livres e Cativos Tarifas reguladas em todos os segmentos Preços livremente negociados na geração e comercialização No ambiente livre: Preços livremente negociados na geração e comercialização. No ambiente regulado: leilão e licitação pela menor tarifa Mercado Regulado Mercado Livre Convivência entre Livre e Regulado Planejamento Determinativo Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Elétricos (GCPS) Planejamento Indicativo pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) Planejamento pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) Contratação: 100% do Mercado Contratação : 85% do mercado (até agosto/2003) e 95% mercado (até dez./2004) Contratação: 100% do mercado + reserva Sobras/déficits do balanço energético rateados entre compradores Sobras/déficits do balanço energético liquidados no MAE Sobras/déficits do balanço energético liquidados na CCEE. Mecanismo de Compensação de Sobras e Déficits (MCSD) para as Distribuidoras Mercados Quadro 10 - Principais mudanças entre os modelos pré-existentes e o modelo atual no setor elétrico brasileiro. Fonte: Câmera de Comercialização de Energia Elétrica (2008). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 114 Conclui-se que a desverticalização ou segmentação das atividades do setor elétrico brasileiro constitui uma das mais importantes transformações por que passou o setor elétrico brasileiro. Essas mudanças estruturais são parte do modelo proposto em 1997 e estão em vigor até hoje. Com essas medidas, os empreendimentos são bem-vindos, desde que sigam as orientações da política energética do Governo e respeitem o meio ambiente. E ainda quando os serviços prestados resultam em preços finais que podem ser absorvidos pelo mercado consumidor, bem como remuneram de modo satisfatório os investimentos e despesas operacionais das empresas (ANEEL, 2008). 4.4 Responsabilidade Social no setor elétrico Visando atender às exigências trazidas pela globalização, diversas transformações vêm ocorrendo no meio empresarial, como pode ser observado na eficiência financeira, na diversidade de produtos, no atendimento aos desejos dos clientes e, também, nas ações de responsabilidade social e ambiental que, somando-se, compõem uma matriz determinante do diferencial competitivo (SANTANA; PERICÓ; REBELATTO, 2006). O perfil de companhias socialmente responsáveis, no decorrer do tempo, deixou de ser uma opção, passando a ser uma questão de visão estratégica e, na maioria dos casos, de sobrevivência no mercado. Desse modo, os investimentos e adoção de políticas socioambientais, independente do setor de atuação empresarial, representam uma ferramenta importante no processo de gestão em condições competitivas. O crescimento nacional, seja econômico ou social, tem uma grande relação com o desenvolvimento das atividades de geração de energia elétrica. Em consequência disso, faz-se necessário que essas atividades respeitem a base do desenvolvimento sustentável, entendido como o desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações em atenderem às suas necessidades (BELLEN, 2005). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 115 Segundo Reis, Fadigas e Carvalho (2005, p. 59), “a questão energética tem um significado bastante relevante no contexto da questão ambiental e da busca do desenvolvimento sustentável, e tem influenciado muito as discussões sobre mudanças do paradigma no desenvolvimento humano”. Tais mudanças podem ser relacionadas: 1) o suprimento eficiente de energia é considerado uma das condições básicas para o desenvolvimento econômico; 2) vários desastres ecológicos e humanos das últimas décadas têm relação íntima com o suprimento de energia, oferecendo assim motivação e argumentos em favor do desenvolvimento sustentável; e 3) universalização do acesso à energia e atendimento das necessidades básicas. Dessa forma, as organizações empresariais, concessionárias e permissionárias de energia elétrica não podem deixar de investir e adotar políticas socioambientais, pois estas estão inseridades no contexto social e ambiental e para realizarem suas atividades econômicas e serviços provocam mudanças sociais, econômicas, culturais e tecnológica. Os investimentos na RSC podem trazer um retorno além do esperado para as companhias do setor elétrico. A esse respeito, Santana; Pericó; Rebelatto (2006, p. 136), comentam que “o faturamento das empresas pode ter, como um dos fatores explicativos, os investimentos em responsabilidade sócio-ambiental. No entanto, embora seja relevante para o resultado financeiro das empresas, há de se reconhecer que este não é o único fator determinante de sucesso”. Gonzalez (2006) enfatiza que falar da responsabilidade social no setor de energia elétrica se faz importante por duas razões: primeiro porque empresas deste setor vêm se destacando em relação à sustentabilidade não só no Brasil como no exterior; segundo porque a sociedade, principalmente depois do “Apagão”, a fiscaliza com maior veemência. Observa-se que a questão da RSC vem ganhando importância no mundo inteiro. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 116 Para que o setor energético se torne sustentável é necessário não apenas o desenvolvimento e adoção de inovações e incrementos tecnológicos, mas também importantes mudanças que envolvam, por um lado, políticas que tentem redirecionar as escolhas tecnológicas e os investimentos no setor, bem como o comportamento dos consumidores de energia elétrica (REIS, FADIGAS E CARVALHO, 2005). 4.4.1 Indicadores de responsabilidade social no setor elétrico Com a evolução da tecnologia, o aumento no número de informação, a integração dos mercados e a queda das barreiras comerciais originou um novo perfil econômico e um aumento da competitividade, levando as entidades a modificarem seu processo de gestão. Nesse mercado globalizado surgiu um novo conjunto de variáveis que passaram a integrar o modelo de decisão de investidores causando impacto em todos os demais níveis decisórios. As entidades incorporaram em suas atividades valores, princípios e indicadores sociais e ambientais como ferramenta de gestão, tendo como objetivos a qualidade nas relações corporativas e a sustentabilidade econômica, social e ambiental do patrimônio. Nesse contexto, para que se possa medir o grau de desenvolvimento de uma sociedade e da sustentabilidade de seus sistemas produtivos é necessária a utilização de indicadores para o acompanhamento do processo evolutivo, incluindo fatores sociais, políticos, econômicos ou ecológicos. De acordo com Reis, Fadigas e Carvalho (2005), uma avaliação da situação de diversos indicadores em um país deve abranger a evolução histórica, a situação atual e uma extrapolação que verifique possibilidades futuras para que se possa analisar o grau de sustentabilidade de toda a estratégia de desenvolvimento. A responsabilidade social corporativa no setor elétrico pode ser avaliada por um conjunto de indicadores que visam mensurar o grau de comprometimento das companhias em relação ao tema. O Institituto Ethos possui um conjunto de indicadores de Responsabilidade Social e Ambiental e com o objetivo de fornecer às PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 117 empresas a possibilidade de ter indicadores específicos desenvolveu, em parceria com a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE), um conjunto destes voltado para o setor de distribuição de energia, conforme apresentado no Anexo A. Os indicadores Ethos-Abradee de RSC abordam os temas: valores e transparência, público interno, meio ambiente, fornecedores, consumidores e clientes, comunidade, governo e sociedade e no que tange diretamente ao setor elétrico aborda a saúde e segurança e manejo de resíduos. Esses indicadores podem relacionar-se aos princípios, valores e transparência da organização, consumidores, público interno, fornecedores, financiadores, acionistas, governo, comunidade e meio ambiente. O valor adicionado também é relevante na avaliação das companhias. Nessa análise, os valores investidos pelas empresas nas comunidades interna e externa estão distribuídos principalmente em: alimentação, previdência privada, saúde, educação, cultura, capacitação e desenvolvimento profissional, saneamento, esporte, combate à fome e outros. No que tange aos investimentos ambientais, são observados a viabilização ambiental de projetos de geração (em fase final de implantação), sustentabilidade ambiental de projetos de geração e distribuição já existentes. Ressalta-se que o setor elétrico foi o primeiro setor a utilizar e customizar os Indicadores Ethos, havendo 20 distribuidoras associadas ao Instituto. Além da Abradee, a Associação Brasileira de Concessionária de Energia Elétrica (ABCE) entrega desde 1980 a medalha “Eloy Chaves”, objetivando premiar as companhias em excelência na prevenção de acidentes. A associação possui, também, o Comitê de Meio Ambiente e organiza eventos sobre a responsabilidade das concessionárias perante seus consumidores. Grande parte das práticas de responsabilidade social aplicadas no setor elétrico decorre da regulação feita pela ANEEL. Em 2004, esta agência, iniciou os trabalhos de desenvolvimento de um novo modelo de relatório para substituição do Relatório Anual de Responsabilidade Empresarial (baseado nos indicadores do PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 118 Instituto Ethos), a fim de ajustar as informações sociais e ambientais à nova realidade do setor (MANUAL DE ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO ANUAL DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DAS EMPRESAS DE ENERGIA ELÉTRICA, 2006). Além das ferramentas de acompanhamento dos indicadores sociais e ambientais também foram criadas normas e padrões de certificação internacional, tais como: normas ISO 9000 (qualidade), a ISO 14000 (meio ambiente), SA 8000 (conduta ética das empresas em relação aos trabalhadores e o respeito aos direitos humanos) e AA 1000 (comportamento ético). A postura do setor elétrico em relação a responsabilidade social corporativa traz alguns reflexos relevantes como, por exemplo, a listagem de empresas do setor em índices de sustentabilidade, como o Dow Jones Sustainability World Index (DJSWI). Dentre as empresas brasileiras elegíveis do setor para este índice, está a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) que faz parte desde o lançamento deste índice em 1999. No Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa (ISE), o setor que tem o maior número de empresas é o elétrico com a presença de companhias como a Cemig, Cesp, Copel, CPFL, Eletrobrás etc. A participação nos níveis diferenciados de governança corporativa e o novo mercado também estão bem representados (BOVESPA, 2008). A participação de empresas do setor elétrico em índices como Dow Jones e no ISE mostra o comprometimento dessas companhias com o desenvolvimento sustentável e a adoção de práticas socialmente responsáveis. A inclusão da responsabilidade social corporativa no setor elétrico é tão importante neste setor quanto nos demais. No entanto, por não se tornar viável o crescimento do país sem a energia, dada a sua importância para o desenvolvimento de diversas atividades, faz-se necessário um elevado nível de comprometimento com o desenvolvimento sustentável por parte das companhias elétricas. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 119 4.4.2 A institucionalização da responsabilidade social no segmento de distribuição O setor de energia elétrica é o pioneiro em Responsabilidade Social, ganhando destaque por suas práticas diante da sociedade (ANEEL, 2008). Nesse contexto, pode-se verificar na literatura específica sobre a história das empresas distribuidoras de energia elétrica, em que momento o campo passou a se inserir no movimento pela RSC. Fatos relevantes ocorridos nos últimos 10 (dez) anos, como a criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE), evidenciam e justificam a inserção dessas organizações no movimento. O marco inicial da transformação das organizações do setor de energia elétrica em seu relacionamento com a sociedade pode ser observado a partir da década de 70, com preocupações por parte das autoridades brasileira voltadas ao meio ambiente, porém não se pode afirmar que, nesse período, já existisse algo similar ao atual conceito de RSC. De acordo com o Centro da Memória de Eletricidade no Brasil (2000), fatos relevantes ocorreram no país, que ressaltam a preocupação do governo com as questões ambientais ligadas ao setor energético. Em 1973, o governo federal criou a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), primeira agência a tratar de forma interdisciplinar do uso racional dos recursos naturais. Em 1978, a Companhia Energética de São Paulo (CESP), editou o trabalho Reservatórios – Modelo Piloto de Projeto Integral, reunindo pela primeira vez a experiência na área ambiental. No início da década de 80, o Brasil passou a dispor de importante marco legal para o tratamento da questão ambiental. A Lei nº 6.938 estabeleceu as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente, bem como instituiu o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), que tinha a função de assistir ao Presidente da República na formulação da política do meio ambiente. As empresas de energia elétrica buscaram um novo tratamento para as questões sociais e ambientais, compatível com a legislação adotada desde 1981 e PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 120 as diversas resoluções do CONAMA. Em 1986, a Eletrobrás, encarregada de formular a política ambiental do setor de energia elétrica, publicou o Manual de Estudo de Efeitos Ambientais do Setor Elétrico, apresentando um roteiro básico para as ações de conservação e recuperação do meio ambiente nas etapas do ciclo de planejamento dos empreendimentos: inventário, viabilidade, projeto básico e projeto executivo (CENTRO DA MEMÓRIA DE ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). A Eletrobrás criou em 1987 o seu Departamento de Meio Ambiente. Com o objetivo de melhor adequar as ações do setor à política nacional de meio ambiente, o MME constituiu no ano seguinte o Comitê Coordenador das Atividades de Meio Ambiente do Setor Elétrico (COMASE), reunindo inicialmente a holding, o Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) e 25 concessionárias. Em 1989, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). As concessionárias e permissionárias de energia elétrica começaram efetivamente a inserir-se no contexto da responsabilidade social quando tomaram consciência da atuação e reflexos das suas atividades empresariais, tendo em vista que extraem os recursos necessários à realização das suas atividades econômicas (insumos naturais, mão-de-obra, infra-estrutura básica das cidades), e ao realizarem os seus serviços, promovem mudanças sociais, econômicas, culturais, e tecnológicas. A tomada de consciência nessa visão, constitui a sua Responsabilidade Social (ANEEL, 2008). Tratando-se de um serviço público prestado sob o regime de concessão, o serviço de distribuição de energia elétrica, deve ter essa responsabilidade ainda mais ampliada, passando pela compreensão de que a prestação desses serviços tem de atender prioritariamente ao interesse público, já que toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de um serviço adequado que satisfaça as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia e modicidade das tarifas, conforme dispõe a Lei no 8.987 de 95 (ANEEL, 2008). Nesse contexto, podem ser identificados como líderes no processo de institucionalização da RSC no Brasil, no que tange ao segmento de distribuição de PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 121 energia elétrica, dois atores: a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE). O primeiro, desde o seu surgimento, colocou em debate, no âmbito das empresas concessionárias e permissionárias de serviço público, a questão da sustentabilidade, primeiramente dando prioridade à questão ambiental, mas com uma constante evolução, como a inclusão no consumo de energia elétrica da população menos favorecida economicamente. Através da Resolução nº 444, de 26 de outubro de 2001, a ANEEL criou o Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica (MCSPE), englobando o Plano de Contas revisado, com acréscimo de instruções contábeis e roteiro para elaboração e divulgação de informações econômicas e financeiras, bem como de responsabilidade social. Com o objetivo de solucionar o grave problema da pobreza, exclusão social e degradação ambiental, as concessionárias e permissionárias do Serviço Público de Energia Elétrica, numa atitude pioneira, vêm elaborando, obrigatoriamente, por força de dispositivo regulamentar, a partir do exercício de 2002, o Relatório Anual de Responsabilidade Empresarial, em conformidade com as orientações constantes do Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica (ANEEL, 2008). O referido relatório contempla um conjunto de informações, dentre as quais se insere o demonstrativo contábil Balanço Social, o qual tem como condição primária pra ser elaborado por uma concessionária, o reconhecimento de que as empresas não estão somente comprometidas com seus proprietários, mas com a produção do bem estar de toda uma sociedade (ANEEL, 2008). Embora não haja exigência legal sob o aspecto societário, a ANEEL apresenta, em seu manual e resoluções, inúmeras sugestões de expansão e transparência no que tange a evidenciação ambiental e social. Ainda em suas resoluções, a ANEEL apresenta várias sugestões de como as distribuidoras podem ser social e ambientalmente responsáveis, inclusive destacando a evidenciação destes aspectos através do Balanço Social ou do PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 122 Relatório de Sustentabilidade. Os indicadores do Balanço Social evidenciam os recursos empresariais destinados às ações de responsabilidade interna (foco nos empregados e seus dependentes) e externa (foco no meio ambiente e nas ações sociais), de forma a medir o desempenho da cidadania empresarial nessas dimensões (ANEEL, 2008). Além disso, a ANEEL instituiu, para todas as distribuidoras de energia no Brasil, uma premiação na área de Responsabilidade Social, que avalia e acompanha o desempenho das distribuidoras, fortalecendo o setor e aumentando a qualidade dos serviços prestados através da aplicabilidade do desenvolvimento sustentável. Conforme a ANEEL (2008), as empresas concessionárias ou permissionárias de distribuição de energia elétrica devem aplicar um percentual mínimo da receita operacional líquida em Programas de Eficiência Energética (PEE), segundo regulamentos da ANEEL. O objetivo desses programas é demonstrar à sociedade a importância e a viabilidade econômica de ações de combate ao desperdício de energia elétrica e de melhoria da eficiência energética de equipamentos, processos e usos finais de energia. Para isso, busca-se maximizar os benefícios públicos da energia economizada e da demanda evitada no âmbito desses programas, estimulando o desenvolvimento de novas tecnologias e a criação de hábitos racionais de uso da energia elétrica. Outro programa regulamentado pela ANEEL, que tem como objetivo incentivar a busca constante por inovações e fazer frente aos desafios tecnológicos do setor elétrico, é o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do segmento. Neste contexto, as concessionárias e permissionárias de distribuição, geração e transmissão de energia elétrica devem aplicar anualmente um percentual mínimo de sua receita operacional líquida no Programa de Pesquisa e Desenvolvimento do Setor de Energia Elétrica. A ANEEL estabelece as diretrizes e orientações que regulamentam a elaboração de projetos de P&D por meio do Manual de Programa de Pesquisa e Desenvolvimento do Setor de Energia Elétrica (ANEEL, 2008). O segundo ator, a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE) é uma sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos, e reúne 49 concessionárias de distribuição de energia elétrica, estatais e privadas, PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 123 atuantes em todas as regiões do país, responsáveis pelo atendimento de 99% do mercado brasileiro de energia (ABRADEE, 2008). A ABRADEE com o intuito de defender, preservar e conservar o meio ambiente, bem como promover o desenvolvimento sustentável, criou o Instituto Abradee de Energia, que se dedica à realização das seguintes atividades: a) Desenvolvimento de treinamento, cursos, estágios, congressos, exposições, palestras e outros eventos técnicos; seminários, b) articulação, interlocução e interação entre os diversos segmentos do setor elétrico; c) promoção da cultura, da responsabilidade social, da preservação do meio ambiente, do desenvolvimento sustentável econômico e social e combate à pobreza e estímulo a projetos e ações de promoção social e voluntariado e; d) estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito ao desenvolvimento sustentável, preservação do meio ambiente, cultura, educação e responsabilidade social (ABRADEE, 2008). Com apoio da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), a ABRADEE, concede anualmente para suas associadas, desde 1999, o Prêmio Abradee. Dentre as associadas pode-se citar a Companhia de Eletricidade da Bahia (COELBA) e a Companhia Energética do Ceará (COELCE). A partir da versão 2000, passou a ser concedido o Prêmio Abradee de Responsabilidade Social, para o qual há o apoio do Instituto Ethos, mediante a utilização, em caráter pioneiro no país, dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial (ABRADEE, 2008). No primeiro ano de realização do prêmio ABRADEE, a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) foi a ganhadora. As grandes vencedoras nesta categoria nos anos seguintes foram a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e a Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina (CPFLCL), ganhando quatro vezes. Isto foi possível porque no ano de 2004 houve uma modificação no prêmio que se dividiu em dois grupos: um para distribuidoras com até 400 mil consumidores e outro para distribuidoras com mais de 400 mil consumidores. Ainda existem outras PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 124 duas categorias do prêmio fortemente relacionadas à sustentabilidade que são a “melhor nacional” e a “melhor avaliação pelo cliente” (ABRADEE, 2008). O prêmio considera, além dos indicadores Ethos e da elaboração do balanço social modelo do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), os indicadores de responsabilidade social da pesquisa de satisfação, tais como: a empresa que contribui para o desenvolvimento da região, a empresa preocupada com a preservação do meio ambiente, orientações para o uso adequado de energia, orientações sobre os riscos e perigos da energia elétrica, esclarecimento sobre seus direitos e deveres, empresa que apóia ou promove programas sociais, empresa que promove ações culturais para a comunidade, empresa que faz investimentos para levar energia a todos, empresa que se preocupa em combater fraudes e furtos, empresa que presta o mesmo atendimento a todos e ser uma empresa humana e solidária. São esses então, os atores responsáveis pela transformação da RSC, no segmento de distribuição de energia elétrica, em um valor junto à sociedade, no sentido de a terem disseminado a ponto de fazer parte efetivamente do universo dessas organizações. As provas institucionalizadas no movimento de inserção da RSC nas distribuidoras de energia elétrica são guias, referências e direcionamentos que conduzem o movimento, imprimindo-lhe um modelo a ser adotado pelas empresas que desejam “ser” socialmente responsáveis. Tais provas são abordadas no capítulo 6. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 125 5 METODOLOGIA Neste capítulo, são descritos os procedimentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento desta pesquisa. Inicialmente, são apresentadas algumas definições de pesquisa, método e metodologia, de modo a se estabelecer uma compreensão sobre o processo de pesquisa. Em seguida, são detalhados os procedimentos e técnicas empregados, a partir da apresentação da classificação desse estudo. Sobre o conceito de pesquisa, Lakatos e Marconi (2007, p. 157) afirmam que se trata de “um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. Gil (2002, p. 17) define a pesquisa como “o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas propostos”. Conforme Richardson (1999), existem três tipos de pesquisas: 1) pesquisas para resolver problemas: o pesquisador está interessado em descobrir a resposta para um problema específico ou descrever um fenômeno da melhor forma possível; 2) pesquisas para formular teorias: os pesquisadores estudam um problema cujos pressupostos teóricos não estão claros ou são difíceis de encontrar e; 3) pesquisas para testar teorias: pesquisas que exigem formulação precisa. De acordo com Demo (1998), a pesquisa é tanto um procedimento de fabricação do conhecimento quanto um procedimento de aprendizagem, tendo princípio científico e educativo. É, pois, parte integrante de todo processo reconstrutivo de conhecimento. Ressalta-se que definir conhecimento está estritamente relacionado com a metodologia científica que pode ser: positivista, dialética, alternativa, moderna, entre outras. Essa escolha depende do ponto de vista de quem a define, pois sob cada metodologia obtém-se um resultado diferenciado. Segundo Morgan (1983), não há receita para pesquisa e a decisão acerca de como pesquisar é fundamental para as conclusões. Conforme o autor, a PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 126 pesquisa, envolve escolhas sobre o modo de engajamento, tecendo diferentes relações entre teoria e método, conceito e objeto, pesquisador e pesquisado, mais do que simplesmente uma escolha sobre método, tomada isoladamente. Quanto ao significado de método, ressalta-se, nesta pesquisa, a definição de Fachin (2001, p. 27): O método é um instrumento do conhecimento que proporciona aos pesquisadores, em qualquer área de sua formação, orientação geral que facilita planejar uma pesquisa, formular hipóteses, coordenar investigações, realizar experiências e interpretar resultados. A metodologia, por sua vez, une o pesquisador à situação a ser estudada, em termos de regras, procedimentos e protocolo geral que operacionaliza a rede de premissas incorporada no paradigma do pesquisador e favorece uma instância epistemológica. Conforme Kerlinger (1980), a metodologia inclui maneiras de formular problemas e hipóteses, métodos de observação, coleta de dados, a mensuração de variáveis e técnicas de análise de dados. O objetivo da metodologia científica é ordenar esse conjunto de etapas a serem cumprias no estudo de uma ciência, na busca de uma verdade ou para se chegar a um determinado conhecimento, ou seja, a metodologia orienta o pesquisador para qual procedimento, qual técnica será utilizada da forma mais adequada para que este alcance os objetivos da pesquisa. Partindo dessas definições prévias, apresenta-se, a seguir, a tipologia da pesquisa, com o intuito de identificar os procedimentos metodológicos aplicáveis a esta pesquisa. Na seqüência, são apresentadas as variáveis de análise do estudo, a caracterização das empresas, os instrumentos de coleta de dados, definidos a partir das fontes de coleta de dados e, por fim, as técnicas de análise de dados. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 127 5.1 Tipologia da pesquisa A especificação da metodologia da pesquisa, de acordo com Lakatos e Marconi (2007, p.223), “é a que abrange maior número de itens, pois responde, a um só tempo, às questões como?, com quê?, onde?, quanto?”. Dessa forma, para as autoras essas questões correspondem ao método de abordagem, aos métodos de procedimentos e as técnicas a serem utilizadas pelo pesquisador para a obtenção do seu propósito. A tipologia dessa pesquisa foi agrupada em três categorias: quanto aos objetivos – definindo o tipo de pesquisa; quanto aos procedimentos de coleta – indicando a abordagem teórica e a técnica utilizada para o alcance dos objetivos da pesquisa e; quanto abordagem do problema – evidenciando a natureza da pesquisa. Contemplando o objetivo do estudo, a pesquisa é do tipo exploratóriadescritiva, tendo como principal objetivo investigar o processo de institucionalização das práticas de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) em distribuidoras de energia elétrica na região Nordeste. O caráter exploratório está presente na medida em que há relativamente poucos estudos enfocando a RSC sob a perspectiva da abordagem institucional, em especial com o modelo de Tolbert e Zucker. Conforme Gil (1999), a pesquisa exploratória tende a proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato, quando o tema em estudo é pouco explorado. De acordo com Trivinos (1987), os estudos exploratórios permitem ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado problema, onde o mesmo parte de uma hipótese e aprofunda seus estudos nos limites de uma realidade específica. Aaker, Kumar e Day (2001, p. 94) ressaltam que a pesquisa exploratória “é usada quando se busca um entendimento sobre a natureza geral de um problema, as possíveis hipóteses alternativas e as variáveis relevantes que precisam ser consideradas”. A pesquisa é, também, de caráter descritivo, pois visa estabelecer relações entre as variáveis em questão no processo de institucionalização em estudo. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 128 Para a elaboração da pesquisa, os procedimentos adotados foram a pesquisa bibliográfica, documental e de campo, mediante estudo de caso múltiplo. Como argumentam Cervo e Bervian (1983, p. 55), a pesquisa bibliográfica “explica um problema a partir de referenciais teóricos publicados em documentos”. É parte obrigatória em diversos tipos de pesquisas, já que é por meio dela que se toma conhecimento sobre a produção científica na área. Porém, conforme afirmam Lakatos e Marconi (2007, p. 185), “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”. Neste estudo, a pesquisa bibliográfica teve como principais fontes as publicações em livros, periódicos, anais de eventos, teses e dissertações. A pesquisa documental difere da bibliográfica pela natureza das fontes utilizadas. Enquanto esta última se utiliza, principalmente, das contribuições de diversos autores sobre o tema, a primeira se utiliza de materiais que não receberam tratamento analítico, podendo ser reorganizados ou estruturados conforme os objetivos que se deseja alcançar com o estudo. A característica da pesquisa documental, de acordo com Lakatos e Marconi (2007, p. 176), “é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias”. Neste trabalho, realizou-se a pesquisa documental a partir de fontes contemporâneas, tais como documentos oficiais e publicações administrativas relacionados ao setor elétrico em geral e, mais especificamente, ao segmento de distribuição de energia na região Nordeste. Além disso, utilizou-se Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade elaborados pelas empresas da amostra, os quais evidenciam a institucionalização das práticas sociais e dos discursos relacionados. A fim de complementar a coleta documental e para a análise dos dados acerca do processo de institucionalização das práticas de RSC nas empresas da amostra, realizou-se a observação direta intensiva através da técnica entrevista. Também fez-se uso da observação direta extensiva por meio de questionário aplicado aos responsáveis pelo processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa nas empresas em estudo. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 129 Segundo Lakatos e Marconi (2007, p. 197), a entrevista “é um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para a ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social”. Os tipos de entrevistas variam de acordo com o propósito do entrevistador, podendo ser padronizada ou estruturada, despradonizada ou não-estruturada e painel. Quanto ao questionário, trata-se de uma lista de perguntas cuidadosamente estruturadas, escolhidas após a realização de vários testes, tendo em vista extrair respostas confiáveis de uma amostra escolhida, com o objetivo principal de investigar o que o grupo selecionado de participantes faz, pensa ou sente (COLLIS; HUSSEY, 2005). De acordo com Trivinos (1987 apud BEUREN, 2003, p. 85), Os estudos multicasos diferem do estudo comparativo de casos pelo fato de propiciarem ao pesquisador a possibilidade de estudar dois ou mais sujeitos, organizações etc., sem a necessidade de perseguir objetivos de natureza comparativa. Os estudos multicasos permitem que seja formulado um número maior de perguntas em relação ao caso individual, levantando elementos que possam confirmar os encontrados. O estudo de caso múltiplo foi realizado a partir da análise do processo de institucionalização das práticas de RSC no setor elétrico, no segmento de distribuição, na região Nordeste, nas empresas que receberam o direito de utilizar o Selo Balanço Social - IBASE, no período de 2004 a 2007. Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é do tipo qualitativo, pois visa à compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos sujeitos da pesquisa, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos. A escolha de uma pesquisa qualitativa deveu-se principalmente ao fato de que o fenômeno de institucionalização é um tema subjetivo, em que se buscou compreender o processo em foco e interpretar os valores e sentimentos dos atores envolvidos e pertencentes ao campo organizacional. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 130 Conforme Richardson (1999), uma das divergências entre o método qualitativo e quantitativo é o fato de que o primeiro não emprega um instrumental estatístico como base do processo de análise de um problema. Ademais, além de ser uma opção do investigador, justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social. Neste estudo, não se enfatizou o uso de dados quantificáveis. Os dados foram coletados a partir de critérios adotados pelas distribuidoras de energia elétrica do Nordeste brasileiro, e analisados à luz da abordagem institucional, de modo a se compreender o processo de institucionalização da Responsabilidade Social Corporativa nas empresas em foco, sob a perspectiva dos sujeitos da pesquisa. No presente estudo, utilizou-se como principal método de abordagem o método dedutivo, partindo do geral para o particular, no entanto foi utilizado de forma subsidiária, em alguns aspectos, o método indutivo, que parte do específico para o geral. Sobre o método dedutivo, Lakatos e Marconi (2007, p. 92) definem que “esse método tem o propósito de explicar o conteúdo das premissas, cujos argumentos dedutivos ou estão corretos ou incorretos, ou as premissas sustentam de modo completo a conclusão ou, quando a forma élogicamente incorreta, não a sustentam de forma alguma”. O método dedutivo, que, partindo das teorias e leis, na maioria das vezes prediz a ocorrência dos fenômenos particulares (conexão descendente), isto é, têm a finalidade de prover as bases para aplicações empíricas (LAKATOS; MARCONI, 2007, p. 106). Para estudo do objeto foi empregado o procedimento monográfico, que segundo Lakatos e Marconi (2007), visa à profundidade no estudo do objeto. Ainda segundo as autoras, esse procedimento consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações. A investigação deve examinar o tema escolhido, observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus aspectos. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 131 De acordo com o método, este estudo abordou a trajetória das práticas de Responsabilidade Social Corporativa, bem como a sua formação e estruturação no setor elétrico, no segmento de distribuição, na região Nordeste, nas empresas que receberam o selo Balanço Social (IBASE), no período de 2004 a 2007. 5.2 Variáveis de análise do estudo Conforme Richardson (1999, p. 117), “as variáveis apresentam duas características fundamentais: (a) são aspectos observáveis de um fenômeno; (b) devem apresentar variações ou diferenças em relação ao mesmo ou a outros fenômenos”. Podem ser conceituadas como características mensuráveis de um fenômeno, podendo apresentar diferentes valores ou ser agrupadas em categorias, aspecto este relacionado à primeira característica. Com relação à segunda característica, as variáveis devem apresentar variações nos aspectos relacionados ao mesmo fenômeno; variações em relação a outros fenômenos; princípios para a definição de variáveis; tipos de variáveis e; formas de determinar as relações entre variáveis (RICHARDSON, 1999). Neste estudo, considerou-se a análise dos demonstrativos contábeis nãoobrigatórios como os Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade publicados pelas empresas distribuidoras de energia elétrica da região Nordeste definidas no universo, que receberam o selo Balanço Social – IBASE, no período de 2004 a 2007, com o intuito de verificar por que e como a responsabilidade social corporativa transformou-se ou está se transformando em uma instituição, no sentido atribuído pela Teoria Institucional, conforme evidenciado no capítulo 3. A pesquisa foi realizada por meio de consultas à internet, nos sítios das empresas estudadas, da ANEEL e da ABRADEE, além de análises aos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade anuais impressos pelas organizações, os quais evidenciam a institucionalização das práticas sociais e dos discursos relacionados, considerando as publicações no período de 2004 a 2007. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 132 As análises dos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade, deram-se principalmente através dos exames aos elementos identificados como um caminho para a institucionalização da RSC nas empresas estudadas, conforme a seguir: • Ações práticas – ações efetivas que se referem ao que as pessoas estão realizando e que se enquadram dentro do processo de institucionalização da prática social analisada, nas empresas distribuidoras de energia elétrica estudadas. • Discurso de justificação – identificação do discurso que busca legitimar a ação prática como socialmente responsável. Com isso, será operacionalizado via análise da construção e categorização de ações que se enquadrem no âmbito da institucionalização da prática social. • Arranjos Estruturais – manifestação da concretização dos dois primeiros elementos supracitados, de modo que representa a forma de operacionalizar a prática social na organização, via estruturas. Nessa pesquisa será verificado, o seguinte: (a) a identificação de áreas específicas, como grupos de trabalho, setores ou departamentos criados ou direcionados para lidar com a institucionalização da Responsabilidade Social Corporativa; (b) a perenidade dos arranjos, se é temporária ou permanente; (c) a forma e o grau de difusão da estrutura e; (d) o valor/status atribuído à estrutura. • Provas – são mediadoras dos arranjos estruturais que podem ser definidas como dispositivos criados no processo de institucionalização com vistas a categorizar a prática social, em termos de justiça social, sendo aceita como um critério válido, justo, inquestionável. • Interesses – tratam-se de penetrar no Campo das empresas distribuidoras de energia elétrica, em seus valores e em sua lógica de atuação, com o PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 133 objetivo de captar os interesses além do interesse aparente, mas também o material. Após a coleta dos dados por meio de fontes secundárias foram realizados contatos por telefone e por meios eletrônicos com os gestores responsáveis pelo departamento de Sustentabilidade das empresas selecionadas para o estudo, para verificar a aceitação dos mesmos em relação à pesquisa. O passo seguinte foi a elaboração de um roteiro estruturado de entrevista, que se caracterizou como um direcionador da fase de levantamento de dados, e de um questionário composto por 09 (nove) perguntas fechadas de múltipla escolha divididas pelos temas referentes aos objetivos específicos, bem como aos estágios de institucionalização definidos por Tolbert e Zucker, conforme evidenciado no referencial teórico. Além disso, para a análise das práticas de RSC institucionalizadas pelas distribuidoras de energia elétrica na região Nordeste, que receberam o selo Balanço Social – IBASE, no período compreendido entre 2004 e 2007 foram considerados os indicadores extraídos do demonstrativo Balanço Social – modelo IBASE, o qual é sugerido pela ANEEL para a evidenciação e gestão das práticas de responsabilidade social e ambiental no setor de energia elétrica. Vale ressaltar, que muito embora os Indicadores Ethos-ABRADEE sejam um dos principais instrumentos para a avaliação do desempenho social e ambiental das distribuidoras de energia elétrica na categoria responsabilidade social, em virtude das restrições de publicação impostas pela ABRADEE para as entidades, os mesmos não serão apresentados nesse estudo. Os indicadores dos demonstrativos Balanço Social – modelo IBASE analisados contemplam o público interno, público externo e o meio ambiente. Tais indicadores têm como objetivo analisar a institucionalização das práticas de responsabilidade social nas empresas selecionadas para este estudo perante o social, financeiro e o meio ambiente. Esses indicam também que as empresas estão alinhando-se no conceito do Triple bottom line, o desenvolvimento sustentável com base nos resultados sociais, ambientais e financeiros com níveis de importância iguais. Os indicadores selecionados para o estudo estão demonstrados no Anexo B. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 134 A análise do conjunto de indicadores apresenta os investimentos que vêm sendo realizados pelas empresas selecionadas para a realização desta pesquisa, no período de 2004 a 2007, no que concerne à responsabilidade social, evidenciando assim o processo de institucionalização das práticas sociais. 5.2.1 Amostra e critérios de seleção Nos últimos anos o setor elétrico brasileiro vem passando por grandes transformações, que foram intensificadas a partir de 1995 com o processo de privatização das empresas estatais de energia elétrica. O mercado de distribuição de energia elétrica no Brasil é atendido por 64 concessionárias, sendo constituído por 24 empresas privadas, 21 privatizadas, 4 municipais, 8 estaduais e 7 federais que abrangem todo o país. As concessionárias estatais estão sob controle dos governos federal, estaduais e municipais. São atendidos cerca de 47 milhões de unidades consumidoras, das quais 85% são consumidores residenciais, em mais de 99% dos municípios brasileiros (ANEEL, 2008). Para a realização desta pesquisa, selecionou-se como amostra empresas distribuidoras de energia elétrica. Segundo Collis e Hussey (2005, p. 148), “uma população pode referir-se a um grupo de pessoas ou a qualquer outro grupo de itens sendo considerados para propósitos da pesquisa”. Assim, uma amostra é formada por alguns membros de uma população. Lakatos e Marconi (2007, p. 165) definem a amostra como uma “parcela convenientemente selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo”. Para Richardson (1999), cada unidade ou membro de uma população, ou universo, denomina-se elemento, e quando se toma certo número de elementos para averiguar algo sobre a população a que pertencem, fala-se de amostra. A data da publicação dos Balanços Sociais pelas empresas coincide com a data de publicação dos demonstrativos contábeis obrigatórios, que ocorre PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 135 anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao término do exercício social. Dessa forma, conforme o IBASE (2008), as empresas distribuidoras de energia elétrica que publicaram seus balanços sociais no período de 2005 a 2007, referentes aos exercícios sociais de 2004 a 2006, no modelo e critérios de divulgação sugeridos pelo IBASE e que receberam o direito de utilizar o Selo Balanço Social IBASE/Betinho, estão apresentados no Quadro 11. ANO DE PUBLICAÇÃO EXERCÍCIO SOCIAL DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA Ampla Energia e Serviços S/A 2005 2004 Cia Energética de Pernambuco - Celpe Cia de Eletricidade do Estado da Bahia - Coelba Cia Energética do Ceará - Coelce Cia Paranaense de Energia Elétrica - Copel 2006 2007 2005 2006 Centrais Elétricas de Santa Catarina S/A - Celesc Cia Energética do Pernambuco - Celpe Cia de Eletricidade do Estado da Bahia - Coelba Cia Energética do Ceará - Coelce Cia Energética do Rio Grande do Norte – Cosern Cia Energética do Ceará – Coelce Cia Energética do Rio Grande do Norte – Cosern Quadro 11 - Distribuidoras de energia elétrica que receberam o direito de utilizar o Selo Balanço Social – IBASE no período de 2004 a 2007. Fonte: Adaptado do IBASE (2008) O quadro 11 evidencia a população considerada para os propósitos desta pesquisa, onde a seleção dos elementos desta população foi feita de forma intencional, isto é, não foram utilizadas formas aleatórias de seleção, mas apenas de uma amostragem não probabilística intencional de acordo com as características entendidas como necessárias às unidades de análise. Dessa maneira, as empresas distribuidoras de energia elétrica foram selecionadas considerando-se que: • São distribuidoras de energia elétrica situadas na região Nordeste do país; • São privadas, reguladas pela ANEEL e associadas a ABRADEE; PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 136 • Por meio do Manual de Contabilidade do Setor Elétrico, possuem orientação expressa da ANEEL para elaborarem o Balanço Social modelo IBASE; • São avaliadas anualmente pela ABRADEE, através do Prêmio de Responsabilidade Social; • Receberam o selo Balanço Social – IBASE, no período compreendido entre 2004 e 2007. Com base nesses critérios apresentados, definiu-se uma amostra não probabilística intencional, selecionando-se as 02 (duas) empresas distribuidoras de energia elétrica da região Nordeste, que receberam o selo Ibase no período de 2004 a 2007, considerando que estas são as empresas que estão entre as três maiores distribuidoras de energia elétrica do Nordeste brasileiro e que adotam práticas socialmente responsáveis no Brasil e também, possuem informações e dados suficientes para uma análise em todos os aspectos a serem estudados. As 02 (duas) distribuidoras de energia elétrica selecionadas para esse estudo foram: • Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA) • Companhia Energética do Ceará (COELCE) Ressalta-se que as empresas CELPE e COSERN, que pertencem ao mesmo Grupo da COELBA, embora tenham publicado seus balanços sociais no período de 2005 a 2007, no modelo e critérios de divulgação sugeridos pelo IBASE e também tenham recebido o direito de utilizar o Selo Balanço Social IBASE/Betinho (Quadro 10), foram excluídas da análise neste estudo. O motivo da exclusão consiste no fato de que no período em que a COELCE e a COELBA estavam iniciando o seu processo de institucionalização e sistematização da RSC, no fim de 2003 e início de 2004, a CELPE e a COSERN já estavam recebendo Prêmio Balanço Social, concedido pelo Instituto Ethos, Abamec, Aberje, Fides e Ibase, consolidando assim as suas políticas voltadas para empregados, fornecedores, comunidade, preservação do meio ambiente e incentivo à cultura. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 137 Como o objeto do estudo é a institucionalização da RSC, analisando o impacto deste processo nas empresas distribuidoras de energia elétrica na região Nordeste, a opção recaiu sobre a COELCE e COELBA, visto que ambas iniciaram o processo de implementação da política de RSC no mesmo período. Além disso, a própria relação profissional da aluna-pesquisadora com a Companhia Energética do Ceará (COELCE), a qual participou da Consultoria para a implementação da RSC, reforça a escolha das empresas para o estudo, assim como aumenta a curiosidade sobre os resultados da análise, o que seria natural face à identidade gerada pela relação profissional cotidiana. 5.3 Instrumentos de coleta de dados Após a apresentação da tipologia da amostragem e definida a mais adequada para a investigação nesta pesquisa, indica-se os instrumentos de pesquisa para a coleta de dados, a fim de se ter uma visão da constituição do campo e das ações socialmente responsáveis nele empreendidas. Segundo Lakatos e Marconi (2007, p. 167), “a coleta de dados é a etapa da pesquisa em que se inicia a aplicação dos instrumetos elaborados e das técnicas selecionadas, a fim de se efetuar a coleta dos dados previstos”. Os procedimentos para a realização da coleta de dados, variam de acordo com as circunstâncias ou com o tipo de investigação. As principais técnicas de pesquisas são: Coleta documental, observação, entrevista, questionário, formulário, medidas de opiniões e de atitudes, técnicas mercadológicas, testes, sociometria, análise de conteúdo, história de vida (LAKATOS E MARCONI, 2007). Nesse estudo, utilizou-se como instrumento de coleta de dados a documentação indireta localizada em fontes primárias, ou seja realizou-se uma pesquisa documental, tendo em vista que os materiais utilizados não receberam tratamento analítico, tais como as demonstrações contábeis não-obrigatórias e relatórios de sustentabilidade publicados, além de documentos disponibilizados da PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 138 forma impressa e em website, tanto pelas empresas estudadas como por órgãos reguladores como a ANEEL e a ABRADEE. Adicionalmente, utilizou-se como técnicas de coleta de dados a entrevista e o questionário. O roteiro de entrevista foi organizado conforme os objetivos específicos da pesquisa e também em conformidade com as etapas do processo de institucionalização das práticas de RSC, conforme modelo proposto por Tolber e Zucker (1999) nas empresas selecionadas para a pesquisa, mantendo contudo a flexibilidade necessária para esse tipo de pesquisa qualitativa. Para o questionário foi atribuído um grupo de questões para cada objetivo proposto no estudo, a medida em que se evidenciou o referencial teórico levantado. Para a definição dos sujeitos relevantes da pesquisa, considerou-se primeiramente os objetivos do estudo e, após a verificação de que as duas empresas selecionadas possuem um departamento estruturado para a gestão das práticas de responsabilidade social, procurou-se concentrar as entrevistas e os questionários nos referidos departamentos, os quais ficaram com a responsabilidade de repassar e cobrar os questionários aos gestores. Os questionários foram aplicados aos gestores e colaboradores das organizações, com o intuito de avaliar a percepção destes em relação a institucionalização da RSC nas organizações por eles geridas. Os departamentos escolhidos têm relação com os principais stakeholders avaliados nesta pesquisa: público interno, público externo e meio ambiente. Dessa forma, os questionários foram aplicados nos seguintes departamentos da COELCE e COELBA: COELCE • Diretoria de Organização e Recursos Humanos: Gerência de RH; • Diretoria Administrativo Financeira e de Relações com Investidores: Gerência de Administração Contábil; • Diretoria Comercial: Gerência de Serviços os Clientes. • Diretoria Institucional e de Comunicação: Gerência de Comunicação. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 139 COELBA Na COELBA a Diretoria é composta pelos diretores do grupo Neonergia, que são diretores que representam todas as empresas do Grupo. Dessa forma, as pessoas que estão ligadas à Presidência, em cada empresa que pertence ao Grupo, são os Superintendentes. As Superintendências, por sua vez, são divididas em departamentos. • Superintendência de Gestão de Pessoas: Departamento de Relações com Pessoas e remuneração, Departamento de Segurança; • Superintendência Financeira e Relação com Investidores: Departamento de Arrecadação e Recuperação de Créditos; • Superintendência Comercial e Mercado: Departamento de Gestão Comercial e Departamento de Marketing e Relacionamento. Com o intuito de complementar os questionários aplicados, realizou-se entrevistas com 03 (três) pessoas importantes no processo de institucionalização das práticas de responsabilidade social nas empresas estudadas, como os Gestores das áreas de Recursos Humanos, Comercial e Institucional e de Comunicação, por se tratarem dos principais gestores que lidam com os stakeholders estudados, público interno e externo e meio ambiente. Por esses institucionalização da meios, buscou-se responsabilidade compreender social corporativa o processo nas de empresas distribuidoras de energia elétrica na região Nordeste do Brasil, conforme especificado no item 5.2. 5.4 Técnicas de análise de dados De acordo com Yin (2005, p. 137) “a análise de dados consiste em examinar, categorizar, classificar em tabelas, testar ou, do contrário, recombinar as PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 140 evidências quantitativas e qualitativas para tratar as proposições iniciais de um estudo”. O processo de análise dos dados nesse estudo será dividido em análise de conteúdo e documental. A análise de conteúdo é um método formal para a análise de dados qualitativos. Mostyn (1985 apud COLLIS; HUSSEY, 2005, p. 240) refere-se a ela como “a ferramenta de diagnóstico de pesquisadores qualitativos, que a empregam quando se vêem diante de uma massa de material que deve fazer sentido”. A análise documental consiste em uma série de operações que visa estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais e econômicas com as quais podem estar relacionados. Representa apenas uma das técnicas utilizadas pela análise de conteúdo e tem como objetivo básico determinar fielmente os fenômenos sociais (RICHARDSON, 1999). Nesta pesquisa foi utilizada a análise por categoria como principal técnica de análise dos dados, a qual, conforme Richardson (1999, p. 243) “baseia-se na decodificação de um texto em diversos elementos, os quais são classificados e formam agrupamentos analógicos”. Essa técnica demanda que o material coletado seja reunido e classificado de acordo com critérios ou variáveis flexíveis, embora previamente definidos. As variáveis consideradas nesse estudo foram definidas conforme o item 5.2. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 141 6 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA RSC: UM ESTUDO NAS DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO CEARÁ E DA BAHIA Este capítulo tem por objetivo descrever a invetigação sobre as formas de institucionalização da Responsabilidade Social Corporativa (RSC) nas distribuidoras de energia elétrica do Ceará e da Bahia, através das práticas sociais aplicadas por estas empresas. Primeiramente contextualizou-se, as características das companhias, como criação, objeto e estrutura organizacional, bem como seus valores, interesses e formas de atuações no movimento pela inserção na RSC. Em seguida abordou-se o processo de institucionalização dessas companhias na visão dos stakeholders e sob a ótica de Tolbert e Zucker. Nesse contexto, por meio de análises efetuadas nos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade publicados pelas organizações pesquisadas e informações prestadas por atores-chave através de entrevistas e questionários aplicados na pesquisa de campo, com o objetivo de demonstrar uma conclusão mais fidedigna da realidade, apresenta-se as práticas sociais institucionalizadas por essas organizações no período de 2004 a 2007 e os investimentos que as companhias têm realizado em termos de responsabilidade social, bem como as provas geradas pela empresa para subsidiar a institucionalização dessas práticas de RSC. 6.1 Caracterização das Companhias COELCE e COELBA As características como criação, objeto, estrutura organizacional, valores, interesses e formas de atuações no movimento pela inserção na RSC das empresas COELCE e COELBA estão relacionadas a seguir e foram estruturadas com base em publicações nos sites das companhias, bem como em seus Balanços Sociais, Relatórios Anuais e de Sustentabilidade. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 142 I) Companhia Energética do Ceará (COELCE) A Companhia Energética do Ceará (COELCE) é uma sociedade por ações de capital aberto, concessionária do serviço público de energia elétrica, destinada a pesquisar, estudar, planejar, construir e explorar a distribuição de energia elétrica. A COELCE tem ações negociadas na Bovespa e é controlada pelo grupo Endesa, por meio da Holding Investluz S.A, que detém 56,6% do capital total e 91,7% do capital votante da COELCE. O restante do capital pertence a pessoas físicas, investidores institucionais nacionais e estrangeiros, tais como fundos de pensão, fundos e clubes de investimentos e outras pessoas jurídicas. A companhia tem como área de concessão todo o Estado do Ceará, atuando em 184 municípios, em uma área de 148.825 km², que abrigam mais de oito milhões de habitantes. A concessão do serviço público de distribuição de energia elétrica se deu por meio do Contrato de Concessão de Distribuição nº 01/1998, de 13 de maio de 1998, da ANEEL, com vencimento para 12 de maio de 2028. Terceira maior distribuidora de energia elétrica do Nordeste brasileiro em volume de energia distribuída, a COELCE é responsável pelo fornecimento de energia elétrica para aproximadamente 2,7 milhões de clientes, dos quais 2,0 milhões são consumidores residenciais. A Companhia opera mais de 106 mil quilômetros de linhas de distribuição e transmissão de energia e conta com uma equipe de mais de 8 mil colaboradores, incluindo os de empresas parceiras (COELCE, 2008). Em 2007, a energia elétrica distribuída (mercado cativo e livre) na área de concessão da COELCE atingiu a marca de 7,2 mil GWh, volume 6,8% superior aos 6,8 mil GWh do ano anterior. Esse crescimento foi superior aos 6,2% verificado no requisito de energia, o que representa uma redução das perdas de energia no Estado que passou de 13% em 2006 para 12,35% em 2007 (COELCE, 2008). Por categoria, o segmento residencial respondeu, em 2007, por um consumo da ordem de 2,4 mil GWh, o que significou 33% do total (1,2 mil GWh consumidos por clientes residenciais de baixa renda), enquanto os segmentos PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 143 industrial e comercial tiveram participações respectivas de 16% (1,2 mil GWh) e 18% (1,3 mil GWh). Os clientes rurais corresponderam a 9% do total de energia comercializada. A COELCE obteve em 2007 uma receita operacional bruta de R$ 2.431 milhões e uma receita líquida de R$ 1.702 milhões. A companhia tem por objeto a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, execução de serviços correlatos e o desenvolvimento de atividades associadas aos serviços, bem como a celebração de atos de comércio decorrentes dessas atividades; a realização de estudos, planejamentos, projetos, construção e operação de sistemas de produção, transformação, transporte e armazenamento, distribuição e comércio de energia de qualquer origem ou natureza; o estudo, projeto e execução de planos e programas de pesquisa e desenvolvimento de novas fontes de energia, em especial as renováveis, ações que desenvolverá diretamente ou em cooperação com outras instituições; o estudo, a elaboração e execução, no setor de energia, de planos e programas de desenvolvimento econômico e social em regiões de interesse da comunidade e da companhia, diretamente ou em colaboração com órgãos estatais ou privados, podendo, também, fornecer dados, informações e assistência técnica à iniciativa pública ou privada que revele empenho em implantar atividades econômicas e sociais necessárias ao desenvolvimento. A estrutura organizacional da COELCE, até 2007, esteve composta pela Assembléia de Acionistas, por um Conselho Fiscal, um Conselho de Administração e uma Diretoria Executiva composta por 07 (sete) membros, sendo (I) o Diretor Presidente, (II) o Diretor Vice-Presidente Comercial, (III) o Diretor Vice-Presidente Administrativo-financeiro e de Relações com Investidores, (IV) o Diretor VicePresidente de Organização e Recursos Humanos, (V) o Diretor Vice-Presidente de Planejamento e Controle de Gestão, (VI) o Diretor Vice-Presidente Técnico e (VII) o Diretor Vice-Presidente Institucional e de Comunicação, conforme apresentado na figura 7. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 144 Figura 7 – Organograma Geral COELCE. Fonte: COELCE (2008). Para a COELCE, a sustentabilidade constitui elemento fundamental em sua estratégia, traduzindo-se em crescimento econômico-financeiro e criação de valor em longo prazo para todas as suas partes interessadas. Para isso, a companhia compromete-se com o desenvolvimento sustentável de seu negócio, nas três dimensões: econômica, social e ambiental. Para a incorporação da sustentabilidade em seu modelo de negócio adotou 7 (sete) compromissos com o Desenvolvimento Sustentável, os quais se constituem os fundamentos éticos da sustentabilidade da Companhia. II) Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA) A Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA), concessionária de serviço público de energia elétrica com capital social privado, é PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 145 uma sociedade por ações de capital aberto, inscrita na Comissão de Valores Mobiliários sob o número 1452-4, que tem como principal acionista o Grupo Neoenergia. A COELBA é responsável por projetar, construir e explorar os sistemas de subtransmissão, transformação, distribuição e comercialização de energia elétrica e serviços correlatos, e tem suas atividades regulamentadas e fiscalizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia (MME). Quando constituída, em 28 de março de 1960, era controlada pelo Governo do Estado da Bahia e atendia a 21 localidades. Hoje, é a terceira maior distribuidora de energia elétrica do País em número de clientes e a sexta em volume de energia comercializada. No Norte-Nordeste, nestes mesmos termos, ocupa a primeira posição no ranking das concessionárias. A empresa está presente em 415 dos 417 municípios do Estado da Bahia, atendendo a cerca de 13 milhões de habitantes em uma área de concessão de 563 mil km². A data do início da concessão foi em 08/08/1997 e o vencimento ocorrerá em 07/08/2027. O volume de energia distribuída pela COELBA no ano de 2007 foi de 12.800 GWh, o que corresponde a 6,6% acima do ano anterior. Este montante é composto por 11.379 GWh referente ao mercado cativo e 1.421 GWh para atendimento ao mercado livre. O consumo de energia cresceu 7,3% em relação a 2006, com destaque para o consumo registrado na classe residencial (+10,3%), além do crescimento do número de clientes em 5,7%, principalmente em virtude do avanço do plano de universalização, onde se encontra inserido o Programa Luz para Todos. Cumpre destacar também o desempenho da arrecadação que foi de 99,87% em 2007, resultado principalmente das intensivas campanhas de conscientização da população sobre a importância da pontualidade nos pagamentos e desenvolvimento de soluções facilitadoras de acesso para pagamento das contas de energia pelos clientes. Em 2007, a companhia obteve um faturamento bruto de R$ 4.454 milhões e uma receita operacional líquida de R$ 2.898 milhões, superior em 14,9% a registrada em 2006. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 146 A estrutura organizacional da COELBA é formada por um Conselho de Administração, um Conselho Fiscal e uma Diretoria Executiva, que tem a responsabilidade de definir e garantir a realização das principais diretrizes e ações da empresa. A Diretoria Executiva é composta pelo diretor-presidente e por 05 (cinco) diretores, que exercem suas atribuições de acordo com o Estatuto Social da empresa, sendo as diretorias divididas em: Diretoria de Gestão de Pessoas, Diretoria Financeira e Relações com Investidores, Diretoria de Distribuição, Diretoria de Planejamento e Controle e Diretoria de Regulação. As Diretorias, por sua vez, são compostas por Superintendências, conforme representado na figura 8. Figura 8 – Organograma Geral COELBA. Fonte: COELBA (2008). A companhia possui ainda participações societárias permanentes na Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN), Itapebi Geração de Energia S.A e na Garter Properties Inc. (sociedade para captação de recursos externos junto aos sindicatos de bancos). A COELBA tem consciência do seu importante papel na melhoria da qualidade de vida e na contribuição para o desenvolvimento sustentável da sociedade. Elegeu meio ambiente como um dos focos para seus investimentos no PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 147 Estado da Bahia e incluiu em sua política ambiental, entre outros, os compromissos de melhorar continuamente o desempenho da gestão ambiental; utilizar métodos de trabalho e materiais que previnam, reduzam ou controlem a poluição; assegurar que os fornecedores de serviços e produtos adotem procedimentos ambientais compatíveis com os praticados pela empresa; e incentivar projetos de pesquisa e inovações tecnológicas que resultem no uso eficiente dos recursos naturais (ABVE, 2008). 6.2 Processo de institucionalização da RSC nas distribuidoras de energia elétrica do Ceará e da Bahia Neste estudo, o processo de institucionalização da RSC foi investigado sob a visão dos stakeholders e sob a visão de Tolbert e Zucker, conforme demonstrado no referencial teórico. Em todos os discursos de justificação para a inserção das duas empresas distribuidoras de energia elétrica no movimento pela RSC, observa-se a utilização da teoria dos stakeholders e o valor estratégico que a responsabilidade social tem para as empresas. A teoria dos stakeholders determina que a organização não pode ser compreendida apenas como uma instituição que progride em função de seus proprietários ou acionistas e sim por um conjunto de pessoas ou instituições que também têm interesses em que a organização seja bem sucedida. Dessa forma, as estratégias da organização devem ser elaboradas para satisfazer aos diversos grupos situados em seu ambiente e que são direta ou indiretamente afetados pelo seu comportamento estratégico. De forma geral, analisando-se o processo de institucionalização da RSC nas distribuidoras de energia elétrica, sob a ótica do modelo proposto por Tolbert e Zucker (1999), no período de 2004 a 2007, observou-se a presença dos três estágios: habitualização, objetificação e sedimentação. Com a análise dos resultados, verificou-se que, atualmente, as companhias distribuidoras de energia elétrica encontram-se predominantemente no estágio de sedimentação. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 148 A habitualização esteve presente no período entre 2004 e 2005, que corresponde aos primeiros passos em busca da implementação da política de RSC nas distribuidoras de energia elétrica COELCE e COELBA, por meio de processos miméticos que resultaram em consultorias realizadas nestas empresas, da mudança na legislação em virtude da criação da ANEEL e da adoção de novas estruturas de trabalho. O consenso social entre os decisores das organizações estudadas, bem como as evidências de outras distribuidoras de energia elétrica no que concerne a RSC, que assume um caráter mais permanente e disseminado, caracterizou o estágio de objetificação. Por fim, a difusão das práticas sociais em benefícios de seus stakeholders provocando impactos positivos nestas organizações, a redução das resistências e a defesa de grupos de interesses, que são favoráveis às mudanças, correspondem à etapa de sedimentação. Nesse contexto, investigou-se nos itens seguintes o processo de institucionalização da RSC nas distribuidoras de energia elétrica do Ceará e da Bahia, através das práticas sociais aplicadas por estas empresas, abordando o processo de institucionalização dessas companhias na visão dos stakeholders e sob a ótica de Tolbert e Zucker. 6.2.1 Processo de institucionalização da RSC na COELCE A implantação do Programa de Responsabilidade Social e Ambiental (RSA) da COELCE aconteceu no período entre fevereiro de 2004 e junho de 2005 e foi realizado com o apoio de uma equipe de consultores, inclusive da aluna pesquisadora que participou da consultoria, e de todos os colaboradores da empresa, nas suas respectivas áreas de atuação. A COELCE foi a empresa escolhida para a aplicação do projeto piloto de sistematização da política de RSA nas empresas do Grupo Endesa, na América PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 149 Latina. Durante toda a sua sistematização, o projeto foi coordenado pelo então Presidente Cristián Fierro e pela então Gerente de Comunicação da COELCE, Conceição Rodrigues. O desenvolvimento do processo foi estruturado em quatro etapas: sensibilização, diagnóstico, planejamento e publicação do Balanço Social. A sensibilização deu-se através de uma metodologia participativavivencial com todos os gestores e colaboradores das áreas da empresa em modelagem de workshop. Para garantir que os colaboradores estariam focados na aprendizagem, os encontros foram realizados em hotel, com carga horária de 8h/dia. Nesses encontros foram estudados os fundamentos e todos os aspectos práticos da Responsabilidade Social e Ambiental. Os encontros contavam com públicos distintos para facilitar a transmissão das informações específicas e com público geral para informações conceituais. Foi utilizado também o processo de comunicação por intranet. O diagnóstico foi realizado a partir de um levantamento de informações em todos os setores da empresa para identificar o estágio em que a empresa se encontrava. Esta etapa teve duração de três meses. Identificado que a COELCE estava em uma fase filantrópica, fez-se um planejamento para que esta alcançasse a terceira posição em Responsabilidade Social e Ambiental na ABRADEE, competindo com a Companhia Energética de Pernambuco (CELPE) e com a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN), que já tinham sistematizado a RSC e receberam premiações em 2004; participasse de prêmios em nível local, regional e nacional; e em 2006 estivesse alinhada com a sua controladora na Espanha trabalhando o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Todos os objetivos traçados foram alcançados, e a COELCE ainda conseguiu entrar no seleto grupo de empresas integrantes do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BOVESPA. Em 2004, a COELCE publicou o primeiro Balanço Social contemplando o exercício de 2004 e 2003. Este relatório tornou-se a fonte externa de avaliação da PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 150 sistematização da Política de RSC da Companhia. A publicação foi de acordo com o modelo Ethos e tinha, em anexo, o modelo IBASE. A aprovação do modelo IBASE pelo Instituto e a autorização de uso do Selo foram as primeiras portas abertas no cenário de RSC no Brasil para uma empresa que estava investindo em uma política de credibilidade. Em 2004, as principais empresas concorrentes da COELCE no setor de energia no Nordeste eram a CELPE e a COSERN. A COELBA, embora pertencesse ao mesmo Grupo Empresarial destas duas (Iberdrola), ainda estava iniciando a sua institucionalização de RSC juntamente com a COELCE. Em 2005, a Companhia continuou publicando os modelos Ethos e IBASE, melhorando seus controles de indicadores e buscando implementar normas internacionais. Com a sistematização da RSC na COELCE em 2005, iniciou-se a sistematização da segunda distribuidora do Grupo situada no Rio de Janeiro. Em 2006, a COELCE iniciou o seu alinhamento com o Grupo Endesa e passou a adotar a publicação do Relatório de Sustentabilidade, utilizando o modelo internacional Global Reporting Initiative (GRI), Ethos e IBASE, focando-se no conceito de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse mesmo ano a sistematização foi estendida às geradoras de energia da Endesa no Brasil. A seguir, demonstra-se a justificação para a inserção da COELCE no movimento pela RSC, bem como a análise dos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade. 6.2.1.1 Justificação para a inserção da COELCE no movimento pela RSC Este item tem como propósito analisar as justificações para a inserção da distribuidora de energia elétrica COELCE no movimento pela RSC, sendo os discursos de justificações considerados como elementos necessários para a institucionalização das práticas sociais nas organizações. As informações para esta PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 151 análise foram extraídas dos documentos de acesso público, como os balanços sociais, relatórios de sustentabilidade e páginas das companhias na internet, assim como nas entrevistas realizadas e questionários aplicados, que também serviram de base para a análise das ações práticas de responsabilidade social que a companhia está realizando. Observa-se que, quando as distribuidoras de energia elétrica se comprometem com as ações de responsabilidade social perante seus públicos, sejam eles internos ou externos, isto é, quando ocorre à inserção dessas empresas no movimento pela RSC, as cobranças tornam-se cada vez mais crescentes por parte da sociedade, que a partir de então passa a acompanhar o desempenho não só econômico, mas também social dessas organizações, exigindo transparência em suas transações. Por meio das mensagens dos presidentes apresentadas nos balanços sociais, relatórios de sustentabilidade e anuais da COELCE, analisaram-se as justificações desta empresa no movimento pela RSC, as quais evidenciam o processo de transformação de ações sociais pontuais em uma responsabilidade social estruturada, além do comprometimento da empresa em evidenciar essas ações a todos os seus stakeholders. Ressalta-se que o compromisso com a transparência para os diferentes públicos com que a COELCE se relaciona é importante principalmente para a estratégia dos negócios. Em 2004, a transparência da COELCE com seus múltiplos stakeholders foi evidenciada quando o então presidente da companhia Cristián Fierro declarou que: A COELCE tem na responsabilidade social um dos pilares de sua missão empresarial. E assim, a cada ano, aprimora suas ações e fortalece os seus valores na ética, transparência e, principalmente, no relacionamento com todos os seus stakeholderes: colaboradores, fornecedores, comunidade/sociedade, meio ambiente e acionistas. Isso porque a Coelce acredita que, ao se posicionar como uma empresa socialmente responsável exerce uma atitude de transformadora que afeta o desenvolvimento e a qualidade de vida do povo cearense (COELCE, 2004). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 152 Para a COELCE, a responsabilidade social está sendo incorporada à estratégia dos negócios, tendo em vista que: Com ações que visam à incorporação dos valores da companhia e do Grupo Endesa, dentro do seu programa estratégico e a implementação e disseminação do Código de ética, a empresa realiza projetos que buscam envolver todos os seus stakeholders e alinhá-los à sua postura de organização socialmente responsável, pois acredita que uma iniciativa isolada de responsabilidade social não viabiliza o desenvolvimento sustentável (COELCE, 2004). No ano de 2005 a COELCE assumiu publicamente o compromisso com o desenvolvimento sustentável, ao aderir ao Pacto Global das Nações Unidas. Em relação a essa adesão o então presidente da companhia, Cristián Fierro declarou: A partir desta decisão, incorporamos às nossas atividades diárias, de forma proativa, princípios e valores alinhados ao desenvolvimento sustentável. Para impulsionar as ações neste âmbito, a COELCE estabeleceu, alinhada ao Grupo ENDESA, os 7 Compromissos com o Desenvolvimento Sustentável, a ser difundido em 2006 através do programa corporativo Conto Contigo. A Companhia também estabeleceu o Plano Estratégico de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (PEMADS), o qual reforçará o plano estratégico da Companhia, ‘Escalada COELCE’. Este ano também foi importante para a ratificação da inserção da COELCE no movimento pela RSC, no momento em que a companhia elaborou o Balanço Social, seguindo os indicadores do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e pela primeira vez, organizou-se um Relatório de Sustentabilidade seguindo os critérios do modelo internacional da Global Reporting Initiative (GRI). Observa-se que, no ano de 2006, o desenvolvimento sustentável já é considerado como um elemento sinérgico na COELCE, a medida em que o então presidente Cristián Fierro declara: Para alcançarmos objetivos e metas planejadas nas dimensões econômica, social e ambiental, a estratégia de atuação de nossa Companhia está pautada: na gestão eficiente e responsável, que agregue valor para o PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 153 acionista; na garantia da empregabilidade e qualidade de vida de nossos colaboradores; no fornecimento de serviço de qualidade para nossos clientes; no emprego eficiente dos recursos, para minimizar os impactos sobre o meio ambiente; e no desenvolvimento de projetos sociais, que propiciem resultados permanentes e transformadores para o Estado do Ceará (COELCE 2006). Para a COELCE, a ética e a transparência nas relações com todos os seus stakeholders deve ser priorizada. Para tanto, aplicou-se a Lei Sarbanes-Oxley, Princípios da Governança Corporativa, Princípios do Pacto Global e Códigos de Ética Empresarial e de Conduta de Empregados, no decorrer do ano de 2006. Em 2007, pelo quinto ano consecutivo, a COELCE publicou seu Relatório de Sustentabilidade, procurando aperfeiçoar cada vez mais o relato de suas ações e de seus resultados econômicos, sociais e ambientais. Para isso, neste ano elaborouse pela primeira vez, uma publicação única contendo as informações econômicofinanceiras, antes detalhadas em seu Relatório Anual, juntamente com as de âmbito social e ambiental. Outras importantes fontes de análises sobre a justificação para a inserção da COELCE no movimento pela RSC são os Balanços Sociais e os Relatórios de Sustentabilidade, divulgados pela companhia, os quais foram analisados no item a seguir. 6.2.1.2 Análise dos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade da COELCE Através da análise dos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade da COELCE permitiu-se examinar a institucionalização das práticas sociais desta companhia a partir do ano de 2002, ano este em que entrou em vigor, por força de dispositivo regulamentar, a obrigatoriedade imposta pela ANEEL para elaboração do Relatório Anual de Responsabilidade Social Empresarial. Esta análise também permite verificar a concretização das ações práticas e dos discursos de justificação, o que caracteriza os arranjos estruturais operacionalizados pela organização. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 154 Para a elaboração dos Balanços Sociais e dos Relatórios de Sustentabilidade, desde 2005 a COELCE segue as diretrizes propostas pela Global Reporting Initiative (GRI). No entanto, desde o início do processo de institucionalização da responsabilidade social, a companhia elabora seus relatórios com base no Guia de Elaboração do Balanço Social do Instituto Ethos com os Indicadores Ethos de Responsabilidade Empresarial, sobretudo Indicadores EthosAbradee, bem como IBASE e Pacto Global. A COELCE publicou o seu primeiro Balanço Social no ano de 2004, com informações referentes ao ano de 2003. Neste demonstrativo o então presidente da companhia Cristián Fierro ressalta que mais um passo foi dado em sua história de compromissos com acionistas, clientes, colaboradores e a comunidade em geral. O BS 2003 traz um conjunto de informações comparativas dos últimos dois anos sobre gestão de responsabilidade social, embora nesses anos apenas ações práticas fossem realizadas (COELCE, 2003). No BS da COELCE de 2004, observa-se que o processo de institucionalização da RSC intensificou-se à medida em que os avanços em relação ao BS de 2003 continuaram, e a empresa fortaleceu ainda mais sua relação com a comunidade cearense por intermédio da implementação de diversos projetos sociais e ambientais. Os relatórios da COELCE apresentam suas iniciativas alinhadas aos princípios do Pacto Global e o balanço proposto pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE). Estão estruturados com base nos Sete Compromissos para um Desenvolvimento Sustentável, assumidos pela COELCE em 2005, conforme decisão estratégica de todo o Grupo Endesa. Segue, ainda, recomendações de conteúdo da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA). Além disso, os relatórios evidenciam o compromisso da COELCE com os públicos interno e externo e com o meio ambiente, conforme demonstrado a seguir. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 155 I) Público interno A relação da COELCE com o seu público interno pode ser identificada em seus Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade. Para esta companhia, o primeiro passo para alcançar bons resultados econômico-financeiros é investir de forma significativa no desenvolvimento profissional de seus colaboradores e exigir o mesmo de suas empresas parceiras. Para isso, a companhia desenvolve uma gestão participativa, ou seja, representantes dos empregados integram diversos conselhos e participam de treinamentos que os permitem contribuir para decisões estratégicas na empresa. Além disso, a COELCE proporciona uma política de remuneração e benefícios que valoriza o talento do público interno. Até o ano de 2007, a COELCE já empregou mais de 8 mil pessoas, sendo 1.297 empregados próprios, 6.837 de empresas parceiras, 176 estagiários e 21 menores-aprendizes. A companhia permite aos seus colaboradores a liberdade de associação e reconhece o direito de negociação coletiva, além disso introduz jovens aprendizes no mercado de trabalho e oferece oportunidades aos portadores de necessidades especiais. A COELCE tem consciência de que, para alcançar o sucesso empresarial, é fundamental estar comprometida com a qualidade de vida de seus colaboradores, bem como atender às suas aspirações pessoais e profissionais. Para isso cria soluções adequadas e seguras de trabalho, oferecendo oportunidade de ascensão profissional, sem qualquer tipo de discriminação, e garante benefícios a todos, como estímulo à adesão e entusiasmo para a condução de suas atividades (COELCE, 2005). A COELCE mantém uma política de valorização profissional, proporcionando atividades de capacitação em áreas específicas da atuação profissional e em desenvolvimento humano, visando a melhoria da qualidade de vida dos seus colaboradores. Os investimentos da COELCE em capacitação e desenvolvimento profissional, no período de 2004 a 2007, pode ser demonstrado conforme gráfico 1. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 156 Investim entos em Capacitação e Desenvolvim ento Profissional R$ MIL COELCE 2004-2007 2.544 1.894 2.019 2004 1.304 2005 2006 2007 Gráfico 1 – Investimentos da COELCE em Capacitação e Desenvolvimento Profissional no período de 2004 a 2007 em R$ Mil. Fonte: COELCE (2008). Os investimentos realizados pela COELCE em educação, no período de 2004 a 2007, são evidenciados no gráfico 2. Inve s tim e ntos e m Educação R$ M il COELCE 2004-2007 538 2004 246 105 137 2005 2006 2007 Gráfico 2 – Investimentos da COELCE em Educação no período de 2004 a 2007 em R$ Mil. Fonte: COELCE (2008). Para assegurar as melhores condições de saúde e segurança para os colaboradores, a COELCE desenvolve campanhas, realiza pesquisas e estabelece metas e indicadores de desempenho relacionados às condições de trabalho. O PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 157 excelente desempenho operacional foi alcançado dando sempre prioridade à segurança de todos os colaboradores. Em 2007, a companhia obteve a menor taxa de gravidade de acidentes da Endesa em toda a América Latina. O valor investido pela COELCE em Segurança e Saúde no Trabalho, no período de 2004 a 2007 é evidenciado no gráfico 3. Inve stime ntos e m Segura nça e Sa úde no Tra balho R$ Mil COELCE 2004-2007 211 166 129 182 2004 2005 2006 2007 Gráfico 3 – Investimentos da COELCE em Segurança e Saúde no Trabalho no período de 2004 a 2007 em R$ Mil. Fonte: COELCE (2008). Ainda em relação ao seu público interno, a COELCE busca combater todas as formas de discriminação e de valorizar as oportunidades oferecidas pela riqueza étnica e cultural da sociedade cearense, reconhecendo assim, a sua obrigação ética. Dessa forma, possui normas escritas destacadas em seu Código de Ética Empresarial, ressaltando os processos de admissão através do programa chamado Conhecendo a COELCE e oferecendo treinamento por meio de atividades desenvolvidas no programa nomeado Valores em Ação (COELCE, 2006). II) Público externo Durante todo o processo de institucionalização da responsabilidade social na COELCE, o compromisso com o desenvolvimento da sociedade e com as PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 158 comunidades em que atua fez parte do planejamento estratégico da empresa. Esses compromissos são demonstrados em sua política de responsabilidade social: A Responsabilidade Social é um tema transversal no planejamento estratégico da COELCE e possui os seguintes fundamentos: Transparência – de forma ética e em sentido amplo. Diversidade - respeito à sinergia das diferenças culturais. Desenvolvimento Auto-Sustentável - inclusão social de forma digna. Associação - parcerias com todos os atores sociais. Complementariedade - não avoca para si as obrigações do governo, mas torna-se parceira. Inclusão - redução da exclusão social no entorno da Entidade. Participação - ações sociais realizadas pelos colaboradores (COELCE, 2006, p. 148). Para isso a COELCE realiza ações por meio de programas, como o Programa Coelce Solidária , que visa a colaborar com a comunidade através da doação de móveis e equipamentos. Em 2006, a companhia doou 131 microcomputadores a instituições públicas e privadas e ainda rapassou R$ 49,5 mil para duas instituições, por meio de valor arrecadado através de serviço oferecido a clientes residenciais. Entre outras ações, a companhia desde 1999 realiza parcerias com entidades sem fins lucrativos para a arrecadação de fundos por meio da conta de energia. Os recursos arrecadados por meio de doações dos consumidores, que em 2006 totalizaram R$ 4.553 mil, são repassados para as instituições conveniadas e são destinados à manutenção e ampliação de seus projetos para os beneficiados (COELCE, 2006). A COELCE ressalta o seu compromisso com a qualidade dos serviços prestados aos clientes e consumidores no decorrer dos anos de 2004 a 2006, visto que a satisfação destes faz parte da missão da companhia. Isso a impulsiona buscar avanços na qualidade dos serviços, certificando seus processos com base em padrões internacionais, além de investir em obras de expansão, reformas e manutenção de seu sistema, controle de perdas, sistemas de informação e atendimento. Em 2006, a Companhia investiu R$ 343 milhões na qualidade dos serviços prestados aos clientes (COELCE, 2006). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 159 Para a COELCE, a satisfação dos clientes continuou sendo prioridade em 2007. Dessa forma, para melhorar a qualidade da prestação dos serviços, investiuse em tecnologia e em treinamento dos colaboradores, sempre ressaltando a importância de saber ouvir atentamente e atender às expectativas dos clientes. Para a universalização da energia elétrica na zona rural, no ano de 2007, a companhia investiu R$ 397 milhões, com destaque para os R$ 149 milhões aplicados no Programa Luz para Todos, principalmente em comunidades carentes. III) Meio Ambiente A Política Ambiental da COELCE foi lançada em outubro de 2004. Em 2005 e em 2006, essa política foi fortalecida e disseminada entre colaboradores e parceiros, mediante a realização de atividades de Educação Ambiental. De acordo com o Relatório de Sustentabilidade da COELCE (2006, p. 122), A Política Ambiental da COELCE reflete as suas crenças e valores e o seu compromisso com a prevenção e o controle dos impactos ambientais de suas atividades, bem como o atendimento à legislação e normas ambientais aplicáveis. Possui como princípios: • Ética Ambiental - Ser pró-ativa com a comunidade interna e externa, mantendo canal de comunicação aberto para informações quanto às suas ações ambientais, bem como disponibilizando um amplo acervo técnico sobre a gestão ambiental, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. • Compromisso com a Legalidade - Cumprir os requisitos legais aplicáveis e outros requisitos subscritos pela empresa, visando a melhorar continuamente o desempenho ambiental do planeta e do entorno, através da prevenção da poluição, monitoramento e recuperação de eventuais impactos ambientais. • Gestão de Resíduos - Promover alternativas para prevenir a poluição através da redução, da reutilização e da reciclagem de resíduos gerados na atividade operacional. • Educação Ambiental - Promover em todos os níveis hierárquicos a educação ambiental enfocando o senso de responsabilidade individual e o sentido de prevenção com relação ao meio ambiente, através de capacitação e conscientização, incluindo terceiros que atuem em seu nome e fornecedores. Em 2007, a responsabilidade social corporativa e a preocupação com o meio ambiente continuaram fundamentais para a estratégia de negócios da COELCE. Dentre as inúmeras iniciativas ambientais tomadas pela companhia, PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 160 destaca-se o Projeto ECOELCE, um programa inovador que incentiva a coleta seletiva ao oferecer bônus na conta de energia em troca dos resíduos recicláveis e que conta com a participação de quase 20 mil clientes. O empreendimento tem como objetivo principal organizar um programa de coleta seletiva de resíduos sólidos com valor de mercado, proporcionando o retorno dos mesmos a cadeia produtiva, e conseqüentemente, uma redução do consumo dos recursos naturais, além de propiciar liquidez às contas de energia da população, principalmente, mas não somente, de baixa renda. Os investimentos em meio ambiente totalizaram R$ 21.022 mil em 2007, valor este 23% superior ao investido em 2006, conforme evidenciado no gráfico 4. Investim entos em Meio Am biente R$ Mil COELCE 2004-2007 21.022 17.029 2004 2005 7.954 4.688 2006 2007 Gráfico 4 – Investimentos da COELCE em Meio Ambiente no período de 2004 a 2007 em R$ Mil. Fonte: COELCE (2008). Nestes valores estão incluídos os investimentos realizados em Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e em Projetos de Eficiência Energética (PEE), os quais são projetos exigidos pela ANEEL, em que as empresas concessionárias ou permissionárias de distribuição de energia elétrica devem aplicar anualmente 1% da sua Receita Operacional Líquida em melhorias para o setor energético. Ressalta-se que o Projeto ECOELCE é classificado como um Projeto de P&D. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 161 6.2.1.3 Processo de institucionalização da RSC na COELCE sob a ótica de Tolbert e Zucker Para a investigação do processo de institucionalização da RSC na COELCE, sob a ótica de Tolbert e Zucker, a pesquisa utilizou-se das respostas de 13 (treze) gestores da companhia, conforme citado na metodologia do estudo. Apresenta-se a seguir a percepção destes acerca desse processo e o grau de institucionalização das ações de responsabilidade social corporativa na companhia, bem como os impactos identificados nesse processo. HABITUALIZAÇÃO Essencial nesta fase é identificar os fatores que motivaram a COELCE a engajar-se na responsabilidade social. Ø FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O ENGAJAMENTO DA COELCE NA RESPONSABILIDADE SOCIAL, POR ORDEM DE RELEVÂNCIA Para o engajamento da COELCE na Responsabilidade Social Corporativa (RSC), identificou-se os fatores tecnológicos, econômicos e jurídicos como os mais relevantes neste processo. Na percepção dos gestores da companhia, o fator de ordem econômica, como a pressão do mercado, de clientes/consumidores e de órgãos de defesa, etc., por média de relevância, foi considerado o fator mais relevante para o engajamento da COELCE na RSC, conforme pode ser observado no gráfico 5. Os fatores tecnológicos, com a média de relevância de 1,77, foram considerados, na opinião dos gestores em que os questionários foram aplicados, o segundo fator mais importante para o engajamento da companhia no movimento pela RSC. Isto se deve ao fato de que os efeitos advindos da utilização maciça de recursos tecnológicos na comunicação e na geração de novos produtos e serviços, PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 162 cada vez mais sofisticados e produzidos em escalas sempre mais crescentes são preocupações constantes por parte dos clientes e consumidores. Fatores de engajam ento da Responsabildiade Social Corporativa Média de classificação por relevância COELCE 3,00 2,38 Média por relevância 2,50 2,00 1,77 1,69 1,50 1,00 0,50 0,00 tecnológicos econômicos jurídicos Gráfico 5 – Fatores que contribuíram para o engajamento da COELCE na Responsabilidade Social, por média de relevância. Fortaleza-CE, jul./ago., 2008. Por último, os fatores de ordem jurídica, tais como a desregulamentação do setor (privatização) e a criação da agência reguladora (ANEEL), obtiveram a média de classificação por relevância de 1,69. Na opinião de alguns gestores da companhia que foram entrevistados, a causa principal para o engajamento da COELCE na RSC foi o desejo de atender a demanda do cliente. Ø FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A SISTEMATIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL NA EMPRESA, POR ORDEM DE RELEVÂNCIA A sistematização das práticas de RSC na COELCE deu-se por diversos fatores. Evidencia-se no gráfico 6 a média de classificação por relevância dos fatores que contribuíram para a sistematização destas práticas na companhia, verificando-se que, na percepção dos gestores respondentes dos questionários e dos entrevistados, as principais causas que levaram a esta sistematização foram a orientação estratégica da empresa, com foco nas oportunidades de mercado e a PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 163 preocupação com a imagem corporativa, em especial junto aos clientes, que obtiveram média de 5,85. Fatores que contribuíram para a sistematização das práticas de RSC Média de classificação por relevância COELCE 5,85 5,85 4,15 4,08 4,15 2,46 Es tra tég ia De ma nd as leg ais Im ag em co rpo rat iva Pr es sã od os sin dic ato Pr s es sã od ac on co rrê nc ia Pr es sã od os cli en tes Pr es sã od op úb l.in ter no 1,46 Gráfico 6 – Fatores que contribuíram para a sistematização das práticas de RSC na COELCE por média de relevância. Fortaleza-CE, jul./ago., 2008. Os fatores que ficaram em segundo lugar, na opinião dos gestores em que se aplicaram os questionários, foram as demandas legais, inclusive por parte do governo e a pressão dos clientes e consumidores em geral, ambos com média de classificação por relevância de 4,15. A pressão da concorrência (verificar minhas anotações) foi o fator que obteve média de 4,08 para o total de 13 respondentes, enquanto que a pressão do público interno, na busca de melhores condições de trabalho, foi o fator que, para o total de 13 respondentes, obteve média de 2,46. Por fim, com a média de 1,46 entre os 13 gestores respondentes, a pressão dos sindicatos foi o item considerado menos relevante para a sistematização das práticas de responsabilidade social na empresa. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 164 Os pesos atribuídos aos fatores que contribuíram para a sistematização das práticas de responsabilidade social na empresa, por ordem de relevância, variaram de 1 a 7, sendo este considerado o mais relevante, enquanto que o peso 1 o menos relevante. OBJETIFICAÇÃO Com a habitualização das práticas sociais na COELCE, o passo seguinte é fazer com que a nova metodologia atinja um grau de consenso entre os decisoreschave da companhia. Esta etapa chama-se objetificação. Ø CONSENSO ENTRE OS DECISORES-CHAVE EM QUESTÕES RELATIVAS À RESPONSABILIDADE SOCIAL Este questionamento objetivou avaliar o consenso acerca da relevância da RSC entre os decisores-chave da COELCE. Observa-se no gráfico 7, que 100% dos gestores respondentes opinaram que há um forte consenso entre os decisoreschave quanto à relevância do tema, o que ocasionou a criação de um setor na estrutura organizacional da companhia para tratar dessas questões. Quanto à relevância da Responsabilidade Social, entre os decisores-chave COELCE Não há consenso 0 0,0% Há consenso 0 0,0% Há forte consenso 13 100,0% Gráfico 7 – Consenso entre os decisores-chave da COELCE em questões relativas à responsabilidade social. Fortaleza-CE, jul./ago., 2008. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 165 O compromisso com a sustentabilidade vem sendo percebido pelos gestores e colaboradores da COELCE, e toda a gestão de negócios vem sendo impactada positivamente desde a incorporação de um conjunto de diretrizes visando à sustentabilidade nas dimensões econômica, social e ambiental. Ø CONTROLE E MONITORAMENTO DAS AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL Em relação ao controle e monitoramento das ações de responsabilidade social de outras empresas do setor de energia elétrica, na percepção de 11 (onze) dos respondentes, a COELCE não só monitora sistematicamente como busca adotar as melhores práticas sociais identificadas nas empresas monitoradas. Analisando-se o gráfico 8, constata-se que apenas 1 (um) dos gestores respondentes percebe qua a COELCE monitora ocasionalmente as ações de responsabilidade social de outras empresas do setor buscando apenas cumprir as demandas legais. Quanto ao controle e monitoramento das ações de Responsabilidade Social COELCE 11 Monitora sistematicamente Monitora ocasionalmente Não monitora 1 1 Gráfico 8 – Controle e monitoramento das ações de RSC na COELCE. Fortaleza-CE, jul./ago., 2008. Apenas 1 (um) respondente, dentre os 13 gestores questionados, acredita que a COELCE não monitora as ações de responsabilidade social de outras empresas do setor, contudo busca melhorar suas próprias práticas nesse campo. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 166 Esse acompanhamento é essencial para identificar em que nível de RSC as outras empresas do setor se encontram, por conta das premiações e também para buscar novas formas de aplicação da RSC. Ø AÇÕES DE DISSEMINAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL As ações de responsabilidade social na COELCE têm sido disseminadas e sistematizadas por um grupo de decisores, tendo havido, inclusive a colaboração de consultoria externa. É o que se pode observar no gráfico 9, onde 100% dos gestores respondentes têm essa percepção. A disseminação da Responsabilidade Social se dá por COELCE 100,0% Grupo de decisores (líderes) com consultoria externa Grupo de decisores (líderes) sem consultoria extena Iniciativas de pessoas isoladas 0,0% 0,0% Gráfico 9 – Ações de disseminação e sistematização da RSC na COELCE. FortalezaCE, jul./ago., 2008. SEDIMENTAÇÃO Considera-se total o processo de institucionalização quando este é sedimentado. Um aspecto importante pode ser verificado nas mudanças significantes ocorridas na companhia com a adoção das práticas responsabilidade social. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com de 167 Ø MUDANÇAS OCORRIDAS NOS ÚLTIMOS 5 (CINCO) ANOS COM A ADOÇÃO DAS PRÁTICAS DE RSC Com a adoção das práticas de RSC na COELCE, 10 (dez) dos gestores respondentes perceberam que, ao longo dos últimos cinco anos, as mudanças ocorridas na empresa são de grande abrangência, com fortes impactos tanto para o público interno como para o público externo, conforme evidenciado no gráfico 10. Dos 13 (treze) gestores respondentes, 2 (dois) deles opinaram que a adoção das práticas de RSC são de média abrangência para a companhia, com impacto apenas no público externo, e apenas 1 (um) dos gestores tem a percepção de que há apenas impacto no público interno. Com a adoção das práticas de Responsabilidade Social ocorreram mudanças nos últimos cinco anos COELCE 10 De forte abrangência com impacto no públ.int. e ext. 2 De média abrangência com impacto no públ.ext. 1 De média abrangência com impacto no públ.int. De pequena abrangência sem significado para o públ.ext. De pequena abrangência sem signif icado para o públ.int. 0 0 Gráfico 10 – Mudanças ocorridas nos últimos 5 (cinco) anos na COELCE com a adoção das práticas de RSC. Fortaleza-CE, jul./ago., 2008. A adoção dos Sete Compromissos para um Desenvolvimento Sustentável, disseminados pelo Grupo Endesa, aconteceu oficialmente em 2005, e passou a influenciar diretamente nos planos estratégicos da companhia e na Visão, Missão e Valores corporativos. Esses princípios orientam todas as ações da empresa, que são realizadas de modo a criar um estilo simples e confiável de gestão, a integrar processos, a conhecer e estar mais próxima do cliente e a integrar os parceiros. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 168 Ø MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE QUESTÕES RELATIVAS À RSC Com relação ao monitoramento e avaliação das questões relativas a responsabilidade social corporativa, 10 (dez) dos gestores respondentes acreditam que a COELCE tem monitorado sistematicamente os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando os resultados para os seus diversos públicos, como pode ser verificado no gráfico 11. Nas questões relativas à Responsabilidade Social COELCE Monitora sistematicamente e avalia os resultados para os stakeholders 10 Monitora ocasionalmente e avalia a adequação às demandas legais 0 Monitora ocasionalmente e avalia os resultados para os stakeholders Monitora sistematicamente e 1 avalia a adequação às demandas legais 2 Gráfico 11 – Monitoramento e avaliação das questões relativas a RSC na COELCE. Fortaleza-CE, jul./ago., 2008. Na opinião de 2 (dois) dos gestores, a companhia tem monitorado sistematicamente os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando sua adequação às demandas legais. Contudo, apenas 1 (um) considera que a COELCE tem monitorado ocasionalmente os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando os resultados para os diversos públicos. Ø POLÍTICAS E AÇÕES DE RSC Analisando as políticas e ações de responsabilidade social corporativa, constatou-se que 11 (onze) dos gestores questionados percebem que não há PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 169 qualquer resistência a estas políticas e ações na COELCE, pois o discurso e prática estão totalmente alinhados. Verificou-se ainda, que na percepção de 1 (um) dos respondentes tem havido uma certa resistência às políticas e ações de responsabilidade social na companhia, pois o discurso e a prática não estão alinhados. Também a mesma quantidade de gestores, apenas 1 (um) dos respondentes, tem entendido que há uma certa resistência às políticas e ações de responsabilidade social, apesar do discurso e a prática estarem alinhados. Quanto às políticas e ações de Responsabilidade Social COELCE 0 1 1 Tem havido certa resistência pois, discurso e prática não estão alinhados Tem havido certa resistência apesar do discurso e prática estarem alinhados Não há qualquer resistência pois, discurso e prática estão alinhados Não há qualquer resistência apesar do discurso e prática não estarem alinhados 11 Gráfico 12 – Políticas e ações de RSC da COELCE. Fortaleza-CE, jul./ago., 2008. Ø RESULTADOS PERCEBIDOS QUANTO AOS OBJETIVOS DA RSC Esta questão veio evidenciar o quanto os gestores da COELCE têm compreendido que as ações de RSC praticadas pela companhia estão contribuindo para os objetivos estratégicos da organização. O gráfico 13 demonstra, por média de classificação do alcance dos objetivos, que a média de 2,92 dos gestores respondentes tem essa opinião. Com a média de classificação de 2,69, evidencia-se que as ações praticadas pela organização, além de ter melhorado a relação da organização com a comunidade, aperfeiçoou a sua Imagem Institucional. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 170 Dos 13 gestores respondentes, a média de 2,38 percebeu que as condições de vida da comunidade onde a COELCE está inserida melhorou consideravelmente. Para a média de 2,15 respondentes, as ações de RSC melhoraram o compromisso do empregado com a organização. Por fim, a média de 1,85 dos gestores respondentes percebeu uma melhora na lucratividade da companhia com a implementação da política de RSC. Resultados perce bidos com a adoção de Responsabilidade Social M édia de classificação do alcance dos objetivos COELCE Melhorou as condições de vida da comunidade local 2,38 M elhorou a relação com a comunidade 2,69 M elhorou a imagem institucional 2,69 M elhorou o compromisso do e mpregado com a organização 2,15 Contribuiu para os objetivos estratégicos da organização 2,92 Aumentou a lucratividade da organização Outro(s) 1,85 0,00 Gráfico 13 – Resultados percebidos na COELCE quanto aos objetivos da RSC. FortalezaCE, jul./ago., 2008. Com as entrevistas e questionários aplicados, buscou-se investigar as possíveis formas de institucionalização da Responsabilidade Social Corporativa na COELCE, sob a ótica de Tolbert e Zucker. Constatou-se que, sob a perspectiva institucional, a companhia apresenta impactos positivos com a sua estruturação da política de RSC, tendo em vista que há uma forte percepção por parte dos gestores, ao valor acrescentado à companhia e também ao atendimento aos objetivos estratégicos da organização. Observa-se ainda que há um número de gestores muito favorável às mudanças. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 171 6.2.2 Processo de institucionalização da RSC na COELBA A implantação do Programa de Responsabilidade Social da COELBA foi realizada no período de outubro de 2003 a junho de 2004 e contou com o apoio da Damicos Consultoria e Negócios. A referida implantação deu-se por meio de um processo sistematizado onde todas as fases foram desenvolvidas de forma abrangente e profunda. O desenvolvimento do processo foi estruturado em três etapas: sensibilização, diagnóstico e planejamento. A fase de sensibilização buscou, entre outras coisas, o entendimento e o comprometimento dos colaboradores da empresa e a disseminação e internalização dos princípios e valores da responsabilidade social em toda organização, criando um lastro sustentável para adequação a uma nova cultura. Nessa fase participaram gestores das diversas áreas da empresa e técnicos ligados às áreas de marketing, recursos humanos e comunicação, bem como fornecedores e clientes envolvidos com os projetos da COELBA. Na segunda etapa, que teve como objetivo levantar um diagnóstico para se conhecer a situação atual da empresa em relação à imagem frente aos seus stakeholders, percebeu-se que, mesmo com a concretização de muitas ações de apoio social pela COELBA, grande parte dos consumidores não tinha conhecimento dessas ações. Com isso, a COELBA pôde compreender a necessidade da sistematização do seu processo de gestão na área de Responsabilidade Social. A terceira fase, a de planejamento, foi marcada pela consolidação do processo de implantação, uma vez que foi possível a integração da atuação social da COELBA à sua estratégia de negócio. Durante todo desenvolvimento das três fases do processo na COELBA, ficou evidente tanto para a equipe consultora como para a equipe da empresa, o interesse e o compromisso de todos aqueles que se envolveram direta ou indiretamente com o processo, e o sucesso só foi possível pelo cuidado e dedicação PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 172 da equipe da Diretoria de Recursos Humanos, que liderou todo o Programa na COELBA (Damicos, 2008). Desde 1997, a COELBA vem realizando ações sociais que não estavam estruturadas em um programa e nem faziam parte das macro estratégias da empresa. Contudo, a partir de 2003, os projetos, que vinham sendo desenvolvidos pelos diversos departamentos, começaram a ser mapeados e organizados com base nos princípios e valores estabelecidos no Código de Ética, instrumento proposto pela Diretoria Executiva, e aprovado por unanimidade pelo Conselho de Administração, em junho de 2002 (COELBA, 2005). Já no ano de 2004, ano esse em que a COELBA iniciou o seu processo de implantação do programa de responsabilidade social, a companhia recebeu o direito de utilizar o Selo Balanço Social IBASE/Betinho. O Selo Balanço Social Ibase/Betinho demonstra que a empresa já deu o primeiro passo para tornar-se uma verdadeira empresa-cidadã, comprometida com a qualidade de vida dos funcionários, da comunidade e do meio ambiente; apresenta publicamente seus investimentos internos e externos através da divulgação anual do seu balanço social (IBASE, 2008). Demonstra-se nos itens seguintes os fatores que justificam a inserção da COELBA no movimento pela RSC, assim como a análise realizada nos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade da companhia. 6.2.2.1 Justificação para a inserção da COELBA no movimento pela RSC O objetivo deste item é analisar as justificações para a inserção da COELBA no movimento pela RSC, visto que os discursos de justificações são elementos necessários para a institucionalização das práticas sociais nas organizações. Para a realização desta análise, utilizaram-se informações extraídas dos documentos de acesso público, como os balanços sociais, relatórios anuais e de sustentabilidade e páginas da companhia na internet, bem como as entrevistas PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 173 realizadas e questionários aplicados aos gestores, que também serviram de base para a análise das ações de responsabilidade social que a empresa está realizando. As mensagens do presidente da COELBA apresentadas anualmente nos balanços sociais, relatórios de sustentabilidade e anuais, são os meios utilizados para a análise das justificações da companhia no movimento pela RSC. As referidas mensagens evidenciam o processo de transformação de ações sociais pontuais em um desenvolvimento sustentável e o comprometimento desta empresa em demonstrar essas ações a todos os seus stakeholders. No Balanço Social da COELBA do ano de 2004, a mensagem divulgada pelo diretor presidente da companhia Moisés Afonso Sales Filho, torna claro a preocupação da empresa em evidenciar de forma transparente suas ações sociais perante seus stakeholders: O documento é a síntese de um processo iniciado com o diagnóstico da gestão da organização, seguido pelas fases de planejamento, implementação e avaliação das ações. [...] Outro objetivo da publicação é apresentar o modelo gerencial da Coelba para responsabilidade social, atendendo à amplitude e à diversidade de públicos com os quais a empresa se relaciona. O programa de RSE agrega valor ao negócio, permeia o sistema de gestão e está inserido na sua estratégia empresarial, sendo de relevante importância para balizar o diálogo com os diferentes públicos (COELBA, 2004). Para a COELBA, o programa de responsabilidade social vem se consolidando como uma filosofia, uma crença e uma política integradas à estratégia de negócios da empresa e ao seu sistema de gestão (COELBA, 2004). Dentro do planejamento estratégico da empresa, na COELBA a responsabilidade social é justificada no objetivo da companhia de “Ser uma empresa cidadã”, que compõe um dos itens das macro estratégias propostas segundo a metodologia do Balance Scorecard para definição dos planos de ação do período. Para garantir a adesão dos diversos departamentos da empresa a este objetivo, uma das iniciativas mais importantes foi a criação de 7 grupos de trabalho formados por colaboradores oriundos de várias áreas da empresa para definir objetivos e PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 174 metas que garantam um bom desempenho para de cada um dos 7 tópicos dos Indicadores Ethos. A COELBA, no ano de 2005 propagou os seus passos em direção ao desenvolvimento sustentável quando lançou o seu Programa de Responsabilidade Social Energia para Crescer, com ações voltadas para a educação, meio ambiente e cultura, que tem o objetivo de beneficiar colaboradores, fornecedores, clientes e a sociedade. A COELBA, em 2006, corrobora a sua justificação pela continuidade no movimento pela RSC e inserção no desenvolvimento sustentável quando o DiretorPresidente Moisés Afonso Sales Filho declara: A gestão da Coelba está fincada nos três pilares do desenvolvimento sustentável: o econômico, o ambiental e o social. Entendemos que o sucesso do nosso negócio depende diretamente da preservação dos recursos ambientais e culturais, do respeito à diversidade e da redução das desigualdades sociais. Ou seja, a Coelba não pode crescer sem que a sociedade em que está inserida esteja apta a evoluir também (COELBA, 2006). Os Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade divulgados pela COELBA são importantes fontes de análises sobre a justificação para a inserção das distribuidoras de energia elétrica no movimento pela RSC. 6.2.2.2 Análise dos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade da COELBA Para a elaboração dos seus Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade, a COELBA começou a seguir as Diretrizes para o Relatório de Sustentabilidade da Global Reporting Initiative (GRI) a partir de 2006. No entanto, desde o início do processo de institucionalização da responsabilidade social, a companhia os elaborou com base no Guia de Elaboração do Balanço Social do PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 175 Instituto Ethos e nos Indicadores Ethos de Responsabilidade Empresarial, sobretudo Indicadores Ethos-Abradee, assim como IBASE e Pacto Global. A COELBA publicou o seu primeiro Balanço Social no ano de 2001, contudo neste estudo, a análise será realizada a partir do ano de 2004, ano este em que tanto a COELBA como a COELCE publicaram seus balanços sociais no modelo e critérios de divulgação sugeridos pelo IBASE e receberam o direito de utilizar o Selo Balanço Social IBASE/Betinho. Em 2004, publicando Balanços Sociais há 3 (três) anos, a COELBA afirma que a responsabilidade social na empresa é mais do que um programa. Ela está inserida na gestão da empresa e tem como base um conjunto de valores que são constatados em sua Missão, Visão, Sistema de Liderança, Políticas de Gestão e, principalmente, no seu Código de Ética (COELBA, 2004). O amadurecimento da gestão de responsabilidade social na COELBA vem sendo constatado ano a ano. Os resultados das ações propostas pela companhia são acompanhados mensalmente, e os projetos de responsabilidade social desenvolvidos são monitorados não somente por indicadores internos, mas também por meio de pesquisas de imagem junto às comunidades em que atua e a sociedade em geral. Tudo isso pode ser demonstrado nos relatórios da companhia, os quais evidenciam o compromisso da COELBA com os seus públicos interno e externo e com o meio ambiente, conforme apresentado nos itens seguintes. I) Público interno Para a COELBA, os seus colaboradores são o seu maior patrimônio. Desde 2004, em seu balanço social publicado, a companhia ressalta o seu compromisso com o público interno. A contratação de pessoas é feita por meio de seleção interna ou pelo Programa de Trainee e a contratação externa é realizada através de empresas especializadas em seleção e contratação de pessoas, existindo um Programa de Acompanhamento do Colaborador Recém-admitido, que tem como objetivo observar e apoiar o desempenho destes profissionais. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 176 A companhia vem ainda, durante esses anos, investindo em capacitação e desenvolvimento profissional (gráfico 14), em uma política de valorização das pessoas, com uma gestão participativa, de acordo com os padrões da Organização Internacional do Trabalho (COELBA, 2004-2006). Investim entos em Capacitação e De senvolvim ento Profis sional R$ Mil COELBA 2004-2007 2.419 2.598 2.445 2004 2005 2006 2007 736 Gráfico 14 – Investimentos da COELBA em Capacitação e Desenvolvimento Profissional no período de 2004 a 2007 em R$ Mil. Fonte: COELBA (2008). A COELBA também investe na educação dos seus colaboradores, conforme evidenciado no gráfico 15. Investim entos em Educação R$ Mil COELBA 2004-2007 775 2004 250 273 326 2005 2006 2007 Gráfico 15 – Investimentos da COELBA em Educação no período de 2004 a 2007 em R$ Mil. Fonte: COELBA (2008). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 177 A COELBA ressalta em seu balanço social de 2006 que oferece um conjunto de benefícios aos seus colaboradores e investe em uma política de saúde e segurança no trabalho. Possui ainda um programa para menores aprendizes chamado Programa Jovem Cidadão, que busca promover o desenvolvimento pessoal e profissional do menor socialmente carente (COELBA, 2006). Investim entos em Program as de Benefícios R$ Mil COELBA 2004-2007 58.937 52.234 42.813 35.066 2004 2005 2006 2007 Gráfico 16 – Investimentos da COELBA em Programas de Benefícios no período de 2004 a 2007 em R$ Mil. Fonte: COELBA (2008). O valor investido pela COELCE em Segurança e Saúde no Trabalho, no período de 2004 a 2007 é evidenciado no gráfico 17. Investim entos em Se gurança e Saúde no Trabalho R$ Mil COELBA 2004-2007 1.770 1.053 850 1.255 2004 2005 2006 2007 Gráfico 17 – Investimentos da COELBA em Segurança e Saúde no Trabalho no período de 2004 a 2007 em R$ Mil. Fonte: COELBA (2008). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 178 Para a COELBA, a qualidade de vida de seus colaboradores, garantindo a integridade física e psicológica e a saúde dos colaboradores e parceiros é um dos princípios estabelecidos na sua política de saúde e segurança. II) Público externo A COELBA, em seu compromisso com a sociedade em geral, adota uma política de relacionamento com a comunidade, bem como mecanismos de identificação de necessidades e ações de segurança para essa comunidade. (COELBA 2004-2006). Para assegurar o seu compromisso com as futuras gerações, a companhia investe em projetos voltados para a educação, cultura e em projetos ligados a energia elétrica, como o Programa Luz para Todos, e os projetos de Eficiência Energética (EE) e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Em 2007, foram investidos pela COELBA R$ 1.929.090 Mil nesses projetos. O envolvimento da Coelba com a ação social antecede todos os seus projetos de responsabilidade social. A empresa elegeu como parceiras algumas instituições que prestam relevantes trabalhos nas áreas de educação e saúde junto a crianças, jovens, adultos e idosos de baixa renda ou em situação de risco (COELBA, 2006, p. 200). No serviço de fornecimento de energia pela COELBA, a satisfação do cliente é estabelecida como uma das macro estratégias de sua gestão, reconhecendo os clientes e consumidores não apenas como objetivo fim das suas atividades, mas também como prioridade em todos os seus processos. Para a Coelba, o respeito ao cliente está além do cumprimento de obrigações, deveres, normas, leis e responsabilidades estabelecidas pelas agências reguladoras do setor elétrico. A companhia reconhece que o respeito ao cliente, pautado em uma relação estreita de confiança recíproca, é uma condição essencial para o seu funcionamento pleno e transparente. A satisfação dos clientes passa, em primeiro lugar, pelo reconhecimento e preservação dos seus direitos (COELBA, 2006, p. 137). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 179 III) Meio Ambiente Como a atividade de distribuição de energia é uma atividade que interfere no meio ambiente, a COELBA mostra-se preocupada com as questões ambientais e adota medidas para a preservação do meio ambiente no exercício de sua atividade. A COELBA consolidou, no ano de 2006, a sua Política de Meio Ambiente junto aos colaboradores, parceiros, instituições públicas e privadas, órgãos de fiscalização ambiental e à população em geral. A COELBA investe em diversos projetos, e as suas implantações e realização de atividades produtivas encontram-se alinhadas à conservação e uso racional dos recursos naturais. Os investimentos em meio ambiente totalizaram R$ 70.542 mil em 2007, o que equivale ao percentual de 6,42% sobre o Resultado Operacional da companhia, conforme evidenciado no gráfico 18. Nestes valores encontram-se também os investimentos realizados em Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e em Projetos de Eficiência Energética (PEE). Investimentos em Meio Ambiente R$ Mil COELBA 2004-2007 70.542 2004 2005 43.912 2006 2007 22.708 9.292 Gráfico 18 – Investimentos da COELBA em Meio Ambiente no período de 2004 a 2007 em R$ Mil. Fonte: COELBA (2008). A COELBA vem adotando práticas de Produção Mais Limpa, Ecoeficiência e Fator X Ambiental, modificando, gradualmente, uma cultura empresarial enraizada durante tantas décadas (COELBA, 2006). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 180 Comprometida em preservar o meio ambiente, respeitar a legislação ambiental e minimizar os impactos ambientais causados pelo desempenho de suas atividades, a Coelba tem sua conduta alicerçada nos seguintes compromissos: Cumprir a legislação, as normas e os regulamentos ambientais; Melhorar continuamente o desempenho da gestão ambiental; Utilizar métodos de trabalho e materiais que previnam, reduzam ou controlem a poluição; Assegurar que os fornecedores de serviços e produtos adotem procedimentos ambientais compatíveis com os praticados pela empresa; Incentivar projetos de pesquisa e inovações tecnológicas que resultem no uso eficiente dos recursos naturais; Incentivar a comunicação com as partes interessadas, internas e externas, sobre as questões ambientais (COELBA, 2006, p. 210-212). Baseado nos questionários aplicados e entrevistas realizadas com os gestores da COELBA, evidencia-se no item seguinte, o processo de institucionalização da responsabilidade social na companhia, sob a ótica de Tolbert e Zucker. 6.2.2.3 Processo de institucionalização da RSC na COELBA sob a ótica de Tolbert e Zucker A investigação das formas de institucionalização da RSC na COELBA, sob a ótica de Tolbert e Zucker, foi realizada a partir da aplicação de questionários a 14 (quatorze) gestores da companhia, conforme explicitado na metodologia do estudo. Apresenta-se a seguir a percepção destes acerca do processo e o grau de institucionalização das ações de responsabilidade social corporativa, bem como os impactos identificados neste processo. HABITUALIZAÇÃO Nesta fase, o essencial é identificar os fatores que motivaram a COELBA a engajar-se no processo de institucionalização da responsabilidade social. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 181 Ø FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O ENGAJAMENTO DA EMPRESA NA RESPONSABILIDADE SOCIAL, EM ORDEM DE RELEVÂNCIA Com a média de classificação por relevância de 2,79, dentre os 14 (quatorze) gestores respondentes, o fator econômico é considerado o mais relevante para o engajamento da companhia na responsabilidade social. Em seguida o fator jurídico, com a média de 1,86, demonstrando que a privatização do setor e a criação da agência reguladora (ANEEL) são causas de média relevância para o engajamento da COELBA na RSC (Gráfico 19). Fatores de engajamento da Responsabilidade Social Corporativa Média de classificação por relevância COELBA Fatores Média por relevância 1,36 2,79 1,86 tecnológicos econômicos jurídicos Gráfico 19 - Fatores que contribuíram para o engajamento da COELBA na RSC, por ordem de relevância. Salvador-BA, jul./ago., 2008. Por fim, com a média de 1,36, os fatores tecnológicos, tais como reorientação técnica ou novas tecnologias, foram considerados os fatores menos relevantes, conforme evidenciado no gráfico 19. Ø FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A SISTEMATIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL NA EMPRESA, POR ORDEM DE RELEVÂNCIA A sistematização das práticas de RSC na COELBA deu-se por diversos fatores. O gráfico 20 evidencia a média de classificação por relevância dos fatores que contribuíram para a sistematização das práticas de RSC na companhia, PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 182 verificando-se que, na percepção dos gestores respondentes dos questionários e dos entrevistados, a principal causa que levou a esta sistematização foi a preocupação com a imagem corporativa, em especial junto aos clientes, que obteve média de 6,64. Fatores que contribuíram para a sistematização das práticas de RSC Média de classificação por relevância COELBA 6,64 5,50 4,50 4,00 3,14 2,64 Es tra tég ia De ma nd as leg ais Im ag em co rp or ati Pr va es sã od os sin dic Pr ato es s sã od ac on co rrê nc Pr ia es sã od os cli en Pr tes es sã od op úb l.in ter no 1,57 Gráfico 20 - Fatores que contribuíram para a sistematização das práticas de RSC na COELBA, por ordem de relevância. Salvador-BA, jul./ago., 2008. O segundo item mais relevante está relacionado à orientação estratégica da empresa, com foco nas oportunidades de mercado, que teve uma média de 5,50 entre os 14 (quatorze) respondentes. Considerou-se como terceiro fator, com média de 4,50, as demandas legais, inclusive por parte do governo. O fator considerado o quarto mais relevante para os respondentes, com média 4,00, foi a pressão dos clientes e consumidores em geral. A pressão do público interno na busca de melhores condições de trabalho foi o fator que obteve média de 3,14, no total de 14 respondentes, enquanto que a pressão de empresas do setor, bem como a concorrência obteve a média de 2,64. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 183 Finalmente, na opinião da média de 1,57 dos gestores, a pressão dos sindicatos foi o item considerado o menos relevante para a sistematização das práticas de responsabilidade social na empresa. OBJETIFICAÇÃO A etapa seguinte à habitualização das práticas sociais é fazer com que a nova metodologia atinja um grau de consenso entre os decisores-chave da companhia. Esta etapa, de acordo com Tolbert e Zucker, chama-se objetificação. Ø CONSENSO ENTRE OS DECISORES EM RELAÇÃO ÀS QUESTÕES RELATIVAS À RESPONSABILIDADE SOCIAL Neste questionamento, visou-se avaliar o consenso acerca da relevância da RSC entre os decisores-chave da COELBA. Como se pode observar no gráfico 21, para 9 (nove) dos gestores respondentes há um forte consenso entre os decisores-chave quanto à relevância do tema, o que ocasionou a criação de um setor na estrutura organizacional para tratar dessas questões. Quanto à relevância da Responsabilidade Social, entre os decisores-chave COELBA Não há consenso 1 Há consenso 4 Há forte consenso 9 Gráfico 21 - Consenso entre os decisores-chave da COELBA em relação às questões relativas à responsabilidade social. Salvador-BA, jul./ago., 2008. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 184 Na percepção de 4 (quatro) respondentes há um consenso entre os decisores-chave quanto à relevância do tema, porém isso não levou a mudanças na estrutura organizacional. Observa-se ainda que para apenas 1 (um) respondente, não há um consenso entre os decisores-chave quanto a relevância do tema. Ø CONTROLE E MONITORAMENTO DAS AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL Em relação ao controle e monitoramento das ações de responsabilidade social de outras empresas do setor de energia elétrica, na percepção de 11 (onze) dos respondentes, a COELBA não só monitora sistematicamente como busca adotar as melhores práticas sociais identificadas nas empresas monitoradas. Quanto ao controle e monitoramento das ações de Responsabilidade Social COELBA 11 Monitora sistematicamente Monitora ocasionalmente Não monitora 1 2 Gráfico 22 - Controle e monitoramento das ações de RSC na COELBA. Salvador-BA, jul./ago., 2008. Observando o gráfico 22, constata-se que 1 (um) dos gestores percebe qua a COELBA monitora ocasionalmente as ações de responsabilidade social de outras empresas do setor, contudo busca apenas cumprir as demandas legais. Pelas respostas dos gestores questionados, verifica-se que 2 (dois) dos gestores acreditam que a COELBA não monitora as ações de responsabilidade social de outras empresas do setor, porém busca melhorar suas próprias práticas nesse campo. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 185 Ø AÇÕES DE DISSEMINAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL Para 9 (nove) dos 14 (quatorze) gestores respondentes do questionário aplicado na COELBA, as ações de responsabilidade social na companhia têm sido disseminadas e sistematizadas por um grupo de decisores, tendo havido, inclusive a colaboração de consultoria externa. Contudo, 4 (quatro) gestores verificam que há na empresa um grupo de decisores (líderes) empenhados na disseminação e sistematização das ações de responsabilidade social, mas sem a colaboração de consultoria externa (gráfico 23). A disseminação da Responsabilidade Social se dá por COELBA Iniciativas de pessoas isoladas Grupo de decisores (líderes) sem consultoria extena Grupo de decisores (líderes) com consultoria externa 1 4 9 Gráfico 23 - Ações de disseminação e sistematização da RSC na COELBA. Salvador-BA, jul./ago., 2008. Observa-se ainda no gráfico 23, que apenas 1 (um) dos respondentes acredita que as ações de responsabilidade social são Iniciativas de pessoas isoladas, que se empenham na disseminação e sistematização das práticas sociais. SEDIMENTAÇÃO O processo de institucionalização pode ser considerado total quando este é sedimentado. Um aspecto importante pode ser verificado nas mudanças PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 186 significantes ocorridas na companhia com a adoção das práticas de responsabilidade social. Ø MUDANÇAS OCORRIDAS NOS ÚLTIMOS 5 (CINCO ANOS) COM A ADOÇÃO DAS PRÁTICAS DE RSC Com a adoção das práticas de RSC na COELBA, 6 (seis) dos 14 (quatorze) gestores observaram que ao longo dos últimos cinco anos as mudanças ocorridas na empresa são de forte abrangência, com grandes impactos para o público interno e externo, conforme evidenciado no gráfico 24. Dos 14 (quatorze) gestores respondentes, 4 (quatro) opinaram que a adoção das práticas de RSC são de média abrangência com impacto no público externo, e 3 (três) percebem que as ações impactam apenas no público interno. Por fim, apenas 1 (um) dos gestores opinou que essas ações são de pequena abrangência, sem significados concretos para o público interno. Com a adoção das práticas de Responsabilidade Social ocorreram mudanças nos últimos cinco anos COELBA De pequena abrangência sem significadopara o públ.int. 1 De pequena abrangência sem significadopara o públ.ext. 0 De média abrangência com impactonopúbl.int. 3 De forte abrangência com impactono públ.int. e ext. 6 De média abrangência com impactono públ.ext. 4 Gráfico 24 - Mudanças ocorridas nos últimos 5 (cinco) anos na COELBA com a adoção das práticas de RSC. Salvador-BA, jul./ago., 2008. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 187 Ø MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE QUESTÕES RELATIVAS À RSC Neste item, 10 (dez) dos 14 (quatorze) gestores respondentes entendem que a COELBA tem monitorado sistematicamente os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando os resultados para os seus diversos públicos. Na opinião de 2 (dois) dos gestores, a companhia tem monitorado sistematicamente os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando sua adequação às demandas legais. Nas questões relativas à Responsabilidade Social COELBA 10 Monitora sistematicamente e avalia os resultados para os stakeholders 2 Monitora sistematicamente e avalia a adequação às demandas legais Monitora ocasionalmente e avalia os resultados para os stakeholders Monitora ocasionalmente e avalia a adequação às demandas legais 1 1 Gráfico 25 - Monitoramento e avaliação de questões relativas à RSC na COELBA. SalvadorBA, jul./ago., 2008. Assim, 1 (um) gestor considera que a COELBA tem monitorado ocasionalmente os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando os resultados para os diversos públicos. A mesma quantidade, 1 (um) dos 14 (quatorze) respondentes, opinou que a companhia tem ocasionalmente monitorado os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando sua adequação às demandas legais (Gráfico 25). Ø POLÍTICAS E AÇÕES DE RSC Em relação às políticas e ações de responsabilidade social, por meio do gráfico 26, constata-se que 10 (dez) gestores questionados compreendem que não PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 188 há qualquer resistência na empresa a estas políticas e ações, pois o discurso e prática estão alinhados. Verificou-se ainda, que na percepção de 3 (três) dos respondentes, na COELBA tem havido uma certa resistência às políticas e ações de responsabilidade social, pois o discurso e a prática não estão alinhados. Para 1 (um) gestor, respondente, a opinião é de que tem havido uma certa resistência às políticas e ações de responsabilidade social, apesar do discurso e a prática estarem alinhados. Quanto às políticas e ações de Responsabilidade Social COELBA Tem havido certa resistência pois, discurso e prática não estão alinhados Tem havido certa resistência apesar do discurso e prática estarem alinhados 3 0 Não há qualquer resistência pois, discurso e prática estão alinhados Não há qualquer resistência apesar do discurso e prática não estarem alinhados 10 1 Gráfico 26 - Políticas e ações de RSC da COELBA. Salvador-BA, jul./ago., 2008. Ø RESULTADOS PERCEBIDOS QUANTO AOS OBJETIVOS DA RSC Por meio desta questão pôde-se demonstrar o quanto os gestores da COELBA têm percebido que as ações de RSC praticadas pela companhia estão melhorando a imagem institucional da organização. O gráfico 27 evidencia, por média de classificação do alcance dos objetivos, que a média de 2,43 dos respondentes tem essa opinião. Com a média de 2,36 os gestores percebem que as ações praticadas pela organização têm melhorado a relação com a comunidade e a média de 2,21 representa o resultado PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 189 dos que acreditam que estas ações melhoraram as condições de vida da comunidade local. Dos 14 gestores respondentes, a média de 2,14 constatou que a adoção da responsabilidade social pela companhia contribuiu para os objetivos estratégicos da organização. Para a média de 1,79 dos respondentes, as ações de RSC melhoraram o compromisso do empregado com a organização. Por último, a média de 1,07 representa os gestores que perceberam uma melhora na lucratividade da companhia com a implementação da política de RSC. Resultados percebidos com a adoção de Responsabilidade Social Média de classificação do alcance dos objetivos COELBA 2,21 Melhorou as condições de vida da comunidade local 2,36 Melhorou a relação com a comunidade 2,43 Melhorou a imagem institucional Melhorou o compromisso do empregado com a organização Contribuiu para os objetivos estratégicos da organização 1,79 2,14 1,07 Aumentou a lucratividade da organização Outro(s) 0,00 Gráfico 27 - Resultados percebidos quanto aos objetivos da RSC na COELBA. Salvador-BA, jul./ago., 2008. A pesquisa evidenciou que o movimento pelo engajamento da COELBA na RSC é aceito como positivo pelos gestores e colaboradores companhia. Sob a perspectiva institucional, é perceptível os impactos positivos na companhia, após a estruturação da sua política de RSC, tendo em vista que a adoção de práticas sociais, entre outras coisas, melhorou a sua imagem institucional. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 190 6.3 Provas que categorizam práticas socialmente responsáveis na COELCE e na COELBA Conforme demonstradas no referencial teórico, as provas são mediadores dos arranjos estruturais que podem ser definidas como dispositivos criados no processo de institucionalização com vista a categorizar as práticas sociais, em termos de justiça social, sendo aceita como um critério válido, justo e inquestionável. A partir da análise realizada nos documentos de acesso público, como os balanços sociais, relatórios de sustentabilidade e páginas das companhias na internet, as provas geradas pelas distribuidoras de energia elétrica COELCE e COELBA puderam ser demonstradas, com o objetivo de categorizar suas práticas sociais no processo de institucionalização da RSC. Dessa forma, as provas são evidenciadas analisando-se os principais públicos extraídos dos Balanços Sociais IBASE publicados pelas companhias: público interno, público externo e meio ambiente. 1) No que se refere a Valores e Transparências nos Negócios, as duas companhias publicaram seu Código de Ética, assim como aderiram ao Pacto Global das Nações Unidas; 2) As duas companhias preocupam-se com os seus colaboradores, desenvolvendo competências, com capacitação e desenvolvimento profissional. Além disso, contratam para o seu quadro de colaboradores menores aprendizes e portadores de deficiências. Têm uma política de benefícios estruturada e ainda o compromisso com a saúde e segurança; 3) O compromisso com os seus clientes e consumidores fica claro nas duas empresas, quando as companhias os informam detalhadamente sobre seus serviços, atualizando sempre que necessário o material de comunicação destinado a eles, de modo a tornar mais transparente o PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 191 relacionamento, e mais seguro o uso da energia elétrica e demais serviços; 4) Através de investimentos em projetos sociais e culturais, as duas companhias evidenciam os seus comprometimentos com a comunidade em que está inserida. 5) As políticas e critérios para o relacionamento com os Fornecedores constam no código de conduta das companhias; 6) Em relação ao Meio Ambiente, as companhias possuem uma Política Ambiental estruturada, com o objetivo de amenizar os impactos ambientais que as suas atividades provocam. Além disso, conforme demonstrado no Anexo C, pode-se verificar o reconhecimento das ações realizadas pelas empresas no período de 2004 a 2007, e das relações com os seus diversos públicos. A seguir, evidenciam-se as conclusões que se chegaram ao longo do estudo demonstrado neste capítulo, bem como as recomendações para pesquisas futuras. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 192 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O movimento pela responsabilidade social corporativa (RSC) surge como resposta às exigências da sociedade com que as empresas se relacionam, tendo em vista que a operacionalização de suas atividades trazem resultados para os seus acionistas e controladores, porém podem pouco beneficiar a comunidade e a sociedade em geral, ou até causá-las danos e prejuízos. Neste contexto, as ações socialmente responsáveis podem surgir após algum acontecimento que tenha trazido repercussões negativas para a empresa, como desastres ambientais, por exemplo. O desenvolvimento sustentável está cada vez mais atrelado ao planejamento estratégico das organizações, apontando para o equilíbrio entre performance corporativa, ética e compromisso social. Assim, fatores como educação, saúde, meio ambiente, segurança, cultura, esporte e lazer são responsáveis pela continuidade de um crescente ciclo de consumo e pelo desenvolvimento de toda a cadeia produtiva em torno da sociedade. Verifica-se que as organizações que investem em responsabilidade social, não visando somente a maximização dos lucros, são mais valorizadas e reconhecidas pela sociedade em geral. Com isso, as referidas ações transformamse numa poderosa ferramenta de vantagem competitiva para as empresas. As empresas do setor elétrico, por exercerem uma atividade que, além de ser fundamental ao desenvolvimento industrial e de estar presente diariamente no cotidiano dos clientes e consumidores, constituem um elemento socioeconômico importante no processo do desenvolvimento sustentável. Nesta visão, a adoção de políticas sociais e ambientais representam uma ferramenta de grande valia no processo de gestão das empresas. Na institucionalização da responsabilidade social corporativa, as ações são justificadas em termos do bem comum, corroborando-se via provas e arranjos estruturais e, ao mesmo tempo, atendendo a interesses inerentes ao setor. Dessa maneira, observa-se que na institucionalização da RSC das distribuidoras de energia PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 193 elétrica, organizações foram criadas, com a participação dos atores-chave, para lidar com o assunto, de forma isomórfica às empresas. Além disso, instituíram-se certificações na área social, selos, premiações, publicação de balanços; ou seja, todo um conjunto de regras e convenções, dispositivos para categorizar e classificar as organizações pelo seu comportamento socialmente responsável. Mimeticamente, as práticas sociais passam a ser copiadas pelos concorrentes e os estudiosos passam a divulgá-las no que elas têm de diferenciais. Dessa forma, o movimento torna-se institucionalizado, como uma prática aceita e legitimada. As práticas de responsabilidade social que se institucionalizam, são aquelas que gradualmente transformam crenças, valores e ações em regras de conduta social e que, ao mesmo tempo, funcionam, a medida em que se tornam úteis às relações de poder, em virtude da legitimação, que lhe confere uma probabilidade maior de existência e de perpetuação. Ao se transformarem em uma instituição, pode-se afirmar que tais práticas foram aprovadas pela sociedade que, nesse caso, legitimou a relação de dominação. As provas são os meios utilizados pela sociedade para esse controle. A presente pesquisa buscou compreender de que modo tem ocorrido a inserção das distribuidoras de energia elétrica do Ceará e da Bahia no movimento da RSC, utilizando a teoria institucional como suporte teórico. Em especial, de que modo às ações de responsabilidade social intensificam-se ao longo do tempo, tornando-se estruturadas e sistematizadas, de modo a serem incorporadas à estratégia organizacional. Trata-se de um processo que vem acontecendo desde 2004, quando as distribuidoras de energia elétrica COELCE e COELBA contrataram consultorias para a implementação dos seus programas de RSC. Para descrever o processo de institucionalização da RSC nas duas distribuidoras de energia elétrica e responder à questão central, utilizou-se nesta pesquisa as fontes coletadas e analisadas no capítulo que trata do estudo multicaso, a partir das percepções dos gestores na COELCE e COELBA. Perante o objetivo desta pesquisa, que foi investigar o processo de institucionalização da responsabilidade social em distribuidoras de energia elétrica, a PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 194 partir de estudo realizado nas empresas do Ceará e da Bahia, elaborou-se um roteiro estruturado de entrevista, que se caracterizou como um direcionador da fase de levantamento de dados, e de um questionário composto por 09 (nove) perguntas fechadas de múltipla escolha divididas pelos temas referentes aos objetivos específicos, bem como aos estágios de institucionalização definidos por Tolbert e Zucker. Para a análise das práticas de RSC institucionalizadas pelas distribuidoras de energia elétrica na região Nordeste, que receberam o selo Balanço Social – IBASE, no período compreendido entre 2004 e 2007 também foram considerados os indicadores extraídos do demonstrativo Balanço Social – modelo IBASE. Muito embora este trabalho tenha como objetivo central o estudo da institucionalização da RSC em distribuidoras de energia elétrica, vale ressaltar a importância da atuação socialmente responsável pelas organizações em geral. Observa-se que, atualmente, as demais empresas estão sendo avaliadas pelo mercado, a partir de seu desempenho ético e do relacionamento que elas têm com a comunidade e com os demais stakeholders. Selecionar empresas com práticas socialmente responsáveis e sustentabilidade no longo prazo, é o caminho natural para os investidores com essa política de gestão. Os investidores adquirem ações de empresas listadas em índices de sustentabilidade porque acreditam que essas companhias têm mais chances de permanecerem produtivas pelas próximas décadas e que sofrerão menos passivos judiciais, com ações ambientais, trabalhista e sociais. Contudo, há aquele investidor que, por comprometimento pessoal, decide privilegiar as empresas que atuam de forma sustentável, com respeito a valores éticos, ambientais e sociais. Este investidor está disposto a pagar um valor maior pela ação de empresas que privilegiam os três pilares de sustentabilidade: econômico, ambiental e social. O primeiro objetivo específico desta pesquisa tratou de identificar os impactos das privatizações, viabilizadas pela Lei nº 8.031/90, e da criação da PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 195 Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), no processo de institucionalização da responsabilidade social no campo das distribuidoras de energia elétrica. Assim, apresentou-se os resultados para este objetivo específico, valendo-se de uma das três etapas do processo de institucionalização, na visão de Tolbert e Zucker (1999): a Habitualização, também chamada de pré- institucionalização, tendo em vista que um dos fatores que contribuiu para o engajamento da empresa na responsabilidade social foi o fator de ordem jurídica, tais como a desregulamentação do setor (privatização) e a criação da agência reguladora ANEEL. Diante da análise dos dados coletados, verificou-se que a maioria dos respondentes na COELCE acredita que a desregulamentação do setor, bem como a criação da agência reguladora (ANEEL) tenha sido o fator que menos contribuiu para o engajamento da empresa na Responsabilidade Social. Na percepção dos respondentes da COELBA, este fator teve uma contribuição média para o engajamento da companhia na Responsabilidade Social. O segundo objetivo buscou analisar a atuação de atores-chave e as ações efetivadas (provas), no processo de institucionalização da responsabilidade social no campo das distribuidoras de energia elétrica. As companhias energéticas, em virtude de dispositivo de lei da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), foram impulsionadas a atuar de forma mais homogênea, inclusive no âmbito da responsabilidade social e ambiental. Constatase isso, no grupo de evidenciação das empresas, como Relatórios de Sustentabilidade e Balanço Social – modelo IBASE. Outro fator que tem impulsionado a responsabilidade social e ambiental nas empresas desse setor é a atuação da Associação Brasileira de Distribuição de Energia Elétrica (ABRADEE), sendo essas duas (ANEEL e ABRADEE) consideradas atores-chave no processo de institucionalização da RSC em distribuidoras de energia elétrica. Além disso, a atuação de atores como o Instituto Ethos e o IBASE, bem como a efetivação de ações como a implantação do Balanço Social exerceram papel determinante no monitoramento do campo e na disseminação das práticas a serem PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 196 implementadas como provas no processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa. Para a concretização deste objetivo específico, utilizou-se ainda da segunda etapa do processo de institucionalização proposta por Tolbert e Zucker (1999): a Objetificação, chamada também de semi-institucionalização. Por meio dos dados coletados, constatou-se que na COELCE, 100% dos gestores respondentes percebem que há um forte consenso entre os decisores-chave da companhia quanto à relevância do tema responsabilidade social, o que ocasionou a criação de um setor na estrutura organizacional para tratar dessas questões. Para a COELBA, a maioria dos gestores respondentes percebe que há um forte consenso entre os decisores-chave quanto à relevância do tema. Para isso, criou-se um setor na estrutura organizacional da companhia para tratar das questões relacionadas a responsabilidade social. O terceiro objetivo específico procurou analisar a disseminação dos arranjos estruturais relacionados ao processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa no campo. Percebe-se que as ações de responsabilidade social na COELCE têm sido disseminadas e sistematizadas por um grupo de decisores, tendo havido, inclusive a colaboração de consultoria externa. A partir dos dados analisados, constata-se que 64,3% dos gestores respondentes da COELBA entendem que as ações de responsabilidade social na companhia têm sido disseminadas e sistematizadas por um grupo de decisores, contando inclusive com a participação de consultoria externa. Para o quarto objetivo específico, buscou-se analisar a evolução do processo e o grau atual de institucionalização da responsabilidade social nas distribuidoras COELCE e COELBA. Assim, esta evolução foi avaliada por meio de observação das ações empreendidas em termos do bem comum e dos discursos de justificação, estes feitos principalmente pelos presidentes das companhias em estudo. Além disso, por meio das provas e arranjos estruturais, as ações puderam PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 197 ser justificadas e demonstradas que atendem, principalmente, a interesses inerentes ao setor. Constata-se que as companhias COELCE e COELBA encontram-se no estágio de sedimentação da RSC, dentre as etapas do processo de institucionalização propostas por Tolbert e Zucker (1999), tendo em vista que apresentam como fatores institucionais: a) impactos positivos, os gestores das empresas percebem que as mudanças ocorridas com a adoção das práticas de Responsabilidade Social nas empresas são de grande abrangência, com fortes impactos tanto para o público interno como para o externo; b) resistência de grupos opositores e; c) defesa de grupos de interesses, haja vista que existem muitos grupos favoráveis ao processo. Na avaliação do processo de institucionalização da responsabilidade social corporativa das distribuidoras de energia elétrica COELCE e COELBA, observou-se que desde o ano de 2004, com a então implementação dos programas de responsabilidade social, as companhias vêm evoluindo o processo e o grau de institucionalização da RSC e, até o ano de 2006, a sustentabilidade já constituía elemento fundamental nas estratégias, diretrizes e focos de atuações das organizações, revelando-se em crescimento, responsabilidade e fortalecimento das relações com as partes interessadas. A partir dos dados coletados, verificou-se que as companhias estão investindo recursos principalmente no desenvolvimento profissional dos seus colaboradores e nas comunidades onde estão inseridas, a fim de solucionar problemas como a exclusão social e a degradação ambiental. Verificou-se também uma melhoria dos índices de Perdas e Cobrabilidade das companhias, a partir da institucionalização das práticas de responsabilidade social, tendo em vista a realização de uma Política bem-sucedida de combate às perdas e inadimplência, integrando investimentos e projetos sociais. As companhias reforçam os seus compromissos com a transparência e respeito no diálogo estabelecido com todos os seus públicos estratégicos, apresentando os impactos econômicos, sociais e ambientais de suas atividades de PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 198 acordo com a importância desses temas para a empresa e para todos aqueles que fazem parte de seu negócio. Dessa maneira, atingiu-se o objetivo geral desta pesquisa, que buscou investigar o processo de institucionalização da responsabilidade social em distribuidoras de energia elétrica, a partir de estudo realizado nas empresas do Ceará e da Bahia. Para esta concretização foi de grande importância a compreensão de como as práticas sociais são eleitas, construídas e disseminadas dentro do movimento pela RSC. Segundo a Teoria Institucional, as organizações competem não somente por recursos e clientes, mas por força política e legitimidade institucional, levando-as a um processo de isomorfismo, que é uma das respostas para a propagação do conceito e disseminação do fenômeno da RSC. Em virtude dos resultados demonstrados e das conclusões assinaladas, pode-se afirmar que a temática do processo de institucionalização da responsabilidade social em distribuidoras de energia elétrica não se esgota na presente pesquisa e necessita que sejam realizadas mais pesquisas científicas e acadêmicas em todo o Brasil, haja vista que há relativamente poucos estudos enfocando a RSC sob a ótica da Teoria Institucional. Para as pesquisas futuras sobre o tema em questão, sugere-se estender a amostra questionada, entrevistada e analisada, abrangendo assim, além das distribuidoras de energia elétrica, os demais atores atuantes no processo de institucionalização das práticas sociais, como a ANEEL e ABRADEE, por exemplo. Pode-se citar como outra possibilidade de pesquisa, a busca de subsídios em estruturas organizacionais do setor elétrico de outros países, permitindo assim analisar os procedimentos adotados no Brasil para a institucionalização da RSC neste setor, sob uma perspectiva diferenciada. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 199 REFERÊNCIAS AAKER, David A.; KUMAR, V.; DAY, George S.. Pesquisa em marketing. Tradução Reynaldo Cavalheiro Marcondes. São Paulo: Atlas, 2001. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE VEÍCULO ELÉTRICO – ABVE. Disponível em: <http://www.abve.org.br/destaques/destaque35.shtml>. Acesso em: 12 abr. 2008. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. 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Quais novas políticas de ação foram adotadas em função desse novo contexto de atuação da empresa? E quais novos procedimentos foram adotados? Houve, então, um crescimento do engajamento da empresa na RSC? A adoção dessas novas políticas e procedimentos gerou mudanças na estrutura organizacional da empresa, no sentido de estruturação de órgãos ou setores para lidar com essas questões? Nesse processo de ajuste, outras empresas do setor desempenharam um papel relevante? (campo organizacional) Quais? Como? Objetificação 2) Na sua visão, em que medida há entre os decisores-chave da empresa um consenso quanto à relevância das ações de RS? Se há esse consenso, ele tem se refletido na criação de um órgão/setor para tratar da RSC? Caso tenha havido mudanças na estrutura, em função da RSC, de que modo esses esforços contribuem para o aumento da competitividade da empresa? A empresa monitora outras empresas do setor quanto à forma como lidam com essas questões de RS? Faz benchmarking? Como esse monitoramento é feito? O que tem sido constatado? Como as informações advindas desse monitoramento têm sido utilizadas? Havia a constatação de que alguns dos problemas da empresa advinham da necessidade de sistematizar as ações de RSC? No processo de disseminação da RSC na empresa, há/houve um grupo de pessoas (líderes) interessados nesse tema? Essas idéias foram trabalhadas apenas pelos gestores da própria empresa ou houve consultoria externa? Como ocorreu o processo? Sedimentação 3) De que modo a empresa tem monitorado os impactos de suas ações de responsabilidade social? PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 212 Caso haja um órgão ou setor para tratar dessas questões, como a sua eficiência tem sido avaliada? Quais têm sido os impactos positivos/negativos? Caso não haja um órgão ou setor de RS, quais pessoas (cargos/funções) têm atuado mais ativamente no sentido de instituir um órgão ou setor de responsabilidade social? Tem havido alguma espécie de resistência dentro da empresa às políticas e ações de responsabilidade social? Como a empresa tem lidado com essa questão? PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 213 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE - FEAAC MESTRADO PROFISSIONAL EM CONTROLADORIA - MPC APÊNDICE B Questionário Instruções: 1- Não coloque seu nome no formulário; e 2- Leia cada questão atentamente e siga as instruções fornecidas. Questionário N°______ I. Processo de Institucionalização das Ações de Responsabilidade Social Corporativa nas Distribuidoras de Energia Elétrica HABITUALIZAÇÃO 1) Dentre os fatores abaixo, indique em ordem de relevância, sendo 3 (três) o mais relevante e 1 (um) o menos relevante, os fatores que contribuíram para o engajamento da empresa na Responsabilidade Social: ( ) Fatores de ordem tecnológica, tais como reorientação técnica ou novas tecnologias. ( ) Fatores de ordem econômica, tais como a pressão do mercado, de clientes/consumidores e de órgãos de defesa, etc. ( ) Fatores de ordem jurídica, tais como a desregulamentação do setor (privatização) e a criação da agencia reguladora (ANEEL). 2) Dentre os fatores abaixo, indique em ordem de relevância, sendo 7 (sete) o mais relevante e 1 (um) o menos relevante, os fatores que contribuíram para a sistematização das práticas de responsabilidade social na empresa: ( ) Demandas legais, inclusive por parte do Governo. ( ) Preocupação com a imagem corporativa, em especial junto aos clientes. ( ) Pressão dos sindicatos. ( ) Pressão de empresas do setor. ( ) Pressão dos clientes e consumidores em geral. ( ) Pressão do público interno, na busca de melhores condições de trabalho. ( ) Orientação estratégica da empresa, com foco nas oportunidades de mercado. ( ) Outro: _______________________________. OBJETIFICAÇÃO 3) Marque apenas uma resposta. Em relação às questões relativas à responsabilidade social, há na empresa: ( ) Um forte consenso entre os decisores-chave quanto à relevância do tema, o que ocasionou a criação de um órgão/setor na estrutura organizacional para tratar dessas questões. ( ) Há um consenso entre os decisores-chave quanto à relevância do tema, porém isso não levou a mudanças na estrutura organizacional. ( ) Não há um consenso entre os decisores-chave quanto a relevância do tema. 4) Marque apenas uma resposta. Em relação às questões relativas à responsabilidade social, a empresa: ( ) Sistematicamente monitora as ações de responsabilidade social de outras empresas do setor e busca adotar as melhores práticas identificadas. ( ) Ocasionalmente monitora as ações de responsabilidade social de outras empresas do setor, mas apenas busca cumprir as demandas legais. ( ) Não monitora as ações de responsabilidade social de outras empresas do setor, mas busca melhorar suas próprias práticas nesse campo. 5) Marque apenas uma resposta. Em relação às questões relativas à responsabilidade social, há na empresa: ( ) Um grupo de decisores (líderes) empenhados na disseminação e sistematização das ações de responsabilidade social, tendo havido, inclusive a colaboração de consultoria externa. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 214 ( ( ) Um grupo de decisores (líderes) empenhados na disseminação e sistematização das ações de responsabilidade social, sem a colaboração de consultoria externa. ) Iniciativas de pessoas isoladas que se empenham na disseminação e sistematização das ações de responsabilidade social. SEDIMENTAÇÃO 6) Marque apenas uma resposta. Ao longo dos últimos cinco anos, na sua percepção, as mudanças ocorridas com a adoção das práticas de Responsabilidade Social na empresa são: ( ) de grande abrangência, com fortes impactos para o público interno e externo. ( ) de média abrangência, com impactos mais marcantes para o público externo. ( ) de média abrangência, com impactos mais marcantes para o público interno. ( ) de pequena abrangência, sem significados concretos para o público externo. ( ) de pequena abrangência, sem significados concretos para o público interno. 7) Marque apenas uma resposta. Em relação às questões relativas à Responsabilidade Social, a empresa: ( ) Tem monitorado sistematicamente os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando os resultados para os diversos públicos. ( ) Tem monitorado sistematicamente os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando sua adequação às demandas legais. ( ) Tem ocasionalmente monitorado os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando os resultados para os diversos públicos. ( ) Tem ocasionalmente monitorado os impactos de suas ações de responsabilidade social, avaliando sua adequação às demandas legais. 8) Marque apenas uma resposta. Na empresa, quanto à questão da responsabilidade social, verifica-se que: ( ) Tem havido uma certa resistência às políticas e ações de responsabilidade social, pois o discurso e a prática não estão alinhados. ( ) Tem havido uma certa resistência às políticas e ações de responsabilidade social, apesar do discurso e a prática estarem alinhados. ( ) Não há qualquer resistência às políticas e ações de responsabilidade social, pois o discurso e prática estão alinhados. ( ) Não há qualquer resistência às políticas e ações de responsabilidade social, apesar do discurso e a prática não estarem alinhados. 9) Qual(is) o(s) resultado(s) percebido(s) pela sua organização nas ações de RSC? Identifique, dando uma nota de 0 a 3 se estes resultados alcançaram os objetivos almejados, sendo (3) alcançou permanente, (2) alcançou medianamente, (1) alcançou pouco e (0) não observou este resultado: melhorou as condições de vida da comunidade onde está inserida melhorou a relação da organização com a comunidade melhorou a imagem institucional da organização melhorou o compromisso do empregado com a organização contribuiu para os objetivos estratégicos da organização Aumentou a lucratividade da organização outro(s) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) II. Dados do Respondente Tempo de experiência: Na empresa:_________anos. Sexo: ( ) Masculino No cargo: ____________ anos. ( Maior nível de escolaridade completo: ( ) Feminino ) Ensino Médio ( ( ) Ensino superior ) Pós-graduação(especificar):__________________ Faixa etária: ( ) 18 a 24 anos ( ) 32 a 38 anos ( ) 46 a 52 anos (( ( ) 25 a 31 anos ( ) 39 a 45 anos ( ) 53 a 59 anos ) acima de 60 anos FIM. MUITO OBRIGADA POR SUA PARTICIPAÇÃO! PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 215 ANEXOS PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 216 ANEXO A Valores e Transparências AUTO-REGULAÇÃO DA CONDUTA Compromissos Éticos Enraizamento na Cultura Organizacional Governança Corporativa RELAÇÕES TRANSPARENTES COM A SOCIEDADE Relações com a Concorrência Diálogo com as Partes Interessadas (Stakeholders) Balanço Social Público Interno DIÁLOGO E PARTICIPAÇÃO Relações com Sindicatos Gestão Participativa RESPEITO AO INDIVÍDUO Compromisso com o Futuro das Crianças Compromisso com o Desenvolvimento Infantil Valorização da Diversidade Compromisso da Empresa com a Equidade e não Discriminação racial Compromisso da Empresa com a Promoção da Eqüidade de Gênero Relação com Trabalhadores Terceirizados TRABALHO DECENTE Política de Remuneração, Benefícios e Carreira Cuidados com Saúde, Segurança e Condições de Trabalho Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade Comportamento Frente a Demissões Preparação para Aposentadoria Meio Ambiente RESPONSABILIDADE FRENTE ÀS GERAÇÕES FUTURAS Comprometimento da Empresa com a Melhoria da Qualidade Ambiental Educação e Conscientização Ambiental GERENCIAMENTO DO IMPACTO AMBIENTAL Gerenciamento do Impacto no Meio Ambiente e do Ciclo de Vida de Produtos e Serviços Sustentabilidade da Economia Florestal Conservação de Energia e Minimização de Entradas e Saídas de Materiais Fornecedores SELEÇÃO, AVALIAÇÃO E PARCERIA COM FORNECEDORES Critérios de Seleção e Avaliação de Fornecedores Trabalho Infantil na Cadeia Produtiva Trabalho Forçado (ou Análogo ao Escravo) na Cadeia Produtiva Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores Consumidores e Clientes DIMENSÃO SOCIAL DO CONSUMO Política de Comunicação Comercial Excelência do Atendimento Conhecimento dos Danos Potenciais dos Produtos e Serviços PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 217 Comunidade RELAÇÕES COM A COMUNIDADE LOCAL Gerenciamento do Impacto da Empresa na sua Área de Concessão Relações com Organizações Locais AÇÃO SOCIAL Financiamento da Ação Social Envolvimento da Empresa com a Ação Social Governo e Sociedade TRANSPARÊNCIA POLÍTICA Contribuições para Campanhas Políticas Construção da Cidadania pelas Empresas Práticas Anticorrupção e Propina LIDERANÇA SOCIAL Liderança e Influência Social Participação em Projetos Sociais Governamentais Indicadores Setoriais Saúde e Segurança no Setor Elétrico Saúde e Segurança de Trabalhadores e Terceirizados Minimização de Riscos Relativos à Distribuição de Energia Elétrica Controle dos Impactos na Paisagem Urbana e em Áreas de Preservação Ambiental Manejo de Resíduos do Setor Elétrico Disposição e Tratamento de Resíduos Perigosos Presença de Bifenilas Policloradas (PCB) Descarte de Lâmpadas de Vapor de Mercúrio Questionário Ethos Abradee Fonte: ABRADEE (2008). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 218 ANEXO B PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 219 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 220 ANEXO C PREMIAÇÕES E RECONHECIMENTOS COELBA 2004 2005 2006 Top Social 2004 Prêmio Nacional de Finalista do Prêmio Balanço Conservação e Uso Racional Social 2006 de Energia 2005. Aberje/Apimec/Ethos/Fides/Ibase Prêmio Gestão Qualidade Prêmio Destaque de Marketing Prêmio Destaque no Marketing Bahia 2004 - Troféu Prata. 2005 e o XIX Top de Marketing 2006, com o Projeto ELOS 2005. Prêmio ABRADEE 2005 Associação Brasileira de – Melhor Distribuidora do País Marketing e Negócios - ABM&N. em gestão EconômicoFicanceira. No quesito Qualidade de Gestão, a Coelba ficou em 2º lugar. Prêmio Destaque no Marketing Prêmio Colaborador do Anefac/Fipecapi/Serasa - Troféu 2004, pelo case Fatura de Instituto de Engenheiros Transparência 2006. Energia em Braille, conferido Eletricistas e Eletrônicos pela Associação Brasileira de (IEEE). Marketing & Negócios (ABM&N). Finalista do Troféu Prêmio Destaque Guia Exame de Boa Programa Nacional de Fundação COGE 2004, com o Cidadania Corporativa. Conservação de Energia Elétrica case Jovem Cidadão. - Eletrobrás/Procel - Menção de Destaque do Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia na categoria Empresas do Setor Energético na modalidade Empresas de Distribuição de Grande Porte, pelo desenvolvimento de ações de conservação de energia elétrica. Prêmio Bahia Ambiental – 3º Prêmio II Top Social Federação das Indústrias do Colocado. promovida pela Associação Estado da Bahia - FIEB / dos dirigentes de Marketing e Associação Baiana para Gestão Vendas da Bahia (ADVB-BA). Competitiva – ABGC - Prêmio Gestão de Qualidade Bahia 2006 – Troféu Ouro. Prêmio IBEST, Top Cadê e o Prêmio Amigo da Escola Gazeta Mercantil - Prêmio Top Web pela ADVB-BA. Politécnica - o prêmio é o Balanço Anual 2006 – Melhor reconhecimento da parceria da Empresa de Energia Elétrica do Coelba com estas instituições. Brasil. Prêmio da Associação Baiana Instituto Brasileiro de Análises de Mercado Publicitário Sociais e Econômicas - Selo (ABMP). IBASE para Balanço Social. 10º Prêmio Nacional de Fundação Instituto Miguel Seguridade Social. Calmon-IMIC - Prêmio Desempenho 2006 – Reconhecimento de que é a maior empresa de concessão pública do Estado da Bahia. Prêmio Gestão Qualidade Revista Exame – Maiores e Bahia (PGQB ) Ciclo 2005 – Melhores - Melhor Empresa do promovido pela Associação Setor de Serviços – Baiana para Gestão Norte/Nordeste. Competitiva, entidade vinculada à Federação das PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 221 Indústrias do Estado da Bahia. Prêmio SESI Qualidade no Trabalho 2005 – Na categoria Grande Empresa da etapa estadual. Serviço Social da Indústria – Sesi - Prêmio Sesi Qualidade no Trabalho 2006, reconhecimento em relação às práticas de gestão de pessoas. Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional USAID/Brasil - Prêmio “Awards of Appreciation”, conferido a uma profissional da Coelba pelo reconhecimento ao apoio individual ao Programa de Energia da USAID. PREMIAÇÕES E RECONHECIMENTOS COELCE 2004 2005 2006 Prêmio Mário Henrique Prêmio Balanço Social 2005 - Prêmio Abradee – Eleita a Simonsen - Excelência em 1º lugar na categoria Nordeste melhor distribuidora de Balanço Social do 4º Prêmio Balanço Social energia elétrica do Nordeste e (promovido pela Aberje, sexta do Brasil. Apimec, Instituto Ethos, Fides e Ibase) em reconhecimento pela qualidade das informações prestadas em seu Balanço Social. 3º Prêmio Balanço Social - Prêmio PROCEL- Revista Você S/A e Exame promovido pela ABERJ, ELETROBRÁS - 1º lugar no Classificada entre as 150 APIMEC Instituto Ethos, nível regional e em 3º no melhores empresas para FIDES e IBASE. âmbito nacional. O prêmio trabalhar do Brasil. foi o reconhecimento dos projetos de eficiência, qualidade e combate ao desperdício de energia, realizados pela Empresa. Prêmio Delmir Gouveia - Certificado ABRACONEE - Prêmio Balanço Social 2006 primeiro lugar na categoria Premiação à contadora da (Bovespa, Apimec, Ethos, Maior Empresa do Ceará. COELCE como resultado da Aberje, Fides e Ibase) avaliação realizada sobre as Classificada entre as cinco demonstrações contábeis de finalistas na categoria serviços. 2004 das empresas de capital aberto do setor elétrico. As demonstrações contábeis da COELCE foram escolhidas como a terceira melhor do País. Selo Compre da Gente Prêmio pela Inclusão de Selo IBASE (Instituto Brasileiro reconhecimento do Jovens portadores de de Análises Sociais e comprometimento da Coelce deficiência e menores Econômicas) - Reconhecida pela com o desenvolvimeno da aprendizes - A COELCE foi qualidade das informações cadeia produtiva do Estado do agraciada com dois apresentadas no balanço social Ceará. certificados, pela Delegacia de 2005. Regional do Trabalho, pela inclusão de menores aprendizes e portadores de deficiência em seu quadro de colaboradores. SELO IBASE - Concedido pelo Revista Forbes – Platinum List Instituto Brasileiro de Análises Classificada em 9ª posição no Sociais e Econômicas em ranking geral das 200 Melhores PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 222 reconhecimento à qualidade das informações apresentadas no Balanço Social – Modelo Ibase. Selo Cultural 2005 Reconhecimento pelo fortalecimento da cultura no Estado do Ceará, na categoria empresa de grande porte, concedido pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Prêmio ABRADEE 2005 Reconhecimento como a segunda melhor distribuidora de energia da Região Nordeste. Empresas Brasileiras de Capital Aberto e em 5ª no ranking do setor elétrico. Revista Você S/A – Guia de Ações - Destacada como a 3ª empresa do Brasil que mais pagou dividendos no ano de 2006, relativos ao exercício de 2005. Revista Isto É Dinheiro Classificada em 12ª posição entre as ações mais rentáveis do Brasil e em 3ª no ranking do setor elétrico. Prêmio Delmiro Gouveia Premiada como a Maior Empresa do Estado do Ceará. Guia Exame de Boa Cidadania Corporativa - Reconhecida como Empresa Destaque da Região Nordeste. Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa – ISE Classificada entre as 28 empresas selecionadas para participar desse índice. Fonte: Elaborado pela autora (2008) PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 223 ANEXO D Companhia Energética do Ceará (COELCE) Demonstração do Balanço Social 2005-2004 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 224 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 225 ANEXO E Companhia Energética do Ceará (COELCE) Demonstração do Balanço Social 2007-2006 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 226 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 227 ANEXO F Companhia de Eletricidade da Bahia (COELBA) Demonstração do Balanço Social 2005-2004 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 228 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 229 ANEXO G PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com 230 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com