Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva A Cobertura das ações de Saúde Bucal no Recife no período de 2000 a 2005. Cláudia Maria Maciel Patriota Recife, 2006. Cláudia Maria Maciel Patriota A cobertura das ações de Saúde Bucal em Recife no período de 2000 a 2005. Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação latu sensu de Residência CPqAM/FIOCRUZ/MS, sob a orientação do Professor Domício Aurélio de Sá. Recife-PE Maio de 2006 Cláudia Maria Maciel Patriota A cobertura das ações de Saúde Bucal em Recife no período de 2000 a 2005. Monografia aprovada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação latu sensu de Residência CPqAM/FIOCRUZ/MS, pela Comissão formada pelos Professores: Orientador: _____________________________ Prof. Domício Aurélio de Sá Debatedor: ____________________________ Prof. Nilcema Figueiredo Coordenadora Municipal de Saúde Bucal Recife – 2006 Dedico este trabalho a Lininha e Isnar AGRADECIMENTOS A Deus, pelo dom da vida; Aos meus queridos irmãos, Flau e Nazinho, pelo apoio e confiança que sempre depositaram em mim; A Rodrigo e Roberta, amigões do peito, pelo grande incentivo oferecido em várias fases do meu processo de formação; A minha turma da residência, pelos bons momentos que tivemos em nossa caminhada; Ao professor Carlos, pelo apoio na construção de minha formação como sanitarista; Ao professor Domício, pela orientação prestada para a conclusão desse trabalho; À professora Nilcema, pela orientação e contribuição bibliográfica, que foram muito importantes para construção dessa monografia; Ao pessoal da Secretaria Acadêmica do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães pelo desempenho diante das questões institucionais; Aos funcionários da Biblioteca do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, pela atenção dispensada durante minhas buscas bibliográficas; Aos funcionários da Diretoria de Planejamento da Secretaria de Saúde do Recife, pelo acolhimento e contribuição durante o período de estágio. "Tudo tem seu tempo e até certas manifestações mais vigorosas e originais entram em voga ou saem de moda. Mas a sabedoria tem uma vantagem: é eterna”. Baltasar Gracián RESUMO O presente trabalho verificou a cobertura das ações de saúde bucal na cidade do Recife, através da análise da freqüência e distribuição dos procedimentos odontológicos e do processo de evolução das ações de saúde bucal no município. Para isso, construiu-se uma série histórica (2000-2005) da produção ambulatorial do Recife, utilizando-se dados do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/SUS). Os procedimentos foram classificados de acordo com o nível de complexidade tecnológica exigida, em dois grupos: odontologia básica (preventiva e curativa) e odontologia especializada. A assistência à saúde bucal do município, caracterizouse pelo aumento de unidades de saúde, que realizam serviços odontológicos, e pelo crescimento da produção de procedimentos odontológicos em todos os níveis de complexidade. Entretanto, o acesso às ações de serviço bucal no município ainda é pequeno, pois os avanços ocorridos no sistema de saúde foram insuficientes para mudar o quadro de desigualdades existentes. Portanto, é necessária a adoção de políticas embasadas nos princípios constitucionais da universalidade e eqüidade do acesso ao SUS, visando uma concreta incorporação da atenção integral à saúde bucal que proporcione aos cidadãos uma melhoria na qualidade de vida. Palavras-chave: saúde bucal, cobertura assistencial. LISTA DE ABREVIATURA CEO Centro de Especialidade Odontológica CNS Conferência Nacional de Saúde CNSB Conferência Nacional de Saúde Bucal GPBA Gestão Plena de Atenção Básica Ampliada IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LOS Lei Orgânica de Saúde MR Microrregião MS Ministério da Saúde NOAS Norma Operacional de Assistência à Saúde NOB Norma Operacional Básica PAB Piso de Atenção Básica PSF Programa de Saúde da Família RPA Região Político Administrativa SIA-SUS Sistema de Informação Ambulatorial SPA Serviço de Pronto Atendimento SUS Sistema Único de Saúde USF Unidade de Saúde da Família LISTA DE QUADROS E TABELAS QUADROS Pág. Quadro 1 - Resumo das definições e categorizações das principais variáveis estudadas Quadro 2 - Número de unidades de saúde classificadas por tipo, com suas respectivas produções odontológicas e produtividade, segundo DS, Recife, 2000 – 2005. TABELAS Tabela 1- Número de Unidades de Saúde da Rede Municipal que realizaram procedimentos odontológicos - Recife, 2000 - 2005. Tabela 2 - Número de Procedimentos Odontológicos, segundo o tipo, Recife, 2000 – 2005. Tabela 3 - Distribuição proporcional da produção odontológica por tipo de procedimento segundo distrito sanitário-Recife, 2000-2005. Tabela 4 - Proporção de procedimentos especializados em relação às ações odontológicas individuais - Recife, 2000 -2005. Tabela 5 - Distribuição per capita dos procedimentos odontológicos por distrito sanitário, Recife, 2000-2005. Tabela 6 - Cobertura do procedimento odontológico 1ª Consulta, por Distrito Sanitário, Recife, 2000 – 2005. Tabela 7 - Cobertura dos Procedimentos Coletivos para a população de 0-14 anos, por Distrito Sanitário, Recife, 2000 – 2005. Tabela 8 - Proporção de exodontias em relação às ações básicas individuais por Distrito Sanitário, Recife 2000-2005. Pág. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 5 1.1 - O SUS E A SAÚDE BUCAL 7 1.2 – Programa de Saúde da Família X Saúde Bucal 11 1.1.2 – Acesso aos serviços Odontológicos 14 1.1.3 – Sistema de Informações Ambulatoriais 16 1.1.4 - Modelos municipais de atenção à Saúde Bucal 18 1.1.5 – A Política Municipal de Saúde Bucal – SORRISO MELHOR 19 2. OBJETIVOS 22 2.1 - Objetivo Geral 22 2.2 – Objetivos Específicos 22 3. MÉTODO 23 3.1 - Área de Estudo 23 3.2 – População 23 3.3 – Desenho de Estudo 23 3.4 – Fontes de Dados 24 3.5 – Elenco de Variáveis 24 3.5.1 - Procedimentos Odontológicos 24 3.5.2 – Período de Referência 25 3.5.3 – Região 25 3.6 – Análise de dados 26 3.7 – Considerações Éticas 27 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 28 4.1 - O modelo de atenção à saúde bucal do Recife 28 4.2 Cobertura dos Procedimentos Odontológicos em Recife 36 4.3 Outros Indicadores do Modelo de Atenção à Saúde Bucal em Recife 40 4.3.1 – Consultas Odontológicas 40 4.3.2 – Procedimentos Coletivos 42 4.3.3 – Exodontias 44 5. CONCLUSÔES 46 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 1. INTRODUÇÃO Os agravos bucais e suas seqüelas são de grande prevalência no Brasil, constituindo-se em problemas de saúde pública, com graves conseqüências sociais e econômicas. De acordo com um estudo epidemiológico em saúde bucal realizado pelo Ministério da Saúde em 2003, o índice de ataque da cárie dentária na dentição permanente (CPO-D) atingiu a média de 2,8 dentes aos 12 anos de idade, elevando-se a 6,2 na população da faixa etária entre 15 e 19 anos. Na faixa etária adulta (35 a 44 anos) e entre os idosos (65 a 74 anos) alcançou níveis alarmantes com valores médios de 20,1 e 27,8 respectivamente (BRASIL, 2004b). A gravidade deste quadro epidemiológico exige, além de ações sobre os determinantes da incidência das doenças e agravos bucais, serviços para diminuir o sofrimento e buscar a recuperação de condições de saúde bucal. No entanto, o acesso aos serviços odontológicos no Brasil é limitado e desigual, isto pode ser confirmado de acordo com pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 1999, onde o percentual da população que teve acesso às ações de saúde bucal foi de apenas 12,78% (BRASIL, 2000). Esta realidade é conseqüência de uma concentração de renda irregular existente no país, o que contribui para comprovar que o consumo de serviços de saúde é determinado pelas condições sócio-econômicas de cada região (TRAVASSOS et al., 2000). A política de descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS) traz para os gestores municipais a responsabilidade de garantir os serviços odontológicos, de forma equânime, a todos os seguimentos da população, pois a saúde bucal deve ser encarada como um direito de cidadania (BOTAZZO, 1986). Em Dezembro de 2000, o Ministério da Saúde estabeleceu um incentivo financeiro para reorganização da atenção à saúde bucal por meio do Programa de Saúde da Família (PSF), com os objetivos de expandir o acesso e reorganizar as ações. Apesar da proposta ser de reorganização para uma oferta programada, 5 o que tem ocorrido é a expansão do serviço operada mediante atendimento de livre demanda, na distribuição de lotes diários de fichas de atendimento (BRASIL, 2001a). Para mudar esse quadro, o governo federal criou a política “Brasil Sorridente”, a qual propõe garantir as ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal dos brasileiros, entendendo que esta é fundamental para a saúde geral e a qualidade de vida da população (BRASIL, 2004a). Tendo em vista que a informação é essencial à tomada de decisões e orienta as ações na atenção à saúde, os sistemas de informação constituem-se um aliado em potencial na implementação de políticas sociais e programas de saúde, bem como na reorganização e controle das ações de saúde bucal, uma vez que permitem a construção de indicadores que contribuem para formular o diagnóstico de saúde da população e da realidade dos serviços odontológicos (TERRERI & GARCIA, 2001). Dos sistemas de informação de saúde de abrangência nacional, apenas o Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SIA-SUS) registra procedimentos realizados pelas equipes de saúde bucal (BRASIL, 2002a). O SIA-SUS apesar de ter sido implantado especialmente para controlar os gastos com a assistência ambulatorial e de ser pouco utilizado na análise de políticas de saúde, permite uma análise do perfil da oferta de serviços ambulatoriais odontológicos, através de indicadores de cobertura e concentração de atividades (SÁ, 2001; SÁ 2002; OLIVEIRA, 2002; BARROS & CHAVES, 2003). Diante das mudanças na política de saúde e das reformas realizadas no setor com a implantação do SUS, principalmente após a política de descentralização e inclusão das equipes de saúde bucal no Programa de Saúde da Família (PSF) a partir de 2001, é necessário saber como se encontra a saúde bucal, no que se refere ao grau de inclusão no SUS e ao processo de universalização. 6 Neste sentido, o presente estudo através da utilização dos bancos de dados do SIA-SUS, tem o propósito de verificar a cobertura dos procedimentos odontológicos de promoção, proteção e de recuperação da saúde bucal desenvolvidos em Recife no período de 2000 a 2005, o que poderá vir a contribuir na construção de uma metodologia para avaliação das ações de saúde bucal realizadas em municípios brasileiros. 1.1 O SUS e a Saúde Bucal Durante muitos anos, a atenção odontológica no serviço público brasileiro caracterizou-se por prestar assistência a grupos populacionais restritos, como os escolares, através de programas voltados para a doença cárie e periodontal. O restante da população ficava excluído e dependente de serviços meramente curativos e mutiladores. Isso resultava numa baixa cobertura de atendimentos. A década de 1980 foi marcada pela intensificação das lutas por uma reforma sanitária nacional, tendo em vista a grande pressão do regime autoritário presente na época. O movimento sanitário cresceu com a necessidade social de promoção de um processo de reforma e racionalização do Sistema de Saúde em vigor no país, devido à insatisfação dos diversos setores da sociedade em relação à situação caótica da saúde pública e dos serviços previdenciários de atenção médica existentes nesse período (ESCOREL, NASCIMENTO & EDLER, 2005). Como resultado deste movimento, destaca-se a convocação, em 1986, da 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) sob o tema “Democracia é Saúde”. Para Rodriguez Neto (2003), este evento é considerado o momento mais significativo do processo de construção de uma plataforma e de estratégias do “movimento pela democratização da Saúde em toda sua história”. A Conferência foi um marco expressivo por incorporar a participação da sociedade civil organizada nas deliberações sobre a política de saúde. É a primeira vez que tal evento deixa de ser um encontro estritamente técnico e passa a congregar o pensamento de outros setores da sociedade (FLEURY apud RADIS, 1986). 7 O relatório final da 8ª CNS constituiu o pilar fundamental da proposta da Reforma Sanitária e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), conseguindo hegemonizar a idéia de um sistema nacional de saúde universal, público e sob a responsabilidade do Estado. Debatido e aperfeiçoado pela Comissão Nacional da Reforma Sanitária, o texto do relatório foi elaborado e incorporado como capítulo da Saúde na Constituição Federal de 1988 (ESCOREL & BLOCH, 2005). A chamada ‘Constituição Cidadã’ foi um marco fundamental na redefinição das prioridades da política do Estado na área de saúde pública. O seu artigo 196 descreve a saúde como um direito de todos e dever do Estado, sob a garantia de políticas sociais e econômicas dirigidas tanto para redução de riscos de doenças e outros agravos à saúde, quanto para o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). Como forma de garantir o direito à saúde, em 1990 foi instituído o SUS, através da Lei Orgânica de Saúde (LOS), que reafirma as prerrogativas constitucionais e define as seguintes atribuições do novo sistema nacional de saúde: a identificação de fatores condicionantes e determinantes da saúde; a formulação de política de saúde; e a prestação de uma assistência integral para toda a população (BRASIL, 1990). Com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), ficam definidos os princípios que devem nortear o novo sistema: a universalidade, a eqüidade, a descentralização, a hierarquização e a participação comunitária, através do controle social, trazendo um grande desafio para a saúde bucal coletiva, que é reformular suas práticas para responder às diretrizes do SUS. (BRASIL, 1990). O SUS, garantido pela constituição e regulamentado pela LOS, passa a funcionar de maneira regionalizada e hierarquizada, proporcionando um atendimento integral, com prioridade para as ações preventivas, mas sem causar prejuízo aos serviços assistenciais, além de prever a participação da comunidade. (BRASIL, 1988). 8 A I Conferência Nacional de Saúde Bucal (CNSB), que ocorreu em 1986, ratificou integralmente as resoluções da 8ª Conferência Nacional de Saúde e a inserção da odontologia em um sistema único de saúde (BRASIL, 1986). Com isso, observa-se que a saúde bucal adquire maior importância quando se fala em qualidade de vida da população, assim é essencial a busca de mecanismos que ampliem o âmbito de suas ações e viabilizem mudanças no perfil epidemiológico brasileiro. A luta pela saúde bucal está diretamente vinculada à melhoria de fatores condicionantes sociais, políticos e econômicos, o que referenda a responsabilidade e dever do Estado em sua execução (BASTOS et al, 1996). Influenciado pelo movimento de reforma sanitária, o processo de politização da atenção à saúde bucal e da odontologia integral, segundo os princípios do SUS, acabou por caracterizar o modelo conhecido como Saúde Bucal Coletiva (JÚNIOR & SOUZA, 2004). A odontologia integral surge como concepção alternativa à antiga concepção curativista da odontologia, essa nova proposta visa à universalidade e a integralidade. Narvai (2002), afirma que a proposta da odontologia integral é uma alternativa que busca a universalização e a eqüidade, ou seja, não é uma prática destinada a populações marginalizadas, mas um novo modelo de prática. Para Zanetti (1996), as maiores contribuições da odontologia integral relacionam-se com a ruptura que ela opera no paradigma hegemônico do modelo de atenção. A Saúde Bucal Coletiva caracteriza um espaço de luta entre o desenvolvimento estratégico de uma ação de mudança do modelo de assistência vigente, para um novo modelo de atenção à saúde. Neste modelo, o ato curativo busca a estabilização do meio bucal dos usuários, promovida a remoção de processos infecciosos existentes, propiciando maior eficácia dos métodos preventivos conjugados. (NARVAI, 1991). Paim (1998), afirma que para a estruturação de novos modelos assistenciais é necessária uma mudança na organização e funcionamento das instituições. Em 9 vez de se preocuparem apenas com a oferta de serviços para uma “demanda espontânea”, as instituições de saúde teriam que proporcionar uma “oferta organizada” com reorientação da demanda num dado território, orientada por estudos epidemiológicos que identifiquem os principais problemas de saúde da comunidade no nível local. A transformação da estrutura organizacional do sistema de saúde e a conseqüente descentralização do sistema com comando único em cada esfera de governo é imprescindível para adoção de um novo modelo assistencial. Embasada nesta premissa foi elaborada a Norma Operacional Básica de 1993 (NOB 01/93) que, de forma incipiente, permite, na prática, a implantação de um novo modelo de atenção odontológica, quando há a ampliação dos tipos de procedimentos odontológicos oferecidos pelo SUS, incluindo o incremento de procedimentos e atividades relacionadas à atenção primária (BRASIL, 1993). Com a NOB 01/96, o elenco das ações básicas foi definido, incluindo-se, na área odontológica, os procedimentos coletivos, os procedimentos individuais preventivos, a dentística e a odontologia cirúrgica básica (BRASIL, 1997) No intuito de monitorar e avaliar as ações de serviços de saúde referentes à atenção básica, a portaria do Ministério da Saúde nº 3.925 de 13 de Novembro de 1998 (BRASIL, 1998), institui o Pacto de Indicadores da Atenção Básica, onde todos os municípios brasileiros pactuam com os estados e este com o Ministério da Saúde, de acordo com seu perfil epidemiológico, o cumprimento de metas a serem alcançadas anualmente. Os indicadores do pacto para monitoração e avaliação das ações e serviços de atenção à saúde bucal, até o ano de 2005, são: Cobertura de primeira consulta odontológica; Razão entre procedimentos Coletivos e a população de 0 a 14 anos e proporção de exodontias em relação às ações odontológicas básicas individuais (BRASIL, 2003). A Norma Operacional Básica de Assistência à Saúde (NOAS), de Janeiro de 2002, ao assegurar a manutenção das diretrizes organizativas definidas pela NOAS-SUS 01/ 01, reconhece a importância da saúde bucal na atenção básica, quando define as responsabilidades e ações estratégicas mínimas, que todos os 10 municípios devem desenvolver para se habilitarem na forma mais simples de gestão, isto é, Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (GPBA). São elas: Controle da Tuberculose, Eliminação da Hanseníase, Controle da Hipertensão Arterial, Controle da Diabetes Mellitus, Saúde da Criança, Saúde da Mulher e Saúde Bucal (BRASIL, 2001b; BRASIL, 2002b). A ampliação da Atenção Básica, apresentada na NOAS-SUS 01/ 01, teve como objetivo garantir a qualidade e efetividade das ações ofertadas no âmbito municipal, o mais próximo possível do local de residência dos usuários. Cabendo às Secretarias Estaduais de Saúde o apoio na implantação de mecanismos de organização de fluxos de referência intermunicipais e a garantia de acesso da população aos serviços em todos os níveis de atenção, principalmente na média e alta complexidade (BRASIL, 2001b). 1.1.2 Programa de Saúde da Família X Saúde Bucal Diante da necessidade de ampliar o acesso da população brasileira às ações relacionadas à saúde bucal – quer em termos de promoção, quer em termos de proteção e recuperação – para melhorar a situação de saúde bucal, o Ministério da Saúde promoveu o redirecionamento das práticas de atenção à saúde bucal a partir de sua inclusão na estratégia de saúde da família. (BRASIL, 2001a). Esta demanda faz sentido, frente à exclusão da assistência odontológica de milhares de brasileiros. No último levantamento epidemiológico nacional: SB BRASIL – Condições de Saúde Bucal da População Brasileira 2002 – 2003 (BRASIL, 2004b), foi constatado que cerca de 14% dos adolescentes nunca foram ao dentista, destacando-se as diferenças regionais, onde menos de 6% foram da região Sul, contrastando com 22% da região Nordeste. Com relação aos adultos, cerca de 3% nunca foram ao dentista, sendo mais desfavorecidos aqueles que pertencem à região Nordeste (5%), quando comparados aos da região Sul e Centro-Oeste (1,5%). Quanto aos idosos, a análise segue a mesma tendência, no grupo total cerca de 6% nunca foram ao dentista, tendo prejuízo maior, os da região Nordeste (11%), em relação aos da região Sul (4%). 11 O PSF, criado pelo Ministério da Saúde, em 1994, propõe uma nova maneira de atuação sobre o processo saúde-doença, reestruturando a atenção primária através de ações de proteção e promoção à saúde dos indivíduos e da família de forma integral e contínua (TRAD & BASTOS, 1998; OLIVEIRA & SALIBA, 2005). Daí, pode ser entendido como estratégia fundamental na reestruturação da atenção básica e como extensão da cobertura para regiões sem nenhuma forma de assistência (MARSIGLIA et al, 2005). Para Copque & Trad (2005), o termo Estratégia indica modos de se alcançar ou se aproximar de um dado objetivo proposto. Então o PSF configura-se, de acordo com uma visão político-institucional, como estratégia de reorganização dos serviços e do modelo assistencial. As equipes de saúde da família são instituídas como a principal porta de entrada do sistema de atenção, com devida integração a uma rede de serviços, estabelecendo-se um sistema de referência e contra-referência que garanta resolutividade e possibilite o acompanhamento dos pacientes (GIOVANELLA et al, 2003). De acordo com dados do Ministério da Saúde, em Dezembro de 2005, o PSF envolveu, em dimensão nacional cerca de 24.872 equipes, atuando em cerca de 4.986 municípios e assistindo a 78.600.000 pessoas. (DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA, 2006a) A inserção da equipe de saúde bucal no Programa de Saúde da Família é definida, efetivamente, a partir da portaria GM/MS 1.444, de 28/12/2000, que estabelece incentivo financeiro para reorganização da Atenção à Saúde Bucal prestada nos municípios (BRASIL, 2000b). A regulamentação desse instrumento foi estabelecida pela portaria GM/MS nº 267 de 06/03/2001, com os objetivos de diminuir os índices epidemiológicos de Saúde Bucal a ampliar o acesso da população brasileira às ações de saúde bucal (BRASIL, 2001c). Diante do desafio de consolidar um modelo de atenção que vise ampliar o acesso da população às ações de saúde bucal, o Ministério da Saúde, através da 12 Política Nacional de Saúde Bucal – Brasil Sorridente, vem possibilitando a operacionalização de ações que permitem a reorganização da saúde bucal a partir da atenção básica, porém sem esquecer o princípio da integralidade da atenção, com investimentos em outros níveis, principalmente no que se refere, as especialidades odontológicas. Os investimentos para qualificação e ampliação da atenção básica foram instituídos através das portarias 74/GM – 2004 e 1434/GM – 2004 (BRASIL, 2004c; BRASIL, 2004d). Em relação ao nível secundário de atenção, os Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) estão sendo implantados ao atendimento clínico especializado, sendo instituídos pelas portarias 1.570, 1.571 e 1.572/GM – 2004 (BRASIL, 2004e; BRASIL 2004f; BRASIL, 2004g). No entanto, apesar de se ter uma proposta de reorganização, o que tem ocorrido é a expansão do serviço operada mediante atendimento de livre demanda. Observa-se que a prática profissional continua amarrada a uma demanda reprimida e crescente de atendimento cirúrgico-restaurador, sem alcançar melhorias nas condições de saúde da comunidade. (BARROS & CHAVES, 2003). Para Cardoso et al (2002), a atenção à saúde bucal no Brasil, tem se caracterizado pela insuficiência da oferta de procedimentos coletivos e preventivos individuais e pela baixa cobertura de procedimentos curativos e de urgência. Destaca-se ainda que a assistência odontológica pública no Brasil tem-se restringido quase que completamente aos serviços básicos. Os dados mais recentes indicam que, no âmbito do SUS, os serviços odontológicos especializados correspondem a não mais que 3,5% do total de procedimentos clínicos odontológicos. A baixa capacidade de oferta dos serviços de atenção secundária e terciária compromete o estabelecimento de adequados sistemas de referência e contra-referência em saúde bucal (COORDENAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 2005). 13 A ênfase na atenção básica justifica-se pela resolutividade que proporciona, pois é capaz de resolver até 90% dos problemas de saúde da população, e pelo impacto que produz no ordenamento dos demais níveis de complexidade do sistema de saúde. Entretanto a questão básica à saúde ainda é um grande desafio, para o país. De acordo com dados do Ministério da Saúde 89,6% dos municípios brasileiros estão cobertos com PSF. Destes, 70% dos municípios incluíram o dentista e auxiliares odontológicos em suas equipes, com uma cobertura de 34,9% da população (DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA, 2006b). Medeiros (1998), afirma que os serviços básicos de saúde representam grande importância para ampliação da oferta e universalização do acesso, mas são insuficientes para superar os problemas de organização da rede de saúde, segundo padrões de necessidades da população, uma vez que o acesso aos demais níveis de complexidade não é assegurado. Para Campos (1997 b), a construção de um modelo de atenção à saúde, que permita a universalidade do acesso, pressupõe uma ampliação da rede básica de saúde, de forma que esta funcione como porta de entrada do sistema, resolvendo 90% da demanda clínica, executando a maioria das ações de saúde pública, e que seja integrada aos outros níveis de atenção. Scatena & Tanaka (1998) concordam com a necessidade de integração das práticas de saúde, mas alertam que a mesma não terá êxito se a atenção primária estiver dissociada dos outros níveis de complexidade, como a assistência hospitalar e a realização de exames ou tratamento em serviços complementares. 1.1.2 Acesso aos serviços odontológicos De acordo com Travassos et al (2000), o padrão de consumo de serviços de saúde no Brasil é bastante perverso, gerando grandes desigualdades, que mostram o grau de distanciamento entre a verdadeira situação do sistema de saúde do país e os princípios igualitários enunciados na constituição. Assim, as 14 pessoas mais pobres têm menor chance de consumir serviços de saúde mesmo adoecendo mais, além disso, a má distribuição geográfica dos serviços de saúde também contribui para a iniqüidade presente no país. Sá (2002), ao descrever o processo de universalização do acesso a assistência à saúde do SUS, nos anos de 1995 a 2000, através da análise da produção de serviços ambulatoriais registradas no SIA / SUS, concluiu que: aumentaram as desigualdades regionais com relação ao consumo de procedimentos odontológicos, sendo o Norte e o Nordeste as regiões mais desfavorecidas. Nas grandes cidades foi constatada uma deficiência na assistência pública. Este achado pressupõe uma participação do setor privado, seja na forma de seguro, ou plano de saúde, ou através de assistência odontológica privada, excluindo da assistência à população mais carente, sendo esta, entretanto, a que mais necessita de ações de saúde bucal. De acordo com pesquisa realizada por Barros & Bertoldi (2002), são grandes as desigualdades no acesso aos serviços. Para os autores, a idade é um fator prejudicial aos grupos mais pobres, pois acaba por reduzir a oportunidade de acesso ao serviço público, enquanto que os grupos mais favorecidos são beneficiados com o avanço da idade, uma vez que isso propicia mais recursos para o pagamento do atendimento. Esse quadro de desigualdade na utilização e acesso aos serviços odontológicos pode ser complementado com resultados de um estudo realizado em Minas Gerais, segundo o qual a prevalência de uso regular de dentista por indivíduos de maior escolaridade é cerca de dez vezes maior do que entre os menos escolarizados (MATOS et al, 2001). Mostrou-se também, numa comparação entre serviços odontológicos privados, públicos e sindicatos, que os serviços públicos tendiam a fazer muito mais tratamentos por extração e muito menos por restauração (MATOS et al, 2002). Esses estudos demonstram que os princípios do SUS ainda não estão norteando a reorganização dos modelos assistenciais em saúde bucal nos municípios brasileiros. A mera incorporação da equipe de saúde bucal no PSF, 15 sem adaptação à realidade local, torna-a uma ação verticalizada, sem produzir o impacto esperado na saúde da população. A programação e o planejamento de ações devem estar baseados no diagnóstico das condições de saúde e necessidades de tratamento da população adscrita, bem como do modelo de atenção em saúde bucal vigente, permitindo estabelecer prioridades e alocar recursos de forma direcionada à modificação positiva das condições de saúde da população, por meio de práticas mais efetivas (MOTA & CARVALHO, 1999). Faleiros (1997) e Campos (1997a), concordam que para os princípios da universalidade e eqüidade se concretizarem torna-se necessária a redução das desigualdades regionais e a ampliação da cobertura dos serviços de saúde, para que estes sejam ofertados o mais próximo possível da população. O processo de descentralização da saúde tem ampliado a utilização dos sistemas de informação como instrumentos de planejamento e gestão. A consulta a bancos de dados sobre desenvolvimento social e saúde permite recuperar informações relacionadas à esfera municipal, que são importantes na implementação de políticas sociais e programas de saúde, bem como na reorganização e controle das ações de saúde bucal (TERRERI & GARCIA, 2001). 1.1.4 Modelos municipais de atenção à Saúde Bucal Levando-se em consideração que o processo de implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) diz respeito a modelos assistenciais, em linhas gerais, estes podem ser definidos como a forma de organização e articulação entre os diversos recursos físicos, tecnológicos e humanos disponíveis, de modo a enfrentar e resolver os problemas de saúde vigentes numa comunidade. Ou seja, significa pôr em prática, no caso do SUS, as estratégias operacionais, tendo como base, os princípios organizativos e doutrinários de universalidade, integralidade e equidade (RONCALLI, 2000). Atualmente, no país, convivem de forma antagônica ou complementar o modelo assistencial em processo de construção, e o modelo assistencial 16 curativista neoliberal: o primeiro, voltado à saúde pública, defende a articulação existente entre a demanda atendida, oferta de serviços e necessidade da população; o segundo está voltado para demanda espontânea. Apesar de se observar alguns avanços quanto ao modelo de atenção no SUS, desde a implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), o modelo assistencial curativista ainda é o hegemônico, pois a maioria dos indivíduos só procura os serviços de saúde quando pensa que está doente. Logo, os serviços ficam restritos a manter em funcionamento uma dada oferta de atendimento (PAIM, 1998). Martelli (2001) caracterizou o modelo de atenção em saúde bucal adotado pelo município de Camaragibe, como “modelo híbrido”, o qual era composto pelo Programa de Prevenção em Saúde Bucal para os escolares do Município de Camaragibe (PRESBEM), que proporcionou uma cobertura plena da população de escolares de 5 a 14 anos da rede pública e de escolas particulares de pequeno porte nos procedimentos preventivo-promocionais; e pela inclusão da saúde bucal no PSF, que começou a ser implantada no município em 1998. Todavia, a demanda espontânea teve seu atendimento preservado nos Centros de Especialidades Médicas de Camaragibe (CEMEC). De acordo com Oliveira (2000), o município de Belo Horizonte - MG, buscou a reversão da assistência, predominantemente, centrada em escolares, merecendo destaque pela ruptura com as antigas práticas odontológicas, e consolidação de um modelo assistencial de saúde bucal mais universal, baseado na promoção da saúde. 1.1.5 A Política Municipal de Saúde Bucal – SORRRISO MELHOR Levando em consideração que a saúde Bucal é um componente significativo da saúde geral, principalmente pelo fato dos problemas bucais interferirem diretamente no padrão de vida, através da alta prevalência, demanda pública elevada, do impacto sobre a vida dos indivíduos e sociedade em termos de dor, limitação e deficiência social e funcional, gerando grau de satisfação ou insatisfação diante da qualidade de vida, no viver saudável (BALDISSEROTTO, 17 1995), a Secretaria Municipal de Saúde do Recife implantou, em 2001, a Política Municipal de Saúde Bucal – Sorriso Melhor. A gestão municipal de Recife, com vistas a reestruturar o seu modelo de atenção e a sua forma de ofertar os serviços odontológicos, buscou uma adequação do modelo de saúde bucal, através de estratégias que combinem o estabelecimento de prioridades, a partir dos princípios doutrinários do SUS, com medidas de caráter coletivo e individual. O modelo de atenção à saúde adotado pela Secretaria de Saúde do Recife está pautado na construção de uma cidade saudável, neste contexto, a questão saúde é considerada componente fundamental da qualidade de vida. (RECIFE, 2005) O Programa Sorriso Melhor leva em consideração os principais problemas bucais nos grupos do Ciclo de Vida para efetivação de um modelo de atenção pautado nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, com vistas à melhoria da qualidade de vida. (RECIFE, 2004) Com o intuito de reduzir as iniqüidades entre os grupos populacionais, principalmente pela ampliação do acesso às ações e serviços de saúde bucal a partir da atenção básica a outros níveis de complexidade e de criar condições que favoreçam a redução dos problemas bucais mais prevalentes nos grupos do Ciclo de Vida, foi elaborado um modelo lógico de intervenção do setor saúde para cada grupo populacional, no qual as ações foram operacionalizadas nos seguintes componentes (subprogramas): Educação e Saúde, PACS, PSF, Programas em Espaços Coletivos, Policlínicas, Serviços de Pronto Atendimento (SPA) e Sistema de Informação. (RECIFE, 2004) A estrutura de atendimento foi ampliada, com a inclusão de 87 Equipes de Saúde Bucal no PSF, a implantação, nas Policlínicas do Recife, de 04 Centros de Especialidade Odontológicas (CEO), os quais possuem atendimento clínico especializado em saúde bucal. São eles: Odontopediatria, Endodontia, 18 Periodontia, Cirurgia Oral Menor, Estomatologia, Pacientes Especiais e Prótese, além de 03 Serviços de Pronto Atendimento (SPA), que funciona 24H durante toda semana, para atender casos de urgência. (RECIFE, 2005) Quanto ao Controle Social, pode-se destacar a realização da 1ª Conferência Municipal de Saúde Bucal: “Acesso e Qualidade, superando a Exclusão Social”, que ocorreu em Maio de 2004. Este evento foi muito importante, uma vez que possibilitou a participação popular na formulação e implementação da Política Municipal de Saúde Bucal. (FIGUEIREDO, 2004) Diante do exposto, o presente estudo busca compreender como se encontra a cobertura das ações de saúde bucal realizadas pelo SUS em Recife, através das características do modelo de atenção à saúde bucal adotado a partir da proporcionalidade dos procedimentos realizados por níveis de complexidade e da concentração de procedimentos por habitante/ ano como indicador de acesso, buscando assim subsídios que possam estabelecer prioridades de forma direcionada à modificação positiva das condições de saúde da população. Especificamente, a cerca da cobertura dos serviços odontológicos, realizados na rede pública do Recife, busca-se respostas para as seguintes questões específicas: • Qual a cobertura dos serviços odontológicos do SUS, prestados à população no município do Recife? • Como está a distribuição dos atendimentos odontológicos entre os distritos sanitários do município? • Quais grupos de procedimentos odontológicos são ofertados à população? 19 2. OBJETIVOS 2.1 - Objetivo Geral • Verificar a cobertura das ações de saúde bucal desenvolvidas em Recife, através dos procedimentos registrados no Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) no período de 2000 a 2005. 2.2 – Objetivos Específicos • Caracterizar a política de Saúde Bucal, no contexto da integralidade da assistência; • Caracterizar o modelo de saúde bucal segundo os tipos de procedimentos odontológicos realizados em Recife. • Verificar a freqüência e distribuição dos procedimentos odontológicos de promoção, proteção e recuperação da saúde bucal por Distrito Sanitário do Recife; • Analisar o processo de evolução quanto à cobertura das ações de Saúde Bucal, no período de 2000 a 2005; 20 3. MÉTODO 3.1 - Área de Estudo A área de estudo foi realizada no município do Recife, capital do estado de Pernambuco e abrangeu seus seis Distritos Sanitários. O Recife possui uma área territorial de aproximadamente 220 km² e uma densidade demográfica de 6,4 mil hab / km², o município está inserido na zona Litoral – Mata da Região Nordeste do Brasil. O território do Recife, ao longo do tempo, passou por diversas divisões físicoterritoriais e político-administrativas. Em 1988 foram oficializados os atuais 94 (noventa e quatro) bairros mediante Decreto n° 14.4 52/88. Para efeito de planejamento e gestão, foram instituídas as 06 (seis) Regiões Político- Administrativas (RPA), sendo cada uma destas subdivididas em três Microrregiões (MR), totalizando 18 MR, que agregam bairros com maiores semelhanças territoriais. Na saúde, cada RPA corresponde a um Distrito Sanitário. Em 2000, a população do Recife, registrada pelo Censo do IBGE, foi de 1.422.905 pessoas, distribuídas num espaço totalmente urbano, sendo 661.690 (46,5%) do sexo masculino e 761.215 (53,5%) do sexo feminino. 3.2 - População A população de referência consistiu no universo de procedimentos odontológicos realizados na rede ambulatorial do SUS, compreendida pelo total de atendimentos registrados no Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS). 3.3- Desenho de Estudo Estudo descritivo de corte transversal, com exploração de dados secundários do Ministério da Saúde. 21 Este tipo de estudo apresenta como principais vantagens o baixo custo e a rapidez para a sua realização. Por utilizar uma metodologia simples para análise de dados disponíveis, facilita a realização de análises sistemáticas, possibilitando o acompanhamento das ações pelos serviços saúde e pela sociedade em geral. 3.4- Fonte de Dados Foram utilizados dados secundários, obtidos a partir do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS), referentes aos procedimentos odontológicos realizados em Recife, consolidados e disponibilizados pelo DATASUS/MS. 3.4.1- Sistema de Informações Ambulatoriais Diante do processo de descentralização da gestão dos serviços de saúde, tornou-se ainda mais evidente a necessidade de fortalecimento da capacidade gerencial dos níveis locais. Para isto, o sistema de informações torna-se ainda mais essencial, sendo uma importante ferramenta em todos os processos que envolvem a gestão, desde a identificação dos problemas até a avaliação dos resultados. Neste contexto, a informação torna-se um instrumento fundamental para a mudança no sistema de saúde, possibilitando a tomada de decisões em busca da concretização de um modelo assistencial mais justo e capaz de melhorar as condições de saúde da população (FERREIRA & AZEVEDO, 1998). O Sistema de Informações Ambulatoriais – SIA/SUS foi implantado em 1991, a partir da aprovação da Norma Operacional Básica de 1991- NOB/91, com a finalidade de controlar os gastos com a assistência ambulatorial. (MOTA & CARVALHO, 1999). O SIA/SUS além de funcionar como meio de informação para o repasse de custeio ambulatorial do nível federal para os estados e municípios, oferece também informações para operacionalização e gerenciamento de capacidade instalada, 22 controle orçamentário e cálculo da produção sobre os serviços produzidos (CARVALHO & EDUARDO, 1998). Além disso, devido a sua agilidade, esse sistema disponibiliza os dados necessários aos gestores com cerca de um mês após a realização das ações e após dois meses para a população em geral, através da página da Internet do Departamento de Informática do SUS – DATASUS. Por meio desses dados é possível a realização de avaliações da oferta de serviços de saúde através da construção de indicadores de cobertura, concentração de atividades e dos gastos realizados com assistência ambulatorial (CARVALHO, 1997). Uma das limitações do SIA/SUS é a ausência de identificação do paciente, dificultando a informação para a vigilância epidemiológica, porém não se observa prejuízo quanto à avaliação de cobertura e concentração de determinadas ações, podendo-se inferir se a demanda é essencialmente local ou regional (CARVALHO, 1997). Vale ressaltar que, dos sistemas de informação de saúde de abrangência nacional, apenas o SIA-SUS registra procedimentos realizados pelas equipes de saúde bucal (BRASIL, 2002a). Partindo do pressuposto de que a informação é essencial à tomada de decisões e orienta as ações na atenção à saúde, alguns estudos afirmam que o Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA / SUS) pode contribuir para a reorganização do modelo de atenção em saúde bucal, através da formulação do diagnóstico de saúde dos municípios, a partir do acompanhamento da programação da produção ambulatorial odontológica e da construção de alguns indicadores de saúde bucal (NARVAI, 1992; NARVAI, 1996; TERRERI & GARCIA, 2001; ANDRADE et al 2004). 23 3.5- Elenco de Variáveis O evento estudado foi a assistência odontológica, através da produção ambulatorial referente aos grupos de procedimentos odontológicos, além do local de ocorrência e período referência. 3.5.1- Procedimentos Odontológicos Foram analisados os procedimentos odontológicos registrados no SIA/SUS como “quantidade apresentada”. Optou-se em classificar estes procedimentos, de acordo com o nível de complexidade tecnológica exigida, em dois grupos: odontologia básica (preventiva e curativa) e odontologia especializada. A composição dos grupos de procedimentos de atenção básica e especializada e os respectivos códigos de registro no SIA/SUS encontram-se descritos no Quadro 1. Estes grupos de procedimentos foram formados em consonância com a NOB 01/96, que subdivide a assistência odontológica em atenção básica e especializada (média complexidade), com Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS), além das portarias n° 95/06 e n° 493/06, específica s do Ministério da Saúde. A escolha pela adoção da “produção apresentada” deveu-se ao fato desta conter todos os procedimentos informados ao sistema, independente do teto estipulados para as unidades de saúde, representando melhor a cobertura e o acesso ao consumo de serviços. 3.5.2- Período de Referência Para a observação do processo evolutivo da cobertura das ações de saúde bucal, foram estudados os registros referentes ao período de 2000 a 2005. Este período é caracterizado pela inserção dos profissionais de saúde bucal e ampliação das equipes de saúde bucal no Programa de Saúde da Família, correspondendo à fase de reorganização das ações de saúde bucal no país. 24 A análise desse período permitiu a observação dos avanços alcançados pela gestão de 2001 a 2004, em relação aos dados do último ano da gestão anterior (2000) e possibilitou a visualização das ações realizadas durante o primeiro ano da segunda gestão do mesmo prefeito. 3.5.3- Região Esta variável representa o local de realização dos procedimentos, com a pretensão de demonstrar a utilização de serviços públicos da atenção bucal, através da distribuição espacial dos procedimentos odontológicos realizados por Distrito Sanitário em Recife. A cidade do Recife é dividida em 6 Regiões Político-Administrativas (RPA’s), as quais, do ponto de vista da Saúde, são definidas como Distritos Sanitários. O Distrito Sanitário representa a instância local da operacionalização das ações de saúde, com o objetivo de garantir o bem estar da população, viabilizando a participação popular, sem perder de vista os problemas peculiares de sua localidade. 25 Quadro 1 Resumo das definições e categorizações das principais variáveis estudadas VARIÁVEL ANO LUGAR PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS ODONTOLOGIA BÁSICA ODONTOLOGIA ESPECIALIZADA DEFINIÇÃO Ano no qual o procedimento odontológico foi realizado e registrado no SIA/SUS CATEGORIZAÇÀO 2000 a 2005 Distritos Sanitários da cidade do Recife, obtidos Lugar onde o procedimento foi realizado no SIA, a partir das Unidades de Saúde Procedimentos Odontológicos apresentados (ações e/ou atividades) Odontologia Básica registrados por códigos específicos na tabela SIA/SUS e classificados em Odontologia Especializada grupos segundo a necessidade e utilização de tecnologias Grupo 3 -Preventivos: (0301101; 0302101; 0302201; 0302202; Grupo de procedimentos odontológicos 0302203; 0302204; da atenção básica (Piso de Atenção 0302206) Básica – PAB) que requerem pouca -Curativos: tecnologia. (0302207; 0302208; 0303101 – 0304107; 1001101; 1001102) Grupo de procedimentos odontológicos Grupo 10 da atenção especializada (média (Exceto os procedimentos complexidade) pagos pela Fração de 1001101 e 1001102) Assistência Especializada – FAE. 3.6- Análise de Dados Para o processo de análise dos dados foram construídas tabelas e gráficos. Inicialmente a cobertura das ações de saúde bucal foi descrita, permitindo analisar o acesso à assistência odontológica. Em seguida, realizou-se uma análise da assistência odontológica prestada em Recife, a partir dos procedimentos realizados e de sua distribuição por Distritos Sanitários. Por último, foram verificadas algumas características do modelo de saúde bucal baseando-se nos percentuais de procedimentos produzidos: odontologia básica (procedimentos preventivos e curativos) e odontologia especializada. 26 3.7 - Considerações Éticas O estudo foi realizado dentro dos padrões da ética científica. Pois foram utilizados dados secundários do Ministério da Saúde que são de domínio público, disponibilizados na Internet <http://www.datasus.gov.br> e/ou em cd-rom. Estes dados possibilitam, no máximo, identificar o total de procedimentos realizados por uma unidade de saúde, portanto não permitem, de forma alguma, a identificação dos indivíduos. 27 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para conhecer o modelo de atenção em saúde bucal do Recife, inicialmente, foi descrita a composição da rede municipal de assistência à saúde e a quantidade de procedimentos realizados por esta rede de serviços e registrados no SIA/ SUS. Posteriormente, foram comparados os percentuais de procedimentos básicos (preventivos e curativos) e especializados, além da concentração de alguns procedimentos específicos. Para analisar a cobertura da assistência odontológica realizou-se uma distribuição espacial dos procedimentos per capita por distrito sanitário. 4.1 O modelo de atenção à saúde bucal do Recife De acordo com a tabela 1, pode-se observar a distribuição do número de unidades que desenvolveram ações de saúde bucal no município de Recife e a evolução no período entre 2000 e 2005. Durante este período, o município apresentou um crescimento de 96% (de 55 para 108) do total de unidades de saúde que oferecem serviços odontológicos. Nota-se ainda que grande parte do acréscimo total de unidades foi influenciada pelo aumento do número de Unidades de Saúde da Família (USF) com equipes de saúde bucal. Até o ano de 2000, as USF não possuíam serviços odontológicos, já em 2005 existiam 73 USF que desenvolviam ações de saúde bucal, correspondendo a 73% do total de Unidades de Saúde da Família (102) existentes no município. Porém, não só as unidades do Programa de Saúde da Família contaram com esse acréscimo. Também houve aumento em relação aos serviços de média complexidade, que são as Policlínicas. Em algumas delas foram instalados serviços específicos de atendimento odontológico: os Serviços de Pronto Atendimento, que se encontram nas Policlínicas Amaury Coutinho (DS II); Agamenon Magalhães (DS V) e Arnaldo Marques (DS VI), e os Centros de Especialidade Odontológica (CEO), que estão presentes nas Policlínicas Waldemar de Oliveira (DS I), Amaury Coutinho 28 (DS II), Clementino Fraga (DS III) e Lessa de Andrade (DS IV). Estes serviços não existiam na rede municipal até 2001. Em relação às Unidades Básicas Tradicionais de Saúde (Centros de Saúde), observa-se uma diminuição (de 45 para 24) durante o período estudado, em função da transformação em Unidades de Saúde da Família (modelo substitutivo). Tabela 1 Número de Unidades de Saúde da Rede Municipal que realizaram procedimentos odontológicos - Recife, 2000 - 2005. TIPO DE UNIDADE/ SERVIÇO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Unidade Básica Tradicional de Saúde 45 41 35 32 31 24 Unidade de Saúde da Família 0 17 32 40 56 73 Policlínica 9 8 9 9 9 10 Clínica Especializada 1 1 2 2 2 1 Total de Unidades de Saúde 55 67 78 83 98 108 Fonte: SIA/ SUS (Unidades com produção odontológica apresentada no ano) A tabela 2 mostra que houve um aumento na quantidade de procedimentos odontológicos realizados em Recife. Note-se que para os procedimentos especializados, esse crescimento foi de aproximadamente 137%, enquanto que os procedimentos básicos apresentaram um aumento de 26%, durante o período analisado. Quanto aos procedimentos preventivos e curativos, percebe-se um acréscimo na quantidade realizada para ambos, no entanto, os primeiros mostraram um crescimento maior (43%) em comparação ao segundo subgrupo, que apresentou um aumento de 6,7%. 29 Tabela 2 Número de Procedimentos Odontológicos, segundo o tipo, Recife, 2000 - 2005. TIPO DE PROCEDIMENTOS 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Básicos 840.535 876.421 848.262 949.128 876.080 1.058.784 Básicos Preventivos 446.600 477.810 451.087 476.269 422.594 638.290 Básicos Curativos 393.935 398.611 397.175 472.859 453.486 420.494 Especializados 39.635 51.127 56.615 70.474 75.674 93.880 TOTAL 880.170 927.548 904.877 1.019.602 951.754 1.152.664 Fonte: SIA/SUS No intuito de entender melhor as características do modelo de atenção à saúde bucal adotado pelo Recife, optou-se por analisar o número de unidades da rede assistencial em relação à produção odontológica, por distrito sanitário. (Quadro 2) Desta forma, percebe-se que houve uma diminuição na produtividade das Unidades de Saúde do município entre 2000 e 2005, evidenciando que a produção odontológica não acompanhou o crescimento das unidades que oferecem serviços odontológicos. Em relação aos distritos sanitários, pode-se dizer que o distrito I apresentou o maior percentual de queda na produtividade das unidades de saúde, que correspondeu a 53% (de 34.834 para 16.298 procedimentos por unidade). Este foi seguido pelo distrito V, o qual mostrou uma diminuição de 50% na produtividade das suas unidades. 30 Quadro 2 Número de unidades de saúde classificadas por tipo, com suas respectivas produções odontológicas e produtividade, segundo DS, Recife, 2000 – 2005. 2000 DISTRITO SANITÁRIO I II III IV V VI 2005 USF Outras US* TOTAL USF Outros US* TOTAL N° DE US - 4 4 5 4 9 Produção Odonto - 139.336 139.336 85.303 61.382 146.685 Produtividade/ US - 34.834 34.834 17.061 15.346 16.298 N° DE US - 8 8 15 3 18 Produção odonto - 113.066 113.066 108.024 86.733 194.757 Produtividade/ US - 14.133 14.133 7.202 28.911 10.820 N° DE US - 14 14 8 10 18 Produção Odonto - 211.367 211.367 59.441 208.642 268.083 Produtividade/ US - 15.098 15.098 7.430 20.864 14.591 N° DE US - 7 7 15 4 19 Produção Odonto - 126.382 126.382 82.053 142.200 224.253 Produtividade/ US - 18.055 18.055 5.470 35.550 11.803 N° DE US - 7 7 11 6 17 Produção Odonto - 99.628 99.628 36.469 82.728 119.197 Produtividade/ US - 14.233 14.233 3.315 13.788 7.012 N° DE US - 15 15 19 8 27 Produção Odonto - 189.645 189.645 67.580 132.109 199.689 Produtividade/ US - 12.643 12.643 3.557 16.514 7.396 N° DE US - 55 55 73 35 108 Produção Odonto - 880.170 880.170 438.870 713.794 1.152.664 - 16.003 16.003 6.012 20.394 10.673 RECIFE Produtividade/ US * Inclui as policlínicas, unidades básicas tradicionais e clinica especializada - DS III - Ermírio de Morais; Nota: USF - Unidade de Saúde da Família; US -Unidade de Saúde; Odonto – Odontológica Fonte: SIA/ SUS 31 A partir da distribuição proporcional dos procedimentos da odontologia básica (preventiva e curativa) e especializada é possível comparar os níveis de complexidade da assistência odontológica realizada em Recife. (Tabela 3) Para compreender melhor as particularidades da assistência odontológica, buscou-se um maior detalhamento dos procedimentos básicos e especializados produzidos nos distritos sanitários do Município, destacando suas principais desigualdades. Pode-se perceber que o modelo de atenção à saúde bucal apresentado pela maioria dos distritos sanitários, durante os anos de 2000 a 2005, é predominantemente preventivo. Contudo, observa-se que o Distrito Sanitário I foge a essa regra, pois de 2000 a 2004, apresentou uma assistência básica, na qual a proporção de procedimentos curativos superou a de procedimentos preventivos. O ano de 2005 merece atenção, pois se nota que em todos os distritos sanitários a concentração de procedimentos básicos preventivos excedeu a de básicos curativos. Em Recife, a assistência básica está composta, predominantemente, por procedimentos preventivos, variando de 53,1% no ano de 2000 a 60,3% em 2005, porém vale ressaltar que a proporção de procedimentos curativos também aumentou durante este período. Com relação aos procedimentos especializados, o município apresentou um aumento proporcional progressivo de 4,5% em 2000 para 8,1% em 2005. Nota-se que houve uma variação no distrito sanitário I, o qual apresentou queda na produção dos serviços durantes os anos de 2004 e 2005. De acordo com a tabela 4, observa-se que em relação aos procedimentos individuais, a proporção de procedimentos especializados também mostrou crescimento durante o período estudado. O distrito I apresentou aumento na proporção de procedimentos especializados até o ano de 2003, quando obteve o maior valor proporcional para esse procedimento. Para o distrito III, esse 32 crescimento foi gradual até 2005, quando mostrou a maior proporção de procedimentos especializados em relação aos individuais. Tabela 3 Distribuição proporcional da produção odontológica por tipo de procedimento segundo distrito sanitário-Recife, 2000-2005. Distrito Sanitário PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS 2000 2001 2002 2003 2004 2005 I Básicos Preventivos Curativos Especializados 89,8 40,6 59,4 10,2 88,7 45,1 54,9 11,3 86,1 39,8 60,2 13,9 83,1 31,8 68,2 16,9 88,5 29,5 70,5 11,5 93,8 64,7 35,3 6,2 II Básicos Preventivos Curativos Especializados 98,3 53,8 46,2 1,7 97 50,3 49,7 3,0 95,9 51,6 48,4 4,1 92,3 51,4 48,6 7,7 89,7 47,6 52,4 10,3 92,9 61,7 38,3 7,1 III Básicos Preventivos Curativos Especializados 95,1 58,7 41,3 4,9 93 58,4 41,6 7,0 91,6 56,6 43,4 8,4 91,2 54 46 8,8 88,2 53,3 46,7 11,8 87,3 63,5 36,5 12,7 IV Básicos Preventivos Curativos Especializados 99,1 59,3 40,7 0,9 99,2 59,7 40,3 0,8 98,2 54,8 45,2 1,8 97,5 50,5 49,5 2,5 97,8 47,9 52,1 2,2 96,3 56 44 3,7 V Básicos Preventivos Curativos Especializados 96,2 45,2 54,8 3,8 96,5 54,7 45,3 3,5 96,2 50,7 49,3 3,8 96,8 49,4 50,6 3,2 95,2 48,1 51,9 4,8 89,9 53,1 46,9 10,1 VI Básicos Preventivos Curativos Especializados 95,7 51,9 48,1 4,3 95,8 57,1 42,9 4,2 96,8 59,7 48,3 3,2 96,8 56 44 3,2 93,9 52,9 47,1 6,1 91,8 60,7 39,3 8,2 RECIFE Básicos Preventivos Curativos Especializados 95,5 53,1 46,9 4,5 94,5 54,5 45,5 5,5 93,7 53,2 48,4 6,3 93,1 50,2 49,8 6,9 92 48,2 51,8 8,0 91,9 60,3 39,7 8,1 Fonte: SIA/SUS. 33 Tabela 4 Proporção de procedimentos especializados em relação às ações odontológicas individuais - Recife, 2000 -2005. DISTRITO SANITÁRIO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 14,85 17,20 20,82 24,84 15,56 15,13 II 2,20 3,77 5,26 11,10 15,47 14,40 III 6,70 9,38 11,39 12,17 17,20 23,10 IV 1,25 1,10 2,44 3,34 2,70 4,94 V 0,41 4,37 4,85 3,97 6,02 17,94 VI 6,00 5,91 4,54 4,23 7,90 11,83 TOTAL 6,07 7,52 8,56 9,40 10,79 13,82 I Fonte: SIA/SUS. Considerando que houve um aumento dos procedimentos realizados, pode-se constatar que esse fato ocorreu principalmente, devido ao crescimento do número de unidades de saúde no Município. Através da nova gestão, iniciada em 2001, a Secretaria de Saúde Municipal buscou reorganizar sua rede, com o intuito de reestruturar o modelo de atenção à saúde a partir da atenção básica, levando em conta o compromisso social e uma política de saúde baseada na defesa da cidadania. Entretanto, a partir de uma análise mais detalhada, percebe-se que a produtividade odontológica por unidade de saúde diminuiu, evidenciando que a expansão da rede assistencial não foi acompanhada, em termos proporcionais, pela produção odontológica. A partir desse resultado pode-se supor que a produção de serviços foi pequena, ou que existiu sub-registro dos procedimentos realizados. A primeira hipótese é a mais plausível, tendo em vista o perfil da produção odontológica em Recife, apresentado durante o período estudado. Porém, são necessários mais estudos para comprovar uma dessas hipóteses. Para Silva Jr. (1998), os modelos assistenciais em saúde são construções históricas, que refletem o paradigma vigente desde as concepções do modo de pensar a saúde até a maneira como se operacionaliza sua prática. 34 No Brasil, historicamente, um modelo de atenção centrado na doença, em equipamentos e medicamentos, norteou e privilegiou um modelo privado lucrativo, mesmo quando a relação profissional / paciente acontecia em âmbito público. Baseado na demanda espontânea e desordenada, o referido modelo restringia-se a manter em funcionamento uma dada oferta de atendimento. É a pressão espontânea e desordenada da demanda que condiciona a organização de recursos para oferta, dificultando a implantação de um modelo de atenção à saúde mais justo, resolutivo, de caráter mais preventivo e menos excludente (REZENDE, 1998). Segundo Roncalli (2000), em função de uma característica curativista, medicalizadora, excludente, mercantil, dicotômica e pouco resolutiva, os modelos assistenciais estabelecidos no Brasil se constituíram num desafio para implantação de um novo modelo, que estivesse baseado nos princípios doutrinários do SUS e fizesse valer o verdadeiro sentido de promoção, proteção e recuperação de saúde. Nota-se que apesar do modelo de atenção à saúde bucal adotado apresentar predomínio de ações básico-preventivas, ainda não é possível determinar uma mudança significativa de prática na atenção à saúde bucal do Recife, pois a proporção de preventivos encontra-se muito próxima a de procedimentos curativos. Percebe-se que o município tenta firmar seu compromisso de mudança de modelo, através de alterações instituídas principalmente, na rede de atenção básica. No entanto, pode-se evidenciar que, em termos percentuais, o crescimento da quantidade de procedimentos especializados foi maior que o de procedimentos básicos, alterando a lógica de reestruturação do modelo de atenção à saúde a partir da atenção básica. O advento do Piso da Atenção Básica (PAB) estabeleceu um valor per capita para o custeio das ações e serviços da atenção básica, ou seja, o registro da produção ambulatorial não interfere no repasse de recursos, enquanto que, o registro das ações especializadas intervém na transferência de produtividade para os profissionais, podendo-se supor que houve sub – registro de procedimentos básicos durante o período analisado, ou sobre – registro de procedimentos 35 especializados para o mesmo período. Entretanto, para o fortalecimento dessas informações são necessárias pesquisas mais aprofundadas. 4.2 Cobertura dos Procedimentos Odontológicos em Recife Em relação à média geral do município, o volume de procedimentos odontológicos realizados acompanhou a expansão da oferta dos serviços, com um aumento de 24,2% (de 0,62 para 0,77 procedimento/ habitante/ ano). (Tabela 5) Para avaliar o acesso aos procedimentos odontológicos no Recife, optou-se por distribuí-los segundo a população residente por distrito sanitário, onde os serviços foram realizados. Alguns dados chamam atenção: o distrito sanitário V, no período de 2000 a 2005, mostrou uma evolução na oferta de serviços odontológicos. Contudo, apesar de mostrar um crescimento na oferta de procedimentos ao longo desses anos, observa-se que, em 2005, o distrito ainda apresenta a produção per capita mais baixa. Já o distrito sanitário I, apesar de não ter apresentado um aumento progressivo da quantidade de serviços ofertados durante os anos estudados, sempre mostrou uma produção de procedimentos por habitante / ano, superior aos demais distritos sanitários. O ano de 2001 merece destaque, pois esse distrito apresentou uma quantidade de procedimentos por habitante, quatro (4) vezes maior (2,48) que a apresentada pelo município no mesmo ano (0,65) e cerca de seis (6) vezes maior que revelada pelo Distrito Sanitário V (0,43), o qual apresentou a menor cobertura de procedimento por habitante neste ano. De acordo com os parâmetros estabelecidos pela portaria GM n° 1101/ 02 (BRASIL, 2002c), para os atendimentos odontológicos, de 0,5 a 2 por habitante / ano, (média de 1,5) constata-se que o município apresenta uma produção per capita dentro deste intervalo estipulado, porém próximo do limite inferior, ou seja, bem abaixo da média de 1,5 procedimento/ habitante/ ano. 36 Levando em consideração a demasiada elasticidade dos parâmetros recomendados, deve-se considerar como parâmetro mais indicado o limite superior, ou a média de 1,5 procedimentos/ habitante/ ano. Assim, o acesso à assistência odontológica em Recife ainda é um desafio a ser alcançado, pelo fato da concentração de procedimentos estar muito próxima do limite inferior e abaixo da média dos parâmetros de avaliação de cobertura adotados pelo Ministério da Saúde. Sá (2002), ao estudar a evolução do acesso à assistência à saúde do SUS, através da análise da produção de serviços ambulatoriais registrados no SIA/SUS, entre grupos de municípios, estados e regiões nos anos de 1995 e 2000, já havia denunciado um notável incremento da produção no grupo de procedimentos odontológicos, acompanhado pelo aumento das desigualdades regionais, desfavorecendo as regiões Norte e Nordeste. É notável uma expansão da produção de serviços odontológicos no Recife, no entanto, esse crescimento aconteceu de forma desigual entre os distritos, confirmando resultados de estudos sobre as desigualdades regionais de serviços de saúde (TRAVASSOS et al., 2000; BUSS, 1993; SÁ et al., 2001; LIRA, 2001; OLIVEIRA, 2002). Vale ressaltar, que o distrito sanitário I, embora possua a menor população, em relação aos outros, localiza-se no centro do Recife, e sua rede assistencial está distribuída por uma área composta, basicamente, por estabelecimentos comerciais, ou seja, trata-se de uma região caracterizada, diariamente, por grande fluxo populacional flutuante. Isto pode explicar a maior produção de procedimentos por habitante / ano, uma vez que neste distrito os atendimentos não se limitam à população adscrita, ao contrário, expandem-se à população de outros distritos, ou mesmo de outros municípios. Com relação ao distrito V, percebe-se que o motivo para a apresentação de baixos valores de produção per capita, deve estar relacionado à ausência de registros de produção odontológica em 4 Unidades de Saúde da Família com equipe 37 de Saúde bucal implantada. Este fato reforça a hipótese da existência de subregistro de procedimento por profissionais da rede municipal. Segundo Mota & Carvalho (1999), as informações só podem contribuir para o desenvolvimento de modelos de atenção à saúde mediante a análise dos seus dados, se há um adequado preenchimento dos instrumentos, registro e armazenamento seguros, fluxo de dados até o processamento no tempo estabelecido, sua consolidação, análise e difusão. Neste sentido, o Recife precisa avançar no controle e avaliação dos serviços realizados, estabelecendo uma rotina de monitoramento da produção realizada em relação aos parâmetros esperados (pactuados) por equipe e/ou unidade de saúde. 38 Tabela 5 Distribuição per capita dos procedimentos odontológicos por distrito sanitário, Recife, 2000-2005. DISTRITO SANITÁRIO I II III IV V VI RECIFE PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Básicos 1,60 1,94 1,59 1,41 1,16 1,67 Especializados 0,18 0,53 0,26 0,29 0,15 0,11 Subtotal 1,78 2,48 1,84 1,70 1,32 1,78 Básicos 0,54 0,53 0,42 0,53 0,56 0,83 Especializados 0,01 0,02 0,02 0,04 0,06 0,06 Subtotal 0,55 0,55 0,44 0,58 0,63 0,90 Básicos 0,71 0,69 0,76 0,83 0,77 0,78 Especializados 0,04 0,05 0,07 0,08 0,10 0,11 Subtotal 0,75 0,74 0,83 0,91 0,88 0,89 Básicos 0,50 0,46 0,54 0,71 0,68 0,80 Especializados 0,00 0,00 0,01 0,02 0,01 0,03 Subtotal 0,50 0,46 0,55 0,73 0,69 0,83 Básicos 0,39 0,41 0,42 0,45 0,37 0,41 Especializados 0,02 0,01 0,02 0,01 0,02 0,05 Subtotal 0,41 0,43 0,43 0,46 0,39 0,45 Básicos 0,51 0,54 0,47 0,50 0,44 0,49 Especializados 0,02 0,02 0,02 0,02 0,03 0,04 Subtotal 0,54 0,56 0,49 0,52 0,47 0,54 Básicos 0,59 0,61 0,59 0,65 0,59 0,71 Especializados 0,03 0,04 0,04 0,05 0,05 0,06 Total 0,62 0,65 0,60 0,66 0,65 0,77 Fontes: SIA/SUS; IBGE. 39 4.3 Outros indicadores do modelo de atenção à saúde bucal em Recife Com a finalidade de contribuir para a melhor compreensão da cobertura e distribuição dos procedimentos odontológicos, optou-se em observar alguns procedimentos desagregados, consulta odontológica, procedimentos coletivos e exodontia, buscando a identificação de indicadores, que expressassem melhor as características do modelo de saúde bucal e a qualidade da assistência odontológica em Recife. Desde 1998 o Ministério da Saúde (MS) utiliza alguns indicadores de saúde bucal no pacto da atenção básica, tais como: cobertura de primeira consulta odontológica; Razão entre procedimentos coletivos e a população de 0 a 14 anos e proporção de exodontias em relação às ações odontológicas básicas individuais, com o objetivo de acompanhar e avaliar a implantação dessa prática de saúde pelos estados e municípios. A cada ano, o MS publica portarias com a definição dos indicadores que os municípios devem pactuar com seus estados para o alcance de metas, e por sua vez os estados pactuam com o MS as metas estaduais. Para a análise individual, resolveu-se destacar os indicadores de saúde bucal, pois através deles podes monitorar o modelo de atenção adotado pelos gestores. 4.3.1 Consultas Odontológicas A cobertura da 1ª consulta estima o acesso da população aos serviços odontológicos para assistência individual no âmbito do SUS. A tabela 6 mostra o acesso à assistência odontológica nos distritos sanitários referente à quantidade de procedimentos per capita (1ªconsultas odontológicas). De acordo com a série histórica analisada, percebe-se certa estabilidade, havendo pequenas variações na média geral do município (0,10 a 0,15). 40 Porém, ao se analisar a cobertura da 1ª consulta por Distrito Sanitário, nota-se que, no mesmo período percebeu-se que o distrito I apresentou uma queda no registro desse tipo de procedimento (de 0,45 para 0,15). Apesar disso, esse distrito permanece apresentando os maiores valores de cobertura para 1ª consulta durante o período. Com base no parâmetro pactuado pela coordenação de Saúde Bucal do Recife de 0,2 procedimento/ habitante/ ano, o município apresenta uma produção inferior à meta estipulada, evidenciando que o acesso da população aos serviços odontológicos para assistência individual ainda é baixo. A localização do distrito sanitário I justifica a alta produção de consultas odontológicas, na medida em que as unidades de saúde recebem muitos pacientes de outros distritos e de outros municípios. Daí, não se pode dizer que o distrito apresenta uma boa cobertura populacional para este tipo de procedimento, pois a maioria dos atendimentos realizados é eventual e não tem seguimento. Como a maior parte das pessoas é atendida de acordo com as suas principais necessidades, provavelmente, não existe elaboração e execução de um plano preventivoterapêutico para atender as necessidades detectadas, acarretando um registro que nem sempre corresponde à definição referida nos manuais do SIA-SUS. Uma explicação para a baixa produção deste tipo de procedimento odontológico foi dada por Martelli (2001), ao encontrar, no município de Camaragibe, profissionais pouco estimulados para o registro diário dos procedimentos executados, principalmente para o registro de 1ª consulta. Além disso, sabe-se que muitos profissionais realizam apenas procedimentos específicos, os quais solucionam a queixa principal do paciente, sem se preocupar com o diagnóstico geral para a programação de atendimento das necessidades de saúde bucal. A baixa oferta de serviços contribui para um atendimento com foco nas principais necessidades do paciente e não na saúde bucal de cada pessoa atendida. A inclusão da equipe de saúde bucal no Programa de Saúde da Família, com a 41 ampliação da cobertura desses serviços visa a reversão desse modelo assistencial, baseado na demanda espontânea. Tabela 6 Cobertura do procedimento odontológico 1ª Consulta, por Distrito Sanitário, Recife, 2000 – 2005. DISTRITO SANITÁRIO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 I 0,37 0,45 0,33 0,24 0,19 0,15 II 0,11 0,09 0,08 0,13 0,14 0,10 III 0,13 0,13 0,14 0,16 0,17 0,15 IV 0,12 0,11 0,13 0,16 0,12 0,09 V 0,07 0,07 0,07 0,08 0,06 0,08 VI 0,09 0,11 0,10 0,09 0,08 0,06 TOTAL 0,12 0,12 0,12 0,13 0,12 0,10 Fontes: SIA/SUS; IBGE. 4.3.2 Procedimentos Coletivos A cobertura de procedimentos coletivos expressa a proporção de pessoas de 0 a 14 anos que teve acesso às ações coletivas, visando a prevenção de doenças bucais, mais especificamente cárie dentária e doença periodontal. De acordo com a tabela 7, são evidentes as alterações na cobertura dos procedimentos coletivos no Recife, com um aumento do 0,05 em 2000 para 0,6 em 2005. Entretanto, observa-se que, de uma forma geral, na maioria dos distritos sanitários, a cobertura das ações de natureza coletiva, no conjunto dos demais procedimentos odontológicos, é ainda incipiente e apresenta uma cobertura insignificante. Na distribuição por distritos sanitários, pode-se observar que o distrito sanitário V só apresentou cobertura de procedimentos coletivos para a população de 0 a 14 anos a partir de 2005, nota-se que isto também aconteceu no Distrito II, porém por um período mais curto, em 2003, o distrito mostra uma cobertura de 0,01 procedimento/ população de 0 a 14 anos/ ano. 42 No ano de 2005, percebe-se um aumento dos procedimentos coletivos em todos os distritos, destacando-se os distritos I e II com 3,05 e 1,09 procedimentos / habitante (de 0 a 14 anos) / ano, respectivamente. O aumento na produção de serviços no último ano estudado (2005) não significa, verdadeiramente, um crescimento na quantidade de serviços ofertados, mas uma correção administrativa na forma de registro destes procedimentos. Nos anos anteriores, o registro baseou-se na atividade realizada, desconsiderando o número de pacientes beneficiados com a ação coletiva, como é o recomendado. Segundo a coordenação da Política de Saúde Bucal do Recife, somente a partir de 2005 o setor responsável pelo processamento SIA/ SUS passou a registrar o procedimento conforme o número de participantes das atividades, justificando o aumento significativo da quantidade de procedimentos ofertados para este ano. O estudo pôde evidenciar que a alimentação da base de dados dos procedimentos ambulatoriais da produção odontológica, como consultas exodontias e restaurações, apresenta certa constância no registro. Entretanto, os procedimentos coletivos, considerados como práticas que requerem mais rigor no cadastramento, ainda apresentam sérios problemas de registro e padronização. Vale ressaltar que a partir da competência de Março de 2006, conforme a portaria n° 95 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006 a), o procedimento coletivo será registrado separadamente, de acordo com os seguintes critérios: • Ação Coletiva de Escovação Dental Supervisionada; • Ação Coletiva de Bochecho Fluorado • Ação Coletiva de Aplicação Tópica de Flúor-Gel • Ação Coletiva de Exame Bucal com finalidade Epidemiológica • Atividade Coletiva de Educação em Saúde por profissional de nível médio na comunidade; • Atividade Coletiva de Educação em Saúde por profissional de nível médio no estabelecimento de saúde; 43 • Atividade Coletiva de Educação em Saúde por profissional de nível superior na comunidade; • Atividade Coletiva de Educação em Saúde por profissional de nível superior no estabelecimento de saúde. Para o pacto de atenção básica (2006), o indicador a ser acompanhado com a definição de metas será a Cobertura da ação coletiva escovação dental supervisionada. Tal ação é dirigida, necessariamente, a um grupo de indivíduos, e não a ação individual em que as atividades educativas são realizadas no âmbito clínico para uma única pessoa. (BRASIL, 2006b) Tabela 7 Cobertura dos Procedimentos Coletivos para a população de 0-14 anos, por Distrito Sanitário, Recife, 2000 – 2005. DISTRITO SANITÁRIO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 I II III IV V 0,01 0,00 0,01 0,08 0,00 0,18 0,00 0,01 0,03 0,00 0,09 0,00 0,03 0,02 0,00 0,04 0,01 0,03 0,02 0,00 0,02 0,02 0,01 0,01 0,00 3,05 1,09 0,53 0,33 0,29 VI 0,15 0,13 0,10 0,09 0,02 0,23 TOTAL 0,05 0,05 0,04 0,03 0,01 0,60 Fontes: SIA/SUS; IBGE. 4.3.3 Exodontias Por fim, a tabela 8 demonstra a proporção das exodontias em relação aos procedimentos básicos individuais, realizadas no município. Nota-se que durante o período analisado, o município apresentou uma queda na proporção de exodontias realizadas (de 7,22 para 4,9). 44 A análise por distrito sanitário revela que o distrito I apresentou um aumento na proporção de exodontias realizadas, em 2000 ele obteve o menor valor para esse indicador, já em 2005, apresenta-se como distrito que possui o maior número de exodontia em relação aos procedimentos básicos individuais. Já com o distrito IV observa-se o inverso, em 2000 a proporção exodontias era de 8,24, caindo para 3,79 no ano de 2005. Percebe-se que mesmo diante do aumento na proporção de procedimentos curativos, tem-se uma queda na produção de exodontias, podendo-se supor que em relação às ações básico-curativas, o município apresenta maior ênfase nos procedimentos restauradores. Tabela 8 Proporção de exodontias em relação às ações básicas individuais por Distrito Sanitário, Recife 2000-2005. DISTRITO SANITÁRIO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 I 3,73 3,39 3,42 4,33 6,96 6,54 II 7,90 6,71 6,19 6,62 6,21 6,08 III 6,89 6,98 6,19 4,43 4,39 4,59 IV 8,24 7,14 6,99 5,02 4,72 3,79 V 10,07 6,97 6,47 6,54 6,24 5,58 VI 7,31 7,85 7,07 6,17 6,36 4,75 TOTAL 7,22 6,54 6,11 5,38 5,56 4,90 Fonte: SIA/SUS. 45 5. CONCLUSÕES Após a análise da distribuição dos tipos de procedimentos odontológicos produzidos em Recife, foi possível a emissão das seguintes conclusões: • O município apresentou um crescimento de 96% do total de unidades de saúde que oferecem serviços odontológicos. A maior parte da expansão da rede foi influenciada pelo aumento do número de Unidades de Saúde da Família; • A produção odontológica também mostrou crescimento, entretanto a produtividade das unidades de saúde diminuiu, evidenciando que reestruturação da rede de saúde não foi acompanhada pela expansão da quantidade de procedimentos realizados. • A lógica de reestruturar o modelo de atenção à saúde a partir da atenção básica ainda é pouco visível, pois em termos percentuais, a produção de procedimentos especializados excedeu a de procedimentos básicos; • Quanto ao tipo de assistência produzida no município, houve o predomínio das ações básico-preventivas, no entanto, não se visualizou uma mudança de prática na atenção à saúde bucal, pois a proporção de procedimentos preventivos sempre esteve muito próxima da de procedimentos curativos; • A distribuição geográfica dos serviços odontológicos prestados apresentou desigualdade no acesso aos serviços. O distrito sanitário I mostrou as maiores concentrações de procedimento per capita, sendo favorecido por sua localização no município; • Em relação à cobertura da 1ª consulta, o Recife apresentou produção inferior ao parâmetro pactuado pela coordenação de Saúde Bucal do Recife de 0,2 procedimento/ habitante/ ano, evidenciando que o acesso da população aos serviços odontológicos requer atenção; 46 • A cobertura dos procedimentos coletivos apresentou crescimento durante o período estudado, entretanto isso não significou um aumento na quantidade de serviços ofertados, mas uma correção administrativa na forma de registro destes procedimentos, indicando que os procedimentos coletivos ainda apresentam sérios problemas de registro e padronização. • A proporção de exodontias em relação às ações básicas individuais revelou que quanto às ações básico-curativas, o município apresenta maior ênfase nos procedimentos restauradores. Os achados indicam que os problemas de saúde bucal, prevalentes na população do Recife, persistem devido às baixas coberturas encontradas, e que os avanços proporcionados pela reestruturação da rede assistencial foram insuficientes para promover alterações significativas no modelo de atenção à saúde bucal. Apesar da tentativa de mudança no modelo assistencial de saúde adotado pelo município, através da ampliação e qualificação do acesso da população aos serviços de saúde bucal por intermédio do Programa da Família (PSF) ainda é necessária a reversão do quadro de exclusão existente, a partir de políticas embasadas nos princípios constitucionais da universalidade e eqüidade no acesso ao SUS, visando uma concreta incorporação da atenção integral à saúde bucal que proporcione aos cidadãos uma melhoria na qualidade de vida. 47 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, J. J. C.; D’ANDRADA, J. L. L.; RIBEIRO, M. V. B.; SILVA, M. G.; MORAIS, M. J. C.; ANDRADE, S.S.; MARINHO, V. A. M. 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