POR QUE ESTUDAR FILOSOFIA? - Suzana Guerra Albornoz
O jovem de hoje, quando pensa continuar estudos na
universidade, quase sempre imagina preparar-se para uma
profissão útil e promissora do ponto de vista econômico.
Terminando o ensino médio, olha para o curso universitário
como uma preparação para entrar em melhores condições no
mercado de trabalho. Através do curso universitário, pensa
adquirir as competências e disposições que lhe darão
condições para a concorrência que se acentua. O mercado de
trabalho aparece ao jovem como problemático, pois é evidente
que a transformação tecnológica modifica a sua configuração,
reduz postos de emprego e apresenta novos riscos, desafios
para a criatividade humana, coletiva e individual. Portanto,
os jovens candidatos a estudantes universitários têm sérias
dúvidas sobre o caminho que devem trilhar para sua realização
psicológica como jovens adultos, para sua inserção social, a
expressão de seu potencial criativo, para obtenção de
reconhecimento e, de preferência, garantia de acesso a uma
boa remuneração e qualidade de vida. E em sua preocupação,
estudantes e seus pais sondam o mercado de trabalho
procurando prever quais serão as melhores oportunidades.
Infelizmente, os especialistas em relações entre mercado de
trabalho e educação avisam que não há certeza nenhuma a este
respeito. É uma questão quase de acaso acertar na preparação
técnica de um profissional no que se refere às oportunidades
de emprego que serão disponíveis quando ele estiver formado.
Pois a formação universitária, como toda educação, toma
tempo, é lenta, só pode ser lenta, enquanto o ritmo do
mercado de trabalho é acelerado, caprichoso, impaciente, e os
empregos não esperam a formação do profissional. Além disso,
as técnicas e tecnologias se sucedem e superam, tornando-se
rapidamente obsoletas. Por isso os experts em planejamento de
mercado e formação sabem que é melhor também do ponto de
vista da vida prática estudar mais os porquês do que os modos
de fazer; mais que técnicas, vale estudar as ciências básicas
e as questões fundamentais, e assim preparar-se para o
imprevisto, para reagir ante a próxima mudança inesperada que
ocorre em todos os âmbitos de atividade, ou mesmo para
inventar saídas em momentos de crise e transformação radical.
Para o mundo imprevisível que muda todo dia a nossos olhos,
mais do que aprender recursos técnicos muito precisos que em
pouco tempo podem estar superados, cabe estudar o que nos
ajuda a descobrir as causas, a remodelar projetos, a refazer
sentidos. Diante da imprevisibilidade do mercado de trabalho,
e do desafio para uma inserção inovadora e inventiva nas
relações sociais em mutação, tomam uma significação nova, que
se acrescenta à sua significação perene, as alternativas de
cursos
menos
técnicos,
as
formações
clássicas
que
possibilitam aperfeiçoamento humano e cultura geral, ou seja,
as chamadas Humanidades, entre elas, a Filosofia.
Mas... por que se deveria estudar Filosofia? - Afinal, o que
é filosofia? Quando se quer explicar o que é filosofia, em
geral se começa por lembrar a origem da palavra: FILO+SOFIA,
de origem grega, é feita da junção de philia(=amizade) com
sophia(= sabedoria). Assim, “filosofia”(philia + sofia)
significa "amizade da sabedoria", um significado que já
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insinua muitas respostas possíveis à nossa pergunta inicial.
Pelo que está posto na forma e origem da palavra, a filosofia
não promete ser propriamente uma ciência, o que seria melhor
indicado pelas palavras terminadas em logia, que se referem à
palavra grega lógos(= razão ou discurso - estudo, ciência),
ou mais, na epistème contida em “epistemologia”. A palavra
“filosofia” significa algo bastante modesto: não propriamente
a sabedoria, mas a amizade pela sabedoria. Isto pode levar
erroneamente a supor que a Filosofia não guarde um saber a
transmitir;
no
entanto,
possui
um
imenso
acervo
de
conhecimentos organizado, reconhecido, com longa tradição
própria, por isso deve sim ser considerada como uma ciência,
embora diferente das outras. Atividade de questionamento e
interpelação das certezas fáceis, revisão crítica dos
preconceitos e produção de conceitos, a filosofia tem sido
compreendida como ciência das causas primeiras, dos primeiros
princípios, da análise das condições do saber humano, dos
fundamentos da moral, do belo e do bem; pensamento do
pensamento, do ser, da ação humana, do humano, do próprio
conhecimento, é também entendida como meta-ciência, saber
além das ciências, ciência
das ciências. Ante as ciências
humanas, nem sempre podendo delas distinguir-se pelo objeto,
busca caracterizar-se pelo registro do texto, sendo mais
independente da descrição empírica a que as ciências se
submetem. Dentro da Filosofia podem-se reconhecer vários
tipos de estudos, áreas e disciplinas: a mais teórica, a
Lógica – próxima da moderna Filosofia da Linguagem, estuda o
próprio pensamento e se ocupa com as regras do pensar; no
extremo prático, na Ética, na Política, a filosofia pensa a
ação humana; entre os extremos teóricos e práticos, situam-se
outras
formas
e
domínios
da
Filosofia
e
filosofias
particulares - da religião, da história, da arte, que podem
ser sintetizadas na Antropologia Filosófica. Na realidade, a
maioria dos professores neste tempo aborda a filosofia como
História da Filosofia.
O estudo da Filosofia auxilia a compreender e levar com
sabedoria a condição humana; contribui para a construção dos
sentidos/do sentido para a existência; pode ajudar a julgar
com tino as circunstâncias, a enfrentar as vicissitudes
próprias
das
situações
concretas,
colaborando
para
o
aperfeiçoamento
pessoal
do
indivíduo,
o
que
terá
consequências para seu grupo e sua comunidade. Mesmo se
trabalhar em outra atividade, o diplomado em Filosofia terá
adquirido uma formação que lhe será proveitosa e ajudará a
bem viver. Os formados em Filosofia poderão desenvolver
atividades diversas no trabalho dos livros, na rede de
produção de textos em editoras, em periódicos, em institutos
variados
da
atual
sociedade
chamada de sociedade
de
conhecimento. Por outro lado, o Curso de Filosofia abre um
campo profissional próprio - o do magistério da Filosofia,
que dá a oportunidade de convívio e diálogo permanente com a
juventude. Se a Filosofia se expandir nos currículos das
Escolas Médias ou na forma do ensino de filosofia para
crianças, o campo de trabalho do magistério da filosofia será
diversificado e mais amplo. Para os que têm a vocação de
ensinar, a Filosofia será uma inspiração permanente, além de
um bom motivo para uma vida bem sucedida e feliz.
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