NOVAS
FRONTEIRAS
DA GESTÃO
por que só nos
interessam os
novos negócios
Inovadores
(E de crescimento
empreendedor)
O espaço para crescer de fato está entre os
pequenos empreendimentos novos (sejam empresas
ou produtos) e os grandes estabelecidos
Por Silvio Meira
N
ovos negócios inovadores de
crescimento empreendedor são uma
raridade no Brasil e, em boa parte,
é o que explica nosso país de commodities. Não é algo tão ruim, claro,
se não quisermos ser muito mais do
que somos hoje como país. Porém, se
o desejo for o de melhorar, o caminho passa, obrigatoriamente, por gerar e gerir novos negócios inovadores de crescimento empreendedor.
O leitor sabe o que quer dizer esse
prolixo conceito de seis palavras?
Um novo negócio é um que acabou de começar, não está por aí há
muito tempo. Ele é inovador se seu
propósito for o de mudar o comportamento de agentes no mercado, como
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neste artigo, exclusivo para hsm management, o colunista
silvio meira oferece um pouco de seu livro, lançado pela
editora casa da palavra em novembro de 2013
fornecedores e/ou consumidores de
qualquer coisa. E é de crescimento
empreendedor se cresce muito mais
pela energia do negócio –e de seus
empreendedores– do que pela puxada do mercado. Em números, se um
mercado está crescendo a 5% ao ano,
negócios de crescimento empreendedor, nele, crescem a 25%, 50% ou
além –cinco, dez ou mais vezes acima da média.
Em suma, trata-se dos negócios
que impactam mais a economia e
a sociedade, com uma combinação
de inovação e empreendedorismo
que crie mais trabalho, mais renda e
mais resultados proporcionalmente.
E estudos mostram que esse impac-
HSM Management 102 • janeiro-fevereiro 2014 hsmmanagement.com.br
to ampliado não ocorre quando um
negócio ainda é muito pequeno, nem
quando já se tornou realmente grande, mas enquanto ele cresce.
Tudo isso é, de certo modo, óbvio
–ou deveria ser. De um lado, enquanto um negócio é pequeno, ele quase
certamente cria pouco trabalho. E
tende a continuar assim se seu nível de sofisticação é baixo, como na
maioria dos pequenos negócios do
Brasil, até porque os empregos não
são bem remunerados nesse caso.
De outro lado, em um negócio já
muito grande, uma das preocupações
centrais é como fazer mais com menos gente. Se negócios são abstrações
formadas por redes de pessoas que
compartilham objetivos comuns, o
esforço para dar coerência a tais redes cresce com seu tamanho, fazendo
com que se pense o tempo todo em
como fazer mais com menos. As fusões, as aquisições e a automação do
trabalho repetitivo tornam esse efeito
ainda mais evidente e profundo.
Portanto, se você vai fundar uma
empresa, saiba que seu momento
para crescer de fato, muito e rápido, é
antes de se tornar grande e depois dos
mil dias de existência –os primeiros
três anos são quase sempre de aprendizado, quando os produtos e serviços
são sobretudo protótipos, e os clientes
e receitas, poucos ou inexistentes.
Boa parte dos atuais gigantes da
web de hoje viveu essa fase anterior
ao crescimento empreendedor em
sua trajetória. Google e Facebook, por
exemplo, tiveram seus primeiros mil
dias quase sem receitas, mesmo tendo
usuários, lembra-se? Nesse período,
dedicaram-se ao aprendizado (ou à
criação) do modelo de negócio, procurando respostas para uma pergunta-chave: “Quem paga quanto para a
gente fazer o que e para quem?”.
CONSTRUIR OU COMPRAR
Onde entra a combinação de inovação e empreendedorismo que citei no
início? É ela que fará a ponte entre
a pergunta acima e um verdadeiro
e grande negócio. Essa combinação
consiste em propor e executar novos
arranjos na forma de comportamentos, produtos e serviços que vão atrair
potenciais consumidores e clientes. É
assim que os negócios gerarão trabalho, renda, resultados e um crescimento cinco a dez vezes superior à
puxada do mercado.
Novos negócios, nesse contexto,
não são necessariamente novas empresas; podem ser também novos
produtos ou serviços em empresas
que já existem. Só que, na maior
parte dos casos, especialmente em
grandes empresas, talvez seja muito
mais difícil articular os processos de
inovação e empreendedorismo para
gerar novos negócios.
Não é por acaso que boa parte das
empresas sabidamente inovadoras
compra startups o tempo todo: criado
em 1998, o Google comprou mais de
130 empresas de 2001 até agora. De
2005 para cá, o Facebook comprou
45. Essas duas, e muitas mais, optaram por comprar, em vez de construir, novos negócios inovadores de
crescimento empreendedor, como
parte essencial da estratégia de inovação e crescimento.
Aliás, comprar pequenas empresas inovadoras e empreendedoras
é outra prática rara, ou quase inexistente, no universo empresarial
brasileiro. Talvez esteja na hora de
nossas grandes empresas a levarem
mais em conta, como forma de acelerar seu entendimento de novos
mercados e a penetração neles.
A NORMA DO MERCADO
Novos negócios inovadores de crescimento empreendedor sempre foram parte essencial do processo de
renovação das economias, e hoje o
são ainda mais, na crista de ondas
de inovação cada vez mais rápidas
e de maior impacto.
Se você está estranhando o número de novos negócios intensivos
em TICs [tecnologias de informação
e comunicação] vistos agora, especialmente apps, sistemas em rede
ou a combinação de ambos (como
deveria ser), preocupe-se: você está
estranhando a norma atual do mercado, já que a onda de inovação
corrente é de redes, softwares, mobilidade digital e sistemas de informação online.
De estranhar seria, isto, sim, que
o mundo vivesse agora um frenesi
de novos negócios automobilísticos.
Essa foi uma onda de inovação, cla-
“comprar pequenas
empresas inovadoras
e empreendedoras
também é prática
quase inexistente
no brasil”
Silvio Lemos Meira, colunista
desta seção, é cientista-chefe do
C.E.S.A.R, um dos maiores centros
de inovação do Brasil, preside
o conselho de administração do
Porto Digital, cluster de empresas
tecnológicas localizado no Recife
Antigo, que muitos veem como o
“Vale do Silício brasileiro”, e é
professor-titular de engenharia
de software da Universidade
Federal de Pernambuco.
Empreendedor serial ele
mesmo, lançou recentemente
o livro Novos Negócios
Inovadores de Crescimento
Empreendedor no Brasil.
ro, mas aconteceu há quase um século. É muito provável que seu carro
atual tenha sido produzido por uma
empresa fundada antes da Segunda
Guerra, da Primeira ou mesmo no
século 19, como Fiat, GM, Ford e
Toyota –a menos que você tenha um
carro da Tesla Motors ou utilize um
do tipo ZipCar, que é mais sistema
de informação do que automóvel.
Ninguém é obrigado a optar por
um novo negócio inovador de crescimento empreendedor. Mas será
que continuaremos a pagar nossas
contas com carne, frutas, grãos e pedras? Quase certamente que não.
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