MORTE DE EDUARDO CAMPOS TRAZ À TONA QUESTÃO SEMPRE PRESENTE O PAÍS DOS VICES Por Aurélio Wander Bastos A trágica morte de Eduardo Campos, candidato a Presidente, juntamente com Marina Silva, a Vice, recoloca para a história brasileira a questão sempre presente nas sucessões do Presidente da República em exercício. Neste caso da morte inesperada do candidato a Presidente, não está a exata hipótese da nossa história, mas ela coloca no cenário político a expectativa do candidato a Vice-Presidente suceder o Candidato a Presidente, que, falecendo, deixa o seu espaço em aberto para uma mulher, ex Senadora e ex Ministra, que, pragmaticamente, filiou-se ao PSB, com o insucesso do registro do partido Rede Sustentabilidade , mas tem uma proposta alternativa para o Brasil, que não exatamente corresponde à proposta de mudanças de adaptação institucionais do, lamentavelmente, candidato falecido, que, procurando não se comprometer com a antinomia PSDB/PT, optava por reacomodações de natureza conjuntural. Floriano Peixoto, Vice-Presidente do último dos monarquistas e o primeiro dos republicanos, Presidente Deodoro da Fonseca, foi efetivamente quem definiu com seu positivismo à Augusto Conte / Benjamin Constant a República brasileira, com as marcas geométricas para sempre duradoras da bandeira nacional. Os ideais republicanos, todavia, sucumbiram diante da ação dos presidentes que viabilizaram o domínio oligárquico do Estado brasileiro, permitindo sempre uma sucessão entre paulistas e mineiros. Este denominado pacto café com leite marcou a República brasileira e, no contexto do processo sucessório presidencial, ocupou a presidência o Vice-Presidente Nilo Peçanha (1909/1910), após 3 (três) anos de governo de Afonso Penna 1906/1909, quando faleceu. Fenômeno semelhante acontece com o falecimento do Presidente eleito Rodrigues Alves em 1918, vindo a ocupar a Presidência o Vice- Presidente Delfim Moreira (1918/1919). Neste período os vices contribuíram para manter a estrutura oligárquica que veio a ser abalada com o encerramento do governo de Washington Luiz (1930) pela Revolução de outubro do mesmo ano. Na verdade, a Revolução de 1930 foi uma reação à questionada vitória de Júlio Prestes sobre o candidato Getúlio Vargas, cujo VicePresidente João Pessoa foi assassinado. Esta radicalização viabilizou, a tomada do poder por Getúlio Vargas que implementou uma proposta de ruptura com as estruturas agrárias oligárquicas e procurou incentivar uma infra-estutrura industrial que viabilizasse o desenvolvimento, desvinculado da substituição de importações. A natureza revolucionária da tomada do poder atropelou as instituições democráticas (instauração do Estado Novo – 1937/1945) que só se restauraram constitucionalmente, com a contribuição de José Linhares, Presidente do Supremo Tribunal Federal, em 1946. A restauração constitucional permitiu, no entanto, que em 1951, Getúlio viesse a ser eleito para, em 1954, diante de grande pressão política e militar, suicidar-se, vindo a ser substituído pelo seu Vice Presidente Café Filho. Após tumultuada passagem de Carlos Luz pela Presidência, com a doença do Vice, Nereu Ramos, VicePresidente do Senado (1955), presidiu as eleições que levaram Juscelino Kubitischek (1955/1961) a presidir o País em período de grande ebulição democrática e desenvolvimentista, tendo como Vice Presidente João Goulart, que teve votação superior a do Presidente. Interessantemente, o mesmo Vice Presidente João Goulart eleito juntamente com o Presidente Janio Quadros ocupou a cadeira presidencial com atabalhoada renúncia do Presidente eleito Janio Quadros, também em agosto, o mesmo mês de suicídio de Getúlio Vargas. Governando inicialmente na forma parlamentarista restaurou o presidencialmismo e implementou uma política de reforma de base, que levaram ao golpe militar em abril de 1964, tendo se prolongado no poder por força de atos institucionais, principalmente do ato institucional nº 5/68 que implementava severas políticas repressivas. Neste período faleceu o Presidente Costa e Silva e uma Junta militar impediu que o seu Vice Presidente Pedro Aleixo ocupasse a Presidência do país deixando-a nas mãos de uma Junta militar (General Aurélio Lira, Almirante Augusto Radmaker e Brigadeiro Marcio Melo) que implementaram, por um lado, a Emenda Constitucional nº 1/69 que, por outro viabilizou o governo de sucessivos militares que ocuparam a Presidência até 1985. O Vice Presidente José Sarney (1985/1990), homem tradicionalmente ligado ao regime militar, mas que candidatara em eleição direta a Vice Presidente na chapa de Tancredo Neves, mineiro, historicamente ligado às lutas institucionais e à restauração democrática, que faleceu depois de prolongada agonia. Promulgada a Constituição de 1988, que consagrou a eleição direta, em 1990, eleito o Presidente Fernando Collor (1990/1992) por força do impeachment teve seu governo concluído pelo Vice Presidente Itamar Franco que incentivou uma política de estabilização econômica e abertura para discussão dos grandes problemas brasileiros. Esta conversão do ambiente político permitiu que o futuro Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2003), devido a Emenda Constitucional da reeleição, do Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB), governasse por dois períodos sucessivos, tendo como Vice Marco Maciel do Partido da Frente Liberal (PFL), incentivando políticas de inclusão e mobilização popular, que foram convenientemente aproveitadas e ampliadas pelos Presidentes Lula da Silva (2003/2011) e Dilma Roussef (2011/2015), ambos do Partido dos Trabalhadores (PT). Finalmente, este quadro de mobilização popular, e a emergência de novas demandas alternativas de desenvolvimento e democracia, provocaram inicialmente a cisão partidária que afastou do PT, abrindo uma discussão sobre novas idéias políticas, a atual candidata a Vice-Presidente Marina Silva, e a posterior ruptura de governo com o falecido candidato a Presidente Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Nestas coincidências, que só a história viabiliza, ambos os dissidentes se aliaram para a disputa presidencial, que, no contexto da trágica morte de Eduardo Campos, candidato a Presidência, que tinha como projeto a mudança institucional e o rompimento da antinomia recente da política brasileira entre PSDB/PT, no contexto de transformações conjunturais, poderá evoluir, com Marina Silva, como candidata a Presidente, na forma de um projeto de mudanças de iniciativa e dimensões estruturais, senão econômicas, no sentido direto da transferência de recursos, institucionais e, também no sentido da sustentabilidade ambiental, com seus efeitos sobre a dinâmica da vida social. Aurélio Wander Bastos é professor titular da UniRio jurista, cientista político O texto publicado não reflete necessariamente o posicionamento do IAB e