XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
TRANSPORTE PÚBLICO PARA COPA
DO MUNDO DE 2014 NO BRASIL:
PERSPECTIVAS, TENDÊNCIAS E O
CASO DE CURITIBA
Marcos Antonio Rezende (UTFPR)
[email protected]
Antonio Carlos Frasson (UTFPR)
[email protected]
Luiz Alberto Pilatti (UTFPR)
[email protected]
Dayana Carla de Macedo (UTFPR)
[email protected]
A demanda da mobilidade não é atendida de maneira satisfatória pelo
sistema de transporte urbano nas principais cidades do Brasil. O
objetivo deste artigo é analisar o Transporte Público existente,
buscando avaliar tendências, perspectivas e desafios, para mobilidade
urbana, quando da realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014
no País. Trata-se de pesquisa bibliográfica predominantemente
qualitativa, pautada na análise teórica, bastante difundida, da situação
atual do transporte público, e as necessárias mudanças para receber o
Torneio Mundial de Futebol. Constatou-se, nessa perspectiva, que
haverá necessidade de integração dos modais de transporte e o
trânsito. Pode-se nitidamente inovar o sistema de transporte público,
organizar e planejar a sua infraestrutura física, oferecendo maior
capacidade e conforto para acomodar os torcedores e turistas, mesmo
na cidade de Curitiba no Estado do Paraná, que vem já há algum
tempo sendo considerada um modelo reconhecido nessa área. De
maneira geral, então, entende-se que o transporte público ofertado
atualmente
apresenta
nível
de
serviço
negativo,
com
congestionamentos, acidentes, poluição e perda de qualidade de vida.
Falta um modelo inteligente que seja sustentável, para o qual todos os
níveis de governo devem se pautar por práticas adequadas e distintas
possibilidades, priorizando o transporte de massa, em detrimento do
transporte individual feito pelo automóvel.
Palavras-chaves: Palavras-chave: Transporte urbano público. Copa de
Mundo de Futebol - Brasil - 2014. Mobilidade Urbana.
1. Introdução
A Copa do Mundo de Futebol é um torneio mundial de seleções, que se renova a cada quatro
anos. Para atender as exigências da Federação Internacional de Futebol (FIFA) na etapa de
2014, com os padrões adequados da Infraestrutura em Transporte Público, Mobilidade Urbana
e Acessibilidade, aponta-se para a necessidade de investimentos em portos, aeroportos,
terminais de passageiros e rodovias, no sentido de inovar o sistema de transporte público.
É consenso, na atualidade, os problemas crônicos do transporte público que a população
enfrenta nos seus deslocamentos habituais nos grandes centros urbanos. Assim, tendo em
vista a infraestrutura existente e considerando a realização da Copa do Mundo em 2014 nas 12
cidades-sedes brasileiras, a questão levantada é: Como integrar o sistema de transporte
público e o trânsito para atender a mobilidade, no período da copa do mundo de futebol
em 2014? Por assim sintetizar uma realidade das grandes cidades, essa situação concreta e
tida como problemática ressoa como fator complicador, pela falta de segurança e integração
nos modais de transporte público e o trânsito lento.
A hipótese, que se apresenta, aponta para um sistema de transporte público coletivo integrado
por modais que rodem sobre pneus e trilhos, com prioridade sobre o transporte individual
feito pelo automóvel. Sendo assim, o objetivo deste artigo é analisar de forma integrada o
Transporte Público, para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil, buscando avaliar
tendências, perspectivas e desafios, para a mobilidade urbana.
1.1. Justificativa
O torneio mundial de futebol pode antecipar e acelerar a política de qualidade no sistema de
transporte público, voltada para satisfazer as necessidades e expectativas das partes
interessadas. Consequentemente aponta para a oportunidade de desenvolvimento do setor.
Conforme a Secretaria de Mobilidade Urbana, a integração do sistema de transportes agrega
políticas de circulação e desenvolvimento urbano, que constituem ferramentas importantes
para a qualidade e condições de vida nas cidades, contribuindo para a fluidez do tráfego e
revelando alternativas de transporte público.
A perspectiva da realização da Copa do Mundo em 2014 pode, então, servir para fixar uma
cultura de planejamento no sentido de ajudar na renovação da gestão urbana no País, com o
apoio adequado e investimentos que deixem como legado melhorias urbanas de trânsito e dos
sistemas de transporte consistentes e duradouros a serem efetivamente usufruídas pela
população.
2. Referencial Teórico
2.1. Características do trânsito e transporte urbano
Entender alguns conceitos, como congestionamentos, desigualdade de acessibilidade, os
índices de acidentes e suas conseqüências, é essencial para refletir sobre o transporte coletivo,
considerado lento e de baixa qualidade, usado e especialmente para quem não tem acesso, ao
transporte por automóvel.
Conforme dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2002, p.5), “as vias ocupam
enormes espaços das cidades e são utilizadas plenamente em apenas ¼ do dia. Grandes
espaços urbanos são utilizados para estacionamentos”.
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Gunston (1975, p. 67) afirma que, no seu conjunto, os problemas do transporte urbano
ultrapassam todos os problemas técnicos que a sociedade enfrenta. Segundo esse autor, o
planejamento das cidades do século XXI gira em torno do transporte urbano, e as decisões
que exigem são fundamentais e urgentes. (GUNSTON, 1975, p. 91). Além do que, de acordo
com Vasconcellos (2009, p. 169), “mais recentemente, as cidades experimentaram um
crescimento ainda mais intenso, gerando distâncias médias que não podem ser percorridas a
pé ou de bicicleta”. Ou seja, as distâncias aumentam e novas vias de circulação são
necessárias.
Evidenciam-se os inúmeros efeitos que esse crescimento desordenado e não planejado
acarretam para as cidades: trânsito lento, poluição, violência são apenas alguns dos fatores
decorrentes da expansão urbana desordenada que influenciam diretamente na falta de
qualidade de vida dos cidadãos. Pode-se exemplificar com o alto índice de acidentes de
trânsito nas vias brasileiras, considerado um dos maiores do mundo. “Os acidentes podem ser
a face, mais visível da violência no trânsito, a degradação ambiental, e a exclusão social
também são produtos do modelo de circulação, vigente na maioria das cidades brasileiras.
(BRASIL, 2009a)”.
Coloca-se, então, um desafio, pois o processo de preparação de evento esportivo de grande
porte é complexo, cujas exigências técnicas de infraestrutura atingem setores econômicos e
sociais, em função de atender turistas nacionais e internacionais, em deslocamento nas
cidades-sedes, e no território nacional.
O Código de Trânsito Brasileiro – CTB estabelece em seu artigo primeiro que “O trânsito em
condições seguras é um direito de todos e um dever dos órgãos e entidades do Sistema
Nacional de Trânsito, aos quais cabe adotar as medidas necessárias para assegurar esse
direito”. Torna-se significativo entender que, para tal afirmação, o legislador conclui que
“Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em
grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de
carga ou descarga.” (Art. 1º § 1º do CTB).
Com o crescimento do interesse demonstrado por cidades em sediar eventos esportivos de
grande porte, com benefícios e impactos esportivos e não esportivos, surge a necessidade de
transformar informações em conhecimentos, que possam contribuir para o melhor
aproveitamento da oportunidade. “Vale a pena lembrar o fracasso do Pan 2007, no quesito do
transporte público, que nenhum legado deixou para o Rio de Janeiro, a não ser as faixas
coloridas pintadas nas principais vias da cidade, e que servem para nada” (QUINTELLA,
2009).
Como alternativa concreta, para Utzeri (2008), é preciso evoluir para o transporte público
sobre trilhos, pois um país que considera apenas o ônibus como transporte de passageiros de
grande capacidade, ou transporte de massa, não consegue resolver os problemas crônicos de
mobilidade, que acabam por afetar diretamente ou indiretamente diversos serviços essenciais
à cidade e, logicamente, às próprias pessoas que nela vivem. De acordo com este autor, as
opções sob trilhos existem para formar rede integrada de transporte, que desafoga o setor e
proporciona qualidade.
Enfim, percebe-se a necessidade de ações urgentes para estabelecer e consolidar novos
paradigmas quanto ao planejamento e racionalidade de opções para a melhoria do trânsito e
mobilidade que garantam a sustentabilidade ambiental, social e econômica nas cidades
brasileiras.
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2.2. Especificidades e conflitos entre os modais de transporte público
A realização do torneio mundial de futebol pode antecipar o planejamento e o processo de
qualidade, no sistema de transporte público, voltados para satisfazer as necessidades e
expectativas, que consequentemente apontam oportunidade para o desenvolvimento do setor:
possibilidade de estratégia para inovação ao desenvolvimento e intervenções para transformar
em realidade as políticas de melhorias no sistema de transporte público.
A oferta de espaço para circulação pode se tornar de maior insuficiência e inadequação do que
já se verifica para a demanda de mobilidade do setor de transportes. A implementação de
ações de melhoria dessas condições de mobilidade deve voltar-se para uma apropriação
diferenciada do espaço público, separando aqueles que têm acesso ao automóvel e os que
dependem do transporte coletivo, modelo que vem ao encontro de grandes disparidades
sociais e econômicas da nossa sociedade. Enquanto uma parcela reduzida, desfruta de
melhores condições de transporte, utilizando maior espaço, a maioria continua limitada nos
seus direitos, de deslocamento e acessibilidade (ANTP, 1997, p. 18-19).
Na ótica de Ferraz e Torres (2001), a visão sistêmica do transporte público deve considerar o
nível de satisfação de todos os atores direta ou indiretamente envolvidos no sistema: usuários,
comunidade, governo, trabalhadores do setor e empresários do ramo. Dentro desse contexto,
podem-se identificar vários desafios que os sistemas de transporte precisam enfrentar, para
que o trânsito de pessoas não sofra um colapso durante a Copa do Mundo.
Segundo Lerner, (2009), entre as grandes vantagens dos sistemas de Bus Rapid Transit
(BRT), destacam-se seu custo relativamente baixo e a rapidez de implantação, benefícios
como menor consumo de combustível, menor quantidade de ônibus nas vias, aumento de
velocidade e ganho de tempo para as pessoas, frota renovada significa tecnologia moderna e
com menor emissão de poluentes. Entende-se, assim, ser o ônibus o principal veículo de
transporte público para as cidades brasileiras. As opções sob trilhos seriam a opção para
formar rede integrada de transporte, com o intuito de desafogar o setor e proporcionar
qualidade.
Para tanto, Quintella (2009) sintetiza a situação: transporte de massa entendida como opções
sobre trilhos, ou seja, trens, metrô e o veículo leve sobre trilhos, que representarão um legado
importante e por longo tempo, desde que acompanhados por soluções para a infraestrutura
viária e trânsito, como sinalização eficiente e controle de tráfego inteligente. Para trechos com
menor demanda, pode-se adotar o transporte sob pneus em faixas exclusivas, como o sistema
BRT, integrando os modais.
Nos países onde a política do governo promove desenvolvimento residencial, o trânsito é uma
ferramenta especialmente eficaz na formação, desenvolvimento, independente da densidade.
Transporte planejado pode dar importante contribuição ao planejamento do trânsito de alta
densidade, e ambos podem ser alternativas de apoio mútuo. (SMITH, 1984).
Para Belda (2009), em primeiro lugar, não há razão para disputas de transporte por trilhos e
pneus, o que seria limitante ao todo, mas, sim, deve-se priorizar um maior aproveitamento dos
sistemas já existentes, acrescentando-lhes melhorias que proporcionem mais eficiência ao
conjunto dos serviços. As cidades precisam dispor de redes de transporte público a fim de
contribuírem com as condições locais, o que pode ser determinante para a escolha entre as
opções de trilhos ou pneus para o transporte coletivo.
Dentro dessa perspectiva, é factível afirmar que o sistema integrado do transporte público
representa uma alternativa para mobilidade urbana e um avanço para uma gestão de
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qualidade. Nessa lógica, pode-se identificar que os sistemas de transporte precisam se integrar
entre as cidades-sedes, no sentido de dinamizar a estrutura existente, para compartilhar e
socializar as ações e estudos já concretizados, e ampliá-los para receber o grande contingente
de turistas e deslocamentos internos ocasionados pela demanda de eventos de grande porte,
como é o caso da Copa do Mundo, o que, aliás, pode ser um marco no desenvolvimento e,
consequentemente, um ponto importante da história do País.
2.2.1. Características do Transporte Público e o Diferencial do Conhecimento
A revolução do conhecimento é pautada por sucessivas gerações tecnológicas, em que cada
nova geração caracteriza-se por usar recursos mais eficientes poderosos e mais rápidos. Os
deslocamentos realizados a pé ou de bicicleta para o acesso ao transporte público, em
percurso longo e com condições desfavoráveis, desestimulam o uso do transporte coletivo de
passageiros. O Quadro 1 descreve a importância e indicadores de qualidade na acessibilidade
ao sistema de transporte.
Quadro 1- Importância da qualidade no acesso ao transporte
Fonte: EBTIJ, 1988
O Quadro acima aponta uma realidade, demonstra a importância do transporte público, e a
forma como pode impactar na qualidade. Os indicadores de tempo e distâncias, nos modos a
pé e automóvel, para integrar-se ao sistema de transporte urbano.
Conforme pesquisa da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU,
2000, p. 25) “as decisões e projetos estratégicos, têm maior visibilidade pública, do que as
decisões operacionais, até mesmo por se incorporarem, com muita freqüência, às plataformas
eleitorais, às políticas eleitorais, e às políticas de investimento dos governos”. Esta
constatação alerta que as políticas estratégicas de acessibilidade não são relevantes, o que
pode comprometer a opção pelo transporte público em detrimento ao automóvel.
Oskar Coester, (2008) defende que “temos que mudar situações como a de uma caminhonete
Cherokee, que pesa 2.500 kg e transporta uma única pessoa de 70 kg, ocupando espaço,
gastando pneu e contribuindo para o aquecimento global irresponsavelmente”. Sob esta ótica,
Curitiba é a capital com índice de motorização mais alto do país, pois para uma população de
1.797.408 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009),
possui uma frota de 1.131.372 veículos de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito
(PARANÁ, 2009), ou seja, um veículo para cada 1,58 habitante. É consenso nas estatísticas a
prioridade para o automóvel, em detrimento ao transporte coletivo de passageiros.
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Dessa forma a Administração Pública de hoje, pode utilizar-se de tecnologia, para incorporar
essa nova realidade e criar condições estruturais e humanas, que possibilitem formar
personalidades, que saibam lidar com as diferenças, tomar decisões em conjunto e
compartilhar conhecimentos para utilizar as ferramentas de gestão da tecnologia, apresentadas
no Quadro 2:
Ferramentas de gestão da tecnologia e seu potencial de aplicação
Informação externa
Trabalho em grupo
Análise de mercado
Gestão de Projetos
Prospecção Tecnológica
Networking
Análise de patentes
Gestão de Equipe
Benchmarking
Informação interna
Idéias e Resolução de Problemas
Análise de mercado
Criatividade
Gestão do direito da propriedade
Análise de valor
Intelectual e industrial
Avaliação do meio ambiente
Aumento da eficiência e flexibilidade
Trabalhos e Recursos
Gestão enxuta
Gestão de Projetos
Melhoria Contínua
Avaliação de Projetos
Gestão de mudanças
Gestão de Portifólios
Técnicas Variadas
Quadro 2- Ferramentas de Gestão da Tecnologia
Fonte: Adaptado de TEMAGUIDE (COTEC, 1999, p. 16)
O potencial de aplicação dessas ferramentas pode acontecer, tanto de forma conjunta, como
separadamente. O administrador tem à sua disposição um universo infinito de várias técnicas
que podem ser utilizadas, como complemento das já existentes. Entende-se que a equidade do
transporte público é um problema que, no País, está associado à carência de um formato
adequado de planejamento de gestão, de um sistema de transporte público integrado, por meio
de pontos de convergência de conhecimento.
Nonaka e Takeuchi (1997) apontam dois tipos de conhecimento - explícito e tácito - que
podem ser convertidos em quatro processos, a partir das práticas de: socialização, tácito para
tácito; externalização, tácito para explícito; internalização, explícito para tácito; e
combinação, explícito para explícito.
A base do conhecimento é fundamental a partir da observação de dados e compartilhamento
de informações, criando-se requisitos às organizações, que retêm, compartilham e disseminam
este conhecimento, agregam valor em seus produtos e vantagem competitiva no mercado.
(DAVENPORT e PRUSAK, 1998, p.6).
Assim, Terra (2000, p. 70) considera que a “Gestão do Conhecimento está desta maneira,
intrinsecamente ligada à capacidade das empresas em utilizarem e combinarem as várias
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fontes e tipos de conhecimento organizacional para desenvolverem competências específicas
e capacidade inovadora”, cujo apoio, decorrente de seu capital intelectual, converge para
novos produtos e serviços com vantagem competitiva.
O sucesso para organizar cidades, transporte público e trânsito está ligado ao capital
intelectual, construção coletiva de conhecimento e visão compartilhada. Em síntese, a gestão
do conhecimento e as ferramentas de gestão da tecnologia podem ser incorporadas à
administração, como importante componente ao desenvolvimento e organização do evento,
considerando o diferencial desse mesmo conhecimento para o aumento do nível de serviço e
integração do sistema de transporte.
2.3. Objeto de estudo
O objeto deste estudo recai sobre a cidade de Curitiba, capital do Paraná, escolhida como uma
das sedes da copa do mundo de futebol a ser realizada no Brasil em 2014. A cidade é
considerada como modelo do transporte público por diversos países e sistemas
governamentais.
Para o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba- IPPUC, Cléver
de Almeida, existem “propostas de investimentos em infraestrutura e na área de mobilidade e
tranporte público da cidade. A mobilidade acontece por vans, táxi, linhas de ônibus e
transporte individual por automóvel. O sistema de transporte público para atender ao evento
será reformulado e está prevista a implantação de uma linha de metrô.” (CURITIBA, 2009).
3. Discussão e Resultados
O processo de preparação do evento Copa do Mundo é complexo e, mesmo quando se refere à
cidade de Curitiba, considerada há tempo como vitrine do mundo no que se refere à transporte
público, as exigências técnicas para infraestrutura também a atingem, posto que as exigências
a serem consideradas para a realização da competição são altamente complexas, atingindo
setores econômicos e sociais, em função de atender turistas nacionais e internacionais em
deslocamento. De acordo com Vasconcellos (2009, p. 169), “mais recentemente, as cidades
experimentaram um crescimento ainda mais intenso, gerando distâncias médias que não
podem ser percorridas a pé ou de bicicleta”.
Mesmo sendo considerada como um modelo de transporte urbano a Prefeitura Municipal
planeja investimentos na ordem de R$ 400 milhões para atender o Núcleo Urbano Central de
sua região metropolitana objetivando construir 53,6 km de vias para um corredor
metropolitano de ônibus e a implantação de um metrô elevado, que ocuparia 13 km em sua
primeira fase atendendo 183 mil pessoas/dia. O custo deste metrô estaria orçado em 2 milhões
de reais.
Comparando Curitiba com as outras cidades sedes no tocante ao transporte coletivo urbano
temos:
Transporte Público
Infraestrutura atual
Cidades
Micro-ônibus
Ônibus
Metrô
Trem
São Paulo
30.087 mil
39.049 mil
62,3 km
260,8 km
Rio de Janeiro
13.361 mil
14.050 mil
40,0 km
225,0 km
Brasília
4.531 mil
8.498 mil
42,4 km
Não
7
Belo Horizonte
4.453 mil
7.769 mil
28,1 km
Não
Curitiba
3.424 mil
6.908 mil
Não
Não
Salvador
3.006 mil
6.752 mil
Não
13,5 km
Manaus
2.166 mil
5.417 mil
Não
Não
Fortaleza
2.461 mil
5.364 mil
Não
20,0 km
Porto Alegre
2.022 mil
4.161 mil
33,8 km
Não
Recife
1.578 mil
3.094 mil
39,5 km
31,5 km
Natal
1.064 mil
2.066 mil
56,2 km
Não
Cuiabá
628 mil
1.602 mil
Não
Não
Quadro 3 - Infraestrutura do transporte público nas cidades sede da Copa do Mundo 2014
Fonte: ANTP, 2010; DENATRAN, 2010
Mesmo Curitiba sendo considerada como uma cidade que tem estrutura adequada para o
transporte coletivo urbano no seu dia a dia entende-se que uma manifestação esportiva desta
grandeza necessita de um planejamento adequado para atender os espectadores. A alta
capacidade para deslocamentos bem como conforto e segurança necessitam de projetos que
venham contemplar as necessidades inerentes deste processo.
A falta de coordenação e cooperação entre os níveis de governo, assim como uma legislação
pertinente, consolidam um trânsito caótico, graves acidentes, congestionamentos, onde a
prioridade é o automóvel, para o transporte individual, e não o transporte coletivo de pessoas.
A hipótese levantada nesta pesquisa é haver possibilidade de se estabelecer integração, para o
sistema de transportes de massa, aos distintos modais em operação no transporte público do
Brasil, de forma que a utilização do trem de alta velocidade, o veículo leve sobre trilhos, e o
metrô sejam considerados fundamentais, no estabelecimento de políticas para o setor e como
subsídio ao processo de planejamento, para a devida mobilidade na Copa do Mundo de 2014.
Uma possibilidade de solucionar o problema está no compromisso de união, nos níveis
governamentais e iniciativa privada, de organização adequada e sistematizada na construção
de opções, de modo a recuperar o passivo perdido e, de fato, integrar o sistema de transporte
público e o trânsito.
Utzeri (2008) destaca que é preciso evoluir para o transporte público sobre trilhos. Defende
que as opções sobre trilhos existem para formar rede integrada de transporte que desafoga o
setor e proporciona qualidade.
Utzeri (2008), Coester (2008), Belda (2009) defendem que falta um elo na integração, do
transporte e trânsito, para a mobilidade na Copa de 2014. A expansão, modernização e melhor
utilização das opções de transporte de massa, sobre trilhos e pneus, dependendo de condições
locais.
A disputa entre pneus e trilhos acaba embaçando a a necessidade da criação de redes de
transporte público, para poderem existir. Não há consenso sobre o modal que apresenta
características adequadas para atender a mobilidade urbana do País, nos próximos anos, mas o
contexto assinala que o transporte público apresenta características positivas e também
inconvenientes para os usuários, como relaciona o Quadro 3.
Vantagens
Desvantagens
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É o modo de transporte motorizado com menor custo
unitário; em razão disso, o modo motorizado de
transporte mais acessível à população de baixa renda.
Necessidade de caminhar ou utilizar outro meio de
transporte para completar a viagem, a qual não é de
porta a porta.
Contribui para a democratização da mobilidade, pois
muitas vezes é a única forma de locomoção para
aqueles que não tem automóvel, não tem condições
econômicas para usar o carro, não podem dirigir
(pobres, velhos, crianças, adolescentes, doentes,
deficientes), não querem dirigir etc.
Desconforto de caminhadas e esperas em condições
climáticas adversas: neve, chuva, frio, sol, calor
excessivo, vento forte etc.
Constitui uma alternativa de transporte em substituição
ao automóvel, para reduzir os impactos negativos do
uso massivo do transporte individual:
congestionamentos, poluição, consumo desordenado
de energia, acidentes de trânsito, desumanização do
espaço e perda de eficiência econômica das cidades.
Em geral, maior tempo de viagem, devido à menor
velocidade média, maior percurso e maior distância
de caminhada.
Também como alternativa ao automóvel, diminui a
necessidade de investimentos em ampliação do
sistema viário, estacionamentos, sistemas de controle
do tráfego etc., permitindo maiores aportes de recursos
em setores de maior importância social: saúde,
habitação, educação etc.
Necessidade de transbordo para uma parcela
significativa de usuários.
Proporciona uma ocupação mais racional (eficiente e
humana) do solo nas cidades.
Geralmente, impossibilidade de fazer paradas
intermediárias durante a viagem para realizar
alguma atividade.
Propicia, quase sempre, total segurança aos
passageiros
Impossibilidade de transportar carga, e necessidade
de esperar o veículo de transporte.
Quadro 3 - Vantagens e desvantagens do transporte público
Fonte: Adaptado de Ferraz e Torres (2001, p. 84-86)
O quadro aponta alguns indicadores, para não se perder a sintonia, com as necessidades atuais
dos usuários, garantindo nível de serviço adequado e, consequentemente, favorecendo o
processo de transformação dessa sociedade. O desafio, portanto, é utilizar a Gestão
Tecnológica, para a possibilidade de o processo ir além do conhecimento sistematizado, ou
seja, alcançar uma consciência inteligente que possa estar a serviço das necessidades da
sociedade, do transporte urbano e do trânsito.
A ANTP, NTU e CNT concordam que o transporte público precisa de políticas pública
nacional, voltadas para a melhoria da qualidade de vida, que priorizem o interesse coletivo
sobre o interesse individual. Afirmam também que, mantidas as condições atuais, o transporte
de passageiros comprometerá, de forma significativa, a eficiência da mobilidade e oferta de
espaço para a circulação.
Vasconcellos (2009) diz que temos conhecimento suficiente para orientar a maior parte das
decisões, e o País tem potencial para organizar-se e obter vantagens com a realização de
evento esportivo desta magnitude.
Nonaka e Takeuchi (1997), Davenport e Prusak (1998), Terra (2000) estabelecem várias
formas de combinar, transformar e compartilhar conhecimento, para agregar valor e gerar
resultados, e destacam que a assimilação de novos conhecimentos é que interiorizam,
externalizam e aperfeiçoam.
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Em síntese, a gestão do conhecimento pode ser incorporada como importante componente ao
desenvolvimento e organização do evento, considerando o diferencial do conhecimento, para
melhoria e integração do sistema de transporte público, para a Copa do Mundo de 2014.
O Brasil tem pouco mais de três anos para preparar a realização de sua segunda Copa do
Mundo de futebol e, para atender a demanda que lhe é peculiar, as cidades terão que melhorar
a sua infraestrutura para receber as seleções e torcedores estrangeiros, o que lhes ia conferir
sucesso e respeito mundiais. A mobilização do país para trazer a Copa do Mundo para o
Brasil mostrou profissionalismo no projeto para alcançar a sua escolha para tal. Entretanto,
essa oportunidade implica inúmeras ações, necessárias e imprescindíveis para a sua
realização. Este cenário denota de reengenharia, aplicada a medidas inteligentes, voltadas para
qualidade de vida das pessoas, menos poluição ambiental, e modernidade para superar o
desafio de receber uma Copa do Mundo.
4. Metodologia
Utilizando dados bibliográficos e documentais a respeito do assunto, a presente pesquisa
caracteriza-se como indutiva. No tocante a sua classificação, é considerada como qualitativa
com ênfase na pesquisa descritiva e exploratória.
5. Considerações Finais
O transporte público ofertado atualmente apresenta nível de serviço precário, na maioria das
cidades brasileiras envolvidas. Congestionamentos, acidentes, poluição, perda de qualidade de
vida, devido ao tempo de exposição a ambientes poluídos e insalubres, provocam, como
conseqüência, prejuízos emocionais, psicológicos e financeiros para os usuários.
Percebendo a realidade, suas divergências, complexidades, adversidades e insegurança, as
perspectivas previstas apontam melhorias nas ligações viárias, integração dos modais para o
transporte público, mobilidade urbana e acessibilidade.
Uma das razões para a existência do problema na atualidade pode estar no abandono da opção
do transporte público sobre trilhos. Esta ocorrência apresenta como desafio o
desenvolvimento do planejamento estratégico do setor, formulação de políticas públicas de
transportes de massa para cidades com mais de um milhão de habitantes.
A etapa da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, na cidade de Curitiba, aponta a revolução e
melhoria na infraestrutura do transporte público, com o metrô como projeto para se avançar
na opção sobre trilhos. O referencial teórico estabelece que não se pode pensar em transporte
de massa isolado de trânsito, uma vez que os problemas estão relacionados. Uma
possibilidade de inferir na realidade significa propor sustentabilidade como norte para ações
de planejamento.
Apesar de todas as informações a esse respeito, muito pouco se fez, concretamente, a fim de
encontrar soluções para a variedade de problemas que envolve a mobilidade urbana no país.
Os princípios da sustentabilidade ilustram a importância de uma visão mais ampla e,
justamente por isso,entende-se que Curitiba e as demais cidades brasileiras podem
transformar este desafio do evento em oportunidade para potencializar, desenvolver e ordenar
a acessibilidade e mobilidade urbana sustentável, já que investimento em transporte público é
o legado que fica para a população.
Nesse sentido, entende-se que a tendência para evitar o colapso no transporte público, durante
o período da Copa do Mundo, requer prévia intervenção das instituições federais, estaduais e
municipais, agregadas ao Sistema Nacional de Trânsito, pois os conceitos de gestão do
10
conhecimento podem ser incorporados como importante ferramenta ao desenvolvimento e
organização do evento, considerando o diferencial do conhecimento para melhoria e
integração do sistema de transporte público.
Desta forma, é possível afirmar que a utilização do trem de alta velocidade, de veículo leve
sobre trilhos e do metrô sejam considerados como primordiais, para integrar-se ao ônibus de
trânsito rápido e outros modais em operação, a fim de que se estabeleça a plena integração do
sistema de transportes público de massa e constituir a operação no transporte público no
Brasil.
Assim o propósito do presente estudo alcançou o seu objetivo que foi de analisar e concluir
que o profissionalismo apresentado pela equipe representativa do Brasil para alcançar a
escolha, entre outros países, para sediar a Copa do Mundo de Futebol em 2014, precisa
avançar para cumprir metas e prazos, para resolver os problemas que se apresentam para o
transporte público e mobilidade urbana.
Referências
ANTP (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TRANSPORTES PÚBLICOS). Transporte Humano: cidades com
qualidade de vida. São Paulo: ANTP, 1997.
______. Perfil do sistema metroferroviário no país. Disponível em:
<http://www.g1.globo.com/notícias/Brasil?0,,MUL1500561-5598,00htm.>. Acesso em 12 fev. 2010.
BELDA, R. Através do sistema sobre trilhos é possível ter uma rede global de transporte nas cidades.
Disponível em: <http://www.cbtu.gov.br/noticias/perspectiva/entrevista/entrevista_rogeriobelda.htm>. Acesso
20 ago. 2009.
BRASIL. Ministério das Cidades. Departamento Nacional de Trânsito. Frota 2009. Brasília: DENATRAN,
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